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Ciência e Tecnologia dos Materiais Professor Me. Marcus Vinícius Paula de Lima Professora Me. Paloma Morais de Souza Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP L732c Lima, Marcus Vinicius Paula de Ciência e tecnologia dos materiais / Marcus Vinicius Paula de Lima, Paloma Morais de Souza. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 105 p.: il. Color. 1. Resistência de Materiais. 2. Ciência dos Materiais. I. Souza, Paloma Morais de. II. Centro Universitário UniFatecie. III. Núcleo de Educação a Distância. IV. Título. CDD: 23 ed. 620.112 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTORES Professor Me. Marcus Vinícius Paula de Lima ● Mestre em Engenharia de Transportes com ênfase na área de Infraestrutura de Transportes (pavimentos) pela EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo). ● Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Professor das disciplinas de construção civil e mecânica dos solos no curso de Engenharia Civil na UniFatecie. ● Professor de diversas disciplinas no curso de Engenharia Civil na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR-TD). ● Docente na pós-graduação em gerenciamento de obras da UniFatecie. Experiência em obras de pavimentação, drenagem e contenção de taludes e na elaboração de materiais didáticos e gravação de aulas para o ensino EAD em diversas instituições dos estados do Paraná e São Paulo. Atuação na elaboração de projetos, em consultorias técnicas e em avaliações e perícias. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/6510045811479557 Professora Me. Paloma Morais de Souza ● Mestre em Engenharia de Transportes com ênfase na área de Infraestrutura de Transportes (pavimentos) pela EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo) ● Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Cariri (UFCA) com período de graduação sanduíche na University of Illinois at Chicago (UIC) ● Cursando pós-graduação Latu Sensu - MBA em Gestão de Projetos na Universidade de São Paulo (USP - Esalq) Possui experiência em docência e vivência na ensaios laboratoriais de solos e mistu- ras asfálticas. Já atuou na elaboração de projetos de drenagem urbana, projetos geométricos de rodovias e em perícia para a avaliação das condições de pavimentos rígidos e flexíveis. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/0627052739373703 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo (a)! Prezado (a) aluno (a), a partir de agora iremos iniciar uma grande jornada de in- formação e conhecimento sobre este assunto cuja a aplicação interage com praticamente todos os setores da ciência e tecnologia. A ciência e tecnologia dos materiais está atrelada direta ou indiretamente ao coti- diano de profissionais das mais variadas áreas, envolvendo desde o desenvolvimento de sistemas eletrônicos cada vez mais avançados até a produção de novas próteses utilizadas pela medicina, melhores aproveitamentos na construção civil, dentre outros. Assim, juntos vamos conhecer os principais conceitos e definições que estão en- volvidos neste assunto, estudar a evolução desta área ao longo do tempo e entender a aplicação de mecanismos facilitadores na análise dos materiais, sempre relacionando o conteúdo abordado com a realidade prática atual. Na unidade I iniciaremos esta nossa jornada com uma introdução à ciência e a engenharia de materiais, apresentando as definições e conceitos básicos da área, realizan- do uma viagem temporal sobre a evolução do uso dos materiais e a sua classificação, e introduzindo os princípios fundamentais de análise da estrutura química que compõe toda a matéria, em sua escala atômica. Prosseguindo, na unidade II aprofundaremos o nosso estudo sobre a composição das microestruturas moleculares dos materiais, abordando a estrutura dos sólidos cristali- nos e as imperfeições que nela existem. Na unidade III vamos conhecer os princípios envolvidos nos mecanismos de difu- são e a sua relevância para a diversidade de estruturas dos materiais. Você também será apresentado a uma ferramenta extremamente útil para entendimento do comportamento dos materiais, chamada de diagrama de fases. Iremos explicar o diagrama e analisar algu- mas de suas aplicações. Posteriormente, na unidade IV concluiremos a nossa disciplina abordando as pro- priedades dos materiais. Você irá se aprofundar no significado de propriedade, compreen- dendo a sua relação com a classificação dos materiais e conhecendo algumas técnicas desenvolvidas para o seu melhor aproveitamento com base na resposta aos distintos estímulos e esforços a que são submetidos, sejam eles mecânicos, elétricos, térmicos, magnéticos ou ópticos. Assim, convido você para que juntos possamos abordar os diversos tópicos desta área da ciência imprescindível a humanidade, realizando um estudo de interligação entre a teoria envolvida e a compreensão de sua aplicação prática, proporcionando um ótimo desenvolvimento dos seus conhecimentos sobre a ciência e tecnologia dos materiais. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais UNIDADE II ................................................................................................... 31 Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos UNIDADE III .................................................................................................. 54 Mecanismos de Difusão e Diagrama de Fases UNIDADE IV .................................................................................................. 80 Propriedades dos Materiais 4 Plano de Estudo: ● Perspectiva histórica e o estudo da ciência dos materiais; ● Classificação dos materiais; ● Estrutura atômica; ● Ligações atômicas entre os sólidos. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer um breve histórico da utilizaçãode materiais em engenharia e a classificação dos materiais; ● Compreender a estrutura atômica e os tipos de ligações químicas dos átomos. UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Professor Me. Marcus Vinicius Paula de Lima Prof.ª Paloma Morais de Souza 5UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais INTRODUÇÃO Todos os aspectos presentes no nosso dia-a-dia sofrem influência, em maior ou menor escala, dos materiais utilizados pela humanidade para a execução de suas diversas atividades. A utilização de diferentes materiais é uma característica comum, por exemplo, em questões de habitação, comunicação, produção alimentícia, transportes e vestimentas. Pensando de um ponto de vista histórico, notamos que o desenvolvimento da humanidade está vinculado à habilidade das diferentes sociedades em detectar, manipu- lar e melhorar os materiais que tinham disponíveis para o atendimento de suas variadas necessidades. Num cenário atual, de maneira geral a função dos cientistas e engenheiros de materiais é de desenvolver novos materiais através de novas sintetizações de suas estruturas, empregando-os por meio de novas técnicas. Com a constante descoberta e desenvolvimento de novos materiais, é interessante classifica-los de acordo com as suas características, de modo a facilitar o seu estudo e aplicação. Estas classificações podem ser realizadas de diversas maneiras, como pela forma das ligações químicas que compõe suas moléculas, pela função para qual são em- pregados, entre outras variações. Para entender as características dos materiais é necessário compreender a sua composição. Por isso, caro (a) aluno (a), é importante que você entenda as bases dos elementos que formam os materiais, através de um estudo sobre a estrutura atômica e as ligações que existem entre os átomos, formando assim as moléculas e compostos. Desta forma, nesta primeira unidade nós iremos abordar inicialmente uma introdu- ção sobre a ciência e tecnologia dos materiais, fazendo uma breve viagem histórica sobre a evolução temporal desta área, conhecendo os tipos de materiais existentes atualmente e, por fim, compreendendo a estrutura básica que os compõe e a forma como essas estruturas interagem com reações químicas e ligações. 6UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 1. PERSPECTIVA HISTÓRICA E O ESTUDO DA CIÊNCIA DOS MATERIAIS É importante entender que todos os materiais, sejam eles encontrados em condi- ções naturais (pedra, argila, madeira) ou obtidos através de diferentes processos (plástico, vidro), são conseguidos através da utilização dos recursos presentes no planeta e que sua extração implica, portanto, numa alteração, seja em maior ou menor grau, no meio ambien- te. Neste sentido, é ainda mais necessário conhecer as características dos materiais, sua forma de extração ou fabricação e as suas implicações para os recursos terrestres. Aliando a necessidade de melhores soluções a cada dia para as diferentes ativida- des, buscando conforto, economia, praticidade, entre outros aspectos, com as crescentes preocupações com a utilização dos recursos do planeta (renováveis ou não), o conheci- mento sobre as características peculiares dos diversos materiais é um ponto chave na trajetória do desenvolvimento da humanidade. 1.1 Perspectiva histórica Refletindo através de uma análise histórica, nota-se que o desenvolvimento da humanidade esteve sempre fortemente atrelado à habilidade dos integrantes das diferentes sociedades em detectar, manipular e melhorar os materiais que tinham disponíveis para o atendimento de suas variadas necessidades. Não à toa, dada a importância dos materiais para a humanidade, alguns períodos da história e as civilizações que neles ocorreram são identificados segundo a sua capacidade de tratamento com os materiais. É provável, por exemplo, que você já tenha encontrado termos como Idade da Pedra, ou Idade do Bronze. 7UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Inicialmente, os humanos empregavam os materiais assim como os encontravam na natureza, ou seja, não os trabalhavam. Portanto, as primeiras sociedades possuíam acesso a um número bastante reduzido de materiais: argila, peles, madeira, pedra, entre outros que se apresentam no estado natural. Ao longo do tempo, no entanto, foram descobertas e aprimoradas técnicas para tra- balhar novos materiais que possibilitaram que o homem começasse a aprender a modelá-los e adaptá-los às suas necessidades. Através do emprego dessas técnicas descobriram-se novos tipos de materiais com propriedades mais atrativas do que as encontradas somente nos materiais dispostos na natureza. Ainda assim, até a época dos Grandes Descobrimentos, predominavam a pedra, a madeira e o barro, sendo os metais empregados em menor escala. Seguindo o desenvolvimento histórico das habilidades do homem para lidar com os materiais, percebeu-se também que através de diferentes ferramentas de tratamento, principalmente térmicos ou com a junção a novos constituintes, um material podia ter as suas propriedades alteradas e aperfeiçoadas. Porém, até este ponto, os materiais eram empregados por meio de um processo inteiramente seletivo, onde um conjunto específico e limitado de materiais era avaliado e escolhia-se o tal cujas características se adequassem melhor a finalidade proposta. No entanto, gradualmente, foi-se aumentando as exigências e os padrões requeridos, elevando assim a demanda de materiais de maior resistência, durabilidade e aparência. Nos últimos 100 anos, a compreensão da estrutura dos elementos componentes dos materiais possibilitou o entendimento de suas relações e a influência de tais sobre as suas propriedades. Esse entendimento observado e elevado especialmente no século anterior per- mite que tenhamos condições para modelar, de maneira significativa, os materiais e suas características, fornecendo uma diversidade capaz de atender as variadas necessidades atuais. Pense, por exemplo, nos meios de transporte modernos, que proporcionam conforto e sofisticação ao cotidiano. Seria possível produzir automóveis, aviões, trens de alta velo- cidade, sem o domínio de tecnologia para produção de materiais como aço, vidro, fibras, entre outros? Evidentemente não. Note então que o melhor aproveitamento dos materiais se deve ao desenvolvimento de tecnologias para a sua modelagem, baseadas no conhecimento cada vez mais pleno de sua estrutura, o que, por sua vez, provoca o desenvolvimento de novos compostos, promovendo assim um ciclo contínuo de melhoria gradativa no domínio dos materiais. 8UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Atualmente, observa-se que os avanços tecnológicos acontecem em uma veloci- dade cada vez maior, devendo os profissionais estarem atualizados para poder aproveitar as técnicas mais avançadas. Pensando na área da ciência e tecnologia de materiais, o uso daqueles com melhor padrão e menor custo é imprescindível. Dessa forma, o profissional que não deseja ficar desatualizado deve permanecer sempre atento aos novos conheci- mentos e invenções, de modo que o estudo da Ciência e Tecnologia dos Materiais seja uma constante em sua vida profissional. 1.2 O estudo da ciência dos materiais Como você viu nos tópicos anteriores, conhecer as propriedades, limitações, van- tagens e utilização dos materiais tem recebido grande foco de estudos. Um bom exemplo de aplicação é a área de construção civil, onde não basta somente calcular a estrutura de um edifício, sendo também necessário escolher e dosar o material que será usado, além de realizar o controle de sua preparação, garantindo as propriedades da forma desejada e a sua correta manutenção. As qualidades dos materiais podem ser estabelecidas pela observação continua-da, pela experiência adquirida ou por meio de ensaios laboratoriais, sendo, portanto, o conhecimento dos materiais predominantemente experimental e tecnológico. Num cenário atual, de maneira geral a função dos cientistas e engenheiros de materiais é de desenvol- ver novos materiais através de novas sintetizações de suas estruturas, empregando-os por meio de novas técnicas. Nesse sentido, de acordo com Padilha (1997), a Ciência e Engenharia dos Materiais é a área da atividade humana associada com a geração e a aplicação de conhecimentos que relacionem composição, estrutura e processamento de materiais às suas propriedades e usos, sendo que dentro dessa grande área estão presentes alguns termos muito corri- queiros que merecem, portanto, uma explicação prévia para o seu melhor entendimento (estrutura, propriedades, processamento e desempenho). 1.2.1 Estrutura De forma resumida, a estrutura dos materiais refere-se à disposição das partes internas que o constituem, ou seja, ao arranjo de seus elementos nas diferentes escalas de análise. Partindo da análise da dimensão mais ampla, os constituintes estruturais que somos capazes de visualizar a olho nu denominam-se macroscópicos, ou seja, trata-se da estrutura macroscópica do material. Por sua vez, tem-se também a estrutura microscópica, em que só é possível enxergar através da observação direta com um microscópio os grupos maiores de átomos em geral conglomerados. 9UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Chegando ao nível atômico, a análise da estrutura do material refere-se à visua- lização e estudo da forma como os átomos se dispõem e se organizam e a respeito das moléculas que os compõem. Chegando ao fim, nessa escala decrescente de dimensões de análise da estrutura, têm-se a análise dos átomos individuais, onde estuda-se o comporta- mento interativo dos elétrons e também dos componentes do núcleo atômico, nesta que é chamada de estrutura subatômica. 1.2.2 Propriedade Podemos definir propriedade como uma característica de determinado material, de acordo com o tipo e intensidade com a qual este responde a uma ação ou estímulo específico imposto. Para entender melhor o termo, é preciso considerar que em seu uso os materiais são submetidos a ações que, por consequência, geram uma resposta. Por exemplo, um material submetido a uma corrente elétrica pode ou não conduzi-la, ou uma determinada placa de metal, pode deformar-se sem se partir devido um estímulo externo, enquanto uma placa de vidro, mesmo com dimensões equivalentes, pode responder ao mesmo estímulo se quebrando. Comumente as propriedades são definidas para um material de forma que inde- pendam do tamanho da amostra ou da forma como suas dimensões estão distribuídas. Por exemplo, uma superfície de aço polido reflete luz, independente do seu tamanho ou forma. Em geral, as principais propriedades dos materiais podem ser distribuídas entre as seguintes categorias: mecânicas, térmicas, elétricas, magnéticas e ópticas. Há ainda cientistas que consideram uma outra categoria, que trata das propriedades de deterioração. Para cada uma destas classificações há tipos específicos de estímulos que causam diver- sos tipos de resposta. Dentro das propriedades mecânicas são notadas respostas relacionadas a deformação devido a uma força ou carregamento exercido e, a partir de tal, definem-se características padrões como a resistência, tenacidade e o módulo de elasticidade. Já a maneira como os sólidos se comportam devido a estímulos térmicos pode ser descrita em propriedades com a condutividade térmica e a capacidade calorífica. As propriedades elétricas, por sua vez, relacionam-se a resposta dos materiais de- vido a estímulos como campos ou correntes elétricas, podendo ser citada como exemplo a condutividade elétrica. De modo análogo, a aplicação de um campo magnético é o estímulo que ocasiona as respostas demonstradas pelas propriedades magnéticas, sendo no caso das propriedades ópticas, este estímulo uma radiação luminosa ou mesmo uma radiação eletromagnética, sendo a refletividade uma propriedade óptica bastante citada. 10UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Por fim, as propriedades relacionadas a deterioração relacionam-se com a forma de reagir dos materiais, do ponto de vista químico. A explicação sobre estas diferentes classes de propriedades dos materiais mencionadas será realizada posteriormente nesta disciplina, aprofundando-se em cada uma delas. 1.2.3 Processamento e desempenho Já apresentamos então, em linhas gerais, a explicação sobre estrutura e proprie- dades dos materiais. Prosseguindo, os dois outros componentes destacados no estudo da ciência dos materiais são o processamento e o desempenho. O processamento pode ser definido como o conjunto de procedimentos e técnicas para obter materiais com ca- racterísticas e formas dentro de especificidades desejadas. Já o desempenho é a maneira como um material se comporta respondendo a uma ação ou estímulo externo exercido em condições normais de utilização. Note que há uma relação pertinente entre os dois componentes citados no pará- grafo anterior com a estrutura e propriedade dos materiais. De fato, os quatro estão forte- mente relacionados, pois como podemos observar pela própria definição apresentada, o processamento do material influenciará na forma como será disposta sua estrutura e no seu desempenho, sendo este último fortemente influenciado também pelas suas propriedades. A Figura 1 mostra esta interação. FIGURA 1 - A INTER-RELAÇÃO DOS COMPONENTES DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DOS MATERIAIS Fonte: O autor (2021). Assim, os quatro componentes acima citados recebem a atenção dos cientistas e engenheiros de materiais desde a etapa de projeto e análise teórica de novos materiais, passando pela etapa de produção e chegando, finalmente, a utilização prática. 11UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 2. CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS Há diferentes formas de classificar os materiais, como pela forma das ligações químicas que compõe suas moléculas, pela função para qual são empregados, entre outras variações. Uma das classificações mais aceitas e utilizadas divide os materiais com base na sua composição, sendo válida para os materiais sólidos. Os líquidos, devido aos seus diferentes comportamentos, composições e propriedades, são alvo de toda uma área de estudo a parte. Atentando-se então aos materiais sólidos, comumente os agrupamos em quatro categorias gerais: metais, cerâmicas, polímeros e compósitos. Cabe destacar que esta última categoria por vezes não é considerada em algumas classificações, por ser composta de materiais oriundos de manipulações combinadas de dois ou mais tipos diferentes. Existe ainda a divisão em outra categoria utilizada por algumas literaturas e aceita por parte dos profissionais da área, que trata dos materiais avançados. Este grupo é com- posto por materiais semicondutores, materiais com aproveitamento biológico, chamados biomateriais, materiais desenvolvidos e aplicados através de nanotecnologia, entre outros que são empregados em serviços de alta tecnologia. A seguir conheceremos melhor cada uma destas categorias. 12UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 2.1 Metais Os metais têm em sua composição a combinação entre um ou mais elementos metálicos como por exemplo alumínio, ferro, níquel, cobre, ouro, entre outros, e por vezes são compostos também pela combinação de elemento metálicos e não metálicos, como oxigênio, carbono, nitrogênio, etc., estes em quantidades menores. A estrutura atômica dos metais apresenta arranjos em formas de ligas com arru- mação bastante ordenada e, por isso, são, em geral, mais densos quando comparados aos polímeros e cerâmicas. Os metais possuem umnúmero elevado de elétrons em sua composição, e grande parte deles são considerados elétrons livres, pois não estão ligados especificamente a qualquer átomo, compondo um chamado mar de elétrons dentro das moléculas. Esta configuração eletrônica é responsável de forma direta por algumas proprie- dades deste tipo de material. Do ponto de vista mecânico, os metais têm a capacidade de se apresentar dúc- teis, ou seja, podem ser intensamente deformados sem que ocorra sua fratura, além de possuírem relativa rigidez e resistência elevadas. Por este motivo eles são aplicados em larga escala em utilidades estruturais. Outras propriedades que se podem atribuir a esta característica de elétrons livres dos metais são, por exemplo, a boa condutividade elétrica e térmica apresentada em geral por estes materiais. Com relação a propriedades ópticas, os metais são opacos à luz visível e em superfícies polidas possuem um aspecto brilhoso. Alguns metais possuem também carac- terísticas magnéticas que mostram bom proveito em aplicações, como o ferro, o níquel e o cobre. A Figura 2 apresenta uma aplicação de metal no nosso cotidiano. FIGURA 2 - APLICAÇÃO DE METAL EM TORRES DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA 13UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 2.2 Cerâmicas A composição das cerâmicas é formada pela combinação de elementos não me- tálicos e metálicos, contendo na maioria das vezes óxidos, carbetos e nitretos. As ligações que formam as moléculas dos materiais classificados como cerâmicas tem um caráter misto, iônico – covalente, variando de acordo com cada tipo. Entre esta classe de materiais estão as cerâmicas tradicionais (aqueles materiais compostos por minerais argilosos, como por exem- plo a porcelana), cerâmicas de alto desempenho, vidros e vitro-cerâmicas e os cimentos. Do ponto de vista mecânico, as cerâmicas são em geral, muito duras e relativamente resistentes e rígidas, com valores para estas características por vezes equiparando-se aos dos metais. Tradicionalmente estes materiais sempre apresentaram elevadíssima fragilidade, em contraste com os metais (que são dúcteis), apresentando, portanto, alta susceptibilidade para fraturas. No entanto, com o desenvolvimento da tecnologia e da ciência dos materiais, tem sido desenvolvido e empregados novos tipos de cerâmica, desde itens de cozinha até peças de automóveis que, ainda que continuem apresentando as propriedades cerâmicas, são menos frágeis, melhorando assim a sua resposta em termos da ocorrência de fraturas. Em geral, as cerâmicas são isolantes, tanto em termos térmicos quanto elétricos, ou seja, não conduzem, ou dificultam a condução de calor e eletricidade, sendo também mais resistentes a altas temperaturas do que os metais e os polímeros. Quanto à ótica, os materiais cerâmicos podem ser transparentes (permitem quase totalmente a passagem de luz), translúcidos (permitem parcialmente) ou opacos (não permitem a passagem da luz). Do ponto de vista das propriedades magnéticas, algumas cerâmicas compostas por óxidos apresentam um comportamento magnético. FIGURA 3 - APLICAÇÃO DE CERÂMICAS NO NOSSO COTIDIANO Fonte: Callister e Rethwischi (2016). 14UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 2.3 Polímeros Grande parte dos polímeros são compostos orgânicos que têm o carbono como base de sua estrutura química, e por vezes também o hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, entre outros elementos situados entre os não metais. Exemplos muito comuns de materiais poliméricos encontrados no dia a dia são as borrachas e os plásticos. Entre eles estão o silicone, o náilon, o poli cloreto de vinila (PVC), o polietileno, o policarbonato e o poliestireno. Ainda sobre sua composição química, os polímeros apresentam cadeias de áto- mos de carbono que tornam grande a sua estrutura molecular. Assim, a densidade (massa especifica) destes materiais é geralmente reduzida e as suas propriedades mecânicas são tipicamente diferentes das características apresentadas nos metais e nas cerâmicas, sendo os polímeros, em geral, menos rígidos e com menor resistência a deformação. No entanto, ao analisar a proporção de sua rigidez ou resistência para com sua densidade, este valor relativo se equipara aos outros dois materiais mencionados. Outra característica interessante de alguns polímeros que permite que sejam fáceis de moldar em formas de alta complexidade é a elevadíssima flexibilidade e ductilidade apresentada. Os plásticos são um bom exemplo deste tipo de polímero. Quanto aos aspec- tos ligados a eletricidade e magnetismo, este tipo de material possui condutividade elétrica pequena, e não apresentam comportamento magnético. Já do ponto de vista térmico, há uma tendência dos materiais poliméricos de reagir a exposição à temperatura, amolecendo ou até mesmo se decompondo, fator que se mos- tra uma das principais desvantagens desta classe, pois limita a sua utilização. Porém, em diversas circunstancias ambientais eles apresentam comportamento inerte, ou seja, não sofrem reações ou reagem devido as características químicas presentes. FIGURA 4 - APLICAÇÃO DE POLÍMEROS NO NOSSO COTIDIANO Fonte: Callister e Rethwischi (2016). 15UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 2.4 Compósitos Os compósitos são formados pela composição de mais de um material individual que se encaixa em alguma das classificações que apresentamos anteriormente nesta se- ção (metais, cerâmicas e polímeros). Este tipo de material é projetado e manipulado com o propósito de obter um material que apresente qualidades que somam as características dos materiais individuais que os compõem. Assim, a partir dessa nova composição, são obtidos materiais com desempenho superior, que agregam as melhores características de cada material utilizado. A maior parte dos compósitos discutidos na ciência e engenharia de materiais é sintético, ou seja, produzido pelo homem. Um número elevado desta classe de materiais é desenvolvido a partir de várias combinações possíveis entre dois ou mais materiais de classes distintas. No entanto, há também materiais que se formam e ocorrem naturalmente que se enquadram nessa classificação, como é o caso do material ósseo e da madeira. FIGURA 5 - APLICAÇÃO DE COMPÓSITOS NO NOSSO COTIDIANO Fonte: Blog ESS (2021). Entre os compósitos mais comuns, podem ser destacados alguns que recebem o nome de fibras. A fibra de carbono, por exemplo, é um compósito constituído por um polímero no qual é adicionado fibras de carbono como reforço. Essas fibras são inseridas dentro do material, o tornando mais rígido e resistente para diversas aplicações como em materiais esportivos de alto rendimento e peças de aviões, sendo, porém, mais caros que os materiais convencionais. Outro grupo de compósitos bastante utilizado e com um custo menor (mas também menos resistente) que a fibra de carbono são as fibras de vidro, material individualmente de classificação cerâmica em que é adicionado algum material da classe dos polímeros, com- binando assim as qualidades de alta resistência e rigidez (típicas das cerâmicas) com uma maior flexibilidade e reduzida massa específica (características dos polímeros). Note que, a partir da mistura de dois materiais, obtém-se um material com melhores características, o que leva a um melhor desempenho. 16UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 2.5 Materiais avançados Com o elevado desenvolvimento da tecnologia, cada vez mais são apresentados novos materiais, com desempenho superior e que exigem composição e processamento sofisticados. Esse grupo, considerado o de materiais avançados, está em constante trans- formação, visto que a velocidade de inovação é cada vez maior e um material considerado teoricamente avançado hoje pode em pouco tempo ser superado por uma nova descobertada ciência. Podemos notar a presença destes materiais em equipamentos eletrônicos, celulares, computadores, novas fibras e as variadas formas de aeronaves. Pode ser citado como exemplo dos materiais avançados, os biomateriais, que tem seu uso voltado a implantes no corpo humano, como em próteses, tendo estes materiais a característica principal de não reagir aos estímulos biológicos, evitando assim problemas para os seus usuários. Os semicondutores são também materiais avançados que constituem um misto de propriedades dos isolantes, como os polímeros e cerâmicas, e dos condutores, como é o caso dos metais. Através das técnicas atuais sofisticadas é possível formar materiais num intermédio entre essas duas condições e sua aplicação tem como grande exemplo o emprego em computadores. Outro grupo de materiais avançados é formado por aqueles desenvolvidos atra- vés da nanotecnologia, podendo assim combinar todas as classes de materiais (metais, cerâmicas, polímeros e compósitos), tendo por principal característica o seu tamanho extremamente reduzido. O desenvolvimento deste grupo tornou-se possível através das recentes melhorias em microscópios e demais equipamentos de laboratório, permitindo que se trabalhe a composição dos materiais minunciosamente, em escalas cada vez mais básicas, facilitando assim esse processo. 17UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 3. ESTRUTURA ATÔMICA As interações existentes entre os átomos e moléculas que constituem os materiais são determinantes para determinadas propriedades apresentadas por eles. Nesta seção, iremos conhecer a estrutura atômica, modelos atômicos, configurações eletrônicas, entre outros conceitos que são necessários para entender os fundamentos que irão reger as dis- cussões posteriores da disciplina. É bastante possível que você já tenha sido apresentado à alguns destes conceitos, então, faremos uma discussão contemplativa, porém sucinta, focando nos aspectos mais importantes e necessários ao seu aprendizado. 3.1 Conceitos básicos Os átomos são compostos por três tipos de partículas, organizadas em duas re- giões diferentes: os prótons e nêutrons, situados no núcleo do átomo; e os elétrons, que movimentam-se no entorno do núcleo. Os nêutrons são eletricamente neutros, como o próprio nome sugere, enquanto os prótons e elétrons possuem carga positiva e negativa, respectivamente, com magnitude de cerca de 1,602 × 10-19 Coulomb (C). Com relação a massa, os prótons e nêutrons apresentam valores em torno de 1,67 × 10-27 kg, enquanto os elétrons têm um valor de 9,11 × 10-31 kg. Note que, por serem partículas subatômicas, as massas são extremamente pequenas. Atente-se também ao fato de que, apesar da pequena massa das três partículas (prótons, nêutrons e elétrons), há uma diferença consi- derável entre as partículas do núcleo atômico e os elétrons, sendo esta última uma partícula muito menor. A seguir, são apresentados alguns conceitos sobre a estrutura atômica: 18UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Prótons: partículas situadas no núcleo do átomo que possuem cargas positivas (representadas por p); Elétrons: partículas com cargas negativas que se movimentam em torno do núcleo do átomo, numa região chamada de níveis de energia e apresentam também comporta- mento de onda (representadas por e); Nêutrons: partículas sem carga ou consideradas de carga neutra, que diminuem a repulsão entre os prótons, localizando-se também no núcleo dos átomos (representadas por n). Os nêutrons têm uma função importantíssima para a estrutura atômica, pois sem a sua presença, os prótons não poderiam estar unidos formando o núcleo do átomo, já que cargas iguais tem a tendência natural de se repelir. Número atômico (Z): indica o número de prótons (p) presentes no núcleo do átomo e o número de elétrons (e) presentes nos níveis de energia. Para um átomo eletricamente neutro ou completo, o número atômico é igual ao número de elétrons. Esse número atômico varia em unidades inteiras entre 1, para o elemento hidrogênio, até 92, para o elemento urânio, que possui o maior número atômico entre os elementos que ocorrem naturalmente. Número de massa (A): indica a massa presente no núcleo do átomo, que resulta da soma do número de prótons (p) e do número de nêutrons (n). Para um dado elemento, o número de prótons será sempre igual para todos os átomos. No entanto, o número de nêutrons pode variar, podendo alguns elementos possuírem átomos cujas massas atômi- cas são diferentes. Neste sentido, o peso atômico de um elemento corresponde à média ponderada das massas atômicas destes átomos. FIGURA 6 - ESTRUTURA DO ÁTOMO Fonte: O Autor (2021). 19UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Você pode ter ficado um tanto confuso sobre essa questão do número atômico e de massa. Vamos então apresentar as seguintes definições: Quanto à semelhança atômica, um mesmo elemento químico ou elementos quí- micos diferentes podem ter seus átomos comparados quanto ao número de massa, número de prótons, elétrons e nêutrons, existindo a seguinte classificação: Isótopos: São átomos que apresentam mesmo número atômico; mesmo número de prótons; diferentes números de massa; diferentes números de nêutrons; Isóbaros: São átomos que apresentam diferentes números atômicos; diferentes números de prótons; diferentes números de elétrons; mesmo número de massa; diferentes números de nêutrons. Isótonos: São átomos que apresentam diferentes números atômicos; diferentes números de prótons; diferentes números de elétrons; diferentes números de massa; mesmo número de nêutrons. Retomando a discussão sobre a massa do átomo, algumas representações são utilizadas para análise deste parâmetro, como a unidade de massa atômica (u.m.a), útil para o cálculo do peso atômico. Através do estabelecimento de uma escala, tem-se que 1 u.m.a é equivalente a 1/12 da massa atômica do isótopo mais comum do carbono, o carbono 12 (12C) (A = 12,00000). Assim, a massa atômica será aproximadamente a soma entre o número de prótons (dado pelo número atômico - Z) e o número de nêutrons (n, que nem sempre é igual ao número de prótons). Outra forma para a representação da massa e do peso atômico é o mol. Em um mol de uma substância existem 6,022 × 1023 (número de Avogadro) átomos ou moléculas. Estas duas representações apresentam a seguinte relação: Tomando como exemplo o gás sulfídrico (H2S) cuja molécula é constituída por dois átomos de hidrogênio (massa atômica = 1,0 u.m.a) e um átomo de enxofre (massa atômica = 32,1 u.m.a), temos que a massa molecular pode ser calculada por: Assim, a massa molecular do gás sulfídrico é 34,1 u.m.a, e sua massa molar é 34,1 g/mol. Isso quer dizer que, em 34,1 g de gás sulfídrico, temos 6,02 x 1023 moléculas ou 1 mol de moléculas de gás sulfídrico. 20UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 3.2 Modelos atômicos No final do século XIX, observou-se que a mecânica clássica não era capaz de explicar diversos fenômenos envolvendo os elétrons. Assim, diversos cientistas passaram a estudar e propor unidades capazes de explicar os fenômenos da matéria de um ponto de vista cada vez mais aprofundado, buscando alcançar a raiz da matéria, ou seja, as menores partículas que lhe formam. A proposta inicial de John Dalton (1766 – 1844), que afirmava existir uma partícula única, maciça e indivisível fora depois derrubada pela existência de cargas distintas, desta- cando-se o modelo posterior de Joseph John Thomson (1856 – 1940) conhecido como pudim de passas, que propunha o átomo como maciço, constituído de partes com cargas opostas. Esse modelo fora também descartado principalmente após o experimento de Ernest Rutherford (1871 – 1937), que provou que o átomo não era uma partícula únicae maciça, sendo o seu modelo o primeiro a considerar a existência do núcleo e de partículas denominadas elétrons movimentando-se ao seu redor. Entretanto, este modelo ainda tinha muito o que explicar. Seguiu-se então o estabelecimento de um conjunto de princípios e leis que regem os sis- temas das entidades atômicas e subatômicas, que veio a ser conhecido como mecânica quântica. Os conceitos por ela englobados são necessários para que haja o conhecimento e entendimento do comportamento dos elétrons nos átomos, que, como você verá adiante, é a chave para que se entendam as ligações químicas e, consequentemente, a composição dos materiais. Um dos pioneiros da mecânica quântica foi o modelo atômico proposto por David Bohr (1885 – 1962), conhecido como modelo atômico de Bohr que, apesar de simplifica- do, foi um importante passo para as compreensões existentes atualmente sobre o átomo. Neste modelo se considera que a posição de qualquer elétron particular está mais ou menos bem definida em termos do seu orbital, e os elétrons circulam ao redor do núcleo atômico nestes orbitais. O modelo atômico de Bohr consiste numa forma inicial de explicar o comportamento dos elétrons nos átomos, desde a sua posição (descrição do seu movimento em orbitais) até a sua variação de energia (camadas ou níveis de energia quantizados). Ainda que a tentativa de Bohr de propor um modelo para o átomo apresente consideráveis limitações, deixando de explicar alguns fenômenos significativos, este modelo foi o primeiro passo rumo aos conceitos hoje existentes. 21UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 3.3 Configuração eletrônica O princípio da configuração eletrônica, também chamado de distribuição eletrôni- ca, apresenta a disposição dos elétrons nas camadas de energia dos átomos de maneira que este atinja o seu estado fundamental, ou seja, seus elétrons preencham os primeiros níveis de energia disponíveis. Também chamado de estado estacionário, o estado fun- damental do átomo é aquele no qual seus elétrons se encontram dispostos nos menores níveis de energia disponíveis. Partindo do modelo atômico de Bohr, que, como já vimos, é um aperfeiçoamento do modelo de Rutherford, a introdução das ideias quânticas, conseguiu superar as limitações deixadas por Bohr, permitindo que se compreendessem alguns fenômenos não explicados de forma eficaz anteriormente. Por meio de uma experiência que se baseou na emissão de luz utilizando átomos de apenas um elétron, Bohr conseguiu mostrar que os elétrons estão confinados em determina- dos níveis de energia quando em seu estado estacionário. No modelo proposto, cada estado estacionário relaciona-se à um nível de energia, descrito pelo número quântico principal (n) que varia de 1 a 7 (ou também denominados como camadas K, L, M, N, O, P e Q) e repre- sentado por uma órbita localizada ao redor do núcleo do átomo. Cada uma destas camadas é capaz de comportar uma quantidade limite de elétrons, como é apresentado na Tabela 1. FIGURA 6 - CAMADAS OU NÍVEIS DE ENERGIA Fonte: O autor (2021). TABELA 1 - CAPACIDADE DE CADA CAMADA DE ENERGIA Nível (n) 1 2 3 4 5 6 7 Camada K L M N O P Q Capacidade máxima de elétrons 2 8 18 32 32 18 2 Fonte: O Autor (2021). 22UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Prosseguindo com a mecânica quântica, Linus Pauling (1901 – 1994) elaborou um mecanismo que torna mais fácil a compreensão da maneira como os elétrons ocupam os níveis de energia e os orbitais, sendo comum que em cada camada os elétrons ocupem quatro subníveis, identificados através das letras s, p, d e f, seguindo nesta ordem de energia. De acordo com Callister (2016), a proposta de Linus Pauling, chamada de diagrama de Pauling, facilita o entendimento da distribuição dos elétrons nos níveis e subníveis de energia até a sua camada de valência, que é onde se encontram os elétrons que possuem maior valor energético. Estes elétrons contidos na camada de valência são os responsáveis pelas ligações entre os átomos, pois se encontram em instabilidade e procuram outros elétrons para se estabilizar. Para se tornar estável, a maioria dos átomos precisa de 8 elétrons em sua última camada. No entanto, há átomos que possuem configuração de elétrons naturalmente está- vel, ou seja, a camada de valência já está completamente preenchida. Observe na Figura 7 a estrutura proposta pelo diagrama de Pauling, mecanismo que permite a distribuição eletrônica de todos os elementos químicos. FIGURA 7 - DIAGRAMA DE LINUS PAULING Fonte: O Autor (2021). Como você viu, os átomos geralmente podem ocupar sete níveis ou camadas de energia, sendo que estes níveis tem os seus subníveis associados ao orbital em que o elétron se enquadra. Cada orbital é capaz de possuir no máximo dois elétrons, permitindo que estes sejam distribuídos nos subníveis, como se vê na Tabela 2. TABELA 2 - CAPACIDADE MÁXIMA DE ELÉTRONS POR SUBNÍVEL Subnível s p d f Número de orbitais por subnível 1 3 5 7 Capacidade máxima de elétrons 2 6 10 14 Fonte: O Autor (2021). 23UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais O entendimento da estrutura atômica permite compreender em linhas gerais as ligações formadas pelos átomos, formando assim as moléculas que são trabalhadas na etapa de processamento para a obtenção e melhoria de novos materiais. A seguir, veremos os principais tipos de ligações que ocorrem entre os átomos dos elementos. 24UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 4. LIGAÇÕES ATÔMICAS ENTRE OS SÓLIDOS A natureza das ligações que ocorrem entre os átomos depende das distintas con- figurações eletrônicas existentes entre eles. Normalmente, todos os tipos de ligação se originam devido a busca dos átomos por atingir a estabilidade eletrônica na camada de valência. Esta estabilidade é ausente para a maioria dos elementos, com exceção dos chamados gases nobres ou gases inertes, e ocorre quando a camada eletrônica externa, chamada camada de valência, é totalmente preenchida. As ligações atômicas primárias encontradas nos sólidos, também chamadas de ligações químicas, classificam-se em três tipos: iônica, covalente e metálica. Além delas, ocorrem também ligações ocasionadas por forças e energias secundárias, ou físicas. Estas são menos fortes do que as anteriores citadas, porém ainda assim tem capacidade para alterar as propriedades de alguns materiais. A seguir são abordadas as ligações primárias que ocorrem entre os átomos. 4.1 Ligação Iônica As ligações iônicas se dão principalmente entre elementos ou compostos que con- tam com metais e não metais, elementos estes que se encontram nas duas extremidades horizontais da tabela periódica. A ligação iônica é a mais simples de ser entendida, pois nela combinam-se os átomos que precisam de poucos elétrons para atingir a estabilidade na camada de valência (elementos não metálicos), com átomos que tem poucos elétrons em sua camada mais externa (elementos metálicos). 25UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais Dessa forma, os elementos metálicos tendem a perder elétrons da sua camada de valência com facilidade, enquanto os não metálicos tendem a recebe-los. Ao realizar a ligação iônica, todos os átomos envolvidos passam a ter configuração eletrônica estável, semelhante à dos gases nobres, com suas camadas preenchidas completamente. Através desse processo, estes átomos com novas configurações passam a possuir carga elétrica, tornando-se íons. Um dos exemplos mais clássicos utilizados para explicar a ligação iônica, tanto pela quantidade de elétrons envolvida, quanto pela presença da molécula formada num composto muito comum no nosso cotidiano é o do cloreto de sódio (NaCl), o popular sal de cozinha. Para a formação desse composto, o átomo de sódio (Na)cede o seu elétron da camada de valência, adquirindo a configuração eletrônica do neônio, passando a ser então um íon de carga positiva, com tamanho reduzido em comparação ao original, já que perdeu um elétron e uma camada de energia. Por consequência, o cloro recebe este elétron e passa a ter uma estrutura eletrônica de carga negativa (íon de carga negativa), com configuração idêntica ao argônio, aumentando também o tamanho em relação ao átomo de cloro original. 4.2 Ligação Covalente Nas ligações entre átomos de elementos que possuem pouca diferença na quanti- dade de elétrons da camada de valência, um outro tipo de ligação é mais comum: a ligação covalente. Este tipo de ligação ocorre principalmente entre elementos que estão localizados próximos um do outro na tabela periódica. Diferente da ligação iônica, onde há perda e recebimento de elétrons entre os átomos dos diferentes elementos, na ligação covalente o compartilhamento de elétrons de valência entre os átomos vizinhos permite que sejam atingidas estruturas eletrônicas com estabilidade. Assim, átomos que se ligam de maneira covalente compartilharão, cada um, pelo menos um elétron para a ligação, sendo estes elétrons em comum entre os dois átomos considerados como pertencentes a ambos. A ligação covalente é direcional, ou seja, ela só existe na direção entre os áto- mos específicos que estão se ligando através do compartilhamento de elétrons. Um bom exemplo de ligação covalente é a água (H2O). Nesta ligação, o átomo de oxigênio, que possui seis elétrons em sua camada de valência (precisa então de dois para a estabilidade) compartilha um elétron com cada um dos dois átomos de hidrogênio (que, por ser um átomo especial, precisa apenas de mais um para ser estável). Assim, há a superposição de orbitais na região específica onde ocorre a ligação entre os átomos. 26UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais A ligação covalente está presente em materiais como o gás hidrogênio (H2), o gás oxigênio (O2), o gás ozônio (O3), dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2), entre outros. Ao se falar desse tipo de ligação, merece um destaque especial o átomo do elemento carbono (C), que possui quatro elétrons na camada de valência, o que o torna um elemento com elevada capacidade de reação química através das ligações covalentes. 4.3 Ligação Metálica O terceiro tipo de ligação primária entre os átomos é a ligação metálica, que ocorre, como indicado pelo nome, nos metais e ligas metálicas. Diferentemente dos outros dois modelos de ligação já apresentados, para as ligações metálicas uma configuração de liga- ção diferente é aceita, num modelo onde não se considera especificamente a quantidade de elétrons trocada ou compartilhada, mas sim uma nuvem de elétrons que seja formada. Na ligação metálica, os elétrons de valência não se ligam especificamente a ne- nhum átomo, e estão relativamente livres na estrutura das moléculas para movimentar-se, enquanto os demais elétrons de cada átomo seguem unidos a tais. Ou seja, os elétrons de valência que circulam livremente podem ser considerados pertencentes a todo o metal ou liga metálica, daí vem o termo “nuvem de elétrons”. Quanto aos demais elétrons que ficam presos aos átomos, constituem assim um núcleo iônico com uma carga resultante positiva, cuja magnitude equivale aos elétrons de valência deste átomo. 27UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais SAIBA MAIS Linus Pauling, um dos pais da ciência quântica Considerado um dos pais da ciência quântica, Linus Pauling foi um cientista americano que esteve entre os mais reconhecidos pesquisadores do século XX. Uma grande mos- tra disso é o fato dele ter sido o único cientista homenageado com dois Prêmios Nobel de maneira individual. O primeiro, em 1954, deveu-se a seus trabalhos sobre química quântica, especialmente sobre a natureza das ligações químicas, ponto importantíssimo para o posterior desenvolvimento alargado das técnicas em processamento e manipula- ção de materiais. O segundo prêmio veio em 1962, sendo este um Prêmio Nobel da Paz, em decorrência de suas ações contra o armamento nuclear e uso de bombas atômicas como armas de guerra. Fonte: Souza (2021). REFLITA O desenvolvimento dos materiais vem trazendo melhores condições para as atividades humanas em todos os seguimentos, sendo um deles a construção civil. Já parou para refletir no quanto as edificações evoluíram ao longo da história? Fonte: O autor (2021). 28UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos aqui ao fim desta primeira unidade. Nela, você pôde ter um contato inicial com a ciência e tecnologia dos materiais, conhecendo desde sua importância, amplitude prá- tica e evolução, até os conceitos básicos presentes na menor escala de análise do material. Por meio do primeiro tópico, pudemos perceber que a ciência dos materiais se aplica em todas as áreas da atividade humana, desde as mais simples até as mais sofisti- cadas e inovadoras. Fizemos também uma viagem temporal para entender a mudança no aproveitamento dos recursos do planeta devido ao desenvolvimento progressivo de novas técnicas para extrair, trabalhar e posteriormente manipular novos materiais. No segundo tópico, trabalhamos as classificações distintas existentes para os mate- riais, que podem ser realizadas de acordo com suas características e composição. Notamos, também, reiterando o que foi introduzido no tópico inicial, que a composição, propriedades e estrutura dos materiais estão fortemente atreladas, como fatores interativos entre si. No terceiro e quarto tópico, abordamos a estrutura atômica, que é a base dos elementos que compõem os materiais e as ligações que esses átomos promovem, for- mando assim as moléculas e estruturas dos compostos, que resultam nos materiais que conhecemos. Notamos que este entendimento na escala atômica e subatômica da ciência é relativamente recente, e, com estas novas descobertas, a ciência em geral, e, logica- mente, a ciência e tecnologia dos materiais tem avançado e apresentado inovações numa velocidade cada vez maior. Pode-se concluir desta unidade que o campo da ciência dos materiais é totalmente alinhado com as descobertas atuais da ciência, provocando, através da engenharia, novas invenções que elevam a qualidade das atividades desenvolvias pelo homem, tendo como objetivo geral, contribuir para o desenvolvimento e a garantia de melhores soluções. 29UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais LEITURA COMPLEMENTAR Diante da evolução cada vez mais rápida na ciência dos materiais, da alta explora- ção dos recursos naturais e da recente preocupação com as questões de sustentabilidade, Sookap Hahn (1994) apresenta um interessante panorama sobre a importância da ciência dos materiais na garantia de um futuro sustentável. Através da leitura, que data da década final do século XX, instigo você a refletir sobre as previsões e o diagnóstico dado no artigo, comparando com a situação atual, após duas décadas do novo milênio. Fonte: HAHN, Sookap. Os papéis da ciência dos materiais e da engenharia para uma socie- dade sustentável. Dossiê Ciência e Desenvolvimento Sustentável, Estud. av. 8 (20), Abril, 1994. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/gY6LTM7LgHF5554hj4xNNYN/?lang=pt. Acesso em: 12 jan. 2022. https://www.scielo.br/j/ea/a/gY6LTM7LgHF5554hj4xNNYN/?lang=pt 30UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Fundamentos de Engenharia e Ciências dos Materiais Autor: William F. Smith (Autor), Javad Hashemi (Autor), Necesio Gomes Costa (Tradutor). Editora: AMGH; 5ª edição. Ano: 2012. Sinopse: Equilibrando teoria e prática sobre diversos tipos de materiais utilizados em engenharia, o livroconta com explicações textuais concisas, imagens relevantes e didáticas, exemplos detalhados, problemas propostos e abordagem de tópicos extre- mamente atuais. FILME / VÍDEO Título: Introdução à Ciência dos Materiais Ano: 2020. Sinopse: O vídeo faz uma abordagem introdutória da ciência e engenharia dos materiais, trazendo uma contextualização do tema na atualidade, somada a uma breve retrospectiva histórica e a apresentação dinâmica dos principais conceitos envolvidos. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=U-3XFhrXs9k 31 Plano de Estudo: ● Estruturas cristalinas; ● Materiais cristalinos e não cristalinos; ● Imperfeições em sólidos; ● Imperfeições pontuais e diversas. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender a estrutura e classificação de sólidos cristalinos; ● Conhecer as principais imperfeições ocorridas nos sólidos e os conceitos básicos de suas análises microscópicas. UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos Professor Me. Marcus Vinicius Paula de Lima Professora Paloma Morais de Souza 32UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 32UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos INTRODUÇÃO Na primeira unidade, fizemos uma introdução ao estudo da ciência e tecnologia dos materiais, percorrendo um caminho histórico de evolução desta área, passando pela classificação dos materiais e introduzindo as bases de estudo da química que regem o comportamento dos materiais. Agora, iremos prosseguir o nosso estudo sobre os materiais de um ponto de vista ainda mais ligado à sua estrutura microscópica e atômica, fundamentais para o entendi- mento das propriedades e das reações manifestadas pelos distintos grupos de materiais existentes. Mais especificamente, abordaremos um tipo muito comum de estrutura atômica, que é a estrutura dos materiais cristalinos e sua relação com as imperfeições apresentadas pelos materiais, bem como com os mecanismos de difusão. Primeiramente, iremos conhecer e entender os aspectos que definem uma estrutu- ra de sólido cristalino, sua diferenciação para outras estruturas atômicas e os exemplos de materiais nos quais este tipo de arranjo é presente. Você poderá observar a importância do conhecimento sobre os cristais através de exemplos como o de materiais que, ainda que sendo compostos pelos mesmos tipos de átomos, mostram um comportamento e arranjo estrutural diferente numa escala microscópica e atômica, comportando-se também de maneira distinta, no que diz respeito a suas propriedades, quando se apresentam de forma cristalina ou não. Em seguida, serão apresentadas as classificações existentes dentro do grupo de sólidos cristalinos e as características peculiares de cada uma dessas divisões. Aborda- remos também a ocorrência da característica de anisotropia presente em boa parte dos sólidos cristalinos e os efeitos que provoca. Veremos ainda nesta unidade, que praticamente todos os materiais apresentam imperfeições em suas estruturas moleculares. Essas imperfeições possuem capacidade de alterar de forma significativa algumas de suas propriedades e, consequentemente, o seu comportamento sob diversas ações. No entanto, nem sempre isso significa um problema para os cientistas e engenheiros de materiais, sendo até utilizado em benefício do desempenho. 33UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 33UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos 1. ESTRUTURAS CRISTALINAS Como vimos na unidade anterior, o desenvolvimento da ciência e engenharia dos materiais está atualmente intimamente atrelado ao entendimento da sua composição quí- mica em escalas cada vez mais reduzidas, chegando à escala de análise particular dos átomos e suas ligações. Você pôde notar que as diferentes características dos diversos materiais variam de acordo com a estrutura dos átomos presentes e da forma como interagem em suas ligações. Logo, o próximo nível de análise sobre a estrutura dos materiais é referente aos arranjos que são notados em sua composição, para além da ligação propriamente dita entre os átomos, ou seja, a maneira como as moléculas oriundas das ligações se arranja formando a estrutura do material e como influenciam em suas propriedades. Dentro deste contexto, uma classificação importante observada é aquela que divide os materiais entre cristalinos e não cristalinos. Veremos ao longo desta seção do que se trata uma estrutura cristalina, com exemplos de materiais nos quais este tipo de arranjo é presente. A importância do estudo da condição cristalina de alguns materiais é vista, por exemplo, na diferença entre características de compostos que, mesmo sendo formados pelos mesmos elementos, comportam-se de maneira diferente, a depender se estão ar- ranjados de forma cristalina ou não. Como exemplo, podemos colocar alguns polímeros e cerâmicas, que quando apresentados num arranjo cristalino apresentam propriedades ópticas com aspecto translúcido ou opaco e quando encontrados de forma não cristalina são geralmente transparentes. 34UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 34UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos Mesmo entre materiais com estrutura cristalina, a forma de arranjo de tais estrutu- ras pode variar, provocando significativas diferenças em suas propriedades. Por exemplo, o magnésio em sua forma pura e não deformada é muito mais frágil (que como vimos, quer dizer que sofre fratura com maior facilidade) do que outros materiais também não defor- mados e puros, que também são materiais cristalinos, como a prata e o ouro, por exemplo. Isso ocorre, pois os materiais apresentam diferentes arranjos ou estrutura cristalina. Caso você não tenha entendido ainda o sentido da classificação entre material cristalino e não cristalino, fique tranquilo pois veremos a seguir alguns conceitos básicos que ajudam a perceber em qual escala de análise se encaixa esta divisão. Serão apresen- tados os conceitos de cristalinidade e célula unitária e será apresentado alguns arranjos mais comuns de estruturas cristalinas. Veremos também do que se tratam os materiais monocristalinos, policristalinos e não cristalinos, e a forma principal de determinação sobre um material pertencer ou não a estas classes. 1.1 Conceitos básicos Uma forma conhecida de classificação para os materiais em estado sólido baseia- -se na maneira como os arranjos dos átomos dos elementos que os compõem apresentam certa regularidade em comparação com os demais. Neste sentido, há materiais que apre- sentam em sua composição uma estrutura composta por arranjos sequenciais e periódicos de maneira repetitiva, através de elevadas distâncias (numa escala atômica), ou seja, há uma ordenação de grande extensão de forma que, ao se solidificarem apresentam uma composição cujos átomos distribuem-se num posicionamento que forma um padrão de repetição, onde cada átomo repete junto ao átomo vizinho este mesmo padrão. A este grupo de materiais, cuja descrição da estrutura foi apresentada no parágrafo anterior, denominamos como materiais cristalinos. Dentro deste grupo encontram-se diversos materiais cerâmicos, alguns polímeros e os metais em sua totalidade, formando arranjos cristalinos em suas estruturas, quando apresentados em configurações normais de sólidos. Daí tem-se também a denominação sólidos cristalinos. Os materiais que não tem essa forma de organização com padrões de repetição de estrutura de elevada extensão atômica recebem o nome de materiais amorfos ou não cristalinos. Como vimos, o material cristalino apresenta uma repetição padrão no arranjo da estrutura de organização de seus átomos. No entanto, este padrão varia de acordo com o tipo de material, tendo assim formas diferentes, ou seja, todos os materiais cristalinos apresentam padrões dearranjo repetitivos, mas estes padrões podem variar. Há, portanto, 35UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 35UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos um elevado número de variações destes arranjos, que são chamados de estruturas cristalinas e que possuem diferentes formas com elevado alcance e extensão em dimensões atômicas. Estas estruturas cristalinas possuem influencia em diferentes propriedades dos materiais cristalinos, pois, se o arranjo entre as ligações de átomos é diferente no espaço, essa variação na configuração das moléculas deve provocar diferenças nas características de cada material. Tais estruturas cristalinas podem se manifestar de diferentes maneiras, desde arranjos considerados estruturas altamente complexas, como é o caso exibido por alguns tipos de polímeros e algumas cerâmicas, até arranjos bem mais simplificados, como ocorre para a maioria dos metais, com estruturas com grau bem menor de complexidade. O estudo sobre a forma de organização das estruturas cristalinas para os diferentes grandes grupos de materiais (metais, cerâmicas e polímeros) é um campo sob larga análise, no entanto, nossa discussão será mais voltada ao entendimento geral sobre a cristalinidade e as estru- turas cristalinas mais gerais. Outro conceito importante neste assunto é o de redes cristalinas. No contexto das estruturas cristalinas, o termo rede cristalina é usado para definir as posições coincidentes com o arranjo espacial (tridimensional) de longo alcance entre os átomos que compõem os padrões repetitivos das estruturas cristalinas. Para um melhor entendimento sobre os sóli- dos cristalinos e suas estruturas, considera-se os átomos (ou íons) presentes na estrutura molecular como esferas rígidas de diâmetro bem definido. Entende-se então que as esferas (átomos) mais próximos estão unidas de forma a tocar-se, ou seja, os átomos vizinhos estariam unidos de maneira a compor esta estrutura sólida. Esse modelo é conhecido como o modelo atômico de esfera rígida, sendo apresentado na Figura 1. FIGURA 1 - A) MATERIAL CRISTALINO; B) ESTRUTURA CRISTALINA; C) REDES CRISTALINAS Fonte: Callister e Rethwischi (2016). 36UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 36UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos Para a descrição dos materiais cristalinos, mais especificamente da estrutura crista- lina propriamente dita, normalmente dividimos os arranjos em entidades menores dentro da estrutura, sendo que estas entidades se repetem (já dentro da estrutura repetitiva), mas são consideradas particularmente para a análise, recebendo a denominação de células unitárias. É conveniente fazer esta análise a partir de entidades menores, já que, como vimos nos parágrafos anteriores, a forma de ordenação dos átomos que compõem os sólidos cristalinos é caracterizada pela existência de padrões de repetição. Dessa forma, torna-se mais prático considerar a entidade para estudo, já que o conjunto da estrutura será uma repetição ou uma ampliação deste arranjo menor considerado. Note na Figura 1 c), que dentro do aglomerado de átomos da rede cristalina está destacada uma entidade menor, que pode ser repetida ao observarmos a figura como um todo. A partir de tal, todas as considerações e análises para a estrutura cristalina presente nesta entidade será válida para toda a rede cristalina, já que suas demais partes serão idênticas. Na grande maioria das estruturas de materiais cristalinos essas entidades, ou células unitárias possuem uma forma que conta com três blocos de faces paralelas, lem- brando assim o formato de prismas ou paralelepípedos. Na Figura 1 b) note que a estrutura cristalina formada apresenta aspecto de cubo (que também é um prisma). Entendendo que a célula unitária é definida de maneira a representar um arranjo que se repete em toda rede cristalina, toda a estrutura cristalina que forma tal rede (e, logicamente o material) possuirá a mesma simetria. Assim, a rede poderá ser obtida a partir de translações da célula unitária ao longo das suas arestas. Mais uma vez analisando a Figura 1, observe que, sendo os átomos representados pelas esferas, a célula unitária formada pelo paralelepípedo definido para a estrutura terá seus vértices coincidindo com os centros das esferas (centros dos átomos) e, portanto, para análise da estrutura cristalina, a célula unitária será a unidade básica para estudo, e não o átomo propriamente dito. É também necessário informar que há mais de uma maneira ou forma com a qual se pode definir uma célula unitária para uma estrutura cristalina particular (poderíamos ter escolhido prismas com comprimento maior do que os cubos, no caso do exemplo da Figura 1), no entanto, é mais usual e comum considerar a célula unitária como sendo o arranjo que possui a simetria geométrica no nível mais elevado. 37UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 37UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos 1.2 Os metais e suas estruturas cristalinas Ao estudarmos os sólidos cristalinos, uma grande atenção se deve ao grupo dos metais, já que são materiais cujos arranjos de seus elementos tornam regra a ocorrên- cia de estruturas cristalinas. Para este grupo, são muito pequenos, ou praticamente não existentes, os limites ao respeito da proximidade, quantidade e posição dos átomos na composição do material, levando assim a ocorrência de estruturas atômicas formadas por arranjos mais compactos, com distâncias reduzidas entre os seus átomos constituintes, o que consequentemente contribui para existência da própria estrutura cristalina. Esta situação ocorre também devido a maneira como se dão as ligações entre os átomos dos elementos metálicos, ou seja, a ligação metálica. Como você estudou na unidade anterior, este tipo de ligação química tem natureza não direcional, havendo um compartilhamento de elétrons que faz com que os átomos participantes da ligação estejam unidos aos demais numa proximidade maior, sem definição específica de qual átomos se liga a qualquer outro. Geralmente são encontradas dentro das composições metálicas três diferentes tipos de estruturas cristalinas, que se mostram relativamente simples e ocorrem entre os elementos metálicos mais comumente encontrados: cúbica de faces centradas (CFC), cúbica de corpo centrado (CCC) e hexagonal compacta (HC). Na Tabela 1, são apresentadas as estruturas cristalinas que ocorrem de forma mais comum para diferentes materiais metálicos e os raios atômicos para os núcleos iônicos (os nú- cleos iônicos correspondem aos átomos originais que estão carregados pela nuvem de elétrons formada na ligação metálica) destes materiais. Ao se trabalhar com o modelo de esferas rígidas como representação das estruturas cristalinas, cada uma dessas esferas estará representando um destes núcleos atômicos. Logo, os raios atômicos são referentes as dimensões represen- tativas destas esferas. Na sequência, abordaremos também, ainda que de forma sucinta, cada um dos tipos mais comuns de estrutura cristalina presentes nos metais. 38UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 38UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos TABELA 1 - ESTRUTURAS CRISTALINAS COMUNS E RAIOS ATÔMICOS PARA DIFERENTES METAIS Metal Raio Atômico (nm) Estrutura Cristalina Alumínio 0,1431 CFC Cádmio 0,1490 HC Chumbo 0,1750 CFC Cobalto 0,1253 HC Cobre 0,1278 CFC Cromo 0,1249 CCC Ferro (α) * 0,1241 CCC Molibdênio 0,1363 CCC Níquel 0,1246 CFC Ouro 0,1442 CFC Platina 0,1387 CFC Prata 0,1445 CFC Tântalo 0,1430 CCC Titânio (α) * 0,1445 HC Tungstênio 0,1371 CCC Zinco 0,1332 HC * A simbologia (α) significa que se trata de um elemento puro (ferro puro e titânio puro). Fonte: O autor (2021).Fonte: Callister e Rethwischi (2016). Denominada formalmente de estrutura cristalina cúbica de faces centradas, o CFC é um arranjo no qual a célula unitária considerada possui um formato geométrico que se assemelha a um cubo, possuindo átomos posicionados em cada um dos vértices e nos centros de todas as faces deste cubo. Ex: alumínio, cobre, ouro e prata. Fonte: Callister e Rethwischi (2016). A estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC) possui formato cúbico e oito átomos dispostos nos vérti- ces da estrutura, assim como o CFC. A diferenciação se dá devida a distribuição espacial dentro da célula unitária, já que no caso do CCC tem-se somente mais um átomo por célula, que fica localizado no centro deste cubo. Ex: Ferro e cromo. 39UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 39UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos Fonte: Callister e Rethwischi (2016). A estrutura cristalina hexagonal compacta (HC), assemelha-se a um prisma hexagonal. Neste arranjo, consideram-se três planos paralelos unidos por outras seis faces ortogonais a estes planos: dois planos extre- mos na forma de hexágono, compostos por seis átomos, distribuídos um em cada vértice somados a um átomo no centro do plano; e um plano intermediário, possuindo três átomos, totalizando assim 17 átomos na célula unitária. Ex: magnésio, zinco, titânio e cádmio. 40UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 40UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos 2. MATERIAIS CRISTALINOS E NÃO CRISTALINOS Dependendo de sua estrutura, os diversos materiais podem se apresentar como cristalinos ou não cristalinos, chamados também de amorfos, como vimos na primeira se- ção desta unidade. Dentre os materiais cristalinos, além das diferentes formas de células unitárias que são a base de análise para as estruturas cristalinas como um todo, há também diferentes combinações que permitem outras classificações quanto a este aspecto para os sólidos. Veremos agora um pouco mais sobre estas classificações e a forma de determina- ção do pertencimento de um material a estas distintas classes. 2.1 Monocristais A ocorrência de monocristais de maneira natural é um tanto limitada, pois somente em ambientes com condições praticamente perfeitas este tipo de sólido cristalino ocorre, já que em toda a amostra de material, o padrão de repetição e a forma de ligação entre tais cé- lulas é idêntico e perfeito, sem interrupções ou falhas, seguindo sempre a mesma orientação. Devido a esta exigência de sincronia em sua formação, raramente há a ocorrência de cristais deste tipo na natureza. No entanto, é possível e viável a sua manipulação e de- senvolvimento de forma artificial. Recentemente, tem-se dado uma maior importância para os monocristais, que são utilizados em diversas tecnologias relativamente novas, como por exemplo os microcircuitos de silício. Outros materiais monocristais também são utilizados, principalmente em estudos com semicondutores. 41UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 41UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos 2.2 Policristais Vimos até aqui que os materiais cristalinos que possuem um arranjo de células unitárias perfeito e uniforme existem (monocristais), mas não são comuns. Portanto, o caso onde há mais de uma forma de organização entre as células unitárias é o mais usual, recebendo a denominação de materiais policristalinos. A maior parte dos materiais cristalinos apresenta na sua composição diferentes gru- pos de cristais em tamanho minúsculo, podendo chamar-se de grãos, sendo chamados de policristais. A formação destes sólidos envolve a presença de distintos conjuntos de estruturas cristalinas, que crescem e agrupam-se dando esta configuração híbrida ao material. Primeiramente, os grãos de cristais se desenvolvem em posições variadas, com orientação variável e aleatória. Estas partes menores iniciais vão ganhando volume a partir da adição de novos átomos em sua estrutura devido às reações durante o processo de solidificação. Ao ponto que este processo vai se aproximando da conclusão, os grãos já com tamanhos maiores e em estado sólido tem as suas partes extremas forçadas umas às outras, provocando assim regiões de menor ajuste entre grãos distintos. A esta área de encontro entre dois grãos (conjuntos de mesmo tipo de célula unitária) dá-se o nome de região de contorno de grão do cristal. Os desajustes existentes nas estruturas policristalinas têm grande relevância para algumas propriedades dos materiais, especialmente as propriedades mecânicas e em me- nor ocorrência as elétricas e magnéticas. Faremos aqui uma breve explicação da influência da estrutura cristalina sobre algumas propriedades, já que o estudo propriamente dito das propriedades será feito em unidades posteriores. 2.3 Anisotropia Em diversos materiais com estrutura policristalina, os grãos enquanto indivíduos possuem orientações cristalográficas com distribuição altamente ou até totalmente alea- tória. Diante destas condições, ainda que cada um dos grãos contidos na estrutura se apresente com orientação distinta, a amostra geral do material, composta pelo conjunto agregado de diversos grãos terá um comportamento similar para todas as suas regiões, independentemente da sua direção. Os materiais e substâncias onde o comportamento e resposta não variam de acor- do com a direção de ocorrência ou medição são classificados como isotrópicos, ou seja, as suas propriedades são independentes da posição ou orientação em que se analisa ou submete o material a algum estímulo. 42UNIDADE I Introdução ao Estudo dos Materiais para Engenharia e Estrutura dos Materiais 42UNIDADE II Estrutura de Sólidos Cristalinos e Imperfeições em Sólidos Quando há variação nas propriedades do material de acordo com a direção de análise do mesmo, têm-se então uma condição denominada anisotropia. Esta condição está atrelada a diferentes distribuições espaciais dos átomos na composição da estrutura do material, como ocorre nos casos de afastamento ou aproximação entre os íons das estruturas cristalinas em decorrência da direção cristalográfica geral (para o caso dos monocristais) ou das variações nas direções cristalográficas (caso se trate de material policristalino). Assim, alguns tipos de materiais monocristais têm suas propriedades variando de acordo com a direção de medida. Podemos usar como exemplo de tais propriedades va- riáveis o módulo de elasticidade (propriedade mecânica), a condutividade elétrica (proprie- dade elétrica) e o índice de refração (propriedade óptica), todos influenciados pela direção cristalográfica dos cristais da amostra. Para o caso dos monocristais, o nível de anisotropia se eleva a medida que a simetria estrutural do material é reduzida. Logo, a magnitude e a abrangência dos efei- tos oriundos da anisotropia serão vistas de acordo com esse nível apresentado. Como vimos, os materiais policristalinos tendem a se comportar de maneira isotrópica, tamanha a aleatoriedade das orientações cristalográficas presentes na estrutura como um todo. Nestas circunstâncias, toma-se a média dos valores direcionais para medir a magnitude de determinada propriedade. Mas, atenção! O fato de se assumir que os materiais policristalinos com orientação de cristais aleatória se comportem de maneira isotrópica, enquanto os monocristais são, em alguns casos, anisotrópicos, não significa dizer que as propriedades do primeiro grupo têm um melhor desempenho em comparação com o segundo, e vice versa. Essa condição varia de acordo com os elementos constituintes de cada tipo de material. 2.4 Materiais não cristalinos Os materiais não cristalinos ou amorfos, precisam apresentar, na sua condição sólida, uma configuração de
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