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RESENHA - VALE DOS ESQUECIDOS

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RESENHA DO DOCUMENTÁRIO VALE DOS ESQUECIDOS	
O documentário dirigido por Maria Raduan e produzido em 2010, intitulado Vale dos Esquecidos, traz de forma interessante as diferentes perspectivas dos índios Xavante, sem-terras, posseiros, grileiros e fazendeiros sobre a questão da posse de terras. A obra audiovisual apresenta a história por trás de uma região que na década de 70 abrigou a Fazenda Suiá-Missú e que a partir disso passou a ser alvo de diversos conflitos sobre o direito e o pertencimento das terras. De forma objetiva e neutra, Raduan conduz as entrevistas com os diferentes personagens que se mostram interessados em apresentar seus pontos de vista sobre a permanência e posse do território que um dia se estabeleceu a Fazenda. 
	Em “Vale dos Esquecidos” conhecemos um pouco da história de cada uma das pessoas dos grupos mencionados acima, o Cacique Damião Paridzané e o líder da juventude indígena dos Xavantes falam sobre os costumes e as lutas enfrentadas para o reconhecimento das terras que desde o princípio estavam relacionadas aos seus ancestrais; o administrador de fazenda, Dario Carneiro comenta sobre a admiração que sentia pela vida “selvagem”, a chegada e a já existente presença de índios na região, a retirada dos índios do local e dos problemas enfrentados na missão e a tentativa dos índios de fugir; o fazendeiro, John Carter, expõe sobre a problemática da corrupção na divisão de terras e na destruição da floresta, o seu descontentamento com a presença dos indígenas na região e a falta de assistência do governo para solucionar os conflitos e as queimadas. 
	Levando em consideração o que é comentado por Carneiro e Carter, os expostos reconhecem que os indígenas estavam estabelecidos lá e que antes de se tornar uma reserva existia uma floresta preservada. A fala do fazendeiro, ressalta aspectos importantes que foram argumentados por Ana Valéria Araújo quando se mostra que as reservas seriam criadas como uma maneira de solucionar problemas enormes encontrados no processo de demarcação de terras. No que diz respeito aos comentários de Carneiro, mesmo que Raduan apresente os indivíduos e suas narrativas de forma imparcial, o documentário mostra-se como uma ferramenta importante para compreender como narrativas são construídas e colocadas como verdades, percebe-se como se aliam as opiniões de determinados grupos com o objetivo de descredibilizar e deslegitimar o outro. 
Conhecendo os cenários presentes na historiografia indígena é perceptível compreender que não existiu convencimento para retirar os índios de suas terras como apontou Dario Carneiro, o que se fazia era arrancar os índios e levá-los sem consentimentos para outro lugar, em alguns casos, ludibriando-os para atingir o objetivo. Ação que iniciou semelhantemente na colônia, como coloca Oliveira, ao falar sobre os aldeamentos missionários e a retirada das famílias nativas de seus territórios para que se pudesse catequizar obter mão de obra desses indivíduos, e que persistiu até a república como pondera Araújo, ao explicar sobre a política de aldeamento do Serviço de Proteção aos Índios. 
Já com as observações feitas pelo Bispo Dom Pedro Casaldáliga é possível entender o crescimento do latifundiário na região em virtude do governo militar da época e o projeto de desenvolvimento da Amazônia, pautado em uma política de ocupação da área com a construção da Transamazônica que buscou colonizar e povoar a região, porém desconsiderou os povos indígenas que estavam estabelecidos por lá e todos os recursos naturais. De acordo com Araújo e com o que se apresenta no documentário, é possível ver como órgãos como a SPI e Funai que deveriam preservar e proteger os interesses dos indígenas estavam atrelados a políticas de invisibilização das aldeias e de autorização para retirada dos índios de suas terras; os argumentos expostos por Ana Valéria Araújo enfatizam sobre as denúncias de corrupção e de ações fraudulentas sobre os patrimônios indígenas pelo SPI e as poucas ações elaboradas para punir os culpados. 
Apoiados em um discurso de lucratividade, os fazendeiros, os grileiros e os políticos buscam arrumar culpados para suas perdas, não levando em consideração os primeiros prejudicados nesta história, os povos indígenas. Atrelados à incapacidade do governo federal de fornecer os subsídios necessários para o cumprimento dos direitos e as alianças muitas vezes estabelecidas com poderosos latifundiários, existia ainda como apontado no documentário por Dom Pedro Casaldáliga, um estímulo por parte desses indivíduos para que sem terras e posseiros invadissem a região, pois no futuro poderia ser deles as terras, entretanto, se os índios ocupassem a terra estava perdida. 
Através de um olhar argumentativo, a área que os Xavantes passaram a ocupar após decidirem voltar a sua terra natal, correspondia a uma parte da fazenda, mas que esperavam até o momento da filmagem para tomar posse da área destinada a eles. No que refere-se às circunstâncias legais sobre as terras, posseiros e fazendeiros se apoiam em documentos e escrituras para legitimar o pertencimento das terras e afirmam que seus direitos estão estabelecidos na constituição e no direito à terra, Araújo ressalta que essas disputadas acabam recaindo sobre o Judiciário tornando quase uma pendência infinita, que é o que acredita o posseiro Neto Figueiredo e o político Filemon Limoeiro. 
Vale dos Esquecidos apesar de sua narrativa aparentemente apartidária é capaz de despertar e trazer à tona as questões políticas e sociais presentes nas discussões sobre a posse de terras, apresentando as figuras centrais e suas observações sobre o assunto. De um ponto de vista particular, percebe-se uma justiça omissa e que em alguns momentos se coloca ao lado dos interesses financeiros, desconsidera e retrocede, em um contexto atual, sobre o desenvolvimento de central de uma legislação que ampare, proteja e reconheça a demarcação das terras indígenas, fazendo-se necessário que os indígenas se submetam a conflitos para recuperar ou não perder o que lhes devia ser direito. Com suas imagens e enfoques temáticos importantes, o documentário é uma ferramenta relevante tanto para se conhecer sobre a situação das terras que um dia abrigou a Fazenda Suiá-Missú, como também para se analisar os diferentes grupos que estão envolvidos na questão.

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