Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Paisagem urbana APRESENTAÇÃO Os espaços urbanos podem ser utilizados de uma maneira bem racional, promovendo a interação do homem com a natureza. Esse é um dos olhares que o Arquiteto Paisagista desenvolve, trabalhando de maneira criativa e funcional em busca dessa harmonia. O paisagista planeja muito além de “um simples jardim”, pois a paisagem contempla diversos outros elementos capazes de alterar a percepção do espaço. Áreas de lazer, caminhos, parques, praças são alguns exemplos de paisagens que podem ser planejadas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer as áreas em que um paisagista pode trabalhar e como gerar melhoria no bem-estar das pessoas moradoras dos grandes centros. Para isso, conhecerá também os componentes de paisagem em um projeto. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar a atuação do paisagista.• Analisar a importância do paisagismo para a melhoria da qualidade de vida nas grandes cidades. • Determinar os elementos que compõem a paisagem e como ela se relaciona com o paisagismo. • DESAFIO O campo de atuação do paisagista pode ser bem diversificado, junto a prefeituras, escritórios independentes ou prestando consultoria. A escala é igualmente variável, desde a paisagem em jardins residenciais, condomínios, praças, loteamentos até em parques. Os sócios-investidores de uma empresa especializada em loteamentos querem expandir seus negócios e deixá-lo mais profissional contratando novos colaboradores. Sendo os investidores provenientes das áreas de Administração e Direito, não têm conhecimento específico sobre o que é o paisagismo e a importância de contratar um paisagista ou um jardineiro, ou ambos. Você decidiu participar desse processo seletivo. Pensando nessa entrevista, descreva a importância de seu trabalho a partir das formas de atuação do paisagista e as diferenças com o trabalho de um jardineiro para essa vaga de emprego. INFOGRÁFICO A paisagem é formada por um conjunto de elementos naturais ou não. Diversos autores analisam essa paisagem em busca de um entendimento das relações dela com quem as habita. A paisagem urbana é a mais explorada e a mais complexa para descrever. Autores como Tim Waterman, Milton Santos, Gordon e Cullen têm expressivos estudos sobre a paisagem. Neste Infográfico, você conhecerá elementos da paisagem descritos por Cullen em seu livro Paisagem Urbana. CONTEÚDO DO LIVRO Desde meados do século XX até os dias atuais, as pessoas passaram a se concentrar nos centros urbanos, que, muitas vezes, cresceram de forma desordenada. Desse modo, a paisagem urbana passou a ser hostil à interação das pessoas, que buscam de qualidade de vida. O estudo da paisagem urbana, em conjunto com novas formas de pensar o espaço, mostra a importância do trabalho do paisagista. Por meio de espaços urbanos pensados, é possível promover uma maior interação entre o homem e a natureza. No capítulo Paisagem Urbana, do livro Projeto de Paisagismo II, você verá as formas de atuação do paisagista e como seu trabalho pode colaborar no melhor bem-estar das pessoas nos centros urbanos. Para isso, você identificará os elementos da paisagem que se inter-relacionam com o paisagismo. Bons estudos. PROJETO DE PAISAGISMO II Marina Otte Paisagem urbana Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar a atuação do paisagista. Analisar qual a importância do paisagismo para a melhoria da quali- dade de vida nas grandes cidades. Determinar os elementos que compõem a paisagem e como ela se relaciona com o paisagismo. Introdução Os espaços com vegetações ajudam de diversas formas a promover a qua- lidade de vida das pessoas, principalmente em locais muito adensados. As áreas verdes se tornam verdadeiros respiros em meio ao concreto. Desse modo, o paisagismo assume importância ímpar nos espaços urbanos, que estão cada vez mais escassos de áreas verdes. Neste capítulo, você conhecerá as diferentes formas de desempenhar o trabalho de um paisagista. Além disso, identificará formas de como inserir vegetação em um projeto de paisagismo urbano. O paisagista e sua área de atuação O campo de atuação do paisagista é bastante amplo e, muitas vezes, não identifi cado pela maioria das pessoas. O projeto de paisagismo envolve diversas áreas e precisa da integração entre elas, como agronomia, geografi a, arquitetura e urbanismo. Para entender um pouco do papel de cada profissional, toma-se como base algumas das atribuições dessas profissões. O geógrafo tem, entre algumas de suas atribuições, funções ligadas diretamente à paisagem, conforme o decreto nº. 85.138: [...] I - reconhecimentos, levantamentos, estudos e pesquisas de caráter físico- -geográfico, biogeográfico, antropogeográfico e geoeconômico e as realizadas nos campos gerais e especiais da Geografia, que se fizerem necessárias: [...] - na caracterização ecológica e etológica da paisagem geográfica e problemas conexos; [...] - no estudo e planejamento das bases física e geoeconômica dos núcleos urbanos e rurais (BRASIL, 1980, documento on-line). O engenheiro agrônomo também pode contribuir em estudos paisagísticos, pois, dentre suas atribuições, de acordo a resolução nº. 1.048, de 14 de agosto de 2013, estão caracterizadas: [...] realizações de interesse social e humano que importem na realização dos seguintes empreendimentos: [...] - Aproveitamento e utilização de recursos naturais - Meios de locomoção e comunicações - Edificações, serviços e equipamentos urbanos, rurais e regionais, nos seus aspectos técnicos e artísticos (CONFEA, 2013, documento on-line). Já os profissionais de arquitetura e urbanismo têm, em suas atribuições, um item específico para o paisagismo, e outras atribuições complementam o estudo da paisagem urbana. Esse item consta no documento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e fala do seguinte campo de atuação: Arquitetura Paisagística, concepção e execução de projetos para espaços externos, livres e abertos, privados ou públicos, como parques e praças, considerados isoladamente ou em sistemas, dentro de várias escalas, inclusive a territorial (CAU, 2015, documento on-line). Para conferir todas as atribuições do engenheiro agrônomo e do geógrafo, acesso o site do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/kCJuy Para conferir as atribuições completas do arquiteto e urbanista, acesse o site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/WkVzM Paisagem urbana2 Segundo Santos (1988, p. 21), “[...] tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.”. Ainda segundo o autor, é possível considerar que todas as paisagens são heterogêneas, um misto de paisagem natural com paisagem artificial. Em teoria, somente a paisagem artificial tem a intervenção do homem, porém atualmente a paisagem natural também é modificada pela ação humana, de modo que as paisagens dos centros urbanos possuem tanto elementos naturais como artificias. O paisagista atua na paisagem, portanto deve ter tanto conhecimentos técnicos como conhecimentos estéticos e cognitivos. Por isso, além dos cursos citados, existe ainda uma afinidade com outros conhecimentos, como as artes plásticas, uma vez que a paisagem também é criada por desenho, por meio do entendimento dos períodos históricos, de proporções, escalas, composições visuais, entre outros (Figura 1). Lembre-se de que as paisagens passaram anos sendo retratadas por artistas plásticos. Figura 1. (a) Jardins de Giverny, na França, retratados pelo artista Monet em sua pintura. (b) Fotografia do mesmo local. Fonte: a) Everett– Art/Shutterstock.com; b) Eric Valenne geostory/Shutterstock.com. O paisagista tem como principais atividades (MATTER, 2002): analisar a área a ser trabalhada; analisar as necessidades da área, levando em consideração sua fun- cionalidade, a topografia do local e a preservação do meio ambiente; 3Paisagem urbana elaborar o projeto paisagístico, envolvendo, se necessário, profissionais de outras áreas; submeter o projeto à aprovação do contratante, patrocinador ou do órgão governamental responsável; após a aprovação, contratar todos os profissionais necessários; comprar os materiais (p. ex., plantas, sementes) que serão utilizados; coordenar o andamento do projeto; realizar mudanças, se necessário; entregar e apresentar seu trabalho pronto. Waterman (2011, p. 164) pontua uma série de características pertinentes à atuação do paisagista e que podem variar: Muitos paisagistas trabalham dentro de uma mesma semana como gerente de obra, gerente de projeto, projetista, planejador urbano e urbanista, entre muitas outras possibilidades. Isso pode proporcionar uma vida profissional incrivelmente rica, variada e interessante. O autor pontua, ainda, que o paisagista pode desenvolver os seguintes elementos: O projeto e a visão: o paisagista consegue ter em mente todo o projeto, ou seja, a visão de como ele ficará antes de sua execução, uma visão macro do todo. O planejamento da paisagem: reunião de conhecimentos de diversas áreas em uma visão mais holística, entendendo que, independentemente do tamanho do projeto, pequeno ou grande, existem diversas camadas a serem analisadas e consideradas, as quais devem ser equilibradas. Gestão e conservação: atividade multidisciplinar, geralmente ligada à manutenção de parques, reservas naturais, áreas industriais, entre outros, que visa a garantir que o projeto amadureça conforme as diretrizes traçadas previamente. Conservação histórica: inclui a conservação da grande variedade de paisagens culturais estabelecidas pela UNESCO, como, por exemplo, a cidade de Machu Picchu, no Peru, o que exige uma interdisciplinaridade com profissionais como arqueólogos e historiadores. Ciência do paisagismo: intimamente ligada à ciência ambiental, pode ser uma formação complementar, trabalhando com levantamentos eco- Paisagem urbana4 lógicos, estudos da vida selvagem, estudos da vegetação, conservação, despoluição (fitorremediação), recuperação de ecossistemas, entre outros. Cidades grandes e pequenas: grande parte do trabalho do paisagista se insere neste item, abrangendo a paisagem no contexto urbano, como praças públicas, loteamentos, ruas e parques. Jardins e parques: historicamente, os jardins e parques constituem a principal área de atuação do paisagista, envolvendo conhecimento de vegetações, solo, geologia, água, clima e topografia, em conjunto com conhecimentos de projeto, como forma, textura e cor (WATERMAN, 2011). Vele ressaltar que o trabalho do paisagista pode ser realizado tanto em ambientes internos como em espaços abertos, podendo ser contratado pelo setor público ou privado. É importante elucidar que o trabalho de paisagismo é diferente da jardinagem, que se destina ao cultivo, à execução ou à manutenção dos jardins. Para saber mais sobre a paisagem cultural, acesse o site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/a2aDF Paisagismo e a qualidade de vida nas grandes cidades Grande parte dos grandes centros urbanos cresceram de forma desordenada e sem planejamento, o que culminou em cidades desconectadas da natureza e sem vazios urbanos. Em cidades como o Rio de Janeiro, há variações de temperatura de até 10°C numa distância de 2,5 km, causadas principalmente pelo aumento das emissões de gás carbônico na atmosfera que retém o calor, pela redução da área arborizada, da drenagem de regiões e dos corredores de edifícios (LEITE, 2012, p. 137). 5Paisagem urbana Por outro lado, existe uma tendência de transformar grandes centros, pouco a pouco, em cidades mais verdes. Por exemplo, cidades cosmopolitas, como Nova Iorque, nos Estados Unidos, valorizam novos projetos que busquem qualidade de vida por meio das áreas verdes. Em Nova Iorque, projetos recentes que se destacam nesse contexto são: High Line, projeto da equipe formada pelos escritórios James Corner Field Operations (paisagismo) e Diller Scofidio + Renfro (arquitetura); a proposta de renovação da orla de Midtown, um projeto do escritório multidisciplinar wHY; e a proposta de The BIG U, do escritório BIG. Para conhecer os detalhes do projeto da orla de Midtown, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/y38qb Para saber mais sobre o projeto The BIG U, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/DAE9e Esses projetos visam a resgatar o contato do homem com a natureza, em busca do bem-estar urbano, além de serem tentativas de mitigar o impacto das ações humanas. Os impactos negativos dessas ações afetam o próprio homem, afinal, este também faz parte da natureza, e preservá-la é preservar sua própria existência. O processo de resgate em busca da qualidade de vida visa à existência harmônica entre o homem, a sociedade à qual ele pertence e o espaço. “O espaço é igual à paisagem mais a vida nela existente; é a sociedade encaixada na paisagem, a vida que palpita conjuntamente com a materialidade” (SANTOS, 1988, p. 26). O paisagismo se encaixa nesse contexto, visto que a base dessa atividade é tornar os espaços harmônicos, unindo características técnicas e estéticas, conectando o homem ao local que ele habita. Existe uma necessidade de espaços livres e verdes nos centros urbanos aden- sados, porém estes devem ser bem planejados para serem eficientes. Espaços verdes, em sua grande maioria públicos, são a base para cidades com qualidade de vida. “Os espaços públicos verdes onde as pessoas se encontram, brincam e relaxam são essenciais não apenas para a saúde e bem-estar humano, mas também servem como importantes habitats para animais selvagens, incluindo as aves migratórias” (WATERMAN, 2011, p. 178). Assim, esses espaços são Paisagem urbana6 capazes de impactar positivamente no cotidiano das pessoas que vivem em comunidade. As comunidades precisam do espaço público, pois é nele que ocorrerá a interação entre todos. “Como as comunidades interagem em público, o acesso físico é extremamente importante” (WATERMAN, 2011, p. 111). Até mesmo a sensação de estar envolto pela natureza é possível com um bom projeto de paisagismo, afinal, ele trabalha com o piso, a parede e o teto. Existem vários recursos que o paisagista pode utilizar para criar a percepção dos elementos do espaço, como tamanhos diversificados de plantas, equipamentos adjacentes e recursos visuais. Este é um exemplo de como o paisagismo vai além da escolha de elementos técnicos, uma vez que trabalha com a percepção das pessoas. Conforme Santos (1988, p. 22): A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos senti- dos. Por isso, o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda nossa educação, formal ou informal, é feita de forma seletiva, as pessoas diferentes apresentam diversas versões do mesmo fato. Dessa forma, a qualidade da paisagem vem de dois fatores: das sensações que ela provoca e do que é mais tangível, os efeitos diretos das técnicas aplicadas. Ou seja, um parque gera um impacto positivo no bem-estar das pessoas devido à percepção de espaço que ele proporciona. No entanto, ele também é importante pelos benefícios que ele pode gerar, como ajudar na limpeza do ar e da água e amenizar as temperaturas urbanas no calor do verão (WATERMAN, 2011). Existem várias formas de melhorar a qualidade de vida pelos aspectos técnicos de conforto ambiental. Por exemplo: Em climas onde grande parte das atividades diárias é conduzida em áreas externas, é comum que as edificaçõesassumam o formato de uma série de pavilhões distribuídos em um parque e conectados por passarelas cobertas. Em terrenos mais exíguos e sempre que a segurança for importante, as conexões entre as edificações podem ser canais de ventilação semifechados com brises nas paredes ou outra forma de treliça protetora (BUXTON, 2017, p. 744). Um exemplo icônico de projeto de paisagem que une os aspectos cognitivos e técnicos é o Metropol Parasol, em Sevilha, na Espanha (Figura 2). Além disso, é um projeto onde reina a harmonia entre as intervenções humanas e os elementos construídos artificialmente, com os elementos da natureza. Essa mistura harmônica de elementos também gera qualidade de vida, pois supre várias necessidades dos espaços da paisagem urbana. 7Paisagem urbana Figura 2. O Metropol Parasol, em Sevilha, na Espanha, traz qualidade de vida por meio das sombras e do microclima em meio à paisagem urbana. Elementos da paisagem Para entender a paisagem urbana, um termo pode ajudar a rapidamente dife- renciar o “urbano” do “selvagem”: ambiente construído. Mesmo que possa ser utilizado na paisagem rural, desde os campos agrícolas até a infraestrutura de transporte, na maioria das vezes, esse termo é utilizado para metrópoles, cidades pequenas e vilas, locais onde a paisagem é determinada pela fusão de múltiplas infl uências (WATERMAN, 2011). Por isso, os elementos urbanos podem ser descritos e interpretados com sutis diferenças conforme o olhar do autor. Existe quem os descreva de forma bem minuciosa, outros falam em termos gerais, quais são os elementos, o que não é um problema, e sim uma virtude, pois os projetos paisagísticos também possuem escalas variadas e intenções diversas. Em geral, a paisagem é composta por dois elementos: elementos naturais e elementos humanos. Os elementos naturais configuram a paisagem natural, aquela que não sofreu modificações do homem, como rios, lagos, montanhas, vegetação, clima e relevo (Figura 3a). Já a paisagem humanizada é aquela onde os elementos foram criados ou modificados pela ação humana, como pontes, estradas e edificações (Figura 3b) (SANTOS, 1988). Paisagem urbana8 Figura 3. (a) Paisagem natural (floresta de sequoias na Califórnia, nos Estados Unidos). (b) Paisagem humanizada (árvores artificiais, em Singapura). Fonte: a) Roman Khomlyak/Shutterstock.com.; b) Cabrera (2017, documento on-line). Lamas (2014) descreve 11 elementos construídos pelo homem, listados a seguir: O solo: incluindo os revestimentos (por isso tem a ação humana). Os edifícios: que configuram visualmente os cheios e vazios. O lote: a porção cadastral do município onde estão inseridos os edifícios. O quarteirão: formado pelo conjunto de lotes que influenciam o traçado das vias. A fachada: determina a linguagem arquitetônica do lugar. O logradouro: o espaço do lote não construído. O traçado, a rua: intimamente relacionados ao desenho dos quarteirões e lotes, propiciam o deslocar das pessoas. A praça: espaços abertos utilizados para o encontro das pessoas, são respiros nos centros urbanos. O monumento: são marcos na cidade, geralmente com valor histórico e cultural, os quais viram ponto de referência. A árvore e a vegetação: é o recurso básico que o paisagista utiliza em seus projetos. As árvores humanizam o espaço, geram sombras, demarcam áreas, são o meio visual e tátil de contato do homem com a natureza. O mobiliário urbano: os mobiliários qualificam a cidade, são conside- rados elementos móveis, ao contrário das edificações. Vale ressaltar a importância do mobiliário urbano, visto que ele humaniza o espaço e, muitas vezes, supre necessidades. São exemplos de mobiliário ur- bano: bebedouros, placas informativas, bancos, brinquedos, telefones, 9Paisagem urbana bicicletários, pontos de recarga elétrica, pergolados de sombreamento, iluminação, banheiros, pontos de ônibus, lixeiras, entre outros. A água é um elemento muito presente na paisagem urbana, visto que tem função vital para o ser humano, bem como visual. É utilizada desde a antiguidade e pode ser observada na paisagem urbana em espelhos d’água, fontes, chafarizes, bem como em brinquedos interativos. Cullen (1971) descreve uma série de elementos urbanísticos que vão apa- recendo em sequência, visto que não enxergamos o todo da paisagem, que é revelada em partes. Destes elementos, destacam-se os relacionados a seguir. Ponto focal: de forte atração visual, marca o local, um elemento vertical de convergência. Delimitação do espaço: existem diversos meios de delimitar um espaço, desde um arame ou um muro até a configuração de árvores. Desníveis: relacionados com a posição que ocupamos no espaço, se in- feriores, podem ser intimidadores ou claustrofóbicos; se superiores, podem estar ligados à sensação de euforia ou domínio. Perspectiva grandiosa: sensação daqui e do além, de grandiosidade. Ligação entre o primeiro plano e a paisagem. Estreitamentos: são caracterizados pela aproximação de elementos, gerando uma espécie de pressão; não impedem a passagem, mas geram sensação de recinto. Caminhos para peões: todos os elementos que possibilitam e permitam o deslocar das pessoas. São redes de caminhos que trazem a dimensão humana, como pontes, degraus, pisos, pavimentos. Edifício como escultura: às vezes as construções assumem novos sig- nificados, como uma forma de arte, quando o edifício possui um desenho diferenciado do contexto ao qual está inserido. Contrastes: a paisagem urbana é cheia de contrastes, necessários em toda estrutura espacial. É a tensão entre os opostos, entre isto e aquilo, entre novo e velho, entre texturas, entre grande e pequeno, etc. O autor Gordon Cullen trabalha com a descrição de mais de 80 elementos da paisagem urbana. Para conhecer todos os elementos, consulte o livro Paisagem Urbana, um clássico de 1971 sobre o assunto. Paisagem urbana10 Os elementos de Cullen são uma mistura de aspectos sensoriais, e todos eles podem ser conseguidos na paisagem e devem ser observados pelo paisagista. Observar o que o entorno traz de sensação e que sensação o paisagista quer para sua proposta é indissociável do projeto. Waterman (2011, p. 81) ressalta que, na paisagem urbana, “[...] elementos sociais, culturais, econômicos e históricos são expressos em uma linguagem espacial que se baseia na topografia, na vegetação, nos materiais disponíveis e no clima do local”, e destaca que os arquitetos paisagistas devem se basear nisso para tomar as decisões de projeto. Esses elementos, em sua maioria, já estão configurados nos centros urbanos e são primeiro analisados pelo paisagista para, depois, desenvolver o projeto de paisagismo. Todavia, existe a possibilidade de um projeto começar “do zero”, em que, diante do pensamento contemporâneo de sustentabilidade, a paisagem urbana será gerada como um todo, de modo que os espaços verdes não serão residuais. Um exemplo é a cidade de Masdar, em Abu Dhabi, 100% planejada para ser sustentável (Figura 4). Figura 4. Maquete da cidade de Masdar, em que os elementos da paisagem foram pensados em conjunto. Fonte: Adaptada de Mammoser (2016). Independentemente de ser um projeto de uma cidade planejada ou de uma cidade já consolidada, os elementos devem ser contextualizados pela visão que o observador terá da paisagem. Segundo Waterman (2011, p. 92): [...] os arquitetos paisagistas sabem que há muito mais em jogo, que envolve todos os sentidos e é composto por uma grande diversidade de elementos, tanto vistos como ocultos. Ainda assim, a visão é o principal sentido utilizado para descobrir nosso 11Paisagem urbana ambiente e julgá-lo; a vista da paisagem, portanto, é de importância fundamental para o arquiteto. A vista da paisagem é mais do que um simples quadro bonito. As vistas na paisagem são dinâmicas, instáveis, e ajudam a nos orientar e nos informar sobre o tipo de espaço em que vivemos e de que forma ele será usado. Quando o paisagista realizaum projeto, ele deve avaliar a interação dos elementos da paisagem com seu desenho. “Seu planejamento pode ser um desafio e tanto, já que qualquer mudança pode ser vista como comprometedora do bem-estar já adquirido. Ainda assim, todo o lugar precisa mudar com o tempo, como mudam os padrões e estilos de vida” (WATERMAN, 2011, p. 178). O projeto paisagístico pode ser tanto uma continuidade do entorno e dos elementos da paisagem como um respiro contrastante. Seja qual for o conceito do projeto, ele deve buscar a qualidade dos centros urbanos e garantir uma melhor qualidade de vida aos habitantes de uma cidade. BRASIL. Decreto n. 85.138, de 15 de setembro de 1980. Regulamenta a Lei nº 6.664, de 26 de junho de 1979, que disciplina a profissão de Geógrafo, e dá outras pro- vidências. Brasília, DF, 1980. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/1980-1989/1980-1984/D85138.htm. Acesso em: 25 out. 2019. BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5. ed. Bookman: Porto Alegre, 2017. CABRERA, M. Close encounters with singapore’s giant supertrees. In: ECOPHILES. [S. l.: s. n.], 2017. Disponível em: https://ecophiles.com/2017/07/31/singapore-travel-supertree- -grove/. Acesso em: 25 out. 2019. CAU. Atividades e atribuições profissionais do arquiteto e urbanista. Brasília: CAU. 2015. Disponível em: http://www.caubr.gov.br/wp-content/uploads/2015/07/Atribuicoes_ CAUBR_06_2015_WEB.pdf . Acesso em: 25 out. 2019. CONFEA. Resolução n. 1.048, de 14 de agosto de 2013. Consolida as áreas de atuação, as atribuições e as atividades profissionais relacionadas nas leis, nos decretos-lei e nos decretos que regulamentam as profissões de nível superior abrangidas pelo Sistema Confea/Crea. Brasília, DF, 2013. Disponível em: http://normativos.confea.org.br/ementas/ visualiza.asp?idEmenta=52470. Acesso em: 25 out. 2019. CULLEN, G. Paisagem urbana. Lisboa: Edições 70, 1971. LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014. Paisagem urbana12 LEITE, C. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentáveis num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012. LORENZI, L.; LORENZI, G. Praça Tiradentes em Ouro Preto. In: DICAS do nosso Brasil. [S. l.: s. n.], 2018. Disponível em: https://dicasdonossobrasil.com.br/ouro-preto/praca- -tiradentes-em-ouro-preto/. Acesso em: 27 out. 2019. MAMMOSER, A. New eco-city combines ancient practice and modern technology. In: PUBLIC Square. [S. l.: s. n.], 2016. Disponível em: https://www.cnu.org/publicsquare/new- -eco-city-combines-ancient-practice-and-modern-technology. Acesso em: 27 out. 2019. MATTER, G. Paisagismo. [S. l.: s. n.], 2002. Disponível em: http://www.paisagismobrasil. com.br/index.php?system=news&news_id=1122&action=read. Acesso em: 25 out. 2019. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado, fundamento teórico e metodológico da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988. WATERMAN, T. Fundamentos de paisagismo. Porto Alegre: Bookman, 2011. Leituras recomendadas BUCKLEY, S. Nova Iorque apresenta proposta de renovação da orla de Midtown. In: AR- CHDAILY Brasil. [S. l.: s. n.], 2017. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/882142/ nova-iorque-apresenta-proposta-de-renovacao-da-orla-de-midtown. Acesso em: 25 out. 2019. CAUBR. Brasília: CAUBR, 2019. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/deta- lhes/899/. Acesso em: 25 out. 2019. CONFEA. Brasília: Confea, 2019. Disponível em: http://www.confea.org.br/. Acesso em: 25 out. 2019. PAISAGEM cultural. In: IPHAN. Brasília: [s. n.], 2014. Disponível em: https://www.caubr. gov.br/. Acesso em: 25 out. 2019. QUIRK, V. The BIG U: a proposta do BIG para proteger Nova Iorque de inundações. In: ARCHDAILY Brasil. [S. l.: s. n.], 2014. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01- 187730/the-big-u-a-proposta-do-big-para-proteger-nova-iorque-de-inundacoes?ad_ source=search&ad_medium=search_result_all. Acesso em: 25 out. 2019. 13Paisagem urbana DICA DO PROFESSOR Ter afinidade ou não com um espaço pode estar relacionado à forma como o usuário entende ou vê esse local. Existem vários pontos de vista para uma mesma paisagem. Dependendo do seu posicionamento, o observador poderá ter percepções variadas sobre o mesmo lugar. Por isso, pensar em locais estratégicos para entender a paisagem ao seu redor pode garantir ao paisagista o sucesso de seu projeto. Veja, nesta Dica do Professor, como trabalhar a paisagem a partir do ponto de vista utilizado pelas técnicas de fotografia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS A Paisagem Urbana é formada por diversos elementos, que devem ser avaliados tanto para o entendimento do contexto e de como as pessoas leem o espaço em que vivem, como para ser o ponto de partida para novos projetos paisagísticos. Nesta imagem da cidade histórica de Ouro Preto, em Minas Gerais, existe um elemento importante da paisagem urbana, segundo a classificação de Gordon Cullen (1971). Qual é? 1) A) Enclave. B) Perspectiva grandiosa. C) Edifício como escultura. D) Ponto focal. E) Estreitamento. A percepção da paisagem urbana se dá em etapas. Conforme o observador se desloca nos centros urbanos, tem novas sensações na mesma cidade. Esse processo de percepção é chamado de visão serial. Observe a imagem e perceba a existência de “desníveis”. Esse elemento da paisagem gera qual sensação? 2) A) Sensação de espaço que recua conforme o caminhar. B) Sensação de diferentes emoções conforme a posição do observador. C) Sensação de aqui e do além. D) Sensação de pressão entre os elementos da imagem. E) Sensação de desvio obrigatório a um eixo. O paisagista deve ter conhecimento estético e técnico. Dentro das questões técnicas, é possível e necessário saber diferenciar os tipos de paisagem. Observe a imagem abaixo e responda como ela pode ser classificada: 3) A) Paisagem Urbana. B) Paisagem Humanizada. C) Paisagem Natural. D) Patrimônio Cultural. E) Patrimônio da Humanidade. 4) O paisagismo é um trabalho multidisciplinar, no qual são bem-vindos conhecimentos nas áreas de Geografia, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Ambiental, Jardinagem, entre outras. Por uma gama de conhecimentos tão diversificados, a atuação do paisagista também é variada. Uma das atuações do paisagismo pode ser no Planejamento da paisagem, que se caracteriza em: A) Conservar parques e garantir o desenvolvimento da área de acordo com o previsto no projeto. B) Administrar as etapas de execução de um projeto paisagístico. C) Ter uma visão das diversas camadas que compõem uma paisagem com conhecimento de diversas áreas. D) Planejar as etapas a serem desenvolvidas desde o início do projeto até sua finalização. E) Atividade multidisciplinar ligada à manutenção de reservas naturais. 5) O paisagismo vai muito além de apenas “projetar espaços verdes”. Os projetos paisagísticos envolvem recursos vegetais, construídos, mobiliário urbano, esculturas, equipamentos. Essa mistura aliada a quesitos técnicos e estéticos busca uma harmonia e seu resultado é qualidade de vida. Existem várias formas de melhorar a qualidade de vida a partir de quesitos técnicos. Para um país tropical, como o Brasil, seriam eles: A) Uso de sombras a partir exclusivamente de árvores, pois são elementos naturais. B) Uso de sombras a partir de estruturas construídas e naturais. C) Uso de requisitos como contrastes, por ser um elemento da paisagem urbana. D) Uso do recurso modernista utilizado no Brasil, especialmente em Brasília, chamado “praça seca”. E) Uso da percepção, o que chega aos sentidos, para que o observador entenda o uso do espaço. NA PRÁTICA O trabalho do paisagista vai muito além de apenas pensar espaços verdes, pois existem muitos outros fatores a serem analisados. Somado a isso, a paisagem é composta por diversos elementos que não somente “vegetação”. Esses elementos podem ser naturais, construídos,alguns existentes, outros propostos. Uma paisagem pré-existente pode trazer um vínculo com a história do local, mesmo que não tenha mais interesse visual. Acompanhe, Na prática, o caso High Line, em Nova Iorque, um espaço que fazia parte da história local, mas não tinha mais uso nem apelo visual. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Paisagem Rural Neste vídeo, você entenderá os três elementos que compõem a Paisagem Rural. A definição vem da Geografia, uma das áreas intimamente ligadas com o Paisagismo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Biografia de Claude Monet Neste link, você conhecerá um pouco mais sobre esse pintor impressionista que retratava de forma única as paisagens. Lembre da íntima relação entre paisagismo e as artes plásticas, com suas cores, proporções e composições. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar