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Autores: Profa. Cintia Milani Prof. Marcio F. M. Alves Colaboradores: Prof. Flávio Buratti Gonçalves Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Biofísica Aplicada às Ciências Biomédicas Professores conteudistas: Cintia Milani / Marcio F. M. Alves Cintia Milani Possui graduação em Biomedicina pela Universidade de Mogi das Cruzes – UMC (2002) nas áreas de Análises Clínicas e Imagenologia, especialização em Biologia Molecular em Câncer, mestrado (2006) e doutorado (2010) em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2014 como parceira no “Projeto de Extensão Comunitária – Programa Assistencial Rainha da Paz”. Desde 2011 é docente da UNIP, ministrando a disciplina de Biofísica no curso de graduação em Biomedicina. Em 2013, iniciou na função de coordenador auxiliar do Curso de Biomedicina no campus Alphaville da UNIP. Além disso, é pesquisadora na área de Genética e Biologia Molecular no Laboratório de Genética em Santana de Parnaíba. Tem experiência na área de Biologia Celular, Molecular, Biotecnologia e Imagenologia, atuando principalmente nos seguintes temas: metilação do DNA, análise do genoma, transcriptoma, proteoma, cultura de celular, radiações ionizantes e não ionizantes. Marcio F. M. Alves Possui graduação em Biomedicina pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp (1998), mestrado em Ciências da Saúde (Biologia Molecular) no departamento de Biofísica pela Unifesp (2001) e doutorado em Ciências da Saúde (Biologia Molecular), no departamento de Biofísica, pela Unifesp (2005). PhD em Biologia Molecular pela Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, Canadá (2007). É professor titular da Universidade Paulista (UNIP) desde 2009, nas disciplinas de Biofísica e Biologia Molecular, e Coordenador Auxiliar do Curso de Biomedicina da UNIP no Campus Marquês. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M637b Milani, Cintia. Biofísica Aplicada às Ciências Biomédicas / Cintia Milani, Márcio F. M. Alves. 2. ed. São Paulo: Editora Sol, 2020. 124 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Noções de física experimental. 2. Transporte entre 3. membranas. 3. Radioatividade. I. Alves, Márcio F. M. I. Título. CDU 53 U501.68 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Ingrid Lourenço Giovanna Oliveira Lucas Ricardi Sumário Biofísica Aplicada às Ciências Biomédicas APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 GRANDEZAS FUNDAMENTAIS E DERIVADAS ..........................................................................................9 1.1 Unidades, prefixos utilizados no Sistema Internacional e conversão de unidades .......................................................................................................................... 15 2 ENERGIA E O CORPO HUMANO ................................................................................................................ 16 3 NOÇÕES DE FÍSICA EXPERIMENTAL – A TEORIA DE CAMPO ......................................................... 20 3.1 Conceito de trabalho passivo e ativo ........................................................................................... 22 4 MOVIMENTOS E PROPRIEDADES DOS FLUIDOS .................................................................................. 23 4.1 Pressão hidrostática ............................................................................................................................ 23 4.2 O Sistema Circulatório ....................................................................................................................... 24 4.3 Medida da pressão arterial ............................................................................................................... 29 Unidade II 5 TRANSPORTE ENTRE MEMBRANAS BIOLÓGICAS: DIFUSÃO, OSMOSE, TRANSPORTE ATIVO ......................................................................................................................................... 36 5.1 Membrana celular: a grande barreira........................................................................................... 36 5.2 Difusão ...................................................................................................................................................... 37 5.2.1 Fatores que interferem na difusão .................................................................................................. 40 5.3 Difusão através da membrana celular ......................................................................................... 40 5.3.1 Difusão simples ........................................................................................................................................ 40 5.3.2 Difusão através da dupla camada de fosfolipídios ................................................................... 41 5.3.3 Difusão da água e de outras moléculas pelos canais .............................................................. 41 5.3.4 Difusão facilitada .................................................................................................................................... 41 5.3.5 Osmose ........................................................................................................................................................ 43 5.3.6 Pressão osmótica .................................................................................................................................... 43 5.3.7 Isotonicidade, hipertonicidade e hipotonicidade das soluções ........................................... 44 5.4 Transporte ativo através das membranas ................................................................................... 45 5.4.1 Bomba de sódio-potássio .................................................................................................................... 45 5.5 Fenômenos elétricos nas células .................................................................................................... 46 5.5.1 Bioeletrogênese ....................................................................................................................................... 46 5.5.2 Impulso nervoso: a linguagem do cérebro ................................................................................... 48 5.5.3 Potenciais de membrana...................................................................................................................... 52 5.5.4 Potencial de ação e impulso nervoso .............................................................................................53 5.6 O impulso nervoso e a contração muscular .............................................................................. 55 5.6.1 A junção neuromuscular – a placa motora .................................................................................. 55 5.6.2 O efeito da acetilcolina ........................................................................................................................ 56 5.6.3 A paralisia causada por miastenia grave ....................................................................................... 57 5.6.4 Potencial de ação muscular ................................................................................................................ 57 5.7 Eletrocardiograma .............................................................................................................................. 58 5.7.1 Interpretação do eletrocardiograma normal ............................................................................... 58 5.7.2 Derivações eletrocardiográficas ........................................................................................................ 60 5.7.3 Interpretações eletrocardiográficas de anormalidades ........................................................... 61 5.7.4 Fibrilação ventricular ............................................................................................................................. 63 5.7.5 Desfibrilação dos ventrículos por eletrochoque......................................................................... 63 5.8 Receptores sensoriais.......................................................................................................................... 64 5.8.1 Excitação dos receptores sensoriais ................................................................................................ 65 5.8.2 Adaptação dos receptores ................................................................................................................... 66 6 BIOFÍSICA DA VISÃO E DA AUDIÇÃO ....................................................................................................... 67 6.1 O olho como uma câmera fotográfica ........................................................................................ 67 6.1.1 Estrutura geral do olho ........................................................................................................................ 68 6.2 O sistema de lentes do olho ............................................................................................................. 69 6.2.1 Distância focal de uma lente ............................................................................................................. 69 6.2.2 Dioptria ....................................................................................................................................................... 70 6.2.3 Mecanismo de acomodação ............................................................................................................... 70 6.2.4 Presbiopia: “vista cansada” ................................................................................................................. 71 6.2.5 Diâmetro pupilar ..................................................................................................................................... 71 6.2.6 Erros de refração ..................................................................................................................................... 72 6.2.7 A função da retina .................................................................................................................................. 75 6.3 Biofísica da audição ............................................................................................................................ 78 6.3.1 O ouvido humano ................................................................................................................................... 78 Unidade III 7 MÉTODOS BIOFÍSICOS DE ESTUDO: CONSTRUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE GRÁFICOS ........ 85 8 RADIOATIVIDADE ............................................................................................................................................. 91 8.1 Radioatividade natural e artificial; radiações ionizantes e excitantes ........................... 93 8.2 Interação das emissões com a matéria e com os seres vivos ............................................. 98 8.3 Aplicações das radiações em Medicina ....................................................................................101 8.4 Radioproteção .....................................................................................................................................104 7 APRESENTAÇÃO Historicamente, a Biofísica emergiu entre os séculos XVIII e XIX como parte do estudo da fisiologia animal. Atualmente, o termo Biofísica é atribuído a Karl Pearson (1892), o qual vislumbrava a importância deste ramo da ciência na conexão dos eventos de natureza física e biológica da época. De fato, a popularidade da Biofísica cresceu na primeira metade do século XX, com o avanço da fisiologia muscular e neurológica e do estudo das formas e dos mecanismos da morfogênese. Nesta disciplina, o aluno aprenderá sobre a aplicação da Biofísica e de conceitos indispensáveis para o seu desenvolvimento didático como base educacional e de princípios que serão indispensáveis para a sua formação profissional. O aluno deverá conhecer como a Biofísica interfere em fenômenos biológicos como transporte de membranas, transmissão sináptica, contração muscular, entre outros. Além disso, o discente será capaz de compreender os conceitos básicos da biofísica aplicada em aparelhos de diagnóstico por imagem que utilizam radiações ionizantes e não ionizantes, além de noções de radioproteção. A partir desse momento, a Biofísica faz sua transição da macroescala para a nanoescala, culminando com o estudo molecular e a explicação de diversos fenômenos biológicos. Atualmente, essa ciência realiza abordagens multiescala, caminhando um passo adiante na tentativa de traduzir e modelar a relação entre as conformações genéticas, comportamento animal e evolução, o que vai ao encontro da formação profissional e dos objetivos do curso de graduação. INTRODUÇÃO Desde o início, o homem primitivo busca compreender o ambiente em que vive e como o seu corpo funciona. Essas perguntas levaram a um grande desenvolvimento do senso de observação e da metodologia científica. Dentro desse contexto surgiu a Biofísica, em meio à época da iluminação, e trouxe a conexão entre os acontecimentos de natureza física e biológica. Este livro-texto aborda as grandezas fundamentais e derivadas sem as quais seríamos incapazes de descrever qualitativa e quantitativamente a natureza que nos cerca e nos forma. Ele nos traz à luz do conhecimento sobre fenômenos como o transporte pela membrana, que explicam o movimento da água no sistema biológico, dos gases que respiramos e até a polaridade da membrana das células. Pense na contração e nos movimentos musculares. Como o nosso cérebro consegue perceber o ambiente ao nosso redor? A Biofísica do sistema sensorial explica: a Biofísica da circulação mostra o jogo de equilíbrio a que o sangue é submetido para distribuir-se pelo corpo, influenciado pela gravidade do planeta Terra. E os fenômenos radioativos? Uma pessoa desavisada pode pensar que a radiação é algo negativo. Não! A radioatividade natural e artificial, se bem utilizada, é muito produtiva: ela está na conservação de alimentos, no diagnóstico por imagem, na radioterapia e até nas portas giratórias de bancos. A partir deste momento, um mundo novo se descortina para elucidar fenômenos do incrível corpo humano. 9 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Unidade I 1 GRANDEZAS FUNDAMENTAIS E DERIVADAS Quem nunca se questionou sobre qual é a composição do Universo? Ou ainda, do que são feitos os seres vivos? O Universo é composto fundamentalmente de Matéria (M),Energia (E), Espaço (L) e Tempo (T). Esses componentes são também denominados Grandezas Fundamentais. Podemos até repetir uma frase muito importante publicada por Ibrahim Felippe Heneine (2010): “os seres vivos são formados por Matéria, consomem e geram Energia; ocupam Espaço próprio e vivem na dimensão do Tempo”. Quando contemplamos a matéria, estamos nos referindo aos objetos, planetas, alimentos, ao corpo dos seres vivos. Toda essa matéria é formada, em sua menor unidade, pelos átomos. Quadro 1 – Grandezas fundamentais Grandeza Unidade Símbolo Comprimento metro m Massa quilograma kg Tempo segundo s Corrente elétrica ampère A Temperatura termodinâmica kelvin K Intensidade luminosa candela cd Quantidade de substância mole mol Fonte: Durán (2011, p. 2). Os átomos são a unidade fundamental da matéria e podem ser subdivididos em minúsculas partículas: os prótons, os nêutrons e os elétrons. Os prótons (carga positiva) e os nêutrons (carga neutra) estão localizados no interior do núcleo, o qual concentra a maior parte da massa do átomo. Os elétrons (ē, carga negativa) circundam o núcleo e possuem uma massa muito menor que a nuclear. Para exemplificar, poderíamos pensar que o átomo é uma laranja; o interior da laranja, de onde os gomos saem, o núcleo; e a casca, os caminhos que os elétrons percorrem. Elétron Prótons Nêutrons Átomo Eletrosfera Figura 1 – Estrutura geral de um átomo 10 Unidade I A quantidade de matéria de um ser vivo é medida pela massa (M). Muitas vezes, as pessoas acabam confundindo massa e peso. Contudo, ressalta-se que o peso é uma Força de campo gravitacional – como pode ser visto na figura a seguir –, ou seja, a massa sob a ação da gravidade é chamada de peso (P). A massa não irá variar se considerarmos outro planeta como Plutão, mas o peso irá variar conforme o valor da gravidade. No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de massa utilizada é o quilograma (kg). Massa do objeto Campo gravitacional Planeta Terra Peso Figura 2 – Peso é a força da gravidade que a Terra atrai os corpos Antes de continuarmos, precisamos tomar nota de um conceito: • Notação científica: é a maneira de escrever números reais em potências de base 10. Isso ocorre porque, quer seja no dia a dia ou nas áreas da Física e da Química, encontramos números expressos por valores muito grandes ou muito pequenos. O modelo para escrever um número em notação científica é ax10b, em que o número “a” é chamado de mantissa ou de coeficiente, e “b”, a ordem de grandeza. A mantissa deve ser maior ou igual a 1 e menor que 10, e a ordem de grandeza “b”, dada sob a forma de expoente, é o número que mais varia conforme o valor absoluto (como -3, -2, -1, 0, +1, +2, +3). Alguns exemplos de massa em notação científica: 2 x 1030 kg, grão de poeira 7 x 10 -10 kg. Um exemplo muito citado em Física é a velocidade da luz no vácuo, que é 300.000.000 m/s. Este pode ser escrito em notação científica como 3 x 108 m/s. Saiba mais Executando serviços essenciais relacionados à proteção dos cidadãos em suas relações de consumo, o Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem-SP), criado em 1967, realiza a verificação de instrumentos de medição, como balanças, taxímetros e bombas de combustível. Para saber mais, acesse: <http://www.ipem.sp.gov.br/index.php>. 11 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Uma outra grandeza fundamental de grande importância é o tempo. Utilizamos o tempo para situar acontecimentos, a sucessão do dia e da noite, denominada ciclo circadiano, é o período de 24 horas no qual se baseia o ciclo biológico, o tempo contempla a espera dos acontecimentos (como na gravidez) e também a duração da vida. Por exemplo: o tempo aproximado de vida de um próton 3 x 1040. No Sistema Internacional, a unidade é o segundo (s). Algumas medidas do tempo: • 1 minuto (min) = 60 segundos (s) • 1 hora (h) = 60 min = 3.600 s • 1 dia = 24 h = 1.440 min = 86.400 s A análise dimensional é muito empregada. Para tanto, utilizamos comprimento, área e volume. A unidade padrão para o comprimento é o metro. Diz-se que o metro é comprimento do percurso percorrido pela luz no vácuo em 1/299.792.458 de um segundo. Como exemplo da grandeza comprimento, pode-se dizer que uma menina estuda a 500 m ou a 0,5 km da padaria. A área é uma medida derivada do metro. Para determinar a área, multiplicamos duas dimensões: a largura e o comprimento (área = largura (m) x comprimento (m) = m²). Podemos visualizar a área como medida de um osso longo e relacioná-lo ao tamanho e ao crescimento de um jovem ou, ainda, como a superfície corporal. Já o volume é expresso pela multiplicação de três dimensões: a largura, o comprimento e a altura, usando a mesma unidade que a área. Vamos imaginar o volume da bexiga no sistema urinário. Observando-se ela vazia e cheia, qual é a capacidade total de armazenamento da urina? Por meio da medida do volume, consegue-se definir esse valor. Ou pensemos no pulmão e no volume de ar que este comporta. É perceptível que esta grandeza apresenta uma grande relevância biológica. Observação A maior parte dos processos e fenômenos físicos podem ser expressos em função de poucas grandezas fundamentais, incluindo o comprimento, o tempo, a massa e a temperatura. Para cada grandeza física, fazemos a mensuração por um valor numérico e uma unidade de medida que apresenta um símbolo. Assim, podemos individualizar uma grandeza de outra. Porém, quando nos referimos a uma grandeza como a velocidade, estamos nos referindo a duas grandezas em conjunto: veja a velocidade da luz no vácuo, por exemplo, que é 300.000.000 m/s comprimento ou espaço (no caso, em metros) em relação ao tempo (expresso em segundos). Essa é uma grandeza derivada. As grandezas derivadas são fundamentalmente aquelas em que há a composição de grandezas fundamentais. Dessa forma, é possível expressar qualquer grandeza física. 12 Unidade I Então as grandezas físicas fundamentais podem ser conceituadas como aquelas a partir das quais as outras grandezas físicas são definidas. E a combinação dessas grandezas fundamentais dá origem a uma série de grandezas derivadas. Agora ficou fácil! Figura 3 – Definição de Grandezas Fundamentais e Derivadas A velocidade é definida como espaço sobre tempo (v = espaço/tempo). No corpo humano, a velocidade é expressa na corrente sanguínea e na condução do impulso nervoso, por exemplo, como pode ser visto na figura a seguir. A aceleração é a variação da velocidade em função do tempo (a = (v2 - v1)/tempo). Esta pode ser positiva, quando o espaço percorrido aumenta em função do tempo; ou negativa, quando o inverso ocorre. Imagine a aceleração que sofre a nossa circulação sanguínea após corrermos de um cão bravo. A unidade no Sistema Internacional é o metro por segundo ao quadrado (m/s²). Tempo gasto = 2 s Espaço percorrido = 3 cm Figura 4 - Representação da velocidade de Hemácia dentro dos vasos sanguíneos. Perceba que foram percorridos 3 centímetros em 2 segundos, resultando numa velocidade de 1,5 cm/s (V = 3 cm/ 2s = 1,5 com/s) 13 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS A densidade é a relação de massa sobre volume (d = massa/volume). Podemos pensar na densidade quando observamos uma radiografia. Mesmo sem compreender ao certo verificamos áreas mais brancas ou mais escuras. Isto se dá pela diferença de densidade dos vários tecidos que compõem nosso corpo, ou seja, a quantidade de matéria presente na unidade de volume do corpo, como a densidade óssea, por exemplo. A densidade de uma célula é aproximadamente 1g/cm3. A unidade no Sistema Internacional é o kg/m3. A seguir incluímos alguns fatores de conversão: Tabela 1 – Fatores de conversão Grandeza Fator de Conversão Área 1 m2 = 104 cm2 Volume 1 L = 1000 cm3 = 10−3 m3 Velocidade 1 m/s = 3,6 km/h Pressão 1 Pa = 1 N/m2 Fonte: Kesten; Tauck (2015). A força é composta pela massa vezes a aceleração. Ela está presente em quase todo o sistema biológico.Um exemplo são as forças de atração e repulsão entre íons e moléculas e força elástica no tecido conjuntivo. É considerada uma grandeza vetorial, pois é composta, em módulo, por direção e sentido. Sua medida é o newton (N), em que 1 N = 1 kg x m/s 2. O trabalho é conceituado como o produto da força vezes a distância pela qual a força é aplicada. A vida não existe sem energia, pois o metabolismo celular demanda energia. Pode-se pensar na respiração, na digestão, na circulação sanguínea e na contração muscular. A unidade de trabalho é o joule (J), sendo que 1 J = 1 N x m. Vamos imaginar uma bola. Diz-se que a bola acelera quando sobre ela é realizado um Trabalho não nulo. Normalmente, trabalho e energia estão intimamente relacionados: a energia é a aptidão de um objeto ou mesmo de um sistema em realizar trabalho; já trabalho pode resultar em energia. Vejamos a produção de trabalho pelo coração: o trabalho sistólico é a quantidade de energia que o coração traduz em trabalho durante cada batimento cardíaco, enquanto bombeia sangue para os vasos. Potência é energia (ou trabalho) em função do tempo, ou seja, a capacidade de realizar trabalho em função do tempo. A unidade de potência é o watt, que corresponde a erguer um objeto de massa 0,1 kg a 1 metro de altura em 1 segundo. Temos que W = watt = 1 J/s. Pressão é a intensidade de força exercida por unidade de área do corpo (P=F/A). Quando pensamos no corpo humano, temos inúmeros fluidos biológicos, como líquido sinovial, líquido cefalorraquidiano, linfa e a própria corrente sanguínea. Assim, pensamos que a pressão de um fluido será a força exercida por este fluido por unidade de área. Nesse caso, a medida é N/m2 = 1 Pa (Pascal). Se pensarmos no planeta Terra, temos que 14 Unidade I todos os seres vivos estão sob a ação da pressão atmosférica, devido ao peso do ar sobre o corpo. Nesse caso, a unidade é chamada de atmosfera (atm), e sua equivalência é 1 atm = 1,013 x 10 5 Pa. Imagine que a pressão é um conjunto de forças exercidas por cada uma das moléculas que compõem o fluido, sobre os infinitos pontos da área que o abriga. Agora, visualize que essas moléculas estão num constante movimento. Conforme fornecermos mais energia a essas moléculas (energia cinética), maior o número de choques. Isso explica por que a ação da temperatura influencia a pressão de um fluido, assim como interfere na densidade também. A pressão sanguínea (também conhecida como pressão arterial) é a força que o sangue impõe sobre as paredes dos vasos sanguíneos. Mesmo sem compreender muito bem, as pessoas dizem: “a minha pressão é 12 x 8”. Na realidade, o que elas gostariam de relatar é que existe uma pressão sistólica e uma pressão diastólica que correspondem, respectivamente, à pressão durante a contração e durante o relaxamento do coração. Quando o coração contrai, o sangue é conduzido aos vasos com a máxima força sobre a área do vaso, por isso chamamos a pressão sistólica de pressão máxima. A unidade da pressão em ambos os casos é mmHg, ou seja, milímetros de mercúrio. A pressão do sangue é quase sempre medida em milímetros de mercúrio (mmHg). Se há a indicação de que a pressão em um vaso é de 70 mmHg, isso quer dizer que a força exercida é capaz de elevar uma coluna de mercúrio até o nível de 70 mm de altura. O instrumento utilizado para mensurar a pressão arterial é o esfigmomanômetro. Dentro do sistema biológico, existe ainda a pressão do olho, a pressão na bexiga urinária, a pressão intraglomerular – que é a pressão que o filtrado sanguíneo promove dentro do glomérulo –, a unidade funcional do rim, e muitas outras, como a pressão osmótica, que será vista adiante. A temperatura é uma medida de intensidade de energia térmica; já o calor é medida de quantidade de energia térmica. Temperatura é a grandeza física relacionada à agitação das partículas que compõem os sistemas biológicos. A temperatura está associada ao grau de agitação das moléculas de um corpo; e a energia interna também está associada à energia dos átomos ou das moléculas do corpo, embora não esteja relacionada somente à energia de movimento de átomos ou moléculas. Atualmente, há três escalas termométricas: • a escala Celsius, modelo proposto pelo astrônomo sueco Anders Celsius (1701-1744), que é a mais utilizada no dia a dia e é baseada nas temperaturas de congelamento e ebulição da água. • a escala Fahrenheit é atribuída ao físico alemão G. D. Fahrenheit (1686-1736). Os estudos de Fahrenheit com termômetros comprovaram que cada líquido possuía um ponto de ebulição fixo e também que o ponto de ebulição varia com a pressão. • a escala Kelvin, proposta pelo físico britânico Lord Kelvin (1824-1907), é a escala adotada pelo Sistema Internacional, a qual é definida sob as condições da água (forma de gelo, líquido e gás). 15 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS 1.1 Unidades, prefixos utilizados no Sistema Internacional e conversão de unidades Desde as primeiras civilizações no globo terrestre, o homem utiliza-se da mensuração como parâmetro de trocas, medidas de peso e distância, fosse para troca, delimitação de regiões, determinação das distâncias, pagamento de impostos e até rendimento de colheitas. A ciência relacionada às medições, denominada Metrologia, variou muito e evoluiu lentamente até que chegássemos ao sistema atual. A origem do Sistema Métrico Decimal aponta para a época de 1790, na França, pois, durante a Revolução Francesa, autoridades do alto clero francês discorreram sobre a necessidade de uniformização das unidades de medida, visto que naquela época haviam diversos problemas de arbitragem nas medidas utilizadas. A urgência de padronização das medidas no mundo e a necessidade de criação de um sistema mais preciso deram origem ao Sistema Métrico Decimal, o qual foi sendo estabelecido em etapas, em diferentes regiões e países. No Brasil, em 1872, um decreto estabeleceu o Sistema Métrico Decimal; substituído mais tarde, em 1962, pelo relevante Sistema Internacional de Unidades (International System of Units) – SI. A Resolução nº 12, de 1988 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, homologou a adoção do SI no País e tornou seu uso obrigatório em todo o território nacional. Sua relevância é mundial. Neste sistema, os prefixos correspondem a um múltiplo de dez. Desse modo, o sistema métrico converte unidades maiores e menores em múltiplos de dez. Cada prefixo maior corresponderá a dez vezes a unidade representada antes de si, ou seja, a unidade posterior será dez vezes maior que a unidade anterior. O prefixo é adicionado à unidade, exemplo, o prefixo “deci”, acoplado à unidade metro, resulta na unidade decímetro (dm). Tabela 2 – Prefixos e as respectivas potências de 10 Prefixo Símbolo Potência de 10 tera T 1012 giga G 109 mega M 106 quilo k 103 hecto h 102 deci d 10-1 centi c 10-2 mili m 10-3 micro µ 10-6 nano n 10-9 pico p 10-12 femto f 10-15 Fonte: Durán (2011). 16 Unidade I Lembrete Os algarismos significativos caracterizam a exatidão, ou nível de certeza, do valor de uma medida ou de um valor calculado. 2 ENERGIA E O CORPO HUMANO Agora que você já sabe que o Universo é feito basicamente de matéria e energia, vamos à importância desses conceitos em relação ao corpo humano. Nosso corpo, obviamente, também é constituído por matéria e energia. Entretanto, somos formados por uma unidade básica, que chamamos de células. Nosso corpo é uma espécie de colônia, onde cada célula trabalha em prol do corpo como um todo. Analisando individualmente, podemos comparar cada célula a uma indústria. Como sabemos, para produzir alguma coisa, é preciso matéria- prima e energia. Assim, para a atividade de nossas células, há um consumo de energia. Pensando no corpo humano como um todo, sabemos que toda a sua atividade, incluindo o pensamento, envolve troca de energia. Quando nos movimentamos, convertemos energia em trabalho, mas isso representa apenas uma pequenafração de toda a energia gasta pelo nosso corpo. Mesmo quando estamos dormindo, nosso corpo continua gastando energia para a manutenção do funcionamento dos órgãos, tecidos e células. Extraímos a energia que usamos dos alimentos, mas não de uma forma direta. Primeiro a energia dos alimentos precisa ser modificada quimicamente pelo corpo, em moléculas que reagem com o oxigênio (oxidação) no interior de nossas células. A energia que usamos diretamente nas células precisa estar contida em moléculas de trifosfato de adenosina, molécula conhecida normalmente como ATP, a nossa “moeda” energética. Quando utilizamos energia, gastamos ATP. Além de utilizarmos a energia dos alimentos para manter o funcionamento dos órgãos e realizar trabalho externo (andar, correr ou nadar, por exemplo), gastamos energia para manter a temperatura corporal. Apenas cerca de cinco por cento da energia contida nos alimentos é eliminada pelo corpo na forma de urina e fezes, a energia que sobra é armazenada na forma de gordura. Durante o funcionamento dos órgãos, parte da energia é transformada em calor, do qual parte é usada para manter a temperatura corporal e parte é eliminada. Observação Calor é a energia térmica existente em um corpo decorrente da agitação de suas moléculas. O calorímetro realiza a medição de calor. Podemos calcular a energia que estamos utilizando medindo o consumo de oxigênio do corpo, uma vez que a energia utilizada é obtida a partir das reações de oxidação. Por exemplo, na reação de oxidação de mol de glicose são liberadas 686 kcal de energia para cada 6 mols de gás oxigênio (O2). Assim, são liberadas 5,10 kcal de energia para cada 1 litro de O2 consumido. 17 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Como vimos, existe uma relação entre a quantidade de energia liberada por litro de O2 consumido ou por grama de substância oxidada. Cálculos parecidos podem ser feitos para gorduras, proteínas e outros carboidratos. A tabela a seguir mostra a quantidade de energia liberada por litro de O2 usado e por grama de substância oxidada. Tabela 3 – Energia liberada em reações de oxidação Substância Energia liberada por litro de O2 usado (kcal/L) Valor calórico (kcal/g) Glicose 5,1 3,8 Carboidratos 5,3 4,1 Proteínas 4,3 4,1 Gorduras 4,7 9,3 Dieta típica 4,8-5,0 – Gasolina – 11,4 Carvão – 8,0 Madeira (pinheiro) – 4,5 Fonte: Okuno; Caldas; Chow (1982). No nosso dia a dia, a quantidade de energia liberada por litro de O2 consumido depende da proporção de nutrientes como glicose, carboidratos, proteínas, gorduras etc. presentes na nossa dieta. Entretanto, nem toda a energia dos alimentos é aproveitada pelo corpo. Parte dessa energia é perdida e suas substâncias correspondentes são eliminadas junto com as fezes, urina e gases intestinais. A energia que sobra no corpo é a energia metabolizada. Consumimos em média 95 kcal/h, ou 110 W em repouso. Essa quantidade de energia necessária para a manutenção das atividades básicas do corpo é chamada de taxa de metabolismo basal. A tabela a seguir mostra o consumo de O2 e a taxa de metabolismo basal para diferentes órgãos do corpo humano. Tabela 4 – Consumo de oxigênio e a taxa de metabolismo basal para diferentes órgãos do corpo humano Órgão Massa (kg) Consumo de O2 (mL/min) Consumo médio de energia (kcal/min) % da RMB Fígado e baço – 67 0,33 27 Cérebro 1,40 47 0,23 19 Músculos 28,0 45 0,22 18 Rim 0,30 26 0,13 10 Coração 0,32 17 0,08 7 Restante – 48 0,23 19 Total 250 1,22 100 Fonte: Okuno; Caldas; Chow (1982). 18 Unidade I Existe uma relação entre a capacidade de uma pessoa exercer uma determinada atividade física e de sua capacidade de consumir oxigênio, ou seja, a capacidade de consumir oxigênio é um fator limitante ao esforço físico. A capacidade de uma pessoa consumir oxigênio pode ser aumentada com treino. A tabela a seguir mostra o consumo de O2 e a produção equivalente de calor para uma pessoa em diferentes atividades. Tabela 5 – Produção de energia e calor em relação a quantidade de O2 consumido Atividade Consumo de O2 (L/min) Produção equivalente de calor (kcal/min) (W) Dormindo 0,24 1,2 83 Sentado/repouso 0,34 1,72 120 Sentado/assistindo aula 0,60 3,01 210 Passeando 0,76 3,80 265 Subindo escada 1,96 9,82 685 Jogando basquete 2,28 11,4 800 Fonte: Okuno; Caldas; Chow (1982). O nosso corpo é capaz de manter a própria temperatura constante, mesmo com a temperatura do ambiente variando bastante, permitindo que os processos metabólicos funcionem mesmo em climas muito frios. Quando morremos, esse processo para de funcionar, diminuindo a energia metabolizada no corpo – consequentemente, a temperatura corporal se iguala à temperatura ambiente. A temperatura do nosso corpo é determinada pela produção e pela perda de calor, como pode ser verificado na figura a seguir. Quando a produção e o ganho de calor têm a mesma intensidade, a nossa temperatura não aumenta nem diminui, mas quando a produção de calor é maior do que a perda, a temperatura corporal aumenta. °F °COral Trabalho pesado, emoção Alguns adultos normais Muitos crianças ativas Variação habitual do normal Exercício pesado Emoção ou exercício moderado Alguns adultos normais Muitas crianças ativas Variação habitual do normal Manhã cedo Tempo frio etc. Manhã cedo Tempo frio etc. 104 40 39 38 37 36 102 100 98 96 Figura 5 – Faixa de temperatura corporal sob diferentes condições 19 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Mesmo em repouso, há uma produção de calor nos nossos órgãos e tecidos, cuja maior parte acaba sendo transferida para o ambiente por vários processos através da nossa pele. Os principais processos para essa transferência de calor são: • radiação; • convecção; • evaporação. Observação A primeira lei da termodinâmica postula que a energia que entra em um sistema é a mesma que sai dele. Em repouso a nossa perda de calor é equivalente a 120 W, conforme visto na tabela anterior. Paredes Evaporação (22%) Condução para objetos (22%) Radiação (60%) ondas de calor objetos Condução para o ar (15%) Correntes de ar (Convecção) Figura 6 – Esquema ilustrando os meios para perda de calor quando a pessoa com o corpo despido está em um quarto com a temperatura ambiente de 21 °C Saiba mais Para saber mais sobre alguns métodos de calorimetria, leia o artigo a seguir: TAVARES, G. W.; PRADO, A. G. S. Calorímetro de gelo: uma abordagem histórica e experimental para o ensino de química na graduação. Química Nova, Vol. 33, n. 9, p. 1987-1990, 2010. Disponível em: <http://quimicanova. sbq.org.br/imagebank/pdf/Vol33No9_1829_29-ED09749.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2019. 20 Unidade I 3 NOÇÕES DE FÍSICA EXPERIMENTAL – A TEORIA DE CAMPO Algumas das perguntas básicas sobre como o Universo funciona podem ser respondidas pela chamada Teoria dos Campos, cujo ponto de vista conceitual é muito simples: toda matéria emite um campo, que é a energia, e essa energia se manifesta como um força, que é capaz de produzir trabalho pelo seu deslocamento. Matéria Energia Força Trabalho O campo se manifesta de três maneiras distintas: • Campo gravitacional: manifesta-se somente através da força de atração, é emitido por toda e qualquer matéria e age a longas distâncias. Existe um campo gravitacional real, como aquele que nos mantém presos ao planeta Terra, e campos gravitacionais que podem ser provocados de forma transitória, como o produzido por uma centrífuga de laboratório usada no processo de separação de substâncias. Cada um desses dois casos é representado, respectivamente, pelas duas imagens a seguir. Superfície Terrestre Figura 7 – Campo gravitacional terrestre, com os vetores indicando o sentido único da força do campo Figura 8 – Campo gravitacional transitório gerado por uma centrífuga de laboratório utilizada para separação de substâncias. O campo gravitacional aparece no sentido dos vetores tracejados 21 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS • Campo eletromagnético:manifesta-se através das forças de atração e de repulsão, por meio das quais cargas iguais se repelem e cargas opostas se atraem, atuando em pequenas distâncias e, sem carga, quando o campo elétrico e magnético são combinados, dando origem às radiações eletromagnéticas (ver imagem a seguir), que vão desde raios cósmicos, raios X, raios ultravioleta, passando pela luz visível, até as ondas de rádio. As células do nosso corpo podem gerar campos eletromagnéticos que podem ser detectados através de exames como o eletrocardiograma, o eletroencefalograma, o eletromiograma e o eletroretinograma. O campo eletromagnético também está presente nos seres vivos como forma de calor. + + -+ - S S NS N - N Campo elétrico Campo magnético RepulsãoAtração Repulsão Figura 9 – Esquema representando o campo eletromagnético com e sem cargas. A parte superior da figura mostra o comportamento das cargas: cargas opostas se atraem e cargas iguais de repelem. O mesmo comportamento se aplica aos polos: polos iguais se repelem • Campo nuclear: existe somente dentro dos limites dos núcleos dos átomos e suas forças de atração e repulsão são extremamente fortes. Essas forças unem prótons, elétrons e neutros e são responsáveis por manter unidas todas as estruturas derivadas dos átomos. Próton Nêutron Campo L Campo N E E Figura 10 – Esquema do Campo Nuclear existente no interior dos átomos, mantendo a coesão entre as partículas que compõem o núcleo dos átomos 22 Unidade I 3.1 Conceito de trabalho passivo e ativo O objetivo da atividade biológica é a realização de trabalho. A definição física de trabalho é o deslocamento de uma força e as forças só existem nos campos e, por isso, só eles realizam trabalho com gasto de energia. Quando o trabalho é realizado pelo sistema com gasto de energia, chamamos de trabalho ativo; e quando não há gasto de energia, como movimento ocorrendo na mesma direção das forças do campo, chamamos de trabalho passivo. 1. Movimento se opôe às forças do campo 2. Movimento segue as forças do campo 3. Movimento segue as forças do campo, ajudado por forças estranhas ao campo Fenômeno Tipo de trabalho Ativo (A) Passivo (P) Combinado (C) Figura 11 – O tipo de trabalho depende da direção do deslocamento No corpo humano, quando o sangue é bombeado pelo coração em direção à cabeça, o sentido do deslocamento vai contra as forças do campo gravitacional, ocorrendo trabalho ativo. Quando o sangue desce aos pés, temos o trabalho combinado: trabalho ativo pela ação do coração e trabalho passivo pela atração da força da gravidade. A C C a m p o G Figura 12 – Trabalho realizado no Campo Gravitacional. A: Trabalho Ativo realizado quando o sangue é bombeado na direção oposta às forças do campo. C: Trabalho Ativo e Passivo combinando as forças do campo gravitacional à força de bombeamento do coração No corpo humano, um dos principais tipos de trabalho biológico é o transporte de substâncias, que pode chagar a constituir um terço de todo o Trabalho realizado no corpo. Ainda serão estudados os conceitos de 23 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS transporte de substâncias no corpo humano, mas com o conceito de trabalho que acabamos de ver, podemos dizer que: transporte ativo equivale a trabalho ativo e transporte passivo equivale a trabalho passivo. 4 MOVIMENTOS E PROPRIEDADES DOS FLUIDOS 4.1 Pressão hidrostática Para entendermos os conceitos de pressão hidrostática, primeiro precisamos entender o que é um fluido. Esse termo se refere a substâncias que não possuem forma definida, como as substancias sólidas, e tomam a forma do recipiente que as contém devido à força da gravidade, sejam elas líquidos ou gases. Essas substâncias, quando submetidas a certas forças, fluem, ou seja, deslizam. Os líquidos, devido à sua estrutura molecular, são incompressíveis, já os gases ocupam o volume total do recipiente que os contém e são altamente compressíveis. Um determinado fluido em um recipiente exerce sobre uma área ∆A de sua parede uma força ∆F que é perpendicular a ela. Assim, temos que a pressão hidrostática P é definida como: P F A � � � Existem várias unidades para medida de pressão. Sendo a pressão definida como o quociente entre uma força e a área sobre a qual ela atua, sua unidade pode ser: P = N/m2 = 1 Pascal Nem sempre essa unidade é utilizada. A pressão atmosférica, por exemplo, é geralmente medida em mm de Hg (milímetros de mercúrio), que ao nível do mar é igual a 760 mm de Hg. Blaise Pascal (1623-1662), formulou as leis que regem o comportamento dos fluidos em repouso, conhecidas como Princípios de Pascal ou Princípios da Hidrostática. Princípios de Pascal: • A pressão exercida por um fluido em repouso, em um ponto, é igual em todas as direções; se não fosse assim, este fluido não estaria em repouso. • As pressões exercidas por um fluido em repouso sobre pontos situados na mesma superfície horizontal são iguais; se não fosse assim, haveria movimentação horizontal entre pontos de diferentes pressões e, mais uma vez, o fluido não estaria em repouso. • A pressão exercida por um fluido aumenta linearmente em função da profundidade. Esse princípio permite que se determine a diferença de pressão entre dois pontos quaisquer de uma massa fluida e permite também a determinação da pressão absoluta em qualquer ponto de uma massa líquida. Agora que você já sabe os conceitos básicos dos movimentos e das propriedades dos fluidos, vamos ver como isso se aplica no funcionamento do corpo humano. 24 Unidade I Homeostasia Você alguma vez já parou para pensar do que o seu corpo é feito? Assim como algumas casas são feitas de tijolos, nosso corpo é feito de células. A célula é a unidade funcional básica do corpo, que é constituído por cerca de 75 trilhões de células, em sua imensa maioria, células vivas. Nós somos uma espécie de colônia de células, as quais desempenham o seu papel para a manutenção da nossa sobrevivência. Morreremos quando não conseguirmos mais manter as nossas células vivas. Mas do que as células precisam para viver? Pense nas células como se fossem fábricas. Fábricas precisam de matéria-prima e de energia para produzir e, durante o processo de produção, geram resíduos que precisam ser descartados. O mesmo acontece com as células: elas também precisam de matéria-prima e de energia para produzir as proteínas necessárias para o funcionamento do nosso corpo e a nossa sobrevivência. De onde vem tudo de que a célula precisa? A resposta é: do lado de fora, do líquido extracelular. O espaço entre as células é preenchido por esse líquido, esse é o meio em que as células vivem. Tudo de que é célula precisa vem desse líquido extracelular, e é para esse líquido que vão os resíduos que a célula precisa descartar. Assim, manter a célula viva significa manter as condições físicas e químicas do líquido extracelular, condição que chamamos de homeostasia. O papel dos principais órgãos do nosso corpo é justamente manter as condições do líquido extracelular variando dentro de limites muito controlados, para que a célula sobreviva. Por exemplo, o nosso sistema respiratório mantém os níveis de O2 e CO2. O nosso sistema digestório mantém os níveis de nutrientes. Os nossos rins controlam as concentrações de íons e removem o “lixo”, que são os produtos do metabolismo etc. Então o que significa homeostasia? Significa equilíbrio? Sim, equilíbrio da composição do líquido extracelular. O sangue De onde vêm os constituintes do meio extracelular? Do sangue, que é o principal fluido do nosso corpo. O gás oxigênio (O2) presente no ar atmosférico passa para o sangue em nossos pulmões. Os nutrientes absorvidos dos alimentos passam para o sangue em nosso intestino. O sangue é filtrado nos rins para a retirada das impurezas. O sangue entrega no líquido extracelular praticamente tudo que a célula precisa e remove tudo que ela não precisa. Ele precisa chegar às proximidades das células para manter a composição do líquidoextracelular e, para isso, ele precisa ser bombeado através dos nossos vasos sanguíneos. 4.2 O Sistema Circulatório O nosso coração nada mais é do que uma bomba, que bombeia o sangue fazendo ele fluir através do Sistema Circulatório. O coração é formado pelo músculo cardíaco e possui quatro câmaras: dois átrios e dois ventrículos. Ele contrai e relaxa ritmicamente em ciclos. Quando o coração se contrai, ele ejeta o sangue contido nos ventrículos, o que chamamos de sístole. Quando os ventrículos relaxam, chamamos de diástole. O ciclo entre as sístoles e as diástoles é chamado de ciclo cardíaco. 25 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Veia cava superior Veia cava inferior Ventrículo direito Ventrículo esquerdo Valva cava pulmonar Átrio direito Átrio esquerdo Veia pulmonar Aorta Artéria pulmonar Valva tricúspide Valva mitral Valva aórtica Pulmões Figura 13 – Representação da anatomia funcional do coração A circulação se divide em duas partes: circulação sistêmica (também chamada de grande circulação), a qual faz o sangue fluir para todos os tecidos do corpo e a circulação pulmonar. Circulação pulmonar Circulação sistêmica Arteríolas e capilares Arteríolas e capilares Artérias Artérias Veias Veias Figura 14 – Esquema da circulação, mostrando a circulação pulmonar e a sistêmica, em relação aos lados direito e esquerdo do coração 26 Unidade I Os vasos sanguíneos mais calibrosos (grossos) são as artérias e as veias. Chamamos de artérias os vasos que saem do coração e chamamos de veias os vasos que seguem em direção ao coração, independentemente do tipo de sangue que transportam, venoso ou arterial. As artérias transportam o sangue em alta pressão e alta velocidade, por esse motivo têm paredes fortes. No caminho em direção aos tecidos, as artérias vão se ramificando e diminuindo de calibre até se tornarem arteríolas. As arteríolas têm em sua parede uma camada muscular que serve para controlar o fluxo sanguíneo que passa por elas, ocasionando vasoconstrição ou vasodilatação, controlando o fluxo sanguíneo para os capilares. Os capilares são os vasos mais finos do nosso corpo, tanto que o seu nome faz alusão a “fio de cabelo”. Sua função é a de troca de substâncias entre o sangue e o líquido extracelular. Sua parede é porosa e formada por uma monocamada de células, permeáveis a pequenas substâncias. Logo em seguida temos as vênulas, que coletam o sangue proveniente dos capilares e seguem gradualmente aumentando de calibre até se tornarem veias. As veias conduzem o sangue de volta ao coração. Artéria Veia Capilares Arteríola Vênula Figura 15 – Esquema mostrando o calibre dos principais vasos do sistema circulatório, com destaque para o calibre das arteríolas A pressão do sangue nas veias é muito baixa e suas paredes são finas, mas conseguem se contrair ou expandir, servindo assim de reservatório de sangue para o organismo, agindo de acordo com a necessidade. 27 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Veia cava superior Veia cava inferior Aorta Coração – 18% Artérias – 13% Arteríolas e – 13% Capilares Circulação pulmonar – 12% Veias, vênulas e seios venosos – 50% Figura 16 – Esquema da circulação sanguínea, mostrando a porcentagem do total de sangue armazenado em cada parte do sistema circulatório Pressão sanguínea Geralmente, a pressão sanguínea é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) porque o equipamento usado desde a Antiguidade para esse tipo de medição é o manômetro de mercúrio, visto na imagem a seguir. O sangue exerce uma força nas paredes do vaso sanguíneo. Como todos os vasos sanguíneos são distensíveis (esticam), essa força estica o vaso. Devido a essa pressão, o sangue tende a sair do vaso por qualquer tipo de abertura, o que força o sangue a circular com velocidade elevada pelas artérias – onde a pressão é maior –pelos capilares e retornar ao coração pelas veias. As artérias têm as paredes muito mais fortes do que as das veias, pois precisam suportar uma pressão muito maior. Assim, as artérias são em torno de oito vezes menos distensíveis do que as veias. Quando a pressão sanguínea aumenta até um determinado ponto, uma veia pode se distender até oito vezes mais do que uma artéria de mesmo calibre. Quanto mais os vasos se dilatam, menor a resistência para o sangue circular, resultando em um aumento no fluxo de sangue. 28 Unidade I Pressão 0 Flutuador Mercúrio Papel fuliginoso em movimento Pressão 100 mmHg Solução anticoagulante Manômetro de mercúrio Figura 17 – Medição da pressão sanguínea como uso de um manômetro de mercúrio Pulsações da pressão arterial O coração ejeta sangue através das artérias a cada sístole. Se as artérias não fossem distensíveis, todo esse volume de sangue ejetado teria que fluir imediatamente pelos vasos sanguíneos periféricos e pararia de circular quando acontecesse a diástole. Entretanto, como vimos, a parede das artérias é elástica e isso faz com que elas se distendam durante a sístole, absorvendo esse pulso de pressão ao longo do caminho até os capilares. A capacidade de amortecer os pulsos de pressão é chamada de complacência da árvore arterial. Dessa forma, o fluxo sanguíneo é praticamente contínuo e com pulsações muito pequenas quando o sangue atinge os capilares. Em um adulto, geralmente a pressão no pico de cada pulso na entrada a artéria aorta é chamada de pressão sistólica; no ponto mais baixo de cada pulso, pressão diastólica. A pressão sistólica é cerca de 120 mmHg, enquanto que a pressão diastólica é cerca de 80 mmHg. A diferença entre essas duas pressões é chamada de pressão de pulso. 29 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS 0 20 40 60 80 100 120 Aorta Grandes artérias Arteríololas Capilares Vênulas Pequenas veias Grandes veias Veias cavas Pequenas artérias Pressão (mm Hg) Figura 18 – Pressão sanguínea ao longo dos vasos sanguíneos. Lembrete O deslocamento dos fluidos dos vasos ocorre sob diferença de pressão, senão não se moveriam. Seguindo um regime estacionário: o volume que entra no sistema é o mesmo que sai. 4.3 Medida da pressão arterial O método mais utilizado como rotina em consultórios médicos para a aferição (medição) da pressão arterial é conhecido como método auscultatório. Para esse método, são utilizados um esfigmomanômetro e um estetoscópio. É colocada uma espécie de manga (manguito) inflável no braço do paciente, conectado a um manômetro (medidor) de pressão. Esse manguito é então inflado até que a sua pressão seja superior à pressão da artéria do braço (artéria braquial), provocando o seu fechamento. Depois, diminui-se gradualmente a pressão com o estetoscópio posicionado na parte interna do cotovelo. Em um determinado momento, a pressão aplicada no braço pelo manguito será ligeiramente inferior à pressão sistólica e pequenos jatos de sangue começarão a passar através da artéria, causando um fluxo turbilhonar (em jatos), que produz um ruído que pode ser captado através do estetoscópio. Nesse ponto, a pressão indicada no manômetro será a pressão sistólica. Continuando com a descompressão gradual do manguito, em um determinado momento a pressão aplicada será suficiente para que o sangue flua 30 Unidade I através da artéria braquial mesmo durante a diástole, de forma que o fluxo turbilhonar cessa e o barulho desaparece. Nesse momento, a pressão indicada no manômetro será a pressão diastólica. Figura 19 – Aferição da pressão arterial através do método auscultatório. Resumo Nesta unidade, descrevemos o que são grandezas fundamentais (como comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, temperatura termodinâmica, intensidade e quantidade de substância); que os seres vivos, formados por matéria, consomem e geram energia, ocupam espaço próprio e vivem na dimensão do tempo; e, ainda, que os átomos são a unidade fundamental da matéria, sendo subdivididos em: prótons, nêutrons e elétrons. A combinação das grandezas fundamentais dá origem às grandezasderivadas. Podemos citar a velocidade, definida como espaço sobre tempo. Para determinar a área, multiplicamos duas dimensões: a largura e o comprimento. Já o volume é expresso pela multiplicação de três dimensões: a largura, o comprimento e a altura, usando a mesma unidade. A densidade é a relação de massa sobre volume (d = massa/volume). A força está presente em quase todo o sistema biológico, é composta pela massa vezes a aceleração. Está presente na força elástica do tecido conjuntivo, por exemplo. O trabalho é conceituado como o produto da força vezes a distância pela qual a força é aplicada. Ele está presente em todos os sistemas, como o respiratório e o digestório. a potência é a capacidade de realizar trabalho em função do tempo. 31 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Pressão é a intensidade de força exercida por unidade de área. No corpo humano, os fluidos biológicos, como o sangue e a linfa, exercem pressão sobre os vasos. A pressão que um líquido ou gás exerce em um recipiente é consequência dos choques que ocorrem entre as moléculas que compõem o fluido. Quanto maior a frequência de choques entre as moléculas de um fluido, maior a pressão exercida por este fluido em seu recipiente. Existem várias unidades para medida de pressão. Sendo esta definida como o quociente entre uma força e a área sobre a qual ela atua, sua unidade pode ser: N/m2 ou 1 Pascal. A temperatura é uma medida de intensidade de energia térmica que influencia outras grandezas, como a pressão e a densidade; enquanto calor é medida de quantidade de energia térmica. Notação científica é a maneira de escrever números reais em potências de base 10. O modelo para escrever um número em notação científica é a x 10b, em que o número “a” é denominado mantissa ou coeficiente, e “b”, a ordem de grandeza. A mantissa, deve ser maior ou igual a 1 e menor que 10, e a ordem de grandeza “b”, dada sob a forma de expoente, é o número que mais varia conforme o valor absoluto (como -3, -2, -1, 0, +1, +2, +3). Em 1962, o Brasil adotou o Sistema Internacional de Unidades (SI). Nesse sistema, os prefixos correspondem a um múltiplo de dez. Desse modo, o sistema métrico converte unidades maiores e menores em múltiplos de dez. Cada prefixo maior corresponderá a dez vezes a unidade antes representada, ou seja, a unidade posterior será dez vezes maior que a unidade anterior. O Universo é, essencialmente, matéria e energia. Já o corpo humano apresenta esses constituintes em sua unidade básica chamada de célula. A energia é produzida e sustenta a atividade celular. Indiretamente, a energia é obtida dos alimentos. Diretamente a célula utiliza-se de moléculas de trifosfato de adenosina, molécula conhecida como ATP, uma vez que a energia utilizada é obtida a partir das reações de oxidação. A quantidade de energia liberada por litro de O2 consumido depende da proporção dos nutrientes como glicose, carboidratos, proteínas, gorduras etc. na nossa dieta. Entretanto, nem toda a energia dos alimentos é aproveitada pelo corpo. Parte dessa energia é perdida e suas substâncias correspondentes são eliminadas junto com as fezes, urina e gases intestinais. A energia que sobra no corpo é a energia metabolizada. O nosso corpo é capaz de manter a temperatura do corpo constante, mesmo com a temperatura do ambiente variando bastante, permitindo que os processos metabólicos funcionem, mesmo em climas muito frios. Quando morremos, esses processos param de funcionar, diminuindo a energia metabolizada no corpo e, como consequência, a temperatura 32 Unidade I corporal se iguala à temperatura ambiente. Os principais processos para essa transferência de calor são: radiação, convecção e evaporação. A teoria dos campos relata que toda matéria emite um campo, e a energia desse campo revela uma força, capaz de produzir trabalho pelo seu deslocamento. O campo exibe três maneiras distintas: campo gravitacional, campo eletromagnético e campo Nuclear. O trabalho realizado com gasto de energia chama-se de trabalho ativo. Quando não há gasto de energia – pois o movimento ocorre na mesma direção das forças do campo –, temos o trabalho passivo. No corpo humano, quando o sangue e bombeado pelo coração em direção a cabeça, o sentido do deslocamento vai contra as forças do campo gravitacional, ocorrendo trabalho ativo. Quando o sangue desce aos pés, temos o trabalho combinado: trabalho ativo pela ação do coração e trabalho passivo pela atração da força da gravidade. Tudo do que a célula necessita provém do líquido extracelular, que é o líquido situado entre as células, ou seja, o meio em que as células vivem. E os resíduos que a célula precisa descartar são enviados a ele também. Assim, manter a célula viva significa manter as condições físicas e químicas do líquido extracelular, condição chamada de homeostasia. Os constituintes do meio extracelular têm origem no sangue, que é o principal fluido do nosso corpo. Dessa maneira, tanto os nutrientes obtidos dos alimentos quanto o oxigênio do ar estão presentes nesse fluido precioso. O sangue entrega ao líquido extracelular praticamente tudo de que a célula precisa e remove tudo de que ela não precisa. Posteriormente, o sangue é filtrado pelos rins para a remoção das impurezas. O Sistema Circulatório sanguíneo é composto pelo coração, o qual funciona como uma bomba, os vasos sanguíneos (artérias e veias) e capilares. As artérias transportam o sangue em alta pressão e alta velocidade, por esse motivo têm paredes fortes. No caminho em direção aos tecidos, as artérias vão se ramificando e diminuindo de calibre. Os capilares são os vasos mais finos do nosso corpo, tanto que o seu nome faz alusão a “fio de cabelo”s. Sua função é a de troca de substâncias entre o sangue e o líquido extracelular. Sua parede é porosa e formada por uma monocamada de células, permeáveis a pequenas substâncias. As vênulas coletam o sangue proveniente dos capilares e seguem gradualmente aumentando de calibre até se tornarem veias. As veias conduzem o sangue de volta ao coração. Quando o coração se contrai, ele ejeta o sangue contido nos ventrículos, o que chamamos de sístole. Quando os ventrículos relaxam, chamamos de diástole. O ciclo entre as sístoles e as diástoles é chamado 33 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS de ciclo cardíaco. A circulação se divide em duas partes: circulação sistêmica e circulação pulmonar. O sangue exerce uma força nas paredes do vaso sanguíneo. Como todos os vasos sanguíneos são distensíveis, essa força estica o vaso. Devido a essa pressão, o sangue tende a sair do vaso por qualquer tipo de abertura, o que força o sangue a circular com velocidade elevada pelas artérias – onde a pressão é maior –, depois pelos capilares e retornar ao coração pelas veias. Em um adulto, geralmente a pressão no pico de cada pulso na entrada da artéria aorta é chamada de pressão sistólica; no ponto mais baixo de cada pulso, pressão diastólica. A pressão sistólica é cerca de 120 mmHg, enquanto a pressão diastólica é cerca de 80 mmHg. A aferição da pressão arterial é conhecida como método auscultatório. Exercícios Questão 1. (UFSCAR 2008, adaptada) Leia a tirinha: Figura Não é difícil imaginar que Manolito desconheça a relação entre a força de gravidade e a forma de nosso planeta. Brilhantemente traduzida pela expressão criada por Newton, conhecida como a lei de gravitação universal, esta lei é por alguns aclamada como a quarta lei de Newton. De sua apreciação, é correto entender que: A) em problemas que envolvem a atração gravitacional de corpos sobre o planeta Terra, a constante de gravitação universal, inserida na expressão newtoniana da lei de gravitação, é chamada de aceleração da gravidade. B) é o planeta que atrai os objetos sobre sua superfície e não o contrário, uma vez que a massa da Terra supera muitas vezes a massa de qualquer corpo que se encontra sobre a sua superfície. C) o que caracteriza o movimento orbital deum satélite terrestre é seu distanciamento do planeta Terra, longe o suficiente para que o satélite esteja fora do alcance da força gravitacional do planeta. 34 Unidade I D) a força gravitacional entre dois corpos diminui linearmente conforme é aumentada a distância que separa esses dois corpos. E) aqui na Terra, o peso de um corpo é o resultado da interação atrativa entre o corpo e o planeta e depende diretamente das massas do corpo e da Terra. Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: essa constante, representada por G, pode ser chamada de constante de gravitação universal ou de constante de Gauss (G) é não é dependente dos corpos que se atraem, nem da distância ou até mesmo do meio interposto entre os dois corpos, sendo assim uma constante universal. B) Alternativa incorreta. Justificativa: ambos se atraem, mas a intensidade dessa força consegue atrair apenas o objeto, e não a Terra, por causa da diferença de massa entre eles. C) Alternativa incorreta. Justificativa: o satélite só fica em órbita se estiver dentro do campo gravitacional terrestre e, nesse caso, a força gravitacional é a própria força resultante centrípeta. D) Alternativa incorreta. Justificativa: diminui sim, mas não linearmente, pois, é inversamente proporcional ao quadrado da distância (função do segundo grau). E) Alternativa correta. Justificativa: o peso de um corpo é resultado da força de atração entre ele e o centro da Terra e P = m . g Questão 2. (UFMG, adaptada) A figura mostra, de forma esquemática, um feixe de partículas penetrando em uma câmara de bolhas. R S T Figura 35 BIOFÍSICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS BIOMÉDICAS A câmara de bolhas é um dispositivo que torna visíveis as trajetórias de partículas atômicas. O feixe de partículas é constituído por prótons, elétrons e nêutrons, todos com a mesma velocidade. Na região da câmara existe um campo magnético perpendicular ao plano da figura entrando no papel. Esse campo provoca a separação desse feixe em três feixes com trajetórias R, S, T. A associação correta entre as trajetórias e as partículas é: A) trajetória R: elétron, trajetória S: nêutron, trajetória T: próton. B) trajetória R: nêutron, trajetória S: elétron, trajetória T: próton. C) trajetória R: próton, trajetória S: elétron, trajetória T: nêutron. D) trajetória R: próton, trajetória S: nêutron, trajetória T: elétron. E) trajetória R: elétron, trajetória S: próton, trajetória T: nêutron. Resolução desta questão na plataforma.
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