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UM PANORAMA SOBRE A USINAGEM POR ULTRASSOM Eduardo da Silva Santos Ian Bandeira Sampaio Luan Fernando Albuquerque dos Santos Mateus Medeiros Sousa Thalis Muiz de Melo Resumo: O artigo, em questão, objetiva apresentar um panorama geral do processo não convencional de usinagem por ultrassom, explicitando os principais conceitos desse processo, além das suas aplicações e características da ferramenta utilizada. Frente ao seu perfil teórico, foi realizado um levantamento bibliográfico em bases de artigos nacionais e internacionais, consultados livros que são referências do tema e a subsequente análise dessa literatura. Caracterizado por converter energia elétrica de alta frequência em vibrações mecânica e utilizar um líquido que contém grãos abrasivos, essa técnica se mostra muito indicada para materiais de grande dureza e frágeis e em processos que demandam precisão. É uma técnica que apresenta um alto custo de instalação, mas que pode proporcionar soluções inovadoras para os problemas industriais, proporcionando valor agregado à peça confeccionada e ao processo produtivo como um todo. Além disso, o tema da usinagem por ultrassom mostrou-se muito atual na literatura especializada, com vários artigos publicados recentemente. Palavras-chave: usinagem – não convencional – ultrassom – líquido abrasivo Abstract: The article, in question, aims to presente an overview of the unconventional process of use by ultrasound, explaining the main concepts of this process, in addition to the applications and resources used. In view of its theoretical profile, a bibliographic survey was carried out on the basis of national and internacional articles, consulted books that are references of the theme and subsequent analysis of this literature. Characterized by a high frequency electrical energy converter in mechanical vibrations and the use of a liquid that contains abrasive grains, this technique is a very suitable to be used in long- lasting and fragile materials and in processes that require precision. It is a tecnique that presentes a high cost of installation, but that can offer innovative solutions to industrial problems, addes value to the manufactured part and to the production process as a whole. In addition, the topic of ultrasound machining proves to be very current in the specialized literature, with several articles published recently. Keywords: machining – not conventional – ultrasound – abrasive liquid 1 INTRODUÇÃO Desde 1565, quando o primeiro torno foi construído, muitos aprimoramentos foram realizados na arte da usinagem. A Revolução Industrial, Graduando em Engenharia Mecânica no Centro Universitário Unifacvest. Endereço eletrônico: edasilvasantos13@gmail.com Graduando em Engenharia Mecânica no Centro Universitário Unifacvest. Endereço eletrônico: ianbasampaio@gmail.com Graduando em Engenharia Mecânica no Centro Universitário Unifacvest. Endereço eletrônico: luanquerque16@gmail.com Graduando em Engenharia Mecânica no Centro Universitário Unifacvest. Endereço eletrônico: mateusmedeirosme@gmail.com Graduando em Engenharia Mecânica no Centro Universitário Unifacvest. Endereço eletrônico: thalismm1@hotmail.com 2 iniciada no século XVIII gerou uma crescente demanda das empresas por usinar metais e ligas com resistência e dureza cada vez maiores. Além da necessidade de redução de custos, o desenvolvimento tecnológico criou as condições necessárias para inovações que levaram ao desenvolvimento de formas de usinagem não convencionais, dentre elas a usinagem por ultrassom. Baseada na descoberta do ultrassom por Marie Curie, em 1880, o processo de usinagem por ultrassom foi primeiramente usado em 1945 quando L. Balamuth fez a primeira patente do processo. Como uma técnica não convencional de usinagem, ela é indicada quando os processos convencionais se mostram ineficazes. Sua principal aplicação está em materiais com alta dureza, frágeis e quando se necessita de um bom grau de acabamento e precisão. Frente às suas características peculiares, a usinagem por ultrassom se mostra relevante no contexto tecnológico atual. Partindo disso, o artigo em questão objetiva apresentar um panorama geral sobre a usinagem não convencional por ultrassom. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico com a subsequente apresentação dos conceitos que permeiam o tema. Um enfoque importante foi a apresentação das principais aplicações dessa técnica, evidenciando suas vantagens e desvantagens e as características principais desse processo. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Processos de usinagem não convencional Denomina-se processo de usinagem não convencional, os processos que são utilizados quando a usinagem convencional não pode ser usada ou quando existem condições específicas em termos de geometria, dimensões, acabamento e tipo de material que exigem um modelo de peça muito específica. Eles se diferenciam dos tradicionais por usarem maquinários diferentes e não utilizarem de ferramenta de corte afiada (GROOVER, 2013), além de fontes de energia térmica, elétrica, química ou com a combinação delas. Assim, como os processos tradicionais, a usinagem não convencional, também, tem por objetivo remover o cavaco do material definindo as suas formas e dimensões necessárias, porém, nos processos convencionais a forma 3 de remoção do cavaco ocorre por meio de cisalhamento, enquanto nos processos não convencionais ocorre por meio da erosão, reações químicas ou eletrolíticas e por fusão e/ou vaporização (CASARIN, 2018). Diferente dos processos convencionais que utilizam ferramentas com geometria definida, as ferramentas utilizadas em usinagem não convencional apresentam geometria indefinida e por causa das suas peculiaridades, normalmente, os processos não convencionais são mais custosos (CASARIN, 2018). Os processos não convencionais podem ser classificados em quatro tipos principais, de acordo com os estudos de Chiaverini (1986) e Kataria et.al. (2016): (1) processos baseados em energia mecânica, como o caso do jato abrasivo, jato d’água, jato d’água abrasivo, usinagem por fluxo abrasivo e ultrassônico; (2) processo baseados em energia eletroquímica; (3) processos baseados em energia química; e, por fim (4) processos baseados em energia termoelétrica, como a descarga elétrica, o laser e o arco-plasma. Indo além dessas diferenciações, pode-se notar que distinções no que tange a aplicação. Enquanto os processos que usam a energia mecânica e termoelétrica são usados na usinagem de materiais condutores, os processos que usam energia química e eletroquímica são indicados na usinagem de peças delicadas. Já os processos que usam energia termoelétrica são recomendados para a microusinagem (CASARIN, 2018). Dentre os processos citados, o artigo em questão devotará maior atenção ao processo de usinagem não convencional por ultrassom. 2.2 Processo de usinagem por ultrassom A usinagem não convencional por ultrassom, também denominada de usinagem ultrassônica, se caracteriza pela utilização de um líquido abrasivo ou uma pasta que preenche a peça a ser usinada e uma ferramenta vibratória (em aços carbonos ou aços inoxidáveis) que atua em baixa e alta frequência. A ferramenta vibra (ultrassom) em amplitudes de cerca de 12-50 µm e as frequências são de aproximadamente 20 kHz a 100 kHz contra os abrasivos (KATARIA, et.al., 2016), não tendo contato com a peça a ser usinada. Por causa da colocação desse abrasivo, a ferramenta vibratória não necessita de alta dureza, podendo ser feita por um material de fácil usinagem (CASARIN, 2018; GROOVER, 2010). 4 Assim, o processo de ultrassom parte da transformação de energia elétrica de alta frequência em vibrações mecânicas, por meio de um transdutor, em contato com os líquidos abrasivo, e são amplificadas mecanicamentee transmitidas para uma porta-ferramenta chamada de sonotrodo (KATARIA, et.al., 2016). Esse sonotrodo é formado por uma barra metálica, na qual se ativa as vibrações ultrassonoras, no sentido do eixo e em cuja ponta é fixada a ferramenta. A figura abaixo ilustra esquematicamente o processo de usinagem por ultrassom. O líquido abrasivo, denominado de “lama química” é o responsável pelo processo. Nesse contexto, ocorre o processo de usinagem abrasiva, ou seja, a colocação de produtos abrasivo nas superfícies das peças. Esses líquidos contêm pequenos grãos que atuam na remoção de materiais. Eles são muito indicados no corte de materiais muito duros ou para polir o aço (CASARIN, 2018; GROOVER, 2010). Os principais líquidos abrasivos utilizados são nitreto de boro, carboneto de boro, óxido de alumínio, carboneto de silício e o diamante (KATARIA, et.al., 2016). A usinagem por ultrassom é muito indicada para materiais frágeis, de elevada dureza, alta resistência mecânica, materiais metálicos não ferrosos, maus condutores, não metálicos e em situações em que se deseja um bom grau de acabamento em peças delicadas e de forma complexa (CASARIN, 2010). Ela é indicada para áreas com superfícies inferiores a 1000 m², onde podem ser produzidas cavidades rasas e cortes. Exemplos de utilização dessa técnica se encontra na usinagem de materiais cerâmicos, vidros e diamante. De forma específica, pode-se Figura 1 – Esquema de Usinagem por ultrassom Fonte: SOUZA apud CASARIN, 2010 5 citar a usinagem do óxido de alumínio para a fabricação de circuitos eletrônicos e fabricação de pistões de nitreto de silício compactados a quente. As cavidades opostas às válvulas podem ser feitas por usinagem ultrassônica. Pode-se citar, também, a aplicação em componentes de joalheria, plaquetas de circuitos eletrônicos e furos em insertos para alocação de sensores. Por fim, pode-se apontar a utilização da usinagem ultrassônica para produzir superfícies tridimensionais. Um aspecto importante da aplicação dessa técnica de usinagem é o fato de poder ser usada quando é necessário evitar qualquer tipo de contaminação na usinagem, já que se evita o contato a ferramenta vibratória com a peça. Assim, ela pode ser uma aliada na usinagem de materiais para a indústria médica e odontológica. Diferente de outros processos não convencionais, ela não provoca alterações na estrutura interna do material a ser usinado. Porém, dentre as desvantagens, ela apresenta uma velocidade de usinagem baixa (CASARIN, 2018), em comparação às demais, acarretando em maior tempo de usinagem. Outras desvantagens desse processo estão na pouca porcentagem de remoção de metal e na dificuldade em perfurar buracos profundos, além do seu alto custo de instalação. Na tabela abaixo estão ilustradas as principais diferenças entre os processos convencionais e a usinagem por ultrassom: Tabela 1 – Diferença entre processos convencionais de usinagem e o ultrassom Características Processos convencionais Ultrassom Natureza energética Mecânica Mecânica Agente de corte Cunha de corte Martelamento Remoção de material Cisalhamento Erosão Alterações na estrutura cristalina Não ocorre Não ocorre Custo inicial de instalação Variável de acordo com a precisão e o porte da máquina alto Grau de acabamento Variável de acordo com o processo usado Bom Materiais metálicos não ferrosos Aplicável Aplicável Materiais mau condutores e não metálicos Aplicável Aplicável Formas complexas Apresentam muitas limitações Aplicável Peças delicadas Apresentam muitas limitações, dependendo do processo Aplicável Microusinagem Não indicado Indicado 6 Materiais duros e frágeis Em materiais muito duros é possível somente por abrasão Indicado Fonte: CASARIN, 2018 Uma máquina de ultrassom para usinagem é constituída, em linhas gerais, pelos seguintes componentes: (1) gerador de corrente de baixa frequência; (2) conversor eletroacústico que consiste de um transdutor eletroacústico (dispositivo que transforma as oscilações elétricas em ondas ultrassonoras); (3) amplificador, usualmente feito de titânio, responsável por transmitir e aumentar as amplitudes das vibrações do transdutor no qual está fixado; (4) ferramenta de usinagem, intercambiável, podendo ser oca ou maciça e, por fim, (5) o líquido abrasivo. As ferramentas de máquinas de ultrassom podem ser classificadas da seguinte forma: (1) Rotary Ultrasonic vibration machining (RUM), caracterizada pela adoção de uma ferramenta rotatória vertical pode girar em torno do eixo do sonotrodo e (2) Chemical-Assisted USM, nessa máquina um fluido abrasivo químico reativo é usado no processo (NAGENDRA, et.al., 2019) 3 METODOLOGIA Esse artigo apresenta um perfil teórico e por isso, para realizar a pesquisa foi feito um levantamento bibliográfico da literatura especializada. Para tanto, foram consultadas bases de artigos, como o Scielo, o Portal de Periódicos da Capes e o Research Gate. Focou-se em uma literatura mais atual, principalmente da última Fonte: https://www.nei.com.br/centro-de- usinagem-ultrasonic-20-linear-2nd- generation-dmg-mori/pg/8Zk3PAnRG Figura 2 - Centro de Usinagem Ultrasonic 20 Linear 2nd Generation - DMG Mori https://www.nei.com.br/centro-de-usinagem-ultrasonic-20-linear-2nd-generation-dmg-mori/pg/8Zk3PAnRG https://www.nei.com.br/centro-de-usinagem-ultrasonic-20-linear-2nd-generation-dmg-mori/pg/8Zk3PAnRG https://www.nei.com.br/centro-de-usinagem-ultrasonic-20-linear-2nd-generation-dmg-mori/pg/8Zk3PAnRG 7 década, e que focassem nesse tipo específico de usinagem. Para nortear a pesquisa, foram consultados livros de engenharia mecânica que apresentam os conceitos e teorias abrangentes sobre usinagem não convencional. Depois desse levantamento, a pesquisa foi organizada com a apresentação, primeiramente, dos conceitos gerais sobre usinagem não convencional, seguida pela apresentação da usinagem por ultrassom, demonstrando, as suas principais aplicações, dando ênfase nas vantagens e desvantagens dessa técnica. Por fim, serão apresentados os principais equipamentos dessa técnica. 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Feita a pesquisa teórica sobre o processo de usinagem não convencional por ultrassom pode se constatar que, apesar de ter surgido em 1945, esse processo ainda não é usado em sua plenitude na indústria e passou a ganhar mais destaque recentemente. Os estudos dessa técnica demonstram que suas aplicações ainda estão sendo testadas. Esse cenário é favorecido pelo surgimento de novos materiais a ser usinado. Um exemplo é a usinagem da cerâmica. Com utilização crescente na indústria, a cerâmica é muito indicada para ser usinada por meio de ultrassom por causa das suas características. Assim, a utilização crescente dessa matéria-prima, gera a necessidade de maior utilização da usinagem por ultrassom. Em linhas gerais, a usinagem por ultrassom se caracteriza por transformar energia elétrica de alta frequência em energia mecânica, por meio de vibrações. Sua capacidade de usinagem reside na utilização de um líquido que contém grãos abrasivos, os quais serão responsáveis pela a abrasão da peça. Sua indicação é voltada, principalmente, para materiais frágeis, de elevada dureza e elevada resistência mecânica. A capacidade de usinar com precisão faz com que a usinagem por ultrassom seja muito utilizada em processos que demandam rigor na usinagem ou apresentam uma geometria muito específica. Assim, apesar do custo elevado da sua instalação, a usinagem por ultrassom apresenta benefícios ao atender demandas específicas das indústrias, solucionando possíveis problemas com a adoção de novas peças que atendem de forma muito peculiar o processo produtivo. Esse contexto pode gerar aumento do valor agregado do serviço prestado ou no produto final produzido. Porém, essa precisãotem o “custo” da velocidade de 8 usinagem baixa, fazendo com que os processos demandem mais tempo para serem produzidos. Além da precisão que essa técnica gera, a usinagem por ultrassom pode manter a integridade da peça, reduzindo as perdas do processo de usinagem. Além disso, ela apresenta a possibilidade de evitar possíveis contaminações, podendo desenvolver equipamentos para áreas da saúde. 5 CONCLUSÃO Nas páginas anteriores foi realizada uma pesquisa teórica sobre a usinagem não convencional por ultrassom apresentando suas principais características e aplicações. Constatou-se a grande relevância desse processo para a indústria, principalmente por causa das suas características particulares como a precisão e a capacidade de usinar materiais frágeis e com alta resistência. A quantidade de publicações recente existentes, principalmente em língua inglesa, evidenciam a importância que essa técnica apresenta no contexto industrial internacional atual. Concomitante, esse contexto evidencia as possibilidades futuras de aplicação dessa técnica a partir das crescentes demandas por novos materiais e novas soluções no vasto campo da usinagem. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASARIN, Samuel José. Manufatura mecânica: usinagem. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. CHIAVERINI, Vicente. Tecnologia Mecânica – processos de fabricação e tratamento. Vol. 2, 2°ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1986. GROOVER, Mikell P. Fundamentals of Modern Manufacturing. 4° ed. Nova Jersey: John Wiley & Sons, 2010 KATARIA, Ravinder; KUMAR, Jatinder; PABLA, B.S. A review on ultrasonic machining. International Journal of Emerging Trends in Research. Volume 1, Issue 2, pp. 24-34, 2016 9 KUMAR, Jatinder; KHAMBA, J. S. An experimental study on ultrasonic machining of pure titanium using designed experiments. J. Braz. Soc. Mech. Sci. & Eng., Rio de Janeiro, v. 30, n. 3, p. 231-238, Set. 2008. NAGENDRA, A Raikar; RAMASHIVA, R.; YATHISH, N.; NANJUNDESWARASWAMY, T. S. Ultrasonic Machining Process. International Research Journal of Innovations in Engineering and Technology (IRJIET), Volume 3, Issue 11, pp 82-89, November 2019. WANG, Jingsi. Ultrasonic Machining: A Total Mechanical Machining Technology Using Loose Abrasive Particles. In RUDAWASKA, Anna (org.) Abrasive Technology – Characteristics and Applications. London: Intechopen, 2018
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