Buscar

Efeitos de sentido das charges e tirinhas no livro didático de língua portuguesa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

32
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS
CAMPUS I – ARAPIRACA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUAGEM
Maria Sara Alves Rodrigues
OS EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS PELAS CHARGES E TIRINHAS NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO 
				
ARAPIRACA – AL
2020
MARIA SARA ALVES RODRIGUES
OS EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS PELAS CHARGES E TIRINHAS NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO 
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado ao Curso de Linguagem da Universidade Estadual de Alagoas, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Linguagem. 
Orientadora: Profa. Dr. Ahiranie Sales Manzoni
					
ARAPIRACA – AL
2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS
CAMPUS I – ARAPIRACA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUAGEM
MARIA SARA ALVES RODRIGUES
OS EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS PELAS CHARGES E TIRINHAS NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO 
Monografia apresentada ao Curso de Linguagem da Universidade Estadual de Alagoas, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Linguagem. 
Banca Examinadora:
__________________________________________
Orientadora Profa. Dr. Ahiranie Sales Manzoni
__________________________________________
Profa. 
__________________________________________
Profa. 
Arapiraca – Al, de 2020.
DEDICATÓRIA
Dedico a Deus que com sua infinita sabedoria foi um verdadeiro guia nessa minha jornada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por todas as bênçãos concedidas, sem Ele eu não seria capaz de ter chegado até aqui.
A meus pais, Josevaldo e Valdirene, por terem se esforçado para garantir o meu futuro, pela minha criação, pelo incentivo e encorajamento diante dos obstáculos no caminho.
Ao meu noivo, Jônatas, pelo amor, motivação e ajuda, nos momentos em que mais precisei.
A minha família e amigos, que sempre anseiam pela minha felicidade e sucesso.
A minha orientadora, professora Ahiranie, pela contribuição na minha formação, pelo apoio e ajuda no desenvolvimento desse trabalho.
A minha turma do curso de Especialização em Linguagem, pelos momentos compartilhados nesse percurso.
A todos os professores, que contribuíram de alguma forma em minha formação ao decorrer da Especialização.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para que essa etapa fosse concluída com sucesso, obrigada!
“Quem me dera ao menos uma vez
 que o mais simples fosse visto
 como o mais importante, mas nos 
 deram espelhos e vimos um mun-
 do doente...” 
(Legião Urbana – Índios)
RESUMO
Diante da crescente inserção do trabalho em sala de aula com as charges e tirinhas, buscaremos a partir deste trabalho nos deter nos aspectos teóricos baseados na Análise Discursiva de origem francesa, para compreender como o docente poderia inserir esse uso de maneira efetiva em suas aulas. Visto que, o trabalho em sala de aula que envolve a utilização das tirinhas e charges possibilita ao professor trabalhar a respeito dos problemas sociais que podem ser debatidos em sala de aula. Desse modo, apresentou-se um problema: Como o docente poderia inserir o uso das charges e tirinhas como um recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula? Com base nessa problemática, o presente trabalho tem como objetivo analisar os possíveis efeitos de sentido presentes nas tirinhas e charges selecionadas em livros didáticos de uma coleção específica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e pesquisa em documentos extraídos em meio eletrônico (entre eles páginas da internet e artigos). Para o referencial teórico dessa pesquisa, foram utilizados os autores: Florêncio et al. (2009), Garcia (2007), Gregolin (2007), Orlandi (2002), dentre outros. Onde foi possível perceber com este trabalho, que o docente pode trabalhar as percepções críticas e estimular a análise discursiva dos gêneros, podendo apresentar aos alunos o contexto histórico em que a charge ou a tirinha estão inseridas, visando mostrar as relações sociais e a incentivar a compreensão do aluno, atribuindo as concepções de mundo de cada um, conforme a perspectiva social. Assim, a partir das análises feitas das charges e tirinhas, percebe-se que só ocorre a compreensão através da percepção do que já é conhecido, levando em consideração o conhecimento histórico que está relacionado com os já-ditos, isto é, com os discursos que estão nas formações discursivas, criadas a partir do contexto em que os sujeitos estão inseridos.
Palavras-chave: Análise Discursiva. Efeitos de sentido. Charges, Tirinhas.
ABSTRACT
In view of the increasing insertion of work in the classroom with cartoons and comic strips, we will seek from this work to stop us in the theoretical aspects based on the Discursive Analysis of French origin, to understand how the teacher could effectively insert this use in his classes. Since, the work in the classroom that involves the use of comic strips and cartoons allows the teacher to work on the social problems that can be discussed in the classroom. Thus, a problem was presented: How could the teacher insert the use of cartoons and comic strips as a resource for the work of criticality and stimulus for discursive analysis in the classroom? Based on this problem, the present work aims to analyze the possible effects of meaning present in the comic strips and cartoons selected in textbooks of a specific collection. It is a bibliographic research and research in documents extracted in electronic medium (among them web pages and articles). For the theoretical framework of this research, the authors: Florêncio et al. (2009), Garcia (2007), Gregolin (2007), Orlandi (2002), among others, were used. Where it was possible to perceive with this work that the teacher can work on critical perceptions and stimulate the discursive analysis of genders, being able to present to the students the historical context in which the cartoon or comic strip is inserted, aiming to show social relations and encourage the understanding of the student, attributing the conceptions of each one's world, according to the social perspective. Thus, from the analyses made of the cartoons and comic strips, it is perceived that only understanding occurs through the perception of what is already known, taking into account the historical knowledge that are related to the already-said, that is, with the discourses that are in the discursive formations, created from the context in which the subjects are inserted.
Keywords: Discursive Analysis. Effects of meaning. Cartoons, Comic Strips.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AD – Análise Discursiva
CF – Constituição Federal
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
SUS – Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
1 - A ANÁLISE DO DISCURSO DE ORIGEM FRANCESA..............................................12
1.1 Discurso..............................................................................................................................14
1.2 Sujeito.................................................................................................................................16
1.3 Ideologia..............................................................................................................................17
1.4 Condições de produção........................................................................................................18
1.5 Dito, não dito e silenciado....................................................................................................191.6 Efeitos de sentido.................................................................................................................20
2 - A INSERÇÃO DAS CHARGES E TIRINHAS COMO UM RECURSO PARA O TRABALHO DA CRITICIDADE E ESTÍMULO PARA A ANÁLISE DISCURSIVA EM SALA DE AULA......................................................................................................................23
2.1 A importância de ressaltar a relação entre o verbal e o não verbal......................................25
2.2 Os sentidos presentes nas charges e tirinhas........................................................................26
3 - ANÁLISE DISCURSIVA DOS GÊNEROS TIRINHA E CHARGES EM LIVROS DIDÁTICOS............................................................................................................................30
3.1 Caracterização da pesquisa..................................................................................................30
3.2 Análises...............................................................................................................................30
3.2.1 Análise da Primeira Tirinha..............................................................................................30
3.2.2 Análise da Segunda Tirinha..............................................................................................32
3.2.3 Análise da Terceira Tirinha...............................................................................................32
3.2.4 Análise da Primeira Charge..............................................................................................33
3.2.5 Análise da Segunda Charge..............................................................................................35
3.2.6 Análise da Terceira Charge...............................................................................................36
3.2.7 Análise da Quarta Charge.................................................................................................37
CONCLUSÃO.........................................................................................................................39
REFERÊNCIAS......................................................................................................................41
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como propósito analisar os efeitos de sentido presentes nos gêneros tirinha e charge em uma coleção de livros didáticos de Língua Portuguesa do Ensino Médio. O uso dos gêneros tirinha e charge como objetos de ensino nos livros didáticos tem aumentado consideravelmente, podendo associar o ensino, a reflexão e a criticidade. Esses gêneros apresentam textos verbais e não verbais, fazendo com que o leitor raciocine, argumente, interprete e analise os conceitos que estão ocultos neles, inserindo-o nas relações sociais, desenvolvendo-se como sujeito proficiente e crítico.
Podendo observar as diversas e amplas formas de produção de sentido que as charges e tirinhas presentes em livros didáticos trazem em sala de aula e a importância do surgimento de discussões sobre temas presentes em nossa sociedade, surgiu então um anseio específico pelo estudo e investigação dos efeitos de sentido presentes nos gêneros tirinha e charge em uma coleção de livros didáticos de Língua Portuguesa do Ensino Médio.
O discurso presente nas tirinhas analisadas caracteriza críticas de forma humorística, trazendo determinado fato social. Nas charges são apresentadas na maioria das vezes sátiras de acontecimentos atuais, trazendo uma crítica aos valores sociais. Os efeitos de sentido que são criados vão além do que está exposto no discurso, visto que as tirinhas e as charges reproduzem situações, permitindo novas possibilidades de significação para aquilo que já é conhecido.
Diante do que foi exposto, propomos neste trabalho analisar os possíveis efeitos de sentido presentes nas tirinhas e charges selecionadas, além de verificar a relação do verbal e não verbal na produção de sentido. Mostrando assim, para os profissionais da educação, o quanto é relevante adotar e aplicar em suas aulas esses gêneros e instigar os discentes a enxergar além do que está exposto, levantando questões e discussões reflexivas. Surgindo então o seguinte problema: Como o docente poderia inserir o uso das charges e tirinhas como um recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula? A hipótese elaborada é a de que o docente pode trabalhar as percepções críticas e estimular a análise discursiva dos gêneros, podendo apresentar aos alunos o contexto histórico em que a charge ou a tirinha estão inseridas, visando mostrar as relações sociais e a incentivar a compreensão do aluno, atribuindo as concepções de mundo de cada um, conforme a perspectiva social. Assim ele pode levantar possíveis discussões entre as análises feitas por cada aluno, pois os enunciados despertarão opiniões e valores diversos sobre determinada temática social. Enriquecendo a metodologia de ensino, no sentido de garantir não somente a problematização dos conteúdos que estão presentes em cada um desses gêneros, mas permitindo também a valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes.
A partir desse problema e hipótese elaborados, temos como objetivo geral: analisar os efeitos de sentido produzidos por tirinhas e charges em livros didáticos de uma coleção específica. E como objetivos específicos: destacar a relação entre o verbal e não verbal; identificar o sujeito do discurso nas charges e tirinhas; compreender as relações de sentido presentes no discurso; estudar as categorias da AD que permitam chegar ao que está silenciado nos discursos das charges e das tirinhas; refletir sobre as questões sociais apresentadas e a problematização em sala de aula.
Para obter os objetivos desse trabalho, será realizada a pesquisa bibliográfica, na busca de enriquecer e fundamentar o estudo. Esse trabalho é baseado na corrente teórica da análise do discurso de linha francesa, mais precisamente, nas formulações de Pêcheux e Eni Orlandi. 
Quanto à estrutura, o trabalho foi dividido em três capítulos: o primeiro intitulado - A análise do discurso de origem francesa - que faz uma breve síntese sobre o seu surgimento, a sua definição, objetivos, relevância, categorias, o procedimento entre o dito, não dito e silenciado e os efeitos de sentido. 
O segundo capítulo - A inserção das charges e tirinhas como um recurso para o trabalho da criticidade e estímulo da análise discursiva em sala de aula – tenta compreender como o docente pode utilizar esses gêneros como recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula, ressaltando a relação do verbal e não verbal e trabalhando os efeitos de sentido produzidos. 
E o terceiro e último capítulo - Análise discursiva dos gêneros tirinha e charges em livros didáticos – traz a caracterização da pesquisa e as análises dos gêneros textuais tirinha e charge em uma coleção de livros didáticos de língua portuguesa do Ensino Médio
Por fim, apresentaremos as considerações finais, em que mostraremos que as análises da compreensão de sentido das charges e tirinhas analisadas só ocorrem através da percepção do que já é conhecido, levando em consideração o conhecimento histórico que está relacionado com os já-ditos, isto é, com os discursos que estão nas formações discursivas, criadas a partir do contexto em que os sujeitos estão inseridos.
1- A ANÁLISE DO DISCURSO DE ORIGEM FRANCESA
Falaremos brevemente, da origem, da definição e da relevância da Análise do Discurso Pecheutiana de origem francesa, que daqui em diante será abreviada por AD. Sabe-se que a AD surgiu na França, nos anos 1960, tomando o discurso como seu objeto de estudo, a partir de três segmentos do conhecimento: a linguística, o marxismo e a psicanálise. E foram os estudos de Michel Pêcheux que permitiram uma base teórico-metodológica para o desenvolvimento da disciplina. 
Michel Pêcheux nasceu em Tours em 1938 e morreu em Paris em 1983. Ele é o fundadorda Escola Francesa de Análise do Discurso que teoriza como a linguagem é materializada na ideologia e como esta se manifesta na linguagem. Concebe o discurso como um lugar particular em que esta relação ocorre e, pela análise do funcionamento discursivo, ele objetiva explicitar os mecanismos da determinação histórica dos processos de significação. (ORLANDI, 2005, p. 10)
Nesse contexto, Silva e Araújo (2016, p. 18) trazem que “A Análise do Discurso é uma vertente da linguística que se ocupa em estudar o discurso e como tal, evidencia a relação entre língua, discurso e ideologia”. Ao propor o estudo do discurso, a AD procura enxergar a língua não apenas como uma forma de comunicação ou recepção de informações, mas a língua numa perspectiva discursiva que procura os fatores ideológicos e sociais.
De acordo com Florêncio et al. (2009, p.20), a partir da década de 1960, estudiosos começam a procurar compreender o fenômeno da linguagem, não mais focalizado na língua. Mas incluindo a fala, o sujeito e as relações sociais para as discussões linguísticas. 
Quatro nomes, fundamentalmente, estão no horizonte da análise do discurso derivada de Pêcheux e vão influenciar suas propostas: Althusser, com sua releitura das teses marxistas; Foucault, com a noção de formação discursiva, da qual derivam vários outros conceitos (interdiscurso; memória discursiva; práticas discursivas etc.); Lacan e sua leitura das teses de Freud sobre o inconsciente; Bakhtin e o fundamento dialógico da linguagem, que leva a AD a tratar da heterogeneidade constitutiva do discurso. A natureza complexa do objeto discurso – no qual confluem a língua, o sujeito, a história – exigiu que Michel Pêcheux propusesse a constituição de um campo em que se cruzam várias teorias, um campo transdisciplinar (GREGOLIN, 2007, p.14).
A AD de origem francesa é uma ferramenta utilizada para analisar discursos, sejam eles orais ou não, buscando, neles, os possíveis sentidos que trazem ou podem trazer, sem deixar de considerar o sujeito, sua história, a ideologia e o contexto social no qual este sujeito está inserido. Para construir a concepção de discurso, Pêcheux ampara-se criticamente em Saussure, reconhecendo nele o ponto de origem da ciência linguística. De acordo com Gregolin (2007, p.13):
A análise do discurso (AD) é um campo de estudo que oferece ferramentas conceituais para a análise desses acontecimentos discursivos, na medida em que toma como objeto de estudos a produção de efeitos de sentido, realizada por sujeitos sociais, que usam a materialidade da linguagem e estão inseridos na história. 
	
	Fica claro que os sentidos são alcançados através da relação entre sujeito, história e linguagem. A produção dos discursos será determinada por algumas condições, que levam em consideração o contexto do qual emerge o discurso. Nessa perspectiva, Florêncio et al. (2009, p.76) traz que “A relação entre o já-dito e o que se diz, melhor dizendo, entre sentidos anteriormente constituídos e uma formulação atual é o que a AD vai denominar de Interdiscurso e Intradiscurso, respectivamente ”. Assim, compreende-se que o processo discursivo que busca os ditos do discurso é a AD, que busca o interdiscurso (já dito), nas bases do dizível (intradiscurso).	
É impossível pensar em já-dito, na AD, sem pensar em memória discursiva. O sujeito, ao produzir um enunciado, toma as palavras presentes no interdiscurso e, a partir do esquecimento, se sente origem daquele discurso. A AD não considera os indivíduos como livres para dizer o que quiserem, com intenções dirigidas por plena consciência. A noção de sujeito da AD é de um sujeito constituído pela língua, pela história, pela ideologia e pelo esquecimento. Não há, nessa perspectiva, como afirmam, alguns estudiosos de AD, discurso sem ideologia, assim como, não há discurso que não tenha ou apresente a influência de outros, visto que todos eles nascem a partir da perspectiva de suas relações com outros discursos. Segundo Orlandi (2002, p.26):
Em suma, a Análise de Discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica em explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se assim novas práticas de leitura.
	
A AD pretende compreender a produção de sentidos de um dado objeto e suas diversas significâncias para os sujeitos, pois o sentido não é algo já determinado no discurso, mas algo desenvolvido a partir da relação entre a história, a língua e as experiências. E através da compreensão manifesta a organização do texto na relação sujeito e sentido. 
A Análise do Discurso visa fazer compreender como os objetos simbólicos produzem sentidos, analisando assim os próprios gestos de interpretação que ela considera como atos no domínio simbólico, pois eles intervêm no real do sentido. A Análise do Discurso não estaciona na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de interpretação. Não há esta chave, há método, há construção de um dispositivo teórico. Não há uma verdade oculta atrás do texto. Há gestos de interpretação que o constituem e que o analista, com seu dispositivo, deve ser capaz de compreender (ORLANDI, 2002, p.26).
A AD afirma que os sentidos só são possíveis a partir de sua materialização na linguagem. Então a língua é entendida como uma forma material de chegar ao sujeito. E através do discurso surgirá a compreensão de como um material simbólico produz sentidos e como o sujeito se estabelece.
Para Florêncio et al. (2009, p.23), “Essa é a função da AD: explicar os caminhos do sentido e os mecanismos de estruturação do texto. Ou seja: explicar porque o texto produz sentido; não os sentidos contidos no texto ”.
Compreender a AD, quer dizer, tentar entender e explicar como se constrói o sentido de um texto e como esse texto se relaciona com a história e a sociedade que o produziu. Atualmente a AD pode tornar-se uma importante ferramenta de trabalho no ensino de língua portuguesa, pois apresenta o caminho para a reflexão sobre a estrutura e a produção do sentido do texto. Por meio da AD, o docente pode orientar os alunos na descoberta das informações que podem levá-los à compreensão dos sentidos, encontrando assim as marcas estruturais e ideológicas dos textos. A compreensão do discurso pode enriquecer a metodologia de ensino nas atividades produzidas em sala de aula na medida em que possibilita trabalhar com vários gêneros textuais como a notícia, a charge, a tirinha etc. Esses textos certamente ajudarão no trabalho de resgatar o discurso dos alunos, levando-os a construir seus próprios textos estimulando a criatividade e criticidade. Por isso, vamos a posteriori estudar as categorias da AD que permitem chegar ao que está silenciado nos discursos das charges e das tirinhas, compreendendo as relações de sentido que estão presentes no discurso.
1.1 Discurso
	O discurso vai se referir a utilização da língua em um determinado contexto histórico e social, precisamos associar os fatores extralinguísticos ao contexto da produção de um discurso, onde perceberemos a produção de sentido, na definição de uma formação ideológica. De acordo com nosso âmbito social, temos contato com a formação discursiva própria do grupo que estamos inseridos. Essa formação se torna a base dos discursos que produzimos, mesmo que não tenhamos consciência disso. Ele não será neutro, ele parte de uma situação dotada de formações ideológicas e discursivas. Então, de acordo com Silva e Rodrigues (2017, p.10) “É na formação discursiva que o analista vai se deparar com a constituição do sujeito, dos sentidos e as ideologias que predominam”.
Existe uma relação indispensável entre o discurso e o texto, porque todo texto está ligado ao discurso que lhe deu origem. A forma como um determinado texto evidencia um discurso específico é o que define o seu caráter subjetivo.O autor tem seu olhar e ideias particulares sobre determinados temas e tem sua posição como sujeito, mas nunca terá liberdade total em sua produção, pois sofre a influência do grupo social que está inserido, que de alguma forma irá refletir na sua ideologia. O autor produz então sentidos, enquanto sujeito e enquanto membro da sociedade.
Os textos individualizam – com unidade – um conjunto de relações significativas. Eles são assim unidades, complexas, constituem um todo que resulta de uma articulação de natureza linguístico-histórica. Todo texto é heterogêneo: quanto à natureza dos diferentes materiais simbólicos (imagem, som, grafia etc.); quanto à natureza das linguagens (oral, escrita, científica, literária, narrativa, descrição etc); quanto às posições do sujeito. (ORLANDI, 2002, p.70)
Todo texto faz referência a determinadas circunstâncias de caráter cultural, político, social, que precisam ser conhecidas pelos seus interlocutores para a construção de sentido do texto. No discurso, devemos reconhecer as referências expostas e resgatar possíveis pressupostos, levando em consideração também o conjunto de informações recuperadas. Para a produção de sentidos, o interlocutor necessita compreender as referências contextuais. Orlandi (2002, p.30) ressalta que:
Os dizeres não são, como dissemos, apenas mensagens a serem decodificadas. São efeitos de sentidos que são produzidos em condições determinadas e que estão de alguma forma presentes no modo como se diz, deixando vestígios que o analista de discurso tem de aprender. São pistas que ele aprende a seguir para compreender os sentidos aí produzidos, pondo em relação. 
	A AD procura a compreensão do processo discursivo. Então, a função do analista de discurso não é interpretar, mas compreender como o discurso funciona, como ele produz sentidos. Nem sempre o discurso trará explícitos todos elementos que participam da construção do seu sentido. Na maioria das vezes para a compreensão do discurso é necessário descobrir o que não foi dito, mas está ali presente, o implícito. Em diferentes gêneros é possível encontrar exemplos de circunstâncias em que algo não dito participa da construção final do sentido. Por exemplo, a explicitação de um implícito em uma tira ou uma charge costuma ser uma condição necessária para compreender o efeito de sentido que trazem.
Compreender o que é efeito de sentidos, em suma, é compreender a necessidade da ideologia na constituição dos sentidos e dos sujeitos. É da relação regulada historicamente entre as muitas formações discursivas (com seus muitos sentidos possíveis que se limitam reciprocamente) que se constituem os diferentes efeitos de sentidos entre locutores. (ORLANDI, 2007, p.21)
	Os sentidos dos discursos são possíveis em virtude da relação histórica e da memória discursiva. Diante disso, os sentidos são flexíveis e podem ganhar uma ressignificação de acordo com a situação. Na relação entre a historicidade com as formações discursivas são gerados diversos efeitos de sentido. Nessa mesma direção, Rosa et al. (2012, p. 148) apresentam que, “Assim, percebemos que os sentidos no discurso emanam exatamente dessa relação do sujeito com o meio social, com a história, com o seu tempo e com as influências a que é submetido, através da ideologia”.
	Em alguns casos, busca-se recuperar compreender o sentido do discurso através de informações fornecidas pelo mesmo. Uma vez resgatadas, são defrontadas com as concepções já conhecidas na realidade para fazer uma inferência, a partir daí será encontrado o sentido a partir de algo já conhecido. Em muitos textos, a compreensão do sentido pode depender dessa informação já conhecida do leitor e que está subentendida, sugerida pelo texto. Por exemplo, nos gêneros tirinha e charge podemos nos deparar com textos e imagens que nos provocam a sensação de estar diante de algo conhecido, mas para alguns pode ser incompreensível à primeira vista, sendo necessário analisar o texto e a imagem minuciosamente, para assim compreender o sentido que trazem. Então na AD é evidenciado como é importante ser capaz de fazer inferências, de reconhecer pressupostos e implícitos presentes no discurso, construídos a partir do contexto que o sujeito está inserido.
1.2 Sujeito
 O sujeito se constitui a partir das falas de outros sujeitos, então, o sujeito é resultado da interação de várias vozes, da relação com o social e ideológico. Na perspectiva da AD, o sujeito é permeado tanto pela ideologia quanto pelo inconsciente. Sendo assim, esse sujeito tem a ilusão de ser origem do seu discurso, mas segundo Silva e Araújo (2016, p.28), “O sujeito na AD não é dono do que diz, não é dono de seu discurso, é apenas o produtor dos dizeres possíveis”.
O sujeito é criado pela ideologia, dotado de inconsciente e sem liberdade discursiva. E por conta da inconsciência, o sujeito não tem alcance das condições de produção do próprio discurso. Em outras palavras, para a AD, o dizer do sujeito é determinado sempre por outros dizeres, isto é, todo discurso é determinado por um interdiscurso. Silva e Rodrigues (2017, p. 13) destacam que:
Ao enunciarmos marcamos espaço, um território na discursividade seja ela da religião, politica, família (ou qualquer outro aparelho ideológico) não nos damos conta do processo interpelatório (não sem uma abstenção e distanciamento para reflexão), pois cremos ter controle sobre o que somos (enquanto sujeito), sobre nossas escolhas e como nos relacionamos (discursivamente).
	
Então, como o enunciado é sempre produzido de um lugar determinado marcado por algum aparelho ideológico e a partir de uma certa posição do sujeito, logo, o sujeito será influenciado por uma relação social e ideológica, que levará a sua formação discursiva. Na mesma linha, Silva e Araújo (2016, p.23) trazem que:
O sujeito se coloca como a origem de tudo o que diz e busca rejeitar, apagar, de forma inconsciente, o que não está inserido na sua formação discursiva, o que lhe dá a ilusão de ser o criador absoluto de seu discurso, quando, na verdade, apenas retoma sentidos já— produzidos, partindo da influência que o inconsciente e a ideologia têm sobre ele.
O linguístico e o histórico são inerentes do processo de produção do sujeito do discurso e dos sentidos que o significam, o que permite concluir que o sujeito é um lugar de significação historicamente produzido. Descontrói-se então a ilusão de que o sujeito é a fonte do discurso e produtor de sentido, e compreende-se que ele é apenas um suporte. Salientando que o sujeito é assujeitado, assim, constituído pelo inconsciente e interpelado pela ideologia, além de absorvido no interior da história. 
	
1.3 Ideologia
As ideologias existentes em um discurso são desenvolvidas e influenciadas pelo contexto político-social em que o seu autor está inserido, onde surge a necessidade de entender e explicar como se constrói o sentido do discurso e como esse discurso se articula com a história e com a sociedade que o produziu. Conforme Orlandi (2007, p.20):
A ideologia se produz justamente no ponto de encontro da materialidade da língua com a materialidade da história. Como o discurso é o lugar desse encontro, é no discurso (materialidade específica da ideologia) que melhor podemos observar esse ponto de articulação. 
	
Materializando-se na linguagem, a ideologia é mostrada como o princípio norteador das matrizes de sentidos presentes nas formações discursivas. Através da linguagem os seres humanos expressam suas ideias, vontades e sentimentos. Em diferentes contextos e situações são produzidos discursos, cada discurso nasce da relação de diferentes agentes, mas sempre expressam características ideológicas próprias do contexto em que são produzidos. Cada classe social tem sua perspectiva de mundo, dos valores e das crenças, trata-se da sua ideologia. Ela é construída historicamente a partir de uma série de filtros ideológicos que construímos. A partir desses filtros é criada a formação ideológica, isto é, um conjunto de crenças e valores de acordo com o que avaliamos e vivenciamosno contexto em que estamos inseridos. Diante disso, o discurso é o espaço da materialização das formações ideológicas, sendo por elas determinado. Então para a compreensão da proposta da AD, Orlandi (2002, p. 70) afirma que:
Para compreender – como se propõe a análise de discurso – o leitor deve-se relacionar com diferentes processos de significação que acontecem em um texto. Esses processos, por sua vez, são função da sua historicidade. Compreender como um texto funciona, como ele produz sentidos, é compreendê-lo enquanto objeto linguístico-histórico, é explicar como ele realiza a discursividade que constitui. 
	
Uma das perspectivas principais da AD é o significado dado à noção de ideologia, trata-se de uma definição discursiva de ideologia, isto é, a compreensão de que a ideologia de acordo com Silva e Rodrigues (2017, p.9), “[...] possui caráter modelador das ações humanas, pois atua de forma inconsciente e nos leva a reproduzi-la, reforçá-la e a defendê-la. Um exemplo mais nítido é alcançado quando voltamos nos para o discurso religioso, político partidário, publicitário etc.”
	Assim como existem várias classes, existem também várias ideologias presentes na sociedade. A ideologia é, pois, uma perspectiva de mundo de determinada classe, a forma como ela representa a ordem social. Então os valores ideológicos de uma formação social estarão presentes e serão evidenciados no discurso por inúmeras formações discursivas.
1.4 Condições de produção
As condições de produção de um enunciado abarcam o sujeito, a memória e a situação. Segundo Silva e Rodrigues (2017, p. 13), “Em seu aspecto estrito é o contexto imediato que circunda o discurso (Quem enuncia? Pra quem enuncia? Qual a posição social? De qual aparelho de estado? Etc.), visto de modo amplificado podemos considerar esse discurso sob a égide da história”. Pode-se considerar as condições de produção em sentido estrito, ou seja, o contexto imediato e considerá-las em sentido mais amplo, abrangendo o contexto social, histórico e ideológico. 
O discurso irá variar de acordo com as condições de produção e o seu sentido irá depender da posição de quem fala, para quem fala, do lugar que fala. E conforme a análise dos enunciados apresentados poderá se expor as várias atribuições de significados e interpretações que produzem sentido em função das suas condições de produção, estimulando os leitores à análise de questões sociais, por exemplo. Então Silva e Araújo (2016, p.25), afirmam que a incumbência do analista é levar em conta as condições de produção que o interlocutor está assujeitado ideologicamente, determinando uma relação entre o discurso e o texto.
As condições de produção incluem os sujeitos e a posição social, pois as palavras significam de acordo com as formações ideológicas e as posições do sujeito, relacionadas às vozes presentes no discurso e inseridas em diferentes formações discursivas.
Silva e Rodrigues (2017, p. 16) trazem que, “Em suas duas apresentações as condições de produção são determinantes da constituição do sujeito bem como do sentido de seu discurso. E esses contextos norteiam o modo como todo e qualquer discurso se apresentará, na sua relação com o silêncio e o não dito”. 
É importante ressaltar também, que não tem um sujeito que tenha consciência daquilo que diz, porém, esse sujeito sempre produzirá um discurso de uma maneira e não de outra, conforme a formação ideológica em determinadas condições de produção. Pois de acordo com Silva e Araújo (2016, p.27), “O dizer não nasce no sujeito, nasce em determinado contexto. O sujeito é social, é histórico e cultural”.
O significado de alguma coisa, seja ela uma opinião, uma história, uma mensagem irá depender das condições de produção em que o sujeito e a história se relacionam nos processos de determinação, levando em consideração o silenciado e o não dito. Conclui-se, então, que analisar o discurso nada mais é que determinar as condições de produção do texto.
1.5 Dito, não dito e silenciado
É de grande relevância conduzir o dito em relação ao não dito, o que o sujeito diz em um lugar com o que é dito em outro lugar, o que é dito de uma maneira com o que é dito de outra maneira. Então para a AD, torna-se necessário que os sentidos possam ser lidos mesmo não estando explícitos no texto, sendo imprescindível que se leve em consideração tanto o que o texto diz quanto o que ele não diz, que é aquilo que se encontra implícito, não dito, mas dotado de significado. Então, nessa mesma direção, Florêncio et al. (2009, p. 85) apresentam em sua obra, Análise do Discurso: fundamentos e práticas, os conceitos:
a) dito: “[...] a materialidade discursiva apresenta uma forma que pretende dizer, um conteúdo”.
b) não dito: “[...] só poderá ser apreendido através do dito. Aqui os processos metafóricos, metonímicos, os lapsos, os equívocos, constituirão chaves das explicações”.
c) silenciado: “[...] o desvelamento do silenciado, que só acontece a partir do não dito, isto é, a partir da captação do interdiscurso que atravessa a materialidade discursiva, derivado das condensações e deslocamentos”.
	No discurso se inscreve o não dito, o que não é falado, mas que está presente. Logo, concluir que os sentidos vão além do que se encontra explícito no texto, carrega a necessidade de se considerar que as palavras ganham sentido a partir das formações discursivas nas quais são produzidas. Nessa mesma direção, Rosa et al. (2012, p.150) defendem que “É no silenciamento que buscaremos desvelar os sentidos que não estão na superficialidade do discurso (aparentes) ”.
	No caso do silêncio, para compreendê-lo, é necessário considerar os processos de construção dos sentidos e a historicidade. Depois da enunciação, o silêncio pode ser visto como o que deixou de ser dito, mas que também poderia ter sido dito. Então Silva e Rodrigues (2017, p.17), trazem que “Todo discurso carrega consigo uma margem de não ditos e se constitui a partir do silêncio, não silêncio inerente a ausência sonora, mas sim de significação”. A AD irá perguntar por aquilo que um texto silenciou e por que o fez.
	O que pretendemos com essa explanação, é expor a relação indissociável do discurso com os não-ditos e silêncios, posto que esses são integrantes das relações discursivas e fazem com que todo e qualquer dizer signifique e faça sentido, haja visto que, a presença/ausência caminham juntas, e se digo isso é para não dizer aquilo, ou fazer silenciar uma possiblidade de sentido que não é de interesse do “eu” enunciador, visto que o contexto imediato e sócio histórico ideológico não requerem o que fora silenciado (SILVA E RODRIGUES, 2017, p.18).
	Conclui-se que, não devemos compreender o silêncio como a falta ou como um implícito, que, estando entre o dito e o não dito, provém do sentido das palavras para significar. É preciso ir além das identificações de implícitos ou subtendidos, a fim de, notar o silêncio e suas maneiras de silenciar, sendo imprescindível perceber as condições de produção discursivas, assim como o contexto social e histórico de onde falam ou calam os sujeitos envolvidos na produção do discurso. 
	
1.6 Efeitos de sentido
A AD vai além da interpretação, existe um resgate das circunstâncias evocadas pelo discurso. Existe a busca pela compreensão não apenas da mensagem, mas do sentido. Porém, não há a busca de um único sentido dotado de verdade, pois existe uma construção de sentidos, dotados de construções ideológicas. Os sentidos serão alcançados através da relação entre sujeito, história e linguagem. 
Orlandi (2007, p.21) destaca que “uma mesma coisa pode ter diferentes sentidos para os sujeitos. E é aí que se manifestam a relação contraditória da materialidade da língua e a da história”. Sendo assim, compreende-se que cada sujeito poderá trazer um sentido diferente para uma determinada coisa, pois há diferentes formações discursivas, construídas a partir da historicidade e materializadas através da língua. Conforme Rosa et al. (2012, p.150) sobre os efeitos de sentido:
Efeitos de sentido e silenciamento são duascategorias que estão intrinsecamente relacionadas, o funcionamento de uma depende da outra. Ou seja, quando elaboramos/produzimos o discurso, que é repleto de sentidos, sempre colocamos em silêncio outros dizeres, outros sentidos. 
Orlandi (2002, p.27) aponta que as análises são diferentes porque trabalham com concepções diferentes e isso resultará na materialização. Um mesmo analista, que cria um argumento diferente, também poderia criar outras concepções, possibilitando diversas formas conceituais. 
Os enunciados surgem de diferentes campos associados e trazem consigo discursos que produzem diferentes efeitos de sentidos. De acordo com os diferentes efeitos de sentido existe a interação de ideias diferentes para a construção do sentido. Orlandi (2007, p.20) destaca então que:
Compreender o que é efeito de sentidos é compreender que o sentido não está (alocado) em lugar nenhum, mas se produz nas relações: dos sujeitos, dos sentidos, e isso só é possível, já que sujeito e sentido se constituem mutuamente, pela sua inscrição no jogo das múltiplas formações discursivas (que constituem as distintas regiões do dizível para o sujeito).
O sentido não tem um lugar determinado, mas sim é construído através das interações entre sujeito e sentido, exercendo uma relação de reciprocidade. A partir do jogo das múltiplas formações discursivas haverá a união entre sujeito e sentido, possibilitando uma visão ampla ao sujeito, advinda dos diferentes sentidos que ele absorve. Dito isso, a AD não vê os sentidos como algo dado, estável. Já que eles estão sempre se movimentando e se transformando, sendo flexíveis. Silva e Araújo (2016, p.18), defendem que “Dessa forma, podemos dizer que o discurso é o local onde se pode verificar a relação entre a língua e a ideologia, além de verificar como os efeitos de sentidos são gerados através dos enunciados”.
Orlandi (2007, p.22) traz também que “Falar em “efeitos de sentido” é, pois, aceitar que se está sempre no jogo, na relação das diferentes formações discursivas, na relação entre diferentes sentidos”. Sendo assim, é possível compreender a importância das diferentes formações discursivas, para se obter assim a compreensão da relação dos diferentes sentidos.
Os sentidos se darão a partir do lugar de onde estão sendo enunciados os discursos e também levam em consideração o sujeito que os enunciam, então os efeitos de sentido se constroem a partir das condições de produção discursivas, visto que esta produção depende do contexto e da situação. Silva e Rodrigues (2017, p.16) defendem que “Com isso verifica se que os sentidos são construídos pelo contexto de enunciação, cujas formações discursivas atuam como determinantes desses processos de construção, além é claro do contexto histórico”. Pois na perspectiva da AD, os sentidos são historicamente construídos, visto que uma parte relevante da atribuição de sentidos, necessita da época em que é construído, sendo assim, um discurso pode ter outra interpretação dependendo do contexto histórico.
Portanto, o discurso para a AD, não é visto como fala ou como texto, mas como um efeito de sentido entre os enunciadores, marcado pelos já-ditos, mas que está ligado a um sujeito de maneira inevitável. Logo, nem os sujeitos, nem os discursos e nem os sentidos estão prontos e finalizados. Eles se encontram num eterno processo de construção, no movimento constante da história. Diante disso, o leitor precisa interpretar e compreender o enunciado de acordo com os seus conhecimentos e vivências, pois ao produzir um discurso, o sujeito relaciona-o com o interdiscurso ou memória discursiva.
2- A INSERÇÃO DAS CHARGES E TIRINHAS COMO UM RECURSO PARA O TRABALHO DA CRITICIDADE E ESTÍMULO PARA A ANÁLISE DISCURSIVA EM SALA DE AULA
	Diante da crescente inserção do trabalho em sala de aula com as charges e tirinhas, buscaremos a partir deste momento nos deter nos aspectos teóricos baseados na AD de origem francesa, para compreender como o docente pode utilizar esses gêneros como recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula. 
	Nessa situação, a escola como um âmbito de interações sociais cumpre, então, um papel relevante pela sua ação de desenvolver, socializar e reconhecer os conteúdos que orientam o processo de ensino e aprendizagem. Assim, o trabalho em sala de aula que envolve o uso das tirinhas e charges possibilita ao professor trabalhar a respeito dos problemas sociais que podem ser debatidos em sala de aula. Diante desses gêneros, Garcia (2007, p.6) apresenta que:
	
O humor crítico inserido nas Charges, Tiras e Quadrinhos, apresentam episódios ou fatos do cotidiano, propiciando momentos de entretenimento, de riso e de reflexão; através destas leituras pode-se interpretar a sociedade em seus hábitos cotidianos, enfim, compreender o efeito de sentido produzido em cada ato discursivo, constituído histórica, ideológica e socialmente.
	
À vista disso, analisaremos o verbal e o não verbal presentes nas charges e tirinhas, e como se relacionam, para propor a discussão sobre o dito, o não dito e silenciado no discurso. Sendo assim, as charges e tirinhas trabalhadas serão retiradas de livros didáticos de uma coleção específica do ensino médio.
	Assim, compreendemos que o livro didático é o instrumento, em geral, mais utilizado pelo docente em sala de aula. Atualmente, no que se refere ao ensino de Língua Portuguesa, a orientação é explorar o trabalho nos gêneros textuais, visto que, o livro didático é um suporte, já que ele serve de base para o estudo dos gêneros textuais, tornando-se um importante aliado para o professor no auxílio do processo de ensino-aprendizagem.  
	O trabalho com os gêneros textuais em aulas de Língua Portuguesa tem como propósito melhorar a prática dos alunos com relação à leitura e à produção de texto, visto que os gêneros fazem parte do dia a dia das pessoas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), PCN, conduzem os professores de língua uma proposta de estudo marcada no texto que, por sua vez, deve estar introduzido dentro de um gênero distinto. Assim, o convívio com a multiplicidade de gêneros textuais possibilita ao aluno o desenvolvimento de um leitor proficiente e crítico. A necessidade de inserir na escola práticas que destacam situações de interação social é criada pelos PCN, já que em acordo com suas orientações o objeto de ensino passa a ser os gêneros do discurso, que estão juntos à vida social e cultural.
	Porém, uma dificuldade aparente que precisa ser superada é a resistência apresentada pelos alunos no que diz respeito ao trabalho com a leitura e interpretação de texto em sala de aula. Por isso, para solucionar essa dificuldade, um recurso considerável é o uso de charges e tirinhas, com o objetivo de orientar o aluno a fazer suas próprias compreensões e provocar um debate acerca de um determinado assunto para produção de textos. Segundo Peron (2016, p.5), “[...] a tirinha, a charge, os posts constituem recursos pedagógicos muito ricos a serem explorados em sala de aula porque não se circunscrevem a apenas dois modos de representação (ler e escrever, por exemplo) ”. Dessa forma, o uso das charges e tirinhas possibilita trabalhar desde análises de sentidos, relação entre o verbal e não verbal, reflexão das questões sociais, até produções de textos.
	Torna-se mais fácil o trabalho com os gêneros charge e tirinha como recurso didático, além de que, esses gêneros podem mostrar conteúdos heterogêneos e conduzir o discente a uma interpretação crítica de conteúdos da atualidade, visto que, esses gêneros podem levar em seu lado humorístico assuntos políticos e sociais que podem ser trabalhados em sala de aula. São gêneros discursivos que podem proporcionar uma praticidade na aplicação das atividades de ensino e são capazes de auxiliar na perspectiva do contexto do qual estão inseridos. 
	Esses gêneros são textos geralmente curtos, porém trazem em sua estrutura todas as possibilidades de se trabalhar questões referentes à nossa língua de forma inovadora, quebrando-seos padrões tradicionais de ensino. Além de ser uma leitura agradável, atrativa e que se torna um facilitador para realização de um debate.
[...] o uso dessas ferramentas em sala, é uma maneira dinâmica e eficiente dos alunos adquirirem de forma autônoma a sua aprendizagem, pois a leitura e até mesmo a escrita propiciada pelos gêneros permite que o aprendizado aconteça não como repetição, pois, a partir da apropriação dessa linguagem, seja ela verbal ou não verbal, torna-os mais criativos por esses enunciados trabalharem diversos níveis de aprendizado tais como: a imagem, as entrelinhas, as informações dialógicas e sub-reptícias, a intertextualidade, dentre outras e permite, dessa forma, que o professor possa trabalhar diferentes competências e habilidades. (PERON, 2016, p. 10)
	
As charges e tirinhas devem ser trabalhadas durante o processo educativo, já que não só instigam a relevância da leitura, como de fato são boas leituras, exibindo conhecimentos, gerando possíveis debates em sala de aula. Diante disso, esses gêneros, além de estabelecerem uma excelente possibilidade para inserir os discentes no mundo da leitura, também se caracterizam como úteis para o trabalho com a compreensão de sentido do texto, atuando como um recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula.
Logo, a AD nos proporcionará possibilidades, pois podem ser produzidos diversos sentidos e leituras diferentes acerca do enunciado. Para Florêncio et al. (2009, p.25), “[...] podemos entender que todo discurso é uma resposta a outros discursos com quem dialoga, reiterando, discordando, polemizando”. Nesse sentido, todo discurso sempre ocorre dentro de outros discursos e do processamento da memória, a partir da análise do não dito nas memórias discursivas, da ideologia do texto e dos efeitos de sentido no contexto. Conclui-se, então, que investigar o entendimento dos sentidos produzidos é abrir um leque de possibilidades e de outras leituras, propiciando assim novas compreensões.
2.1 A importância de ressaltar a relação entre o verbal e o não verbal
Já ficou claro que a língua não é exclusivamente uma ferramenta para a comunicação, ela é ideológica, e o seu desempenho e modo de produção de sentidos são ideologicamente marcados pelo contexto social que ela emerge. Então Silva e Rodrigues (2017, p.7) trazem que, “Nesse sentido entende-se que os gestos de interpretação remetem as ideologias às quais o indivíduo está submetido. Por isso, um mesmo fato pode ser entendido e assimilado de maneiras diferentes, dado o contexto imediato de ocorrência e contexto histórico, e de quem enuncia”. O sujeito precisa desenvolver gestos de interpretação, por meio de um método verbal e teórico, destacando que um dizer se estrutura sobre outro. 
Espera-se que, diante da leitura, o aluno seja capaz de comparar opiniões e pontos de vista sobre diversos textos e as expressões da linguagem verbal e não verbal, gerando inferências, julgamentos e avaliações diante do que leu. O que leva o aluno a ler o explícito e o implícito, auxiliando nas habilidades de inferências e de seus conhecimentos culturais de mundo. Por isso, as charges e tirinhas são de extrema relevância por se constituir de um texto que trabalha com palavra e imagem, convidando o aluno a pensar e a inferir acerca do dito e do não dito.
As charges e tirinhas permitem a combinação do verbal (palavra) com o não verbal (imagem), construindo diversos caminhos de leitura. Não devemos analisar a linguagem verbal e a imagem como elementos separados e que se unidos formam sentidos, e sim ter em mente que as materialidades atuam em ambas, com o propósito de estabelecer um conjunto significativo. Dessa forma, a relação entre a linguagem verbal e o não verbal pode ser compreendida como os efeitos de sentido produzidos. Para Florêncio et al. (2009, p.93), “[...] é preciso lembrar que o discurso é efeito de sentidos entre interlocutores, desse modo, a imagem, por ser uma materialidade significante, também produz sentidos entre os sujeitos, por isso, é também uma materialidade discursiva”. 
A utilização da imagem auxilia o efeito dos sentidos e a produção das interpretações. As imagens em conformidade são determinadas como o texto não verbal, pode-se dizer que o sentido ocorre após a análise da imagem e diante desse pressuposto, compreende-se que a memória discursiva, direciona o sentido do que está sendo dito. 
A produção de sentido dentro da linguagem não verbal dá-se de forma natural, pois é comum lermos as imagens mesmo sem uma alfabetização prévia. Entretanto, a imagem não traduz a palavra, ela traduz a idéia. A palavra fala da imagem e até mesmo pode descrever, mas não pode desvendar seu valor significativo. (GARCIA, 2007, p. 3)
No conjunto não verbal e verbal, a imagem e o texto são inerentes. O sentido da imagem acontece em sua interpretação, determinando-se em discurso. Em vista disso, a interpretação da imagem, assim como a interpretação do verbal, causa o elo entre o sujeito e o contexto. Para Garcia (2017, p.3), a imagem representará a linguagem não verbal, através da cor, forma, movimento, etc. Atuando como parte da relação interacional entre língua e indivíduo, desempenhando um papel de grande influência na produção de sentido. 
	Esses gêneros trabalham com o apelo visual e frequentemente trazem uma abordagem cômica e crítica. Ao perceber a imagem na relação com a exterioridade, procura-se o entendimento do discurso ligado ao simbólico, criado em uma organização composta por um meio cultural, histórico e político de produção. A imagem, como discurso determinado pelo não verbal, apresenta muita das vezes análises não abordadas. Então, torna-se necessário considerar os elementos visuais também como criadores de discurso.
	Os leitores necessitam reconhecer as marcas presentes no contexto, que são possíveis através da relação entre verbal e não verbal. Conclui-se, então, que a linguagem não verbal não é de menos importância, pelo contrário, é uma forma extremamente eficaz para a contribuição do sentido.
2.2 Os sentidos presentes nas charges e tirinhas
Os sentidos do discurso podem ser manifestados através de diversos gêneros, não apenas através da linguagem verbal. A imagem é dotada de significados, logo, se estabelece como um instrumento de comunicação. Porém, não devemos observar apenas os elementos que a compõem, mas sim, compreender como se estabelecem os efeitos de sentidos gerados por esses elementos. Assim sendo, no gênero charge e tirinha o sentido é obtido através da relação entre o verbal e o não verbal, demonstrando tanto as formações ideológicas quanto discursivas presentes no discurso. Então Florêncio et al. (2009, p.64) trazem que, “[...] concebemos o discurso como ideológico, pois sua produção requer um sujeito socialmente situado; e é este lugar que define uma posição ideológica e aponta como o sujeito participa da produção de uma sociedade”. Nesse sentido, o discurso é dotado de ideologia e baseado no âmbito social que o sujeito está inserido, o que definirá seu posicionamento ideológico.
Aliando linguagem verbal e não verbal, os gêneros em questão são utilizados normalmente como mediadores na problematização de assuntos sociais, revelando problemas enfrentados pela sociedade. Além de evidenciar ideologias, crenças e posturas determinadas. Funcionando como um processo de significação, onde os sentidos não estão prontos, mas são construídos a partir do espaço discursivo constituído pelos interlocutores, onde o sentido não é fechado, mas construído de acordo com as experiências ideológicas e conhecimentos dos interlocutores. Para Silva e Rodrigues (2017, p.12):
[...] na materialidade discursiva do sujeito constituído estão as ideologias que o interpelaram, isto é, ao enunciar ele registra materialmente, por meio da linguagem, precisamente nas formações discursivas, as formações ideológicas que o constitui em sujeito de seu discurso.
Dessa forma, diante dos gêneros charge e tirinha, o sentido é construído através da relação entreo verbal e não verbal e da determinação histórica, visto que o conhecimento prévio sobre o fato apresentado pode influenciar na compreensão do interlocutor. De acordo com Florêncio et al. (2009, p.109), “Como sujeito e sentido não são transparentes, precisamos desconfiar do óbvio, pois não há discurso sem sujeito, nem sujeito sem ideologia”. Os sentidos produzidos no interior das charges e tirinhas são imagens do mundo, envolvem a interpretação de acontecimentos que podem estar associados a diferentes formações discursivas. Outro aspecto importante sobre esses gêneros é o fato de costumarem ser tão ricos quanto outros textos opinativos, como uma resenha, que apresenta um posicionamento crítico sobre determinada pessoa, texto ou fato. Segundo Garcia (2017, p.4):
O humor utilizado nas Charges, Tiras e Quadrinhos cumprem um papel fundamental na cultura de um país, pois circulam com desenvoltura em todas as camadas sociais, e têm como função um papel ideológico, que é o de retratar instantaneamente uma crise que pode ser governamental, social ou individual.
É preciso compreender como os diversos recursos presentes na charge colaboram para que o leitor possa construir o sentido, permitindo compreender melhor o gênero charge, o verbal e não verbal e o conteúdo temático abordado, possibilitando concluir com o dito, não dito e silenciado. Além disso, nas tirinhas, também são explorados diversos recursos, tanto verbais quanto não verbais, se constituindo a partir da exploração dos diferentes sentidos produzidos, assim como as charges. 
Garcia (2017, p.4) traz o conceito de charges como “[...] um desenho pesado, crítico, relacionado com as atividades de uma localidade, e tem um poder muito grande de denúncia. A charge não tem a obrigatoriedade de provocar o riso, o autor denuncia determinada situação, que também pode vir a ser uma tragédia”. E em contrapartida apresenta também o conceito para tirinhas, “As Tiras podem ou não ter uma abordagem política. Elas podem ser tão somente humorísticas, representando uma visão bem-humorada dos acontecimentos e do mundo, e de acordo com os autores das Tiras, sem posicionamento ideológico ou crítico”.
Então, para desenvolver uma análise de charges e tirinhas deve-se determinar o seu contexto histórico e analisar as condições de produção, identificando as opiniões colocadas numa dada circunstância. Além de observar o dito e o não dito e decifrar as marcas do sujeito. Segundo os fundamentos de Florêncio et al. (2009, p.93), “Fazer perguntas, questionar o que se mostra na imediaticidade é fundamental porque mexe com a capacidade do analista de descontruir o óbvio”. Fica claro, assim, a capacidade de o analista produzir diferentes sentidos do discurso, trazendo reflexões e conseguindo ir além do que está exposto, auxiliando assim no desenvolvimento intelectual e no desenvolvimento cognitivo do mesmo.
As análises direcionam para a importância desses gêneros nas práticas de leitura em sala de aula, introduzindo o desenvolvimento da habilidade leitora dos alunos. Essa afirmação justifica-se pelo motivo de que, ao se trabalhar o gênero charge e tirinha, encontra-se à disposição um recurso didático rico em aspectos da significação, com os elementos que o compõem, como a relação do verbal e o não verbal, entre outros, que indicam um processo eficaz de ensino de leitura.
A escolha das charges e tirinhas, por meio das quais se pensa em aplicar atividades de ensino que busquem analisar essa relação de sentidos com o mundo do leitor, requer do professor um conhecimento prévio das condições de produção. O conhecimento sobre o contexto em que seus alunos estão inseridos também é bastante relevante, para assim, saber se eles compreenderão os sentidos presentes nos enunciados. Cabe ao professor trazer reflexões para dentro do âmbito educacional, no sentido de colaborar para a formação cultural, política e ética dos alunos. Diante disso, Garcia (2007, p.2) traz que:
O discurso é a linguagem em ação, o sentido social, histórico e ideológico construído, refletindo uma visão de mundo determinante e as possíveis estratégias utilizadas na sua estrutura, os intercâmbios no interior dos grupos sociais, que sobredeterminam o indivíduo vivendo em coletividade, e os efeitos produzidos por meio de seu uso.
Procurar familiarizar esses gêneros com a turma faz com que o professor seja mais criativo em seu trabalho, o que se torna também mais produtivo e eficiente quando ele consegue explorar as categorias discursivas de uma forma efetiva.
Enfim, a charge e a tirinha demonstram suas capacidades produtivas para o desenvolvimento da proficiência leitora, da criticidade e da reflexão, pois são textos construídos a partir de problemáticas sociais, o que pode ser um estímulo para alunos do ensino fundamental e do médio. Além de que, a charge e a tirinha necessitam que o leitor possua conhecimentos prévios, como o contexto social, político e cultural da sociedade para compreender os pressupostos e implícitos, e posteriormente produzir as inferências.
3- ANÁLISE DISCURSIVA DOS GÊNEROS TIRINHA E CHARGES EM LIVROS DIDÁTICOS
Neste capítulo, procuramos evidenciar o processo metodológico do nosso trabalho, analisando os gêneros textuais tirinha e charge em uma coleção de livros didáticos de língua portuguesa do Ensino Médio, os procedimentos teórico-metodológicos utilizados para análise e os passos que nos conduziram para a realização da presente pesquisa. 
3.1 Caracterização da pesquisa
A constituição do corpus se deu por meio da coleção de Livros Didáticos do Ensino Médio de Maria Luiza M. Abaurre, Maria Bernadete M. Abaurre e Marcela Pontara: PORTUGUÊS contexto, interlocução e sentido da Editora Moderna 2013, organizada em três volumes (1, 2 e 3), constitui o objeto para análise desta pesquisa, uma vez que a coleção escolhida foi aprovada pelo PNLD.
Logo, a escolha dessa coleção parte da confirmação de que os exemplares a serem analisados trabalham a língua como prática social, através de orientações de trabalho associadas aos gêneros. Então a justificativa para tal escolha é o fato dessa coleção abordar tão bem os gêneros textuais, em especial, os gêneros tirinha e charge.
Como já foi citado anteriormente, a preocupação desta pesquisa fundamenta-se em analisar os efeitos de sentido produzidos nos gêneros tirinhas e charges em uma coleção de livros didáticos do Ensino Médio, então foram escolhidas tirinhas e charges aleatórias para a análise.
3.2 Análises
	Conforme apresentado anteriormente, este trabalho tem como objetivo analisar os efeitos de sentido produzidos por tirinhas e charges em livros didáticos da coleção do Ensino Médio, PORTUGUÊS contexto, interlocução e sentido da Editora Moderna 2013. Para tanto, temos, então, 3 tirinhas e 4 charges que foram escolhidas aleatoriamente para análise.
3.2.1 Análise da Primeira Tirinha 
Esta tirinha foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 300:
A tirinha traz em seu primeiro quadrinho dois homens observando uma pessoa ao longe e um deles questiona “Mas que diabos é aquilo?”, demonstrando seu espanto com aquela situação estranha. No quadrinho seguinte é exposto o motivo da inquietação dos dois homens, pois aparece um homem segurando uma coleira flutuando, supostamente “vazia”. Então no último quadrinho o homem de camisa listrada irá responder o questionamento feito no primeiro quadrinho, “Apenas um político saindo com a sua honestidade para passear”. 
Sabemos que ninguém leva suas qualidades para passear presas a uma coleira. Então algo leva o homem a fazer essa afirmação, há algo não dito, mas pensado por ele, partido de um pressuposto. Pois, já estamos acostumados a fazer uma generalização a respeito da falta de caráter dos políticos. Acontecem tantos casos envolvendo políticos e corrupção que se criou uma imagem que todos os políticos são desonestos. Por isso, diante dessa visão estereotipada, o homem de camisa listrada afirma que a coleiraque flutua no ar é levada por um político, pois nela está algo que ele não tem, a honestidade. Logo, torna-se necessário a identificação do pressuposto que não existem políticos honestos para que se tenha a compreensão da tirinha.
Somente na leitura do último quadrinho foi possível inferir sobre os políticos, percebendo que o pensamento exposto foi construído culturalmente de forma antecedente àquele evento. O silenciado se encontra nessa visão do político que foi criada no Brasil pela sociedade, pelo fato das decepções e das tantas vezes que o povo se sentiu enganado pelos políticos que colocaram no poder, fazendo com que desacreditassem na honestidade dos políticos e duvidassem do seu caráter.
3.2.2 Análise da Segunda Tirinha 
Esta tirinha foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 2° ano do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 311:
No primeiro quadrinho, duas cobras pedem um conselho ao pássaro Queromeu, que aparentemente pode ser identificado como uma autoridade no assunto referente à corrupção, pois as cobras questionam “Queromeu, que conselho você daria ao corrupto que está começando? ”. No quadrinho seguinte, Queromeu responde “Lembrem-se: a justiça tarda...” e conclui no último quadrinho, “Portanto, aproveitem. ”. 
Diante disso lembramos do dito popular “A justiça tarda, mas não falha”, que traz a certeza de que a justiça será feita, mesmo que demore. Então Queromeu sugere que os corruptos devem aproveitar a lentidão da justiça para ganhar vantagens. Essa adaptação do dito popular acaba sendo surpreendente, porque sugere uma crítica à justiça, em vez de uma defesa, pois a sua lentidão possibilita o aumento da corrupção.
Também podemos analisar o nome dado ao personagem Queromeu, que traz o enunciado “Quero o meu”, sugerindo que ele também quer sua parte em lucros financeiros e em vantagens pessoais (tirar o seu), permitindo o pressuposto que o pássaro seja egoísta e apegado a coisas materiais, trazendo já em seu nome uma postura corrupta, que sempre procurará ter benefícios. No silenciado, podemos associar os personagens aos políticos e o quanto a justiça é lenta para agir diante de seus crimes, por isso tentam tirar suas “vantagens”. 
3.2.3 Análise da Terceira Tirinha 
Esta tirinha foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 3° ano do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 287:
No primeiro quadrinho, o personagem (Caramelo) afirma ter muitos medos. No segundo quadrinho, o personagem expõe esses medos (Medo da culpa, da ignorância, da solidão, de mudanças, da enfermidade, da vida...). Entretanto no terceiro e quarto quadrinho, explicita, “Mas o medo mais terrível e apavorante de todos...” “... É perder esse celular!”. Neste momento o personagem enfatiza o seu lugar na fala e afirma que este medo é maior que os anteriores por motivos quantitativos: Beleza, função e joguinhos. O medo de perder o celular torna-se superior aos outros medos existentes. 
“Como viver sem isso?” A pergunta feita por Caramelo no último quadrinho obtém como resposta: “Num dá...”, a resposta é condizente com as ideias defendidas por Caramelo. O interlocutor acabou partilhando da opinião de Caramelo, isso foi possível porque provavelmente o interlocutor ao qual Caramelo dirigiu seu discurso possuía um conhecimento compartilhado.
No dito, abstraímos o humor da tirinha, que se constitui pelo fato de os personagens concordarem que, dentre muitos medos listados por Caramelo, o que ele considera como pior é a possível perda do celular, onde o não dito denuncia que a sociedade está cada vez mais vulnerável e dependente do uso da tecnologia e das diversas funções e facilidades oferecidas por ele.
O silenciado traz a presente realidade da evolução tecnológica, que acarreta a preferência pelo mundo virtual, onde as pessoas acabam utilizando de uma forma que as afastam da realidade. Mostrando a influência e a alienação que esses recursos podem trazer aos usuários.
3.2.4 Análise da Primeira Charge
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 242:
O título que a charge apresenta remete ao salário mínimo definido, os dois homens que a charge traz trocam comentários enquanto esperam o ônibus, ambos expressam a insatisfação sobre a situação de miséria em que vivem muitos brasileiros, pois não têm o suficiente para garantir os seus direitos básicos de cidadão, como alimentação e moradia. Identificamos aqui o dito e o não dito presentes na charge. 
Percebemos também um jogo de palavras entre o verbo comemorar e a sua divisão em dois verbos diferentes: comer e morar. Demarcando uma ironia na frase “comer e morar então...”, de maneira em que essa “brincadeira” com as palavras demonstre uma crítica.  Sendo a alimentação e moradia quase inacessíveis devido ao baixo salário. 
Quando se resolve criticar algo é assumida uma postura ideológica específica, sendo importante o reconhecimento e a análise da situação para poder resgatar o contexto no qual o discurso está inserido, para a compreensão de sentido do mesmo.
No silenciado, se consequentemente há um aumento do salário mínimo, há também um aumento dos impostos, deixando a situação equivalente ou pior. Além do salário mínimo não atender as necessidades “mínimas” do cidadão. Mas segundo o artigo 7º, inciso IV da Constituição Federal (CF): "São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim". Onde percebemos que a lei expressa na CF garante algo que não acontece na realidade, sendo visto apenas na teoria. A partir disso, o cidadão torna-se refém do governo, trabalhando para “sobreviver” e não para “viver”. 
3.2.5 Análise da Segunda Charge
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 250:
	A charge apresenta a expressão “Era do Gelo” que é título de um filme de animação que se passa na Era Glacial. Em contrapartida a charge apresenta também a “Era do Degelo”, supostamente na atualidade, onde o substantivo degelo indicará a transformação do estado sólido em estado líquido devido ao aumento de temperatura da Terra, causado pelas ações humanas.
	Nessa charge, o efeito de sentido é construído através de um jogo de palavras que utiliza de um acréscimo de elemento que é capaz de alterar o sentido do termo original, nas palavras “Gelo” e “Degelo”. 
No dito e não dito, retiramos a comparação entre a ficção e a possível realidade, na qual o primeiro desenho traz a representação de uma “Era” natural, em que a predominância do ambiente era composta por gelo, porque não tinha intervenção humana e em paralelo vemos aspectos completamente diferentes no segundo desenho, em que encontramos a transformação feita pela ação do homem, onde a maioria do gelo presente noambiente derreteu, devido ao aumento da temperatura, que pode ser acarretado pela poluição das indústrias que estão presentes no desenho.
	Extraímos do silenciado que devido a interferência humana o meio ambiente e o habitat natural dos animais estão sendo destruídos. A atividade humana industrial acaba promovendo o aquecimento global, e, consequentemente, o derretimento das calotas polares. Com a construção de diversas indústrias e o desenvolvimento das grandes cidades, surge uma interferência em todo meio, mas o homem na maioria das vezes não se preocupa com essa questão, mas sim com o lucro e sua produção, onde se leva em consideração o capitalismo. 
3.2.6 Análise da Terceira Charge
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 302:
	A charge acima mostra que o plano de saúde enviou um cartão a um paciente que se encontra internado em um hospital. No cartão, além do desejo de melhoras, há um último aviso. Então para a compreensão da charge, devemos reorganizar o sentido do texto, respondendo os questionamentos que podem surgir: Por que um plano de saúde enviaria um cartão desejando uma pronta recuperação do paciente? Por que seria o último aviso? 
Diante da análise dos personagens, da situação e do discurso, podemos compreender que o plano de saúde é o responsável por pagar as despesas hospitalares de seus associados. E os planos de saúde têm sempre como interesse cortar e reduzir essas despesas.
	Logo, compreendemos no não dito que se o plano de saúde é o responsável por pagar as despesas hospitalares de seus associados e o paciente recebeu um cartão com um desejo de pronta recuperação como um último aviso, então podemos afirmar que esse aviso deixa subentendido que o plano não pretende continuar pagando as despesas hospitalares do paciente, esse aviso pode ser traduzido como uma ameaça velada pelo plano ao associado, “...fique bom o mais rápido possível, pois pararemos de pagar suas despesas!”. 
	O texto do cartão contém algo que está subentendido, que é apontado pelo contexto determinado e que, para ser explicitado, o leitor necessita resgatar informações (nesse caso, sobre os planos de saúde). Então a partir do silenciado, pode-se salientar que o plano de saúde é um recurso para se fugir do precário atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde), podendo com ele ter um acesso mais eficiente à saúde. Então de um lado se o cidadão desejar um melhor atendimento é necessário buscar um plano de saúde que atenda suas necessidades, pois a Saúde Pública é deficiente. E do outro lado está o plano de saúde visando o seu próprio lucro. 
3.2.7 Análise da Quarta Charge
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 2° ano do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 345:
A charge apresenta um contraste entre a fisionomia dos dois primeiros meninos e a do último. Percebemos que os dois primeiros meninos estão bem vestidos, têm uma expressão de alegria e são associados, respectivamente, ao ensino público e ao ensino privado. Já o terceiro menino está vestido com uma roupa simples, que possui remendos e expressa uma fisionomia apática, sendo associado a expressão privado de ensino. 
O dito da charge expõe uma crítica a uma preocupante questão social, onde o terceiro menino representa todos aqueles que não têm acesso ao ensino, seja ele público ou privado. Evidenciando o fato de que no Brasil muitas crianças não têm acesso à educação, ou seja, são “privadas de ensino”. Expondo este problema da educação, mais especificamente de como a falta de ensino ajuda a aumentar as desigualdades sociais, percebe-se a dificuldade de acesso das crianças pobres à uma educação de qualidade.
O não dito e o silenciado podem ser extraídos da representação das crianças que são privadas de ensino, que não podem frequentar a escola por inúmeros fatores, desde situações que necessitam trabalhar para ajudar no sustento da família, até casos de dificuldade de deslocamento, pelo fato da Escola ser distante de casa e não haver transporte escolar. Diante disso, algumas dessas crianças não veem escolha e às vezes acabam optando por um caminho alternativo, que as levam para o mundo do crime e/ou para o envolvimento com drogas. Já que a educação é a base para a construção de um futuro próspero, onde as pessoas tenham acesso à cultura, oportunidades de crescimento, melhoria de vida, etc.
 E nessa perspectiva, o governo muita das vezes não toma uma providência, pois preferem privar o cidadão de se ter um ensino de qualidade, pois quanto mais conhecimento o cidadão tiver, mais liberdade de expressão vai adquirir.
Diante de todas análises, fica claro que é necessário recorrer ao interdiscurso para complementar e reforçar seus discursos, além de levar em consideração o contexto histórico, do qual emerge este discurso. Ficando nítida também a importância entre a linguagem verbal e não verbal na produção de sentido. 
	
CONCLUSÃO
Nesse trabalho de análise procurou-se trabalhar os conceitos teóricos, trazendo as categorias do discurso: sujeito, ideologia e condições de produção, desvendando o interdiscurso, ditos, não ditos e silenciados, produção de sentido e a historicidade dos enunciados. E com as análises das charges e tirinhas, confirmamos que os efeitos de sentido se constroem constantemente, pois os sentidos não estão predeterminados no discurso. Eles são desenvolvidos a partir da relação entre história, língua e experiências.
	A inserção das charges e tirinhas como um recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula, pode trazer receios, resistência e descobertas. A partir desse momento, surgem as dúvidas e questionamentos, sendo o principal: como o docente poderia inserir esse uso de maneira efetiva em suas aulas? 
	Surgindo assim, a proposta de analisar os gêneros textuais tirinha e charge em uma coleção de livros didáticos de língua portuguesa do Ensino Médio, destacando que não são análises fechadas, pois a cada novo olhar podem surgir novos efeitos de sentido. Então, a partir da proposta de analisar os efeitos de sentido de charges e tirinhas conforme o estudo da análise discursiva de linha francesa, foi possível perceber que o docente pode trabalhar as percepções críticas e estimular a análise discursiva dos gêneros, podendo apresentar aos alunos o contexto histórico em que a charge ou a tirinha estão inseridas, visando mostrar as relações sociais e a incentivar a compreensão do aluno, atribuindo as concepções de mundo de cada um, conforme a perspectiva social; trazendo assim, possíveis discussões entre as análises feitas por cada aluno, pois os enunciados despertarão opiniões e valores diversos sobre determinada temática social. A metodologia de ensino será enriquecida, no sentido de garantir não somente a problematização dos conteúdos que estão presentes em cada um desses gêneros, mas permitindo também a valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes.
Por outro lado, o docente também pode apresentar aos alunos a identificação dos elementos presentes nas charges e tirinhas, explicitando os textos verbais e não verbais, apresentando todas as características encontradas e o sentido produzido. Podendo também incentivar a criatividade da produção, a partir de produções autorais que podem ser propostas aos alunos, promovendo assim, a formação de leitores críticos de uma forma dinamizada.
Então, outro aspecto importante que foi constatado, foi a importância entre a linguagem verbal e não verbal na produção de sentido. Fica claro, que para analisar o texto e a imagem, e obter a compreensão do sentido que trazem, a AD evidencia a importância de ser capaz de fazer inferências, de reconhecer pressupostos e implícitos presentes no discurso, construídos a partir do contexto que o sujeito está inserido, determinando assim as condições de produção do texto nessas análises, proporcionando aos alunos e aos profissionais professores

Continue navegando