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Direitos Humanos

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Conceito de Direitos Humanos
Definir Direitos Humanos e apresentar as teorias filosóficas acerca da fundamentação dos Direitos Humanos
NESTE TÓPICO
NESTE TÓPICO
 I - Direitos Humanos: O que é isso?
 Dignidade Humana
 II - Fundamentação dos Direitos Humanos
 II.1 - Teoria Negacionista
 II.2 - Teoria Jusnaturalista
 II.3 - Teoria Positivista
 II.4 - Teoria Realista
 Referências
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I - Direitos Humanos: O que é isso?
Peres Luño define direitos humanos como “um conjunto de faculdades e definições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional” (RAMOS, 2014, p. 34).
André de Carvalho Ramos, simplificando o conceito do jurista espanhol Peres Luño, define direitos humanos como “um conjunto mínimo de direitos necessário para assegurar uma vida do ser humano baseada na liberdade, igualdade e na dignidade” (RAMOS, 2014, p. 34).
Destes conceitos, podemos extrair algumas conclusões:
Em primeiro lugar, direitos humanos não estão personificados em uma única pessoa, ou grupo de pessoas, sejam elas ligadas ao Estado, ao governo ou particulares. Os direitos humanos não possuem (e não deveriam ser assim tratados) um viés ideológico, seja ele político, ou partidário. Os direitos humanos são “faculdades e definições”, “um conjunto mínimo de direitos”. Estamos a tratar, portanto, de direitos, com a finalidade de assegurar a liberdade, a igualdade e a dignidade do ser humano.
Dignidade Humana
Ingo Sarlet define dignidade humana da seguinte forma:
“Assim, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida”.
( SARLET, 2011, p. 73)
Essa qualidade intrínseca do ser humano, chamada dignidade, faz com que todo homem seja merecedor de respeito e consideração (pelo simples fato de ser um ser humano!) por parte do Estado e da coletividade (o que implica em dizer que, ele também deve respeitar a dignidade dos demais membros desta coletividade).
Essa dignidade implica, ainda, na existência de um complexo de direitos e obrigações que tem dupla finalidade: a) afastar qualquer ato desumano ou degradante – defesa; b) garantir condições mínimas de vida saudável compatível com a natureza humana – exigência.
II - Fundamentação dos Direitos Humanos
Conforme assinala André de Carvalho Ramos, fundamentação dos direitos humanos deve ser compreendida como “as razões que legitimam e motivam o reconhecimento dos direitos humanos” (RAMOS, 2014, p. 45).
Várias teorias apresentam uma fundamentação filosófica para os direitos humanos:
II.1 - Teoria Negacionista
Os adeptos desta teoria negam a possibilidade de os direitos humanos possuírem uma fundamentação racional. Para os negacionistas os direitos humanos existem a partir de juízos de valor, de opções morais de cada um, situação que não pode ser comprovada ou justificada cientificamente. Resulta de uma opção, convicção pessoal de cada um.
Conforme ensina André de Carvalho Ramos, para os negacionistas, os direitos humanos
 
“são apreendidos pelos sentimentos morais. Assim, juízo valorativo da superioridade dos direitos humanos sobre todo o ordenamento jurídico não pode ser justificado ou fundamentado, pois é juízo de persuasão, tradução de emoção daquele que defende tal posição”.
( (RAMOS, 2014, p. 46))
II.2 - Teoria Jusnaturalista
Para esta teoria os direitos humanos estão fundados no Direito Natural, pré-existente e superior ao direito estatal.
Num primeiro momento o jusnaturalismo era fundado na religiosidade. A existência de uma lei divida que se sobrepunha à lei dos homens.
No entanto, conforme nos ensina Ingo Sarlet, em razão do iluminismo, o jusnaturalismo desvinculou-se da religiosidade, passando a ter como fundamento a razão humana:
 
"a partir do século XVI, mais precisamente nos séculos XVII e XVIII, a doutrina jusnaturalista, de modo especial por meio das teorias contratualistas, chega ao seu ponto culminante de desenvolvimento. Paralelamente, ocorre um processo de laicização do direito natural, que atinge seu apogeu no iluminismo, de inspiração jusracionalista". .
(SARLET, 2012, P. 39)
O Jusnaturalismo deslocou-se da religiosidade para a razão humana. Certos pensadores, como John Locke, Jean-Jaques Rousseau, Cesare Becaria, Kant, dentre outros, foram fundamentais para dar um novo contorno ao jusnaturalismo, fundado na razão humana.
Para a corrente jusnaturalista, portanto, a positivação de direitos humanos assume nítida natureza declaratória. O Estado não cria direitos, apenas os declara, reconhece e os aprova formalmente.
II.3 - Teoria Positivista
Para os positivistas um preceito só pode ser considerado jurídico se estiver presente o caráter coercitivo, que é inerente de uma norma posta pelo Estado. O direito natural, portanto, não passaria de meras expectativas de condutas, de boas intenções, desprovidas de normatividade.
Conforme assinala André de Carvalho Ramos:
Para a escola positivista, o fundamento dos direitos humanos consiste na existência de lei positiva, cujo pressuposto de validade está em sua edição conforme regras estabelecidas na Constituição. Assim, os direitos humanos justificam-se graças a sua validade formal. Ora, a justificação dos direitos humanos está na vontade da lei e a vontade da lei é que fundamenta a preservação dos direitos humanos. Tal evidente tautologia enfraquece a proteção dos direitos humanos, quando a lei for omissa ou mesmo contrária à dignidade da pessoa humana.
(RAMOS, 2014, p. 50)
Para o positivismo, portanto, qualquer produção legislativa do estado consagrando direitos humanos, tem natureza constitutiva, e não declaratória, pois é a lei que cria o direito.
II.4 - Teoria Realista
As teorias já apresentadas, André Ramos Tavares apresenta, a inda a Teoria Realista, acerca da fundamentação dos Direitos Humanos:
 
“... este grupo é formado pelos que não outorgam ao processo de positivação um significado declaratório de direitos anteriores (tese jusnaturalista), ou constitutivo (tese positivista), mas entendem que tal processo pressupõe um elemento diverso, que deve ser considerado para o efetivo e real desfrute desses direitos”.
(TAVARES, 2010, p. 485)
A positivação não é considerada para a teoria realista um ponto final de um processo de consagração dos direitos humanos, mas um ponto inicial. A positivação, portanto, é um pressuposto, uma condição para a real e efetiva consagração dos direitos humanos, possibilitando o seu real gozo.
Conforme assinala ainda André Ramos Tavares, citando Perez Luño:
“... enquanto o jusnaturalismo situa o problema da positivação dos direitos humanos no plano filosófico e o positivismo no jurídico, para o realismo se insere no terreno político, ainda que também, como se verificou, outorgue uma importância decisiva às garantias jurídico-processuais de tais direitos”.
(TAVARES, 2010, p.486)
Universalismo e Relativismo cultural na Construção dos Direitos Humanos
Neste tópico serão estudadas as reflexões sobre a relação do universalismo e do relativismo cultural na construção dos Direitos Humanos.
NESTE TÓPICO
NESTE TÓPICO
 Universalismo e relativismo cultural
 O Universalismo
 O Relativismo Cultural 
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Universalismo e relativismo cultural
Um dos pontos mais delicados na seara do conceito dos Direitos Humanos está na questão referente ao seu caráter universal atribuído a ele. Quando da elaboração da DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos em 1948, um severo debate traçado sobre a universalidade dos direitos no momento declarados como sendo universais e sobre a disposição desses direitos no texto normativo que estava sendo redigido, por isso, na época, fez com que a Declaração não foi aceita por todos os Estados Soberanos que participavam da Assembleia Geral da ONU, realizada naquele ano em Paris na França, a maior parte do bloco soviético, como Bielorrússia, Tchecoslováquia, Polônia, Ucrânia, União Soviética, e Iugoslávia, que contrariavam a questão sobre o direito de propriedade, por exemplo; além do chamado bloco islâmico, com a África do Sul e Arábia Saudita, que divergiam sobre a igualdade de homens e mulheres e a sobreposição dos direitos individuais aos direitos culturais coletivos. 
Universalidade dos direitos humanos
Diante das divergências sobre a Universalidade dos Direitos Humanos, foi necessária sua reafirmação em 1993 pela Conferência Mundial de Direitos Humanos realizada em Viena. Cabe ressaltar os artigos 1º e 5º:
Art. 1º - 1. A Conferência Mundial sobre Direitos do Homem reafirma o empenhamento solene de todos os Estados em cumprirem as suas obrigações no tocante à promoção do respeito universal, da observância e da proteção de todos os direitos do homem e liberdades fundamentais para todos, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, com outros instrumentos relacionados com os Direitos do homem e com o direito internacional. A natureza universal destes direitos e liberdades é inquestionável.
 
Art. 5º Todos os Direitos do homem são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional tem de considerar globalmente os Direitos do homem, de forma justa e equitativa e com igual ênfase. Embora se devam ter sempre presente o significado das especificidades nacionais e regionais e os antecedentes históricos, culturais e religiosos, compete aos Estados, independentemente dos seus sistemas político, econômico e cultural, promover e proteger todos os Direitos do homem e liberdades fundamentais.
(Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, 1993.)
A Conferência Mundial de Viena reconhece que elementos locais, como questões culturais e religiosas de cada Estado devem ser levadas em conta na aplicação dos Direitos Humanos, mas não ao ponto de se sobrepor à universalidade dos direitos humanos, conforme destaca André de Carvalho Ramos:
A Declaração de Viena admitiu que as particularidades locais devem ser levadas em consideração, assim como os diversos contextos históricos, culturais e religiosos, mas é dever do Estado promover e proteger todos os direitos humanos, independentemente de seus sistemas políticos, econômicos e culturais. Logo, particularidade locais ou ocasionais não poderiam justificar a violação ou amesquinhamento desses direitos. Essa universalidade, reconhecida pela doutrina desde a Antiguidade, encontra sua realidade nos diversos diplomas normativos do Direito Internacional dos Direitos Humanos do século passado até os dias de hoje, que prescrevem tanto um rol de direitos humanos reconhecidos quanto meios de proteção a tais direitos, pela criação de órgãos internacionais quase judiciais ou judiciais, que processam os Estados violadores e impõem reparações devidas.
(RAMOS, 2014, p. 176)
Jack Donnelly, citado por Flávia Piovesan, afirma que a Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993 adotou o forte universalismo, ou fraco relativismo cultural:
Eu acredito que nós podemos, justificadamente, insistir em alguma forma de um fraco relativismo cultural – que é, por sua vez, um razoavelmente forte universalismo. É preciso permitir, em grau limitado, variações culturais no modo e na interpretação de direitos humanos, mas é necessário insistir na sua universalidade moral e fundamental. Os direitos humanos são, para usar uma apropriada frase paradoxal, relativamente universais”.
(PIOVESAN, 2009, p. 155)
Mesmo na Conferencia de Viena os embates e acusações de dominação de valores particulares sobre os demais, através de um falso véu do universalismo foram ferrenhos, exemplo a manifestação entre o representante das delegações da China e de Portugal, como destaca TRINDADE: ..
E arrematou a Delegação chinesa: “Os direitos e deveres do cidadão são individuais. ao mesmo tempo em que desfruta de seus direitos e liberdades legítimos, o cidadão deve cumprir suas obrigações e responsabilidade sociais. Não há quaisquer direitos e liberdades individuais absolutos, exceto os prescritos pela lei e no âmbito desta. A ninguém é dado colocar seus próprios direitos e interesses acima dos do Estado e da sociedade, e a ninguém é permitido prejudicar os dos demais e do público em geral, É este um princípio universal de todas as sociedades civilizadas”
[...]
 A resposta veio prontamente, no dia seguinte (16 de junho), na tese oposta articulada com igual eloquência na intervenção da Delegação de Portugal. No entender desta última, os direitos humanos abarcam não só os: “direitos positivados, concebidos pelos Estados aos seus cidadãos”, mas também os “direitos ancorados na natureza humana  e que preexistem, na sua essência, aos Estados e aos Governos (...) Na origem  da organização da nossas sociedades está o homem, com determinados direitos inalienáveis e imprescritíveis (...) Seria presunção nossa e um claro absurdo pensar que, em vez de reconhecer e garantir, a comunidade dos Estados concede ou cria direitos do homem. Daqui deriva que o Estado (...) deve respeitas os direitos e a dignidade de seus cidadão  e que não pode, em nome de alegados interesses coletivos- econômicos, de segurança  ou outros – ultrapassar a fronteira que lhe é imposta pela própria anterioridade dos direitos do homem e sua primazia relativamente a quaisquer fins ou função do Estado. Não pode fazer nem por motivos que tenham a ver com o poder ou prosperidade econômica, nem invocando razões aparentemente mais elevadas e de mais puro teor moral, como sejam a religião, as ideologias, as concepções filosóficas ou políticas.
(TRINDADE, 2003, pp.278-279)
MULTICULTURALISMO
Classicamente, o termo multiculturalismo coexiste com a ideia de pluralismo cultural, considerando-se visões e valores de vida diferentes, referentes ao papel do homem, da sociedade, do Estado. Na concepção moderna, o multiculturalismo pode adotar duas diferentes formas: 
· Uma visão relativista-comunitarista, cuja abordagem é marcada pela liberdade cultural, em que o julgamento interno (da cultura) sobrepõe ao externo (da sociedade internacional), não havendo o estabelecimento de critérios mínimos para o diálogo intercultural. Por esse viés, inexiste um só conceito aceitável ou correto, pois a sociedade é heterogênea em termos de valores.
· Uma visão universalista-liberal, cuja abordagem, de influência liberal, em que o julgamento externo (da sociedade internacional) prevalece sobre o interno (da cultural), tenta-se traçar elos para o diálogo entre as culturas, por meio da universalização de valores. Constitui-se, por essa perspectiva, a ideia da homogeneidade de valores.
As diferentes formas de visões do multiculturalismo estão relacionadas, no mundo jurídico, com o conceito de direitos humanos e sua proteção. Pela abordagem relativista-comunitarista, não existe um único conceito de direito, bem como de direitos humanos, pois cada sociedade determinará, conforme suas culturas, quais são os seus direitos e sua forma de protegê-los. Por essa lógica, a existência de um sistema universal de proteção dos direitos humanos seria incondizente. Entretanto, na forma universalista-liberal, o conceito de direito é construído a partir de um mínimo conjunto de valores universais. Têm-se, assim, um único conceito de direitos humanos e um único sistema de proteção universal dos direitos humanos consagrado no sistema internacional da ONU (Organização das Nações Unidas) e normatizado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 (ratificada na forma do Dec.n. 591/92), a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais de 2005 (ratificada na forma do Dec. n. 6.1.77/07), Já no âmbito regional de proteção dos Direitos Humanos, a OEA (Organização dos Estados Americanos) é o parâmetro; no caso do Brasil, prevalecem a Carta da OEA de 1948 (ratificada na forma do Dec. n. 30.544/52), a Convenção da Organização dos Estados Americanos de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica, ratificado na forma do Dec. n. 678/92), e o Protocolo Adicional em matéria de direitos econômicos, sociais e culturais, de 1988 (Protocolo de San Salvador, ratificado na forma do Dec. n. 3.321/99).  
A preservação da convivência multicultural e das diferenças culturais também foi alvo de preocupação do legislador constituinte brasileiro, em decorrência do espírito liberal e de garantia dos direitos humanos constante no texto da Constituição Federal de 1988, mas não de forma tão marcada como o espírito universalista-liberal. Assim, dentre os vários exemplos, assinalam-se dispositivos como: 
· a consagração do princípio da isonomia como objetivo da República na preservação das diferenças entre todos (art. 3º, IV, da CF/88);
· a competência comum entre todos os membros da Federação em garantir a preservação dos bens (material e imaterial) relacionados à cultura e ao patrimônio histórico nacional (art. 23, III, IV e V, da CF/88);
· o estabelecimento do princípio da assimetria federativa ao se definirem os incentivos regionais de desenvolvimento ( art. 43, da CF/88);
·  a preservação das culturas populares, indígenas, afro-brasileiras e das de outros grupos presentes no processo de desenvolvimento civilizatório nacional (art. 215, da CF/88);
· a preservação da terras quilombolas (art. 216, § 5º, da CF/88, e art. 68, da ADCT)  e indígenas (art. 231, da CF/88, e 67, da ADCT).
O Universalismo
A ideia de universalismo manifesta-se minimamente em dois sentidos, na construção do direito, e, consequentemente, nos Direitos Humanos:
O primeiro diz respeito à pretensão pragmática da validade genérica dos critérios adotados referentes à imparcialidade e a generalidade dos preceitos normativos. Dessa forma, os Direitos Humanos devem ser construídos por meio de um procedimento imparcial, que proporciona sua aceitação com válido para todos. Para tanto, o conteúdo normativo deve ser abstrato e excluído de qualquer forma de referência a descrições e particularidades, nos ideias Jean-Jacques ROUSSEAU no contrato social, de modo que os critérios instituídos sejam aplicáveis em qualquer circunstância cujas características sejam semelhantes à norma estabelecida.
O segundo concerne à universalidade dos sujeitos resguardados pelas normas de Direitos Humanos. Esse predicado manifesta-se na tradição de tais Direitos por meio da expressão “todos os homens”. Assim, os sujeitos de tais direitos são todos e cada um dos homens. Isso ocorre como consequência do processo de particularização do indivíduo na sociedade, ou seja, o individualismo constitui-se como parte integrante e imprescindível para o universalismo dos Direitos Humanos. A correlação entre universalismo e individualismo se condensa no ideal moderno do jusnaturalismo racional: o homem deixa de ser regido pela natureza, como no jusnaturalismo clássico, passando a ter referência a sua própria razão humana.
A concepção resultante do pensamento universalista sobre os Direitos Humanos consiste no estudo doutrinário da temática, na denominada matriz objetiva do Direito, que propõe a fundamentação de uma ordem de valores, regras e princípios que apresentam uma validade objetiva, absoluta e universal, independente de qualquer experiência ou consciência valorativa dos indivíduos.
A projeção dessa tese no âmbito do direito sugere uma fundamentação jusnaturalista racionalista moderna para o fenômeno jurídico dos Direitos Humanos que, em sua vertente clássica.
O Universalismo e a doutrina brasileira
No Brasil, a corrente universalista dos direitos humanos é quase unânime entre os doutrinadores, chegando até ser apresentada como a única abordagem possível no contexto da temática. Conforme argumenta Flávia Piovesan (PIOVESAN, 2009, p. 150), a concepção universal dos direitos humanos enfrenta forte resistência por aqueles que defendem o movimento do relativismo cultural. Há um verdadeiro embate entre o alcance das normas de direitos humanos. São elas verdadeiramente universais, devendo ser aplicadas uniformemente a todos os seres humanos, independentemente de quaisquer circunstâncias? Ou, os direitos humanos devem ser aplicados conforme a cultura e costumes locais?
Para os relativistas, a noção de direito está estritamente relacionada ao sistema político, econômico, cultural, social e moral vigente em determinada sociedade. Sobe esse prisma, cada cultura possui seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está relacionado às específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade. Neste sentido, acreditam os relativistas, o pluralismo cultural impede a formação de uma moral universal, tornando-se necessário que se respeitem as diferenças culturais apresentadas por cada sociedade, bem como seu peculiar sistema moral.
(PIOVESAN, 2009, p. 151)
Na visão dos relativistas deve haver uma prevalência do coletivo sobre o individual. “Isto é, o ponto de partida é a coletividade, e o indivíduo é percebido como parte integrante da sociedade. Como se verá diversamente, na ótica universalista, há o primado do individualismo. O ponto de partida é o indivíduo, sua liberdade e autonomia, para que, então se avence na percepção dos grupos e das coletividades.” (PIOVESAN, 2009, p. 151)
Dois são os documentos internacionais que consagram a universalidade dos direitos humanos: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948; e a Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, 1993.
A primeira, Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, como o próprio nome evidencia, na qualidade de resolução da Assembleia Geral da ONU tem a finalidade de declarar direitos tidos como universais, à todos os seres humanos.
Conveniente destacar o ensinamento de Bobbio acerca do universalismo inerente à Declaração Universal de 1948:
Declaração Universal dos Direitos do Homem representa a manifestação da única prova através da qual um sistema de valores pode ser considerado humanamente fundado e, portanto, reconhecido: e essa prova é o consenso geral acerca da sua validade.
(...)
A Declaração Universal dos Direitos do Homem pode ser acolhida como a maior prova histórica até hoje dada do consensus omnium gentium sobre um determinado sistema de valores. (...) foi aprovado por 48 Estados, em 10 de dezembro de 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas; e, a partir de então, foi acolhido como inspiração e orientação no processo de crescimento de toda a comunidade internacional no sentido de uma comunidade não só de Estados, mas de indivíduos livres e iguais. (...) Somente depois da Declaração Universal é que podemos ter a certeza histórica de que a humanidade – toda a humanidade – partilha alguns valores comuns; e podemos, finalmente crê na universalidade dos valores, no único sentido em que tal crença é historicamente legítima, ou seja no sentido em que universal significa não algo dado objetivamente, mas algo subjetivamente acolhido pelo universo dos homens.
(BOBBIO, 1992, p. 26-28)
O Relativismo Cultural 
 
O relativismo cultural moderno se desenvolve dentro da corrente filosófica do comunitarista contemporâneo que se desenvolveu na acadêmica anglo-americana, principalmente, entre os pensadores da filosofia política, como uma das mais importantes e consistentes formas de reação crítica ao pensamento do liberalismo-universalista, que defende a ideia da existência de um Estado neutro, capaz de ser aplicável a todas as sociedades humanas.
Inicialmente as críticas visavam à concepção de Justiça sustentada por John Rawls, em seu livro “Uma Teoria da Justiça”, publicado em 1971. Nomes como Charles Taylor, Alasdair MacIntyre, Michael Walzer, Michael Sandelentre outros, partindo de elementos do pensamento de Aristóteles e Hegel, buscavam esvaziar em diferentes perspectivas as pretensões universalistas da Teoria Liberal da Justiça como Equidade de Rawls. Para os comunitaristas, os padrões de Justiça deveriam ser fundamentados nas formas de vida e nas tradições de cada sociedade particular, sendo, consequentemente, variável de contexto para contexto. Porém, as críticas não se restringiram ao pensamento rawlsiano, expandindo contrariamente a postura etnocêntrica da maioria dos filósofos da modernidade.
Em linhas gerais, a proposta comunitarista consiste num modelo de organização de sociedade sustentada a partir de valores particulares de sua tradição, de modo que os indivíduos são moldados por princípios e pela cultura da comunidade, e os direitos individuais carecem de um “balanceamento” com responsabilidade social/cultural e não nega-los em nome da neutralidade do direito.
Em relação à interpretação das normas jurídicas, o pensamento comunitarista sustenta a defeasibility (derrotabilidade) dos comandos normativos ao aplicar o Direito. A derrotabilidade normativa proposta pelos comunitaristas consiste na denominada radical da norma, que ocorre quando o processo de identificação do Direito, chega-se ao resultado em base não somente a critérios jurídicos, mas também em extrajurídicos( valores da sociedade ou comunidade). 
Adota-se um modo de pensar divergente da lógica clássica, negando a concepção universalista que pressupõe a existência de uma norma base de conteúdo rígido, estabelecido a partir de razões legais universais. Para os comunitarista/relativistas, a norma base de conteúdo deve expressar condições de um contexto particular, sendo impossível identificar normas legais universalmente válidas.
Pode-se encontrar o ideário comunitarista no Texto Constitucional brasileiro quando trata sobre a função social da propriedade, mencionada em vários artigos. Entretanto, por ser a Constituição Federal de 1988, fortemente influenciada pela doutrina do liberalismo, da preservação da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88) e do direito à cidadania (art. 1º, II), o comunitarismo está trabalhado no texto constitucional de forma implícita, por exemplo, na menção ao orçamento participativo nos entes federados (art. 174, §1º), na demarcação de terras indígenas (art. 231) e quilombolas (art. 68, do ADCT), na possibilidade de fixação do registro de bens imateriais (art.216, §1º).
Geração de Direitos Humanos
Estudo da classificação dos direitos humanos em gerações.
NESTE TÓPICO
NESTE TÓPICO
 I - GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
 I.1 – DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO
 I.2 – DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO
 I.3 – DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO
 1.4 – DIREITOS DE QUARTA E QUINTA GERAÇÃO?
 II – GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOS?
 III – O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E AS GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
 Referências
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I - GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
No ano de 1979, em uma conferência proferida no Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estraburgo (França), o jurista francês (de origem Checa) Karel Vasak lançou a teoria que classifica os direitos humanos em gerações. O autor utilizou o tema da revolução francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, para apresentar três gerações, cada uma com características distintas, dos direitos humanos (RAMOS, 2014, p. 55).
A classificação dos direitos humanos em gerações, proposta por Karel Vasak tem como critério a ordem cronológica em que os direitos humanos surgiram e se firmaram na história.
Conforme esclarece Norberto Bobbio, a classificação dos direitos humanos em gerações, portanto, está intimamente ligada a historicidade dos direitos humanos:
Do ponto de vista teórico, sempre defendi – e continuo a defender, fortalecido por novos argumentos – que os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas. Problema – sobre o qual, ao que parece, os filósofos são convocados a dar o seu parecer – do fundamento, até mesmo do fundamento absoluto, irresistível, inquestionável, dos direitos do homem é um problema mal formulado: a liberdade religiosa é um efeito das guerras de religião. As liberdades civis, da luta dos parlamentos contra os soberanos absolutos, a liberdade política e as liberdades sociais, do nascimento, crescimento e amadurecimento do movimento dos trabalhadores assalariados, dos camponeses com pouca ou nenhuma terra, dos poderes que exigem dos poderes públicos não só o reconhecimento da liberdade pessoal e das liberdades negativas, mas também a proteção do trabalho contra o desemprego, os primeiros rudimentos de instrução contra o analfabetismo, depois a assistência para a invalidez e a velhice, todas elas carecimento que os ricos proprietários poderiam satisfazer por si mesmos. Ao lado dos direitos sociais, que foram chamados de direitos de segunda geração, emergiram hoje os chamados direitos de terceira geração, que constituem uma categoria, para dizer a verdade, ainda excessivamente heterogênea e vaga, o que nos impede de compreender do que efetivamente se trata. O mais importante deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num ambiente não poluído. Mas já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo. Quais são os limites dessa possível (e cada vez mais certa no futuro) manipulação? Mais uma prova, se isso ainda fosse necessário, de que os direitos não nascem todos de uma vez. Nascem quando devem ou podem nascer. Nascem quando o aumento do poder do homem sobre o homem – que acompanha inevitavelmente o progresso técnico, isto é, o progresso da capacidade do homem de dominar a natureza e os outros homens – ou cria novas ameaças à liberdade do indivíduo, ou permite novos remédios para suas indigências: ameaças que são enfrentadas através de demandas ou limitações do poder; remédios que são providenciados através da exigência de que o mesmo poder intervenha de modo protetor”. 
(BOBBIO, 1992, p. 5.)
I.1 – DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO
Os direitos de primeira geração correspondem aos direitos de Liberdade, cuja origem remonta às revoluções do fim do século XVIII. São direitos individuais, que impõem ao Estado uma abstenção, um não fazer. A consagração destes direitos exige um afastamento do Estado, para que não interfira na esfera de autonomia do indivíduo.
Conforme o ensinamento André de Carvalho Ramos: 
A primeira geração engloba os chamados direitos de liberdade, que são direitos às prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a esfera de autonomia do indivíduo. São denominados também direitos de defesa, pois protegem o indivíduo contra intervenções indevidas do Estado, possuindo caráter de distribuição de competências (limitação) entre o Estado e o ser humano.
Por regrar a atuação do indivíduo, delimitando o seu espaço de liberdade e, ao mesmo tempo, estruturando o modo de organização do Estado e do seu poder, são os direitos de primeira geração compostos por direitos civis e políticos.
 
( RAMOS, 2014, p. 54.)
I.2 – DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO
Os direitos econômicos, sociais e culturais representam os direitos de segunda geração. Configuram uma modificação no papel do Estado na consagração dos direitos. Enquanto nos direitos de liberdades, primeira geração, o papel do Estado é de abstenção, nos direitos sociais, de segunda geração, exige-se um papel ativo do Estado, uma agenda positiva. Os direitos de segunda geração representam uma obrigação do Estado de dar ou fazer. Conforme assinala Ingo Sarlet, não se trata de uma liberdade do e perante o Estado (como é o caso dos direitos de primeira geração), mas sim de direitos de liberdade por intermédio do Estado(SARLET, 2012, p. 47.
Os direitos sociais, de segunda geração, correspondem, portanto, a um direito à prestação. Possuem, portanto, uma dimensão econômica, e a sua realização por parte do Estado depende da chamada "reserva do possível".
Os direitos a prestação notabilizam-se por uma decisiva dimensão econômica. São satisfeitos segundo as conjunturas econômicas, de acordo com as disponibilidades do momento, na forma prevista pelo legislador infraconstitucional. Diz-se que esses direitos estão submetidos à reserva do possível. São traduzidos em medidas práticas tanto quanto permitam as disponibilidades materiais do Estado.
 
(MENDES, BRANCO, 2015, p. 162.)
I.3 – DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO
Conforme assinala André de Carvalho Ramos, “os direitos de terceira geração são aqueles de titularidade da comunidade, como o direito ao desenvolvimento, direito à paz, direito à autodeterminação e, em especial, ao direito ao meio ambiente equilibrado” (RAMOS, 2014, p. 56).
São chamados de direitos de solidariedade, fraternidade, em razão de a sua titularidade ser difusa. Compõem direito cuja titularidade não pode ser particularizada, pois pertencem à todos.
A nota distintiva destes direitos da terceira dimensão reside basicamente na sua titularidade coletiva, muitas vezes indefinida e indeterminável, o que se revela, a título de exemplo, especialmente no direito ao meio ambiente e qualidade de vida, o qual, em que pese ficar preservada sua dimensão individual, reclama novas técnicas de garantia e proteção. (...) Compreende-se, portanto, porque os direitos da terceira dimensão são denominados usualmente como direitos de solidariedade ou fraternidade, de modo especial em face de sua implicação universal, ou no mínimo, transindividual, e por exigirem esforços e responsabilidade em escala até mesmo mundial para a sua efetivação.
 
(SARLET, 2012, p. 49.)
“A primeira geração sria a dos direitos de liberdade, a segunda, dos direitos de igualdade, a terceira, assim, completaria o lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade” (FERREIRA FILHO, 2009, P. 57).
 
1.4 – DIREITOS DE QUARTA E QUINTA GERAÇÃO?
Embora não haja um consenso, a doutrina fala, ainda, em quarta e quinta geração de direitos.
Norberto Bobbio sustenta como direitos de quarta geração. Seriam aqueles direitos reguladores das técnicas de manipulação do material genético humano (BOBBIO, 1992, p. 5).
Paulo Bonavides, por seu turno, sustenta a existência de direitos de quarta e quinta geração. Entende como direitos de quarta geração os “resultantes da globalização dos direitos humanos, correspondendo aos direitos de participação democrática (democracia direta), direito ao pluralismo, bioética e limites à manipulação genética, fundados na defesa da dignidade da pessoa humana contra intervenções abusivas de particulares dou do Estado”. A quinta geração de direitos seria composta pelo direito à paz por em toda a humanidade. (SARLET, 2012, p. 57).
 
II – GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOS?
A expressão gerações de direitos tem sofrido críticas pois o termo “geração” poderia levar ao entendimento de que uma geração nova superaria a anterior, se sobrepondo. Por esta razão em lugar a expressão geração, tem-se utilizado a expressão “dimensão de direitos”.
É importante saber, no entanto, que independentemente da expressão utilizada (gerações ou dimensões), não há hierarquia entre as gerações, e uma posterior não se sobrepõe, anula a anterior. As gerações/dimensões se complementam.
 
III – O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E AS GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
 
Em decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, a gerações de direitos já foi utilizada:
Os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os identifica com as liberdades positivas, e reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formas sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais  indisponíveis, e pela nota de uma essencial inexauribilidade.
 
(MS 22.164, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-10-1995.)
A Emenda Constitucional 45 e os Direitos Fundamentais
Neste tópico serão estudados os reflexos da Emenda Constitucional 45 na seara dos Direitos Fundamentais
NESTE TÓPICO
NESTE TÓPICO
 Introdução
 Hierarquia dos tratados de direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro
 A federalização dos crimes contra os Direitos Humanos e o Incidente de Deslocamento de Competência (IDC)
 Outras inovações da EC45/04 na seara dos direitos humanos
 Referências
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AUTOR(A)
PROF. JULIANO APARECIDO RINK
   
  
Introdução
Em dezembro de 2004 foi promulgada a Emenda Constitucional 45 que realizou a chamada Reforma do Judiciário na Constituição brasileira. No tocante aos direitos fundamentais, também, produziu uma profunda reformulação, as principais medidas foram:
· Aplicação do princípio da razoabilidade e da celeridade processual tanto no âmbito judicial como administrativo, com a introdução do inciso LXXVIII ao art. 5º.
· Atribuição de Status de norma constitucional aos tratados de direitos humanos, com a introdução do §3º ao art. 5º.
· Submissão do Brasil ao Tribunal Penal Internacional (TPI),com a introdução do §4º ao art. 5º.
· Federalização dos crimes de direitos humanos, com a introdução do art. 109,V-A
· A possibilidade da ocorrência do Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) para os casos de graves violação de direitos humanos, com a introdução do art. 109, §5º.
Hierarquia dos tratados de direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro
 
 
NOÇÕES GERAIS SOBRE O PROCESSO CELEBRAÇÃO E INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS
Os tratados consistem em normas, produzidas de forma solene, cuja fonte geradora é externa, ou seja, a sociedade internacional.
O processo de incorporação dos tratados no Brasil é dividido em quatro fases:
1. Fase da Celebração/Assinatura – negociações internacionais e manifestação de vontade de celebrar o tratado.
2. Fase da Aprovação Constitucional/ Ratificação Constitucional – analise pelo Congresso Nacional da Constitucionalidade do tratado.
3. Fase da Ratificação – confirmação da manifestação da vontade internacionalmente.
4. Fase da expedição do Decreto Presidencial - publicação do Decreto de promulgação do tratado pelo Presidente da República incorporando-o ao ordenamento jurídico nacional.
No ordenamento jurídico brasileiro o poder de celebrar tratados internacionais pertence, exclusivamente, ao chefe do Poder Executivo Federal, ou seja, ao Presidente da República, conforme o art. 84, VIII, da CF/88. Após, a celebração o texto do tratado deve passar pelo processo de incorporação, que no caso brasileiro, trata-se do processo constitucional de incorporação do tratado realizada pelo Poder Legislativo Federal (art.49, I, da CF/88).
As Casas Legislativas (Câmara dos Deputados e Senado) recebem a mensagem presidencial solicitando a incorporação do tratado, assim, iniciando o procedimento legislativo de analise da constitucionalidade e votação do texto do tratado. A análise iniciará, como todos os atos de origem presidencial, pela Câmara dos Deputados. Ao término do processo legislativo será expedida a Carta de Ratificação, documento que confirma internacionalmente a adesão do Estado brasileiro ao tratado, e autorização ao Presidente da República para editar o Decreto de Incorporação do Tratado. Caso seja rejeitado o texto será expedida a Carta de Denúncia, que consiste no documento que deverá ser entregue pelo Poder Executivo ao Órgão Internacional competente informando que o Brasil não mais participará do Tratado celebrado. 
Os Tratados de direitos humanos sofreram uma profunda alteração no procedimento de incorporação após a promulgação da Emenda Constitucional 45 de 2004ao introduzir o art. 5º, §3º, da CF/88, que atribuiu à força constitucional aos tratados de direitos humanos, ao prever que o procedimento de analise pelo Poder Legislativo deverá seguir o mesmo que se aplica a elaboração das Emendas Constitucional, ou seja, votação em dois turnos por três quintos dos votos em casa uma das Casas, respectivamente.
Tratados Internacionais de Direitos Humanos e a EC/45
Fonte:
A teoria do Duplo Estatuto dos Tratados de Direitos Humanos
Um dos dilemas na seara  da hierarquia dos tratados de direitos humanos foi enfrentado pelo Supremo Tribunal Federal, em 2009, ao julgar o RE 466.343 a questão pertinente à prisão civil por dívida do depositário infiel, prevista no art.5 º, LXVIII, da CF/88, e seu confronto com Pacto de San José da Costa Rica (Dec. 678/92), que em seus dispositivos não prevê tal modalidade de prisão. Assim, após a Emenda Constitucional 45 foram defendidas várias teorias sobre a hierarquia dos tratados já incorporados anteriores da Emenda, sendo, as principais:
a. Teoria da Supraconstitucionalidade dos tratados de direitos humanos, pois estariam os tratados de direitos humanos acima da Ordem Constitucional dos Estados Soberanos, ou seja, acima da Constituição Federal.
b. Teoria da Constitucionalidade dos tratados de direitos humanos que defende a ideia que os tratados já incorporados ganhariam a partir da EC/45 força constitucional, independente do seu procedimento originário de incorporação.
c. Teoria da Supralegalidade dos tratados de direitos humanos, incorporados anteriormente da entrada em vigor da EC 45 de 2004, que defendem ideia que os tratados estariam em um status normativo localizado abaixo da Constituição Federal, mas acima do ordenamento jurídico infraconstitucional, ou seja, das Leis, em sentido amplo.
d. Teoria da Legalidade ou Infraconstitucionalidade dos tratados de direitos humanos, para qual estariam os tratados de direitos humanos no patamar infraconstitucional, ou seja, na hierarquia das normas comuns do ordenamento jurídico.
 
 
Pirâmide - hierarquia das forças normativas
Fonte:
Após o julgamento a Corte editou a Súmula Vinculante (SV) 25, firmando seu entendimento no sentido que os tratados de direitos humanos que foram incorporados antes da edição da EC/45, em 2004, passavam a vigor, a partir daquele momento, como força supralegal, ou seja, abaixo da Constituição Federal, mas acima do ordenamento jurídico. Assim, os tratados de diretos humanos, no Brasil, passaram a ter um duplo status ( Teoria do Duplo Estatuto dos Tratados): constitucional para os incorporados conforme o procedimento estabelecido pelo art. 5º,§3º, da CF/88, e supralegal  para os já incorporados antes de 2004 ou para os que não seguirem o ditames estabelecidos pela inovação da EC/45.
Redação da Súmula Vinculante 25 - É ILÍCITA A PRISÃO CIVIL DE DEPOSITÁRIO INFIEL, QUALQUER QUE SEJA A MODALIDADE DO DEPÓSITO.
 
A federalização dos crimes contra os Direitos Humanos e o Incidente de Deslocamento de Competência (IDC)
Outra inovação introduzida pela EC/45 foi a federalização dos crimes contra os direitos humanos ao estabelecer a competência da Esfera Federal para analisar e julgar os crimes relativos aos direitos humanos, desde que julgado procedente o Incidente de Deslocamento de Competência, que permite a transposição da Esfera Estadual, originária, para Esfera Federal, assim, objetivando uma efetiva proteção dos direitos humanos em decorrência do cumprimento das obrigações assumidas pelo Brasil em tratados internacionais.
Redação do dispositivo: 
 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
V-A – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o §5º deste artigo.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para Justiça Federal.
(BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Senado Federal, 2004)
Elementos constitutivos do IDC:
· Legitimidade: apenas o Procurador Geral da República
· Competência para analise do IDC: Superior Tribunal de Justiça (STJ)
· Pré-requisito objetivo: grave violação de direitos humanos
· Abrangência: matéria civil ou penal
· Momento: fase pré-processual (INQUÉRITO) ou processual
· Finalidade: cumprimento das obrigações assumidas pelo Brasil em tratados internacionais.
· Competência para analisar após autorização do IDC: fase pré-processual – Policia Federal ou na fase processual - Justiça Federal e Ministério Público Federal (art.109, V-A, da CF/88).
· Requisitos Jurisprudenciais: comprovação concreta do risco de descumprimento de obrigação decorrente de tratados internacionais firmados pelo Brasil. Podem ser motivos: a inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder a investigação ou julgamento do caso.
Os casos:
IDC n.1 -  Pará -  Caso Dorothy Stang – julgado improcedente  - Referente ao assassinato da missionária aos 73 anos, com seis tiros, em fevereiro de 2005, porque defendia a implantação do Plano de Desenvolvimento Sustentável.
IDC n.2 –  Pernambuco - Caso Manoel Mattos – julgado procedente  -Referente ao  assassinato do vereador e advogado Manoel Bezerra de Mattos, que atuava publicamente no enfrentamento de grupos de extermínio que atuavam na divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, ocorrido em janeiro de 2009  no Município de Pitimbu, na Paraíba.
Outras inovações da EC45/04 na seara dos direitos humanos
Ainda no campo dos direitos humanos, a Reforma do Judiciário promovida pela EC/45 introduziu mais dois dispositivos:
· Art. 5º, LXXVIII – ao estabelecer a aplicação do princípio da razoabilidade e da celeridade processual tanto no âmbito judicial como administrativo
· Art. 5º, §4º - ao estabelecer a submissão dos Brasil ao Tribunal Penal Internacional. A doutrina é divergente sobre a forma de submissão do Estado Brasileiro ao Tribunal Penal Internacional e as Corte Internacionais. Uma corrente, defendida, por exemplo, por Flávia Piovesan, a submissão seria integral a jurisdição da Corte Internacional, por se tratar de crimes de lesa humanidade e da proteção da Dignidade da pessoa humana. Já a corrente contrária, defendida, por exemplo, por Dimitri Dimoulis, a submissão seria parcial, por questões de inconstitucionalidade na integralidade, devido à questão da extradição de brasileiros e aplicação de penas, pelo Tribunal Penal Internacional, proibidas pela Constituição Federal. 
Direito Internacional Humanitário
Estudar o Direito Internacional Humanitário , sua origem, símbolos e conteúdo.
NESTE TÓPICO
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 I - Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) - Direito Internacional Humanitário (DIH) - Direito Internacional dos Refugiados (DIR).
 II – Conceito de Direito Internacional Humanitário
 III - ORIGEM DO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO
 IV - COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA - CICV
 IV.1 - SÍMBOLOS DO DIREITO HUMANITÁRIO
 V - CONTEÚDO DO DIREITO HUMANITÁRIO
 Referências
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I - Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) - Direito Internacional Humanitário (DIH) - Direito Internacional dos Refugiados (DIR).
A proteção internacional do ser humano recai em três sub-ramos do direito internacional público: a) Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), Direito Internacional Humanitário (DIH) e Direito Internacional dos Refugiados (DIR).
Conforme assinala André de Carvalho Ramos:
A inter-relação entre esses ramos é a seguinte: ao DIDH incumbe a proteção do ser humano em todos os aspectos, englobando direitos civis e políticos e também direitos sociais, econômicos e culturais; já o DIH foca na proteção do ser humano na situação específica dos conflitos armados (internacionais e não internacionais); finalmente, o DIR age na proteção do refugiado, desde asaída do seu local de residência, transito de um país a outro, concessão do refúgio no país de acolhimento e seu eventual término.
(RAMOS, 2014, p. 63)
O Direito Internacional dos Direitos Humanos é lex specialis em relação aos demais, e deve ser aplicado subsidiariamente a todas as situações, na ausência de previsão específica.
II – Conceito de Direito Internacional Humanitário
Conforme esclarece André de Carvalho Ramos:
Direito Internacional Humanitário (DIH) consiste no conjunto de normas jurídicas internacionais de origem convencional ou consuetudinária, que disciplina os conflitos armados, internacionais ou não internacionais, restringindo os meios e os métodos utilizados na guerra, assegurando direitos aos não combatentes (feridos, prisioneiros de guerra e população civil) e também punindo aqueles que cometem violações a suas regras.
(RAMOS, 2014, p. 65)
O Direito Internacional Humanitário, também conhecido como Direito da Guerra e Direito dos Conflitos Armados, não se confunde com o Direito de realizar a guerra.
É preciso distinguir, portanto, jus in bello; jus ad bellum e jus post bellum.
Jus in bello: limita o exercício da guerra, dos conflitos armados, com o objetivo de minorar os seus efeitos, conforme Ana Maria Bierrenbach:
O jus in bellum protege os combatentes, ex combatentes e civis, assim como estabelece limites para a violência inerente ao uso doe armamentos. O seu objetivo é o de “humanizar a guerra”, ainda que os termos da expressão pareçam contraditórios. A expressão moderna do jus in bello é o que se entende por DIH.
(BIERRENBACH, 2011, p. 90)
Jus ad bellum: é o direito ao exercício do conflito armado. “Tratava das condições que autorizavam os Estados a empregar a força contra outro sujeito do Direito Internacional” (BIERRENBACH, 2011, p. 90). Conforme assinala André de Carvalho Ramos, o uso do jus ad bellum está praticamente desaparecido:
Por sua vez, o direito de travar a guerra (direito à guerra, ou jus ad bellum) é extremamente reduzido nos dias de hoje, somente sendo invocável em caso de legítima defesa, de autorização dada pelo Conselho de Segurança da ONU (as chamadas “operações de imposição da paz”) e, por fim, de guerra de libertação nacional.O jus ad bellum foi transformado em um jus contra bellum, que consiste no direito de prevenção à guerra. Esta é, agora, em geral, condenada e só excepcionalmente aceita.
(RAMOS, 2014, p.66)
Jus post bellum: O Direito Internacional Humanitário preocupa-se não somente em limitar os efeitos do conflito armado e em proteger pessoas em bens. Recentemente tem se preocupado também em punir os autores das violações ao DIH. As violações ao Direito Internacional Humanitário configuram crime de guerra, de competência do Tribunal Penal Internacional (TPI).
III - ORIGEM DO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO
Conforme esclarece Ana Maria Bierrenbach, a origem do Direito Internacional Humanitário remonta à práticas antigas, ligadas aos costumes, religiões, que impunham limites à prática da guerra. Ao lado do direito consuetudinário, estão os tratados internacionais, limitando os Estados, impondo limites nos conflitos armados:
As "normas da guerra" parecem ser tão antigas quanto a própria guerra. Há registros da adoção de regras costumeiras para a condução dos conflitos armados desde 1000 a.C. Ao longo do tempo, esses dispositivos foram sendo normatizados. Inicialmente, em tratados bilaterais e, a partir do século XIX, em tratados multilaterais.
(BIERRENBACH, 2011, p. 90)
IV - COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA - CICV
A história do Direito Internacional Humanitário está intimamente ligada a história do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Em 1859 Jean Henri Dunant, um jovem suíço, presenciou a Batalha de Solferino, ao norte da Itália. Trata-se de um episódio decisivo para a unificação da Itália. Impressionado pelo número de feridos em combate, que não recebiam qualquer proteção ou tratamento, este jovem suíço, com auxílio de outros quatro cidadãos genebrinos fundou em 1863 o "Comitê Internacional de Ajuda aos Feridos", que também ficou conhecido como "Comitê dos Cinco". Em 1867 este Comitê adotou a denominação de Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
O Comitê internacional da Cruz Vermelha é, portanto, uma associação civil de Direito suíço, sediada em Genebra, reconhecida formalmente pelas Convenções de Genebra como organização humanitária independente.
Além do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) atuam no Movimento da Cruz Vermelha:
1. As Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha, ou do Crescente Vermelho (países islâmicos) ou do Magen David Adom (Israel), que são pessoas jurídicas de Direito Privado nacionais, constituídas de acordo com as leis dos locais em que estão sediadas, sem vínculo com o CICV;
2. A Federação das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, criada em 1919, e que reúne as associações nacionais, com sede em Genebra.
IV.1 - SÍMBOLOS DO DIREITO HUMANITÁRIO
Três são os símbolos do direito humanitário: a cruz vermelha, o crescente vermelho e o cristal vermelho, conforme destaca André de Carvalho Ramos:
Inicialmente, o emblema escolhido foi uma cruz vermelha sobre fundo brando (as cores e a insígnia da bandeira da Suíça "invertidas"), tendo como divisa o lema: "Inter Armas Caritas" (Humanidade em Tempo de Guerra). O uso do emblema com forme inspiração na bandeira Suíça foi homenagem ao estatuto de neutralidade daquele Estado, de tradição secular e previsto no século XIX pelos Tratados de Paris e Viena de 1815.Durante a guerra entre o Império Otomano e a Rússia (1876-1878), os turcos adotaram, unilateralmente, o emblema do "Crescente Vermelho", sob o fundo brando, fundado na justificativa de ser um constrangimento ao islamismo o uso de um emblema contendo uma cruz católica. Na Conferência de Genebra de 1949, a Delegação de Israel sugeriu a adoção de mais um símbolo, o Magem David Adon (Estrela ou Escudo Vermelho de David), que não foi aceito no texto da Convenção I de 1949, cujo artigo 38 previu que, em homenagem à Suíça, o sinal heráldico da cruz vermelha em fundo branco formado pela inversão das cores da bandeira suíça seria mantido como emblema e sinal distintivo do serviço de saúde das Forças Armadas. Foram reconhecidos nos termos da Convenção de 1949 "o crescente vermelho" e o "leão e o sol vermelhos" (símbolo requisitado pela Pérsia e depois abandonado pelo Irã em 1980), para os países que já o empregavam como sinais distintivos. O "Magen David Adom" foi reconhecido desde 2006 pelo CICV, como emblema nacional da Sociedade Israelense da Cruz Vermelha.Para resolver de vez a questão do símbolo distintivo (que possui conotações práticas, em especial em zonas conflagradas), os Estados -partes das Convenções de Genebra elaboraram um Terceiro Protocolo Adicional às Convenções na Conferência Intergovernamental de 2005 estabelecendo o cristal vermelho como mais um símbolo internacional reconhecido. O Brasil ratificou e incorporou internamente o III protocolo em 2010 (Decreto n. 7.196/2010).
(RAMOS, 2014, p. 71/72)
Os símbolos do DIH tem aplicações práticas nos conflitos armados, pois identificam os agentes do direito humanitário, que devem ser poupados dos ataques.
V - CONTEÚDO DO DIREITO HUMANITÁRIO
Conforme esclarece André Ramos Tavares, as normas do Direito Internacional Humanitário podem ser divididas em quatro grupos, a partir do local da redação da maior parte dos seus tratados:
1 -Direito de Haia; "Consiste no conjunto de normas jurídicas que regula os meios de a condução das hostilidades armadas. O nome é homenagem ao trabalho das duas Conferências Internacionais da Paz, realizadas em Haia, em 1899 e 1907, durante as quais foram editados, respectivamente, 3 e 13 tratados, tanto sobre o 'jus in bello', como também sobre o 'jus ad bellum', em especial no tange à prevenção da guerra e ao estímulo à arbitragem internacional" (RAMOS, 2014, p. 67).
2 - Direito de Genebra;"Consiste no conjunto de normas do DIH voltados à proteção dos que nunca participam do conflito (a população civil e o pessoal médico e de assistênciasocial) e dos que não participam mais das hostilidades (feridos e prisioneiros de guerra). Seu foco está no não combatente: o ferido, o prisioneiro de guerra e a população civil” (RAMOS, 2014, p. 67).As principais fontes do Direito de Genebra são as chamadas Convenções de Genebra, de 1949:
· I Convenção de Genebra para melhorar a situação dos feridos e dos enfermos nas forças armadas em campanha;
· II Convenção de Genebra para melhorar a situação dos feridos, dos enfermos e dos náufragos das forças armadas do mar;
· III Convenção de Genebra relativa ao tratamento dos prisioneiros de guerra;
· IV Convenção de Genebra relativa à proteção das pessoas civis em tempo de guerra.
3 -Direito de Nova York;"Consiste no conjunto de normas originadas no seio da Organização das Nações Unidas (cuja sede principal fica em Nova York), que objetiva a ampliação da proteção de direitos humanitários no Direito Internacional Humanitário". "Contribui para aumentar a proteção já dada pelo Direito de Genebra e da Haia. Logo, essa diferença doutrinária entre Direito da Haia, Direito de Genebra e Direito de Nova York é difícil de ser verificada na prática, pois há confluência entre essas subespécies" (RAMOS, 2014, p. 69).
4 - Direito de Roma.Consiste no conjunto de regras de implementação da responsabilidade internacional, no âmbito penal do agente violador das regras do direito internacional humanitário. Em 1988, na Conferência de Roma, foi assinado do Estatuto de Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional, com sede permanente em Haia. As violações das regras do DIH configuram crime de guerra, possibilitando a responsabilização penal dos seus agentes perante o TPI.
 
 
 
O Tribunal Penal Internacional
Estudar o a Jurisdição Penal Internacional de proteção aos Direitos Humanos.
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 I - ANTECEDENTES HISTÓRICOS - Do Tribunal de Nuremberg ao Tribunal Penal Internacional
 II - O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
 II - 1 - O Estatuto de Roma
 II.2 - A Jurisdição do TPI
 III. 3 - Princípio da Complementaridade
 II.4 - Penas
 III - O TPI E O BRASIL
 Referências
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I - ANTECEDENTES HISTÓRICOS - Do Tribunal de Nuremberg ao Tribunal Penal Internacional
A ideia de uma jurisdição penal internacional para o julgamento de crimes de guerra surgiu com o término da Primeira Guerra Mundial. O sentimento de que os crimes cometidos na Grande Guerra não poderiam ficar impunes era muito elevado, o que levou as potências aliadas, vencedoras, incluírem no art. 222 do Tratado de Versalhes a previsão de um tribunal penal internacional para o julgamento do Kaiser Guilherme II de Hohenzollern, pelos crimes cometidos na Primeira Grande Guerra. O kaiser alemão, no entanto, não chegou a ser julgado, pois os Países Baixos (local onde o imperador alemão buscou asilo) recusou-se a fazer a sua extradição. (BAZELAIRE, CRETIN, p. 15).
 
Em 1937 a Liga das Nações elaborou um tratado para a prevenção e repressão do terrorismo, que previa a criação de uma corte penal internacional. Este tratado, no entanto, não chegou a entrar em vigor, por falta de adesão dos Estados, conforme esclarece André de Carvalho Ramos (RAMOS, p. 341).
Ao término da Segunda Guerra Mundial, conforme esclarecem Jean-Paul Bazelaire e Thierry Cretin, "a revelação feita à opinião pública sobre a amplitude dos crimes da Segunda Guerra Mundial, e muito particularmente o choque entre o genocídio dos judeus, a brutalidade da agressão japonesa contra a China em primeiro lugar, e os Estados Unidos em seguida, vão dessa vez se revelar determinantes para a implantação de tribunais internacionais" (BEZELAIRE, CRETIN, 2004, p. 19).
Dois tribunais militares foram instalados: O Tribunal de Nuremberg, com a finalidade de julgar os crimes de guerra cometidos pelos alemães, e o Tribunal Penal Militar do Extremo Oriente, também conhecido como Tribunal de Tókio, para julgar os crimes de guerra cometidos pelos japoneses.
Embora tribunais militares, ou seja, justiça de vencedor de guerra sobre o vencido, são marcos para a construção de uma justiça penal internacional:
Para concluir sobre os dois tribunais militares de Nuremberg e de Tókio, as primeiras etapas efetivas da justiça penal internacional, aparece, por um lado, exemplos de justiça de vencedor; mas ainda, se evocarmos apenas o caso de Tókio. Entretanto, esse julgamento deve ser atenuado no que diz respeito a Nuremberg; ninguém pode contestar de que se trata de justiça penal, visto que três absolvições foram pronunciadas. Uma justiça de vencedor não teria certamente chegado a isso.  
(BEZELAIRE, CRETIN, 2004, p. 39)
Na década de 90 o Conselho de Segurança da ONU criou dois tribunais penais ad hoc  e temporários.
A Resolução n. 827, de 1993, do Conselho de Segurança da ONU criou o Tribunal Penal Internacional para os crimes contra Direito Humanitário cometidos na Ex Iugoslávia. Referido tribunal tinha competência para julgar os responsáveis pelas violações de direito internacional humanitário cometidas no território da antiga Iugoslávia desde o ano de 1991.
Em 1994, a Resolução n. 955 do Conselho de Segurança determinou a criação do segundo tribunal ad hoc, para julgar as graves violações de diretos humanos, em especial o delito de genocídio, cometidas em Ruanda e em Estados vizinhos.
Conforme assinala André de Carvalho Ramos:
Com os dois tribunais ad hoc, aceleraram-se os esforços das Nações Unidas para constituição de um Tribunal Internacional Penal permanente, par julgar os indivíduos acusados de cometer crimes de jus cogens posteriores à data de instalação do tribunal (evitando-se o estigma do tribunal ad hoc e as críticas aos "tribunais de exceção), sob o pálido do devido processo legal. 
(RAMOS, p. 344.)
II - O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
II - 1 - O Estatuto de Roma
No ano de 1988, na Conferência Intergovernamental em Roma, foi adotado o texto do tratado internacional que criou o Tribunal Penal Internacional. Referido tratado passou a ser conhecido como "Estatuto de Roma". Foi aprovado com 120 votos a favor e 7 contrários (Estados Unidos, China, Índia, Iêmen, Israel e Catar) e 21 abstenções. Exigia-se, para que o tratado entrasse em vigor, a ratificação de ao menos 60 países. Esse número somente foi alcançado em 2002. Dados do ano de 2013 apontam que integram o Tribunal Penal Internacional 122 Estados. Conforme salienta André de Carvalho Ramos, algumas ausências ainda são expressivas, como China, Estados Unidos, Israel, Irã e Rússia. (RAMOS, p. 344).
Ao contrário dos tribunais ad hoc, o Tribunal Penal Internacional é um órgão independente da ONU, não possuindo qualquer relação de dependência e subordinação. Possui personalidade jurídica própria, estabelecendo uma relação de cooperação com a ONU, enviando relatórios anuais à Assembleia Geral, e acatando determinadas decisões do Conselho de Segurança da ONU, quando ao início de um caso e suspensão de um trâmite. (RAMOS, p. 345).
O Tribunal Penal Internacional possui sede em Haia (Holanda), e é composto por quatro órgãos: Presidência, Divisão Judicial, Procuradoria (Ministério Público) e Secretariado.
 
II.2 - A Jurisdição do TPI
A jurisdição do Tribunal Penal Internacional é fixada sob três aspectos: em razão da matéria; em razão do espaço; e em razão do tempo.
Em razão da matéria (ratione materiae), o TPI é competente para julgar os seguintes delitos:
· genocídio;
· crimes contra a humanidade;
· crimes de guerra;
· crimes de agressão (este tipo penal somente foi acordado em 2010, na Conferência de Kampala, Uganda).
A competência espacial do TPI é determinada pelos seguintes critérios. O Tribunal é competente para o julgamento do delito quando:
a. for cometido no território de um Estado parte;
b. for cometido por um nacional do Estado parte;
c. mediante declaração específica do Estado não contratante (no caso do crime ter sido cometido em seu território ou por seu nacional);
d. ou, na ausência das hipóteses anteriores, o Conselho de Segurança da ONU adotar resolução vinculante determinando a instauração de procedimento.
No âmbito temporal, o TPI somenteé competente para julgar delitos cometidos após entrada em vigor do Estatuto de Roma, em 1º de julho de 2002.
 
III. 3 - Princípio da Complementaridade
O TPI, como jurisdição internacional, não suprime a jurisdição interna dos Estados partes. A jurisdição do TPI somente será acionada se o Estado parte, tendo competência para julgar o delito, não o faz.
Por esse princípio, o TPI não exercerá sua jurisdição caso o Estado com jurisdição já houver iniciado ou terminado investigação ou processo penal, salvo se este não tiver "capacidade" ou "vontade" de realizar justiça. Nesse ponto, o próprio Estado Parte pode solicitar a intervenção do TPI ou ainda o próprio TPI pode iniciar as investigações e persecuções criminais. Assim a jurisdição internacional penal é complementar à jurisdição nacional e só poderá ser acionada se o Estado não possuir vontade ou capacidade para realizar justiça e impedir a impunidade.
 
(RAMOS, P. 347)
Todavia, quando o Estado Parte realiza um julgamento, apenas e tão somente uma simulação para realizar uma impunidade, o TPI pode determinar novo julgamento pela jurisdição internacional "O art. 20, §3º, do Estatuto chega ao ponto de esclarecer que o TPI não julgará de novo o criminoso, salvo se o processo criminal nacional tiver sido feito para obtenção da impunidade. Quem decide se o julgamento nacional, mesmo que chancelado pela Suprema Corte local, foi um simulacro para obtenção da impunidade? O próprio TPI." (RAMOS, 347)
 
II.4 - Penas
O Estatuto de Roma prevê como pena aos delitos de competência do TPI a privação de liberdade por período máximo de 30 anos. Em situações excepcionais, quando o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado justificarem, o Estatuto prevê a possibilidade de aplicação prisão perpétua.
Além da pena de prisão, pode também o Tribunal aplicar a pena de multa, perda de produtos, bens e haveres decorrentes, direta ou indiretamente, do delito, sem prejuízo dos direitos de terceiros quem tenham agido em boa fé.
As penas de prisão podem ser revistas a favor do condenado após o cumprimento de dois terços da pena. No caso de pena de prisão perpétua, a revisão poderá ocorrer após o cumprimento de 25 anos de prisão.
 
III - O TPI E O BRASIL
A Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 5 de outubro de 1988 com a determinação de que o Estado Brasileiro participasse ativamente da criação de um Tribunal de Jurisdição internacional de Direitos Humanos, nos termos do artigo 7º do ADCT:
O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos.
 
(CRFB, art. 7º ADCT.)
A Emenda Constitucional n. 45 de 2004 acrescentou o parágrafo quarto ao artigo 5º da Constituição da República:
O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
(CRFB, art. 5º, §4º.)
Embora haja discussão doutrinária acerca da constitucionalidade da possibilidade do TPI exigir a entrega de brasileiro nato ao Tribunal para ser processado e julgado, em razão do inciso LXVII do art. 5º da CF, conforme salienta André de Carvalho Ramos, não há impedimento para a aplicação do Estatuto de Roma:
O Estatuto de Roma expressamente prevê o dever do Estado de entrega (surrender) das pessoas acusadas cujo julgamento foi considerado admissível pela Corte. O art. 102 do Estatuto expressamente diferencia a extradição do ato de entrega. A extradição é termo reservado ao ato de cooperação jurídica internacional penal entre Estados soberanos. Já o surrender é utilizado no caso específico de cumprimento de ordem de organização internacional de proteção de direitos humanos, como é o caso do Tribunal Pena Internacional. Logo, não haveria óbice constitucional ao cumprimento de ordem de detenção e entrega de acusado brasileiro ao Tribunal, já que a Constituição brasileira só proíbe a extradição de nacionais. Como o brasileiro não estaria sendo remetido a outro Estado, mas sim a uma organização internacional (o Tribunal Penal Internacional) que representa a comunidade dos Estados, não haveria impedimento algum.
 
(RAMOS, P. 354.)
A Organização das Nações Unidas
Estudar a internacionalização dos Direitos Humanos, a criação e organização da Organização das Nações Unidas.
NESTE TÓPICO
NESTE TÓPICO
 I – ANTECEDENTES À INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
 Direito Humanitário:
 Sociedade das Nações:
 Organização Internacional do Trabalho (OIT)
 II – O PÓS SEGUNDA GUERRA: A RECONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
 III - A CARTA DAS  NAÇÕES - A CRIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
 Objetivos da Organização das Nações Unidas
 Referências
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I – ANTECEDENTES À INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Flávia Piovesan esclarece que três fatores se apresentam como antecedentes à internacionalização dos Direitos Humanos: o Direito Internacional Humanitário, a Sociedade das Nações e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) (PIOVESAN, 2009, p. 111).
Direito Humanitário:
É o direito que se aplica durante o conflito armado, impondo a proteção de combatentes feridos, civis e limitando o exercício dos métodos de guerra. Neste sentido, impõe limites à liberdade e autonomia dos Estados, ainda que nas hipóteses de conflito armado.
Sociedade das Nações:
Também conhecida como “Liga das Nações, foi criada após a 1ª Guerra Mundial. Esta organização internacional, formada por Estados, continha previsões genéricas relativas a Direitos Humanos. Representa uma nítida relativização da soberania estatal, na medida em que a Convenção da Sociedade das Nações continha “sanções econômicas e militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem suas obrigações. Redefinia-se, desse modo, a noção de soberania absoluta do Estado, que passa a incorporar em seu conceito compromissos e obrigações de alcance internacional no que diz respeito aos direitos humanos”. (PIOVESAN, 2009, p. 115).
Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Criada após a 1ª Guerra Mundial tem a finalidade de promover a padronização, em âmbito internacional dos direitos sociais, em especial das condições de trabalho e bem estar.
O Direito Internacional Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho se apresentam como primeiros precedentes da internacionalização dos direitos humanos na medida em que “tais institutos rompem, com o conceito tradicional que situa o Direito Internacional apenas como a lei da comunidade internacional dos Estados e que sustentava ser o Estado o único sujeito de Direito Internacional. Rompem ainda com a noção de soberania nacional absoluta, na medida em que admitem intervenções no plano nacional, em prol da proteção dos direitos humanos” (PIOVESAN, 2009, p. 117).
II – O PÓS SEGUNDA GUERRA: A RECONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
A Segunda Guerra implica em um rompimento com os direitos humanos, tendo em vista as graves violações cometidas por todos os envolvidos neste conflito armado mundial. Este conflito armado é caracterizado pelo desprezo ao ser humano, apresentando o Estado como grande violador dos direitos humanos, conforme esclarece Flávia Piovesan:
 
(...) a Era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, que resultou no envio de 18 milhões de pessoas a campos de concentração, com a morte de 11 milhões, sendo 6 milhões de judeus, além de comunistas, homossexuais e ciganos. O legado do nazismo foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direito, ao pertencimento à determinada raça - a raça pura ariana. (...) A barbárie do totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio da negação do valor da pessoa humana como valor-fonte do Direito.
(PIOVESAN, 2011, p. 36/37)
Se, entretanto, a Segunda Grande Guerra significou o rompimento com os direitos humanos, o Pós-Guerra determina a reconstrução destes direitos humanos, agora, em um plano internacional.
As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial demonstraram à comunidade internacional a necessidadede proteção à dignidade humana em um plano internacional.
Neste sentido:
Se a Segunda Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o pós-guerra deveria significar a reconstrução.
Nasce, ainda, a certeza de que a proteção dos direitos humanos não deve se reduzir ao âmbito reservado de um Estado, porque revela tema de legítimo interesse internacional. Sob esse prisma, a violação dos direitos humanos não pode ser concebida como questão doméstica do Estado, e sim como problema de relevância  internacional, como legítima preocupação da comunidade internacional
(PIOVESAN, 2009, p. 121.)
Fábio Konder Comparato lembra que a Segunda Guerra foi marcada pela subjugação de povos considerados inferiores por aqueles que se julgavam superiores. Ademais, afirmou, o término do conflito com o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagazaki demonstrou que o homem havia descoberto o poder de destruir toda a vida na face da Terra. Conclui que, a sobrevivência da humanidade dependeria da colaboração de toda a humanidade, em uma reorganização das relações internacionais com base no respeito incondicional aos direitos humanos. KOMPARATO, 2008, p. 214
 
III - A CARTA DAS  NAÇÕES - A CRIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
Em 1945, ao término da Conferência de São Francisco, foi editada a Carta das Nações, criando a Organização das Nações Unidas, em substituição à extinta Sociedade das Nações (criada após o término da Primeira Guerra Mundial). Fábio Konder Comparato destaca a diferença entre a ONU e a Sociedade das Nações:
A ONU difere da Sociedade das Nações, na mesma medida em que a Segunda Guerra Mundial se distingue da Primeira. Enquanto em 1919 a preocupação era a criação de uma instância de arbitragem e regulação dos conflitos bélicos, em 1945 objetivou-se colocar a guerra definitivamente fora da lei. (...)
Por isso, enquanto a Sociedade das Nações não passava de um clube de Estados, com liberdade de ingresso e retirada conforme suas conveniências próprias, as Nações Unidas nasceram com a vocação de se tornarem a organização da sociedade política mundial, à qual deveriam pertencer portanto, necessariamente, todas as nações do globo empenhadas na defesa da dignidade humana.
(KOMPARATO, 2008, p. 214)
Hans-Joachim Heintze adverte que a Carta das Nações é um documento amplo, tendo em vista que é um tratado constitutivo de uma organização internacional, e portanto, deve conter princípios básicos de direito internacionais. Suas disposições são gerais. Esclarece que "a ONU é uma organização de coexistência, ou seja, as disposições devem permitir que tanto países ocidentais e comunistas como países desenvolvidos e subdesenvolvidos concordem." Esclarece, também, que com o estipulado na Carta das Nações, os direitos humanos foram, pela primeira vez, matéria do Direito Internacional Público. (PETERKE, 2009, p. 26).
 
Objetivos da Organização das Nações Unidas
Em seu preâmbulo, a Carta das Nações evidencia que a criação da ONU ocorreu sob o impacto de duas guerras mundiais, bem como a necessidade de reafirmar os direitos humanos em uma órbita internacional:
Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações de correntes de tratados e outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.
E para tais fins, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos.
(Preâmbulo da Carta das Nações, 1945)
O artigo primeiro da Carta elenca os propósitos da ONU:
1 - Manutenção da paz e da segurança internacional;
2 - Desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e autodeterminação dos povos;
3 - Cooperação internacional para a solução de problemas mundiais de ordem social, econômica e cultural, incentivando o respeito pelos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua e religião.
 
O artigo 7º da Carta das Nações estabelece os principais órgãos da ONU: Assembleia Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela, Corte Internacional de Justiça e Secretariado.
 
Assembleia Geral
Tem competência para discutir e deliberar sobre questões relativas as matérias objeto da Carta das Nações. Cada membro da ONU tem direito à  uma cadeira na Assembleia Geral, com direito a um voto. O artigo 18 da Carta elenca questões importantes, que serão tomadas por voto de dois terços dos Membros presentes e votantes. As demais questões serão deliberadas por maioria dos presentes.
 
Conselho de Segurança
O Conselho de segurança está disciplinado no artigo 23 e seguintes. Sua principal função é a manutenção da paz e segurança internacionais.
É composto por 15 membros, sendo que destes, 5 são membros permanentes, e 10 membros não permanentes.
São membros permanentes (art. 23): a) a República da China, b) a França, c) a Rússia (em substituição a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), d) o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, e) Estados Unidos da América.
Os membros não permanentes, ou rotativos, são eleitos pela Assembleia Geral para mandato dois anos, considerando a contribuição dos membros para os propósitos da ONU, bem como a distribuição geográfica equitativa.
Cada membro do Conselho de Segurança terá direito a um voto. Nos termos do artigo 27, as decisões processuais serão tomadas por maioria dos membros, 9 votos. As questões materiais, por seu turno, embora também exijam a maioria dos membros, requer o voto de todos os membros permanentes. É o poder de veto dos membros permanentes.
 
Conselho Econômico e Social
É composto por 54 membros, eleitos pela Assembleia Geral (art. 61). Possui competência para promover a cooperação em questões econômicas, sociais e culturais, incluindo direitos humanos (art. 62).
 
Conselho de Tutela
Tem por finalidade promover e incentivar o processo de descolonização e autodeterminação dos povos. Atualmente este órgão da ONU está desativado.
 
Corte Internacional de Justiça
Nos termos do art. 92 da Carta das Nações, é o principal órgão judiciário da ONU (art. 92). Está sediada em Haia, nos Países Baixos. O seu funcionamento é regulado por Estatuto próprio, anexado à Carta das Nações.
Possui natureza contenciosa e consultiva. Somente os Estados são partes em questões da Corte Internacional de Justiça (art. 34 do seu Estatuto).
 
Secretariado
O Secretariado é um órgão administrativo da ONU, chefiado pelo Secretário Geral, escolhido pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança.
 
Conselho de Direitos Humanos
O Conselho de Direitos Humanos está diretamente ligado à Assembleia Geral, foi criado em 2006 em substituição à Comissão de Direitos Humanos (que atuou de 1956 à 2006 e estava ligada ao Conselho Econômico e Social. Conforme esclarece Flávia Piovesan, "seus membros ficam condicionados a um critério explícito de respeito aos direitos humanos, tendo em vista que a eleição de seus 47 membros pela Assembleia Geral deve levar em consideração a constituição dos candidatos para a promoção e proteção dos direitos humanos. Além disso, poderá a Assembleia Geral, por voto de dois terços de seus membros, suspender os direitos do Estado-membro que cometer graves e sistemáticas violações de direitos humanos." (PIOVESAN, 2009, p. 131)
Declaração

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