Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ano Lectivo 2014/2015 Hécate: um estudo inicial Trabalho realizado para as disciplinas de História da Grécia Antiga e História das Religiões Grega e Romana, regida pelo Profº Dr. Nuno Simões Rodrigues Entregue a: 23 de Janeiro de 2015 Joana Vieira Varela Nº 46066 Mestrado em História, especialidade de História Antiga 2 Joana Varela 46066 Dos muitos deuses gregos que se conhecem, Hécate é uma das deusas das quais menos se conhece. Filha de Astéria e Perses e descendente directa da geração dos Titãs, Hécate é mais caracterizada pelas suas funções do que pelas lendas em que aparece. Hesíodo, na Teogonia, dá uma grande importância a Hécate, mostrando os dons que Zeus lhe concede, ainda que ela seja filha única 1 . Durante a guerra contra os Gigantes, Hécate lutou ao lado de Zeus e dos deuses do Olimpo, recebendo também por isso grandes honras 23 . Deusa benévola, Hécate adquire as suas características mais negativas a partir do período clássico 4 , tornando-se uma deusa mais negra e constantemente ligada a fantasmas 5 . A deusa podia controlá-los para proteger quem a honorasse e lhe pedisse ajuda, mas podia também enviar daemones para atacar quem achasse que assim o merecia. Não tendo um mito próprio, esta deusa grega da magia, das encruzilhadas e da noite, estava ligada a Ártemis e Selene, deusas da lua. Num dos mitos em que aparece, é relatado o rapto de Perséfone. Esta deusa, que mais tarde se tornou rainha do Submundo, foi raptada pelo seu tio, Hades. Aquando do rapto, Perséfone teria gritado por ajuda e apenas Hélio, Hécate e a Deméter a teriam ouvido. Mãe de Perséfone, Deméter procurou durante nove dias e nove noites pela filha, tendo encontrado Hécate no décimo dia. Contudo, ela não a pode ajudar pois não teria reconhecido o raptor da jovem, apenas o deus Hélio, que tudo vê, pode dizer a Deméter o que tinha acontecido. Ao encontrar Perséfone, Hécate, que tinha acompanhado Deméter na procura da filha, vai acompanhar a jovem deusa ao submundo e garantir que o acordo feito entre a mãe desta e Hades se cumpra 6 . 1 Confira Hesíodo, Teogonia trabalhos e dias, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005, vv.411-452 2 Vide Paul Hamlyn, ed., New Larousse Encyclopedia of Mythology, London, New York, Sydney, Toronto, 1968, p.165 3 Para uma análise mais direccionada sobre Hécate na Teogonia, vide Deborah Boedeker, “Hecate: A Transfunctional Goddess in the Theogony?”. Transactions of the American Philological Association, vol.113, Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1983, pp. 79-93. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/284004 4 Os arqueólogos do século XIX, através da estratigrafia, criaram uma divisão em três períodos: o arcaico (do século VIII a.C. a VI a.C.), o clássico (entre o século V a.C. e a 1ª metade do século IV a.C.) e o período helenístico (da 2º metade do século IV a.C. ao século I d.C.). Mais tarde foram definidos cinco períodos: o minóico, o micénico, o homérico (ou heróico), o arcaico, o clássico e o helenístico, por fim. 5 Confira Tricia Magalhães Carnevale, Hekate, de deusa ctônica dos atenienses do período clássico à deusa da feitiçaria no imaginário social do Ocidente. Dissertação de mestrado em História, especialidade de História Política, apresentada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012,p.44. Exemplar policopiado. Disponível em: http://www.academia.edu/4932370/Hekate_de_deusa_ct%C3%B4nica_dos_atenienses_do_per%C3%ADodo_cl%C3% A1ssico_%C3%A0_deusa_da_feiti%C3%A7aria_no_imagin%C3%A1rio_social_do_Ocidente 6 Sobre este mito vide Marília P. Futre Pinheiro, Mitos e Lendas da Grécia Antiga, Lisboa, Clássica Editora, 2011, p. 269-273 http://www.jstor.org/stable/284004 3 Joana Varela 46066 Aquando do rapto de Perséfone, Hécate encontrava-se na sua caverna, sendo que esta se torna a “personificação da morte no hino – com o rapto de Perséfone e sua descida às entranhas do mundo – e do útero, da parte maternal, quando a deusa se torna sua protectora, como uma segunda mãe” 7 . Hécate adquire assim algumas características maternais, ligadas à protecção dos jovens, sendo por vezes considerada a “ ‘ foster mother goddess’ of the youth” 8 . Esta caverna ou gruta simboliza também o estado intermediário de Hécate, ou seja, ela não se encontra à superfície nem no submundo, mas antes num ponto entre estes dois. 9 Ligada às fases de transições pelas quais as korae passavam, Hécate atendia aos casamentos e, como Ártemis, deveria abençoar o casamento e ajudar na passagem da donzela para mulher 10 , sendo este um dos factores de associação das duas deusas acima referidas: “Hecate’s connection to spectral beings can particularly be derived from her function in the premarital rites of transition for women: unmarried girls and childless women who died thus, according to Greek ideas, unsuccessfully, could become menacing ghosts who went about in the entourage of Hecate, probably because she was responsible for their lot.” 11 . Os Oráculos Caldeus identificam-na como ventre da vida, a partir da qual todo o Cosmos foi criado. 12 Uma das versões do mito de Ifigénia 13 pode aqui ter um vínculo dado que, na versão em causa, quando Ifigénia iria ser morta em sacrifício a Ártemis, a deusa tê-la-ia salvo e transformando-a na deusa Hécate. Também a sua ligação aos cães a caracteriza como uma deusa ligada ao nascimento – estes só foram associados a demónios e às almas inquietas mais tardiamente. No início eram considerados animais com uma natureza amistosa e carinhosa, um animal que protegia e guardava os seus filhos: “Hecate’s connection with dogs and dogs sacrifices probably resulted, on one hand, from her role as 7 Vide Leandro Mendonça Barbosa, Representações do ctonismo na cultura grega (séculos VIII-V a.C.), Dissertação de doutoramento em História, especialidade de História Antiga, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2014, p.501. Exemplar policopiado. Disponível em: http://hdl.handle.net/10451/11696 8 Confira Pierre Grimal, “Hecate”, The dictionary of classical mythology, USA, UK, Australia, Blackwell Publishing, 1996, p.181 9 Vide Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira: A Study of Hekate’s Roles in the Chaldean Oracles and Related Literature, Atlanta, Georgia, Scholars Press, 1990, p.28 10 Sobre estes ritos de passagem, atente-se no trabalho de idem, “Hecate and the dying maiden”. Restless dead: encounters between the Dead in Ancient Greece, .Berkeley, Los Angeles, London, University of California Press, 1999, pp.203-249 11 Vide Hubert Cancik; Helmuth Schneider, ed., Brill’s Encyclopedia of the Ancient World New Pauly, Antiquity Vol. 6 HAT-JUS, Brill Leiden, Boston, 2005, p.38 12 Confira Sarah Iles Johnston, Restless dead […], p.211 13 Esta versão do mito está presente é contada por vários autores, como por exemplo Estesícoro. Atente-se em Jennifer Larson, Ancient greek cults: a guide, New York, London, Routledge, 2007, p.166 http://hdl.handle.net/10451/11696 4 Joana Varela 46066 a birth goddess, on the other hand, at the end of the classical era, the dog was connected with Hecate’s appearances as a mistress of ghosts, accompanied on her nightly wanderings by a pack of howling dogs that were seen as the souls of the dead, or were coming as announced by the howling dogs.” 14 . Hécate tinha um papel importante como deusa ligada ao nascimento pois não só supervisionava a transição de uma alma quando esta saía do corpo, mas também quando entrava neste. 15 Desde a época clássica que Hécate está conectada com fantasmas e daemones 16 , entidades que tinham uma “ability to harm or frighten men if they so wished and a nebulous existence between man god, life and death”. Como estas criaturas costumavamlocalizar-se nas encruzilhadas, Hécate é por excelência a deusa que os gere e guia, quando possível. Todos os que não fazem a passagem ficam no Limbo e vagueiam pelo mundo com a deusa. Além da conotação com as encruzilhadas, estes espíritos estavam também associados à lua pois, segundo a visão de Plutarco que Sarah Johnston desenvolve, a lua seria a sua casa, quer isto dizer, a lua tinha uma natureza dividida (tanto terrena como celestial) e também os daemones a tinham, e eram também eles que permitiam a ligação entre os domínios da terra e do céu. 17 Assim, como Hécate possuía estas mesmas características, é facilmente compreensível o porquê da união de todas estas características numa só figura de uma deusa. Contudo, e tal como os outros deuses gregos, Hécate dava e tirava, isto é, todos os deuses têm uma vertente positiva e uma vertente negativa: “Like all divinities, Hecate can take away what she gives. Perhaps women who try to avert Hecate in some other fragments from Sophron are also concerned with protecting a parturient woman and her infant.”. 18 14 Confira Hubert Cancik; Helmuth Schneider, ed., op.cit., pp.38-39 15 Para um maior desenvolvimento no tema de Hécate como deusa ligada ao nascimento, vide Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira […], p.23 n.8, apud Fritz Graf, Nordionische Kulte, Rome, [s.n.], 1995, p.257; Theodor Kraus, Hekate: studien zu wesen und Bild der Göttin in Kleinasien und Griechenland, Heidelberg, Winter, 1960, p.86; Erwin Rohde, Psyche: The cult of Souls and Belief in Immortality among the Greeks. Translation by W.B. Hillis. London, English Ed., 1925, p.322 16 Ainda que existam diferenças entre as almas desencarnadas e as entidades chamadas daemones, para este estudo serão considerados como espíritos com características muito semelhantes. Para uma confrontação de vários autores antigos e a sua caracterização destes seres, vide Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira […], pp.36-37 17 Recupere-se o entendimento de Idem, ibidem, pp.34-35 18 Vide Sarah Iles Johnston, Restless dead […], p.212 5 Joana Varela 46066 Terá sido devido às suas características mais maternais que esta deusa vinda, provavelmente da Cária (Ásia Menor), chegou ao panteão dos deuses gregos: “on a votive relief from imperial Phrygia, which shows two young boys, a mother prays to Hecate for help with her children” 19 . Num dos seus templos, em Lagina, é visível um fresco que mostra como Hécate teria ajudado a proteger o deus Zeus em bebé, ao apresentar uma pedra disfarçada deste deus a Cronos, enquanto outra figura feminina levaria o bebé para longe. 20 Ainda que esta seja a única evidência do envolvimento de Hécate neste nascimento, podemos talvez ligar esta versão do mito à importância que Zeus, na Teogonia de Hesíodo, mostra à deusa que o protegeu. As crianças eram elementos da família aos quais era dada uma maior atenção devido às taxas de mortalidade, tendo-se encontrado vestígios de hekataia 21 à porta de casas, que serviriam para invocar a protecção de Hécate 22 . Sarah Johnston propõe que se estas estátuas tinham como função proteger os elementos mais jovens das famílias, então poderiam estar em qualquer sítio da oikos. Se estão à porta, segunda a autora e sua avaliação de Aristófanes, “their location at the entrances to the houses, as Aristophanes describes, was directly related to their kourotrophic 23 potency 24 ”. Deusa ligada às encruzilhadas e às entradas, como já foi referido, está também ligada aos lugares de transição e aos ritos de transição. Os dois últimos acabam por estar interligados como um só através da deusa que com eles se identifica: podemos observar uma correlação entre a passagem da mulher virgem a mãe, que precisaria da ajuda de Hécate para se proteger contra fantasmas vingativos (por exemplo de mulheres que tivessem morrido antes do seu tempo), com a sua ligação às almas inquietas e aos outros fantasmas que entrariam em contacto com a deusa nos pontos liminares. Estas almas inquietas poderiam causar loucura ou terrores nocturnos, daí talvez a ligação da deusa aos cultos mistéricos pois uma das coisas que seria prometida era exactamente a cura da loucura. 25 19 Idem, Ibidem, p.213 20 Vide Sarah Iles Johnston, Restless dead[…], p.213 21 Hekataia são estátuas ou santuários em honra de Hécate, que eram erigidas principalmente em encruzilhadas (lugar onde se poderia encontrar a deusa) ou à porta das casas gregas. Para um maior desenvolvimento sobre este tema, vide Idem, ibidem, pp.60-61 22 Vide Idem, ibidem, p.214 23 “Kourotrophos, the goddess concerned with the nurture of children”, Idem, ibidem, p.52 24 Idem, ibidem, p.214 25 Confira Hubert Cancik; Helmuth Schneider, ed.,op.cit.,p.39 6 Joana Varela 46066 Ainda que maioritariamente considerada uma deusa virgem (talvez pela sua ligação a Ártemis), Hécate é tida como mãe de Circe, Medeia e ainda Absirto 26 , por Diodoro Sículo 27 (ou Diodoro da Sicília) na sua obra Bibliotheca (4.45.2-3), como visível em seguida: “Indeed, they say that Helios had two sons, Aeëtes and Perses. Of these, Aeëtes was king of Colchis, and the other of the Tauric land, and both excelled in cruelty. Perses had a daughter, Hecate, who was superior to her father in daring and lawlessness. […] After this, she [i.e. Hecate] married Aeëtes and bore two daughters, Circe and Medea, and also a son, Aegialeus.” 28 Enquanto que Diodoro faz destas três mulheres mãe e filhas, Hesíodo, na Teogonia, apresenta uma genealogia diferente, na qual identifica Circe como filha de Perseida e do deus Hélio, irmã de Eetes, e tia de Medeia, filha de Eetes e Idia. Hécate, como já foi referido, é filha de Astéria e Perses 29 . O facto de nesta última obra Hécate ser vista como uma deusa virgem pode também ser alusivo ao facto de os gregos considerarem que uma mulher sob o efeito do amor e da influência de Afrodite seria uma mulher que não controlava os seus desejos e podia voltar-se para a magia e ser influenciada por estes deuses. É fácil perceber o porquê da ligação destas três mulheres: as três feiticeiras, são o arquétipo que representa as mulheres que dominam a magia e os venenos, sendo a elas que se recorre ao querer fazer algum feitiço. 26 Aegialeus é uma alternativa do nome Absirto (Absyrtus ou Apsyrtus). Este era, segundo alguns autores, meio- irmão da feiticeira Medeia, e, numa das versões do mito dos Argonautas, teria sido morto por ela. Nesta versão, Medeia e Absirto são filhos de Eetes e este, ao ver os pedaços do filho mutilado, recolheu-os, dando assim tempo a Jasão para levar o velo de ouro e a Medeia para a Grécia. Noutra versão do mito, Absirto tinha sido enviado pelo seu pai Eetes para procurar e trazer para casa Medeia e ela tê-lo-ia morto num templo de Ártemis. 27 Segundo a Encyclopedia Britannica, “Diodorus Siculus, (flourished 1st century B.C., Agyrium,, Sicily),Greek historian, the author of a universal history, Bibliothēkē (“Library”; known in Latin as Bibliotheca historica), that ranged from the age of mythology to 60 B:C.. Para mais informações sobre este autor, vide http://www.britannica.com/EBchecked/topic/164108/Diodorus-Siculus; 28 Confira Evelien Bracke, Of metis and magic: The Conceptual Transformations of Circe and Medea in Ancient Greek Poetry, Dissertação de doutoramento em Ancient Classics, apresentada à National University of Ireland, Maynooth, 2009, pp.42-43. Exemplar policopiado. Disponível em: http://eprints.maynoothuniversity.ie/2255/1/e_bracke_thesis.pdf 29 Vide Hesíodo, Teogonia trabalhos e dias, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005, vv.956-962 http://www.britannica.com/EBchecked/topic/164108/Diodorus-Siculus http://eprints.maynoothuniversity.ie/2255/1/e_bracke_thesis.pdf7 Joana Varela 46066 Por exemplo, Teócrito escreve, no Idílio 2, a história da jovem Simeta, apaixonada por Délfis, que já não a visita há doze dias. Ela decide então fazer um feitiço que o atraia, chamando a deusa Hécate e pedindo para que a magia que está fazer seja tão ou mais forte que as grandes feiticeiras como Circe, Medeia e Perimede: “Eu te saúdo, Hécate [que infundes] o terror [e o pânico em quem te olha]. Assiste-me [neste transe] até ao fim e torna as minhas bruxarias mais eficazes que as de Circe, ou de Medeia ou da loira Perimede”. Mas não só a estas feiticeiras estão presentes nas preces de Simeta, também Selene é invocada: “Tu, porém, Selene resplandece em [toda a tua] claridade… Sem dúvida, é a ti, Selene, que, em voz baixa, vou dirigir os meus feitiços, ó deusa, e a Hécate, divindade ctónica (…)” 30 . Gow na sua análise da obra de Teócrito refere que “the second vocative probably indicates that Selene is summoned not merely to light Simaetha but to obey her spells (…)”. Já os “male lovers address their prayers to the sun, female to the moon, but the moon may also be invoked as the celestial aspect of Hecate (…) 31 . São especialmente as jovens mulheres que recorrem a Hécate pois esta é uma deusa que está presente nos três grandes momentos da vida da mulher: desde o seu nascimento ao seu casamento e à sua morte onde, com o deus Hermes 32 , acompanha a alma no seu caminho até ao submundo, levando consigo duas tochas que iluminam o caminho. Variadamente representada com estas tochas, Hécate é chamada “bringer of light 33 , com o epíteto “Phosphoros” 34 , trazendo não só “light in the form of burning torches but also the light of knowledge or insight” 35 . Nas páginas seguintes são apresentadas algumas imagens que mostram tanto uma visão contemporânea de Hécate, como a forma como a deusa era representada na época clássica e greco- romana: 30 Vide Nuno Simões Rodrigues. Traduções portuguesas de Teócrito, Lisboa, Universitária Editora, 2000, p.57 31 Confira A.S.F. Gow, ed. Theocritus, New York, Cambridge University Press, vol.1, 1973, p.38 32 Enquanto deus que acompanha os mortos na sua passagem, o Hermes é caracterizado pelo termo “psicopompo”. As figuras psicopompas são entidades cuja função é guiar outro ser, neste caso ajudar a alma a atravessar para o submundo. Na literatura grega existem várias figuras que se enquadram neste panorama: Caronte, o próprio deus Hades, o cão Cerebero, Hermes e Hécate. Sobre este assunto vide: Sarah Iles Johnston, Restless dead[…], p.15, pp.73-74 33 Vide Kathleen Granville Damiani, Sophia: exile and return, Dissertação de doutoramento em Interdisciplinary Humanities, com especialização em Philosophy, apresentada à Graduate School of the Union Institute, Ohio, 1997, p.73. Disponível em: http://api.ning.com/files/v85E*VTkKRgSgZMwJSkPbq3T82WZWiQPdXuLx7o3cCxjuJbX7xRujYukt9qBFABQ9Gm bFGhm-SLN4h4AUOj46Dro7UMjyI72/SophiaExileandReturn.pdf 34 Sarah Iles Johnston, op.cit., p.206 35 Confira Shelly M. Nixon, Hekate: Bringer of Light, California, California Institute of Integral Studies, [s.d.], p.8. Disponível em: http://coastline.files.wordpress.com/2013/12/hekate.pdf http://api.ning.com/files/v85E*VTkKRgSgZMwJSkPbq3T82WZWiQPdXuLx7o3cCxjuJbX7xRujYukt9qBFABQ9GmbFGhm-SLN4h4AUOj46Dro7UMjyI72/SophiaExileandReturn.pdf http://api.ning.com/files/v85E*VTkKRgSgZMwJSkPbq3T82WZWiQPdXuLx7o3cCxjuJbX7xRujYukt9qBFABQ9GmbFGhm-SLN4h4AUOj46Dro7UMjyI72/SophiaExileandReturn.pdf http://coastline.files.wordpress.com/2013/12/hekate.pdf 8 Joana Varela 46066 Figura 4 - “The Night-Hag Visiting Lapland Witches, by Henry Fuseli (Swiss, Zürich 1741–1825 London). It illustrates a passage from "Paradise Lost," II (622–666) in which the hellhounds surrounding Sin are compared to those who "follow the night-hag when, called, / In secret, riding through the air she comes, Lured with the smell of infant blood, to dance / With Lapland witches, while the laboring moon Eclipses at their charms." "Night-hag" is an epithet of the Greek goddess Hecate, who presided over witchcraft and magical rites.” Imagem e legenda retiradas de: http://www.metmuseum.org/collection/the-collection- online/search/436423 Figura 1 - “Ribbed black-glaze jug (oinochoe). Greek, about 350- 300 BC, Made in Athens, Greece; from Capua in Campania, Italy. Here the female figure with her whirling drapery, snaking ringlets and ecstatic gaze dances up to the flaming altar with a lighted torch flaring in each hand. The vigour and movement of her pose and drapery contrast with the stiff, three-headed cult statue on the column to the right of the altar. The goddess or priestess is modelled in added clay, and was originally fully gilded. Against the black surface of the vase she stands out as though magically illuminated in the darkness of the night.” Imagem e legenda retiradas de: http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_object s/gr/r/ribbed_black-glaze_jug.aspx Figura 2 – “Hecate”. Imagem retirada de: Encyclopædia Britannica Online, http://www.britannica.com/EBchecked/m edia/142408/The-triple-formed-Hecate- wood-engraving Figura 3 - "Hecate and her dogs. 2011", de Barahona Possollo. Imagem e legenda retiradas de: https://dl.dropboxusercontent.com/u/2176344/KP20 13/gallery/201109.jpg http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/436423 http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/436423 http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/gr/r/ribbed_black-glaze_jug.aspx http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/gr/r/ribbed_black-glaze_jug.aspx http://www.britannica.com/EBchecked/media/142408/The-triple-formed-Hecate-wood-engraving http://www.britannica.com/EBchecked/media/142408/The-triple-formed-Hecate-wood-engraving http://www.britannica.com/EBchecked/media/142408/The-triple-formed-Hecate-wood-engraving 9 Joana Varela 46066 Na figura 3 observamos um quadro de um pintor contemporâneo que representa Hécate com a sua tocha e os seus cães, que anunciavam a sua presença, aqui representados sob a forma de homens. É possível também associar esta imagem dos cães com forma humana às almas que caminhavam com Hécate no limbo, as almas que não faziam a passagem e ficavam ao serviço de Hécate, como se verá mais à frente neste estudo inicial. Figura 5 - "Adaptation of a Greek statue of about 425 B.C. attributed to Alkamenes. Imperial, 1st– 2nd century A.D.”. Imagem e legenda retiradas de: http://www.metmuseum.org/collection/the- collection-online/search/255108 Figura 6 - "Marble statuette of triple-bodied Hekate and the three Graces. Late Hellenistic, 1st–2nd century A.D.”. Imagem e legenda retiradas de: http://www.metmuseum.org/collection/the- collection-online/search/255881 Figura 7 – “Registre supérieur : Triple HECATE (= trois figures drapées, coiffées d'un polos, debout de face) entre un buste de MEN sur un socle, son croissant de lune dépassant de ses épaules, et un buste de DEMETER, sur un socle, la tête surmontée d'épis de blé. Au-dessus, au centre, buste de ZEUS (cheveux longs, barbe, himation) surmonté d'un buste d'HELIOS (couronne radiée, vêtement retenu par une agrafe sur la poitrine). A dr. du buste de Zeus, une étoile et un croissant de lune; à sa g., une étoile et une inscription. Registre inférieur: bustes des DEFUNTS. Entre les deux registres et sous le registre inférieur : inscriptions” Imagem e legenda retiradas de: http://www.limc-france.fr/objet/6179 http://www.limc-france.fr/objet/6179 10 Joana Varela 46066 As figuras 5 e 6 representam uma visão tríplice da deusa Hécate: a menina, a mulher jovem e a mulher madura, mais velha e sábia. Por vezes, esta tríada é identificada com Perséfone, Ártemis e Hécate, ouainda Selene, Ártemis e Hécate 36 , sendo estas três deusas identificadas com lua, cada uma com uma fase diferente: Selene a lua crescente, Ártemis a lua cheia e Hécate, a lua nova e escura, fazendo já a conexão às características mais negras e negativas da deusa: “When the moon is dark, there is Hecate. She brings light, but not the light of welcome. From the dark side of the moon, she brought somas, progenitor of sometimes –indeed often- unwelcome truth” 37 . Também Marija Gimbutas refere esta situação, mas com uma visão mais negra: “Artemis and Hekate are one, a lunar goddess of the live cycle, the other at the end; one young, pure and beautiful, connected with young life, and the other gruesome, connected with death” 38 . Hécate estaria também ligada à lua devido ao seu papel de intermediária, pois a própria lua estaria no éter, no espaço entre os céus e a terra, e era essencial para a mediação. A lua era atribuída a Hécate por ser “the portion of the universe that most suited her”. 39 Segundo John Roberts, a partir de 430 a.C. tornaram-se mais frequentes as imagens de Hécate como as das figuras 5 e 6, onde a deusa aparece representada com três corpos que significariam as encruzilhadas onde muitas vezes se encontrava e onde eram maioritariamente feitos os sacrifícios em sua honra 40 . Pierre Grimal, entre outros autores, apoia também esta hipótese da deusa Hécate em três figuras 41 . Pausânias atribui a Alcâmenes a criação destas imagens triformes: “It was Alcamenes, in my opinion, who first made three images of Hecate attached to one another, a figure called by the Athenians Epipurgidia (on the tower)” 42 . Leandro Barbosa expõe claramente o papel de Hécate: “é a deusa trifuncional, seja por seus atributos lunares, mas também pelas suas próprias funções de deusa. Hécate é a soberana: a que rege pelos reis e juízes de tribunais; é também uma divindade da força física, pois está junto aos 36 Vide Hubert Cancik; Helmuth Schneider, ed., op.cit.,p.39 37 Confira David Leeming, Jake Page, Goddess: myths of the female, New York, Oxford University Press, 1994, p.152 38 Atente-se no estudo de Marija Gimbutas, The language of the goddess: unearthing the hidden symbols of western civilization, San Francisco, Harper & Raw Publishers, 1989 39 Vide Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira […], p.33 passim 40 Vide John Roberts, ed., The Oxford Dictionary of the Classical World, Oxford, Oxford University Press, 2005, p.326 41 Atente-se em Walter Burkert, Religião grega na época clássica e arcaica, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, pp.335-336 42 Confira T.E Page, ed., Pausanias: description of Greece, translation by W.H.S. Jones, I volume, Cambridge, Massachusetts, Harvard University Press, 1959. Book II – Corinth, XXIX – XXX . 3 11 Joana Varela 46066 guerreiros, atletas e cavaleiros; ainda é a deusa fertilizadora – e este é um caráter indo-europeu, que possivelmente remete a uma deidade antiga e poderosa – que provém os alimentos, ligada aos pescadores e aos criadores de animais, nutrindo os jovens” 43 . Hécate é representada, como é visível nas figuras 5, 6 e 7 com um tocado alto e coroas radiais e, durante a época romana, começa a ser mais representada com serpentes e facas, como visível na figura 1, elementos estes mais ligados à prática da magia. Na figura 7, temos também a presença da deusa Hécate tríplice, mas desta vez as três formas da deusa encontram-se lado a lado na estela funerária. Zeus marca também presença, com Hermes para acompanhar, com Hécate, as almas dos defuntos, que se encontram representados na zona inferior da estela, até ao mundo inferior. É visível uma lua que pode ser vista como a lua crescente ou minguante, contudo autores apresentam a possibilidade de esta representar a lua crescente identificada com Selene 44 . Claudina Romero Mayorga descreve este tipo de estela: “En estos relieves suele aparecer el retrato del fallecido y en otro registro, la figura de Hécate en su triple forma, pero no como si de un hecateum se tratara, sino como tres figuras sucessivas representadas una al lado de la otra, sin la menor existencia de espacio. En estos casos, las figuras aparecen vestidas con una larga túnica y sus cabezas se hallan tocadas con un polos. Flanqueando sus cuerpos, hallamos divinidades secundarias que representan la Luna y el Sol. 45 ” Como podemos observar, esta descrição está de acordo com a estela da figura 7. O papel de Hécate como guia ou divindade que servia como intermediário desenvolveu-se cada vez mais a partir da sua associação à “cosmic soul” 46 , que acabava por ter funções semelhantes. A “cosmic soul” era então um intermediário entre os dois mundos: vários autores utilizam esta visão de Platão como elemento presente na sua literatura, tornando-a uma figura criativa e de aspecto transmissivo, ligada a uma reminiscência do feminino. 43 Vide Leandro Mendonça Barbosa, op.cit., p.498 44 Atente-se no estudo de Claudina Romero Mayorga, Aproximación a la Iconografía de Hécate: Magia, Superstición y Muerte en la Sociedad Romana, [s.l.], [s.d.], pp.3-4. Disponível em: http://www.academia.edu/3664471/Aproximaci%C3%B3n_a_la_Iconograf%C3%ADa_de_H%C3%A9cate_Magia_Su perstici%C3%B3n_y_Muerte_en_la_Sociedad_Romana 45 Idem, Ibidem, p.6 46 Sarah Iles Johsnston resume bastante coerentemente uma definição do que se pode caracterizar como esta “cosmic soul”: “the Soul sits at the center of, yet encloses, the Cosmos, thereby representing the threshold between the Sensible World (to which the term “Cosmos” regularly refers in philosophical literature) and the Intelligible World. It is composed of and contains unifies opposing principles that are essential to the functioning of the Cosmos. (…) Finally, it is a constituent and thus partial source of the human soul, which also includes mortal instruments.”. Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira:[…], p.15. Para um maior desenvolvimento sobre este estudo, vide Idem, Ibidem, pp.14-20 e pp.49-70 http://www.academia.edu/3664471/Aproximaci%C3%B3n_a_la_Iconograf%C3%ADa_de_H%C3%A9cate_Magia_Superstici%C3%B3n_y_Muerte_en_la_Sociedad_Romana http://www.academia.edu/3664471/Aproximaci%C3%B3n_a_la_Iconograf%C3%ADa_de_H%C3%A9cate_Magia_Superstici%C3%B3n_y_Muerte_en_la_Sociedad_Romana 12 Joana Varela 46066 Fortemente cultuada em Lagina, Hécate estava ligada à “procissão da chave” que se realizava anualmente nesta cidade. Sarah Johnston propõe que este ritual inclui, no fim, uma abertura de portões que estaria relacionada com a habilidade desta deusa poder fechar os portões e proteger a cidade ou abri-los para que esta recebesse influências benéficas 47 . A posse da chave era algo visto como símbolo de algum poder, sendo comummente associado à senhora da casa 48 . Pode também significar a chave para outros domínios, como por exemplo, “Aeacus held the keys to Hades” 49 . Na vertente de Hécate, esta deusa teria as chaves que abriam as portas do Hades, para onde guiaria as almas. Durante a procissão em Lagina, a sacerdotisa de Hécate levaria consigo uma chave, ainda que alguns autores refiram que seria apenas uma chave do templo, a maior concorda que esta seria uma metáfora para a chave da deusa e, como tal, expressava a sua natureza. 50 É importante frisar que os “key-holders establish and retain the liminal points and boundaries that structure space—their keys ‘close doors’.” 51 Hécate podia permitir a passagem das almas ou podia “fechar-lhes as portas” e obrigá-las a ficar com ela no limbo, às suas ordens. Este ritual poderia ainda estar ligado à visão grega mais tardia de Hécate como guardiã de passagens e entradas, onde muitas vezes se encontravam as hekataia, como já foi mencionado. Poder-se-á assumir que a sua ligação às entradas estivesse ligada àsua função como deusa da cidade na Cária 52 , sendo que esta vertente atravessou a Grécia apenas na sua função protectora de entradas, não tanto como deusa protectora da cidade, possivelmente devido ao facto de esta vertente já estar ocupada por outras deusas como Atena e Hera, entre outros. 53 Os mitos antigos que a ligam à Cária trazem consigo uma visão desta deusa ligada à Deusa- Mãe “Earth (γαĩα) for Hecate seems to mean the human world, befitting her role among kings, warriors, horse-men, and herdsmen. On sea (θάλασσα), she is goddess of fisher-men.”, como Hesíodo a classifica na Teogonia. 47 Vide Sarah Iles Johnston, Restless dead […], p.206 48 Vide Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira […], p.40 49 Idem, ibidem, p.41 n.25 50 Idem, ibidem, p.42 51 Idem, ibidem, p.47 52 Confira Marija Gimbutas, The Gods and Goddesses of Old Europe: 7000 to 3500 BC. Myths, legends and cult images, Berkeley, Los Angeles, University of California Press, 1974, p. 197 53 Vide Sarah Iles Johnston, Restless dead […], p.207 13 Joana Varela 46066 Patricia Marquardt vai contra esta visão da ligação antiga de Hécate à deusa Mãe e à Terra- Mãe, dizendo que a deusa grega teria adquirido estas características através do seu sincretismo com Ártemis e não com os mitos da deusa Mãe, mais primitivos, e ligados a natureza 54 . Já Panagiotis Dellis identifica a Terra, o Submundo e a Lua com Ártemis, Hécate e Selene, respectivamente, unindo a Hécate tríplice mais tardia a esta visão, sendo que esta deusa é o elo que une o submundo, a terra e o céu 55 . Hécate pode-se ligar também ao deus Apolo pois um dos epítetos deste deus é Hékatos e Hécate seria o seu feminino, assim como Ártemis 56 . O próprio Apolo deveria estar ligado às entradas e na sua vertente de Apolo Agyieus está ligado aos caminhos e estradas 57 . Também no templo de Mileto de Apollo Delphinius Hécate está representada, como protectora de entradas. 58 Enódia era também um epíteto concedido a Hécate, sendo que inicialmente esta seria uma deusa distinta que acabou por sofrer um processo de sincretismo com Hécate. “Enódia” expressa particularmente a sua ligação às encruzilhadas, dado que o próprio nome significa “na estrada” 59 , mas especialmente a ligação de três estradas 60 . Esta deusa com origem na Tessália estava também ligada a nascimentos e à protecção de entradas, o que reforça a conexão à deusa Hécate. 61 Terá sido também através da ligação de Hécate a Enódia que a deusa grega terá adquirido as suas características mágicas e ligadas à feitiçaria. 62 O seu papel como deusa ligada à magia está intimamente ligado com o seu papel de senhora de daemones, pois estes eram as suas ferramentas, sendo que muitos dos actos mágicos dependiam deles. Contudo, há que ter em mente que, mesmo sendo eles que agiam, só o faziam em nome de Hécate e com o controlo desta. 63 Foi a ligação a estas entidades que maioritariamente associou a 54 Confira Patricia A. Marquardt, “A portrait of Hecate”. The American Journal of Philology, Vol. 102, Nº 3, USA; The Johns Hopkins University Press, Autumn, 1981, p.258. Disponível em http://www.jstor.org/stable/294128 55 Vide Panagiotis Dellis, Artémis Hécate sélène: Dans les mythes et les rites, Université Paul Valéry, Montpellier, 1999, p.33. Disponível em: http://www.academia.edu/4882080/Art%C3%A9mis_H%C3%A9cate_S%C3%A9l%C3%A8n%C3%A9_dans_les_Myt hes_et_les_Rites 56 Vide Leandro Mendonça Barbosa, op.cit., p.493 57 Confira Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira […], p.21 58 Retome Patricia A. Marquardt, op.cit., p. 251 59 Atente-se no estudo de Tricia Magalhães Carnevale, op.cit., pp.34-35 60 Vide Sarah Iles Johnston, op.cit., pp.23-24 61 Vide Hubert Cancik; Helmuth Schneider, ed., op.cit., p.39 62 Confira Patricia A. Marquardt, op.cit., p.252 63 Sobre este assunto, vide o que afirma Sarah Iles Johnston, op.cit., pp.144-145 http://www.jstor.org/stable/294128 http://www.academia.edu/4882080/Art%C3%A9mis_H%C3%A9cate_S%C3%A9l%C3%A8n%C3%A9_dans_les_Mythes_et_les_Rites http://www.academia.edu/4882080/Art%C3%A9mis_H%C3%A9cate_S%C3%A9l%C3%A8n%C3%A9_dans_les_Mythes_et_les_Rites 14 Joana Varela 46066 deusa à bruxaria: eram elas que permitiam à deusa ajudar os teurgistas a acederem ao reino celestial. É possível também associar a Hécate aos deuses egípcios, seja a Ísis devido à sua forte ligação à magia, a Heket dado o seu papel no auxílio de nascimentos, a Anúbis pela sua ligação ao submundo ou ainda à deusa Maet (ou Maat) que tinha, como Hécate nos Oráculos Caldeus, uma vertente teúrgica e cosmológica. No caso de Ísis, esta grande deusa está intimamente ligada à magia pelo principal mito que a inclui, no qual a deusa salva o marido e irmão Osíris 64 . É através da magia que Ísis consegue conceber, dando à luz Hórus e adquirindo assim características maternais e uma associação directa com crianças e jovens. 65 Meta E. Williams afirma que “Isis was queen of the Gods, the Great Lady, and also Mistress of Words of Power, Goddess of Spells and Weaver of Spells, and Hecate is nothing more than a title of Isis personified” 66 . Contudo, eu não concordo com a opinião desta autora pois, com bases nos estudos de outros autores já referidos ao longo deste trabalho, Hécate é uma divindade que, a surgir a partir de outra seria da deusa Enódia, pois a maior dúvida que se coloca relativamente a estas duas deusas, Enódia e Hécate, é qual seria a primeira a ter as características que hoje conhecemos, ou seja, foi a partir de um sincretismo com a deusa Enódia que Hécate se tornou uma deusa ligada aos nascimentos e à feitiçaria ou será que Enódia é que adquiriu os atributos de deusa ligada a crianças e ao parto? Por enquanto os historiadores dividem-se com opiniões variadas 67 . Já Heket era uma deusa representada comummente com forma de rã, símbolo de vida e ressurreição 68 . Associada a nascimentos, esta era uma das deusas que auxiliava nos partos e cuidava tanto da criança como da parturiente. Ao lado do deus Khnum, é vista como deusa protectora, a deusa que devolve a vida ao deus Osíris 69: “the lifegiving powers of Heket enabled her to be 64 Este mito está relatado na obra De Iside et Osiride, de Plutarco. 65 Vide Cláudia Monte Farias, “Ísis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.452-453 66 Confira Meta E. Williams, “Hecate in Egypt”. Folklore, Vol. 53, Nº 2 (Jun., 1942), UK, Taylor & Francis Ldt, p.112. Disponível em http://www.jstor.org/stable/1257561 67 Para uma maior discussão sobre este tema vide, por exemplo, William Berg, “Hecate: Greek or “Anatolian?” ”. Numen, Vol. 21, Fasc. 2, UK, Brill, 1974, pp. 128-140. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/3269561 68 Vide Meta E. Williams, op.cit., p.112 69 Vide Luís Manuel de Araújo, “Heket”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […]. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.411 http://www.jstor.org/stable/1257561 http://www.jstor.org/stable/3269561 15 Joana Varela 46066 adopted as a benign deity fit to accompany Osiris”. 70 Não sendo uma deusa ligada a feiticeiras ou à magia, é pouco ou nada conhecida fora do Egipto, tendo uma posição muito menor no panteão de deuses egípcios em comparação com Ísis. 71 Deus com nome semelhante à deusa em estudo, Heka merece também ser aqui mencionado pois ele “embodies the concept of magical power and energy” 72 . No Livro dos Mortos, é relatado que os falecidos teriam o poder de Heka para se protegerem e neutralizarem perigos que poderiam existir no submundo. 73 Observamos claramente uma ligação à visão mais tardia de Hécate como senhora dos fantasmas e daemones. No entanto, apesar das características comuns entre estesdeuses, Hécate é maioritariamente associada ao deus Anúbis. Deus ligado aos mortos, Anúbis é representado por um cão negro selvagem (ou por um chacal), sendo que se pode desde já fazer a possível ligação aos cães de Hécate que anunciavam a chegada da deusa. Era este deus que realizava o embalsamento e protegia a múmia e o seu túmulo. Já na época greco-romana Anúbis tornou-se uma “divindade cósmica, reinando sobre a terra e o mar”, tal como Hécate que tem poderes sobre a terra, o mar e os céus como divindade celestial. 74 Por fim, nesta conotação com os deuses egípcios podemos ainda relacionar Hécate como a “cosmic soul” dos Oráculos Caldeus com a deusa Maet. Esta deusa representa o conceito que lhe dá o nome, sendo um símbolo da filosofia egípcia a nível sociológico, ideológico e cosmológico. 75 Hécate como “cosmic soul” tinha três grandes funções: “transmitter of the Ideas and thereby structurer of the physical world; dividing bond between the Intelligible and Sensible Worlds; source of individuals souls and enlivener of the physical world of man” 76 , tal como a Maet era a “ordem cósmica e social” 77 . 70 Confira George Hart, “Heket”, The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses. 2nd edition, New York, Routledge, 2005, p.67. Disponível em http://obinfonet.ro/docs/relig/egipt/egyptgods.pdf 71 Vide Meta E. Williams, op.cit., p.112 72 Vide George Hart, op.cit., p.66 73 Vide Idem, ibidem, pp.66-67 74 Confira Malgorzata Kot Acúrcio, “Anúbis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.80-81 75 Atente-se no estudo de Luís Manuel de Araújo, “Maet”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […]. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.524-536 76 Vide Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira […], p.49 77 Retome-se o que diz Luís Manuel de Araújo, op.cit., pp.528-530 http://obinfonet.ro/docs/relig/egipt/egyptgods.pdf 16 Joana Varela 46066 Voltando à perspectiva grega, desde o século IV a.C. que Hécate Ctónica, isto é, do submundo, e Hermes Ctónico (psicopompo) estão representados em tabuletas de maldições, que teriam como função amarrar e neutralizar oponente do criador da tabuinha 78 . Vejamos como exemplo: “Hermes of the Underworld and Hekate of the Underworld. Let Pherenikos be bound before Hermes of the Underworld and Hekate of the Underworld. I bind Pherenikos’s (girl) Galênê to Hermes of the Underworld and to Hekate of the Underworld I bind (her). And just as this lead is worthless and cold, so let that man and his property be worthless and cold, and those who are with him who have spoken and counseled concerning me.” 79 Para apaziguar e conseguir o auxílio desta deusa tardiamente identificada com a magia, poções, ervas e não só, eram feitas variadas oferendas e utilizados vários symbola na realização de feitiços. Uma das oferendas mais comuns era as sobras de alimentos que eram deixados nas encruzilhadas em sua honra. Shelly Nixon coloca a possibilidade destas oferendas estarem ligadas a um antigo culto de fertilidade e a um ciclo de morte e renascimento 80 . Podemos fazer uma ligação entre este ciclo e o facto de Hécate poder conceder peixe em abundância ou poder fazer o gado definhar, ou seja, ela tinha uma vertente ctónica e rural 81 . Estas oferendas eram maioritariamente feitas durante as noites de lua cheia., sendo que além das sobras de alimentos, eram oferecidos bolos decorados com tochas miniaturas acesas, salmonete e cachorros, especialmente os pretos 82 . Já outros autores dizem que estas oferendas seriam feitas durante a lua nova, isto é, na passagem do mês antigo para o novo 83 . Era nestes momentos de passagem que a deusa se tornava presente, pois era nos “interstices between safely defined territories (home, sanctuary, city) and times (new and old month) that dangerous spirits were emboldened to attack the unwary” 84 . O seu poder derivava então do seu controlo sobre estes espíritos. 78 Vide Jennifer Larson, ibidem, p.167 79 A este propósito tenha-se em conta John G. Gager, Curse tablets and Binding Spells from the Ancient World, New York, Oxford University Press, 1992, pp.126-127 80 Atente em Shelly M. Nixon, op.cit., p.12 81 Vide Leandro Mendonça Barbosa, op.cit., p.492 82 Vide John Roberts, ed., op.cit., p.326 83 Confira Sarah Iles Johnston, Hekate Soteira […], p.26 84 Vide Jennifer Larson, op.cit., p.166 17 Joana Varela 46066 Concluindo, este trabalho tinha como objectivo mostrar um estudo inicial sobre a deusa grega Hécate, para ser mais aprofundado num projecto de maior envergadura. Com um papel importante na Teogonia de Hesíodo, percebemos que Hécate é inicialmente, uma deusa benéfica com características maternais, ligada a Perséfone e Deméter, com domínio sobre a terra, o mar e os céus, devido às honras que Zeus lhe concedeu, talvez devido ao seu auxílio durante a guerra contra os gigantes ou talvez ainda devido à sua presença no desenrolar do nascimento deste deus e à protecção que lhe concedeu. Protectora dos jovens e das mulheres enquanto deusa ligada ao nascimento e aos ritos de transição, foi sincretizada com Ártemis em algumas circunstâncias, e protegia as mulheres de fantasmas vingativos. Ao ser associada com as almas perdidas e sendo vista como guia destas, Hécate tornou-se também “mistress of the moon”, senhora da lua, ser intermediário que podia atravessar reinos. Acompanhada por uma matilha de cães, os uivos destes anunciavam a presença da deusa, principalmente em encruzilhadas. Representada como deusa tríplice, Hécate, devido às suas características lunares, foi frequentemente associada com Ártemis e Selene, e com estas deusas, a cada fase da lua, respectivamente a lua nova, a lua cheia e a lua crescente. A partir do período clássico foi identificada com feitiçaria, associação que se manteve até aos nossos dias, principalmente devido ao seu uso em várias peças, como por exemplo Medeia, de Eurípides ou o Idílio 2 de Teócrito. A sua ligação à feitiçaria deriva possivelmente da sua origem na Cária e do seu provável sincretismo com a deusa Enódia, também ela deusa ligada à magia, feitiços, poções, entre outros. Um dos seus maiores templos situava-se em Lagina, onde um ritual ligado a chaves se realizava, reintroduzindo a temática de Hécate como guardiã de entradas e passagens, como a senhora que poderia abrir as portas do Hades. Acompanhada por tochas, Hécate guiava as almas e, aquelas que não atravessassem, tornavam-se parte do seu séquito, almas que mais tarde seriam utilizadas para responder e agir no seu nome. Honrava-se esta deusa com oferendas como comida e sacrifícios de animais, principalmente cães pretos. 18 Joana Varela 46066 A sua ligação a cultos do feminino deriva das suas características como deusa virgem e mulher protectora de mulheres. Com uma possível correlação com os deuses egípcios, e não só, observámos que os panteões têm em comum figuras com características muito semelhantes, vertente esta que terá um maior desenvolvimento num futuro trabalho, onde será tratado com maior expressão as origens de Hécate e como esta se tornou uma deusa do panteão grego. Finalmente, este trabalho deixa em suspenso perguntas sobre Hécate, como donde será verdadeiramente esta deusa, terá sido idealizada a partir de outras deusas ou terá sido ela a transferir características, perguntas estas que espero poder vir a obter algumas respostas através do estudo de mais textos e passagens referentes a Hécate. 19 Joana Varela 46066 FONTES E BIBLIOGRAFIA: I. FONTES: 1. Fontes Impressas: HESÍODO Teogonia trabalhos e dias, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005 PAGE, T.E, ed., Pausanias: description of Greece, translation by W.H.S. Jones, I volume,Cambridge, Massachusetts, Harvard University Press, 1959. Book II – Corinth, XXIX – XXX RODRIGUES, Nuno Simões Traduções portuguesas de Teócrito, Lisboa, Universitária Editora, 2000, pp.55-65 2. Fontes Iconográficas: http://www.britannica.com/EBchecked/media/142408/The-triple-formed-Hecate-wood- engraving [Consultado a 11.12.2014] http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/gr/r/ribbed_black- glaze_jug.aspx [Consultado a 11.12.2014] http://www.limc-france.fr/objet/6179 [Consultado a 11.12.2014] https://dl.dropboxusercontent.com/u/2176344/KP2013/gallery/201109.jpg [Consultado a 11.12.2014] http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/436423 [Consultado a 11.12.2014] http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/255108 [Consultado a 11.12.2014] http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/255881 [Consultado a 11.12.2014] II. BIBLIOGRAFIA: http://www.britannica.com/EBchecked/media/142408/The-triple-formed-Hecate-wood-engraving http://www.britannica.com/EBchecked/media/142408/The-triple-formed-Hecate-wood-engraving http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/gr/r/ribbed_black-glaze_jug.aspx http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/gr/r/ribbed_black-glaze_jug.aspx http://www.limc-france.fr/objet/6179 https://dl.dropboxusercontent.com/u/2176344/KP2013/gallery/201109.jpg http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/436423 http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/255108 http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/255881 20 Joana Varela 46066 1. Bibliografia Geral: 1.1 Obras de Referência: ACÚRCIO, Malgorzata Kot “Anúbis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 80-81 ARAÚJO, Luís Manuel de “Época greco-romana”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […]. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.323-324 IDEM “Heket”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […]. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p.411 IDEM “Maet”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de […]. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp.524-536 FARIAS, Cláudia Monte “Ísis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 452-453 GRIMAL, Pierre “Hecate”, The dictionary of classical mythology, USA, UK, Australia, Blackwell Publishing, 1996 HART, George “Heket”, The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses. 2 nd edition, New York, Routledge, 2005, p.67. Disponível em http://obinfonet.ro/docs/relig/egipt/egyptgods.pdf ROBERTS, John, ed. “Hecatē”, The Oxford Dictionary of the Classical World, Oxford, Oxford University Press, 2005 http://obinfonet.ro/docs/relig/egipt/egyptgods.pdf 21 Joana Varela 46066 1.2 Referências electrónicas: http://www.britannica.com/EBchecked/topic/164108/Diodorus-Siculus 1.3 Obras Gerais CANCIK, Hubert; SCHNEIDER, Helmuth, ed. Brill’s Encyclopedia of the Ancient World New Pauly, Antiquity Vol. 6 HAT-JUS, Brill Leiden, Boston, 2005 HAMLYN, Paul Hamlyn, ed. New Larousse Encyclopedia of Mythology, London, New York, Sydney, Toronto, 1968 2. Bibliografia específica: BARBOSA, Leandro Mendonça Representações do ctonismo na cultura grega (séculos VIII-V a.C.), Dissertação de doutoramento em História, especialidade de História Antiga, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2014. Exemplar policopiado. Disponível em: http://hdl.handle.net/10451/11696 BERG, William “Hecate: Greek or “Anatolian?” ”. Numen, Vol. 21, Fasc. 2, UK, Brill, 1974, pp. 128-140. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/3269561 BOEDEKER, Deborah “Hecate: A Transfunctional Goddess in the Theogony?”. Transactions of the American Philological Association, vol.113, Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1983, pp. 79-93. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/284004 BRACKE, Evelien Of metis and magic: The Conceptual Transformations of Circe and Medea in Ancient Greek Poetry, Dissertação de doutoramento em Ancient Classics, apresentada à National University of Ireland, Maynooth, 2009. Exemplar policopiado. Disponível em: http://eprints.maynoothuniversity.ie/2255/1/e_bracke_thesis.pdf http://www.britannica.com/EBchecked/topic/164108/Diodorus-Siculus http://hdl.handle.net/10451/11696 http://www.jstor.org/stable/3269561 http://www.jstor.org/stable/284004 http://eprints.maynoothuniversity.ie/2255/1/e_bracke_thesis.pdf 22 Joana Varela 46066 BURKERT, Walter Religião grega na época clássica e arcaica, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993 CARNEVALE, Tricia Magalhães Hekate, de deusa ctônica dos atenienses do período clássico à deusa da feitiçaria no imaginário social do Ocidente. Dissertação de mestrado em História, especialidade de História Política, apresentada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012,p.44. Exemplar policopiado. Disponível em: http://www.academia.edu/4932370/Hekate_de_deusa_ct%C3%B4nica_dos_atenienses_do_per%C3 %ADodo_cl%C3%A1ssico_%C3%A0_deusa_da_feiti%C3%A7aria_no_imagin%C3%A1rio_socia l_do_Ocidente DAMIANI, Kathleen Granville Sophia: exile and return, Dissertação de doutoramento em Interdisciplinary Humanities, com especialização em Philosophy, apresentada à Graduate School of the Union Institute, Ohio, 1997, p.73. Disponível em: http://api.ning.com/files/v85E*VTkKRgSgZMwJSkPbq3T82WZWiQPdXuLx7o3cCxjuJbX7xRuj Yukt9qBFABQ9GmbFGhm-SLN4h4AUOj46Dro7UMjyI72/SophiaExileandReturn.pdf DELLIS, Panagiotis Artémis Hécate sélène: Dans les mythes et les rites, Université Paul Valéry, Montpellier, 1999. Disponível em: http://www.academia.edu/4882080/Art%C3%A9mis_H%C3%A9cate_S%C3%A9l%C3%A8n%C3 %A9_dans_les_Mythes_et_les_Rites DUNCAN, Anne “Spellbinding performance: poet as witch in Theocritus’ second Idyll and Apollonius’ Argonautica”, Helios, OBERHELMAN, Steven M. ed., vol.28, nº1, Texas, Texas Tech University Press, 2001, pp.43-56. Disponível em: http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1083&context=classicsfacpub GAGER, John G. Curse tablets and Binding Spells from the Ancient World, New York, Oxford University Press, 1992 http://api.ning.com/files/v85E*VTkKRgSgZMwJSkPbq3T82WZWiQPdXuLx7o3cCxjuJbX7xRujYukt9qBFABQ9GmbFGhm-SLN4h4AUOj46Dro7UMjyI72/SophiaExileandReturn.pdf http://api.ning.com/files/v85E*VTkKRgSgZMwJSkPbq3T82WZWiQPdXuLx7o3cCxjuJbX7xRujYukt9qBFABQ9GmbFGhm-SLN4h4AUOj46Dro7UMjyI72/SophiaExileandReturn.pdf http://www.academia.edu/4882080/Art%C3%A9mis_H%C3%A9cate_S%C3%A9l%C3%A8n%C3%A9_dans_les_Mythes_et_les_Rites http://www.academia.edu/4882080/Art%C3%A9mis_H%C3%A9cate_S%C3%A9l%C3%A8n%C3%A9_dans_les_Mythes_et_les_Rites http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1083&context=classicsfacpub 23 Joana Varela 46066 GIMBUTAS, Marija The Gods and Goddesses of Old Europe: 7000 to 3500 BC. Myths, legends and cult images, Berkeley, Los Angeles, University of California Press, 1974 IDEM The language of the goddess: unearthing the hidden symbols of western civilization, San Francisco, Harper & Raw Publishers, 1989 GOW, A.S.F., ed. Theocritus, New York, Cambridge University Press, vol.1, 1973 HUSAIN, Shahrukh Divindades Femininas: criação, fertilidade e abundância, a supremacia da mulher, mitos e arquétipos. Köln, Evergreen,2001 JOHNSTON, Sarah Iles Hekate Soteira: A Study of Hekate’s Roles in the Chaldean Oracles and Related Literature, Atlanta, Georgia, Scholars Press, 1990 IDEM Restless dead: encounters between the Dead in Ancient Greece, Berkeley, Los Angeles, London, University of California Press, 1999 IDEM, ed. Religions of the ancient world: a guide, Cambridge, The Belknap Press of Harvard University Press, 2004 IDEM, Ancient Greek Divination,UK, Wiley-Blackwell, 2008 LAMBERT, Michael, “Desperate Simaetha: gender and power in Theocritus, Idyll 2”, Acta Classica, HILTON, J. L. ed., vol.45, South Africa, 2002, pp.71-88. Disponível em: http://www.casa-kvsa.org.za/2002/AC45- 04-Lambert.pdf http://www.casa-kvsa.org.za/2002/AC45-04-Lambert.pdf http://www.casa-kvsa.org.za/2002/AC45-04-Lambert.pdf 24 Joana Varela 46066 LARSON, Jennifer Larson Ancient greek cults: a guide, New York, London, Routledge, 2007 LEEMING, David Leeming; PAGE, Jake Goddess: myths of the female, New York, Oxford University Press, 1994 LEFKOWITZ, Mary R. Women in Greek Myth, 2 nd edition, London, Duckworth, 2007 LUCK, Georg Ancient pathways and hidden pursuits: religion, morals, and magic in the ancient world, USA, The University of Michigan Press, 2000 MARQUARDT, Patricia A. “A portrait of Hecate”. The American Journal of Philology, Vol. 102, Nº 3, USA; The Johns Hopkins University Press, Autumn, 1981, pp.243-260. Disponível em http://www.jstor.org/stable/294128 MAYORGA, Claudina Romero Aproximación a la Iconografía de Hécate: Magia, Superstición y Muerte en la Sociedad Romana, [s.l.], [s.d.]. Disponível em: http://www.academia.edu/3664471/Aproximaci%C3%B3n_a_la_Iconograf%C3%ADa_de_H%C3 %A9cate_Magia_Superstici%C3%B3n_y_Muerte_en_la_Sociedad_Romana NIXON, Shelly M. Hekate: Bringer of Light, California, California Institute of Integral Studies, [s.d.], p.8. Disponível em: http://coastline.files.wordpress.com/2013/12/hekate.pdf OGDEN, Daniel, Greek and Roman Necromancy, New Jersey, Princeton University Press, 2001 IDEM A companion to greek religion, USA, UK, Australia, Blackwell Publishing, 2007 http://www.jstor.org/stable/294128 http://www.academia.edu/3664471/Aproximaci%C3%B3n_a_la_Iconograf%C3%ADa_de_H%C3%A9cate_Magia_Superstici%C3%B3n_y_Muerte_en_la_Sociedad_Romana http://www.academia.edu/3664471/Aproximaci%C3%B3n_a_la_Iconograf%C3%ADa_de_H%C3%A9cate_Magia_Superstici%C3%B3n_y_Muerte_en_la_Sociedad_Romana http://coastline.files.wordpress.com/2013/12/hekate.pdf 25 Joana Varela 46066 PEREIRA, Maria Helena da Rocha Estudos de História da Cultura Clássica I volume – Cultura Grega, 11ª edição revista e actualizada, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2012 PETROPOULOU, Maria-Zoe Animal sacrifice in Ancient Greek Religion, Judaism, and Christianity, 100BC to AD200, Oxford, New York, Oxford University Press, 2008, pp.32-106 PINHEIRO, Marília P. Futre Mitos e Lendas da Grécia Antiga, Lisboa, Clássica Editora, 2011, p. 269-273 RODRIGUES, Nuno Simões “Medeia, a deusa solar. Releitura de uma velha problemática”, O sol greco-romano, coordenação de FIALHO Maria do Céu, D’ENCARNAÇÃO, José, ALVAR, Jaime; Coimbra, Universidade de Coimbra, Universidad Carlos III, 2008, pp.31-42. Disponível em: http://hdl.handle.net/10451/3100 SARIAN, Haiganuch “Hécate Duplo de Ártemis: uma interpretação da cratera ática de Toronto”, Boletim do CPA, nº 4, [s.n.], Campinas, jul./dez. 1997, pp.15-22. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/cpa/boletim/boletim04/02sarian.pdf SILVA, Cláudia Raquel Cravo da Magia Erótica e Arte Poética no Idílio 2 de Teócrito. -Dissertação de Doutoramento em Estudos Clássicos (área de especialização em Literatura Grega), apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2008. Exemplar policopiado. Disponível em: http://hdl.handle.net/10316/7538 STRATTON, Kimberly “Magic Discourse in the Ancient World”. Defining magic: a reader. OTTO, Bernd-Christian, STAUSBERG, Michael, ed., UK, USA, Equinox Publishing, 2012. Disponível em: https://www.academia.edu/2361516/Magic_Discourse_in_the_Ancient_World http://hdl.handle.net/10451/3100 http://www.ifch.unicamp.br/cpa/boletim/boletim04/02sarian.pdf http://hdl.handle.net/10316/7538 https://www.academia.edu/2361516/Magic_Discourse_in_the_Ancient_World 26 Joana Varela 46066 STRATTON, Kimberly; KALLERES, Dayna S., ed. Daughters of Hecate: Women and Magic in the Ancient World, New York, Oxford University Press, 2014 WILLIAMS, Meta E. “Hecate in Egypt”. Folklore, Vol. 53, Nº 2 (Jun., 1942), UK, Taylor & Francis Ldt, p.112. Disponível em http://www.jstor.org/stable/1257561 http://www.jstor.org/stable/1257561
Compartilhar