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Fundamentos Teórico- Metodológicos da Leitura Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães Professora Mestre Greicy Juliana Moreira AUTORAS Fabiane Fantacholi Guimaraes ● Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias ● (Universidade Pitágoras Unopar). ● Licenciatura e Bacharel em Pedagogia (CESUMAR). ● Especialista em Psicopedagogia Institucional (Faculdade Maringá) ● Especialista em Educação Especial (Faculdade de Tecnologia América do Sul) ● Especialista em EaD e as Tecnologias Educacionais (UNICESUMAR). ● Especialista em Docência no Ensino Superior (UNICESUMAR). ● Professora orientadora de trabalho de conclusão de curso da pós-graduação ● (UNIFCV). ● Professora mediadora na área da Educação (UNIFCV). ● Professora conteudista na área da Educação (UNIFCV/UNIFATECIE). ● Coordenadora de cursos EaD de Graduação e Pós-Graduação (UNIFCV). ● Encarregada de Cursos EaD na área da Educação (UNIFCV). ● Tutora Pedagógica (UNIFCV). ● Experiência na Educação Básica: +- 8 anos. ● Experiência no Ensino Superior (presencial e a distância): desde 2012 até os dias atuais. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/7315666246327967 Greicy Juliana Moreira ● Mestre em Letra (UEM). ● Especialista em Língua Portuguesa - Teoria e Prática (América do Sul). ● Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Faculdade Maringá). ● Especialista em Educação Especial com Ênfase em Libras (Bom Bosco). ● Especialista em Educação Empreendedora (Puc -RJ). ● Especialista em Gestão de Pessoas (Faculdade Maringá). ● Licenciatura em Letras - Português. ● Segunda Licenciatura ( Pedagogia - Unicesumar - em andamento). ● Professora da Pós-Graduação (UNIFCV). ● Tutora Pedagógica (UNIFCV). ● Professora conteudista na área da Educação (UNIFCV/UNIFATECIE). ● Instrutora de cursos Técnicos e Profissionalizantes (SENAC-PR). ● Experiência na área de Educação há 12 anos. ● Experiência no Ensino Técnico e Superior e Pós-Graduação (presencial e à distância): desde 2010 até os dias atuais. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8929294723407914 http://lattes.cnpq.br/7315666246327967 https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=B8DA4EF97D4AE655B42127C955EE8B8E# APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, prezado(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) aos estudos sobre Fundamentos teórico-metodológicos da leitura. Este livro foi organizado com o objetivo de apresentar as teorias e metodologias que têm sido utilizadas nas práticas da leitura durante as aulas de Língua Materna. Além disso, enfatizar a importância da dessa prática para o desenvolvi- mento de um leitor competente, reflexivo e crítico. Este livro é composto por uma introdução seguida de quatro unidades criteriosa- mente analisadas selecionadas para dar sustentação a presente discussão e conclusão. Na Unidade I, vamos conhecer as concepções de leitura na pós-modernidade, para tanto, apresentaremos informações sobre o papel da leitura durante três revoluções históricas. Na Unidade II, você irá saber mais sobre a leitura, texto e discurso, para isso, vamos nos debruçar sobre as acepções da Linguística Textual e ainda, os pressupostos teóricos de Bakhtin relacionados ao conceito de gênero discursivo. Na Unidade III, falaremos a respeito das estratégias de leitura. Assim,, nossos olha- res estarão direcionados para os seguintes momentos: pré-leitura, a leitura propriamente dita e o pós leitura. Na Unidade IV, a última, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina aprofundando os nossos conhecimentos a sobre a leitura e a formação do leitor. Nesse sentido, nosso diálogo será sobre os desafios do professor de língua materna para desenvolver o hábito da leitura e as novas metodologias utilizadas nesse contexto de educação 4.0. Por fim, lembre-se caro(a) graduando(a), que o texto apresentado não irá esgotar todas as possibilidades de pensar e refletir acerca das temáticas abordadas, mas irá iniciar momentos importantes e oportunos para a compreensão das análise realizadas acerca das temáticas propostas. Para tanto, cumpre destacar que ao final de cada unidade você encontrará um resumo do texto realizado, a fim de facilitar seus estudos e compreensão. Assim, vamos dar início ao nosso trabalho. Tenha uma ótima leitura e não se es- queça! Esse é só seu primeiro passo sobre os Fundamentos teórico-metodológicos da leitura. Faça outras viagens, teça outras teias e consolide seu conhecimento no campo da formação humana. Vamos aos estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 5 Concepções de Leitura na Pós-Modernidade UNIDADE II ................................................................................................... 26 Leitura, Texto e Discurso UNIDADE III .................................................................................................. 49 Estratégias de Leitura UNIDADE IV .................................................................................................. 71 Leitura e Formação do Leitor 5 Plano de Estudo: A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Condições históricas da leitura • A leitura sob múltiplos olhares • Leitura, Escola e Sociedade Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar as condições históricas da leitura. • Analisar a leitura sob múltiplos olhares. • Refletir a importância da leitura, escola e sociedade. UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães Professora Mestre Greicy Juliana Moreira 6UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade INTRODUÇÃO Caro(a) estudante. Seja bem-vindo(a) à Unidade I da disciplina de Fundamentos Teórico-Metodológi- cos da Leitura. Nesta Unidade intitulada “Concepções de Leitura na Pós-Modernidade”, iremos conceituar e contextualizar as condições históricas da leitura, marcada pela estruturação histórica da sociedade, que passou por várias transformações ao longo dos anos. Além disso, vamos analisar as concepções de leitura sob múltiplos olhares (modernidade e pós- -modernidade). E por fim, refletir sobre a importância da leitura, escola e sociedade, uma vez que o sujeito tem a oportunidade de um olhar crítico sobre sua realidade. Portanto, diante deste fato, o professor possui papel importante na promoção do hábito da leitura. A compreensão desta primeira unidade contribuirá para a sua formação neste curso superior. Boa leitura e bons estudos! 7UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade 1 CONDIÇÕES HISTÓRICAS DA LEITURA Caro(a) estudante, em nosso primeiro tópico de nossa primeira unidade, vamos abordar a temática “condições históricas da leitura”. A prática de leitura, é marcada pela estruturação histórica da sociedade, que passou por transformações ao longo dos anos, em decorrência das modificações nos âmbitos econômicos, políticos e culturais da sociedade. Nesse sentido, podemos destacar que o processo de leitura não é estático, justamente por passar por alterações mediante as necessidades sociais. Vale salientar que a historicidade da leitura está interligada com a escrita. Segundo relatos históricos e arqueológicos, foi na Babilônia onde tudo começou. Hoje, nesta cidade, localizada na região Mesopotâmica do Egito. Seu povo foi precursor de muitos avanços da civilização como, por exemplo, agricultura, arquitetura, comércio, astronomia, direito e a escrita. Nesse local, surgiram as primeiras inscrições do que viria a consumar o nascimento de uma prática revolucionária a leitura. (KILIAN; CARDOSO, 2012). Na Antiguidade, com o surgimento de símbolos gráficos e sistemas fonográficos, apareceram os primeiros indícios de registros escritos e produzidos pelo homem, que fo- ram evoluindo ao longo dos anos, até chegar à escrita convencional. (KILIAN; CARDOSO, 2012).A partir do pressuposto de que a escrita exige um leitor, emergem alguns dos fatores referentes à leitura de maior contato imediato: escrita, autor, leitor, função e prática social, conferindo-lhe, assim, um caráter modificador de interação social. Além disso, sabe-se que a capacidade de armazenamento de informações é limitada no cérebro e a recuperação 8UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade de dados pela escrita através da leitura permite a rememoração de informações sem a necessidade da presença do autor. Nesse sentido, a leitura passou por vários caminhos. Inicialmente, cumpria seu papel por meio da oralidade. Posteriormente, houve a invenção da leitura silenciosa na Grécia Antiga. Hoje, articula-se com os mais variados processos de circulação, especialmente, com a mídia eletrônica. (KILIAN; CARDOSO, 2012). Corroborando com a afirmação anterior, e baseado em historiadores da cultura escrita, revela a ocorrência de pelo menos três revoluções que marcaram a evolução da prática da leitura e escrita (CHARTIER, 1990): ● 1ª Revolução, na idade média, houve a transição da prática de leitura oral para a silenciosa. Permitiu, então, um contato íntimo entre leitor/escrita. ● 2ª Revolução, na era da imprensa, sucessão da leitura intensiva para extensiva. Na primeira, o leitor lia poucos livros, muito vagarosamente, diversas vezes. Já na segunda, ele tinha contato com diversos livros, lia com mais rapidez e já fazia um julgamento crítico do que tinha lido. ● 3ª Revolução, já na atualidade, é marcada pelo texto eletrônico. Nesse momento, transição do texto impresso para o digital revela uma mudança revolucionária. Surge então, a linguagem multimodal, que emprega pelo menos duas modalida- des linguísticas, ou seja, mescla a linguagem verbal e a não-verbal, originando textos multissemióticos. Na Europa no século XIX, a leitura era vista como um ócio das camadas privi- legiadas. Com as mudanças sociais decorrentes da industrialização, a leitura passou a ser considerada uma forma de ascensão social. Assim, as pessoas que não sabiam ler, estavam vinculadas ao fracasso social. Há não muito tempo, confundia-se leitura com a simples decodificação de sinais gráficos. Tal concepção repousava numa visão de língua como código. (TERRA, 2014). SAIBA MAIS Você sabe o que é ócio criativo? Sugerimos que acesse o canal do historiador brasileiro professor Leandro Karnal, no qual aborda sobre o ócio criativo. Acesse o vídeo disponível no link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=EVmGb_IP_D0 Fonte: YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=EVmGb_IP_D0 9UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade Não só o conceito de leitura (e sua valorização) se alteram no decorrer do tempo, como o próprio suporte dos textos, conforme comentado anteriormente, foi se modificando: caracteres desenhados na argila, rolos de pergaminho, livros de papel e, atualmente, telas de computadores, tablets e celulares. Evidentemente, a mudança de suporte determinou alterações nas práticas de leitura e de escrita. (TERRA, 2014). O termo leitura é polissêmico. Do ponto de vista etimológico, está ligado ao verbo latino legere, que, segundo o Dicionário Latino-Português, de F.R. dos Santos Saraiva, significa colher, recolher, escolher, furtar. Esse sentido perpassa uma concepção de leitura que surge que ler é colher algo que está pronto, como se colher uma fruta madura da árvore; que ler é furtar algo (o sentido do texto). (SARAIVA, 2000). Desse modo para se entender leitura como decodificação de sinais gráficos vai apenas um pequeno passo. Para tanto, a prática da leitura se difunde como hábito e necessidade em decorrência também de outros fatores, a maior parte de ordem social. Em primeiro lugar, ela se integra ao processo, tornando compulsório a partir do século XIX, na Europa, de escolarização das massas urbanas e operárias, porque: a. a horizontalidade da escrita prepara o trabalhador para a fabricação em série, portanto, torna-o competente para atuar dentro do sistema industrial de produ- ção, em fase de implantação e expansão na época; b. a escrita e a leitura introduzem o trabalhador em uma realidade mediada por signos abstratos, diferente do contexto vivido de modo imediato e empírico a que estava habituado; c. habilita o trabalhador a obedecer instruções, transmitidas por escrito, e a deixar de orientar-se pela experiência ou intuição. (ZILBERMAN, 2012, p. 67). A verificação das relações entre a leitura e o contexto histórico sugere que o hábito de ler, ainda que consista em uma ação individual, somente pode se expandir e se afirmar quando se estabelece um certo modelo de sociedade: a do capitalismo, cuja economia sustenta-se no crescimento industrial e em um sistema democrático. (ZILBERMAN, 2012). A difusão da leitura ocorre, pela primeira vez, em uma sociedade do tipo (capitalismo) e colabora para sua expansão: estimula o consumo da matéria impressa (ainda um setor importante da economia mundial) e transmite valores e hábitos, muitos deles convenientes à consolidação da camada burguesa nos poderes político e financeiro. Porém, assim como a burguesia foi responsável pelas primeiras decisões na direção da implantação de um mo- 10UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade delo político democrático, também a leitura é fruto e agente dessa democratização. Torna o saber acessível a todos e, como tal, dessacraliza tabus e investe contra o estabelecido, quando este prejudica a comunidade. Contribuindo para a afirmação de um pensamento crítico, favorece a atitude que desmistifica valores e luta pela remoção de concepções conservadoras. (ZILBERMAN, 2012). Sendo esse o panorama amplo que envolve, no âmbito social, a leitura, cumpre examinar como fenômeno a democracia, sendo similar no Brasil. A reivindicação por uma política educacional, no desenrolar da história brasileira, pertenceu aos projetos dos repu- blicanos, isso significa que foi formulada tão somente quando o século XIX foi avançando e o Brasil já contava com 50 anos de independência. Com efeito, um plano educacional para a população residente no Brasil não cons- tou do trabalho da administração portuguesa, durante o período colonial, sendo deixado ao encargo dos grupos religiosos que para cá se deslocavam. Os jesuítas, que se constituíram na ordem religiosa mais forte e mais comprometida com a educação dentre as que partici- param da colonização da América, preocuparam-se sobretudo com a catequese dos índios e nas suas escolas, como nas demais administradas por outras ordens, dominou, como seria de se esperar, uma orientação religiosa e cristã. (ZILBERMAN, 2012). A República, implantada em 1889, seria a redenção dos problemas educacionais e culturais vigentes no país. Entretanto, se a República foi reivindicada por ardentes revolu- cionários, entre os quais se contavam os escritores Raul Pompéia e Euclides da Cunha, e adotada, como ideal político, por alas progressistas do Exército, sua consolidação coincidiu com o afastamento aos poucos desses grupos. (ZILBERMAN, 2012). Se a República, quando inaugurada, buscava soluções para o impasse educacio- nal brasileiro e, depois, sucumbe à força econômica e política dos tradicionais, a história subsequente da sociedade nacional apresenta a persistência do mesmo conflito. De um lado, os esforços contínuos visando à manutenção de uma estrutura conservadora e eli- tista para o ensino, dificilmente criando oportunidades iguais para os diferentes setores da sociedade brasileira; de outro lado, a necessidade inadiável de transformação, por várias razões, como: a pressão dos grupos menos favorecidos e a necessidade de formação de mão de obra habilitada para o país que se industrializa (e se modernizava) desde o início do século. (ZILBERMAN, 2012). Por essa razão, ainda que não se davana proporção e na medida em que se dese- java, a escola aos poucos se tornava democrática: na década de 1930 acontece à expansão do ensino médio e profissionalizante, matizando a finalidade até então estritamente elitista 11UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade desse grau; e na década de 1970 presenciou a difusão dos estudos superiores, ainda que a expansão mais substancial corria por conta da rede privada, de modo paradoxal destinada “[...] à população de baixa renda (menos habilitada aos vestibulares mais concorridos e mais difíceis das universidades públicas) e/ou às regiões menos centrais (pois as universidades públicas, nessa época, localizam-se principalmente nas capitais e cidades maiores dos estados ricos)”. (ZILBERMAN, 2012, p. 77). No entanto, caro(a) estudante para fecharmos esta compreensão, não podemos deixar de fazer uma condensação sobre a leitura na modernidade e pós-modernidade. Na perspectiva da modernidade, a leitura foi conceituada como decodificação (des- coberta do sentido) ou como leitura como interação (construção do sentido, na vertente da compreensão). Já na pós-modernidade (atualidade), a leitura encontra-se enredada com outros espaços que configuram um novo local para o texto e novas textualidades, portanto, novos espaços de significação. Tais espaços promovidos pelas novas tecnologias, têm pro- porcionado uma crescente multiplicação dos sistemas de significação. (CORACINI, 2005). O fato é que a leitura é uma prática consolidada na sociedade, marcada por sua historicidade e acepções. Isso pressupõe que os desafios em torno de formar leitores na atualidade (pós-modernidade) encontram-se relacionados à prática de leitura atrelada às intencionalidades do mercado de trabalho, que tende a atender aos interesses do capital. No próximo tópico iremos nos aprofundar na temática da leitura sob múltiplos olhares. 12UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade 2 A LEITURA SOB MÚLTIPLOS OLHARES Caro(a) estudante, em nosso segundo tópico de nossa primeira unidade, vamos analisar a leitura sob múltiplos olhares. Para tanto, nos debruçaremos sob a concepção sociocognitivo-interacional de língua, a qual entende os sujeitos e seus conhecimentos em processos de interação, ou seja, sob a ótica da Linguística Textual (LT). Nesse sentido, utilizaremos os pressupostos teóricos de Ingedore Villaça Koch e demais estudiosos e aplicadores da LT, com o intuito de apropriarmos mais conhecimentos. Já ouvimos a frase ler é construir sentidos. Essa afirmação é coerente e já se tornou quase que um lugar comum. Como acontece com tudo o que é repetido de forma automática, acaba-se por não refletir sobre o que seria, afinal, essa afirmação. Como sabemos a leitura surgiu quando os sinais passaram a ser interpretados pelo seu som, dentro de um sistema padronizado e com seus sinais em quantidade limitada. Dessa forma destacamos que desde o surgimento do alfabeto, a prática da leitura está fortemente associada à emissão sonora do texto. A leitura é um dos elementos que permitiu ao ser humano propagar seus conheci- mentos, transmitir saberes de geração em geração; enfim, que nos tornou uma civilização organizada. (GUIMARÃES, 2014). Justamente pela riqueza que nela está, a leitura é também alvo de investigações de muitos pesquisadores, que buscam entender melhor o fenômeno à que ele está envolvido. Desse modo, caro(a) estudante, vamos apresentar duas definições de leitura a você. Elas 13UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade não se contradizem, pelo contrário; mas há, em cada uma delas, elementos específicos que serão úteis no seu aprendizado. 1ª Definição: A leitura é, “uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos”. (KOCH; ELIAS, 2010, p. 11). Pedimos que você (estudante) seja paciente e aguarde em relação à palavra “interativa”, sobre a qual falaremos bastante em breve. Agora, caro(a) estudante, iremos focar no restante da frase. “Altamente complexa” serve para que não caiba a menor dúvida, entre nós, em relação ao tamanho do desafio que é ler - não se trata apenas de passar o olho em um texto, embora tudo comece com isso. Já a expressão “produção de sentidos” mata a charada. Quando lemos, estamos extraindo um sentido para nós. Que é baseado na mensagem passada pelo autor, mas não é composto integralmente por ela. Lembra quando falamos que mais claro agora, não é mesmo? A título de explicação, vejamos a tirinha a seguir: Figura 1: Definição de leitura. Fonte: Folha de S. Paulo, 13 abr. 2005. Na tirinha, Garfield representa bem o papel do leitor que, em interação com o texto, constrói-lhe o sentido, considerando não só as informações explicitamente constituídas, como também o que é implicitamente sugerido, numa clara demonstração de que: ● A leitura é uma atividade na qual se leva em conta as experiências e os conhe- cimentos do leitor; ● A leitura de um texto que exige do leitor bem mais que o conhecimento do código linguístico, uma vez que o texto não é simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado por um receptor passivo. 2ª Definição: A leitura como “processo de interlocução entre autor/leitor mediado pelo texto” (GERALDI, 2006, p. 91) como apresentado pelo autor, deve existir somente 14UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade como uma ferramenta que auxilia no objetivo principal, a comunicação entre autor e leitor. Isso faz sentido com tudo o que estamos vendo até aqui, não é mesmo? Se a comunicação oral não é uma “transmissão de pacotinhos entre máquinas”, não haveria como a comuni- cação baseada em um texto seguir o mesmo caminho. Para tanto, essa concepção de leitura, que põe em foco o leitor e seus conheci- mentos em interação com o autor e o texto para a construção de sentido, vem merecendo a atenção de estudiosos do texto e alimentando muitas pesquisas e discussões sobre a sua importância para o ensino da leitura. (KOCH; ELIAS, 2010). Assim, o objetivo da leitura é alguns primeiros passos do ato de ler, e é algo que definirá os rumos da interação entre autor, leitor e o texto. “Você pode ler por uma série de motivos: sendo por, necessidade profissional ou escolar, por diversão, para se informar sobre determinado tema e assim por diante”. Note que diferentes objetivos motivarão dife- rentes “pontos de partida”. (GUIMARÃES, 2014, p. 16). Mas ter um objetivo claro não é o único critério para que o pontapé inicial da leitura flua bem. É necessário ainda que o leitor tenha alguns conhecimentos prévios sobre o que lerá. Um deles é o da língua em questão. Não adianta nada nos depararmos com um texto em búlgaro se jamais tivermos estudando qualquer coisa sobre a língua da Bulgária, não é mesmo? REFLITA Caro(a) acadêmica, frente a esse cenário de fragmentação do sujeito pós-moderno, como ficaria a leitura? Fonte: Elaborada pelas autoras, 2020. Mas, caro(a) estudante, antes de prosseguirmos, precisamos levantar algumas questões sobre leitura que favorecem nosso diálogo. Temos a abordagem de três principais concepções de leitura: tradicional (leitura encarada como decodificação), interacionista (autor-texto-leitor) e discursiva. No entanto, 15UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade as duas primeiras posturas estão localizadas na perspectiva da modernidade e uma ênfase maior é dada à concepção da leitura como processo discursivo, conceito situado na pós- -modernidade. (CORACINI, 2005). As duas concepções clássicas de leitura como citadas anteriormente são: leitura como decodificação, sendo a descoberta do sentido; e leitura como interação, como cons- trução do sentido. Na primeira concepção, o leitor é um mero espectador em busca do sentido que se encontra de forma imanente, no texto ou na obra em apreciação. “As palavras assim como as cores, as formas,os sinais, os gestos, os signos carregam um significado inevitável e independente de qualquer condição. A função do leitor seria a de resgatar esse significado. Um olhar linear sobre o que é lido”. (CORACINI, 2005, p.20). Para tanto, leva-se em conta a existência dos sujeitos – autor e leitor – neste caso, a leitura constitui um processo cognitivo que coloca o sujeito-leitor frente ao autor ou à obra, seja ela de que natureza for. Autor que deixaria marcas, pistas de sua autoria, de suas intenções, determinantes do sentido possível e com o qual o leitor irá interagir para construir esse sentido. Esse sujeito-autor seria, portanto, o centro de onde partem e para onde convergem os sentidos. Existiria, mesmo nesta acepção, certa linearidade da leitura. (CORACINI, 2005). Em outras palavras, na primeira concepção, o sentido do texto estava arraigado às palavras e na segunda concepção, o autor seria o responsável por deixar marcas para serem seguidas pelo leitor em busca da compreensão do texto. Na prática da escola, a leitura como decodificação, segundo a qual há uma única leitura correta e possível do texto seria a predominante e, no meio acadêmico, a visão mais cotada é a interacionista que valida o autor como princípio da construção de sentidos (garantia da cientificidade). Na perspectiva da pós-modernidade, a leitura figura na resultante da tensão entre a modernidade e a pós-modernidade e pode ser conceituada como um processo discur- sivo – sócio, histórico, cultural e ideologicamente constituído –, portanto, interpretativo, e, num segundo momento, como processo virtual, em virtude das novas tecnologias que medeiam a própria leitura. Essa concepção requer o reconhecimento de que o sujeito-leitor, o sujeito-autor e os sentidos são historicamente determinados, configurando um trabalho de interpretação que relaciona o texto a outros textos, ao discurso e ao interdiscurso que coabitam em nós e em nossa historicidade sociocultural. (CORACINI, 2005). 16UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade Ou seja, a leitura na pós-modernidade é enfocada, então, como processo discur- sivo, e também, devido ao surgimento das novas tecnologias, como processo virtual. O olhar do leitor dentro da visão discursiva de leitura está impregnado de sua subjetividade constituída do/no exterior, refletindo o momento histórico-social em que está inserido. Os caminhos que o leitor toma, enquanto interpreta um texto, não são controlados e previsíveis. Cada leitura é uma leitura. Dessa forma a leitura no ponto de vista da pós-modernidade acarreta ao fato de que precisamos adotar um conceito mais amplo sobre a leitura, trazendo harmonia entre o sujeito e as formas de identificação. Reconhecendo as outras formas de textos, que como bem sabemos, não é apenas verbal, pois nos mostra as várias possibilidades da leitura, salientando assim que ela não é simplesmente uma atividade linear e racional. Para corroborar com as reflexões anteriores, a principal precursora, no Brasil, da Linguística Textual, área da linguística que é estreitamente relacionada à Análise do Discur- so, uma vez que, o objeto de estudo é o texto. Agora, vamos apresentar alguns diferentes concepções de leitura. Quadro 1 - Concepções de leitura. CONCEPÇÕES DESCRIÇÃO Foco no autor a leitura é vista como uma simples atividade, que tem por objetivo considerar apenas as ideias do autor, descartando o leitor. Assim, não há, a interação autor-texto-leitor. Foco no texto aqui a língua é considerada como estrutura e a noção de um sujeito sem consciência. Nesse sentido, só é considerado o que está dito no ali/texto, não cabe, portanto, reflexões e inferências do leitor. Foco na interação autor-texto-leitor essa é uma concepção interacional/dialógica da língua. Aqui temos um sujeito ativo, que dialoga e se constrói e são construídos no texto, ou seja, são interlocutores. Assim, a leitura é uma atividade de interação que produz sentidos. Fonte: Elaborado com base em Koch e Elias (2010). De acordo com o que foi exposto, entendemos que a Linguística Textual, um dos mais importantes ramo da Linguística, atua como parâmetro, subsidiando o professor de língua materna no desenvolvimento da competência textual dos seus alunos. Dessa forma, entende-se que o professor dessa área, uma vez inserido num contexto educacional, possui papel essencial no desenvolvimentos das habilidades leitoras dos seus dos educandos. As- sim, deve subsidiar a formação de novos saberes, por meio da leitura com foco na interação. 17UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade 3 LEITURA, ESCOLA E SOCIEDADE Caro(a) estudante, neste último tópico, de nossa primeira unidade, vamos abordar o tema “leitura, escola e sociedade”, sabemos que ler não é somente decifrar letras, sílabas e palavras. É questionar a forma da mensagem em uma situação da vida real, trazendo seu conhecimento de mundo para a experiência da leitura. Sabemos que as práticas de leitura podem se realizar em um ambiente educacional convencional, como a escola ou a faculdade, ou em outros contextos, como o trabalho e o ambiente privado de nossas casas. Em todas elas, no entanto, a principal finalidade é, a construção de conhecimentos e a busca pelo saber. Mas para você estudante, o que é ler? Podemos considerar que ler é um processo complexo, iniciando antes dos primeiros anos escolares e que se desenvolve nos anos posteriores, até o leitor se tornar competente. Para desenvolver essa competência, executando-a com autonomia, o leitor precisa com- preender o que lê, interpretando textos de diferentes complexidades e atribuindo sentido a eles. (AMPLATZ, 2019). A criança compreende o sistema alfabético na prática de leitura, que tem início antes dela frequentar a escola, como relatamos no início de nosso tópico. As crianças começam a ler antes mesmo da alfabetização. “Elas folheiam livros e fazem de conta que estão lendo. Os desenhos comunicam com facilidade e a escrita é adquirida com o tempo”. Ensinar a 18UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade ler “é dar condições para que a criança resolver problemas que a permitam avançar como consumidora e produtora de textos”. (AMPLATZ, 2019, p. 164). A habilidade específica à leitura é a que permite “processar as palavras escritas de uma língua de tal maneira que o leitor, utilizando o conhecimento explícito ou implícito que adquiriu respectivamente do código ortográfico, possa com rapidez e exatidão reconhecer ou identificar as palavras orais correspondentes”. Na leitura também se utilizam outras capacidades, as quais são necessárias para analisar, compreender, interpretar, avaliar e memorizar o que é comunicado por escrito ou oralmente. (MAIA, 2015. p. 127). Relativamente à aprendizagem da leitura, determina que a medida depende de capacidades linguísticas, em particular fonológicas, e das características do sistema de escrita. Sendo hoje demonstrado que a via mais eficaz para aprender a ler em um sistema alfabético de escrita é a que promove explicitamente desde o começo a compreensão do princípio desse sistema (o “princípio alfabético”), “o que inclui a tomada de consciência dos fonemas, a sua associação às letras e aos grafemas, e o desenvolvimento das habilidades para operar mentalmente com representações fonêmicas e, mais geralmente, fonológicas”. (MAIA, 2015, p. 135). Enfim, o desenvolvimento das habilidades de leitura depende de muitas variáveis mediadoras, tais como “a atenção, a memória, o conhecimento do vocabulário e a sua estruturação e organização, e por sua vez contribui para melhorar e aprofundar tais capa- cidades”. (MAIA, 2015, p. 135). Portanto, a leitura, “é entendida como a atividade de captação das ideias do autor, sem se levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor, a interação autor- -texto-leitorcom propósitos constituídos sociocognitivo-interacionalmente”. No qual, “o foco de atenção é, pois o autor e suas intenções, e o sentido está centrado no autor, bastando tão-somente ao leitor captar essas intenções”. (KOCH; ELIAS, 2010, p. 10). Mas caro(a) estudante você sabia que a leitura é um importante instrumento para o processo de reconstrução da sociedade? Para a criança saber a ler, é necessário primeiramente conhecer a língua pátria, já que desde o momento do seu nascimento ela participa do grupo de aprendizagem: familiar, social, cultural, entre outros, por meio do qual acumula experiências que se processam, principalmente, durante a sua trajetória escolar. Transformando assim, o sujeito em uma instrumento imprescindível para a evolução e desenvolvimento da sociedade. Se considerarmos que a função da escola não é apenas ensinar a ler e escrever, mas levar o sujeito a fazer uso da leitura e da escrita, envolvendo-se em práticas sociais que 19UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade delas dependem e também das relações de seus grupos sociais, culturais e econômicos; é preciso, portanto, que haja disponibilidade de material de leitura, como: jornais, revistas, acesso à biblioteca, livraria, computadores, entre outros. Nesse sentido, o trabalho com diversos gêneros discursivos é importante para o processo de formação do aluno, pois corrobora para o desenvolvimento da competência comunicativa, possibilita a identificação de ideologias e amplia os horizontes. De acordo com a concepção bakhtiniana que serve de parâmetro para as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCEs), documento oficial que norteia o ensino da Língua Portuguesa no estado do Paraná, usar o discurso como prática social é primordial para desenvolver habilidades leitoras e críticas. O ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa aprimorar os conheci- mentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que eles possam com- preender os discursos que os cercam e terem condições de interagir com es- ses discursos. Para isso, é relevante que a língua seja percebida como uma arena em que diversas vozes sociais se defrontam, manifestando diferentes opiniões (PARANÁ, 2008, p. 50). Assim, a instituição responsável pelo desenvolvimento de leitores críticos, deve promover meios para que os alunos entrem em contato com diversos gêneros discursivos e sejam capazes de identificar as polifonias e os intertextos presentes nos discursos que circulam pela sociedade. Coaduna-se a essas afirmações os apontamentos das DCEs ao salientar que a escola tem por função principal desenvolver trabalhos, considerando as vivências sociais dos alunos, mas também propiciar conhecimentos linguísticos necessários para o desen- volvimento acadêmico e social. É tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práti- cas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. Se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade letrada (PARANÁ, 2008, p. 48). Com base nessas afirmações, caro acadêmico(a), entendemos que cabe ao pro- fessor desenvolver formas diferentes de leituras e interpretações de textos, despertar o interesse dos alunos a partir do que é significativo para ele. Dessa forma, a leitura é parte de um processo que está ligado aos sujeitos que podem circular por lugares de prestígio. Em resumo, supõe-se que o sujeito que tem maior potencial a leitor é também aquele que ocupa notoriedade profissional, econômica, acadê- mica, e assim por diante. 20UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade Portanto, a escola, enquanto instituição, em especial a escola que se estabilizou a partir das reformas políticas do fim do século passado, que deram origem à escola con- temporânea, incumbiu-se de formar educandos que são potenciais leitores. (CANO, 2018). A leitura cristalizou-se como aquilo que cabe à escola fornecer como um produto. Contudo, “interessa para este texto observar a leitura como uma competência intrínseca ao sujeito que pode ser estimulada, levando em consideração a pluralidade desse sujeito que lê e dos discursos que são lidos”. Assim, a leitura é uma atividade em progresso do sujeito em contato com outros sujeitos. (CANO, 2018, p. 36). O dever de ensinar a ler, compreender e ter um olhar crítico, ficou ao cargo dos professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio, segmento mais que importante da escola, pois prepara os alunos para o universo universitário, tornando-os seres críticos e independentes. Porém, é importante salientar que, o simples contato aluno/professor ainda é ineficiente para tornar o indivíduo um leitor eficiente. (CANO, 2018). À escola, em especial o segmento de Ensino Médio, ficou a tarefa de ensinar a ler. Diante disso, como a leitura está fixada no campo da língua e da linguagem, os professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio se veem no “difícil entrave de ensinar os sujeitos a ler para que se tornem críticos e independentes”. Nesse universo problemático, pode-se recorrer ao equívoco de pensar que o simples contato do professor do Ensino Médio com um “gênero, oral ou escrito, fará com que ele se torne um leitor mais eficiente”, ou de pensar que um educador do Ensino Médio não tem potencial para aferir deste ou daqueles gêneros muitos efeitos de sentido. (CANO, 2018. p. 43). É importante ressaltar também, que os estudantes de escolas públicas, apresentam baixo rendimento escolar e altos índices de reprovação. Consequentemente, não adquiri- ram eficazmente conhecimentos relevantes para a vida em sociedade, como saber ler e escrever de forma competente, habilidades essenciais para o exercício da cidadania e atuação no mundo corporativo. Analisando tais afirmações, parece-nos um horizonte obscuro, no qual os profes- sores do Ensino Médio são aqueles que tudo podem entender de gêneros e que o pro- fessor perde sua função de considerar o certo e o errado. Em certa medida, discute-se o deslocamento de um paradigma em que o professor é aquele que “sabe” e o aluno, o que busca o “saber”, para um posicionamento que entenda o “saber” como construção mútua. Entende-se que esse ponto de vista é altivo e que não pode ser executado apenas pelo professor do Ensino Médio, nem pelo aluno, nem pela escola, pois é um trabalho para 21UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade muitas mãos. “Se o professor considera os alunos como leitores em potencial, que trazem leituras prévias de cada gênero, as quais, com base em diálogo com professor e com outros alunos, podem ser expandidas, o horizonte deixa de ser obscuro e passa ser mais acessível e bonito”. (CANO, 2018. p. 44). Estes apontamentos são iniciais e não pretendem, de maneira alguma, ser definiti- vos. O que se faz presente são considerações iniciais acerca da leitura em uma perspectiva discursiva, que tem como escopo os efeitos de sentido como parte de um processo de leitura que não se importa como o início nem com o fim, mas sim com o contínuo progresso da escola, do professor e do aluno. Não se considera, finalmente, que a leitura é um produto da instituição escola, nem, em menor escala, do Ensino Médio, já que o processo começa na formação mais básica do indivíduo, que está relacionado a sociedade e cidadania do mesmo. (CANO, 2018). Caro, estudante, a seguir, apresentamos um resumo de alguns documentos oficiais para ilustrar a forma como é direcionado o ensino de Língua Portuguesa, mais especifica- mente às orientações para o desenvolvimento da leitura em sala de aula. ● Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs/1998): Nesse documento não há orientação para o tempo destinado à leitura, a única observação é que as aulas devem ser planejadasregularmente e, que possuam alguns momentos para lei- tura livre. No que refere-se às habilidades de leitura/escrita, o documento destaca que a escola deve formar leitores de textos escritos, que saibam utilizar diversos instrumentos tais como: textos visuais, audiovisuais, multimidiáticos, etc. ● Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs/2013): Não existe nesse documento indicação de quantidades mínimas nem máximas para aulas de Língua Portu- guesa, consequentemente não há direcionamento específico para o trabalho desenvolvido com a leitura. Sobre o desenvolvimento de habilidades de leitura/ escrita a orientação é para que haja conexão entre escola e prática social, con- siderando sempre o interesse do aluno. ● Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE/2008) do Paraná: Seguindo a linha dos documentos anteriores, não é mencionado quantidade de horas/tempo destinados especificamente ao trabalho com atividades de leitura. Contudo, há orientações para que seja desenvolvida essa habilidade, pois a LP tem por objetivo maior aperfeiçoar os conhecimentos linguísticos e discursivos, além de desenvolver habilidades críticas e reflexivas. 22UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade De acordo com o que foi exposto, podemos entender que a capacidade de ler e interpretar textos é indispensável para a aquisição de conhecimentos e para a execução de qualquer atividade profissional. Compete, pois, à escola montar estratégias para melhorar o desempenho do aluno na compreensão daquilo que lê. É tarefa do professor instrumentar o aluno para que ele se torne um leitor proficiente nos diferentes gêneros textuais que circulam socialmente nas diferentes mídias ou tecnologias. No entanto, caro(a) estudante, esta é uma conversa que teremos ao longo de nos- sas próximas unidades do material de estudo. 23UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) estudante, chegamos ao fim da primeira unidade da disciplina de Funda- mentos Teórico-Metodológicos da Leitura. No primeiro momento, aprofundamos nossos conhecimentos referentes às “Condi- ções históricas da leitura”. Dessa forma, entendemos como aconteceram as três revoluções que marcaram a evolução da prática da leitura e escrita e como essa última revolução, diretamente relacionada ao contexto atual, favorece às práticas de leitura em sala de aula. Posteriormente, nosso olhar se voltou para a questão da “leitura sob múltiplos olhares”. Assim, obtivemos informações sobre a existência de definições de leitura, como por exemplo, foco no texto, foco no autor e foco na interação-texto-leitor. Essa última, por sua vez, é defendida pela LT, pois é uma concepção interacional e dialógica da língua, que entende que o texto é o lugar de interação e é nele que os sentidos são construídos. Por último, foi abordada a temática “leitura, escola e sociedade”. Nesse momento, refletimos mais sobre como o desenvolvimento eficaz das habilidades leitoras contribuem para a formação de um cidadão crítico, o qual possui papel fundamental numa sociedade democrática. Para tanto, entendemos que a escola e, mais especificamente, o professor de língua materna são fundamentais para que o aluno desenvolva competência leitora. Estudante, a seguir apontamos sugestões de livros, vídeos e filmes para você aprofundar seus conhecimentos. Na próxima unidade, iremos aprofundar as informações referentes à leitura, texto e discurso. Aguarde!!! 24UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade LEITURA COMPLEMENTAR Olá estudante, para a nossa leitura complementar, sugerimos o livro do autor Fischer, no qual o autor relata a “História da leitura descreve o ato da leitura, seus praticantes e os ambientes sociais em que estão inseridos, além das diversas manifestações da lei- tura em pedras, ossos, cascas de árvore, muros, monumentos, tabuletas, rolos de papiro, códices, livros, telas e papel eletrônico. ... Apesar de a leitura e a escrita estarem plenamente relaciona- das, a leitura é, na verdade, a antítese da escrita. Cada uma ativa regiões distintas do cérebro. A escrita é uma habilidade, a leitura, uma aptidão natural. A escrita originou-se de uma elaboração, a leitura desenvolveu-se com a compreensão mais profunda pela humanidade dos recursos latentes da palavra escrita. A história da escrita foi marcada por uma série de influências e refinamentos, ao passo que a história da leitura envolveu estágios sucessivos de amadurecimento social”. Fonte: FISCHER, Steven R. História da leitura. Tradução Claudia Freire. São Paulo: Editora UNESP, 2006. 25UNIDADE I Concepções de Leitura na Pós-Modernidade MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Leitura na Escola: Espaço Para Gostar de Ler • Autora: Jurema Nogueira Mendes Rangel • Editora: Mediação • Sinopse: Como levar os professores a descobrir o potencial má- gico da leitura na escola? Para a autora, formar um aluno leitor é torná-lo curioso sobre o mundo em que vive, favorecer seu diálogo com pessoas de outros continentes e de outras culturas. Bons lei- tores transformam-se em pesquisadores, escritores e inventores. Será essa a concepção de leitura vigente no ensino fundamental? A autora apresenta projetos e práticas desenvolvidos nas escolas e questões pedagógicas atreladas a questões do erro e da avaliação em atividades de leitura, que permitirão ao próprio leitor responder à segunda questão. FILME/VÍDEO • Título: Malala • Ano: 2015 • Sinopse: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”. Este é o slogan de Malala. Retrato íntimo da ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, que foi perseguida pelo Taliban e severamente ferida por um tiro quando voltava para casa em seu ônibus escolar no Paquistão. A menina, de então 15 anos, foi julgada por defender a educação para meni- nas, e o ataque a ela provocou protestos de simpatizantes em todo o mundo. Ela milagrosamente sobreviveu e agora é líder de uma campanha global para educação de meninas como a cofundadora do Fundo de Malala. WEB • A série Práticas de Leitura na Escola é um espaço oferecido pela Companhia das Letras, em parceria com o Instituto Avisa Lá, para refletir sobre o conhecimento pedagógico em torno da leitura em ambiente escolar. Nesta série de vídeos abordaremos diversas práticas de leitura que auxiliam a consolidar a escola como uma comunidade de leitores. Além disso, a cada vídeo vamos oferecer dicas de livros de literatura e de não ficção e informações sobre como apresentar esses livros aos leitores e sobre o que conversar em torno dessa leitura, ampliando os olhares sobre o elemento fundamental para a formação de leitores: uma mediação de quali- dade, capaz de expandir os sentidos construídos na leitura. São 3 séries temáticas, com 3 vídeos cada uma. Vale a pena assistir! Disponibilizamos o primeiro link da série abaixo. Fique a vontade para explorar os demais. • Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=HvryqDFlecY 26 Plano de Estudo: A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Leitura como prática social. • A leitura frente às diferentes textualidades. • A leitura do texto e a leitura do mundo Objetivos de Aprendizagem: • Abordar a leitura como prática social. • Retratar a leitura frente às diferentes textualidades. • Compreender a importância da leitura do texto e a leitura do mundo. UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães Professora Mestre Greicy Juliana Moreira 27UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso INTRODUÇÃO Caro(a) estudante. Seja bem-vindo(a) à Unidade II da disciplina de Fundamentos Teórico-Metodológi- cos da Leitura. Nesta Unidade intitulada “Leitura, texto e discurso”, iremos abordar a leitura como prática social, assim como retratar a leitura frente às diferentes textualidadese por fim compreender a importância da leitura do texto e a leitura do mundo. Esperamos que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa segunda unidade. Boa leitura! 28UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso 1 LEITURA COMO PRÁTICA SOCIAL Caro(a) estudante, em nosso primeiro tópico da segunda unidade, vamos abordar a leitura como prática social, mas o que é leitura? Estamos falando de leitura desde a primeira unidade de nossa disciplina, mas agora vamos nos aprofundar mais um pouco do assunto, com um olhar em relação a leitura como prática social? Ler é uma prática social que se interliga a outros textos e outras leituras, ou seja, a leitura de um texto pressupõe em ações conjuntas de valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que as pessoas estão inseridas. A leitura não é apenas o en- tendimento de um leitor inserido na cultura letrada, mas uma relação de aspectos sociais e culturais que perpassam pela atividade intelectual em que o leitor utiliza diversas estraté- gias baseadas em seu conhecimento linguístico, sociocultural e enciclopédico. (KLEIMAN, 2013). A leitura se constitui em uma prática social e não pode deixar de ser considerada sob o ponto de vista da interação entre autor e leitor, sujeitos historicamente situados, que, portanto, assumem determinados papéis sociais em diferentes eventos de linguagem. (HARTMANN; SANTAROSA, 2012). Pensar em leitura enquanto prática social pressupõe pensar nas múltiplas relações que o sujeito-leitor exerce na interação com o universo sociocultural a sua volta; é pensar em um leitor apto a usar a leitura como fonte de informação e disseminação de cultura. (FOUCAMBERT, 1994). 29UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Assim sendo entende-se que é através da leitura que as portas irão se abrir para os sujeitos, com a finalidade e objetivo de se tornarem cidadãos convictos na busca e na construção de novas relações. E também do que é mais importante na construção da sua própria história. Caro(a) estudante, vamos caminhar um pouco… Tem-se procurado mostrar como a leitura, não é apenas uma habilidade individual de decodificação de textos que se transmitem por escrito, mas também um processo amplo, estimulado pela sociedade, que apresenta um componente democrático que lhe é inerente, ainda que sua difusão, no início, tenha decorrido de interesses econômicos e ideológicos da burguesia. (ZILBERMAN, 2012). Assim, a promoção da leitura resulta, em uma primeira instância, dessa situação cultural até então desconhecida. Porém, a prática da leitura se difunde como hábito e ne- cessidade em decorrência também de outros fatores, a maior parte de ordem social. Em primeiro lugar, ela se integra ao processo, tornado compulsório a partir do século XIX, na Europa, de escolarização das massas urbanas e operárias, porque: a. a horizontalidade da escrita prepara o trabalhador para a fabricação em série, portanto, torna-o competente para atuar dentro do sistema industrial de produ- ção, em fase de implantação e expansão na época; b. a escrita e a leitura introduzem o trabalhador em uma realidade mediada por signos abstratos, diferente do contexto vivido de modo imediato e empírico a que estava habituado; c. Habilita o trabalhador a obedecer instruções, transmitidas por escrito, e a deixar de orientar-se pela experiência ou intuição. (ZILBERMAN, 2012, p. 66-67). Já a valorização da leitura completa o quadro, pois, de sua prática, pressupõe o conhecimento e expandia-se o racionalismo, concebidos, ambos, não somente como as alavancas do progresso, mas também como os meios de contestar os valores que legitimam o domínio da nobreza feudal. Além disso, ela correspondia a uma atividade efetivamente integrada ao ambiente familiar, decretando o caráter doméstico e privado da ação de ler o novo apreço conferido ao objeto livro. (ZILBERMAN, 2012). 30UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Por último, dar acesso à leitura significou estimular uma indústria nascente - a da impressão, que deu margem ao aparecimento de gráficas e editoras - em desenvolvimento acelerado no período, graças à descoberta de formas específicas de expressão, como, além do livro, o jornal, o folhetim, o cartaz ou o almanaque, por isso, a difusão do hábito de ler não pode ser separada de outro acontecimento coetâneo: o da industrialização da literatura. Que igualmente sofreu os efeitos da revolução industrial, efeitos internalizados, já que o livro representa o processo mesmo da produção em série. (ZILBERMAN, 2012). Para tanto, é por meio da leitura que temos acesso a maior parte dos conhecimen- tos acumulados pela humanidade, ampliamos nossa visão de mundo, desenvolvemos a compreensão, a comunicação e o senso crítico. Colocando-nos em contato com um mundo simbólico e abstrato, a palavra escrita torna possível a vivência de realidades diversas e a descoberta de pessoas e idéias. A leitura é, portanto, portas para vivermos plenamente nos- sa cidadania, transformando a nós mesmos e a realidade que nos cerca. (FOUCAMBERT, 1994). Com intuito de aprofundar nosso estudo referente à “Leitura como prática social”, vamos nos debruçar sobre a concepção dialógica da linguagem, com ênfase na abordagem sócio-histórica, caracterizada sob a perspectiva do Círculo de Bakhtin e autores brasilei- ros. Nessa linha, a leitura é considerada uma ação interativa, dialógica, pois envolve os interlocutores do discurso, suas experiências sócio-históricas e culturais. Assim, quando falamos de leitura, estamos nos referindo a toda palavra/discurso inserida em um contexto de produção e ainda, em um momento sócio-histórico, no qual ela foi produzida. Para exemplificar, vamos pensar no gênero discursivo “propaganda”, considerada uma comunicação social entre interlocutores, uma vez que, utiliza um sistema simbólico, apresentado por meio de texto verbal e não-verbal para influenciar pessoas, em dada épo- ca e sociedade marcada. Infere-se, então, que o gênero discursivo é constituído a partir do uso da língua no campo social, ou seja, a interação acontece num processo contínuo de produção de sentidos, “A palavra se orienta em função dos interlocutores”. (BAKHTIN/ VOLOCHINOV, 1992, p. 113). Toda palavra é indissociável do discurso, além de ser história, ideologia e luta social, pois configura-se como prática discursivas historicamente construída. Assim, ao considerarmos a leitura como uma prática social, entendemos que a palavra/discurso é uma conexão entre interlocutores carregada de ideologias constituídas socialmente. (CEREJA, 2007). 31UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Em suma, de acordo com a concepção bakhtiniana dialógica de linguagem, a leitura como prática social, é uma perspectiva interacionista, ou seja, um processo interativo de produção de sentido entre leitor, texto e autor. SAIBA MAIS Você caro(a) acadêmico(a) poderá obter muitas informações de como as práticas de leitura modificaram-se no tempo nas obras de Roger Chartier e de Alberto Manguel. Do primeiro, sugere a leitura de A aventura do livro: do leitor ao navegador. Do segundo, Uma história da leitura. Fonte: Elaborado pelas autoras, 2020. 32UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso 2 A LEITURA FRENTE ÀS DIFERENTES TEXTUALIDADES Caro(a) estudante para darmos sequência em nossa unidade precisamos retratar a leitura frente às diferentes textualidades, mas para isso vamos iniciar com uma pergunta simples, o que é um texto? Um texto é tudo aquilo que comunica algo, seja ele oral, escrito, visual ou musical. Do ponto de vista oral e escrito, o texto se constrói a partir de mecanismos sintáticos e semânticos, os quais são responsáveis pela produção do sentido. Não há unanimidade entre estudioso sobre o conceito de texto. Dependendo da corrente teórica (linguística textual, análise do discurso, semiótica,teoria dos atos de fala, entre outros.), podem-se encontrar conceitos diferentes para texto. Mesmo dentro de uma mesma disciplina, o conceito pode variar de autor para autor. Em “grosso modo”, para a análise do discurso, o texto é o locus em que o discurso, entendido como conjunto de enunciados provenientes de uma mesma formação discursiva, se materializa; para a semiótica, é um objeto de significação formado por um conjunto de elementos estruturados e captado pelos sentidos que estabelece comunicação entre um destinador e um destinatário, podendo manifestar-se em várias formas semióticas (alfabé- ticas, fílmicas, pictóricas etc.), assim os semioticistas falam em texto cinematográfico, texto pictórico entre outros; para os seguidores da teoria dos atos da fala, o texto é visto em sua função pragmática como um ato de fala complexo. (TERRA, 2014). 33UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso A palavra texto provém do latim textus, que, por sua vez, está ligada ao verbo tecere (tecer, fazer tecido, entrançar, entrelaçar), portanto o texto é algo que foi tecido, entrelaçado por meio de palavras. No entanto, o texto; é algo a mais do que a soma das frases que o constituem, já que há lacunas (gaps) deixadas intencionalmente pelo autor; pois, pelo princípio da economia, o produtor do texto não explicita todas as informações, uma vez que pressupõe conhecimentos compartilhados pelo leitor que não precisam ser explicitados. O texto, dessa forma, deve ser visto como um projeto que serve de orientação para a leitura. (TERRA, 2014). A compreensão dos textos vai além da mera decodificação, pois para compreender é preciso inferir. Por trás disso, está a concepção de língua que deve nortear o trabalho do professor e vale dizer, que a língua não deve ser tomada apenas como um código que deve ser compartilhado, mas como uma atividade em que sujeitos interagem dialogicamente. (TERRA, 2014). Como estamos verificando, são muitas as possibilidades de resposta para a per- gunta, porém podemos pensar, por exemplo, que o texto é organizado a partir de uma dupla de lateralidade: a microestrutura (é o conjunto articulado de frases, resultante da conexão dos mecanismos léxico-gramaticais que integram a superfície textual) e a macroestrutura (é a estrutura que se identifica como o significado global do objeto do texto). Assim sendo, vale lembrar que a maior parte das regras gramaticais apresentadas por um idioma para efeito de construção do texto são de conexão, isto é, regras que se aplicam ao conectar um enunciado com outros. (GUIMARÃES, 2009). Agora caro(a) estudante, iremos abordar os tipos textuais - textualidade, que são os vários critérios que já foram propostos a fim de figurar como parâmetros para o traçado de tipologias de textos - o que não se efetiva com facilidade, dada a inevitável confluência de traços de natureza que varia no interior do texto. Levando-se em consideração esse fato, qualquer tipificação só pode ser feita em termos de dominância, já que dificilmente se apresentam tipos textuais puros. Embora haja sempre uma estrutura dominante, ou seja, aquele que representa o esquema fundamental do texto, que não se caracterizará necessariamente como um único tipo ou forma. Uma parte ou outra será caracterizável como descritiva, seguida de outra argumentativa e de outra ainda, narrativa, por exemplo. (GUIMARÃES, 2009). Assim, uma teoria integral do texto haveria de ser tão ampla a ponto de facilitar uma tipologia do texto que, sobre um critério comum de textualidade desse conta da diversidade 34UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso de suas manifestações. As tipologias mais utilizadas na concretização dos gêneros textuais e que contribuem como suporte para sua produção são a narração, a descrição, a injun- ção, a dissertação, a explicação a predição e o dialogal. (KOCHE; BOFF; MARINELLO, 2014). Caro(a) estudante observe, a seguir as caraterísticas de cada uma das tipologias textuais. Quadro 1 - Tipologias textuais. Tipologias textuais Características Narrativa A narração se caracteriza por relatar situações, fatos e aconteci- mentos, reais ou imaginários. O esquema narrativo pode ser divi- dido em: situação inicial ou apresentação; complicação; clímax e desfecho. Normalmente, os acontecimentos narrados seguem uma ordem cronológica. Portanto, na narração há anterioridade e pos- terioridade. Os tempos verbais mais empregados são o pretérito perfeito, o pretérito imperfeito e o pretérito mais-que-perfeito do in- dicativo. Descritiva A descrição, consiste na exposição das propriedades, qualidades e características de objetos, ambientes, ações ou estados. A tipo- logia textual descritiva é construída de forma concreta e estática, sem progressão temporal. A descrição sempre desempenha um determinado papel em um gênero específico: exemplificação, nos gêneros argumentativos; ambientação e apresentação de um per- sonagem, nos gêneros narrativos. Dissertativa A dissertação se baseia em uma tese sobre um assunto específi- co, que possibilita a inclusão de novos dados, direcionados para uma conclusão ou nova tese. Apresenta as razões que devem ser consideradas para aceitar ou não determinada tese. A tipologia dis- sertativa faz uso de operadores argumentativos que possibilitam articular o texto com coerência e coesão. A coerência permite que uma sequência linguística constitua-se em um texto, e não num agrupamento desconexo de frases ou palavras. Por sua vez, a coe- são é responsável pela interdependência interna do texto, ligando seus elementos. Injuntiva A tipologia textual injuntiva está presente em gêneros como as re- ceitas, os manuais e as instruções de uso e montagem, os textos de orientação (leis de trânsito) e os textos doutrinários. Explicativa A organização do texto explicativo nasce da pergunta que se põe a um determinado problema. Essa tipologia apresenta um significa- tivo emprego de adjetivos, advérbios, operadores argumentativos, repetições, modalizadores e comparações. 35UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Preditiva A predição é uma antecipação de situações cuja realização será posterior ao tempo da enunciação. Essa tipologia está presente nas profecias, nas previsões científicas (mudanças climáticas, aqueci- mento global), nos boletins meteorológicos, nos horóscopos, nas previsões em geral, nos prenúncios de eventos, comportamentos e situações. Dialogal A tipologia textual dialogal acontece em gêneros nos quais apare- çam no mínimo dois interlocutores que efetuam trocas verbais. Os interlocutores cooperam na produção do texto, uma vez que este se constrói através da interação verbal, em que um enunciado deter- mina o enunciado do outro. Fonte: Elaborado com base em Koche; Boff e Marinello (2014, p. 19 - 28). Em resumo, a tipologia textual: constitui uma sequência definida pela natureza linguística predominante em sua composição; narrativa: relata situações, fatos, aconteci- mentos, reais ou imaginários; descritiva: apresenta propriedades, qualidades, característi- cas de objetos, ambientes, ações ou estados; dissertativa: constrói uma opinião de forma progressiva, utilizando uma argumentação coerente e consistente; injuntiva: objetiva incitar à realização de uma situação; explicativa: faz compreender um problema da ordem do saber, a partir da investigação de uma evidência; preditiva: é uma descrição, narração ou dissertação futura em que o enunciador antecipa situações cuja realização será posterior ao tempo da enunciação; dialogal: concretiza-se nos discursos interativos dialogados. (KO- CHE; BOFF; MARINELLO, 2014). Caro (a) estudante, Com intuito de avançarmos em nossos estudos, vamos agora nos debruçar sobre os pressupostos teóricos bakhtinianos, que discorrem sobre análise dialógica da linguagem. No Brasil, os estudos bakhtinianos surgiram a partirda década de oitenta, configurando um marco nos estudos linguísticos, em especial no campo da Lin- guística Aplicada-LA, pois defendem as relações discursivas entre sujeitos historicamente organizados. O homem vive em sociedade, é considerado como sujeito sócio-histórico. Assim ele não pode efetivar o ato de fala sem considerar o momento histórico e social que está inserido, porque é a partir da determinação do social que o individual se configura no pro- cesso de comunicação, realizando o dialogismos entre interlocutores. Infere-se então que, língua, linguagem, história e sujeitos são indissociáveis. A língua é dialógica por natureza e o enunciado, materializado na forma de texto, é o elo na interação entre sujeito e sociedade. (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1992). 36UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso A partir da concepção dialógica da linguagem todo dizer é, anteriormente construído por outros dizeres, nossas palavras são concebidas a partir da palavra do outro. Assim os enunciados se organizam a partir de outros já proferidos (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1992). O enunciado como fruto da interação social, pois as palavras são definidas por meio de intenções comunicativas, as quais são desenvolvidas em dada época e socie- dade marcada. Além disso, são inerente à linguagem. É a unidade real da comunicação discursiva, particular, única e individual. Assim, o uso da língua materializa-se em forma de enunciados. Nesse sentido, eles são considerados como discursos-interacionistas, que nascem do diálogo. O diálogo é definido pelo teórico como toda comunicação verbal em sentido vasto. (BAKHTIN,2010) Acrescenta-se a isso a definição dos gêneros discursivos como enunciados concre- tos, relativamente estáveis, uma vez, que são constituídos no campo social e modificam-se, tomam formas e adaptam-se de acordo com as mudanças e os campos sociais onde estão inseridos. Esses campos são os ambientes onde há comunicação entre indivíduos acon- tece tais como: campo religioso, escolar, jurídico, científico, familiar, etc. Conforme elucida o teórico “Cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2003, p. 277). Por serem constituídos em diversos campos e contextos diferenciados, possuem especificidades e intenções comunicativas que refletem a finalidade e condição de produ- ção específica para cada situação comunicativa. Por isso, os gêneros do discurso (orais e escritos), segundo sua heterogeneidade, são classificados como primários e secundários. Os primários decorrem de uma situação cotidiana informal, como por exemplo, bate-papo entre colegas, família, etc. Já os secundá- rios, muitas vezes advém dos primários, no entanto, são forma mais complexas, tais como escrita de produção científica (BAKHTIN, 2003). Além dessas acepções, o mesmo autor divide os elementos constitutivos dos gêne- ros em: conteúdo temático, forma composicional e estilo. Dessa forma, é importante compreender que, ao analisar um texto sob o aspecto de gênero discursivo bakhtiniano, devemos considerar sua classificação, mas também, analisar sua finalidade ou função social e os elementos constitutivos do gênero, pois todo discurso é determinado pelo contexto social e função comunicativa. 37UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Agora caro(a) estudante vamos conhecer os elementos da textualidade. A textualidade é como um modo de processamento e não como um conjunto de propriedades inerentes ao texto reduzido a sua dimensão de produto. Ao compreender o texto como unidade de análise, buscamos estabelecer as relações dos modos de funciona- mento textuais com as formações discursivas nas quais se enquadram. Nessas relações, não se pode negar que à frase no texto, ou da frase ao texto, evidenciam-se nas relações sintáticas. O funcionamento do sistema sintático impõe padrões organizadores à superfície textual, isto é, modela a organização patente das palavras. (GUIMARÃES, 2009). As normas de textualidade mais óbvias são a coesão, que se manifesta na super- fície textual, e a coerência que subjaz no interior do texto. A coesão e a coerência caracte- rizam o texto bem-arquitetado como produtos de uma atividade cultural intencionada e que, portanto, representam-se como propriedades inerentes à intencionalidade articulada com a aceitabilidade. (GUIMARÃES, 2009). O produtor e o receptor do texto compòem a dupla ligada a uma concepção inter- subjetiva da intenção do texto. Quando alguém produz um texto, tem por objetivo despertar o interesse daquele que o lê ou ouve, ou seja, guia-se por uma dada intencionalidade. O receptor - ouvinte ou leitor -, por sua vez, condiciona sua aceitabilidade, ou seja, a atividade de construção do sentido do texto, dados recursos oferecidos pelo texto, que atinjam os objetivos de comunicação desejados; entre esses recursos, situam-se, em primeiro plano, a coesão e a coerência que resultam da maneira como se interagem e adquirem sentido dos elementos que compòem um texto. São, por consequência, traços constitutivos da própria definição de texto. Caro (a) estudante, aprofundando nossos estudos, vamos abordar, na sequência, o tema “Responsividade”, conforme a teoria Bakhtiniana, pois nessa perspectiva, o caráter central da interação é a resposta/sentido, pois toda enunciação procede de alguém e se destina à alguém. (BAKHTIN, 2003). Assim, o sentido e/ou tema são construídos a partir da reação ativa/responsiva e estabelece a interação entre interlocutores. Dessa forma, toda interação é dialógica naturalmente, ou seja, o locutor sempre termina seu enunciado para dar voz ao outro, com intuito de obter compreensão responsiva. Para o referido teórico esse processo configura-se como alternância entre inter- locutores. Nesse sentido, o locutor enuncia em função de um interlocutor real ou virtual e portanto, espera dele uma atitude responsiva, seja ela de concordância ou discordância. 38UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Assim, para haver a responsividade é necessário anteriormente que haja uma compreen- são do enunciado por parte do interlocutor. Por isso, o sentido é construído na interação entre indivíduos, ele não está apenas na palavra ou no interlocutor, ele é o efeito produzido na interação entre locutor e receptor organizados em dada época e sociedade marcada. Nesse sentido, caro(a) estudante vamos apresentar, três as situações responsivas e as distingue da seguinte forma: a responsiva imediata, a passiva e a silenciosa. Quadro 2 - Responsividade Atitudes Descrição Responsiva imediata Considerada como ativa, pois o interlocutor compreende o enunciado e imediatamente atende ao comando do locutor, retornando uma atitude responsiva ativa, seja em forma ver- bal ou gestual. Mas é importante salientar, que não significa que a responsividade acontecerá no mesmo momento, pois pode haver distância temporal, determinada pelo contexto do enunciado. Responsividade passiva Ela se revela no interlocutor ao atender a uma ordem ou quando ele cumpre determinado pedido do locutor. Sendo assim, podemos inferir que o interlocutor compreendeu o enunciado. Em síntese essa atitude demonstra uma relação de autoritarismo do locutor para o interlocutor. Responsiva silenciosa Ela se configura quando interlocutor não apresenta um ati- tude imediata ao locutor, porém não é considerada passiva, pois esse interlocutor pode devolver a resposta tardiamente ao seu locutor. Por isso, é considerada como compreensão responsiva ativa de efeito retardado. O interlocutor refletiu e refratou uma atitude responsiva atitudinal ou de maneira verbal, em momentos e contextos diferentes do tempo enun- ciativo. Fonte: Elaborado com base em Bakhtin (2003). Através dessas acepções, portanto, entendemos que a responsividade é a particula-ridade primordial do dialogismo, pois permite que a interação aconteça entre interlocutores, efetivando a comunicação, uma vez que, o enunciado elaborado pelo autor/falante sempre será em função de um leitor/ouvinte. 39UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso 3 A LEITURA DO TEXTO E A LEITURA DO MUNDO Caro(a) estudante, para o nosso último tópico da segunda unidade, vamos conhe- cer a importância da leitura do texto e da leitura do mundo. Iniciamos com a citação de Proença Filho (2017) do seu livro intitulado “Leitura do texto, leitura do mundo”, no qual o autor afirma que a cultura é um processo, e não uma consequência e, por meio da leitura de textos, somos capazes de ler e ressignificar o mundo. Caro(a) estudante você sabia que a leitura de mundo começa antes mesmo de a criança entrar na escola? Pois somos ensinados a entender e interpretar o que está ao nosso redor. (FREIRE, 2005). Assim, para darmos continuarmos o nosso estudo, lanço outra pergunta, você sabe o que é conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo? Refere-se a conhecimentos gerais sobre o mundo - uma espécie de thesaurus mental - bem como conhecimentos alusivos a vivências pessoais e eventos espácio-tempo- ralmente situados, permitindo a produção de sentidos. Vejamos os textos a seguir: 40UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Texto 1 Fonte: Folha de S. Paulo, 5 set. 2005. Se não levarmos em conta nosso conhecimentos de mundo, como, então com- preender o enunciado: seis, de preferência? Para a compreensão do texto, é preciso saber que o Brasil foi classificado para a Copa do Mundo de Futebol em 2006, a ser realizada na Alemanha, e o esperado por todos nós, torcedores brasileiros, é que o país seja campeão e, dessa forma, seja o único a obter o título de hexacampeão mundial. Ainda sobre o conhecimento enciclopédico, vejamos nos textos a seguir, que esse conhecimento é essencial para a produção de sentido. Caso contrário, como relacionar, no texto 2, o enunciado como os personagens de tirinhas fazem a barba com líquido corretor? Ou ainda como relacionar, no texto 3, os enunciados: quebrou, pagou com leu (usando leitura dinâmica), pagou? Como vemos, é preciso em um e outro caso ativar conhecimentos das coisas do mundo para produzir sentido a partir do linguístico materialmente constituído. Texto 2 Fonte: O Estado de S. Paulo, 16 set. 2004. 41UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Na leitura do texto, entendemos o enunciado como os personagens de tirinhas fazem a barba, quando levamos em conta que: ● os personagens de tirinhas são criações resultantes do trabalho do autor; ● esse trabalho, geralmente, é publicado em jornais ou revistas; ● o líquido corretor é um produto utilizado para correção da produção em papel; ● os homens, no mundo real, usam aparelho de barbear para fazer a barba e, assim, alterar (“corrigir”) seu visual; ● os personagens, seres do mundo ficcional criados em papel também podem alterar (corrigir) seu visual, porém, para tanto, recorrem a outro instrumento: o líquido corretor. Assim, a compreensão do texto ocorre, de modo satisfatório, quando o leitor ativa esses conhecimentos na sua interação com o texto, o autor. Texto 3 Fonte: O Estado de S. Paulo, 6 set. 2004. De quais conhecimentos de mundo necessitamos para entender a tirinha anterior? Bom, é preciso considerar, quanto ao primeiro enunciado, que, geralmente, em lojas de arti- gos finos ou em feiras de antiguidades, nos deparamos com o enunciado: Favor não tocar. O enunciado do texto: Quebrou, pagou seria uma versão não polida daquele enunciado que poderia ser mais ou menos assim traduzido: “é bom não tocar nos objetos, porque, se o fizer e quebrar algo, terá de pagar”. Quanto ao enunciado 2 Leu (usando leitura dinâmica), pagou, nos chama a atenção: ● o paralelismo sintático construído em relação ao enunciado 1: Quebrou, pagou; Leu ..., pagou; ● a informação entre parênteses usando leitura dinâmica. 42UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Segundo nosso conhecimento de mundo, sabemos que leitura dinâmica é um mé- todo caracterizado por técnicas que propiciam uma leitura com muita rapidez. Também pelo nosso conhecimento de mundo, sabemos que sempre há quem recorra a esse método para justificar “uma olhadinha”(e claro, sem pagar) em livros, revistas e jornais expostos em ban- cas de jornais, livrarias ou lugares afins. Pois bem, no caso do enunciado 2, a pressuposta desculpa dada por leitores - que funciona como justificativa para “ler sem pagar” - é usada na tirinha como justificativa para pagamento. Como vemos, se os leitores não ativarem esses conhecimentos de mundo, a compreensão do texto estará comprometida. A leitura do mundo precede a leitura da palavra (FREIRE, 2005), sendo posterior a leitura, que não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Vamos agora explorar um pouco caro(a) estudante a relação texto/contexto … É pacífico que o princípio do conhecimento que considera a impossibilidade de uma noção plena de texto, não se aceita enquadrá-lo numa perspectiva contextual. Não se pode descrever uma mensagem sem levar em conta o contexto em que se insere e os efeitos que se pretende obter. (GUIMARÃES, 2009). Se, por exemplo, nos passam um comunicado sem sabermos de quem procede - “amanhã, iremos ao cinema” -, saberíamos o significado da frase, mas não entenderíamos o sentido da mensagem. Deve-se esse fato à falta de contextualização do enunciado. “Todo texto está, pois, ligado ao contexto, seu sentido organizando-se não só no jogo interno de dependências estruturais, mas ainda nas relações com aquilo que está fora dele”. (GUIMA- RÃES, 2009, p. 77). O conhecimento do contexto real da situação social, que tem lugar a comunicação é um fator importante na determinação dos efeitos do discurso - do que decorre a importância da análise do contexto comunicativo de possíveis tipos de discurso. Os tipos de discurso, dentro de um contexto particular, variam segundo as circunstâncias particulares, como por exemplo, as metas dos participantes, ou de um contexto a outro - variações, por exemplo, de temas, de esquemas, de estilo. (GUIMARÃES, 2009). Os tipos de contexto podem ser classificados como públicos ou privados, for- mais ou informais, institucionais ou não institucionais, fechados ou abertos, entre outros. 43UNIDADE II Leitura, Texto e Discurso Os diferentes contexto sociais caracterizados assim de forma global são, por sua vez, definidos pelas seguintes categorias (GUIMARÃES, 2009, p. 77): ● posições (por exemplo, papéis, status dos falantes); ● propriedades (por exemplo, sexo, idade); ● relações (por exemplo, dominação, autoridade); ● funções (por exemplo, família, colega). O suposto básico é que qualquer texto pode ser considerado um constituinte de um contexto de situação. Logo, texto e contexto são complementares: um pressupõe o outro. Os textos produzidos em determinadas situações criam os contextos e os remodelam. Assim, a concepção do discurso como um todo, como texto contextualizado, efetiva uma sinonímia entre enunciação e contexto, de um lado, e entre enunciado e texto de outro. Essa sinonímia remete-nos à consideração desses outros dois conceitos - contexto e texto -, cujo uso é privilegiado por quem adota uma perspectiva pragmática ante o problema da enunciação. (GUIMARÃES, 2009, p. 78). Para tanto, caro(a) estudante, constata-se, que as relações entre texto e contexto estendem-se em ambas as direções: por um lado certos traços textuais podem expressar ou constituir aspectos do contexto; por outro lado, a estrutura do contexto determina, até um certo grau, de que traços devem dispor os textos para serem aceitos - como enunciados - no contexto. Agora caro(a) estudante,
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