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Livro_Campos e Florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás

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• Museu Paraense Emilio Goeicli 
Coleção Adolpho Ducke 
Campos e Florestas 
das bacias dos rios Atuá e Anajás 
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Dário Dantas do Amaral • Ima Célia Guimarães Vieira • Rafael de Paiva Salomão 
Samuel Soares de Almeida • João Batista F. da Silva • Salustiano Vilar Costa Neto 
João Ubiratan Moreira dos Santos • Léa Maria Medeiros Carreira 
Maria de Nazaré do Carmo Bastos 
• Museu Paraense Emílio Goeldi ...................... - 	 Lo!eçao Adoii)ho I)ucke 
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Campos e Florestas 4 das bacias dos rios Atua e Anajas 
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1 
Esta publicação é parte dos estudos 
desenvolvidos pelo Museu Paraense Emílio 
Goeldi relativos ao diagnóstico do impacto 
ambiental da Hidrovia do Márajó, realizado 
em 1998. A hidrovia, projetada para facilitar 
a navegação entre Belém e Maca pá, 
encurtaria o percurso através da conexão 
entre os rios Atuá eAnajás, a partir da-
drenagem de um canal de 32 quilômetros. 
O foco principal é a caracterização das 
paisagens vegetais dominadas por campos 
naturais e florestas inundadas e de terra 
firme. São catalogadas um universo de 547 
espécies de plantas, com registro do nome 
científico, nome popular, formas 4e vida e 
locais de ocorrência. Constam, ainda, 
informações sobre o uso destas plantas, as 
espécies ameaçadas de extinção, bem como 
aquelas de destaque em ocorrência 
geográfica. Até então, os dados constavam 
de relatórios institucionais e agora se 
tornam públicos com este livro. 
Dirio Dantas do Amaral • ima Célia Guimarães Vieira • Rafael de Paiva Salomão 
Samuel Soares de Almeida • João Batista F. da Silva • Salustiano Vilar Costa Neto 
João Ubiraiaii Moreira dos Santos • Léa Maria Medeiros Carreira 
Maria de Nazaré cio Carmo Bastos 
Campos e Florestas 
das bacias dos rios Atuá e Anajás 
ilha do Marajó, Pará 
GOVERNO DO BRASIL 
Presidente da República 
Luiz Inácio Lula da Silva 
Ministro da Ciência e Tecnologia 
Sérgio Machado Rezende 
MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI 
Diretora 
Ima Célia Guimarães Vieira 
Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação 
Nilson Gabas Júnior 
Coordenador de Comunicação e Extensão 
Nelson Sarsjad 
COMISSÃO DE EDITORAÇÃO 
Presidente 
Nilson Gabas Júnior 
Editores Associados 
Mário A. C. Jardim (Botânica) 
Maria Emília da C. Sales (Ciências da Terra) 
Ulisses Galatti (Zoologia) 
Lourdes Gonçalves Furtado (Antropologia) 
Elisângela Regina de Oliveira (Arqueologia) 
Ana Vilacy Gaiúcio (Lingüística) 
Editora Chefe 
Iraneide Silva 
Editora Assistente 
Angela Botelho 
Designer 
Andréa Pinheiro 
Estagiárias 
Karla Barros 
Deborah Marques 
Normalização Bibliográfica 
Ana Maria Oliveira (CID/MPEG) 
Ficha Catalográfica 
Astrogilda Ribeiro (CID/MPEG) 
Foto da Capa 
D. K. Bhaskar 
Museu Paraense Emílio Goeldi 
Coleção Adolpho Ducke 
Campos e Florestas 
das bacias dos rios Atuá e Anajás 
ilha do Marajó, Pará 
Drio Dantas do Amaral • Ima Célia Guimarães Vieira 
Rafael de Paiva Salomão • Samuel Soares de Almeida 
João Batista Fernandes da Silva • Salustiano Vilar Costa Neto 
João Ubiratan Moreira dos Santos • Léa Maria Medeiros Carreira 
Maria de Nazaré do Carmo Bastos 
Belém, 2007 
MUSBU FAB.AWSOBMIUOGOELDI 
Editora do Museu Paraense Emílio Goeldi 
Av. Magalhães Barata, 376 - São Braz 
CEP 66040-170 - Belém, Fará, Brasil 
Fone/fax: 55-91-3219-3317 
editora@ museu -goeldi.br 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do 
Marajó, Pará/ Dário ]Jantas do Amaral. et ai. - Belém: Museu 
Paraense Emílio Goeldi, 2007. 
110 p.: il. (Coleção Adolpho Ducke). 
ISBN 978-85-7098-143-1 
1. Floresta tropical - Ilha Marajó (PA) 2. Vegetação (Bacias Rio 
Atuá e Anajás, Ilha Marajó - Pará) 3. Floresta aluvial não 
inundável 4. Floresta inundável 5. Floresta Inundável mista. 6 
Floresta várzea. I. Amaral, Dário Dantas et al. II. Série 
CDD 577.309811 
© Direitos de cópia para/Copyright by Museu Paraense Emílio Goeldi 
Apresentação 
Escrever esta apresentação sobre o livro Campos e florestas das bacias dos rios 
Atuá eAnaja's, ilha do Marajó, Pará transportou-me à atmosfera de minha infância, 
vivida entre os campos de Cachoeira do Arari, onde meu pai era juiz, e os 
campos e florestas de Muaná, onde a família adquiriu fazenda para criação de 
búfalos. Vivenciei, neste período, uma rica experiência lúdica com sementes e 
folhas de espécies nativas, que se transformavam em "bois" e "patos" e 
animavam as brincadeiras de minha infância. 
O reconhecimento do valor das plantas com as quais brincava, e do que representa 
a flora nativa dos campos e florestas do Marajó, veio como estagiária da Embrapa-
CPATU, no início dos anos 80, quando participei de expedições de coleta de 
germoplasma de gramíneas e leguminosas nativas da parte leste da ilha. Fiquei 
impressionada com tanta diversidade de ambientes e riqueza de espécies 
encontradas durante os dois meses de expedição! 
Mesmo sendo uma das regiões mais visitadas por 
pesquisadores, estudantes e professores para fins educativos 
e científicos, a flora dos ambientes do arquipélago do Marajó 
é surpreendentemente pouco conhecida e estudada, embora 
desde os idos de 1896, Jaques Huber, botânico suíço e um dos 
diretores do Museu Paraense Emílio Goeldi, tenha 
realizado o primeiro e mais abrangente estudo 
florístico da ilha do Marajó. Seguiram-se vários 
outros estudos e levantamentos, mas somente em 
1954 é que os naturalistas A. Ducke e G. BlaclK 
apresentam uma caracterização dos 
ambientes de campos e florestas 	. 
e as espécies típicas destes 	 . 
ambientes. Também constataram que a área é pobre em endemismos, como se 
espera de áreas com formação geológica recente como o Marajó. 
Em 1998, o Museu Paraense Emílio Goeldi foi chamado a participar de alguns 
estudos biológicos que subsidiariam o relatório de impacto ambiental da Hidrovia 
cio Marajó, que precisaria dragar 32 quilômetros do canal destinado a perenizar a 
interligação das bacias dos rios Atuá e Anaj ás, na parte central da ilha do Marajó. 
Foi então realizado o mais intenso levantamento em uma região de 32 km de 
extensão na parte central desta grande ilha, por um grupo de mais de dez 
pesquisadores e técnicos do Museu Goeldi. Os resultados deste trabalho, até agora 
guardados em relatórios institucionais, são colocados a público por meio desta 
publicação, que além de muito informativa, é altamente didática e ilustrativa. 
Servirá, com certeza, a todos que querem aprofundar seus estudos sobre a história 
natural desta ilha fluvial e que buscam, através do conhecimento científico, 
estabelecer os limites para a exploração e uso dos recursos naturais. 
Ima Célia Guimarães Vieira 
Diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi 
Prefácio 
O rigoroso inverno maraj orara já se pronunciava naquele janeiro de 1998. Era o 
início das cheias no arquipélago. "A ditadura da água", diria o saudoso padre 
Giovanni Gailo. Já havíamos percorrido, nos últimos dias, mais de 25 km dentro 
da imensidão de florestas alagadas e campos, e ainda restava uma boa caminhada 
até às margens do igarapé São Miguel, na bacia do rio Atuá, onde concluiríamos 
nossa expedição. 
Tínhamos que agilizar os serviços, pois a trilha estava sendo rapidamente inundada 
pelas águas dos diversos igarapés que drenam aquela região. Após um dia de intensa 
jornada de trabalho, inventariando várzeas, igapós e florestas aluviais, encantados 
com a pujante flora, onde sobressaem vistosas palmeiras como inajás, bacabas, 
paxiúbas e buritis, ervas das mais variadas cores e aromas, como orquídeas, helicônias 
e bromélias e ainda as exuberantes árvores, dentre elas virolas, acapús, maçarandubas 
e ipês, montamos acampamento na "boca cia noite", próximo de um baixio onde 
corria um igarapé de águas cristalinas. Exaustos, com os pés "apinhados" de espinhos 
de muru-muru, ainda houve tempo de acender uma fogueira para prepararum café 
e tentar dormir, embora, porém, houvéssemos esquecido de combinar com os 
carapanãs, piuns e carrapatos, legítimos moradores do local. 
A noite já se fazia grande quando fomos surpreendidos no meio do sono por uma 
intensa tempestade que desabava sobre a floresta e ameaçava a estrutura do 
acampamento, feita de esteios de maravuvuia, coberto com encerado de plástico 
preto. Além da desagradável sensação das redes e lençóis molhados, temíamos 
pela comida, roupas secas e materiais de trabalho. Neste hiato de perplexão e 
angústia surgiu uma alma corajosa e prestativa, nosso colega, auxiliar de campo, 
Ferclinando, que numa ação ágil saltou da rede e embrenhou-se na escuridão da 
floresta, com um facão na mão, trazendo reforços de esteios que sustentariam o 
acampamento e garantiriam o resto da noite de sono. 
E assim transcorreram os dias naquele mundo de água e verde, até que avistamos, 
num final de tarde, o barrento igarapé São Miguel, um córrego de pouco mais de 
5m de largura, que nos levaria de volta para casa, findava aí a missão. 
A agradável sensação de "dever cumprido", ao sobrevoar o lugar no retorno, era 
compartilhada com uma certa consternação em saber que em breve toda aquela 
diversidade de ambientes e vidas (posteriormente confirmou-se novas ocorrências 
- bromélias e helicônias - para a Amazônia) que acabávamos de catalogar iriam 
desaparecer, sucumbindo ao projeto da hidrovia. 
Hoje, após quase uma década, por um sopro do destino é provável que a região 
inda mantenha-se preservada como naquele inverno, visto que a hidrovia não foi 
concretizada. Disto, resta uma certeza: qualquer iniciativa que implique em 
impacto ambiental para essa região deve ser bem planejada e debatida com a 
sociedade, visto tratar-se de um ambiente de extrema relevância biológica, 
correspondendo à transição entre as florestas, que ocupam as terras altas ao norte, 
e os campos naturais, na porção sul do arquipélago do Marajó. 
Dário Dantas do Amaral 
Marajó da vaqueirada, 
da carne de sol, do surrão 
dos rebanhos, das manadas, 
das riquezas do patrão. 
Marajó da farinhada, 
da mandioca em paneiro 
do caçador de espingarda 
atrás do boi marrequeiro. 
Marajó do açaí, 
em cuja pitinga pintada, 
do fumo do taquari, 
da sucuri encantada. 
Marajó das ladainhas, 
do folião violeiro, 
das chulas, toadas, modinhas, 
do urutau agoureiro. 
Marajó do boiadeiro 
que doma o cavalo no espaço, 
parece ter dom feiticeiro 
no firme jogo do laço. 
Marajó da jiribana 
que amarra o boi ao mourão, 
da pinga no caldo de cana, 
dos rodeios, do ferrão. 
Marajó do mutirão 
da "fechação da boiada" 
da "ferra", "assinalação" 
do grito da vaqueirada. 
Marajó da muriçoca, 
das fogueiras no terreiro, 
do beiju de tapioca 
merenda do fazendeiro. 
Marajó do "curuné" 
que domina a região, 
tem mais poder que o pajé, 
na Casa-Grande é patrão. 
Marajó índio guerreiro 
que em mim causa mormaço 
e eu filha de fazendeiro 
te amo, te beijo, te abraço. 
Marajó das caiçaras, 
dos embarques, das marés, 
dos cerrados, das coivaras, 	 Sylvia Helena Tocantins 
da pesca dos jacarés. 	 Escritora e membro da Academia Paraense de Letras 
Esta poesia recebeu a Menção Honrosa no V Concurso Nacional de Poesias e Crônicas (São Paulo, 1988) 
s uiiiãrio 
Apresentação 
Prefácio 
raado 	 ...................................................... 15 
Áreade 	estudo 	........................................................... .............................................................. 19 
Amostragemda 	vegetação 	.................................................................................................. 23 
Registro 	de 	dados 	e 	análises 	efetuadas........................................................................... 23 
Horística geral 29 
Tiposde 	vegetação. ................................................................................................................ 34 
FLORESTASPLUVIAIS 	.............................................................................................................. 34 
Floresta aluvial não inunda'vel (Terra Firme) 	.................................................................... 34 
Floresta aluvial inundãvel mista com palmeiras................................................................ 37 
Floresta 	aluvial 	inund4vel 	................................................................................................. 41 
Florestade 	várzea 	.............................................................................................................. 42 
Florestasecundária 	............................................................................................................ 46 
CAMPOS NATURAIS OU SAVANAS ÚMIDAS .................................................................................. 49 
Campomisto 	...................................................................................................................... 50 
Campolimpo...................................................................................................................... 54 
Similaridadeflorística ........................................................................................................... 59 
Espécies 	úteis 	e 	de 	valor 	econômico 	...................................................................... 60 
Espécies ameaçadas de extinção ............................. 64 
Espéciesde 	relevância 	florística 	........................................................................................... 67 
Conservação e uso sustentável dos recursos naturais no 	Marajó 	..................... 68 
Referência:. 83. 
Anexos ................................................................................................................ 86 
Agradec1meuLu........................................................................................................................... 110 
Osautores 	.......................................................................................................................... 111 
Campos e Florestas 
das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do Marajó, Pará 
O estudo realizado 
O Arquipélago do Marajó é um complexo flúvio-marinho composto por dezenas 
de ilhas localizadas na porção do litoral amazônico conhecida como golfão 
marajoara, o qual é constituído pela foz do rio Amazonas, numerosas ilhas e 
canais que formam a região denominada de Furo de Breves e a baía do Marajó, 
onde deságua o rio Tocantins. 
Esse complexo de ilhas é uma unidade geomorfológica de terras baixas, formada 
a partir da deposição de sedimentos holocênicos recentes (quaternário superior, 
aproximadamente 10 mil anos). Entretanto, existem alguns núcleos mais antigos, 
caracterizados como Formação Barreiras (terciário). 
A maior ilha do arquipélago é a do Marajó, com 48.000 km2, enquanto o arquipélago 
totaliza cerca de 62.000 km2. Além da ilha de Marajó, as mais habitadas são as ilhas 
de Mexiana, Caviana, dos Porcos, Mututi e Uituquara. 
Estudos recentes de interação entre dados geológicos e biológicos que remontam 
a história do Marajó (ROSSETI, 2006) levantam evidências de que a região se 
separou do continente num tempo geologicamente bastante recente, 
provavelmente já no Holoceno, ou seja, nos últimos 10 mil anos. Antes deste 
período, o rio Tocantins cortava toda a região no sentido norte em direção ao 
oceano, até que falhas tectônicas desviaram seu curso para o nordeste. Este 
processo foi seguido pela criação do rio Pará, no sul da ilha, refletindo sistemas 
de falhas com direção principal E-V o que culminou com a total separação da 
ilha do Marajó do continente. 
AdriCinthya
Highlight
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja' s, ilha do Marajó, Pará 
Estas investigações sugerem, ainda, que até o início do Holoceno a região era 
dominada por savanas, favorecidas pelo clima seco de uma época de glaciação. A 
principal evidência para tal, são alguns fósseis encontrados em regiões centrais da 
Amazônia, representantes deuma megafauna típica destas áreas, como preguiças-
gigantes e mastodontes. Com o fim da era glacial, o clima mais úmido estimulou 
a expansão das florestas que hoje cobrem grande parte da região (Jornal da Ciência, 
30/01/2006 - www.jornaldaciencia.org.br). 
O arquipélago do Marajó apresenta um conjunto vegetacional singular na 
Amazônia, onde predominam os campos naturais, florestas de terra firme e as 
florestas úmidas, susceptíveis à inundação que acontece anualmente durante o 
inverno chuvoso da região. A região constitui uma província fitogeográfica à parte 
nos estudos que tratam da classificação das formações vegetais da Amazônia, como 
aqueles de Pires (1973), Pires e Prance (1985) e Ducke (1954). Além dos compêndios 
do Raclambrasil (1974), foram feitas outras tentativas de mapear e classificar a 
vegetação do arquipélago do Marajó (DIAS, 1973; DIAS; LOBATO, 1982), além 
de obras pioneiras como Huber (1900), Miranda (1909), dentre outras. 
Pires (1955) produziu ainda algumas informações sobre os tipos de vegetação do 
Marajó, suas extensões e composição florística. No entanto, grande parte do 
conhecimento florístico e vegetacional sobre este vasto têrritório está disperso e 
fragmentado, havendo deficiência na descrição e caracterização de algumas sub 
tipologias específicas e mais restritas. 
Conforme estes estudos, os campos do Marajó apresentam diferentes feições de 
acordo com a posição topográfica e a influência da rede de drenagem fluvial. Além 
dos campos úmidos limpos, com predominância do elemento herbáceo, existem 
os campos mistos com "mondrongos", correspondendo a pequenas oscilações na 
micro topografia que favorecem o estabelecimento do estrato arbustivo-arbóreo. 
Existem ainda os campos com ilhas de mata e capões, de tamanhos e formas 
16 
AdriCinthya
Highlight
AdriCinthya
Highlight
AdriCinthya
Highlight
NomE CIENTÍFICO: Pouteria cladantlia Sandwith 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Sapotaceae 
Notas POPULARES: abiu 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Arvore de grande porte, podendo chegar a 40m de altura. 
Geralmente ocorre com até dois indivíduos (diâmetro a 1,30m do solo ~ 10 cm) por hectare. Família 
botânica abundante nas florestas tropicais, caracterizada pela intensa exsudação, por vezes de 
tonalidade branca ou amarelada. Distribuição conhecida por toda a Amazônia, inclusive extra-
brasileira (Bolívia, Colômbia e Equador). 
Foto: Dário Amaral. 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do Marajó, Pará 
variados. Essas ilhas geralmente se desenvolvem nos "tesos", zonas de topografia 
mais elevada, onde geralmente os efeitos da inundação não se fazem sentir. 
As florestas são predominantemente do tipo pluviais ou ombrófilas e 
perenifolias. Apresentam um espectro que varia desde as florestas aluviais de 
terra firme, com pouca influência de inundação, até aquelas dos terrenos baixos, 
inundadas permanentemente, como os igapás, ou periodicamente, no caso 
das várzeas. 
Este livro foi elaborado com a finalidade de descrever as fitofisionomias e apresentar 
a flora das bacias dos rios Anajás eAtuá, que drenam a região central do Arquipélago 
do Marajá, no estado do Pará. Esta região do Marajá é de extrema relevância 
biológica, visto que corresponde à área de transição entre as florestas, que ocupam 
as terras altas ao norte e os campos naturais, na porção sul do arquipélago. 
A área de estudo 
Os estudos foram realizados no interflúvio dos rios Atuá e Anajás, num trecho 
previamente demarcado de 32 km de extensão (linha reta), referente ao canal 
projetado para viabilizar parte da Hidrovia do Marajá5, no oeste do arquipélago 
do Marajá, correspondendo aos municípios de Muaná e Anajás. Considerando a 
extensão do canal (32 km) e a área de influência (50 m de cada margem) estudada, 
inventariou-se uma área equivalente a 320 ha, entre as coordenadas geográficas de 
1'10'a 1°23' de latitude sul e 49°38' a 49064' de longitude oeste (Figura 1). 
O projeto da hidrovia do Marajó consiste basicamente na implantação de uma via navegável que cruze 
a ilha de Marajó, da baía do Marajó ao braço sul do rio Amazonas, propiciando uma ligação mais direta 
entre Belém e Macapá, e facilitando o transporte e a comunicação na parte central da ilha. Para isto, o 
projeto prevê a interligação, por um canal de 32 km, dos rios Atuá e Anajás (www.ahimor.gov.br/marajo/ 
index.htm). O Museu Paraense Emílio Coeldi participou dos estudos ambientais, cujo relatório do 
componente vegetação deu origem a este livro. 
E.- 
AdriCinthya
Highlight
AdriCinthya
Highlight
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Para 
Figura 1. Localização da área de estudo. Em primeiro plano, apresenta-se a vista geral do arquipélago 
do Marajó e, em segundo plano, uma aproximação do trecho de vegetação investigado, entre os rios 
Atuá eAnajás (elaboração: Marcelo Thales/UAS-MPEG). 
20 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Nota CIENTlFICO: Byrsonima verbascifolia (L.) DG, 
FAMOJA BOTÂNICA: Mapighiaceae 
Noas POPULARES: orelha-de-burro 
CARACTERISTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Erva de aproximadamente 50cm de altura, com folhas 
enrugadas e lanceoladas que se assemelham ao órgão auditivo do referido animal. Ocupam os campos 
do Marajó, associadas aos terrenos arenosos. Embora do mesmo gênero do murucí, os frutos não 
são comestíveis. Seu caule diminuto e lenhoso é subterrâneo, estando adaptado para rebrotar após 
a queima desse ambiente. Ocorrem na Amazônia, nos cerrados do Brasil Central e vários outros 
países da América do Sul. 
22 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Os tipos de vegetação predominantes são os campos limpos e mistos (Figura 2), 
florestas aluviais de terra firme (Figura 3), florestas inundáveis mistas com 
palmeiras, florestas de várzea e florestas secundárias (capoeiras). 
O clima desta parte central do Marajó é do tipo Af segundo a classificação de IKõppen, 
com temperatura média anual em torno de 26C, umidade relativa do ar de 86% e 
precipitação pluviométrica anual de aproximadamente 2.700 mm. O período de 
inundação fica compreendido entre os meses de janeiro a abril (SUDAM, 1984). 
A topografia é plana, com pequenas variações nos "tesos" que não alcançam 10%. 
Os solos são predominantemente aluviais e hidromórficos, de origem quaternária. 
Amostragem da vegetação 
A vegetação foi amostrada utilizando os procedimentos de Avaliação Ecológica Rápida 
(AER), um protocolo para inventário florístico e qualitativo baseado em Pontos de 
Observações (PO's) desenvolvido pela The Nature Conservancy (TNC 1992). Os 
PO's são áreas pontuais com raio de 25 m onde são registradas todas as plantas. 
Os PO's foram delimitados com 4 piquetes colocados a 25 m do ponto de origem, em 
posições ortogonais com angulação de 900. Todos os PO's foram georefenciados (latitude 
e longitude) com utilização de receptor de GPS ("Global Positioning System"). 
Registro de dados e análises efetuadas 
As plantas foram classificadas de acordo com as formas de vida em herbáceas, 
arbustivas, arbóreas, lianas, hemi-epífitas, hemi-parasitas e estipes. 
A cada espécie foi atribuída uma ocorrência ou densidade relativa e subjetiva, 
podendo ser: (i) Abundante: espécies cujas populações são muito numerosas e 
que chegam a formar manchas ou agregados monoespecíficos; (ii) Comum: 
espécies também numerosas porém não formando agregados; (iii) Ocasional: 
espécies cujo padrão de ocorrência se assemelha àquele esperado ao acaso e, (iv) 
Rara: espécies que ocorrem em baixa densidade, com 1 indivíduo por PC. 
23 
AdriCinthya
Highlight
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do Marajó, Pará 
1-4SP4 ')JG :oo; 
24 
22 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Jn>jsntJ •)FU :OO 
25 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Tabela 1. Caracterização das tipologias florestais e campestrescom respectivos números de pontos 
amostrais e totais de família e espécies registradas, ilha do Marajó (PA). 
Ecossistemas N° de famílias N° de espécies 
FLORESTA PLUVIAL 
Floresta Aluvial Não Inundável (terra firme) 75 313 
Floresta Aluvial Inundável Mista com Palmeiras 51 177 
Floresta Aluvial Inundável 50 135 
Floresta de Várzea 27 55 
Floresta Secundária 33 57 
Sub-Total: Floresta Pluvial 82 * 450 * 
LAMPO NATURAL OU SAVANA ÚMIDA 
Campo Misto (palmeiras e/ou arbustos) 76 136 
Campo Limpo (herbáceo-graminoso) 45 81 
Sub-Total: Campo Natural 65 * 172 * 
TOTAIS GERAIS 96 547 
* Estes valores não se referem às somas das colunas e, sim, do total de famílias e espécies amostradas 
em todos os ecossistemas das florestas pluviais e dos campos naturais. 
Em cada P0 foi realizada a caracterização ecológica, através da florística e estrutura 
da vegetação, presença de espécies de interesse econômico e para conservação 
como aquelas raras, ameaçadas, endêmicas ou vulneráveis. 
A grafia dos taxa foram atualizadas mediante consulta ao herbário do Museu Paraense 
Emílio Coeldi (MG) e ao banco de dados do Missouri Botanical Garden (http:// 
mobot.org). 
Foram feitas análises florísticas envolvendo riqueza de espécies por fisionomia vegetal, 
por famiia e forma de vida. Utilizou-se a análise de agrupamento entre os ambientes 
para testar similaridade, através do índice de Jaccard (HUBALEK, 1982; IKENT; 
COKF.R, 1992) e como medida de ligação o vizinho mais próximo (PC-0RD 4). 
26 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Notas CIENTÍFICO: Guzmania lingulata (L.) Mez 
FAMILIA BOTÂNICA: Bromeliaceae 
Noas POPUIARS: bromélia 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Erva de aproximadamente im de altura, flores amarelas. 
Comum principalmente no sub-bosque das florestas inundadas e nos baixios de terra firme, por 
vezes em grandes populações. Sua floração parece estar regulada pelo ciclo das águas. Distribuição 
conhecida por toda a Amazônia e demais países amazônicos da América do Sul. 
Foto: Dário Amaral. 
9.1 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Todas as tipologias vegetacionais foram caracterizadas, definidas e descritas com 
base em observações de campo, literatura e parâmetros obtidos a partir das 
análises de florística. 
Florística geral 
A região central cio Marajó possui duas tipologias de vegetação: as florestas 
pluviais e os campos naturais (ou savanas úmidas). No ambiente florestal foram 
caracterizadas cinco fitofísionomias e no campestre duas (Tabela 1). 
Foram registradas 547 espécies distribuídas em 96 famílias botânicas. A identificação 
destas espécies com a respectiva família é apresentada no Anexo 1. 
Fm termos de macrofisionomia, apenas 14% (77) das espécies ocorrem em ambas 
paisagens analisadas. A grande maioria 69% (376 espécies) ocorreu na paisagem florestal, 
enquanto que 17% (94 espécies) pertencem aos ecossistemas campestres (Figura 4). 
69% 
400 
350 
300 
. 250 
o. 
200 
. 150 
z 100 
50 
Florestas 	Campos 	Floresta e Campos 
Ecossistemas 
Figura 4. Número e percentual das espécies amostradas nos ecossistemas de florestas e campos, e 
comuns aos dois ecossistemas no interflúvio dos rios Atuá eAnajás, ilha do Marajó (PA). 
29 
O 	50 	100 	150 	200 
	
250 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do Marajó, Pará 
Considerando os tipos de florestas (cinco) e campos (dois) analisados, observa-se 
que a grande maioria de espécies (319 - 58,32%) teve ocorrência restrita a uma 
destas tipologias, as demais (228 - 41,68%) são comuns a dois ou mais ambientes. 
Apenas Vismia macrohy/la (lacre), espécie pioneira, típica de vegetação secundária, 
foi comum a todas as tipologias. Outras duas espécies de ocorrência ampla foram 
O/yra Ia tifo/ia e Simaruba amara, comuns em seis diferentes tipos de vegetação 
(Figura 5). 
Entre as 96 famílias registradas, as 10 de maior destaque em riqueza específica 
foram: Mimosaceae (29), Cyperaceae (25), Melastomataceae (25), Fabaceae (23), 
Rubiaceae (20), Araceae (20), Chrysobalanaceae (18), Arecaceae (16), 
Euphorbiaceae (16) e Poaceae (16), correspondendo juntas a 38,02% do total das 
espécies registradas. Outras 86 famílias congregam as demais 339 espécies, sendo 
que 28 famílias ocorrem com uma única espécie (Figura 6). 	- 
Ecossistemas 
Floresta Secundária 
Floresta de Várzea 
Floresta Aluvial Inundável 
Floresta Aluvial Inundável Mista com Palmeiras 
Campo Limpo 
Campo Misto 
Floresta Aluvial não Inundável 
2 ou mais ambientes 
N° de Espécies 
Figura 5. Riqueza florística por ecossistema no interflúvio dos rios Atuá eAnajás, ilha do Marajó (PA). 
30 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Fará 
Poaceae 
Euphorbiaceae 
Arecaceae 
Chrysobalanaceae 
Rubiaceae 
e 
Araceae 
LL 
E 
e 
Fabaceae 
Melastomataceae 
Cyperaceae 
Mimosaceae 
Outras famílias (86) 
 
O 	50 	100 	150 	200 	250 	300 	350 
N° de Espécies 
Figura 6. Distribuição do número de espécies, por famílias, nos sete ecossistemas 
estudados no interflúvio dos rios Atuá eAnajás, ilha do Marajó (PA). 
Conforme retratado na Figura 7, com relação a forma de vida ou hábito das espécies, 
praticamente a metade das espécies (49,18%) são árvores, seguida das ervas 
(19,38%), lianas (10,42%), epífitas (9,14%), arbustos (8,04%), palmeiras (2,92%) e 
em menor representatividade os hemiepífitos e parasitas (1%). 
Todos os tipos de vegetação continham palmeiras, sendo que a menor riqueza de 
espécies foi encontrada na floresta secundária. Astrocaryum murun'zuru, Bactris maraja, 
Destnoncus orthacanthus e Euterpe oleracea foram encontradas em todas as tipologias 
31 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Mara/6, Pará 
Hemiepífito / parasito 
Palmeiras 
(5 
-o 
> 
Arbusto 
-o 
(o 
Epífitas o 
LL 
Lianas 
Ervas 
Árvores 
 
O 	 50 	 100 	 150 	 200 	250 	 300 
N° de Espécies 
Figura 7. Número total de espécies amostradas nos sete ecossistemas estudados, agrupadas 
de acordo com a forma de vida. Interflúvio dos rios Atuá e Anaj ás, ilha do Marajó (PA), 
florestais primárias. Destas, apenas a espécieAstrocarym murumuru foi encontrada 
na floresta secundária. Manicaria saccifera e Raphia taedigera foram encontradas 
apenas nas florestas de várzea e parecem ser espécies exclusivas a este ambiente. 
É interessante ressaltar que alguns componentes arbóreos dos campos são 
tipicamente de cerrado, como por exemplo, Tabebuia caraíba (Figura 8), Byrsonima 
verbascifolia, Couratelia e Vochysia. Nos campos mistos com palmeiras, as espécies 
arbóreas encontradas (18) são tipicamente de florestas não inundáveis (de terra 
firme), onde destacam-se Andira inermis, Aniba citrifolia, Inga nobilis, Simaba 
guianensis, dentre outras. 
32 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá eAnaja's, ilha do Marajó, Pará 
Tipos de vegetação 
FLORESTAS PLUVIAIS 
Floresta aluvial não inunda' vel (Terra Firme) 
Esta tipologia foi o componente majoritário da paisagem florestal, como era de se 
esperar, visto tratar-se da paisagem dominante em toda extensão da floresta 
amazônica, correspondendo às florestas tropicais úmidas de terra firme. Foram 
registradas 313 espécies, distribuídas em 75 famílias (Anexo 1). 
São florestas densas, com árvores emergentes, similares àquelas de terra firme no 
do±ínio do terciário amazônico. O dossel fica situado entre 30 e 35 m; a biomassa 
é considerada pesada, com área basal em torno de 30 m2 e densidade entre 400 e 
500 árvores por hectare, levando em consideração somente os indivíduos com 
DA? (diâmetro a 1,30m do solo ~ 10 cm). 
Com uma composição florística similar às demais florestas de terra firme da 
Amazônia, albergam representantes típicos como Caryocar glabrum (piquiarana), 
Cedrela odorara (cedro), Couratari multif7ora (tauarí), Díplotropis purpurea (sucupira), 
Dipterix sp. (cumarú), Eschweilera coriacea (mata-matá), Guarea ssp. (jataúbas),Hytnenaea courba ri! (j atobá), Manilkara huberi (maçaranduba), Pou teria ssp. (abius), 
Protium ssp. (breus), Vochysia guianensis (quaruba branca) e muitos outros. 
Apresentam um sub-bosque rico em palmeiras de diferentes espécies como 
Astrocaryum murumuru (murumurú), Attalea maripa (inajá), Bactris maraja (marajá), 
Desmoncus orthacanthus (jacitara), Euterpe oleracea (açaí), Geonoma aspidifolia (ubim), 
Iriartea exorrhiza (paxiúba) e Oenocarpus bacaba (bacaba). 
Estas florestas, quando comparadas aos demais tipos de vegetação investigados, 
contemplam o maior número de espécies de ocorrência exclusiva (122), como 
Brosimum rubescens, Hymenaea integrifolia (jutaí), Ormosia coutinl'ioi (tento), Protium 
34 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá .e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
NOME CIENTÍFICO: Couratari multif lora (Sm.) Eyma 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Lecythidaceae 
Nots PoPuLRBs: tauarí 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: São árvores que ocupam o dossel das florestas de terra 
firme, podendo atingir mais de 50 m de altura, numa densidade inferior a dois indivíduos (diâmetro 
a 1,30m do solo ~ 10 cm) por hectare. Destacam-se na floresta por exuberantes raízes escoras 
(sapopemas) que auxiliam na sustentação ao solo. A dispersão das sementes é realizada por animais, 
geralmente cutias e pacas. Tem ampla distribuição na Amazônia e outros países da América do Sul, 
como Suriname e Guianas. A madeira é utilizada no setor de celulose e moveleiro. 
Foto: Dário Amaral. 
;ri 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
robustum (breu), Saccoglotis amazônica (uxirana), Stryphnodendron purpureum (paricá) 
e Tachigalia myrinecophilla (tachizeiro). 
As florestas de terra firme constituem parte das florestas aluviais do Marajó e 
estão concentradas em locais com relevos mais elevados, situados na porção 
ocidental do arquipélago, podendo ocupar grandes maciços florestais ou restritos 
a pequenas faixas, compondo um mosaico com tipologias campestres. 
Floresta aluvial inunda' vel mista com palmeiras 
Com alusão na própria classificação fisionômica, esta tipologia é caracterizada 
pela expressividade de palmeiras no, ambiente, tanto em riqueza quanto em 
abundância deste grupo de plantas (Figura 9). As florestas inundáveis com palmeiras 
são características da parte oriental do Marajó, juntamente com as florestas de 
várzea que dominam as terras baixas das ilhas e planícies dos rios estuarinos. As 
palmeiras associadas sofrem uma alternância, dependendo do tipo de solo, 
topografia e influência em relação à rede de drenagem. 
Foram registradas nesta tipologia vegetal 177 espécies, distribuídas em 51 famílias 
(Anexo 1). Mais da metade (54,24%) destas espécies são comuns às florestas de 
terra firme, embora sejam tipologias distintas. 
Estas florestas são mais abertas do que as outras tipologias florestais aluviais 
investigadas neste estudo. A intensa penetração de luz solar facilita a regeneração 
das palmeiras, algumas com certo grau de exigência em luminosidade como Euterpe 
oleracea (açaí) eAttalea maripa (inajá). 
Geralmente as florestas estão associadas com uma palmeira predominante, 
principalmente Euterpe oleracea (açaí), Astrocaryum mumumuru (murumurú), 
Oenocarpus bacaba (bacaba), Bactris setosa (marajá) eAttalea marípa (inajá), ou uma 
combinação de duas ou mais espécies de palmeiras, comumente aquelas formadas 
por Euterpe oleracea (açaí) versus Bactris maraja (marajá) e Oenocarpus bacaba (bacaba) 
37 
9 
1 
1, 
NomE CIENTIFICO: Rapatea paludosa Aubl. 
FAMftIA BOTÂNICA: Rapateaceae 
Nos POPULARES: Não 
Cc1aiIsncAs BOTÂNICAS E EcoLÓGICAS: Erva de aproximadamente im de altura, flores amarelas. Comum 
principalmente no sub-bosque das florestas inundadas e de terra firme, por vezes em grandes populações. 
Distribuição conhecida por toda a Amazônia, e demais países da América do Sul. 
Foto: Dário Amaral 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do Marajó, Pará 
versus Astrocaryum mumumuru (murumurú). As palmeiras Mauritia flexuosa (burití) 
e Mauritielia aculeata (caranã) também ocorrem, porém não caracterizam 
associação porque geralmente estão em baixas densidades. 
Dentre as árvores de maior destaque em biomassa estão Viro/a surinatnensis (virola), 
Carapa guianensis (andiroba), Symphonia g/obu/ifera (ananim), Qualea sp. 
(mandioqueira), Simaruba amara (marupá), Caryocargiabrum (piquiarana), Goupia 
glabra (cupiúba), Manilkara l'iuberi (maçaranduba), Tabebuia serratifolia (ipê), 
Hymenaea parvifolia (jatobá) dentre outras. 
No sub-bosque são freqüentes ervas como Olyra latifolia, Seilaginela caicarata, 
Heliconia bihai, Caiathea ornata, Ischnosiphon arouma, Montrichardia linin fera, Píper 
spp., Bec quere/ia cymosa, Costus scaber, Hypolytrum longifolium, Phenakospermum 
guianensis etc. 
Um total de 36 espécies foram exclusivas deste ambiente, dentre elas duas palmeiras, 
Geonoma baculifera, Mauritielia aculeata, além de Bom bax paraense, Lícania lican 1/flora, 
Licania pai/ida, Maquira coriacea, Swa rtzia laurifólia, Tabernaemon tana muricata, 
Vochysia inundata. 
As florestas mistas com Euterpe oleracea (açaí) são as mais extensas e representativas. 
Ocupam cerca de 90% da área das florestas com palmeiras e desempenham um 
papel importante no equilíbrio do sistema ecológico local. Uma parte importante 
da avifauna de psitacídios usa essa espécie como recurso alimentar. 
Floresta aluvial inundável 
Estas florestas são igualmente inundáveis, ocorrendo em manchas de tamanhos. 
variados. A inundação está associada geralmente ao transbordamento dos sistemas 
fluviais durante as cheias ou pelo acúmulo de água da chuva durante o inverno, 
entre janeiro e maio. Os solos hidromórficos são mal drenados com lençol freático 
41 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Pará 
bastante superficial. Essas manchas são menos abundantes do que aquelas ocupadas 
pelas florestas mistas com palmeiras. 
Geralmente essa tipologia é uma transição entre a terra firme e as florestas 
inundáveis com palmeiras. Quase a metade (37%) das espécies registradas são 
comuns aos três ambientes, como Simaruba amara (marupá), Caryocar glabrum 
(piquiarana), Eschweílera coriacea (matamatá), Coo pia glabra (cumarú), Protium 
heptaphyllum (breu), Tabebuia serratifolia (ipê amarelo), Symphonia globulifera 
(ananim) e as palmeiras Euterpe oleracea (açaí), Desmoncus orthacanthus (jacitara), 
Astrocaryum murumuru e Bactris maraja. No sub-bosque predominam as ervas 
Phenakospermum guíanensis (sororoca), Olyra la tifo/ia, Philodendron mu ricatum, 
E guttiferum, Ischnosiphon arouma, I. gracilis e outras. 
Um conjunto de 29 espécies ocorreu unicamente nesta tipologia, dentre elas 
Alchorneopsis /7oribunda, Brosimum rubescens, Cordia exaltata, Dichorisandra villosula, 
Eugenia anastomosans, Guarea kunthiana, Goa tteria schomburghkiana, Heliconia 
acuminata, Heliconia bíhat Heliconia pendula, Hirteila racemosa, Hymenaea integrifólia, 
Inga falsistipula, Inga thibaudiana, Lomariopsis japurensis, Ormosia coutinhot, Protium 
robustum, Saccoglotis amazônica, Stryphnodendron purpureum, Theobroma cacau e outras. 
Foram registradas nesta tipologia 135 espécies distribuídas em 50 famílias botânicas 
(Anexo 1). 
Floresta de várzea 
As florestas de várzea se constituem na tipologia mais representativa de ambientes 
inundáveis da Amazônia (Figura 10). São ecossistemas ripários, energeticamente 
abertos, estando associados às bacias de rios de água branca ou barrenta, cujas 
nascentes estão localizadas nas áreas montanhosas da Cordilheira dos Andes, onde 
o processo erosivo, nos dias atuais, é elevado. O processo de deposição e 
sedimentação se dá ao longo do percurso desses rios que têm, entre seus principais 
representantes, os rios Solimões-Amazonas, Purus, Juruá e Madeira. 
42 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
NOME CIENTÍFICO: Attalea maripa (Aubi.) Mart. 
FAMÍLIA BOTÂNICA:Arecaceae 
NOMES POPULARES: inaj á 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Palmeira de porte médio, dificilmente ultrapassando 20 m de 
altura. Está normalmente associada com vegetação secundária, sendo ecologicamente equivalente ao 
babaçu no nordeste brasileiro. Os frutos com polpa oleaginosa são muito apreciados por roedores como 
pacas, cutias e, também, veados. Distribui-se por toda a Amazônia e demais países da América do Sul. 
Foto: Samuel Almeida. 
44 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do Marajó, Pará 
Figura 10. Vista da floresta de várzea do Marajó. 
As várzeas são ambientes recentes na escala geológica, formadas no período 
holocênico atual, apresentando solos tipo glei hidromórfico, sem estrutura vertical 
e pouco consolidada. 
As florestas de várzea são relativamente mais baixas e abertas do que as florestas 
de terra firme, com altura em torno de 20 a 25 m. No entanto, a biomassa pode 
ser equivalente, com área basal em torno de 25 m2 e densidade aproximada de 
200 a 300 árvores por hectare; quando se considera somente os indivíduos com 
DAP ~ 10 cm. 
Registrou-se um total de 55 espécies em 27 famílias botânicas, sendo 29 espécies 
únicas desta tipologia, das quais figuram Avicennia germinans (siriúba), Campsiandra 
laurifolia (acapurana), Dioc/ea virgata, Hevea guianensis (seringueira), Hura crepitans 
(açacu), Macrolobium acaciaefoíiuín (arapari) PacI'iira aquatica (mamorana), 
45 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Pentaclethra macroloba (pracaxí), Raphia taedigera , Rhizophora racemosa (mangueira), 
Varairea guianensis (impigeira), Zygia latifolia e outras. 
As espécies características das florestas de várzea das bacias dos rios Atuá e Anajás são: 
Euterpe oleracea (açaí), Virola surinamensis (ucuuba), Garapa guianensis (andiroba), 
Astrocaryum murumuru (murumuru), Swartzia polyphylla (pitaíca), Symphoniag/obulifera 
(ananim), Cainpsiandra laurifo'lia (acapurana), Pachyra aquatica (mamorana), 
Macrolobium acaciifolium (arapari), Pterocarpus santalinoides (mututi), dentre outras 
espécies. Grande parte dessas espécies possui adaptações morfológicas (raízes aéreas, 
sementes flutuantes, plântulas com rápido crescimento nodular) e ecofisiológicas 
(mecanismos de regulação asmática da água, o que permite que suas raízes e seus 
caules suportem pela menos 12 horas de inundação a cada dia) que possibilitam sua 
manutenção neste ambiente especializada. 
Floresta secundária - ES 
A vegetação secundária na Amazônia, que se origina após a ação antrápica, é 
popularmente denominada de capoeira. Este termo provavelmente tem origem 
no nhengatu, o Tupi amazônico, uma das línguas gerais da região. 
As principais fontes de conversão das florestas amazônicas primitivas em capoeiras 
são a agricultura familiar, as pastagens artificiais, a agricultura comercial e a 
exploração madeireira. No caso particular desta região do Marajá, tal conversão 
está mais associada às práticas de agricultura familiar para plantio de culturas de 
subsistência como mandioca, banana, milho, algumas hortaliças e legumes, sendo 
desenvolvidas nas áreas de floresta de terra firme, visto que nas florestas inundáveis, 
onde foram queimadas áreas de antigos açaizais, a floresta tem dificuldade de se 
recompor em função das restrições impostas pelas enchentes anuais. 
As características gerais de história natural das espécies de capoeira são: lucifilia 
(elevada demanda de luz para crescer), ciclo de vida de curto a médio (5 a 15 anos), 
46 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Pará 
NomE CIENTíFICO: Aspidosperma auriculatum Marckg. 
FAvIíLIA BOTÂNICA: Apocynaceae 
Nots PoPuL's: carapanaúba, peroba 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: São árvores que atingem até 30 m de altura, ocupando o 
dossel das florestas de terra firme, geralmente não mais de três indivíduos (diâmetro a 1,30m do 
solo ~: 10 cm) por hectare. Apresenta como característica principal o caule sulcado, que favorece 
o acúmulo de água que beneficia a reprodução de certos insetos como o carapanã, daí o nome 
popular de carapanaúba. Tem ocorrência conhecida para toda a Amazônia, inclusive extra-brasileira 
(América do Sul). 
Foto: Dário Amaral. 
Em 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
populações de tamanho considerável, existência de bancos de sementes 
armazenadas no solo e, na maioria das vezes, dispersão das sementes pelo vento, 
aves e morcegos. 
A avaliação florística da capoeira registrou um total de 57 espécies distribuídas 
em 33 famílias (Anexo 1). 
A flora deste tipo de vegetação antrópica é formada geralmente por espécies 
pioneiras, principalmente arbustos como Vismia guianensís (lacre), Cecropia spp. 
(embaúbas), Casearia ulmifolia (mata-calado) Astrocaryum murutnuru (murumurú), 
Miconia nervosa (tinteiro) e outros. São ainda comuns indivíduos jovens de espécies 
da sucessão ecológica mais avançada como Guatteria poeppgiana (envira-preta), 
Sima ruba amara (marupá), Didymopanax morototoni (morototó), Custa via augusta 
(geniparana), Rol/mia exsucca (envira-biribá) etc. Entre os cipós, destacam-se Entada 
polyphylla, Hemidiodia ocimifolia, Machaërium quinata, Serjania paucidentada e Davilla 
kunthii (cipó de fogo), dentre outras. 
Um total de 19 espécies são exclusivas desta vegetação, dentre as quais: Casearia 
ulm ifolia, Clidemia hirta, Cupania scrobicula ta, Himatan thus sucuuba, Homalium 
guia nensis, Maprou rea guia nensis, Mouriri caílocarpa, Myriaspora egensis, Piper 
aduncum, Rola ndra agentea, Rol/mia excucca e Serjania paucidentada. 
CAMPOS NATURAIS OU SAVANAS ÚMIDAS 
Os campos naturais podem ser do tipo limpo (onde o estrato herbáceo sobressai 
na paisagem), com feição de mosaico (composta de pequenos capões até ilhas 
de florestas com dezenas de hectares) ou com aglomerados das palmeiras 
Mauritia flexuosa (buriti) ou Mauritiella aculeata (caranã). A origem e• 
manutenção desta paisagem está relacionada ao controle edáfico e hidrológico, 
especialmente o regime de enchentes a que estão submetidos estes campos 
anualmente (PIRES, 1955). 
49 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Pará 
Campo misto 
Refere-se aos campos com palmeiras ou arbustivo-arbóreos. Foram registradas 84 
espécies, distribuídas em 40 famílias botânicas, sendo 45 espécies exclusivas desta 
tipologia campestre. As únicas lenhosas encontradas foram: Ocotea laxiflora, 
Paliocourea longiflora, Paullin ia pinnata, Sesbania exasperata, Solanum stramon ifolium, 
Alchornea fluvialis, Byrsonima chrysophylla e Simaba guia nensis. A grande maioria 
são ervas, comoAescl'iynomene evenia, Clidemia spicata, Commeiinaguianensis, Cyperus 
luzulae, Cyperus sesquiflorus, Eleocharis fistulosa, Eleocharis mínima, Fimbrístylis anua, 
Heliotropium indicum, Hyptis atrorubens, Justicia angustifolia, Ludwigia hyssopifolia, 
Mimosa polydactyla, Panicum siccaneum e outras. 
Embora considerados uma mesma tipologia de vegetação (campo misto), sob as 
mesmas condições ambientais e com composições florísticas similares, é possível 
identificar distinções fisionômicas entre os campos com palmeiras e os campos 
arbustivo-arbóreos, conforme descrito a seguir. 
Os campos com palmeiras são permeados por formações de buriti (Mauritia 
flexuosa) ou caranã (Mauritiella aculeata), formando densos agregados ou extensos 
cordões que se projetam por quilômetros dentro dos campos. Estes buritizais 
são localizados geralmente em áreas de divisão de bacias ou em depressões 
permanentemente alagadas. As veredas de buritizais no geral acompanham os 
cursos primordiais d'água como nascentes de rios e igarapés que cruzam os 
campos, entram nas florestas de várzea e deságuam nos rios Pará ou Amazonas, 
na zona do estuário. 
Em menores densidades são ainda comuns outras palmeiras como Astrocaryum 
mumbaca, Bactris maraja e Euterpe oleracea. Nestes locais, denominados localmente 
de pirizais, as ciperáceassão mais comuns, a exemplo do junco-açu (Cyperus 
giganteus), junco (Eleocharis spp.) e algumas Scieria spp. O estrato arbustivo-arbóreo 
inclui Protium apiculatum, Alchornea f7uviatilis, Tovomita brasiliensis, Aniba citrifolia, 
50 
NomE CIENTÍFICO: Hyptis crenata Pohl. ex Benth. 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Lamiaceae 
Nots POPULARES: salva-do-marajó 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Erva de pouco mais de 20cm de altura, flor lilás. Além do 
Marajó, a espécie se distribui nos campos úmidos do Amazonas (Humaitá), Mato Grosso, Goiás e 
parte nas savanas úmidas de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia. Tem valor medicinal sendo empregada 
na forma de chá para diarréia, digestivo natural e depurativo do sangue. E comum nos campos da 
região, principalmente na parte oriental do Arquipélago, nos municípios de Muaná, Salvaterra, 
Ponta de Pedras e Cachoeira do Arari. 
Foto: Samuel Almeida 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Inga cayannensis, Andira inermis, Mouriri grandiflora, Maquira coriacea, Virola 
surinamensis, Eugenia muricata e Simaruba amara. 
Nos "baixões", com buritizais e caranazais cresce uma vegetação pioneira graminosa 
mais alta, que pode atingir até 1,5 m, onde o gado não forrageia. Estes locais, de 
feições paludosas, abrigam uma fauna peculiar composta de quelônios aquáticos 
como muçuãs (Kinosternon scorpioides) , aperemas (Rhinoclemyspunctularia) e jacarés 
Caíman sp. e Paleosuchus sp. 
Diferentemente, os campos arbustivo-arbóreos são caracterizados pela paisagem 
composta por "mondrongos", pequenos capões de mata e ilhas florestais de 
tamanhos e formas variados (Figura 11). Estes campos são muito comuns na parte 
mais centro-oriental do Marajó, especialmente nos municípios de Muaná e parte 
dos municípios de Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Anajás. 
1 
Figura 11. Vista geral de um campo natural do Marajó, do tipo misto arbustivo-arbóreo. 
53 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajas, ilha do Marajó, Par4 
As árvores e arbustos que podem estar isolados ou formando aglomerados são 
principalmente de Wulffía bacata, Miconia eriodonta, Tibouchina aspera, Eugenia 
egensis, Alibertia edulis, Paul/mia pinnata, Solanum stramonifolium, Tapirira guia nensis, 
Protium heptaphyllum, Vismia cayannensis, Aniba citrifolia, Byrsonima chrysophylla, 
Ouratea casta nae folia, Coccoloba la tifo/ia, Sima ruba amara e Vochysia vismifolia. 
No estrato herbáceo predominam Cyperus /uzulae, Cyperus sesquif7orus, Eleocharís 
minima, Fimbristy/is anua, Fimbristylís capil/aris, Phyllanthus hyssopifolioides, Hyptis 
atroru bens, Mimosa polydactyla, Aeschynomene evenia, Desmodium barbatum, Ludwigia 
hyssopifolia, Axonopus purpusit, Panicum laxum e Oldenlandia cor ymbosa. 
Estes campos florestados geralmente são mais altos do que os campos limpos, 
com algumas áreas podendo ficar fora da zona de inundação anual. São os casos 
dos "tesos", áreas onde o desnível pode alcançar rapidamente até 5 m. Isto talvez 
explique a evolução da cobertura vegetal do porte campestre para o arbóreo nos 
locais onde se formam os capões e ilhas de floresta. 
Os "tesos" formaram os antigos núcleos da colonização humana pré-colombiana 
que ocupou grande parte do Marajó. Os registros arqueológicos mais importantes 
sobre a pré-história marajoara estão centrados nestes "tesos", retratando uma 
cultura e civilização bem evoluídas. Estes testemunhos são compostos 
principalmente por fragmentos de cerâmica e artefatos líticos. 
Campo limpo 
Esta tipologia é caracterizada pela forte dominância de gramíneas e ciperáceas, 
originando uma paisagem campestre equivalente à denominação campo limpo da 
classificação de cerrados (Figura 12). A composição florística compreende um total 
de 85 espécies, correspondendo a 40 famílias botânicas (Anexo 1). 
As ciperáceas de maior destaque são Fimbristylis capi/laris, Kyllinga peruviana, 
Rhynchospora barbata, Rhynchospora cephalotes, Scleria hirte/la, ao lado das gramíneas 
54 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Mara/6, Para 
Figura 12. Vista geral de um campo natural do Marajó, do tipo limpo. 
Andropogon leucostachyus, Axonopus purpusil, Panicum laxum, Pan icum siccaneurn, 
Paspalum vfrgatum e Setaria geniculata, e várias outras. 
Dentre as ervas exclusivas destes campos listam-se as ciperáceas Dichromena. 
ciliata, Eragrostis capilaris, Hypo/ytrum sylvaticum, Kyllinga peruviana, Rhynchospora 
barbata, Scieria hirtelia, além de gramíneas como Andropogon leucostachyus, 
Axonopus pubivaginatus, Panicum siccaneum, Paspalum ligulare, Paspalum virgatutn 
e Setaria geniculata. 
A topografia deste tipo de campo inclui pequena variação altimétrica, com até 5% 
de desnível. Este diferencial é determinante na época das chuvas, quando as partes 
mais baixas são as que logo inundam formando lagos de tamanhos variados, 
geralmente associados à rede de drenagem composta de pequenos igarapés cujos 
canais drenam parte destes campos. 
55 
r
Campos e florestas das bacias dos rios Atua e Anajcs, /1/ia do Maraj 1ir 
Nos campos baixos hiperúmidos a pastagem não fenece e não há susceptibilidade 
ao fogo, apresentando um aspecto sempre verde. Podem aparecer também algumas 
gramíneas de áreas de várzeas inundadas como a canarana (Hynzenacliiíe 
a/nf91exica ti/e). Eventualmente podem aparecer ilhotas com palmeiras marajá 
(Bactris setosa) e caranã (Mau ritielia aculeata). 
O elemento lenhoso nestes campos é discreto, composto por alguns arbustos 
dispersos ou aqueles que crescem sobre os "mondrongos", pequenas moitas onde 
a microtopografia é irregular, em função da atividade de cupins de chão e algumas 
formigas que revolvem o solo, alterando a estrutura e formando pequenas elevações 
onde crescem alguns arbustos e arvoretas, dentre elas Anacardium occidentale, 
Cura te/la a inerica na (Figura 13), Byrsoniina crassifolia, Aspidosperina auricu/atum, 
Didyínopanax morototoni, Saccoglotis guianensis, Eschuei/era ovata, Virola surinarnensis, 
Tahernaemontana muricata e outros. 
Figura 13. Floração de Curateila americana (caimbé) nos campos do Marajó. 
56 
í 1~ 
h LIVI, 
NomE CIENTÍFICO: Caryocar microcarpum Ducke 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Caryocaraceae 
Nos POPULARES: piquiarana-da-várzea - 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Arvore de grande porte, facilmente atingindo mais de 30 m 
de altura. Dificilmente ocorre com mais de três indivíduos (diâmetro a 1,30m do solo ~: 10 cm) por 
hectare. Existem ainda espécies de terra firme, como o piquiá verdadeiro - C. villosurn (Aubi.) Pers., 
além do C. microcarpum (Aubi.) Pers. O fruto desta espécie não é comestível pelo homem, como 
ocorre com C. viliosum, no entanto é apreciado pela fauna de vertebrados terrestres como pacas, 
cutias, veados e porcos, que consomem além do fruto as flores. Apresenta distribuição por todo o 
estuário Amazônico, além de vários outros países da América do Sul. 
Foto: Dário .Amaral 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
Similaridade florística 
A Figura 14 expressa o grau de agrupamento das tipologias vegetais em função da 
composição de espécies. Individualizam-se nitidamente dois blocos de agrupamento: 
um formado pelas florestas mistas com palmeiras e florestas de terra firme, que 
unem-se, por sua vez, com as florestas inundáveis e o outro, em menor grau de 
junção, formado pelas duas tipologias campestres. 
A maior similaridade (0,33) foi obtida entre as florestas mistas com palmeiras e as 
florestas de terra firme, com 54,24% de espécies comuns. Na paisagem campestre 
a similaridade foi menor. Apenas 18% das espécies ocorrem concomitantemente 
nos campos limpos e campos mistos. Entre as demais tipologias a similaridade foi 
muito baixa, com índices de apenas 0,03, quando se comparam as florestas 
secundárias com as florestas de várzea, com apenas quatro espécies comuns, 
Astrocarywn murumuru, Oenocarpus distichus, Inga edulis e Vismia tnacrophylla. Os 
baixos índices de similaridadeentre os ambientes revelam a elevada diversidade 
beta desta região, com grande concentração de espécies exclusivas por ambiente. 
indico de Similaridade de Jacard (%) 
100 	 75 	 50 	 25 
CA 
CM 
FAI 
FMP 
FTF 
VAR 
Figura 14. Análise de agrupamento dos tipos de vegetação estudados, usando como método de 
ligação o agrupamento do vizinho mais próximo. CA (campo limpo), CM (campo misto), FAI (floresta 
aluvial inundável), FMP (floresta aluvial inundável mista com palmeiras), FTF (floresta de terra 
firme), VAR (floresta de várzea) e FS (floresta secundária). Ilha do Marajó (PA). 
59 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Pará 
Espécies úteis e valor econômico 
Historicamente, a população do Marajó utiliza a vegetação nativa no seu cotidiano 
para as mais diferentes finalidades, principalmente no uso alimentício, medicinal, 
bem como para construção de casas, demarcação de fazendas e currais para a 
criação de gado, com destaque ao búfalo (Figura 15). Aliás, a região concentra o 
maior rebanho de búfalos do Brasil (www.cbra.org.br). Conta a lenda que o animal 
teria sido introduzido involuntariamente na região, após sobreviver nadando do 
naufrágio de um navio asiático quando de passagem pela costa marajoara, e logo 
se adaptou plenamente ao local. Contudo, oficialmente, a primeira importação 
foi feita em 1895 pelo criador Vicente Chermont de Miranda, com animais oriundos 
da Itália (www.cbra.org.br). 
O conhecimento popular sobre a utilização desta rica diversidade vegetal é 
comum em toda a região, principalmente nas regiões mais rurais, como nas 
bacias dos rios Atuá e Anaj ás, que em função de um certo grau de isolamento 
em relação aos centros urbanos maiores, restringe-se de uma maior 
disponibilidade de produtos industrializados. 
Figura 15. Montaria de búfalo nos campos do Marajó 
82 
1 	
11 
JR 
4.. 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
NomE CIENTÍFICO: Astrocaryum vulgare Mart. 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Arecaceae 
Nots POFULAFES: tucumã, tucumã-do-Pará 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Palmeira de porte médio, dificilmente ultrapassando 10 de 
altura. De crescimento agressivo, é considerada como espécie pioneira, comum em vegetação 
secundária. Estipes múltiplos, raramente simples, cobertos de espinhos. Pode produzir até 6cachos 
por safra, cujos frutos são comestíveis pelo homem e animais silvestres como pacas, pequenos 
roedores e cutias. Ocorre por toda a Amazônia brasileira até as Guianas. 
Foto: Samuel Almeida. 
62 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
No Anexo 2 estão listadas 144 espécies que apresentam utilização conhecida, com 
informação do nome vulgar, tipo de utilização, parte da planta utilizada e 
informações complementares. 
Grande parte desta flora é de uso madeireiro, com espécies nobres, de alto valor 
comercial como Cedrela odorata (cedro), Manilkara huberi (maçaranduba), Couratari 
inultiflora (tauarí), Diplotropis purpurea (sucupira), Dipterix sp. (cumarú), Caryocar 
glabrum (piquiarana), Goupia glabra (cupiúba) e outras de menor valor como 
Eschweilera coriacea (mata-matá) e Guarea ssp. (jataúbas). 
Dentre os produtos não madeireiros merecem destaque as medicinais, como Hyptis 
crenata (salva do Marajó), espécie endêmica da região e amplamente utilizada como 
digestivo natural e depurativo do sangue. Outra espécie de relevância é a Carapa 
guianensis (andiroba), cujo óleo tem eficácia no tratamento de traumatismos, 
tumores e distensão muscular. Sua casca é utilizada como vermífugo e antitérmico. 
A espécie é atribuída, ainda, propriedades insetífugas, repelente natural contra os 
insetos, especialmente os mosquitos do gênero Anopheles, transmissores da malária, 
doença epidêmica comum nesta região da Amazônia. 
Um grupo à parte é o das alimentícias, principalmente as espécies frutíferas, em 
especial o açaí (Euterpe oleracea) símbolo das paisagens do Marajó, base da 
alimentação diária de grande parte dos habitantes desta região. Outras palmeiras 
muito apreciadas são Qenocarpus bacaba (bacaba) eAstrocaryutn vulgare (tucumã). 
Além destas, têm-se as arbóreas Rheedia inacrophylla (bacuri-pari), Spondias mombin 
(taperebá), Byrsonitna crassifolia (murucí), Anacardiutn giganteum (cajuí), Pouteria 
caitnito (abíu) entre outras. 
São importantes, ainda, as espécies de uso ornamental, principalmente as Brotnelia 
ssp., Heliconia ssp. e Philodendron ssp., as aromáticas, como Píper aduncum (pimenta 
longa), Protium ssp (breu), Annona ambotay (envira-taia), as de uso artesanal, tipo 
Desmoncus orthacanthus ( jacitara), Mauritia flexuosa (burití), além de outros usos. 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó,Pará 
Espécies ameaçadas de extinção 
Duas espécies registradas neste estudo constam na lista de espécies da flora do 
estado do Fará ameaçadas de extinção (www.museu-goeldi.br), são elas: Cedrela 
odorata L. (cedro) eManilkara huberi (Ducke) Chevalier (maçaranduba). O cedro, 
tem ocorrência restrita às florestas de terra firme, enquanto a maçaranduba (Figura 
16) é encontrada nas florestas de terra firme, nas florestas de várzea e em florestas 
inundáveis mistas com palmeiras. 
Ambas as espécies têm suas populações 
ameaçadas em função da intensa 
exploração madeireira, bastante 
apreciada pelo mercado consumidor. 
Apresentam, de maneira geral, 
distribuição ampla na Amazônia. 
Figura 16. Árvore de Manilkara huberi 
(maçaranduba) no interior da floresta de terra 
firme do Marajó. foto: Dário Amaral 
64 
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Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
NOME CIENTÍFICO: Mauritia flexuosa L. F. 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Arecaceae 
NOMEs roPuIJuss: buriti 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Palmeira vistosa que atinge facilmente mais de 30m de 
altura. Abundante nas várzeas, campos, veredas e demais florestas inundadas do Marajó, quase 
sempre associadas com córregos d'água. Tem uso tradicional amplo e diversificado. O fruto é 
comestível, melhor apreciado como sucos, cremes e compotas. Os troncos (estipes) são utilizados 
pelas populações ribeirinhas como vias de acesso (pontilhões) às casas sobre as várzeas do estuário 
amazônico. E também uma espécie oleaginosa, cuja polpa também é rica em pró-vitamina A. Outro 
tipo de uso, menos difundido, é como adoçante natural a partir da adocicada seiva de seu tronco. 
Tem distribuição por toda a América do Sul. 
Foto: Dário Amaral, 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Fará 
A flora inventariada neste estudo expressa uma elevada diversidade beta, em função 
dos diversos ecossistemas envolvidos, com destaque para as florestas inundáveis 
ricas em palmeiras, as florestas de várzea, os campos (limpos e mistos) e florestas de 
terra firme. Foram 547 espécies em 96 famílias botânicas, entre árvores, palmeiras, 
arbustos, ervas, lianas e epífitas. Esta flora sobressai muito mais pela diversidade do 
que pelo endemismo da vegetação. A quase totalidade das espécies catalogadas é 
amplamente distribuída na Amazônia, à exceção de três espécies, Heliconia 1ourteígiae 
Emygdio & E. Santos, Disreganthus lateralis (L. B. Sm.) Gouda e Geonotna aspidiifolia 
Spruce, que representam novas ocorrências para a ciência, conforme detalhado abaixo. 
Heliconia Iourteigiae Emygdio & E. Santos - Heliconiaceae 
De acordo com o banco de dados do Missouri Botanical Garden (http://mobot.org) 
não existe registro de ocorrência desta espécie para o Brasil, apenas para o Peru, 
Suriname e Venezuela. No Herbário do Museu Goeldi (MG), no entanto, há uma 
coleta de 1971 para o estado de Roraima, mais precisamente no rio Mucajaí. Assim, 
esta coleta do Marajó representa a primeira referência conhecida para o Pará. 
Distegantl'zus lateralis (L. B. Sm.) Gouda - Bromeliaceae 
Trata-se do primeiro registro para o Brasil. Havia conhecimento apenas para a 
Guiana Francesa, coleta relativamente recentede dezembro de 2000 (Missouri 
Botanical Garden, http://mobot.org). 
Geonoma aspidiifolia Spruce - Arecaceae 
Esta espécie tem distribuição conhecida no Brasil para os estados do Amazonas, 
principalmente nos arredores de Manaus e Acre, na reserva extrativista do Alto 
Juruá. No Pará, corresponde à segunda ocorrência, a primeira coleta data de 1907 
no rio Mapuera, em Oriximiná. 
67 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajás, ilha do Marajó, Pará 
Segundo a classificação do RADAMBRASIL (JAPIASSU; GÓES, 1974) a vegetação 
do Marajó é constituída por três fisionomias muito distintas: campos naturais, 
floresta tropical densa e vegetação pioneira com influência marinha. 
Em consonância com o RADAMBRASIL, classificações mais atuais (IBGE, 
1994) acrescentam a estas macrofisionomias do Marajó os seguintes 
detalhamentos: Floresta Ombrófila Densa (aluvial e de terras baixas), Áreas 
de Formação Pioneira (vegetação com influência fluvial - campos - e 
fluviomarinha - manguezal), Savanas (tipo parque) e áreas de tensão 
ecológica ou contato (savanas versus florestas ombrófilas). Destas tipologias, 
apenas os manguezais não estavam representados nas áreas investigadas deste 
estudo, visto que estes ocupam os extremos litorâneos com influência 
marinha do arquipélago. 
Juntamente com as florestas de terra firme e de várzea as tipologias vegetais abertas 
(savanas e campos) são as mais representativas do Marajó. O trecho de vegetação 
aberta inventariada neste estudo corresponde ao que o IBGE (1994) classifica como 
Áreas de Formação Pioneira, que neste caso refere-se a campos. Todavia, alguns 
autores (MIRANDA; CARNEIRO, 1994; MIRANDA; ABSY, 1997) incluem estas 
áreas quando discutem savanas amazônicas. 
Na Amazônia, a origem e a manutenção das savanas são atribuídas a paleoclimas, 
geologia e condições edáficas atuais. Evidências testemunhais de natureza 
palinológica e florística, demonstram que nas fases secas do período pleistocênico, 
predominavam o tipo de vegetação xeromórfica (AB'SABER 1982; BIGARELLA; 
LIMA, 1982; ABSY HAMMEN, 1976). 
Em virtude da história geológica recente (aproximadamente 10 mil anos) entende-
se que o endemismo biológico no Marajó seja pouco expressivo. Os processos de 
NomE CIENTÍFICO: Euterpe o/era cea Mart. 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Arecaceae 
Nos POPULARES: açaí 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS s ECOLÓGICAS: Estipes múltiplos, formando touceiras, podem atingir mais 
de 15m de altura. Atualmente talvez seja a planta com maior expressão socioeconômica da Amazônia. 
Esta palmeira é base da alimentação da população ribeirinha do Marajó e do estuário amazônico, 
sendo para muitos a principal fonte de renda, seja pela comercialização do fruto ou do palmito. Tem 
distribuição concentrada no estuário amazônico, no estado do Pará, mas com populações disjuntas 
na Venezuela, Colômbia, Equador, Suriname e Peru. 
Foto: Dário Amaral 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
diferenciação e especiação necessários para o surgimento de uma flora específica 
decorre de uma escala temporal muito mais ampla. 
Apenas uma espécie registrada no estudo, Hyptis crenata (salva do marajó) é 
considerada como endêmica, e trata-se de uma espécie herbácea com ocorrência 
comum nos campos da região, utilizada para fins fitoterápicos pelos habitantes locais. 
A composição florística das savanas amazônicas foi comparada por Miranda e 
Carneiro-Filho (1994) que numa análise de similaridade de gêneros (443), constataram 
diferentes níveis de afinidade florística entre áreas de savanas do Marajó (PA), Roraima 
(RR), Ariramba (PA), Humaitá (AM), Alter-do-Chão (PA), Monte Alegre (PA) e Carajás 
A). De maneira geral, as similaridades foram consideras baixas pelos autores. A menor 
similaridade foi de 29%, entre o Marajó e Alter-do-Chão, e a maior similaridade 
corresponde às savanas de Alter-do-Chão e Monte Alegre, em 54%. 
Os resultados apresentados por estes autores demonstram que similaridades 
florísticas mais altas não estão relacionadas à proximidade geográfica, muito pelo 
contrário, o Marajó, por exemplo, foi mais similar em relação às savanas mais 
distantes como Roraima (42%) e Humaitá (42%) quando comparadas àquelas do 
próprio Estado, como Alter-do-Chão (29%) e Monte Alegre (36%). 
Situação semelhante é aqui evidenciada, quando se compara a savana deste trabalho 
com a do município de Joanes (BASTOS, 1984), também no Marajó, distante 
menos de 100 km. Apenas nove espécies (14%) são comuns às duas áreas, sendo 
elas: Cura teila americana, Byrsonima crassifolia, Astrocaryum vulgare, Andropogon 
Ieucostachyus, Axon opus pubivaginatus, Axonopus purpusii, Desmodiutn barbatum, 
Rhychosphora cephalotes e Vismia guianensis 
Além dos exemplos citados acima, algumas outras espécies registradas neste estudo 
têm ocorrência comum nas savanas da Amazônia (MIRANDA; CARNEIRO-
FILHO, 1994) como: Anacardiutn occidentale, Heliconia psittacorum, Polygala 
adenophora, Sauvagesia erecta e Tibouchina aspera. 
71 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Pará 
Segundo Beard (1953) as manchas de savanas amazônicas formam uma "faixa de 
conexão" entre as savanas do escudo guianense e os cerrados do escudo brasileiro, 
sendo bastante similares florística e fisionomicamente, apesar das distâncias 
geográficas que as separam. Estas afinidades das savanas amazônicas com os cerrados 
do Brasil Central são igualmente apontadas nos estudos de Bastas (1984), nas savanas 
de Joanes (Marajó), registrando a ocorrência de algumas espécies comuns e em 
Miranda (1993), que constatou que todas as espécies arbóreas de Alter-do-Chão 
(município de Santarém, Pará) são comuns aos cerrados do Brasil Central. 
Para Ratter et ai. (2003), a diversidade alfa dos cerrados brasileiros (número de 
espécies ocorrendo em uma única comunidade) é frequentemente alta, 
contrariamente das isoladas savanas amazônicas, com exceção de Alter-do-Chão 
(Pará) e um sítio em Humaitá (Amazonas), que contém baixa diversidade florística, 
com registro de apenas 177 espécies em 58 áreas estudadas, das quais 77 são espécies 
de distribuição ampla, comuns na região nuclear do cerrado brasileiro. Segundo os 
autores, a diversidade alfa das savanas amazônicas raramente vai além de uma 
dúzia de espécies de árvores ou arbustos grandes. Utilizando técnicas de análise 
multivariada, o referido estudo reconhece sete grupos fitogeográficos para o bioma 
cerrado no país, sendo que as savanas amazônicas são citadas em dois destes grupos. 
Um grupo exclusivo, formando um conjunto à parte, considerado como áreas 
isoladas da Amazônia, e um outro (representado pelos cerrados próximos a serra 
das Andorinhas, divisa do Pará com o Tocantins) em bloco com outras áreas, 
envolvendo Norte-Nordeste, que agrupam áreas do extremo norte de Minas Gerais, 
Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí e Tocantins. 
De fato, a similaridade florística entre savanas amazônicas (MIRANDA; 
CARNEIRO-FILHO, 1994; este estudo) e do Brasil Central (RATTER et ai. 1992, 
1996) parece mais evidente entre gêneros e principalmente em relação às árvores 
com características xeromórficas, como é o caso principalmente das Quaiea, 
Byrsonima, Curatelia, Connarus, Bowdichia, Annona, Tabebuia e Anacardium. 
72 
13 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Fará 
Notts CIENTÍFICO: Ludwigia hyssopifolia (G. Don) Exeil 
FÍLLk BOTÂNICA: Onagraceae 
NOMES POPULARES: Não 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Erva de pouco mais de 20cm de altura, flores amarelas. São 
comuns nos campos do Marajó, associadas a terrenos arenosos. Trata-se de uma espécie de ampla 
distribuição no mundo, com registro para os continentes americano, asiático e africano. 
Foto: Dário Amaral 
74 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Pará 
Contrastando com as feições campestres, a paisagem florestal natural do 
Marajó é dominada pelas florestas aluviais de terra firme e de terras baixas,representada pelas várzeas estuarinas. A flora destas tipologias é, de maneira 
geral, comum em outras áreas da Amazônia com ocorrências destas paisagens 
florestais. O destaque, no entanto, são as palmeiras, pela diversidade e 
abundância, presentes inclusive nas florestas não inundáveis de terra firme. 
São elas: Astrocaryum mumbaca, A. vulgare, A. murumuru, Aualea maripa, Bactris 
mata/a, Desmoncus orthacanthus, Euterpe oleracea, Geonoma aspidifolia, G. baculifera, 
Iriartea exorrhiza, Manicaria saccifera, Mauritia flexuosa, Mauritielia aculeata, 
Oenocarpus bacaba, Oenocarpus distichus e Raphia taedigera. 
Segundo Oliveira (2005), as palmeiras são predominantes em algumas florestas 
na transição da Amazônia com outros biomas, em ambientes perturbados, 
próximos a comunidades indígenas ou tradicionais, e em formações de floresta de 
baixio, como a região deste estudo. Analisando diversos inventários na Amazônia, 
o referido autor destaca Eschweilera coriacea (mata-matá) como espécie de grande 
importância estrutural, sendo a única que aparece com grande densidade em 
levantamentos por toda a Amazônia. Esta espécie esteve presente em todas 
as feições florestais aqui amostradas, exceto nas várzeas. 
As várzeas ocorrem em toda a região, margeando os numerosos rios que drenam 
o arquipélago, sendo mais expressiva na porção sul do Marajó, principalmente 
entre o furo de Breves e o rio Atuá. A exploração de espécies de várzea no Marajó, 
principalmente Virola surínamensis, é uma atividade bastante antiga, sendo a 
região estuarina, com destaque para Breves, uma das cinco zonas madeireiras do 
Pará, responsável por 12% da produção de madeira em tora do Estado 
(VERISSIMO, 2002). 
Estas várzeas são, diariamente, inundadas por duas vezes, quando a maré oceânica 
empurra o volume de água do rio para o contra-fluxo, elevando a 2 m no verão 
75 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
(julho a novembro) até 4 m no período chuvoso do inverno amazônico (janeiro a 
abril). Além do fluxo diário das marés, as várzeas e campos baixos do Marajó são 
inundados por três a quatro meses durante o período chuvoso, quando a paisagem 
e a rotina de vida das populações marajoaras são totalmente alteradas. 
Para sobreviver neste ambiente inundado, algumas espécies são adaptadas, como 
Pterocarpus santalinoides (mututí), Pentaclethra macroloba (pracaxí), Symphonia 
giobulifera (anani), possuindo mecanismos de regulação osmótica da água, o que 
permite que suas raízes e caules suportem pelo menos 12 horas de inundação 
diária, inclusive com certo grau de salinidade (ALMEIDA et ai., 2004). 
A salinidade parece ser um fator de limitação para a diversidade de espécies de 
várzea na Amazônia, sendo menor nas áreas extremas do deita (no limite do oceano) 
em relação àquelas localizadas mais para o interior, no baixo amazonas (ALMEIDA 
et ai., 2004). Partindo deste pressuposto, as várzeas mais ao sul do Marajó, como 
as deste estudo, apresentam maior riqueza específica quando comparadas às várzeas 
do extremo norte da grande ilha, por exemplo, em relação os municípios de Chaves 
e Afuá (ALMEIDA etal., 2004). Esta análise mostra-se em concordância na comparação 
de riqueza de espécies arbóreas deste estudo (42 ssp) em relação a Chaves (36 ssp), 
porém contraditória em relação a Afuá (60 ssp). Todavia, há de se considerar as 
diferenças metodológicas de amostragem da vegetação aplicada aos referidos 
estudos que são absolutamente distintas. 
As maiores extensões de florestas de terra firme do Marajó estão concentradas no lado 
ocidental, correspondendo às mais altas cotas topográficas da região. Ocorrem, ainda, 
de forma pontual, nos terrenos mais baixos, ocupando faixas estreitas como neste 
estudo. As florestas de terra firme da Amazônia apresentam uma predominância de 
algumas famílias botânicas, principalmente Leguminosae (sensu lato), Lecythidaceae, 
Sapotaceae, Burseraceae e Chrysobalanceae (DUCKE; BLACK, 1954; OLIVEIRA, 
2000). Todas estas famílias estiverem igualmente representadas neste estudo. 0 
rã 
'II 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Ana/ás, ilha do Marajó, Pará 
NOME CIENTÍFICO: Mauritie/la armata (Mart.) Burret 
FAMÍLIA BOTÂNICA: Arecaceae 
Nos POPuIa.ss: caranã, buritirana 
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E ECOLÓGICAS: Palmeira de porte baixo, dificilmente ultrapassando lOm de 
altura. Ocorre preferencialmente em áreas abertas, como campos e campinas. Os estipes são cobertos 
de acúleos. Assim como o buriti, é uma espécie indicadora de água superficial, associada a nascentes 
e olhos d'água. Amplamente distribuída na Amazônia brasileira, nas veredas dos cerrados do Brasil 
Ce -itral; nos campos brejosos do nordeste, além de Bolívia, Venezuela, Equador, Guianas e Peru. 
Foto: Dário Amaral 
Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anaja's, ilha do Marajó, Pará 
destaque, no entanto, é conferido à Sterculiaceae, com seis espécies registradas, riqueza 
igual a Lecythidaceae e Sapotaceae. As espécies são Sterculia e/ata, Sterculia pruriens, 
Theobroma speciosum, Theobroma subincanum e Theobroma sylvestris. 
Cama et ai. (2005) analisaram agrupamentos florísticos entre comunidades arbóreas 
em diferentes locais do estado do Pará, utilizando para tal um banco de dados 
composto por 24 inventários em florestas de terra firme e 10 em floresta de várzea. 
As florestas de terra firme apresentaram maior riqueza de espécies arbóreas que 
as floresta de várzea, havendo uma maior tendência de agrupamento das florestas 
de terra firiTie em função da proximidade geográfica quando comparada às florestas 
de várzea. A maioria das espécies listadas como de ampla distribuição nos sítios 
investigados foram comuns neste estudo, como Dia//um guianense, Theobroma 
speciosuin, Tachigaiía myrmecophiia, Laetia procera, Brosimum guia nensis, Maniikara 
huber. Microphoiis venulosa, Goupia glabra e Saccogiotis guianensis. 
O arquipélago do Marajó é uma região fisiográfica com características ambientais 
singulares. Situa-se na foz do maior rio do mundo em volume d'água, o Amazonas, e 
sob a influência direta da dinâmica oceânica, em sua porção setentrional. Os efeitos 
provocados por esta conjunção de forças naturais podem ser dimensionados pela 
diversidade de ecossistemas existentes na região, tais como campos, savanas, florestas 
ombrófilas de terra firme, florestas inundáveis de várzea e igapó, manguezais e restingas. 
Esta complexidade de ecossistemas favorece o desenvolvimento de uma flora de 
elevada diversidade beta, com grande concentração de espécies exclusivas para 
cada ambiente. Curateila americana (caimbé) e Byrsonima verbascifoiia (orelha de 
burro) são dois exemplos. Ocorrem no Marajó apenas nas áreas campestres, com 
elevada incidência de luz solar e solos arenosos e bem drenados. Espécies como 
Pachira aquatica (mamorana), Pentaciethra macroioba (pracaxí) e Vatairea guianensis 
(impigeira), por sua vez, são tolerantes às inundações diárias das florestas de várzea 
que cobrem a região. Outras como Stryphnodendron purpureum (parica') e Tachigalia 
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Campos e florestas das bacias dos rios Atuá e Anajas, ilha do Mara/ó, Para 
myrmecophilla (tachizeiro) são espécies exuberantes da floresta amazônica e habitam 
os terrenos mais altos de terra firme. 
O Marajó é, em função desta diversidade e complexidade de habitas, um ambiente 
bastante vulnerável e suscetível às perturbações e desequilíbrios ambientais. No 
entanto, são intensos os impactos das ações antrópicas em atividades econômicas, 
principalmente a retirada de madeira e palmito das áreas florestadas e pecuária 
extensiva de gado bubalino e bovino nos campos naturais. 
A região foi classificada como área de extrema importância para a biodiversidade da 
Amazônia, no workshop para Avaliação de Ações Prioritárias para a Conservação da 
Biodiversidade Brasileira, promovido pelo MMA, em 1999 em Macapá. O arquipélago 
como um todo corresponde à uma unidade de conservação estadual (APA do Marajó,

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