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Elementos de Máquina Thierry Caique Lima Magalhães , 13 2 EIXOS E COMPONENTES DE EIXOS Neste segundo bloco serão apresentadas as características gerais de cada um destes componentes, assim como os critérios para realização de projeto mecânico, envolvendo o dimensionamento e a seleção dos materiais mais indicados para cada situação. Aqui, abordaremos o projeto, sobretudo pelo critério de resistência, porém também nos atentaremos à viabilidade econômica. 2.1 Eixos Os eixos podem conter engrenagens, estrias, polias e cames fabricados de forma integrada a ele. De forma geral, o projeto de dimensionamento de eixos envolve as seguintes cargas: Carregamento axial, flexão, torção e fadiga. Além de se aplicar os critérios de falha estáticos e dinâmicos. Outras considerações envolvem a análise de vibrações laterais e torcionais; flambagem; processos de fabricação; tratamentos térmicos; e a seleção do material. Isto irá determinar a maior ou menor influência dos outros parâmetros sobre o projeto do eixo. De acordo com o tipo de aplicação, carga, ambiente ou característica desejada é selecionado o material para confeccionar o eixo. O principal processo de fabricação usado em eixos é a usinagem (sobretudo o torneamento) para atingir as tolerâncias geométricas especificadas. Os eixos são processados por meio de aços (laminados à frio ou à quente), normalmente de baixo ou médio teor de carbono e que contêm outros elementos de liga. De acordo com o elemento de suporte utilizado (mancal de deslizamento ou rolamento), pode ser necessário utilizar um aço mais duro (menor teor de carbono). Algumas vezes utiliza-se ferro fundido ou nodular, em aplicações em que outras junções como, por exemplo, engrenagens forem integralmente fundidas com o eixo. Em ambientes corrosivos e/ou marítimos lançam-se aço inoxidável, Titânio, bronze, dentre outros metais. , 14 Não existe fórmula mágica para dimensionar um eixo para todas as situações de projeto. A melhor abordagem é a que consiste em estudar os projetos existentes, para entender como problemas similares foram resolvidos e, então por combinação dos melhores destes casos, resolver o seu próprio problema. Dimensionamento: Segue abaixo o processo de dimensionamento de um eixo rotativo (árvore) para transmissão de potência, independentemente da aplicação, baseado em critérios de falha estáticos e no conceito de potência. Aqui vamos analisar um eixo submetido a torção (torque) que normalmente é o principal tipo de carregamento sobre eixos. A potência (P), é definida como o produto entre o torque (T) e a velocidade angular/rotação (w). 𝑃 = 𝑇 ∗ 𝑊 (1) A velocidade angular/rotação é definida como o produto entre o número de voltas (radianos) e a frequência (f), que é o número de ciclos de rotação por período analisado. 𝑊 = 2 ∗ 𝜋 ∗ 𝑓 (2) Substituindo à equação (2) em (1), temos: 𝑇 = 𝑃 2∗𝜋∗f (3) Aplicando-se à equação da tensão de cisalhamento para torque e o conceito de tensão de cisalhamento admissível (máxima tensão que o material pode suportar sem falhar), temos: 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 𝑇∗𝑐 𝐽 (4) Em que a tensão de cisalhamento admissível pelo material é obtida pelo resultado da divisão entre o produto do torque (T) e o raio da seção transversal (c), pelo momento polar de inércia (J). , 15 𝐽 = 𝜋𝑑4 32 (5) A equação (5) representa a definição do momento polar de inércia para uma seção circular em função do diâmetro (d). 𝑑 = 2 ∗ 𝑟 (6) A equação (6) é a definição geométrica do diâmetro (d) em função do raio (r), substituindo as equações (3), (5) e (6) em (4), temos que: 𝑑 = √ 16∗𝑃 2∗𝜏𝑎𝑑𝑚∗𝜋2∗𝑓 3 (7) A equação (7) representa como determinar se o diâmetro de um eixo de seção transversal circular está de acordo com os critérios determinados anteriormente. Em casos em que o torque aplicado varia ao longo do eixo, deve-se aplicar o método das seções, construir o diagrama de momento torsor e calcular o torque máximo e inseri-lo nas equações acima. Os eixos apresentam restrições geométricas que determinam o desalinhamento máximo permitido para cada conexão (mancais de rolamento, mancais de deslizamento, engrenagens etc.). Sendo assim, o projetista pode projetar de acordo com a resistência e verificar a distorção, ou projetar de acordo com a distorção e verificar a resistência, ambos os caminhos devem chegar aos mesmos resultados. Lembrando que é conveniente utilizar as ferramentas CAD, para desenhar o eixo projetado e as técnicas FEA (Análise por elementos Finitos) para predizer as cargas e o comportamento do eixo. 2.2 Chavetas As chavetas são padronizadas pelo tamanho e pela forma em vários estilos: Chavetas paralelas - São as mais usadas. As padronizações da ANSI e ISO definem suas dimensões. , 16 Chavetas Cônicas - Possuem a mesma largura que as paralelas e suas conicidades são padronizadas em 1/8 in/ft. Chavetas Woodruff (meia lua) - São usadas em eixos menores. Elas são auto alinhantes, portanto são preferidas para eixos afunilados (estreitos). Os materiais mais empregados para a produção de chavetas são os aços de baixo carbono. Se o ambiente for corrosivo deve ser utilizado um material de sacrifício (galvanização) resistente a corrosão. Os rasgos de chaveta são realizados por fresas de corte que cisalham o material do eixo. A largura (w) e a profundidade/altura (h) da chaveta são padronizadas de acordo com o diâmetro do eixo, por meio de catálogos e handbocks. Sendo assim, apenas o comprimento (1) da chaveta é uma variável de cálculo. As chavetas podem falhar por cisalhamento e esmagamento. As falhas por cisalhamento ocorrem quando a chaveta é cisalhada na sua largura na interface cubo da engrenagem-eixo, enquanto as falhas por esmagamento/contato ocorrem quando a chaveta é amassada na região em que o cubo ou eixo está em contato com ela (tensão de compressão). Dimensionamento: Segue-se abaixo o processo de dimensionamento de uma chaveta retangular ou quadrada para transmitir potência a uma engrenagem ou polia que deverá ser acoplada sobre o eixo, dependendo da aplicação. A chaveta dever ser projetada segundo seus dois critérios de falha (cisalhamento e esmagamento). A tensão de cisalhamento admissível para o material em que será feita a chaveta é a razão entre a força (F) gerada pelo torque do eixo e a área cisalhada. τadm = F Acis (8) A tensão de cisalhamento admissível também pode ser definida como a razão entre o limite de resistência ao cisalhamento do material (Ssy) e o fator de segurança/projeto (FS): 𝜏𝑎𝑑𝑚 = 𝑆𝑠𝑦 𝐹𝑆 (9) , 17 O limite da resistência ao cisalhamento do material é previsto pela teoria da distorção da energia da seguinte forma: 𝑆𝑆𝑌 = 0,577 ∗ 𝑆𝑦 (10) A área cisalhada é obtida por meio de uma vista lateral de chaveta, como sendo o produto entre a largura (w) e o comprimento (1). 𝐴𝑐𝑖𝑠 = 𝑤 ∗ 𝑙 (11) A partir da definição de torque (T), podemos determinar a carga (F) sob a qual a chaveta está submetida para transmitir a potência desejada. 𝐹 = 𝑇 𝑟 (12) Sendo o raio (r) a distância perpendicular entre o ponto de aplicação da força e o ponto onde está atuando o momento (torque) do eixo. Combinando-se as equações (1), (6), (9), (12) com a equação (8) e depois substituindo-se as expressões na equação (11), temos que: 𝑙 = 𝐹 𝜏𝑎𝑑𝑚∗𝑤 (13) A equação (13) representa o comprimento que a chaveta deve ter para suportar o cisalhamento. A tensão de esmagamento (compressão) admissível para o material da chaveta é definida como sendo a razão entre a força (F) gerada pelo torque do eixo e a área esmagada. 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝐹 𝐴𝑒𝑠𝑚 (14) A tensão de esmagamento admissível também pode ser a razão entre o limite de escoamento do material (Sy) e o fator de segurança/projeto(FS). 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑆𝑦 𝑛 (15) A área esmagada pode ser observada por meio de uma vista frontal da chaveta, como sendo o produto entre o comprimento (l) e a metade da altura/profundidade (h). , 18 𝐴𝑒𝑠𝑚 = 𝑙 ∗ ℎ 2 (16) Combinando-se as equações (1), (6), (12), (15) com a equação (14) e substituindo as expressões na equação (16), temos que: 𝑙 = 2∗𝐹 ℎ∗𝜎𝑎𝑑𝑚 (17) A equação (17) representa o comprimento que a chaveta deve ter para resistir ao esmagamento/contato. Após calcularmos o comprimento necessário para os dois modos de falha aos quais as chavetas estão submetidas, selecionamos o maior valor encontrado entre eles como sendo o comprimento de fato da chaveta, pois assim ela poderá se conservar tanto ao cisalhamento quanto ao esmagamento. 2.3 Estrias Quando é preciso transmitir mais torque do que o fornecido pelas chavetas, as estrias podem ser usadas como alternativa. Estrias são basicamente, chavetas construídas ao longo do eixo, formadas pelo contorno externo do eixo e do contorno interno do cubo, com formas semelhantes à dentes. Podem ter estrias de seção transversal quadrada ou de involuta. A SAE e a ANSI padronizam os eixos estriados. As estrias normalmente são feitas por usinagem (geralmente fresamento), sendo muitas vezes aplicadas em caixas de marchas, motores e equipamentos robóticos. Algumas das vantagens das estrias são resistência máxima na raiz do dente, precisão de forma do dente devido ao uso de cortadores padronizados e bom acabamento superficial das superfícies usinadas pelo processo de padronização de cortes de engrenagem. Uma das maiores vantagens das estrias sob as chavetas é a capacidade de acomodar com folga apropriada grandes movimentos axiais entre o eixo e o cubo ao mesmo tempo em que transmite torque. O carregamento em estrias é tipicamente torção pura, tanto variada quanto constante, embora possa ocorrer flexões sobrepostas, uma boa prática de projeto minimizará os momentos fletores pela colocação de mancais e manutenção das estrias em balanço. , 19 Acomplamentos Os acoplamentos são elementos usados para a interligação de eixos, tendo a função de ligar eixos de mecanismos diferentes; permitir a sua separação para manutenção; ligar peças de eixos (que pelo seu comprimento não seja viável ou vantajosa a utilização de eixos inteiriços); minimizar as vibrações e choques transmitidos ao eixo movido ou motor; compensar desalinhamentos dos eixos; ou introduzir flexibilidades mecânicas. Os acoplamentos podem ser divididos em duas categorias gerais (rígidos e flexíveis). Nos acoplamentos rígidos, nenhum desalinhamento é permitido entre os eixos. São utilizados quando se necessita de precisão e a fidelidade de transmissão é requerida. Máquinas automatizadas e servomecanismos são exemplos de aplicação. Enquanto os acoplamentos flexíveis permitem desalinhamentos, podem ocorrer os seguintes tipos: Axial, angular, paralelo e torcional. Estes desalinhamentos podem surgir de maneira individual ou combinada. Tabela 2.1 - Características Gerais dos tipos de acoplamentos Fonte: Elaborado pelo autor. , 20 A variedade de acoplamentos disponíveis requer do projetista a busca de informações mais detalhadas a respeito das capacidades deles junto aos fabricantes, para selecionar o tipo de acoplamento mais indicado a cada aplicação. Os fabricantes podem suprir, em geral, dados sobre a capacidade de carga e alinhamento de acoplamentos específicos. Conclusão Os eixos são usados em todas as máquinas de movimento rotativo. O aço é a escolha usual de material para obter rigidez suficiente para as pequenas deflexões. Normalmente, os eixos estão submetidos a cargas de torção, flexão e carregamento axial (Tração e compressão) e fadiga, podendo utilizar em seu dimensionamento critérios de falhas: estáticos e/ou dinâmicos. O principal tipo de carregamento sobre eixos é a torção, podendo ser variável ou constante. Várias técnicas de dispositivos como: chavetas, estrias e acoplamentos são utilizados para unir eixos a outros elementos. As chavetas são padronizadas ao diâmetro do eixo, enquanto as estrias são aplicadas quando se faz necessário transmitir mais potência do que a fornecida pelas chavetas. Os acoplamentos são utilizados para ligar eixos de mecanismos diferentes, permitindo ou não desalinhamentos geométricos. REFERÊNCIAS NORTON, R. L. Projetos de Máquinas: Uma Abordagem Integrada. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. SHIGLEY, J. E.; BUDYNAS, R. G.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. 8 ed. São Paulo: AMGH Editora Ltda, 2011.
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