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gênero e sexualidade nas ciências sociais

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GÊNERO E SEXUALIDADE NAS CIÊNCIAS SOCIAIS: 
1. As diferenças de gênero e a biologia. 
Ser homem/mulher: associação com as diferenças do corpo. 
A situação do homem/mulher trans: o desejo de mudança do corpo e da 
identidade sexual. 
Construção da identidade (e sim do desejo) desde a infância, como afirma 
os cientistas, como afirma os cientistas sociais, o gênero é algo produzido 
pelo humano por meio das suas interações. Diversos aspectos da nossa 
vida cotidiana são construídos a partir do gênero. 
As diferenças de gênero se constroem diretamente a desigualdade e as 
relações de poder em cada sociedade, e são dentre os fenômenos 
humanos e sociais, os que mais se relacionam a natureza e ao biológico. 
2. As diferenças de gênero. 
Sexo: diferenças quanto ao padrão fisiológico, anatômico e natural 
(feminino e masculino). 
Gênero: diferenças psicossociológicas e culturais entre indivíduos do sexo 
masculino e feminino, corresponde aos padrões sociais, históricos 
construídos de “masculinidade” e “feminilidade”. Há diferenças entre 
homens e mulheres que não repousam em caracteres biológicos. 
Três grande interpretações sobre o gênero/sexo: o peso do fator biológico 
no desejo/identidade sexual, a socialização na definição e aprendizagem 
dos papéis de gênero e outra que diz que as diferenças de sexo/gênero 
possuem base biológica. 
3. A interpretação biológica do sexo/gênero. 
Alguns defendem que aspectos de nossa biologia como os hormônios, os 
cromossomos, o tamanho do cérebro, a genética é responsável pelas 
diferenças de comportamento entre homens e mulheres. São diferenças 
existentes e visíveis em todas as culturas, como o fato dos homens se 
dedicarem a caça e por isso serem mais agressivos do que as mulheres, 
devido a maior presença de testosterona etc. 
Segundo Elstaihn e Mead isso não se sustenta, se levar em conta que há 
sociedade em que há homens mais dóceis e passivos e mulheres mais 
agressivas. O fato de haver características mais universais, não significa 
que seja o fator biológico, mas sim cultural, difundido e generalizado que 
provoca tais características. 
Apesar de todo o esforço, não há provas suficientes de que a biologia 
determina comportamentos mais complexos entre homens e mulheres, 
mas apenas diferenças sutis ligadas talvez ao desejo sexual, reações 
emotivas e sensitivas provocadas pela atividade hormonal. 
A socialização do gênero: o ser humano nasce com um sexo e desenvolve, 
ao longo da vida seu gênero. Em contato e convívio com os agentes 
sociais, ser humano vai interiorizando as expectativas, atribuições, 
sentidos e normas correspondentes ao seu sexo, logo as diferenças de 
gênero são geradas socialmente. 
Se as diferenças são geradas socialmente, as sociedades criam padrões de 
desigualdade na relação entre os gêneros, dada a atribuição diferenciada 
de papéis. Se o individuo prática fora daquilo que sua sociedade 
determina como sendo ligado ao sexo, comportamento tido como 
desviante, busca-se a explicação em algo em uma socialização inadequada 
ou irregular. 
A crítica a esse modelo se deve ao fato de negar as construções e 
interferências individuais na definição e negação dos papéis sexuais 
impostos por cada sociedade. Pessoas soa agentes ativos que modificam o 
conteúdo sexual. Pais podem transmitir uma educação de gênero não 
sexista. É um desafio superar as determinações impostas pela sociedade, 
pois esses papeis se cumprem e se realizam no cotidiano. 
4. A construção social do sexo/gênero. 
Para muitos cientistas sociais, não só gênero é construído socialmente, 
mas o próprio corpo sofre diversas influências sociais e culturais. Atribui-
se aos corpos outros significados para além do natural, pois cada individuo 
pode optar por construir e reconstruir seus corpos. 
Rejeição a qualquer base biológica na construção do gênero e do sexo. As 
diferenças do comportamento surgem diante das relações de cada 
individuo com as diferenças de sexo percepcionadas por cada sociedade. 
Desigualdade de gênero: diferenças de gênero raramente são neutras, 
pois é uma forma de estratificação social, estruturando as oportunidades 
e as hipóteses de vida de cada indivíduo, da família ao estado e demais 
instituições sociais. 
Explicações: segundo a teoria funcionalista, as desigualdades na relação 
entre homem e mulher se deve a maior estabilidade e integração social. 
Tal visão nega os conflitos existentes, bem como mostra uma visão 
conservadora e sexista sobre o mundo social. George Murdock e 
constatação da logicidade da divisão sexual do trabalho para a 
organização social; Talcott Parsons e a divisão entre papéis 
expressivos(femininos) e instrumentais(masculinos); John Bowlby e a 
centralidade do papel de mãe na socialização primária. 
Críticas feministas e abordagens funcionalistas: divisão de tarefas entre os 
sexos não possui base natural e biológica, mas social e histórica; 
regularidade e desemprenho escolar, boa relação com os filhos, depende 
entre outras coisas do tempo destinado ao acompanhamento por ambos 
os sexos e que a tese da “privação materna” é pura conveniência para os 
homens. 
As teorias feministas: embora as feministas se preocupem com a 
totalidade da posição subalterna das mulheres na sociedade, existem 
muitas posições divergentes quanto a natureza dos processos que geram 
essa desigualdade, como o sexismo, patriarcado, capitalismo, racismo etc. 
Três perspectivas feministas: liberal, radical e negra. 
Feminismo liberal: para estas as desigualdades decorrem de construções 
sociais e culturais existentes, e não num sistema ainda maior de poder e 
estrutura de desigualdade. As feministas liberais atacam a desigualdade 
de oportunidades de acesso a renda e emprego, nas instituições 
educativas e nas comunicações. As feministas liberais defendem reformas 
graduais no sistema. Apesar de suas contribuições, seus críticos acusam de 
não reconhecerem as causas sistêmicas da opressão sobre a mulher, 
dando apenas uma imagem parcial da desigualdade de gênero. As 
feministas radicais acusam as liberais de aceitarem e até incentivar uma 
sociedade desigual e sua competitividade. 
Feminismo radical: os homens são responsáveis pela exploração das 
mulheres e se beneficiam disso através do patriarcado, fenômeno 
universal, trans-histórico e cultural. Essa análise foca na família, como 
base da exploração masculina através do trabalho doméstico e enquanto 
grupo, os homens negam as mulheres melhores oportunidades em cargos 
de poder e influência na sociedade. Embora haja divergências na análise 
do patriarcado, é consenso que ele envolve algum tipo de apropriação do 
corpo e da sexualidade das mulheres. Shulamith Firestone91971) os 
homens controlam as mulheres na reprodução e educação dos filhos. É 
“classe sexual” que precisa emancipar-se do modelo de família nuclear e 
das relações que caracterizam. 
Outras apontam a violência masculina como preponderante para a 
supremacia dos homens sobre as mulheres, seja o estupro, a violência 
doméstica, o assédio sexual, que não são casos isolados; a violência 
simbólica através da comunicação não-verbal, interrupção e o bem-estar 
das mulheres em público, imposição de padrões de estética corporal e a 
excessividade e exclusividade da erotização e objetificação sexual do 
corpo feminino que acompanha a moda, a fim de entreter e agradas os 
homens. 
Para as feministas radicais só a eliminação do patriarcado resultará em 
maior equidade sexual. Ao trazer a discussão do patriarcado como central 
para o debate, as feministas radicais também alimentam muitas objeções 
como no uso adequado do termo patriarcado, como seu uso excessivo 
pode negar as variações étnicas, culturais, raciais e históricas sobre a 
subordinação feminina, bem como um risco de reducionismo biológico. 
Feminismo negro: as experiencias de subordinação da mulher branca, 
ricas ou classe médianão se aplicam igualmente as mulheres negras e dos 
países emergentes, pois estas reflexões não percebem as divisões étnicas, 
logo não há uma opressão de gênero, “uma e homogênea”, como relata 
autoras como Ângela Davis. O peso do passado de escravatura sob base 
racial, da segregação racial no passado anterior a luta pelos direitos civis; 
segundo Hooks, enquadramentos como aqueles dados na centralidade da 
família, pois existem outras formas de opressão sobre as negras em outros 
contextos. O feminismo negro, por sua vez, também compreende o 
elemento de classes envolvido na produção da subordinação das 
mulheres, porto que as mulheres negras se encontram em desvantagem 
ainda maior, por conta do sexo, da cor e da classe social. 
5. Feminilidades, masculinidades e interações. 
Apesar do foco dos cientistas sociais sobre a feminilidade, desde os anos 
80, vem emergindo estudos sobre a masculinidade, a partir das mudanças 
na família e no papel das mulheres, como essas mudanças têm impacto 
cada vez mais as relações entre os gêneros, a construção da identidade 
masculina e coo esses papeis prescritos impactam os homens. 
Connell e a “ordem de gênero”: masculinidades incorporam um elemento 
crítico na ordem de gênero e não podem ser entendidas isoladamente da 
construção da feminilidade; p capitalismo ainda se organiza sobre a ordem 
patriarcal, seja do nível individual ao institucional; gênero e suas relações 
são produções, produtos e práticas cotidianas. 
A ordem de gênero se da através da relação entre três fatores: trabalho, 
poder e cathexis(relações pessoais/sexuais: trabalho em relação a casa e o 
local/mercado de trabalho, o poder diz respeito ao estado, as ideologias 
em disputa, as autoridades e por fim a carthexis corresponde as 
intimidades, o casamento, a sexualidade e a educação infantil. 
Para Connel, existe o regime de gênero, isto é, o desempenho das 
relações que levam em conta os três fatores interrelacionados, em cada 
contexto, como por exemplo a escola. 
A hierarquia de gênero: ao longo da sociedade existem muitas expressões 
diferentes de masculinidade e feminilidade, onde no topo dessa sociedade 
está a “masculinidade hegemônica” a qual está devidamente relacionada 
ao casamento/união civil e a heterossexualidade que embora seja 
inatingível, muitos homens se baseiam nela. Portanto assim uma 
masculinidade cúmplice. 
Existiria uma feminilidade enfatizada que é o complemento desejada pela 
masculinidade hegemônica, que serve para conciliar os interesses e 
desejos dos homens, como a receptividade sexual entre as mais jovens e a 
maternidade entre as mais velhas. Essas imagens continuam a dominar os 
meios de comunicação de massa e publicidade. 
As feminilidades resistentes: oprimidas e esquecidas pela história, no caso 
as lésbicas, prostitutas, celibatárias, parteiras, bruxas, operárias e 
feministas. 
Sexo e gênero seriam, portanto, termos em construção contínua, em 
disputa, sendo que suas perspectivas estão em ajuste constante. Para 
Connell estamos atravessando “tendências de crise”: crises de 
institucionalização, dada as rupturas e fissuras na dominação masculina, 
agravadas com a crise do estado e da família, a crise da sexualidade com a 
fissura da heterossexualidade dominante, e a crise da formação dos 
interesses com o avanço das pautas LGBTQI+, direito das mulheres e anti-
sexismo. 
6. Masculinidades em transformação 
A “masculinidade tradicional” está em vias de extinção, com avanço do 
mercado de trabalho, o número de divórcios, pois se antes gozava de 
insegurança agora múltiplas forças o deixam inseguro perante a 
sociedade, como o aumento da criminalidade e maior liberdade feminina, 
no trabalho e na vida pessoal. 
Susan Falludi e a crise do sentido: as mudanças em relação a vida para o 
consumo, a modernização tecnológica, a globalização, romperam e 
desampararam esse homem que acreditava num futuro seguro, onde se 
sentem mais desvalorizados, fato que os meios de comunicação de massa, 
com a mudança das representações anteriores em relação aos papeis 
sexuais, é a crise do “homem rambo” e a emergência do “homem novo”. 
7. A sexualidade humana 
Antes encarada apenas como meio para reprodução humana, a 
sexualidade agora passa a ser encarada como uma dimensão da vida que 
cada um deve desenvolver, agora há muito mais aceitação a outras 
orientações sexuais e comportamentos sexuais, numa variação de 
contextos sociais. 
Antes, os cientistas sociais só levavam em conta as formulações de 
biólogos, sexólogos, médicos investigadores sobre a sexualidade, por se 
tratar de um tema de foro íntimo. É claro que existem fatores biológicos 
na explicação das ações sexuais (questões evolucionárias, maior 
longevidade da atividade sexual entre os homens, a busca feminina por 
parceiros mais estáveis). Todavia novos estudos apontam que a 
infidelidade feminina é igualmente existente no mundo animal, contudo 
essas explicações precisam ir além pois a sexualidade humana é 
significativa. 
As sociedades, a maioria são heterossexual, sendo ela a base da família e 
da reprodução sexual, porém sempre existiu as diversas práticas sexuais 
“minoritárias”, como bem define Judith Lorber: homens e mulheres 
hétero-cis, homens homoafetivos, mulheres homoafetivas, homens 
bissexuais, mulheres bissexuais, ......., somos polimorfo sexualmente. Cada 
sociedade define normas e interditos sobre as práticas sexuais, 
aconselhando umas e reprovando outras. Cleallan Ford e Frank Beach 
mostraram as enormes variações de práticas e comportamentos sexuais, 
que informam sobre o tempo/prazo da prática sexual, número de 
parceiros, tabus, uso de acessórios etc. 
Também variam entre os padrões de desejo e atratividade sexual, como a 
estética corporal, beleza feminina/masculina, com ênfase a fisionomia, 
anatomia da genitália, cor dos olhos, boca, pé, técnica de sedução e 
erotismo. 
No ocidente, a cultura erótica e sexual foi bastante moldada pelo 
cristianismo, apesar de no passado e hoje haver opiniões divergentes 
sobre, durante muito tempo, a visão dominante era da condenação a toda 
prática que não estivesse relacionada a reprodução, houve quem reagisse 
a essa visão e buscasse satisfação sexual fora do casamento. No sec XIX, os 
pressupostos religiosos passaram a ser substituídos pelos saberes 
médicos, contudo a opinião se assemelhava a igreja somada a argumentos 
físicos de fraqueza, perda de concentração, debilitante. Reinava os 
interditos e hipocrisias, dada o aumento da prostituição e do adultério. 
Década de 60 e a “revolução sexual”: incentivo a atividade sexual antes do 
casamento, disputas pela narrativa contra a medicina/religião, uso e 
difusão da pornografia, erotismo nas artes, cinema, literatura; a 
contracultura hippie, a invenção da pílula anticoncepcional e melhora de 
outros métodos contraceptivos, independência feminina em relação as 
masculinidades hegemônicas. 
Estudo do sexo por Alfred Kinsey: documentação da variedade sexual e 
das práticas sexuais, mostrando ainda mais o efeito e a crise de uma moral 
repressora e da hipocrisia sexual. 
Mudanças: atividade sexual desde a adolescência e variada, maior 
liberdade sexual feminina e busca pelo prazer nas relações, inadequação e 
mudança masculina em relação as expectativas do sexo” 
Novas pesquisas apontam dados sobre o conservadorismo sexual, sexo na 
terceira idade (existem mais de 65% no brasil que ainda assumem fazer 
sexo ao menos uma vez por semana.) 
8. O avanço da sexualidade não-hétero 
Toda e qualquer sociedade há homossexualidade e homoafetividade, 
assim como a bissexualidade e biafetividade não são doenças, nem estão 
associadas a qualquer tipo de distúrbio psiquiátrico e do mesmo modo 
como há racismo e o sexismo, se categoriza indivíduos não-
heterossexuais, medo e desprezo a gays, lésbicas, bis e trans se conferem 
em homofobia, transfobia, bifobia e lesbofobia.Apesar dos avanços numa cultura de maior tolerância, ainda são graves os 
crimes de ódio contra pessoas LGBT+ 
Certos comportamentos tomados por indivíduos LGBT+ de rejeição ao 
“lado afeminado”. Pi da afeminação extravagante. Os efeitos da aids e o 
atraso na revolução e tolerância a diversidade sexual. 
Avanço das utas e movimentos LGBT+ pelo mundo afora por casamento e 
união civil, centros de apoio e amparo a comunidade, direitos civis e 
combate a homofobia na Holanda, Bélgica, Alemanha, para que se tenha 
os mesmos direitos de herança, participação em políticas sociais e demais 
benefícios econômicos. 
Sobre a prostituição: dentre as ocupações mais antigas da humanidade, a 
prostituição ocupa bastante espaço no debate, posto que tem relações 
com o avanço da indústria e modernidade, e hoje com os meios 
tecnológicos informacionais-sites, blogs, aplicativos de busca de 
contratação de acompanhantes e parceiros sexuais contratados. 
A prostituição ainda ocorre do aumento da pobreza e agora, da incerteza 
laboral para muitas mulheres no primeiro e terceiro mundo. Prostituição 
ocasional e contínua e contexto ocupacional- prostitutas de clubes. 
Regularização e proteção: países como Holanda já preveem legislação e 
ações de estado para proteger e amparar, em outros é proibida e apenas a 
profissão que oferece é punida, com o cliente NADA ocorre.

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