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Resumo Teórico - Laboratório de Habilidades I (MD344) Daniella von Zuben - Medicina 56 Fonte: Apostila Oswaldo Cruz de Urgências Traumáticas 1) Conceitos importantes: Biomecânica do trauma: importante para avaliar o possível mecanismo das lesões por movimento, adquirindo informações sobre as características envolvidas no evento traumático para a análise de possíveis lesões. Troca de energia: a partir das leis de Newton e da energia cinética, é possível afirmar que, em traumas, ocorre transferência de energia do movimento, influenciando muito na gravidade das lesões. - Devido a energia cinética, a velocidade influencia diretamente na transferência de energia, atuando também diretamente nas lesões; - Em toda lesão por movimento, há uma desaceleração repentina, podendo levar a lesões internas pela continuidade do movimento pelos órgãos internos, seguindo as leis físicas, até serem parados pelas estruturas do corpo desacelerado. Trauma fechado/contuso: o impacto se distribui externamente ao corpo; ocorrem os movimentos de aceleração e desaceleração; deve-se avaliar tanto o mecanismo de trauma que gerou a transferência de energia cinética como o uso de equipamentos de segurança (cinto, airbag, capacete). - Colisões automobilísticas: deve-se considerar os tipos de impacto (frontal; posterior; lateral; angular). Na colisão frontal, soma-se a velocidade dos dois veículos que colidiram, aumentando a energia e o risco de lesões; já no capotamento, pode haver associação de mecanismos de impacto; quando há ejeção do veículo, é mais difícil ter informações do trauma e o risco de morte é 25 vezes maior. - Atropelamento: a energia cinética do objeto atropelante é transferida para a vítima atropelada, sendo a massa do atropelante maior que a do atropelado. Logo, haverá maior transferência de energia, tendo 3 fases: ● Fase 1 - impacto inicial nas pernas ou quadril de adultos; em crianças, impacto no tronco ou cabeça, podendo rolar para baixo do veículo ● Fase 2 - tronco rola sobre o carro ● Fase 3 - queda ao solo, geralmente de cabeça - Quedas: em grandes alturas, ocorre grande transferência de energia e grande desaceleração. Trauma aberto/penetrante: há a entrada de um objeto dentro da vítima - Ferimento por arma branca (FAB): originados por facas, estiletes, etc; maioria dos agressores são do sexo masculino e seguram o instrumento de forma que as agressões ocorrem de baixo para cima e do lado direito da vítima (maioria da população é destra); ao penetrar a vítima, o instrumento forma um cone de lesão, ampliando sua área. Importante: em situação de atendimento de vítima com objetos encravados, não se deve retirar o objeto, pois pode destamponar ferimentos que a presença do objeto evitava que sangrassem continuamente; a vítima deve ser imobilizada da melhor forma para evitar movimentação durante o transporte e o objeto deve ser retirado no centro cirúrgico. - Ferimento por projétil de arma de fogo (FPAF): o projétil apresenta uma velocidade de saída e a energia cinética se transforma; ocorre deformação dos tecidos, formando uma cavidade pelo percurso do projétil (cavitação); na área cavitada, ocorre dissipação de calor, podendo originar outras lesões; o projétil também pode apresentar fragmentação; é imprescindível avaliar os orifícios para determinar o trajeto provável do projétil e se há mais de um no corpo, além de quais orifícios foram de entrada e de saída: na entrada, as bordas são arredondadas, enquanto que na saída, as bordas são mais alargadas; área de queimadura ao redor do orifício indica que o disparo ocorreu próximo da vítima. Explosões: as lesões ocorrem em quatro fases: lesões primárias (onda de pressão diretamente no organismo); lesões secundárias (lesão por fragmentos e objetos que atingem a vítima); lesões terciárias (projeção do corpo da vítima em objetos); lesões quaternárias (queimaduras e lesões térmicas). 2) Atendimento Inicial ao Traumatizado - Avaliação Primária Deve-se seguir uma sequência de prioridades, de forma a avaliar as situações que geram maior risco de morte. Para sistematizar as prioridades, é necessário conhecer o mecanismo de trauma, promover uma avaliação inicial rápida através dos sinais vitais e achados do exame físico, identificar os diagnósticos possíveis, determinar imediatamente medidas eficazes para o restabelecimento dos sinais vitais (quando comprometidos). Para determinar as prioridades no atendimento, deve-se seguir a sequência ABCDE: A - Airway: vias aéreas com proteção da coluna cervical B - Breathing: ventilação e respiração C - Circulation: circulação com controle de hemorragia D - Disability: disfunção, estado neurológico E - Exposure: exposição com controle da hipotermia Caso seja detectada alguma anormalidade, esta deverá ser resolvida antes da progressão para a próxima letra, podendo-se voltar ao início para reavaliação, mas não progredir. Para avaliar rapidamente um traumatizado, basta iniciar um diálogo com ele, perguntando seu nome e o que aconteceu. Se as respostas forem satisfatórias, o paciente não apresenta comprometimento grave de A, B, C, D. Daniella von Zuben - Medicina 56 Branda Destacar O primeiro passo do atendimento ao traumatizado é avaliar os 3 “S”: Segurança, Cena (“Scene”) e Situação. Em ambiente pré-hospitalar, é preciso avaliar a segurança da cena e é essencial a segurança individual. a) Airway - vias aéreas com proteção da coluna cervical: Com a mão protegendo devidamente a cabeça do paciente, deve-se iniciar a conversa com o paciente para avaliar suas vias aéreas. Em caso de resposta adequada, o paciente encontra-se com as vias aéreas desobstruídas (pérvias). Em caso de ausência de resposta ou resposta insatisfatória, há possibilidade de obstrução das vias aéreas, devendo-se intervir: - Primeiro passo: determinar se há algum corpo estranho obstruindo o fluxo aéreo e, se houver, removê-lo para desobstruir a passagem de ar. - Segundo passo: observar se o paciente apresenta “queda da língua”, o que pode obstruir o fluxo de ar devido à obstrução da orofaringe. Se apresentar, há duas manobras simples para manter a desobstrução posterior e permitir a entrada de ar: ● Elevação do mento (chin lift) ● Tração da mandíbula (jaw thrust) Uma forma mecânica de manter as vias aéreas pérvias para o tratamento temporário da queda da língua é o uso da cânula orofaríngea (cânula de Guedel), usada em pacientes inconscientes e sem o reflexo do vômito. - Terceiro passo: definir a necessidade ou não de via aérea definitiva, obtida através de intubação orotraqueal (IOT) ou nasotraqueal (INT), utilizando um dispositivo traqueal com balonete insuflado; na impossibilidade de IOT ou sua contraindicação, deve-se obter uma via aérea cirúrgica como a cricotireoidostomia ou traqueostomia. Na impossibilidade de IOT, porém com possibilidade de ventilação, não havendo reflexos de vômito, pode-se utilizar temporariamente algum dispositivo supraglótico, como a máscara laríngea. Durante todo os processo, deve-se manter a proteção da coluna! A cabeça não pode ser rodada e o pescoço não pode ser hiperestendido ou hiperfletido. Posteriormente, é colocado o colar cervical. Antesde prosseguir o ABCDE, nos casos em que não foi indicada via aérea definitiva, deve-se ofertar oxigênio com máscara com reservatório, com fluxo de 10 a 15 L/min. b) Breathing - ventilação e respiração: Para avaliar, realizar: (Não foi dado em aula) ● Inspeção: avaliar deformidades do tórax, assimetria na ventilação e ferimentos ● Palpação: notar crepitações ósseas e enfisema subcutâneo ● Ausculta: determinar a forma que o ar está entrando, simetria, ausência de ausculta Daniella von Zuben - Medicina 56 ● Percussão: no hipertimpanismo, há presença de ar no espaço pleural, enquanto que na macicez (som abafado), há presença de sangue. - Pneumotórax Hipertensivo: pneumotórax é a presença de ar no espaço pleural; quando ocorre escape aéreo e o pneumotórax aumenta progressivamente pode ocorrer colabamento pulmonar (pneumotórax hipertensivo). Em casos mais graves, pode haver desvio de mediastino contralateral e sinais de choque devido ao comprometimento venoso. O diagnóstico é feito por sinais clínicos, sem utilizar imagem, como ausculta pulmonar abolida no hemitórax acometido, hipertimpanismo à percussão e, nos casos mais graves, presença de estase jugular (jugular saltada - turgência jugular) e choque hipotensivo. Tratamento: descompressão torácica com dispositivo para acesso venoso periférico calibroso no segundo espaço intercostal, até a drenagem de tórax. - Pneumotórax Aberto: acontece quando há um grande ferimento penetrante no tórax, com diâmetro maior ou igual a ⅔ do diâmetro da traquéia; o ar tende a entrar pela porção com menor resistência, entrando pelo ferimento e não pelas vias aéreas, gerando colabamento pulmonar. Curativo de 3 pontos: curativo quadrado realizado com algum material impermeável (plástico), sendo fixados 3 lados para ocorrer mecanismo de válvula e o ar consiga sair; é um procedimento feito antes da drenagem de tórax, não deve-se usar o próprio ferimento. - Hemotórax Maciço: decorre da presença de sangue no espaço pleural; é dito maciço quando acomete um hemitórax inteiro, com mais de 1500 mL de sangue. A ventilação no lado acometido estará ausente, sem ausculta, macicez à percussão (som tampado, maciço). O diagnóstico é clínico, sem métodos de imagem e a conduta é a drenagem do tórax. - Tórax Instável: ocorre quando há presença de fratura em 2 ou mais costelas consecutivas em 2 ou mais lugares, gerando segmento do tórax “flutuante”, fazendo movimento contrário ao da respiração. Observa-se assincronia do movimento → Respiração Paradoxal. Tratamento: analgesia agressiva, associado ao suporte ventilatório; a indicação da via aérea definitiva não é obrigatória. c) Circulation - circulação com controle da hemorragia: A perda de sangue faz com que não ocorra oxigenação adequada (hipoxemia), produzindo ácido lático, levando à acidose sistêmica. Choque: caracterizado por hipóxia tecidual; no trauma, normalmente é hipovolêmico (hemorrágico). Pode ser classificado de I a IV, sendo importante para reposição volêmica. - Primeiro passo: determinar os sinais vitais através da monitorização (FC, PA e estado mental). - Segundo passo: estimar a perda volêmica baseada no grau de choque (perda sanguínea em % e mL). Daniella von Zuben - Medicina 56 - Terceiro passo: reposição volêmica do paciente, a partir de 2 acessos venosos calibrosos, periféricos e curtos; procedimento rápido. Em todos os graus, ocorre a reposição volêmica com cristalóides (1,5 vezes o volume perdido) - soro 0,9% + Ringer lactato (eletrólitos/açúcares); para os graus III e IV, também ocorre reposição de hemoderivados. As soluções devem ser aquecidas a 39ºC para prevenir hipotermia. - Quarto passo: determinar o local de sangramento e propor como pará-lo. → Hemorragia externa: a compressão manual diretamente sobre o ferimento com algum pano ou compressa limpa pode ser suficiente para estancar. Nos grandes ferimentos de extremidades, pode-se empregar o uso de torniquetes (medida de exceção por 20 min). → Hemorragia interna: o abdome é o principal local de hemorragia interna secundária a trauma; hematomas ou marca do cinto de segurança no abdome aumentam as chances de a causa de choque ser intra-abdominal. Para avaliar o abdome, utiliza-se o ultrassom FAST, que avalia a presença de líquido livre na cavidade peritoneal; pode-se utilizar também o lavado peritoneal diagnóstico (LPD). A bacia tem a capacidade de conter cerca de 3000 mL de sangue até toda a volemia do paciente; para avaliar a bacia, deve-se pressionar os trocanteres cuidadosamente para investigar a presença de abertura ou crepitação (estalos, rangidos), associada à palpação do púbis. Se a bacia estiver instável, realizar imobilização com lençol: ● Passa-se o lençol por baixo do paciente, deixando as pontas na alturas dos trocanteres; ● Traciona-se o lençol, passando cada uma das abas para o outro lado; ● Puxa-se o lençol para o lado contralateral, de forma que o anel pélvico será fechado; ● Troca-se as pontas do lençol entre os lados de 2 a 3 vezes, de forma a fazer um nó central; ● Fixa-se o lençol com esparadrapo no paciente. Todas as fraturas devem ser alinhadas por profissional (posição anatômica) e fixadas por talas. Obs. Crianças, atletas e pessoas que tomam medicações inibidoras do sistema cardiovascular podem não apresentar o sinais de choque clássicos. d) Disability - disfunção, estado neurológico: A avaliação deve ser rápida, sendo observado o nível de consciência, o tamanho e a reatividade das pupilas, além de sinais de lateralização e o nível de lesão da medula espinal. Nível de consciência → Escala de Coma de Glasgow (detalhes no item sobre TCE); TCE grave quando o nível for menor ou igual a 8, com paciente incapaz de manter a oxigenação adequada e a perviedade (permeabilidade) das vias aéreas, devendo proceder-se à via aérea definitiva. Daniella von Zuben - Medicina 56 e) Exposure: exposição com controle da hipotermia: O paciente deve ser avaliado completamente, sendo necessária sua total exposição; deve-se, então, evitar a hipotermia adicional utilizando cobertores aquecidos ou dispositivos de aquecimento externo. A hipotermia aumenta o quadro de coagulopatia. ❏ Medidas auxiliares à avaliação primária: Sonda vesical: avaliar o conteúdo da bexiga; deve ser realizada após avaliação inicial, exceto em condições de choque (urina reflete perfusão renal). Contraindicação - suspeita de lesão na uretra. Sonda gástrica: normalmente, utiliza-se a nasogástrica; diminui a distensão gástrica, prevenindo broncoaspiração, além de identificar o sangramento. Radiografias: incidências AP de tórax e pelve; na coluna com dor e/ou Glasgow alterado. ❏ Avaliação Secundária: Reavaliação minuciosa do paciente → SAMPLA: Sintomas Alergias Medicamentos Passado/Prenhez Líquidos e alimentos ingeridos Ambientes e eventos relacionados ao trauma IMPORTANTE: a prancha rígida deve ser retirada à admissão ao serviço, mantendo a mobilização em bloco no colchão; o tempo prolongado na prancha causa dores e pode causar úlceras por pressão. O tempo máximo é de 2 horas. 3) Vias Aéreas a) Obstrução: em uma situação de trauma, pode ocorrer por sangue, secreções, objeto emcavidade oral e pela própria língua. - Objetos em cavidade oral devem ser retirados. - A presença de sangramento em cavidade oral ou secreções como vômito podem obstruir a passagem do ar; deve-se aspirar com aspirador de ponta rígida. Em caso de vômitos persistentes, o paciente deve ser lateralizado em bloco. b) Manobras: - Elevação do mento: o objetivo é mobilizar a mandíbula com os dedos de forma a anteriorizar a língua. Daniella von Zuben - Medicina 56 - Tração da mandíbula: a pessoa se posiciona acima da cabeça do paciente e apoia a mão sobre as bochechas, com os dedos no ângulo da mandíbula, que é tracionada anteriormente. c) Dispositivos: - Cânula de Guedel: introduzida na boca, posteriormente à língua, para trazê-la para frente, possui uma luz central que permite a passagem de ar e sonda flexível, o que evita que o paciente morda o tubo orotraqueal; existem tamanhos diferentes (0 - 5), medido da rima labial ao ângulo da mandíbula. No adulto, a introdução deve ser invertida, tocando-a no palato e depois girando-a para a posição correta. - Cânula Nasofaríngea: introduzida pelo nariz, disposta na parede posterior da nasofaringe e orofaringe. Deve ser lubrificada com anestésico. Obs. Via aérea difícil - deve-se proceder 2 tentativas de intubação; dispositivos supraglóticos são indicados em situações de impossibilidade de intubação, com possibilidade de ventilação. A via aérea cirúrgica é indicada quando não são possíveis a intubação e a ventilação do paciente. 4) Ventilação e Respiração O trauma pode levar a hipóxia, hipercarbia (alta concentração de gás carbônico) e acidose. A avaliação respiratória consiste na avaliação da frequência respiratória e da qualidade da respiração; deve-se realizar a inspeção (ferimentos, assimetria do tórax), palpação (hematomas, crepitações, enfisema subcutâneo), ausculta (entrada e saída de ar). Em caso de ausculta alterada, a percussão é necessária para diferenciar pneumotórax (som timpânico) de hemotórax (som maciço). - Lesões com risco potencial de morte: pneumotórax, hemotórax, contusão pulmonar, lesão traqueobrônquica, ruptura diafragmática, trauma de aorta e ferimentos transfixantes do mediastino. - Dispositivos para ventilação: máscara facial associada a balão unidirecional (ambu); pode ser auxiliado pela cânula de Guedel. Para melhor vedação da máscara, a pessoa deve manter as mãos nas posições “C” (indicador e polegar, vedando na face do paciente) e “E” (dedos remanescentes, que tracionam a mandíbula para desobstruir a queda da língua). 5) Circulação e Choque Choque: baixa perfusão dos tecidos, gerando hipóxia tecidual; o paciente pode estar em choque e com pressão normal (estados iniciais); a hipóxia leva à acidose. - Sistema de compensação: inicialmente, ocorre aumento de FC; depois, há produção de substâncias endógenas (catecolaminas), que aumentam a resistência vascular periférica; por fim, há aumento da permeabilidade vascular, com edema até morte celular. Daniella von Zuben - Medicina 56 O objetivo do tratamento do choque é a reposição volêmica e o controle da perda. - Avaliação: ausculta cardíaca, oximetria, FC e PA; pode avaliar a perfusão periférica. - Classificação: ● Choque de grau I: todos os sinais vitais normais; logo, todo traumatizado pode estar em choque. ● A diferença entre os choques de grau III e IV é a alteração do estado de consciência (normal/deprimido); quando a perfusão cerebral não puder ser avaliada no grau IV, pode-se avaliar a perfusão renal. Na indisponibilidade de acesso periférico para reposição, indica-se a dissecção de venosa profunda (flebotomia) ou via intraóssea. Em pacientes mais graves, existem formas mais agressivas de transfusão - Protocolo de Transfusão Maciça (PTM). - Choque não hemorrágico: ● Neurogênico: decorre da transecção medular completa; causa perda do tônus simpático e represamento de sangue na periferia, causando hipotensão. Obs. Lesões intracranianas isoladas não geram choque. ● Séptico: decorre de quadro infeccioso que libera mediadores inflamatórios, gerando hipoperfusão tecidual; não é agudo e para ser decorrente do trauma o paciente provavelmente foi admitido tardiamente. ● Cardiogênico: nos quadros por trauma, a hipoperfusão decorre da não adequada distribuição volêmica, em que o volume normal está distribuído de forma inadequada ou impedido de circular. Exemplos: pneumotórax hipertensivo, tamponamento cardíaco (presença de sangue no espaço pericárdico, impedindo o batimento cardíaco adequado; diagnóstico clínico com estase jugular e abafamento das bulhas cardíacas à ausculta). 6) Trauma de Tórax Lesões com risco potencial de morte: suspeitadas no atendimento primário e confirmadas posteriormente. - Pneumotórax simples: muitos casos são de pequeno volume; não deve ser feita a toracocentese (punção) para o esvaziar, nem no diagnóstico; o tratamento depende do tamanho e da sintomatologia; alguns não precisam de drenagem de tórax. - Hemotórax simples: decorrente de lacerações pulmonares ou sangramentos menores nas artérias intercostais ou na mamária; todos devem ser drenados. - Fratura de costela: trauma torácico mais frequente, podendo ocasionar lesões nos órgãos próximos (escápula e esterno são fraturas raras). - Contusão pulmonar: decorre do impacto no pulmão, diretamente ou através do arcabouço torácico; leva à ruptura de vasos e extravasamento para interstício pulmonar e intra-alveolar (hipóxia); principal tratamento é o suporte ventilatório. - Contusão cardíaca: decorre do impacto sobre o coração, diretamente ou dele em relação ao arcabouço torácico, principalmente o esterno; deve-se suspeitar em Daniella von Zuben - Medicina 56 mecanismos de trauma de alto impacto (volante, airbag); deve-se realizar ECG e dosagem de troponina (marcador de injúria miocárdica). - Ruptura traumática de aorta: a maioria não sobrevive; decorre de uma grande desaceleração (atropelamentos, impactos frontais); tratamento cirúrgico. - Ruptura do diafragma: pouco frequente, ocorrendo mais no trauma penetrante; tratamento cirúrgico. - Lesão traqueobrônquica: nos quadros graves, pode originar quadro de insuficiência respiratória ou mesmo o extravasamento de ar (pneumotórax); em lesões menores, os pacientes podem apresentar sintomatologia clínica mínima; em lesões maiores, pode-se ter dificuldades de intubação orotraqueal e de ventilação. - Transfixante do mediastino: decorrem de ferimento penetrante torácico que entrou por um hemitórax e percorreu para o outro passando pela região central; em um paciente estável, há possibilidade de investigar todos os órgãos; já no instável, a conduta cirúrgica é indicada. 7) Trauma Abdominal → Principal causa de choque hipovolêmico Lesão de órgãos ocos faz com que sejam eliminados enzimas, alimentos, fezes, bactérias da flora intestinal, urina ou bile; apresenta dor abdominal e peritonite. - Avaliação: o mecanismo do trauma ajuda a pensar quais órgãos podem estar lesados e descartar supostas lesões, assim como a biomecânica do trauma. Deve-se realizar: ● Inspeção: hematomas abdominais ● Palpação: dor e sinais de irritação peritoneal ● Ausculta: sopros ou ausência de ruídos gastro-intestinais ● Percussão: hipertimpanismo e líquidosEsses achados indicam o trauma abdominal. - Ciladas na avaliação inicial: ● Lesões de vísceras ocas podem ser pequenas, apresentando peritonite tardia ● Uso de álcool e drogas alteram a sensibilidade do exame físico ● Os pacientes inconscientes e com TCE não possibilitam avaliação adequada ● A lesão medular altera a parte sensitiva e motora abaixo da lesão ● Presença de fraturas pode originar compressão de nervos, alterando sensação de dor - Mecanismo de trauma: ● Trauma contuso: decorre da desaceleração; os órgãos mais lesados, em ordem de frequência, são: baço, fígado e intestino delgado. ● Trauma penetrante: com arma branca, o mais frequente é o fígado; com projétil de arma de fogo é o intestino delgado. - Métodos auxiliares: a sondagem pode detectar a presença de sangramento, e a avaliação tátil permite avaliar a integridade da mucosa retal e vaginal. - Lesões específicas: Daniella von Zuben - Medicina 56 ● Trauma de duodeno: pode ocorrer tanto em colisão direta no abdome com forte impacto como em mecanismos sem uso do cinto, entre outros. ● Trauma de pâncreas: trauma direto no epigastro, como com o guidão de bicicleta ou motocicleta. ● Trauma de uretra: pode estar associado ao trauma de bacia; no homem, próstata não tocável ao toque indica lesão. 8) Trauma de Extremidades - Avaliação: ● Membros superiores e inferiores: inspeção - aumento de volume, posições anômalas, hematomas; palpação - crepitações ósseas (estalos); pulso e perfusão ● Bacia: palpar sínfise púbica e trocanteres; o trauma decorre de um alto impacto com deformidade - Investigação: ● Pacientes instáveis: prioridade é a estabilização ● Pacientes estáveis: investigar após terminar a avaliação ao traumatizado Nos casos de hemorragias, estas devem ser contidas por compressão direta. Cerca de 10 a 15% dos pacientes com trauma pélvico são admitidos em choque. - Fraturas - tratamento inicial: ● Compressão de possíveis sangramentos ● Alinhamento da fratura ● Imobilização ● Analgesia ● Antibioticoterapia (fratura exposta) - Luxação: deslocamento de dois ou mais ossos em relação ao seu ponto de articulação normal. - Entorse: distensão abrupta de uma articulação, com lesão dos ligamentos, sem deslocamento ósseo. - Amputação traumática: pode ocorrer amputação total ou parcial Nas situações em que o paciente apresenta lesão acompanhado de ausência de pulso ou alteração da perfusão, tem-se a suspeita de acometimento vascular. Obs. Torniquete: deve ser adotado como última medida de contenção do sangramento de um membro; nos casos de amputação traumática ou intensa destruição do membro, com ineficácia da compressão, pode-se adotar o uso imediato do torniquete. Daniella von Zuben - Medicina 56 9) Trauma Cranioencefálico (TCE) O aumento do volume de componentes como cérebro, sangue venoso ou arterial, líquor ou alguma massa, leva a mecanismos compensatórios como deslocamento do líquor e do sangue venoso para outras áreas; a persistência leva à saída do cérebro, herniando. A região mais herniada é o uncus, que comprime o nervo oculomotor, paralisando fibras parassimpáticas, levando à midríase. - Avaliação: a biomecânica do trauma auxilia a suspeitar de TCE; possui objetivo de evitar uma lesão secundária. O exame neurológico é realizado em D: ● Avaliação pupilar: a presença de assimetria entre as reatividades pupilares é denominada anisocoria, denotando gravidade com possível herniação cerebral. ● Escala de coma de Glasgow: avalia a melhor resposta ocular, verbal e motora através de um pontuação, variando entre 3 (pior) e 15 (melhor). ● Sinais localizatórios: presença de cefaléia, vômitos recorrentes, sonolência e falas repetidas; a hemiplegia é um sinal de gravidade. - Investigação: realização de TC sem contraste. - Classificação: pode ser classificado quanto ao mecanismo de lesão, gravidade e morfologia. ● Fraturas de crânio: risco de hematomas e lesões cerebrais; sintomas - equimose periorbital (olhos de guaxinim), equimose retroauricular, fístula liquórica pelo nariz ou ouvido. ● Hematoma epidural (extradural): imagem como lente biconvexa, sangramento exterior à dura-máter, quadro de consciência com rebaixamento posterior. ● Hematoma subdural: lesões em veias do córtex cerebral, abaixo da dura-máter; localizado no espaço subdural, com maior lesão do cérebro adjacente à lesão. ● Contusão intraparenquimatosa: lesões hemorrágicas dentro do parênquima cerebral; podem expandir ou coalescer (aglutinar), formando um grande hematoma; deve-se repetir a TC após 12 a 24 horas. ● Hemorragia subaracnóidea: sangramento no espaço subaracnóideo; frequentemente, associada a contusão intraparenquimatosa (63-73%) e hematomas subdurais (44%). ● Concussão: “chacoalhar” o cérebro contra a calota craniana; pode apresentar amnésia, falar repetidamente e não ter lesões graves à TC. - Fisiopatologia: “Quatro cavaleiros do apocalipse intracraniano” ● Hipóxia ● Hipercarbia ● Hipotensão arterial ● Hipertensão intracraniana → FSC (fluxo sanguíneo cerebral) = PAM (pressão arterial média) - PIC (pressão intracraniana) / RVC (resistência vascular) Daniella von Zuben - Medicina 56 10) Morte Encefálica Perda da função cerebral definitiva e irreversível; uma das principais causas é o traumatismo craniano. Para ocorrer um quadro de morte encefálica, é necessária alguma situação que gere destruição definitiva das células neuronais, através do aumento da pressão intracraniana juntamente com hipóxia tecidual. - Protocolo Morte Encefálica: ● Um paciente entra em protocolo de morte encefálica quando apresentar coma sem uso de medicações depressoras do SNC. ● O paciente não pode estar hipotérmico. ● São realizadas 2 avaliações clínicas por médicos diferentes com intervalo de tempo entre eles: confirmação do coma aperceptivo (ausência de resposta à dor) e ausência de reflexos de tronco encefálico e movimentos respiratórios aparentes (morte encefálica). ● O exame complementar deve demonstrar ausência de circulação sanguínea intracraniana, atividade elétrica cerebral ou atividade metabólica cerebral. 11) Atendimento Pré-Hospitalar (APH) Em urgências traumáticas, há o “período de ouro”, que inicia no APH e continua na unidade de saúde. - Princípios: ● Três “S”: Segurança - de socorristas e pacientes (sinalização é importante para desviar fluxo do tráfego); Cena (Scene) - biomecânica do trauma é essencial para lesões; Situação - reconhecer a situação para avaliar necessidade de apoio adicional. ● Avaliação primária - ABCDE: via aérea e coluna; ventilação; controle de hemorragia; imobilização das lesões musculoesqueléticas (articulação proximal e distal); prevenir hipotermia. ● Manter a estabilização da coluna até completa imobilização. Obs. KED → mecanismo de retirada mais lento, para vítimas conscientes e estáveis. - Retirada rápida: mecanismo de retirada rápida de uma situação de risco, casos mais graves. ● Iniciar o transporte à unidade adequada o quanto antes, após a chegada de suporte avançado no local. ● Administração de fluídos, quando possível ● Avaliação secundária - SAMPLA ● Avaliar a dor ● Comunicar corretamente a unidade de destino sobre o estado do paciente Daniella von Zuben - Medicina 56 ● Não causar mais danos - Funções do APH: ● Reanimação: promover um adequado atendimento inicial ao traumatizado● Salvamento: atendimento de vítimas em condições adversas → vítimas encarceradas, presas às ferragens; resgate de vítimas em altura; veículos com produtos perigosos identificados previamente. ● Transporte: até a unidade adequada; pode ser via terrestre, via aérea e via aquática, dependendo do contexto do local e a disponibilidade do transporte. 12) Desastres e Múltiplas Vítimas O sistema de atendimento é composto de 4 fases: ● Busca e resgate ● Triagem e estabilização inicial - é feita uma relação entre gravidade das vítimas e recursos disponíveis ● Tratamento médico definitivo ● Evacuação do local - encaminhamento das vítimas da cena para a unidade de saúde de atendimento destinada. Múltiplas vítimas: são eventos em que há desproporção entre os recursos disponíveis e as necessidades. - Triagem de múltiplas vítimas: detectar as mais graves de forma simples e rápida MÉTODO START Classifica as vítimas por cores (pode ser usado por leigos): vermelha, amarela, verde, cinza ou preta. Baseia-se na avaliação dos itens do ABCDE - identificar se o paciente respira, qual sua frequência respiratória, qual o tempo de enchimento capilar, se obedece ordens simples e se consegue andar; são usados cartões de identificação das vítimas. Cores por ordem crescente de gravidade: VERDE, AMARELA, VERMELHA, PRETA OU CINZA. Daniella von Zuben - Medicina 56 MÉTODO CRAMP Usado por profissionais da área da saúde, exigindo conhecimentos mais específicos. Prioridade de evacuação: VERMELHO, AMARELO, PRETO, VERDE, BRANCO (falecido) - Organização: ● Mapa da área e zonas de risco. ● No posto médico avançado, se dá o atendimento às vítimas. ● Áreas para vítimas vermelhas e amarelas devem ser próximas (chance de piora). ● Área para vítimas verdes deve ser afastada das vítimas mais graves. ● Área para vítimas pretas/cinzas deve ser isolada e protegida. 13) Primeiros Socorros Primeiro passo: avaliar os três “S”: uso dos equipamentos de proteção individual são essenciais; importante observar o que aconteceu com o paciente e qual a situação envolvida. Em seguida, deve-se acionar os serviços de emergência: 192 - SAMU ; 193 - Corpo de Bombeiros. - Parada Cardiorrespiratória (PCR): IMPORTANTE! ● 1º passo: reconhecimento rápido da PCR - chegar perto da vítima, chamá-la 3 vezes tocando no ombro; checar pulso carotídeo por 5 - 10s; solicitação de desfibrilador em caso de ausência de resposta. ● 2º passo: reanimação cardiopulmonar precoce e de qualidade - com a palma da mão entre os mamilos do paciente, comprimir o tórax, permitindo que ele retorne à posição; manter um ritmo de, no mínimo, 100 a 120 compressões/min, podendo realizar 2 ventilações a cada 30 compressões. Após 2 minutos, na troca das compressões, checar novamente o pulso. ● 3º passo: desfibrilação rápida com uso do desfibrilador externo automático (DEA), que deve ser instalado e sua instruções seguidas; as compressões devem ser interrompidas somente quando o DEA indicar. ● 4º passo: chegada do suporte avançado de vida com continuidade do atendimento e condução da RCP (ressuscitação cardiopulmonar). ● 5º passo: cuidados pós-parada, realizados no ambiente hospitalar. - Acidente Vascular Cerebral (AVC): Sinais básicos como pedir para a pessoa sorrir e observar a simetria, levantar e manter braços alinhados e pedir para responder a uma pergunta simples devem ser analisados. Alguma alteração nos sinais é suspeito para AVC, devendo acionar o serviço de resgate imediatamente; identificar o horário de início dos sintomas. Daniella von Zuben - Medicina 56 - Desmaio: Decorre de queda abrupta da pressão sanguínea ou alterações do SNC. Não administrar sal ou açúcar sem ter certeza do ocorrido; afrouxar roupas; manter o paciente em posição lateral; checar se é PCR; informar ao serviço de emergência. - Convulsão: Contratura de todo o corpo ou parte dele de forma involuntária, como uma descarga energética, originada no SNC. Deve-se avaliar a segurança da cena; ligar para o resgate; proteger a cabeça do paciente; retirar objetos próximos; não colocar nada na boca do paciente; manter a cabeça lateralizada; não amarrar ou impedir os movimentos; não oferecer líquidos. - Engasgo: Manobra em adultos: Manobra de Heimlich ● 1- O socorrista deve se posicionar em pé atrás do paciente ● 2- Posicionar as pernas afastadas para manter equilíbrio ● 3- Posicionar as mãos uma por cima da outra na região umbilical ● 4- Rodar a mão empunhada para região epigástrica ● 5- Pressionar com força para desobstruir Obs. Em crianças, realizar a manobra de joelhos. Manobra em crianças menores de 1 ano ● 1- Segurar o bebê de bruços sobre o antebraço ● 2- Aplicar 5 golpes entre as escápulas, utilizando a palma da outra mão ● 3- Segurar a cabeça do bebê com a mão que golpeou ● 4- Virar o bebê em bloco, com a barriga para cima ● 5- Aplicar 5 compressões torácicas com 2 dedos sobre o esterno ● 6- Repetir o processo até a desobstrução ou a chegada do recurso de resgate - Hemorragia Nasal (Epistaxe): Perda de sangue pelo rompimento de pequenos vasos. Deve-se assoar o nariz; manter a cabeça em posição normal; apertar a narina por 10 min, colocar gelo por 20 min; ao persistir o sintoma, buscar o hospital; não introduzir nada pelas narinas. - Hemorragias: Sangramentos decorrentes de ferimentos. Deve-se limpar exaustivamente com água corrente; fazer oclusão firme com pano limpo; não passar creme ou ervas. - Queimaduras: Lesões decorrentes do calor, substâncias químicas, eletricidade e radiação. É importante não ser uma nova vítima; remover a vítima da cena; interromper o processo lesivo; remover roupas e metais; providenciar água abundante. Na ferida, não utilizar substâncias como café e pasta de dente, não furar as bolhas, lavar com água limpa em grande quantidade. A maioria dos casos pode ser prevenido. Daniella von Zuben - Medicina 56
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