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2 G7 CONSTITUCIONAL

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1 
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INTENSIVO I 
Marcelo Novelino 
Direito Constitucional 
Aula 1 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Tema: Constitucionalismo 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA – INTENSIVO I 
 
1) Teoria da constituição: 
 1.1) Constitucionalismo; 
 1.2) Poder Constituinte; 
 1.3) Constituição; 
 1.4) Hermenêutica constitucional; 
 1.5) Normas constitucionais; 
 1.6) Controle de constitucionalidade; 
 1.7) Teoria dos direitos fundamentais. 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA – INTENSIVO II 
 
2) Direito constitucional positivo: 
 2.1) Direitos fundamentais em espécie; 
 2.2) Organização do Estado; 
 2.3) Organização dos poderes; 
 2.4) Medidas excepcionais. 
 
 
 
 
2 
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II. MATERIAL DE ESTUDO 
 
1) Anotações de aula; 
2) Livro; 
3) Leitura do texto constitucional; 
4) Informativos; 
5) Exercícios. 
 
III. DÚVIDAS 
- Fórum. 
 
IV. REDES SOCIAIS 
- Instagram: MarceloNovelino; 
- Twitter: @Mnovelino; 
 
CONSTITUCIONALISMO 
 
1. Definição: 
O Constitucionalismo tem dois sentidos: amplo e restrito. 
 
1.1. Sentido amplo: 
Está relacionado à existência de uma constituição nos Estados. O que organiza o Estado é a constituição, seja ela escrita 
ou não escrita. Assim, todo Estado possui uma constituição e, dessa forma, esse sentido não é muito utilizado na doutrina. 
Nos concursos públicos, quando se fala em constitucionalismo, geralmente, faz-se referência ao constitucionalismo em 
sentido estrito. 
 
1.2. Sentido estrito: 
No sentido estrito, o constitucionalismo está ligado a duas ideias: 
a) garantia de direitos fundamentais dos indivíduos em face do Estado; e 
b) limitação de poder: é uma das ideias centrais do constitucionalismo, pois se contrapõe ao absolutismo. 
 
✓ O constitucionalismo surge em contraposição ao absolutismo, tendo a função de limitar o poder absoluto do 
soberano e de assegurar os direitos fundamentais. 
✓ A história do constitucionalismo “não é senão a busca pelo homem político das limitações do poder absoluto 
exercido pelos detentores do poder, assim como o esforço de estabelecer uma justificação espiritual, moral ou 
ética da autoridade, em vez da submissão cega à facilidade da autoridade existente.” (Karl Loewenstein). 
 
 
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2) Evolução histórica 
 
2.1) Constitucionalismo antigo (Antiguidade => Século XVIII); 
I - Nem todos os constitucionalistas citam a existência do Constitucionalismo Antigo. 
 
II – O Constitucionalismo Antigo é uma espécie de pré-constitucionalismo, que vai da Antiguidade até o fim do século 
XVIII. 
✓ No fim do século XVIII, surgem as revoluções liberais, que dão ensejo ao surgimento do constitucionalismo 
moderno. 
 
2.2) Constitucionalismo moderno (Século XVIII => 2ª Guerra Mundial); 
 
I - A partir das as revoluções liberais são criadas as primeiras constituições escritas, dotadas de supremacia. Até então, as 
constituições eram baseadas apenas nos costumes. 
 
II – O Constitucionalismo Moderno vai do fim do século XVIII até o fim da Segunda Guerra Mundial. 
 
2.3) Constitucionalismo contemporâneo (fim da 2ª Guerra Mundial em diante): alguns autores denominam essa fase de 
“neoconstitucionalismo”. 
 
O Constitucionalismo Contemporâneo é também chamado de Neoconstitucionalismo. Trata-se de uma das acepções 
deste termo. 
 
2.1) Constitucionalismo antigo 
 
2.1.1) Estado hebreu 
A primeira experiência constitucional de que se tem notícia foi a do Estado hebreu, o qual era um Estado teocrático. 
No Estado hebreu, os dogmas religiosos serviam como limites ao poder político do soberano, motivo pelo qual se aponta 
esta experiência como o marco do nascimento do constitucionalismo. 
 
2.1.2) Grécia 
Durante dois séculos, a Grécia foi um Estado político plenamente constitucional. 
Este Estado adotou a democracia constitucional, muitas vezes, com a participação direta dos indivíduos nas decisões 
políticas do Estado. 
 
2.1.3) Roma 
 
 
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A experiência romana foi um retrospecto da experiência grega. 
Os conceitos de “principado” e de “res publica” surgiram em Roma. 
 
2.1.4) Inglaterra: Magna Charta (1215); Petition of Rights (1628); Habeas Corpus Act (1679); Bill of Rights (1689), Act of 
Settlement (1701). 
Na Inglaterra, embora não existisse uma constituição escrita, vários documentos foram feitos ao longo do tempo e, 
posteriormente, foram incorporados à constituição inglesa (constituição consuetudinária). 
a) Magna Charta (1215): outorgada pelo rei João Sem-Terra, como fruto de um acordo entre o rei e os súditos; 
b) Petition of Rights (1628): firmado entre o parlamento e o rei Carlos I; 
c) Habeas Corpus Act (1679); 
d) Bill of Rights (1689); e 
e) Act of Settlement (1701). 
 
2.2) Constitucionalismo moderno 
A segunda etapa é considerada por alguns autores (ex. Canotilho) como a primeira do constitucionalismo. 
O constitucionalismo moderno surge no final do século XVIII, com as revoluções liberais, e vai até a Segunda Guerra 
Mundial. 
É importante destacar que nesse período houve o surgimento das primeiras constituições escritas, rígidas, formais e 
dotadas de supremacia. 
A primeira constituição escrita da história foi a norte-americana (1787) e com ela se inaugurou o constitucionalismo 
moderno. 
A constituição francesa, por sua vez, foi a segunda constituição da Europa e foi elaborada em 1791. 
 
2.2.1) Primeira fase 
• Constituições liberais: 
Quando surgiram as primeiras constituições escritas após as revoluções liberais, a intenção da burguesia era assegurar os 
seus direitos. A ideia era que o Estado interviesse o mínimo possível nas liberdades individuais. Nessa toada, a liberdade 
dos indivíduos era assegurada por meio da não intervenção estatal, daí vem o nome de revoluções liberais. 
Nesse tópico, é importante destacar a importância da experiencia estadunidense e da experiencia americana. 
 
a) Experiência estadunidense: 
A primeira constituição escrita (1787) foi fruto da Convenção da Filadélfia. 
 
 
Contribuições da Constituição Estadunidense 
 
 
 
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1) Primeira constituição escrita, rígida e suprema. 
 
✓ É importante destacar que a constituição norte-americana, além de ser uma constituição escrita, sempre foi vista 
como um conjunto de normas, diferentemente do direito europeu em que as primeiras constituições eram vistas 
como documentos essencialmente políticos. 
 
2) Controle de constitucionalidade 
 
O controle de constitucionalidade que surge no direito norte-americano é o chamado “controle difuso”, que é aquele que 
é aberto a todo o Poder judiciário, ou seja, qualquer juiz ou tribunal pode exercê-lo. 
Em 1803, este controle surgiu para assegurar a supremacia da constituição, com a decisão proferida pelo juiz John 
Marshall sobre o caso Marbury versus Madison. 
✓ Nessa decisão, surgiram as bases teóricas do controle de constitucionalidade. 
 
3) Sistema presidencialista de governo: o sistema presidencialista surgiu, nos EUA, como uma forma de suprir a ausência 
do monarca. Assim, a figura do “Presidente da República” é criada em substituição à figura do monarca. 
 
✓ Observação: a tripartição de poderes foi criada por Aristóteles e, posteriormente, desenvolvida por Montesquieu. 
 
4) Forma federativa de Estado: a forma federativa de Estado não foi criada nos EUA, mas foi neste Estado que ela ganhou 
projeção mundial. 
 
b) Experiência francesa: 
 
I - Com a revolução francesa de 1789 e a consequente Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, surge um novo 
modelo de Estado na França. 
✓ A constituição francesa foi a segunda constituição da Europa (a primeira foi polonesa) e foi elaborada em 1791. 
 
II - Na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, há uma frase no art. 16 que sintetiza a ideia de 
constitucionalismo: 
 
“DUDHC/1789, art. 16: “Toda sociedade na qual não é assegurada a garantia dos direitos, nem determinadaa separação 
dos poderes, não possui Constituição.” 
 
 
Contribuições da Constituição Francesa 
 
 
 
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1) Constituição prolixa: 
O primeiro grande destaque a ser mencionado aqui é o fato de a Constituição Francesa ser prolixa, algo que não era 
comum na época. 
✓ A constituição norte-americana, ao contrário, era bastante sintética. 
 
2) Distinção entre Poder Constituinte Originário e Derivado (Emmanuel Joseph Sieyès): 
A distinção entre Poder Constituinte Originário e Derivado foi criada pelo abade Emmanuel Joseph Sieyès. 
A Teoria do Poder Constituinte pode ser creditada, em grande parte, ao abade Sieyès, o qual fazia uma distinção entre o 
Primeiro Estado (nobreza), o Segundo Estado (clero) e o Terceiro Estado (povo). 
O abade Emmanuel Joseph Sieyès possui uma obra intitulada “O que é o Terceiro Estado?”, em que ele afirma que o 
verdadeiro titular do Poder Constituinte é a nação, embora esse poder, muitas vezes, seja usurpado por uma minoria. 
 
 Estado de Direito (Estado liberal) 
Durante o Constitucionalismo moderno, houve a consagração de um modelo específico de Estado, chamado de Estado de 
Direito ou Estado Liberal. 
 
Na Idade Média, já existia o rule of law (império da lei) na Inglaterra. Na Prússia, no século XVIII, havia o Rechtsstaat 
(Estado de Direito). Entretanto, foi na França, com o État Légal que houve a primeira institucionalização coerente do 
Estado de Direito. 
Atenção: O Estado de Direito consagrado na França não se confunde com o Estado constitucional consagrado 
hodiernamente. O État du Droit corresponde ao Verfassungsstaat - Estado Constitucional (Alemanha). 
 
Características do Estado Liberal: 
1) Abstencionista: o Estado que não intervém no domínio econômico e social. 
O Estado, portanto, não intervém na esfera de liberdade do indivíduo, limitando-se à defesa da ordem e da segurança 
pública e à administração da justiça. Trata-se do chamado “Estado mínimo”. 
 
2) Direitos fundamentais = direitos da burguesia: os direitos fundamentais consagrados na constituição da época 
correspondiam, basicamente, aos direitos da burguesia. Direito à vida, liberdade, igualdade, propriedade, os quais eram 
assegurados apenas no aspecto formal, sem preocupação com o aspecto material. 
 
3) Limitação do soberano: a limitação do poder se estende, inclusive, ao soberano. Com o Estado de Direito, não há 
ninguém que não esteja submetido às normas jurídicas. 
 
4) Princípio da legalidade: a administração pública passa a ser compreendida como atividade a ser exercida dentro da lei. 
Por esse motivo, há o nome “rule of law” (império da lei). 
 
 
 
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❖ Gerações de Direitos Fundamentais 
As gerações (dimensões) de direitos fundamentais surgiram por meio de uma palestra ministrada por Karel Vazak. 
Naquela ocasião, Karel Vazak resolveu associar o lema da Revolução Francesa (“Liberdade, igualdade, fraternidade”) com 
as gerações de direitos fundamentais. 
Posteriormente, Norberto Bobbio deu projeção a essa classificação na obra “A Era dos Direitos”. 
No Brasil, o professor Paulo Bonavides trata desse tema e acrescenta novas gerações às anteriores. 
 
Direitos Fundamentais de 1ª geração 
O professor ressalta que muitas pessoas preferem utilizar a expressão “dimensão” em vez de “geração”, pois esta 
expressão dá a ideia de que uma geração substitui a outra, já a dimensão dá ideia de abrangência. 
• Valor: dentro do lema da Revolução Francesa, a 1ª geração está ligada à liberdade (religiosa, de pensamento, de 
locomoção etc). Esses direitos são chamados de direitos civis e políticos. 
• Direitos: direitos civis são relativos à defesa do indivíduo em face do Estado. São direitos de caráter negativo, pois 
exigem uma abstenção do Estado (exemplos: direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade formal). 
Já os direitos políticos são os direitos de participação na vida política do Estado. 
 
2.2.2) Segunda fase 
Dentro do Constitucionalismo Moderno, há uma segunda fase, a qual surge após o fim Primeira Guerra Mundial, em razão 
da impotência do liberalismo diante das demandas sociais da época. 
As experiências que inauguraram o constitucionalismo social foram a constituição mexicana e a constituição de Weimar. 
 
• Constituições sociais: 
➢ Constituição mexicana/1917 – Foi a primeira constituição social. 
➢ Constituição de Weimar/1919 – Trata-se de constituição alemã feita na cidade de Weimar. 
 
 Estado social 
Na fase das constituições sociais, surge o Estado social, o qual busca superar a dicotomia entre a igualdade política e a 
desigualdade social existente. 
A principal diferença entre o Estado social e o Estado socialista é que aquele adere ao capitalismo e este não. 
✓ Variados sistemas adotaram o Estado social, inclusive sistemas autoritários (exemplo: Alemanha nacionalista, 
Itália fascista etc.). Isso, contudo, não significa que haja relação entre o estado social e o autoritarismo. 
 
 
Características do Estado social: 
1) Intervencionista: o Estado social abandona a postura abstencionista e intervém no âmbito social, econômico e laboral. 
 
 
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2) Papel decisivo na produção e distribuição de bens: o Estado regula e participa do processo de produção e de distribuição 
de bens. 
3) Garantia de bem-estar social mínimo: as pessoas precisam ter um mínimo de bem-estar para poder ter dignidade. 
Um exemplo de medida que visa à garantia do bem-estar social é o benefício de prestação continuada da Lei Orgânica 
de Assistência Social (LOAS), fornecido, no Brasil, a pessoas idosas (maiores de 65 anos) ou deficientes, quando a renda 
per capita é inferior a ¼ do salário-mínimo (nos termos da lei) ou a ½ do salário-mínimo (nos termos da jurisprudência 
do Supremo Tribunal Federal). 
 
Direitos Fundamentais de 2ª geração 
Na segunda fase do constitucionalismo moderno, são consagrados novos direitos fundamentais nos textos 
constitucionais. 
• Valor: dentro do lema da Revolução Francesa, a 2ª geração está ligada ao valor “igualdade”. Não se trata de 
igualdade formal, mas de igualdade material ou fática. 
• Direitos: os direitos de segunda geração são chamados direitos sociais, econômicos e culturais. 
• Garantias institucionais: nessa época, percebeu-se que era necessário proteger algumas instituições 
fundamentais para a sociedade (família, imprensa livre, funcionalismo público). 
 
2.3) Constitucionalismo contemporâneo 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surge o constitucionalismo contemporâneo. 
✓ Alguns autores chamam essa fase de neoconstitucionalismo. 
✓ Esse novo constitucionalismo é um amálgama da experiência estadunidense e da experiencia francesa. Assim, as 
características que serão apontadas a seguir são comuns a esses dois ordenamentos jurídicos. 
 
2.3.1) Características: 
a) Força normativa da constituição: 
Após a Segunda Guerra Mundial, houve o reconhecimento definitivo de que a constituição é uma norma jurídica e deve 
ser respeitada. Até então, as constituições eram vistas na Europa como documentos essencialmente políticos, 
principalmente na parte dos direitos fundamentais. 
✓ Os direitos fundamentais não eram oponíveis ao Poder Legislativo. Ocorre que, muitas vezes, as maiores violações 
a esses direitos vinham do próprio parlamento. 
✓ Assim sendo, a partir da segunda metade do século passado, as declarações de direitos passaram a ser oponíveis 
a todos os poderes públicos, inclusive ao Poder Legislativo. 
✓ Atualmente, entende-se que as constituições possuem normas-princípios e normas-regras, sendo que ambas são 
espécies das normas jurídicas. 
 
 
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✓ Observação: na Europa, o reconhecimento da força normativa da constituição ocorreu após o fim da Segunda 
Guerra Mundial. Na América Latina, o reconhecimentoocorreu após o fim das ditaduras militares. No Brasil, por 
exemplo, isso ocorreu a partir da CF/1988. 
 
b) Rematerialização dos textos constitucionais: 
É uma característica das constituições modernas o fato de serem extensas, analíticas e regulamentares. 
Os textos constitucionais não se restringem aos princípios gerais. Isso ocorre porque a maioria das constituições modernas 
foram criadas após um período de autoritarismo, assim, a intenção foi tentar proteger os direitos de maneira mais 
abrangente. 
 
c) Fortalecimento do Poder Judiciário: 
A ideia de garantia jurisdicional da constituição é advinda do direito norte-americano. Isso porque há o entendimento de 
que o Poder Judiciário é o mais neutro entre os três poderes. A combinação entre a prolixidade e a força normativa da 
Constituição, a qual é assegurado pelo Judiciário, acaba por fortalecer este Poder, dando origem à chamada “judicialização 
das relações políticas e sociais”. 
✓ A judicialização das relações políticas e sociais refere-se ao fato de que questões, anteriormente restritas ao 
âmbito político e social, hoje são levadas ao Poder Judiciário. 
 
d) Dignidade da pessoa humana => Centralidade da Constituição e dos direitos fundamentais: 
 
I - As atrocidades praticadas durante a Segunda Guerra Mundial levaram à percepção de que era necessário que as 
Constituições consagrassem, com o seu núcleo, a dignidade da pessoa humana. Constituições anteriores à Segunda 
Guerra Mundial dificilmente consagravam a dignidade da pessoa humana. 
 
A dignidade da pessoa humana surge para afastar qualquer tipo de hierarquização entre indivíduos, os quais devem ser 
tratados sempre como fins em si mesmos, e nunca como meios para que outros fins sejam atingidos – sobretudo fins do 
Estado. A dignidade da pessoa humana passou a ser o núcleo axiológico das constituições. 
 
II – Juntamente com a dignidade da pessoa humana, surge também a ideia de centralidade da constituição e dos direitos 
fundamentais. 
O professor Paulo Bonavides tem uma frase que sintetiza a evolução da sociedade: “ontem, os códigos; hoje, as 
constituições”. 
 
✓ A centralidade da constituição e dos demais direitos fundamentais dá origem ao fenômeno da 
Constitucionalização do Direito. 
✓ A ideia de constitucionalização do direito surge no direito alemão com a constituição 1949. 
 
 
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III - A constitucionalização do direito possui três características fundamentais: 
 
a) Consagração constitucional de normas de outros ramos do direito nas constituições: 
Essa talvez seja a face mais evidente da Constituição Federal de 1988. O texto constitucional não tem apenas as matérias 
clássicas do Direito Constitucional, mas também normas sobre Direito Administrativo, Ordem Econômica e Financeira, 
etc. Assim, outros ramos do direito encontram seus princípios básicos na Constituição. 
 
b) Interpretação das leis conforme a Constituição (“filtragem constitucional”): 
A interpretação das leis infraconstitucionais deve ser feita sempre à luz da Constituição. Através da filtragem 
constitucional, faz-se uma interpretação das leis conforme a Constituição, extraindo-se do dispositivo o seu melhor 
significado. 
Atenção: texto e norma não se confundem! Uma coisa é, por exemplo, o artigo que está no Código Penal (texto), outra 
coisa é a norma (produto da interpretação do texto). Assim, de um mesmo texto é possível extrair várias normas, mas 
pode ser necessário mais de um texto para extrair uma única norma. 
 
c) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais são oponíveis não só ao Estado, mas também 
aos particulares, aplicando-se às relações privadas. 
✓ A eficácia horizontal dos direitos fundamentais se refere à relação entre particulares. 
Obs.: Hoje já se fala em eficácia diagonal de direitos fundamentais, a qual ocorre quando a relação entre os particulares 
possui uma desigualdade fática (ex: relações trabalhistas). 
 
 Estado Democrático de Direito (Estado Constitucional Democrático) 
 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surgiu o Estado Democrático de Direito, o qual sintetiza as conquistas dos 
modelos anteriores e, ao mesmo tempo, tenta superar as suas deficiências. 
Esse modelo é democrático de direito porque busca fazer uma conexão entre o Estado de direito e a democracia. O 
princípio da soberania popular é uma das vigas mestras desse modelo. 
Alguns autores preferem denominar esse modelo de Estado Constitucional Democrático, pois isso denota uma mudança 
de paradigma, de modo a substituir a ideia de “império da lei” pela ideia de “força normativa da constituição”. 
 
Características do Estado Democrático de Direito: 
 
1) Direitos fundamentais - efetividade/conteúdo: 
Há a preocupação com a efetividade dos direitos fundamentais, e não apenas com a consagração formal desses direitos 
na constituição. Hoje, a preocupação não é apenas com o aspecto formal, mas também com o aspecto material. Fala-se 
 
 
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em liberdade material (ao lado da liberdade formal), em igualdade material (ao lado da igualdade formal), etc. 
 
2) Limitação do Poder Legislativo: 
O Poder Legislativo, antes apenas limitado sob o ponto de vista formal (ou seja, o controle de constitucionalidade era 
apenas de formalidades e de procedimentos), agora é mais controlado. Hoje, o controle se dá também em relação ao 
conteúdo das leis e à análise de sua compatibilidade com a Constituição (aspecto material). 
O controle de conteúdo das leis, hodiernamente, é usual e é feito com frequência pelo Poder Judiciário – o que também 
ocorre em relação às omissões inconstitucionais. 
 
3) Democracia substancial: 
A democracia substancial é o respeito aos direitos fundamentais de todos, inclusive, o direito das minorias. 
 
Direitos fundamentais de 3ª geração 
Muitas pessoas preferem utilizar a expressão “dimensão” em vez de “geração”, pois esta expressão dá a ideia de que uma 
geração substitui a outra, já a dimensão dá a ideia de abrangência. 
 
• Valor: o valor aqui consagrado é o da fraternidade (ou solidariedade). Neste caso, já não há um consenso sobre 
os direitos dessa geração. 
• Direitos: na visão do professor Paulo Bonavides, os direitos de 3ª geração são os direitos ao desenvolvimento, ao 
meio ambiente, de autodeterminação dos povos, sobre o patrimônio comum da humanidade e de comunicação 
(rol exemplificativo). 
• Outros - a doutrina cita outros direitos de terceira geração, entre eles: consumidor, crianças e idosos. 
 
Direitos fundamentais de 4ª geração 
• Paulo Bonavides: democracia, informação e pluralismo. 
Segundo este autor, a democracia, a informação e o pluralismo fazem parte da 4ª geração. 
A democracia, segundo Paulo Bonavides, teria evoluído ao longo do tempo e, por isso, seria enquadrada nesta 
geração. 
A informação compreende o direito a informar, a ser informado e a se informar. 
Por fim, o pluralismo está consagrado na CF/88 como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. 
Embora a Constituição Federal utilize a expressão “pluralismo político”, o termo pluralismo é muito mais 
abrangente, alcançando o respeito à diversidade e às diferenças de modo geral. 
✓ Boaventura de Souza Santos possui uma frase interessante: “Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos 
inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.” 
 
 
 
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Obs: é muito importante não confundir os fundamentos, os objetivos e os princípios que regem o Brasil nas relações 
internacionais. Assim, é necessário ler os artigos de 1º a 4º da Constituição Federal. 
 
CF, art. 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito 
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valoressociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos 
termos desta Constituição.” 
 
CF, art. 2º: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” 
 
CF, art. 3º: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação.” 
 
CF, art. 4º: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da 
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.” 
 
 
 
 
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• Outros - parte da doutrina aponta como direitos à quarta geração os seguintes: direitos relacionados à 
biotecnologia e à bioengenharia; identificação genética do indivíduo. 
 
 
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INTENSIVO I 
Marcelo Novelino 
Direito Constitucional 
Aula 2 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Tema: Poder Constituinte 
 
Poder Constituinte 
 
O Poder Constituinte é dividido em algumas espécies: 
 
1) Poder Constituinte Originário; 
2) Poder Constituinte Decorrente; e 
3) Poder Constituinte Derivado. 
3.1) Reformador; 
3.2) Revisor. 
 
Cada um deles será trabalhado detalhadamente a seguir: 
 
1. Poder Constituinte Originário: responsável pela elaboração de uma nova constituição dentro do Estado 
 
O Poder Constituinte Originário é encarregado de elaborar a Constituição do Estado. Pode ser a primeira constituição 
ou uma nova constituição, ou seja, toda a vez que uma nova constituição surge dentro de um Estado já existente, ela 
terá sido elaborada pelo Poder Constituinte Originário. 
 
1.1. Natureza 
 
✓ O Poder Constituinte é um poder de fato ou de direito? É um poder jurídico ou é um poder político? 
 
 
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Os poderes constituídos (Legislativo, Executivo e Judiciário) retiram sua força do texto constitucional. Assim, todos esses 
poderes são jurídicos, pois retiram sua força de uma norma jurídica. 
 
Se o Poder Constituinte Originário é o responsável pela elaboração de uma nova constituição, significa que ele está 
acima dela e, portanto, não retira sua força da Constituição Federal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se o Poder Constituinte Originário está acima da Constituição, é possível questionar de onde esse poder retira sua força. 
Existem duas respostas diferentes para essa pergunta: 
 
1º) Dentro de uma visão jusnaturalista (ou seja, de que existe um Direito Natural acima do direito positivo). 
O direito natural é aquele inato ao homem, com princípios eternos, universais e imutáveis. 
De acordo com a visão jusnaturalista, o direito positivo deve observar os imperativos do direito natural. Logo, o Poder 
Constituinte Originário, embora não esteja subordinado ao direito positivo, está subordinado aos imperativos do direito 
natural. 
De acordo com esta concepção, o Poder Constituinte Originário seria um poder jurídico ou um poder de direito. Isto 
porque este poder estaria limitado pelo Direito Natural. 
 
2º) Já para a concepção positivista, não há nenhum outro direito além daquele posto pelo Estado. Assim, tratar-se-ia de 
um poder político ou um poder de fato. Se não há direito acima do direito positivo, o Poder Constituinte Originário tem 
natureza política, e não jurídica. 
 
Constituição Federal 
Leis 
Decretos 
Poder Constituinte Originário 
 
 
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Em uma prova objetiva, o aluno deve marcar a concepção positivista. Este é o entendimento predominante dentro da 
doutrina brasileira. 
 
1.2. Características essenciais (MP/MS 2013) (DPC/MA 2018) 
 
Aqui também há uma concepção jusnaturalista e uma concepção positivista. Dependendo da concepção adotada, as 
características serão diferentes. 
 
1º) Concepção jusnaturalista (Abade Sieyès - principal teórico do Poder Constituinte) 
 
a) Incondicionado juridicamente: o Poder Constituinte Originário é incondicionado juridicamente pelo direito 
positivo, mas é condicionado pelo direito natural. 
 
b) Permanente: não se esgota com o seu exercício. Ou seja, não acaba com a elaboração de uma constituição. Ele 
permanece existente, mesmo depois de realizar a sua obra, em estado latente. 
 
c) Inalienável: a titularidade deste poder é intransferível. O titular do Poder Constituinte, para o Abade Sieyès, era 
a nação. Atualmente, entende-se que o titular do Poder Constituinte é o povo, que é um conceito mais amplo. 
Na visão do Abade Sieyès, a nação nunca perde a titularidade, que é inalienável. O Poder Constituinte pode até 
ser usurpado, mas seu titular continua sendo o povo ou a nação. 
 
 
2º) Concepção positivista (Georges Burdeau): 
 
a) Inicial: Ele é o responsável pela elaboração da constituição e, portanto, não há nenhum outro poder antes ou 
acima dele, já que os demais poderes retirarão a sua força da constituição. 
 
b) Autônomo: cabe ao Poder Constituinte Originário escolher a ideia de direito que irá prevalecer dentro do 
Estado (exemplo: estado unitário, federativo, presidencialismo, parlamentarismo etc.). 
 
c) Incondicionado: segundo os positivistas, não há nenhum outro direito além do direito positivo, assim, não está 
sujeito a nenhuma condição: nem condição formal, nem condição material. Cabe apenas a ele decidir que 
conteúdo será consagrado na constituição e qual a formalidade a ser observada para a elaboração destas 
normas. 
 
Observação: no caso da CF/1988, houve uma convocação por meio da EC 26/1985 e uma constituinte para elaborar a 
constituição. A citada emenda constitucional trouxe uma formalidade a ser observada. Veja a redação da EC 26/1985: 
 
 
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EC 26/85 – “Convoca Assembléia Nacional Constituinte e dá outras providências. 
[...] 
Art. 1º Os Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal reunir-se-ão, unicameralmente, em Assembléia 
Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia 1º de fevereiro de 1987, na sede do Congresso Nacional. 
Art. 2º. O Presidente do Supremo Tribunal Federal instalará a Assembléia Nacional Constituinte e dirigirá a sessão de 
eleição do seu Presidente. 
Art. 3º. A Constituição será promulgada depois da aprovação de seu texto, em dois turnos de discussão e votação, pela 
maioria absoluta dos Membros da Assembléia Nacional Constituinte.” 
 
Considerações importantes: 
✓ Segundo José Afonso da Silva, não houve uma Assembleia Nacional Constituinte para a elaboração da CF/1988, 
mas um Congresso Constituinte. 
✓ Quando se fala em Poder Constituinte Originário, pode-se falar em poder inicial, autônomo e incondicionado ou 
pode-se falar em poder soberano, independente e primário. 
✓ Assembleia Nacional Constituinte é um conjunto de pessoas eleitas para o fim específico de elaborar uma 
constituição. No caso da CF/1988, houve uma convocação específica para a formação da Assembleia Nacional 
Constituinte. O professor destaca, entretanto, que nem todos os constituintes foram eleitos exclusivamente para 
esse fim, pois alguns senadores já estavam cumprindo mandato no momento da instauraçãoda Assembleia. 
Diante disso, muitos autores, na época, questionaram se o Poder Constituinte da CF/1988 era, de fato, originário. 
Prevaleceu o entendimento de que se tratava de Poder Constituinte Originário e democrático. Além disso, o 
professor destaca que não se tratou de Poder Constituinte condicionado, pois a Assembleia Nacional Constituinte 
não estava obrigada a seguir as formalidades da EC 26/1985. 
✓ Na visão positivista, o Poder Constituinte Originário não precisa respeitar sequer os princípios éticos e valores 
enraizados na sociedade, pois não há qualquer tipo de limitação para o Poder Constituinte Originário. Se, 
entretanto, for adotada uma visão não positivista do direito, existem limites materiais ou extrajurídicos que 
devem ser observados. 
 
1.3. Limites materiais (ou extrajurídicos) 
Tem ganhado força, no Brasil, uma visão não positivista em relação aos limites materiais que o Poder Constituinte 
Originário possui. 
 
Robert Alexy, por exemplo, intitula-se não positivista e defende que o direito extremamente injusto não pode ser 
considerado direito (fórmula de RadBruch). 
 
✓ Obs.: Não positivista é aquele que admite algo além do direito positivo. Visão não positivista é mais ampla do 
 
 
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que a visão jusnaturalista. 
 
Limites materiais (ou extrajurídicos) que devem ser observados pelo Poder Constituinte Originário: 
 
1º) Imperativos do Direito Natural: Para os jusnaturalistas, acima do direito positivo, há um conjunto de normas eternas, 
universais e imutáveis, que formam o direito natural. Este direito natural limita o direito positivo e, por consequência, o 
Poder Constituinte Originário. 
 
2º) Valores éticos, sociais e políticos: os valores acolhidos por uma comunidade limitam o Poder Constituinte Originário. 
Se ele tem como titular o povo, ele não pode consagrar na constituição valores incompatíveis com aqueles 
predominantes na sociedade, mas sim que correspondam aos valores éticos, sociais e políticos. 
 
3º) Direitos fundamentais já consolidados: a doutrina entende que os direitos fundamentais conquistados por uma 
sociedade ao longo do tempo não podem ser objeto de retrocesso. 
 
A proibição (vedação) do retrocesso atua em dois sentidos (efeito cliquet): 
a) Seria uma limitação ao Poder Constituinte Originário, não podendo ser desprezada quando da elaboração de uma 
nova Constituição. 
Neste primeiro sentido, os direitos fundamentais conquistados pela sociedade e sobre os quais haja um consenso 
profundo não podem ser objeto de um retrocesso. Uma nova constituição não pode retroceder naqueles direitos 
fundamentais que a sociedade já conquistou. 
Fábio Konder Comparato traz o exemplo da pena de morte, pois, no Brasil, uma nova constituição não poderia, segundo 
ele, prever a pena de morte, já que isso seria um retrocesso social. 
Na Convenção Americana sobre Direitos Humanos há dispositivo que consagra a vedação do retrocesso, exatamente 
com relação à pena de morte. É o chamado “efeito cliquet”, termo originário do alpinismo, que significa, neste contexto, 
o impedimento de retrocesso. 
 
b) Limitação aos poderes públicos em relação ao grau de concretização alcançado pelos direitos sociais. 
Aqui, há a vedação de retrocesso social. Segundo essa visão, os direitos sociais não podem ser objeto de retrocesso. 
 
4º) Normas de Direito Internacional: cada vez mais o Poder Constituinte Originário tem a característica da ilimitabilidade 
relativizada. 
A flexibilização do caráter ilimitado do Poder Constituinte decorreu de dois aspectos: globalização e crescente 
preocupação com a proteção de direitos humanos. 
Assim, atualmente, o Poder Constituinte deve observar, também, as normas de direito internacional, principalmente as 
que se referem aos direitos humanos. 
 
 
 
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1.4. Legitimidade do Poder Constituinte Originário: como ele está acima da Constituição, não se fala em 
constitucionalidade ou inconstitucionalidade desse poder. Quando se analisa o Poder Constituinte Originário, deve-se 
avaliar se ele é legítimo ou não. 
 
A legitimidade pode ser analisada por dois prismas: 
 
a) Subjetiva: titularidade e exercício deste poder. A titularidade, dentro de uma concepção democrática, pertence ao 
povo ou à nação. O exercício deste poder (efetiva elaboração da constituição) nem sempre corresponde à titularidade. 
Quando a constituição é elaborada por representantes do povo, eleitos para esse fim específico, a constituição é 
considerada democrática. 
Se a titularidade não corresponde ao exercício, o Poder Constituinte é ilegítimo no aspecto subjetivo. Exemplo: um 
determinado grupo de pessoas toma o poder e faz nova constituição. Ela será ilegítima. 
 
b) Objetiva: está relacionado ao conteúdo da constituição. Sob o aspecto objetivo, o Poder Constituinte Originário deve 
consagrar um conteúdo normativo em conformidade com a ideia de justiça e com os valores radicados na comunidade 
em um determinado momento histórico. É necessário que haja correspondência entre o que foi consagrado na 
constituição e os valores daquela comunidade. 
 
2. Poder Constituinte Decorrente: 
Só existente em federações. É um poder jurídico responsável por elaborar as constituições dos estados-membros, 
podendo ser inicial ou secundário. 
 
2.1. Natureza 
Discute-se na doutrina se o Poder Constituinte Decorrente seria realmente constituinte ou constituído. Há três 
posicionamentos: 
 
I) Constituinte: Anna Cândida da Cunha Ferraz entende que o Poder Constituinte Decorrente é um poder 
verdadeiramente constituinte, uma vez que é o responsável pela criação da constituição do estado-membro. 
 
II) Derivado: Celso Bastos defende que se trataria de poder derivado, e não constituinte propriamente dito. Esta 
posição foi cobrada na prova do MP/SC de 2016. É o poder de modificar a Constituição Federal e, também, o poder de 
elaborar constituições estaduais. 
 
III) Dupla: Raul Machado Horta entende que o Poder Constituinte Decorrente teria uma dupla natureza: seria um 
poder constituinte em relação à constituição do Estado-membro, mas seria constituído em relação à Constituição 
Federal. 
 
 
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2.2. Fundamento constitucional: 
 
Na CF/1988, há dois dispositivos que preveem a existência do Poder Constituinte Decorrente: 
 
CF, art. 25. “ Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta 
Constituição.” 
ADCT, art. 11, caput. “Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no 
prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta.” 
✓ As constituições estaduais devem ser simétricas em relação à Constituição Federal. 
O princípio da simetria é extraído destes dois dispositivos citados. Quando dizem “observados os princípios desta 
Constituição”, dizem que a Constituição Estadual deve ser simétrica à Constituição Federal. Isto é, deve seguir o modelo 
da Constituição Federal. Como decorrência do princípio da simetria, há normas de observância obrigatória pelos Estados 
– normas que o Estado obrigatoriamente deve observar. 
Há normas, entretanto, que se dirigem à União e, mesmo assim, o modelo estabelecido deve ser seguido pelos estados-
membros (observância obrigatória). Exemplo: processo legislativo (art. 59 e seguintes da CF). 
Outro exemplo se refere aos requisitos para a criação de uma CPI (art. 58, §3º, CF1). Ao fazer a leitura do dispositivo, é 
possível perceber que só há menção da CPI em âmbito federal. Entretanto, segundo a jurisprudência do STF, os requisitos 
para a criação da CPI (requerimento de um terço dos membros, apuração de fato determinado e prazo certo de duração) 
são de observância obrigatória para os estados. 
 
Por fim, pode-se citar como exemplo expresso o art. 74 da CF2, o qual determina que as normas de organização e 
funcionamentodo TCU devem ser reproduzidos pelos tribunais de contas dos estados. 
 
1 CF, art. 58, §3º: “As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades 
judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo 
Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração 
de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para 
que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.” 
2 CF, art. 74: “Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno 
com a finalidade de: 
 
 
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2.3. Características do Poder Constituinte Decorrente 
 
O Poder Constituinte Decorrente não tem as mesmas características do Poder Constituinte Originário. 
O Poder Constituinte Decorrente retira o seu fundamento do texto constitucional. Assim, trata-se de um poder jurídico, 
pois está limitado pela Constituição Federal. 
 
a) Secundário: o Poder Constituinte Decorrente é secundário, pois surge a partir de outro poder, que é o originário. 
 
b) Limitado: encontra limites na Constituição Federal. 
 
c) Condicionado: deve observar determinadas condições impostas pela Constituição da República. 
 
Questão: Existe Poder Constituinte Decorrente no Distrito Federal e Municípios? (AGU 2006) 
O entendimento majoritário na doutrina é no sentido de que no Distrito Federal existe um Poder Constituinte 
Decorrente. Isto porque, embora se chame Lei Orgânica, ela tem a natureza de uma Constituição Estadual tanto quanto 
de Lei Orgânica – o Distrito Federal detém competências estaduais e municipais. (Entendimento de Marcelo Novelino, 
Dirley da Cunha Júnior, Bernardo Gonçalves). 
 
No caso dos Municípios, prevalece o entendimento no sentido de que não há Poder Constituinte Decorrente. Dirley da 
Cunha Júnior e Pedro Lenza adotam esse entendimento. 
 
✓ Na opinião do professor Novelino, a natureza da lei orgânica do município é a mesma natureza da constituição 
estadual. Entretanto, esse não o posicionamento dominante. 
 
3. Poder Constituinte Derivado 
 
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos 
orçamentos da União; 
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e 
patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades 
de direito privado; 
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; 
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. 
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela 
darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária. 
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar 
irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.” 
 
 
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3.1. Espécies 
 
A Constituição da República prevê duas espécies de poder derivado: 
 
1º) Poder Reformador (CRFB/88, art. 603): responsável pela reforma da Constituição. A reforma pode ser definida como 
a via ordinária de alteração da constituição. 
 
2º) Poder Revisor (ADCT, art. 3): este poder é responsável pela revisão constitucional. A revisão é uma via extraordinária 
de alteração da constituição. 
 
ADCT, art. 3º: “A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo 
voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.” 
 
O art. 3º, ADCT, trouxe duas limitações para este poder: (I) uma limitação temporal de 5 anos; e (II) uma limitação formal, 
relativa ao procedimento a ser adotado. 
 
 
3 CRFB/1988, art. 60: “A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; 
II - do Presidente da República; 
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela 
maioria relativa de seus membros. 
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de 
sítio. 
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada 
se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. 
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o 
respectivo número de ordem. 
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
I - a forma federativa de Estado; 
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
III - a separação dos Poderes; 
IV - os direitos e garantias individuais. 
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova 
proposta na mesma sessão legislativa.” 
 
 
 
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Obs.: o único local em que a Constituição Federal de 1988 dispôs sobre sessão unicameral foi no art. 3º, ADCT. Em todos 
os demais momentos, versa-se sobre sessão bicameral, ou seja, o cômputo dos votos dos membros do Congresso 
Nacional é feito separadamente (Câmara dos Deputados e Senado Federal). Mesmo quando há sessão conjunta, os votos 
são computados separadamente. 
 
✓ Segundo a doutrina, o objetivo da limitação temporal de 5 anos foi permitir que se fizesse uma mudança mais 
ampla e profunda na Constituição Federal caso o eleitorado optasse por modificar a forma de governo e o 
sistema de governo, pois o art. 2º da ADCT4 trazia a previsão de plebiscito a ser realizado em 07/09/1993. Caso 
o eleitorado quisesse alterar a forma ou o sistema de governo, a revisão constitucional viabilizaria todas as 
mudanças que seriam necessárias. 
✓ É possível uma nova revisão constitucional no Brasil? Não, pois o art. 3º da ADCT é norma de eficácia exaurida. 
✓ Poderia uma EC acrescentar um novo dispositivo da ADCT prevendo outra revisão? Parte da doutrina entende 
que não, pois seria uma maneira de burlar a Constituição Federal, pois o Poder Constituinte Originário previu 
um procedimento mais complexo para alterar o texto constitucional. 
O professor defende que, desde que haja uma justificativa fática realmente importante, no entendimento dele, 
seria possível estabelecer uma nova revisão. Entretanto, esse tema é bastante polêmico e não é possível utilizar 
a revisão como maneira de fraudar o procedimento de alteração da CF/1988. 
 
STF, ADI 981 MC: “Após 5 de outubro de 1993, cabia ao Congresso Nacional deliberar no sentido da oportunidade ou 
necessidade de proceder à aludida revisão constitucional, a ser feita uma só vez.” 
 
STF, ADI 1.722 MC: “Ao Poder Legislativo, Federal ou Estadual, não está aberta a via da introdução, no cenário jurídico, 
do instituto da revisão constitucional”. 
 
3.2. Limitações 
 
As limitações podem ser de quatro espécies, segundo a doutrina: 
 
3.2.1. Temporais: 
A limitação temporal proíbe a alteração da constituição durante um determinado período de tempo. Isso ocorre para 
 
4 ADCT, art. 2º: “No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou 
monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no 
País. (Vide emenda Constitucional nº 2, de 1992) 
§ 1º Será assegurada gratuidade na livre divulgação dessas formas e sistemas, através dos meios de comunicação de 
massa cessionários de serviço público. 
§ 2º O Tribunal Superior Eleitoral, promulgada a Constituição,expedirá as normas regulamentadoras deste artigo.” 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc02.htm
 
 
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possibilitar a sedimentação do texto constitucional. 
No Brasil, a Constituição Imperial de 1824 trouxe uma limitação temporal de 4 anos. 
 
CIB/1824, art. 174: “Se passados quatro anos, depois de jurada a Constituição do Brasil, se conhecer, que algum dos 
seus artigos merece reforma, se fará a proposição por escrito, a qual deve ter origem na Câmara dos Deputados, e ser 
apoiada pela terça parte deles.” 
 
A Constituição Federal de 1988 não trouxe limitação temporal para o Poder Reformador. Agora, como visto 
anteriormente, houve uma limitação temporal para o Poder Revisor (art. 3º, ADCT). 
 
3.2.2. Circunstanciais: 
As limitações circunstanciais são aquelas que proíbem a alteração da constituição durante a vigência de situações 
excepcionais, nas quais a livre manifestação do Poder Constituinte possa estar ameaçada. 
Estas circunstâncias são tão graves que podem colocar em risco a livre manifestação do Poder Reformador. 
As três circunstâncias previstas na Constituição são (art. 60, § 1º5): Estado de Defesa, Estado de Sítio e Intervenção 
Federal. É uma forma de preservar a livre manifestação do Poder Reformador. 
 
Prevalece na doutrina que as limitações previstas se aplicam ao Poder Revisor. 
 
3.2.3. Formais ou procedimentais (processuais): 
São aquelas que impõem formalidades a serem observadas quando da alteração da Constituição. 
São também chamadas de limitações implícitas, pois, se elas impõem formalidades a serem observadas, implicitamente, 
estão proibindo outras formalidades. 
As limitações formais do Poder Reformador estão previstas no art. 60, caput, §§ 2o, 3º e 5o6. 
 
5 CRFB/1988, art. 60, §1º: “A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de 
defesa ou de estado de sítio.” 
6 CF/1988, art. 60, caput, §§2º, 3º e 5º: “A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; 
II - do Presidente da República; 
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela 
maioria relativa de seus membros. 
(...) 
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada 
se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. 
 
 
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a) Limitações formais subjetivas: relacionadas aos sujeitos competentes para alterar a constituição. Esta iniciativa 
está prevista no art. 60, caput, I, II e III: 
 
“Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;” 
Ao contrário do que acontece com o projeto de lei, que pode ser apresentado por um Deputado ou um Senador, as 
propostas de emenda exigem, no mínimo, um terço – ou dos membros da Câmara ou dos Senadores. 
 
“II - do Presidente da República;” 
O Presidente da República é o único legitimado que pode propor lei e emenda. 
A iniciativa para propor emenda é a única participação que o Presidente da República pode ter no processo legislativo 
de elaboração de Emenda Constitucional. 
 
“III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma 
delas, pela maioria relativa de seus membros.” 
 
As Assembleias Legislativas, se quiserem apresentar proposta de Emenda, devem se reunir em, no mínimo, quatorze, 
devendo obter a maioria relativa dos votos dos presentes na sessão (maioria relativa). 
 
Atenção: a Constituição Federal não traz previsão expressa de iniciativa popular para a PEC. Diante disso, há dois 
posicionamentos na doutrina sobre a possibilidade ou não de que uma PEC seja de iniciativa popular: 
1º) Ingo Sarlet e José Afonso da Silva sustentam que é possível, por meio de uma interpretação sistemática da CF, haver 
iniciativa popular de emenda. Por analogia, aplicar-se-ia o art. 61, §2º, CF. 
2º) Gilmar Mendes e Marcelo Novelino defendem que, por razões de interpretação histórica, a iniciativa popular não é 
possível, já que o Poder Constituinte Originário optou por não acrescentar essa possibilidade ao texto constitucional. 
 
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o 
respectivo número de ordem. 
(...) 
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova 
proposta na mesma sessão legislativa.” 
 
 
 
 
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Além disso, a norma que prevê a iniciativa para PEC é excepcional e, portanto, deve ser interpretada restritivamente. 
 
b) Limitações formais objetivas: o art. 60, §2º da CF prevê que “A proposta será discutida e votada em cada Casa 
do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos 
dos respectivos membros.” 
b.1) Limitação relativa ao quórum: é necessário ter atenção ao quórum (3/5 dos votos = 60% - É possível fazer a relação: 
art.60 = 60% dos votos) e para o fato de que são dois turnos de votação em cada Casa do Congresso Nacional. 
Não há previsão para lapso temporal entre esses dois turnos, mas o Regimento Interno do Senado prevê, no mínimo, 5 
dias úteis. 
 
STF – ADI 4.357/DF: “1. A aprovação das emendas à Constituição não recebeu da Carta de 1988 tratamento específico 
quanto ao intervalo temporal mínimo entre os dois turnos de votação (CF, art. 62, §2º), de sorte que inexiste parâmetro 
objetivo que oriente o exame judicial do grau de solidez da vontade política de reformar a Lei Maior (...) A interferência 
judicial no âmago do processo político, verdadeiro locus da atuação típica dos agentes do Poder Legislativo, tem de 
gozar de lastro forte e categórico no que prevê o texto da Constituição Federal. Inexistência de ofensa formal à 
Constituição brasileira.” 
 
b.2) A segunda limitação está no § 3º do art. 60, CF: “a emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara 
dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem”. 
Esta promulgação é feita conjuntamente por duas Mesas: a Mesa da Câmara dos Deputados e a Mesa do Senado Federal. 
Não há sanção ou veto de proposta de emenda. 
 
b.3) A terceira limitação está no § 5º do art. 60, CF: “a matéria constante da proposta de emenda rejeitada ou havida 
por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”. 
 
Obs.: o STF decidiu uma questão interessante referente ao substitutivo, o qual é uma emenda mais ampla que, 
praticamente, substitui a proposta de emenda originária. 
Imagine, por exemplo, que o Presidente da República apresenta uma PEC e, ao chegar na Câmara dos Deputados, estes 
apresentam um substitutivo a esta PEC. Posteriormente, o substitutivo é rejeitado. Em relação a essa situação, o STF 
entende que a rejeição do substitutivo não impede que a proposta originária seja votada na mesma sessão legislativa. 
 
MS 22.503/DF: “1. Não ocorre contrariedade ao §5º do art. 60 da Constituição na medida em que o Presidente da 
Câmara dos Deputados, autoridade coatora, aplica dispositivo regimental adequado e declara prejudicada a proposição 
que tiver substitutivo aprovado, e não rejeitado, ressalvados os destaques (art. 163, V). 2. É de ver-se, pois, que tendo a 
Câmara dos Deputados apenas rejeitado o substitutivo, e não o projeto que veio por mensagem do Poder Executivo, 
não se cuida de aplicar a norma do art. 60, § 5º, da Constituição. Por isso mesmo, afastada a rejeição do substitutivo, 
 
 
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nada impede que se prossiga na votação do projeto originário. O que não pode ser votado na mesma sessão legislativa 
é a emenda rejeitada ou havida por prejudicada, e não o substitutivo queé uma subespécie do projeto originariamente 
proposto.” 
 
Atenção: sessão legislativa não se confunde com períodos legislativos, os quais são semestrais. A sessão legislativa 
também não se confunde com a legislatura, que é o período de mandato de 4 anos (art. 44, §único, CF7). 
 
3.2.4.Materiais 
 
As limitações materiais são aquelas que proíbem modificações violadoras do núcleo essencial de certos institutos e 
princípios. As cláusulas pétreas não impedem a alteração da constituição em si, mas apenas a violação desses núcleos 
essenciais. 
 
✓ Constitucionalismo x democracia 
 
É importante destacar que essa limitação material faz surgir um conflito entre o constitucionalismo e a democracia. 
A ideia do Constitucionalismo é limitar o poder para proteger direitos fundamentais. Já a democracia é o governo do povo, 
ou seja, a maioria impõe a sua vontade. Ao criar cláusulas pétreas, surge uma tensão, pois, há, de um lado a imposição 
de certas normas para proteger direitos; de outro, há o enfraquecimento da vontade da população naquele momento. 
 
I- Dificuldades: 
1ª) de caráter temporal: “Governo dos mortos sobre os vivos” (Thomas Jefferson): questiona-se por que a vontade de 
gerações passadas deve prevalecer sobre a vontade da geração atual; 
 
2ª) de caráter semântico: existem alguns dispositivos na constituição que são vagos, abstratos e imprecisos. Assim, 
quando os juízes fazem a interpretação de preceitos vagos, a vontade deles, em tese, poderia estar prevalecendo em 
relação à vontade do parlamento. 
Exemplos: individualização da pena e princípio da presunção de inocência (houve quatro alterações de entendimento 
do STF ao longo dos anos). 
 
II- Teorias de justificação 
 
Na teoria política contemporânea, existem algumas tentativas de justificar a legitimidade das restrições impostas pelas 
 
7 CRFB, art. 44, §único:” Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos 
Deputados e do Senado Federal. 
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.” 
 
 
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cláusulas pétreas: 
a) Teoria do pré-comprometimento (Jon Elster) 
b) Teoria da democracia dualista (Bruce Ackerman) 
 
• Teoria do pré-comprometimento 
 
A Teoria do pré-comprometimento parte da ideia de que as constituições democráticas são mecanismos de 
autovinculação da sociedade, ou seja, são mecanismos de pré-comprometimento. São adotados para que a sociedade 
possa se proteger de suas próprias paixões e fraquezas. A vontade momentânea deve ser deixada de lado para que o 
propósito maior não seja esquecido. 
 
“...mas muito mais frequente é os homens serem distraídos de seus principais interesses, mais importantes, mas mais 
longínquos, pela sedução de tentações presentes, embora muitas vezes totalmente insignificantes. Esta grande fraqueza 
é incurável na natureza humana.” (David Hume). 
 
É curioso que, posteriormente, Jon Elster adotou uma visão negativa acerca das cláusulas pétreas. 
 
• Teoria da democracia dualista 
 
Essa teoria tem esse nome, pois Bruce Ackerman faz uma distinção entre política ordinária e a política extraordinária. 
a) Política ordinária: deliberações dos órgãos de representação popular, ou seja, é a atuação cotidiana do 
Congresso Nacional (leis). 
b) Política extraordinária: decisões tomadas pelo povo em momentos de grande mobilização cívica. Neste caso, 
essa política poderia impor certos limites à política ordinária. 
 
✓ “Peter drunk – Peter sober”: essa é uma outra analogia feita por Stephen Holmes. A ideia é a seguinte: Pedro 
vai a uma festa e, antes de sair de casa, fala para o amigo que, se ele estivesse bêbado, o amigo não deveria 
entregar a chave do carro a ele. Pedro vai à festa, fica bêbado e muda de ideia. Então, pede que o amigo lhe 
entregue a chave do carro. O amigo se recusa a entregá-la. Diante disso, pergunta-se: por que a primeira vontade 
de Pedro deve prevalecer sobre a segunda? Porque, no primeiro momento, ele estava sóbrio; no segundo, 
embriagado. 
Do mesmo modo, muitas vezes, a sociedade toma certas decisões embriagada. Por esse motivo, é necessário 
que algumas metas sejam resguardadas. 
 
III- Finalidades 
 
 
 
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As cláusulas pétreas possuem três finalidades básicas:: 
a) Preservar a identidade material da Constituição: toda Constituição tem uma identidade de conteúdo. Para 
evitar que a Constituição se desfigure, alguns dispositivos que conferem a ela a identidade material não podem 
ser alterados – pelo menos em seu núcleo essencial. É para isto que existem cláusulas pétreas. 
 
b) Proteger institutos e valores essenciais para a sociedade: a Constituição consagra institutos e valores essenciais 
para uma sociedade – por exemplo, direito à vida, direito ao voto etc. 
 
C) Assegurar a continuidade do processo democrático: nesse sentido, as cláusulas pétreas servem para impedir 
que uma maioria que esteja no poder utilize mecanismos para se manter no poder. Quem está no poder tem a 
tendência de modificar as regras do jogo para nele se manter. Para evitar isto, a Constituição consagra cláusulas 
pétreas. 
 
 
 
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INTENSIVO I 
Marcelo Novelino 
Direito Constitucional 
Aula 03 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Tema 1: Poder Constituinte (continuação) 
Tema 2: Constituição 
 
IV - Cláusulas pétreas: 
 
Quando a CF/1988 se refere às limitações materiais no art. 60, § 4º, ela utiliza a expressão “tendente a abolir”, a qual 
deve ser entendida de forma a proteger o núcleo essencial de certos direitos. Isso não significa que o dispositivo não 
possa sofrer modificações. 
✓ Segundo o entendimento do STF, o que as cláusulas pétreas protegem não é a intangibilidade do dispositivo, 
mas sim o núcleo essencial de certos princípios e institutos. 
 
CF, Art. 60, § 4º: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
I - a forma federativa de Estado; (PGE/PE 2018) 
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
III - a separação dos Poderes; 
IV - os direitos e garantias individuais.” 
 
STF – ADI 2.024/MC/DF: “(...) de resto as limitações materiais ao poder constituinte de reforma, que o art. 60, § 4º, da Lei 
Fundamental enumera, não significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição originária, mas 
apenas a proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nelas se protege.” 
 
 
 
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Exemplo: art. 16 da CF1 – versa sobre a anterioridade eleitoral. O dispositivo foi alterado pela EC 04/1993 e tal alteração 
foi considerada legítima pelo STF. 
 
STF – ADI 3.685: “A modificação no texto o art. 16 pela EC 4/1993 em nada alterou seu conteúdo principiológico 
fundamental. Tratou-se de mero aperfeiçoamento técnico levado a efeito para facilitar a regulamentação do processo 
eleitoral. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no sentido de que a inovação trazida no art. 
1º da EC 52/2006 somente seja aplicada após decorrido um ano da data de sua vigência.” 
 
✓ Existem duas espécies de cláusulas pétreas consagradas na Constituição: expressas e implícitas. 
 
IV.1 - Cláusulas pétreas expressas ou explícitas: 
 
CF, art. 60, § 4º: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
 
• “I - a forma federativa de Estado”; 
A forma federativa de Estado vem sendo considerada cláusula pétrea desde a primeira constituição republicana (1891). 
O núcleo essencial da forma federativa de Estado é a autonomia conferida aos entes federativos. 
 
✓ A autonomia concedida pela CF/1988 aos entes da federação não pode sofrer interferências indevidas. Não 
pode haver redução desproporcional da autonomia conferida aos entes federativos. 
 
O Supremo Tribunal Federal, com base nesse entendimento, considerou que o princípio da imunidade tributária 
recíproca (art. 150,CF) é cláusula pétrea decorrente da forma federativa de Estado, pois visa à proteção da autonomia 
dos entes da federação, razão pela qual não pode ser violada por Emenda. 
 
• “II - o voto direto, secreto, universal e periódico;” 
O que é universal não é o voto, é o direito de sufrágio. O que é secreto, também não é o voto, mas sim o escrutínio. Não 
se consagra como cláusula pétrea o voto obrigatório. A obrigatoriedade do voto não é cláusula pétrea expressa. 
Prevalece na doutrina o entendimento de que o voto obrigatório não é cláusula pétrea implícita. 
 
• “III - a separação dos Poderes;” 
A separação dos poderes impede que haja uma alteração que afete o equilíbrio entre os poderes. 
 
 
1CF, art. 16: “A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição 
que ocorra até um ano da data de sua vigência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de 1993)” 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc04.htm
 
 
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Observação: 
“Biding effect” é o efeito vinculante, decorrente do sistema do “stare decisis”. Nos EUA, as decisões judiciais são 
vinculantes. No Brasil, isso não ocorre. Para sanar esta deficiência, a Constituição de 1934 criou o papel do Senado de 
suspender a execução de lei declarada inconstitucional pelo STF. 
✓ Assim, não afeta a função típica do Poder Legislativo (e a consequente separação de poderes) o fato de retirar 
esta competência do Senado Federal por meio de Emenda constitucional. 
 
A separação de poderes visa a evitar que sejam retiradas funções típicas dos Poderes constituídos. 
 
• “IV - os direitos e garantias individuais.” 
 
A CF/1988 não fala em direitos e garantias fundamentais, mas em direitos e garantias individuais. 
✓ Direitos fundamentais são o gênero e este compreende os direitos individuais, direitos coletivos, direitos sociais, 
direitos de nacionalidade e direitos políticos. Assim sendo, os direitos e garantias individuais constituem uma 
espécie dos direitos fundamentais. 
 
Observação: os direitos e garantias individuais, embora estejam sistematizados no art. 5º da CF, não se restringem a 
ele. 
Exemplo: art. 16 da CF – princípio da anterioridade eleitoral. 
 
✓ A liberdade de associação e a liberdade de reunião são direitos individuais de participação coletiva. O exercício 
desses direitos só pode ocorrer de forma coletiva. Assim sendo, esses direitos constituem cláusulas pétreas. 
 
É possível reconhecer outros direitos fundamentais (fora do art. 5º) como cláusulas pétreas, desde que haja a respectiva 
justificativa. 
Exemplos: direito à saúde, educação, alimentação. Embora sejam direitos sociais, eles estão intimamente ligados à 
dignidade da pessoa humana. 
 
Atenção: uma parte da doutrina entende que se deve ler o termo “individuais” como “fundamentais” - ou seja, todos 
seriam cláusulas pétreas expressas. Este ponto de vista, adotado por Ingo Sarlet, é objeto de divergência na doutrina. 
O professor Novelino entende que, se o constituinte quisesse consagrar todos os direitos fundamentais, ele teria feito 
expressamente. O professor defende a ideia de que os direitos e garantias individuais são cláusulas pétreas que não se 
restringem ao art. 5º da Constituição Federal. 
✓ Há, ainda, uma visão intermediária (Paulo Bonavides), a qual defende que nem todos os direitos fundamentais 
seriam cláusulas pétreas, mas apenas alguns deles, como os direitos sociais. 
 
 
 
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STF – ADI 3.367/DF: “Conselho Nacional de Justiça. Instituição e disciplina. Natureza meramente administrativa. Órgão 
interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura.(...) Ofensa a cláusula constitucional imutável 
(cláusula pétrea). Inexistência. Subsistência do núcleo político do princípio, mediante preservação da função 
jurisdicional, típica do Judiciário, e das condições materiais do seu exercício imparcial e independente.” 
 
IV.2 – Cláusulas pétreas implícitas. 
 
Cláusulas pétreas implícitas são aquelas que não estão elencadas no art. 60, § 4º da CF, mas que, por algum motivo, 
podem ser justificadas como cláusulas intangíveis. 
 
A doutrina costuma citar as seguintes cláusulas pétreas implícitas: 
 
1ª - Limitações (CF, art. 60): Dupla revisão (“dupla reforma” ou “reforma em dois tempos”) 
Vários doutrinadores sustentam que as limitações previstas no art. 60 da CF/88 são cláusulas pétreas. O Poder Reformador 
não pode alterar seus próprios limites, sob pena de que eles não tenham a devida eficácia. 
 
A dupla reforma, dupla revisão ou reforma em dois tempos não é admitida pela grande maioria da doutrina brasileira. 
Na dupla reforma, em um primeiro momento, afasta-se uma limitação contida no texto constitucional para, 
posteriormente, alterar o conteúdo da constituição. 
 
Exemplo: a pena de morte é vedada pela CF, art. 5º, XLVII, “a”. Caso o constituinte derivado desejasse consagrar a pena 
de morte para crimes hediondos, ele não poderia elaborar uma emenda, pois ela seria incompatível com a cláusula 
pétrea. 
Questiona-se: o constituinte poderia revogar o art. 60, § 4º, IV? Em caso positivo, os direitos e garantais individuais 
deixariam de ser cláusulas pétreas e, por conseguinte, a pena de morte também deixaria de sê-la e poder-se-ia consagrar 
a pena de morte para crimes hediondos. Esse procedimento seria considerado dupla reforma e ela não é aceita pela 
legislação brasileira. 
 
2ª - Titularidade do Poder Constituinte: a titularidade do Poder Constituinte (Originário ou Derivado) não pode ser 
objeto de modificação - ela sempre pertence ao povo. 
Nelson de Souza Sampaio indica, em sua obra, que se trata de cláusula pétrea implícita e, portanto, não poderia ser 
alterada. 
 
3ª – Sistema presidencialista e forma republicana: não há na doutrina um consenso sobre elas. Há três posicionamentos 
a respeito: 
 • Minoritário: como o sistema presidencialista e forma republicana não estão expressamente previstos como cláusulas 
 
 
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pétreas, poderia haver uma emenda para modificá-los. 
Trata-se de argumento bastante fraco, pois existem cláusulas pétreas implícitas. 
 
• Ivo Dantas: o sistema presidencialista e a forma republicana só não foram consagrados como cláusulas pétreas 
expressas porque o próprio legislador constituinte originário trouxe a previsão de um plebiscito em sete de setembro 
de 1993 - é como se o Poder Constituinte Originário tivesse conferido ao povo, naquele momento, a legitimidade para 
decidir se queria ou não alterar tais cláusulas pétreas. A partir do momento em que houve uma decisão popular 
(plebiscito), o sistema de governo e a forma de governo se tornaram imutáveis. 
 
• É possível alterar o sistema presidencialista e a forma republicana, desde que haja um novo plebiscito. Em outras 
palavras, eles não são cláusulas pétreas, mas não podem ser simplesmente modificados por reforma, já que houve uma 
consulta popular, na qual o povo decidiu pela manutenção do sistema e pela forma de governo. 
 
Questão: é possível ampliar o rol de cláusulas pétreas previsto no art. 60, §4º da CF? 
Prevalece na doutrina que não é possível. Por uma questão lógica, o Poder Reformador não poderia criar limitações ao 
seu próprio poder. Esse é o entendimento do Ministro Gilmar Mendes. 
Entretanto, há uma exceção a esse entendimento: nada impede que novos direitos e garantias individuais sejam 
incorporados ao texto constitucional, seja por emenda constitucional, seja pela incorporação de tratados internacionais 
de direitos humanos (com status constitucional) ao ordenamento jurídico. 
Exemplo: inserção do LXXVIII no art. 5º2 pela EC 45 de 2004 (razoável duração do processo). 
 
 
A CONSTITUIÇÃO 
 
 1. Fundamento da constituição (concepções) 
 
1.1) Sociológica (Ferdinand Lassalle); 
1.2) Política (Carl Schmitt); 
1.3) Jurídica(Hans Kelsen); 
1.4) Normativa (Konrad Hesse); 
1.5) Culturalista (Meirelles Teixeira). 
 
 
1.1. Sociológica (Ferdinand Lassalle) 
 
2 CF, art. 5º, LXXVIII: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os 
meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)” 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1
 
 
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 I – Ferdinand Lassalle (Prússia, 1862) é o principal expoente da concepção sociológica de constituição. 
 
II – Ferdinand Lassalle fazia uma distinção entre dois tipos de constituição: constituição escrita (jurídica) e constituição 
real (efetiva). A primeira é o documento formalmente elaborado pelo Poder Constituinte Originário e que é conhecida 
por todos; a segunda são os fatores reais de poder que regem uma determinada nação, ou seja, o conjunto de forças 
atuantes na conservação das instituições políticas. 
 
✓ O autor afirma que há um conjunto de forças politicamente atuantes para a manutenção das instituições 
jurídicas. Exemplo: burguesia, grandes bancos etc. 
 
III - Segundo o autor, se a constituição escrita não corresponder à constituição real, aquela não passará de uma “folha 
de papel”, isto é, ela não possuirá importância alguma. Ademais, sempre que ocorrer um conflito entre elas, prevalecerá 
a constituição real. 
 
1.2. Concepção política 
 
 I – Carl Schmitt (Alemanha, 1928). 
 
II – Na visão de Carl Schmitt, o fundamento da constituição é a “vontade política” que a antecede. 
 
Para a compreensão da “vontade política”, é importante distinguir “Constituição” e “leis constitucionais”. 
Segundo o autor, constituição propriamente dita é apenas aquilo que decorre de uma decisão política fundamental –
direitos fundamentais, estrutura do Estado e organização dos Poderes (normas materialmente constitucionais). Todo o 
restante do texto constitucional formaria apenas as leis constitucionais, as quais correspondem às normas formalmente 
constitucionais. Em suma, a diferença entre as normas materialmente constitucionais e formalmente constitucionais é 
o conteúdo. 
 
1.3. Concepção jurídica 
 
 I – Hans Kelsen (Áustria, 1925). 
 
II – Na visão do autor, o jurista não precisa se socorrer da sociologia (Ferdinand Lassalle) ou da política (Carl Schmitt) 
para buscar o fundamento da constituição, pois ele está no próprio direito. Segundo Kelsen, a constituição é um 
conjunto de normas (dever-ser). 
 
III – Kelsen distingue dois tipos de constituição: 
 
 
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• Sentido lógico-jurídico: corresponde à norma fundamental hipotética (“todos devem obedecer a constituição”): 
 ✓ “Fundamental”: fundamento de validade da constituição em sentido jurídico positivo. 
✓ “Hipotética”: norma pressuposta - fruto de uma convenção social. 
 
• Sentido jurídico-positivo: corresponde ao texto constitucional (conjunto de normas que regulam o modo de produção 
de outras normas). 
 
1.4. Concepção normativa 
 
 I – Konrad Hesse publicou a obra “A Força Normativa da Constituição “ (Freiburg, 1959) 
 
II – A obra “A Força Normativa da Constituição” é dirigida expressamente para combater a obra de Ferdinand Lassalle. 
Portanto, o intuito de Konrad Hesse é rebater a concepção sociológica. 
✓ O autor defendia que, se a constituição tivesse o simples papel de descrever o que acontece na realidade, o 
direito estaria desempenhando uma função indigna de qualquer ciência. Segundo o autor, o direito não diz 
aquilo que é, mas aquilo que deve ser. 
 
III - De acordo com o autor, mesmo que, às vezes, a constituição escrita sucumba à realidade, conforme afirma Lassalle, 
ela tem uma força normativa capaz de modificar essa mesma realidade. Há um condicionamento recíproco entre a 
realidade e a constituição. 
 
Para que ocorra o condicionamento da realidade pela constituição, é necessário que haja uma “vontade de 
constituição”: aqueles que estão no poder devem não apenas ter uma vontade de poder, mas também uma vontade 
de constituição. Quando há a vontade de constituição, ela é capaz de impor tarefas, transformando-se em uma força 
ativa suficiente para modificar a realidade existente. 
 
1.5. Concepção culturalista 
 
 I – Na visão de Meirelles Teixeira, todas as concepções acima não seriam concepções antagônicas ou excludentes, mas 
complementares. Portanto, a constituição teria um fundamento sociológico, político, jurídico e normativo. Todos esses 
aspectos fazem parte da constituição, pois ela resulta de um processo cultural. 
 
✓ Constituição total é aquela que abrange aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos em uma 
perspectiva unitária. 
 
 
 
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II – Segundo Meirelles Teixeira, a constituição seria o “conjunto de normas fundamentais condicionadas pela cultura 
total e, ao mesmo tempo, condicionante desta (...).” 
 
✓ A constituição surge como resultado da cultura de um povo e, ao mesmo tempo, ela condiciona esta cultura. 
 
2. Classificação das constituições 
 
Finalidade: o objetivo de uma classificação é ajudar a compreender o objeto do estudo. Para que a classificação cumpra 
essa finalidade, ela deve ser lógica, coerente e baseada em um único critério. 
 
“Os animais se dividem em: pertencentes ao imperador; embalsamados, domesticados, leitões, sereias, fabulosos, cães 
em liberdade, incluídos na presente classificação, os que se agitam como loucos, que acabam de quebrar a bilha (vaso 
bojudo de cerâmica), que de longe parecem moscas.” (Michel Foucault) 
 
Classificações a serem trabalhadas: 
2.1) Quanto à origem; 
2.2) Quanto ao modo de elaboração; 
2.3) Quanto à identificação das normas; 
2.4) Quanto à estabilidade 
2.5) Quanto à extensão; 
2.6) Quanto à dogmática; 
2.7) Quanto à ontologia. 
 
2.1. Quanto à origem 
 
Critério: força política responsável pelo surgimento da constituição. 
 
Espécies: 
 
 I – Outorgada (imposta): é aquela que decorre de um ato unilateral da vontade política soberana do governante. 
Exemplos: Constituição de 1824 (Imperador) e Constituição de 1967/1969 (junta militar). 
 
II – Cesarista: é uma constituição outorgada, mas submetida a uma consulta popular, com o intuito de aparentar 
legitimidade. No entanto, mesmo havendo uma concordância da maioria da população com o conteúdo constitucional, 
a constituição cesarista não é considerada democrática. 
 
Observação: a Constituição de 1937 previa a realização de um plebiscito para que o povo a aprovasse (art. 187). No 
 
 
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entanto, ela não é considerada cesarista porque a consulta sequer chegou a ser realizada - se houvesse a consulta 
popular e a população aprovasse o texto, a Constituição de 1937 seria cesarista. 
 
III – Pactuada (pactual): resulta de um compromisso entre o soberano (rei/imperador) e a representação nacional 
(parlamento). 
 
Esse tipo de Constituição marcou a transição da monarquia hereditária para a monarquia representativa. 
Exemplo: Constituição francesa de 1830. 
 
IV – Democrática (popular/votada/promulgada): é aquela elaborada por um órgão composto de representantes do 
povo, eleitos para o fim específico de elaborar a Constituição - o órgão é denominado de Assembleia Nacional 
Constituinte. 
✓ A CF/1988 é considerada pela grande maioria da doutrina como sendo uma constituição democrática. 
 
2.2. Quanto ao modo de elaboração 
 
Critério: forma de surgimento da constituição. 
 
Espécies: 
 
 I – Histórica: formada lentamente por meio da gradativa incorporação dos usos, dos costumes, dos precedentes e até 
de alguns documentos escritos à vida estatal. 
 
Exemplo: Constituição inglesa – as constituições consuetudinárias ou costumeiras são históricas quanto ao modo de 
elaboração. 
 
II – Dogmática: resulta

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