Prévia do material em texto
Na saga “Star Wars”, criada pelo americano George Lucas, Han Solo, uma das personagens principais, detém múltiplas identidades que, foragido, lhe permitem vagar pelo espaço sem ser reconhecido pelo Império. Assim, em segundo plano à trama, os filmes destacam a importância do registro civil para a identificação de cidadãos por todo o universo, essencial à garantia de direitos e, no caso de Solo, à perda deles. Infelizmente, o acesso à cidadania no Brasil é restrito, uma vez que, assim como Han - mas por diferentes motivos -, muitos brasileiros seguem invisíveis e irreconhecidos pelo Estado. Desse modo, é observada como principal causa de tal cenário no país a dificuldade social de acesso a centros de registro e, como consequência, a falta de garantia de outros direitos por parte relevante do corpo social. Em primeira perspectiva, a “invisibilidade” civil se dá pela dificuldade de registro civil no Brasil. Segundo a tese de doutorado de F. Escóssia, a população mais pobre do Centro do Rio, por exemplo, tem apenas um meio de acesso ao cartório local para conseguir registrar sua certidão de nascimento: um ônibus lotado que sai apenas às sextas-feiras a partir das nove horas da manhã. Assim, aqueles que precisam trabalhar, estudar ou que não têm tempo o suficiente para aguardar a demorada chegada do transporte público não conseguem emitir seus documentos e, junto a outros três milhões de brasileiros, segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística, seguem “invisíveis” ao poder público. Dessarte, é notória a precariedade de meios de acesso como causa da dificuldade de garantia da cidadania no Brasil. Nesse viés, tal cenário tem como consequência a falta de acesso de pessoas sem registro civil a diversos benefícios sociais. De acordo com a página online do Senado brasileiro, a certidão de nascimento é imprescindível para a emissão de vários documentos civis, como a carteira de trabalho e o título de eleitor, além de ser obrigatória para matricular uma criança na escola. Desse jeito, assim como apontado pelo jornalista Gilberto Dimenstein em sua obra “O cidadão de papel”, uma pessoa não registrada como cidadã brasileira não tem acesso a, por exemplo, o trabalho formal, perdendo benefícios como o décimo terceiro salário, férias remuneradas e carga horária limitada. Sob essa óptica, a “invisibilidade” social impede que muitos brasileiros acessem direitos essenciais à melhora de suas vidas. Portanto, é imprescindível a tomada de medidas que diminuam tal cenário no Brasil. Dessa maneira, cabe ao Ministério da Cidadania, principal e mais influente órgão federal atuante na área dos direitos civis, por meio da redistribuição de verbas e mudança de logística, disponibilizar uma maior quantidade de meios de transporte públicos em mais dias e horários nas diversas cidades e regiões brasileiras. Ademais, o Governo Federal deve, através de campanhas públicas de conscientização, informar a população sobre a importância do registro civil para o acesso à cidadania no país. Feito isso, os direitos civis abordados por Dimenstein serão garantidos a todos e as pessoas serão “invisíveis” apenas na televisão, como em “Star Wars”.