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Asher Intrater - QUEM ALMOÇOU COM ABRAÃO Um estudo das aparições de Deus na forma de um

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Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas de
recuperação ou transmitida em qualquer formato por quaisquer meios — eletrônicos,
mecânicos, fotocópia digital, gravação ou qualquer outro —sem autorização prévia do
autor.
 
Todos os direitos reservados exclusivamente pelo autor. O autor assegura que todo o
conteúdo é original e não viola os direitos legais de qualquer outra pessoa ou trabalho.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida em qualquer formato sem a permissão do
autor.
 
Todas as traduções de citações neste livro são do autor. Para os textos bíblicos, foi usada a
versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, exceto em alguns casos em que
foi usada a versão Almeida Século 21. Nesses casos, a nota AL21 aparece depois da
referência bíblica. Quando a versão em português não confere com a tradução das
Escrituras Hebraicas no original, foi inserida a palavra ou expressão correta entre colchetes
[]. Os textos da Nova Aliança (Novo Testamento) foram comparados a uma reconstrução
adaptada da Moderna Tradução Hebraica (da Sociedade Bíblica de Israel). Algumas
traduções do texto hebraico também foram comparadas às da Nova Versão King James
(em inglês), da Nelson Publishers.
 
SUMÁRIO
 
Prefácio - É Possível Ver Deus?
Parte Um Os Patriarcas
Capítulo Um Quem Almoçou com Abraão?
Capítulo Dois Quem Chutou a Perna de Jacó?
Capítulo Três Por que Yeshua Foi Circuncidado?
Parte Dois O Êxodo
Capítulo Quatro O Anjo de Yehovah
Capítulo Cinco Quem Escreveu os Dez Mandamentos?
Capítulo Seis Yeshua e a Lei Moral
Parte Três A Conquista
Capítulo Sete O Comandante-Chefe
Capítulo Oito Quem Lutou na Batalha de Jericó?
Capítulo Nove Possuindo a Terra
Parte Quatro Os Profetas
Capítulo Dez Quem Está Assentado na Cadeira?
Capítulo Onze Meus Olhos Viram o Rei
Capítulo Doze O Filho do Homem
Parte Cinco A Revelação
Capítulo Treze Quem é o Homem em Chamas?
Capítulo Quatorze A Divina Revelação de João
Prefácio - O Homem-Mistério
Apêndice Um
Apêndice Dois
Apêndice Três
Apêndice Quatro
Apêndice Cinco
Apêndice Seis
Apêndice Sete
Apêndice Oito
Apêndice Nove
Apêndice Dez
Apêndice Onze
Apêndice Doze
Sobre o Autor
 
 
 
PREFÁCIO
É POSSÍVEL VER DEUS?
 
 
H á uma figura que aparece em toda a Lei e nos Profetas. Às
vezes, ele é descrito como o Anjo do Senhor, às vezes como o
próprio Deus, às vezes como alguém “semelhante ao Filho do
Homem” e, muitas outras, sem nome algum. Entender quem é essa
figura representa um desafio aos nossos conceitos mais básicos
acerca de Deus e do Messias.
Enxergar a conexão entre o Anjo do Senhor no Tanakh (Velho
Testamento) e a figura de Yeshua (Jesus) na Nova Aliança (Novo
Testamento) é desafiador tanto para a visão de mundo judaica como
para a cristã. Este livro tem o propósito de desafiar os dois lados
com a mesma intensidade, fazendo uma ponte entre os
entendimentos judaico e cristão.
O propósito principal deste livro é descrever as aparições de
Deus e a natureza do Messias de acordo com as Escrituras.
Desejamos essa verdade acima de todas as outras.
Este livro também tem três propósitos secundários:
1. aprofundar as raízes judaicas da fé cristã;
2. descrever quem é Yeshua com base nas Escrituras 
 hebraicas;
3. demonstrar a coerência da Bíblia do início ao fim.
 
Raízes judaicas
Fui criado num lar judeu liberal e, em minha juventude, frequentei
uma sinagoga conservadora. Durante meus anos de universidade,
fui tomado por uma intensa sede de verdade espiritual. Entretanto,
minha busca pessoal e meus estudos de psicologia, filosofia e
literaturas antigas em Harvard não me levaram a nada que
satisfizesse a alma.
Tentei todo tipo de experiência e prática espiritual. A única coisa
que não estava disposto a considerar era Jesus. Contudo, num
esforço para ser coerente em minha busca pela verdade, percebi
que deveria ler os evangelhos pelo menos uma vez (embora
estivesse convencido de antemão de que não encontraria nada de
bom neles).
A primeira vez que li os evangelhos, no inverno de 1977/1978,
fiquei surpreso com sua atratividade. A pessoa de Yeshua, sua vida
e seus ensinamentos inspiravam amor e admiração. Era difícil não
“se apaixonar” por aquela figura inspiradora.
A segunda vez que os li, no verão de 1978, tive uma segunda
surpresa. Percebi que os escritos eram muito “judaicos”. Todos eram
judeus, incluindo o próprio Yeshua e todos os seus discípulos. Além
disso, toda a visão de mundo apresentada ali acerca do reino de
Deus foi extraída dos Profetas hebreus.
Por conta da primeira surpresa, dediquei minha vida para ser
um seguidor de Yeshua em 1978. A segunda surpresa me levou a
fazer parte do que é popularmente conhecido como Judaísmo
Messiânico. A partir daí, resolvi continuar meus estudos, não
apenas da Bíblia, mas também de literatura cristã e escritos
rabínicos. (Como parte desses estudos, concluí dois mestrados, um
em Estudos Judaicos pela Universidade Hebraica de Baltimore, e
outro em Teologia pelo Instituto Bíblico Messiah.)
Há muitas questões acerca das raízes judaicas do cristianismo.
Uma das mais complexas é a figura do Anjo do Senhor na Torá (Lei)
e nos Profetas. Neste livro, espero tratar dessas questões.
 
Yeshua no Tanakh (VT)
Um elemento fascinante da Nova Aliança (NT) é seu amor por toda
a humanidade e, particularmente, pelo povo judeu. Não há lugar
para qualquer tipo de racismo, embora o papel permanente de Israel
como nação escolhida seja confirmado repetidas vezes (por
exemplo, Rm 9-11). Yeshua chorou por Jerusalém (Lc 19.41-44), e
o apóstolo Paulo (Saulo) disse que estaria disposto a morrer pelos
judeus (Rm 9.1-4).
Em minha nova fé em Yeshua, descobri também um novo amor
por meu próprio povo. Senti-me impelido a falar com minha família
sobre a graça de Deus e a vida eterna. Como muitos judeus aceitam
a autoridade do Tanakh, mas não a da Nova Aliança, em geral é
necessário explicar o plano de salvação usando somente o primeiro.
[1]
Há muitas profecias maravilhosas sobre o Messias no Tanakh.
Em geral, os apóstolos começavam seus discursos por essas
profecias. Em Atos 8, por exemplo, Filipe compartilha o evangelho
com o eunuco etíope usando Isaías 53. O plano específico de Deus
para minha vida levou-me a compartilhar as boas-novas de salvação
em hebraico, aqui em Israel, quase sempre com judeus ortodoxos.
Descobri que falar apenas sobre os escritos proféticos não era
suficiente. O problema é que, apesar de as profecias serem
absolutamente claras, uma pessoa que não tenha o coração aberto
pode dizer simplesmente que não concorda com nossa
interpretação.
Por meio de muito estudo e oração (e também de muitos
debates, conflitos e experiência pessoal), comecei a enxergar outro
caminho: eu poderia testemunhar a eles usando não apenas
profecias acerca do Messias, mas aparições reais dele na forma
de Anjo do Senhor. A ligação entre o Anjo do Senhor e Yeshua, o
Messias, traz de fato uma nova luz. É essa revelação dinâmica que
espero transmitir neste livro.
 
Coerência das Escrituras
Muitos anos atrás, meu amigo Dan Juster compartilhou comigo o
princípio filosófico de que a verdade precisa ser coerente consigo
mesma. Se um ensinamento contradiz a si próprio, não pode ser
verdadeiro. Este princípio se aplica à filosofia, à teologia, à
interpretação bíblica e a todo pensamento lógico.
Yeshua confirmou isso quando disse que não veio anular ou
contradizer qualquer coisa escrita na Lei e nos Profetas, mas
cumprir todas as coisas (Mt 5.17,18). O apóstolo Saulo (Paulo)
repetiu esse princípio várias vezes (At 24.14, 26.22, 28.23).
Acredito que a Bíblia é verdadeira e fidedigna. Como tal, ela
deve ser coerente consigo mesma desde o Gênesis até o
Apocalipse. Gênesis começa com a criação dos céus e da terra; o
Apocalipse termina com a criação de novos céus e da nova terra. O
que Deus planejou no princípio é levado a cabo no final.[2]
O reino de Deus passa por vários estágios, começando com
uma pequeninasemente até uma árvore frondosa que enche toda a
Terra (Mt 13.31,32; Mc 4.26-28). Há diferentes estágios, mas o
processo de desenvolvimento é constante do início ao fim.
Infelizmente, por causa da história de divisão entre o
cristianismo e o judaísmo, tanto rabinos quanto sacerdotes
construíram espessas paredes teológicas entre o primeiro estágio
do plano de Deus conforme revelado a Israel e o segundo estágio
conforme revelado à Igreja. Dois mil anos de discordância entre
Israel e a Igreja criaram uma barreira para o entendimento da
coerência das Escrituras. Uma das chaves para derrubar essa
barreira é a conexão entre o Anjo do Senhor e Yeshua, o Messias.
As Escrituras são coerentes porque a natureza de Deus é
coerente. Isso também é verdadeiro no tocante à natureza do
Messias. Yeshua é o mesmo no passado, no presente e no futuro
(Hb 13.8). Yeshua é o elo comum que une todas as Escrituras. A
natureza eterna do Messias demonstra a harmonia das Escrituras.
Ao mostrar o papel central do Anjo do Senhor na Lei e nos Profetas,
espero que este livro ajude a reforçar a coerência das Escrituras
desde a Lei de Moisés até o Apocalipse de João.
Espero que você tire bastante proveito da leitura e que as ideias
lhe sejam tão esclarecedoras quanto o foram para mim.
Asher Intrater
 
PARTE UM
OS PATRIARCAS
 
 
Nesta seção, examinaremos as aparições de Deus a Abraão e aos
patriarcas no livro de Gênesis.
 
Durante esse período, descobrimos um Mensageiro Divino que
aparece na forma de um homem, um Deus-Homem. Compararemos
as aparições desse Deus-Homem à figura de Yeshua (Jesus) na
Nova Aliança (NT).
 
Também consideraremos como essas aparições afetam nosso
entendimento do chamado judaico e das alianças de Deus com
Israel.
 
 
CAPÍTULO UM
QUEM ALMOÇOU COM ABRAÃO?
 
 
U ma das crenças populares do judaísmo é que não é possível ver
Deus. Nos treze princípios fundamentais de fé do rabino Moshe Ben
Maimon (1135–1204), no hino de oração “Yigdal” e no credo “Ani
Maamin”, encontramos as palavras:
אין לו דמות הגוף ואין לו גוף
“Deus não tem corpo nem forma corpórea.”
Esse entendimento vem de Deuteronômio 4.12:
O Senhor vos
falou do meio do
fogo; a voz das
palavras
ouvistes; porém,
além da voz, não
vistes aparência
nenhuma.
ַוְיַדֵּבר ְיהָוה ֲאֵליֶכם ִמּתֹו� ָהֵאׁש קֹול ְּדָבִרים ַאֶּתם ֹׁשְמִעים, ּוְתמּוָנה ֵאיְנֶכם ֹרִאים
זּוָלִתי קֹול׃
 
Contudo, este verso não diz que Deus não tem forma. Diz que o
povo no Monte Sinai não viu forma alguma. Em seu contexto, o
verso não está fazendo uma declaração acerca da visibilidade de
Deus. Trata-se de uma advertência contra a fabricação de imagens
de escultura e a adoração a ídolos (vv. 15-24).
A convicção de que é impossível ver Deus é apenas
parcialmente verdadeira. A invisibilidade de Deus também é
reiterada na Nova Aliança (NT):
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 João 1.18
 
 Ninguém jamais viu a Deus
 
 João 5.37
 
 Jamais [...] vistes a sua forma
 
 João 6.46
 
 Não que alguém tenha visto o Pai
 
 Colossenses 1.15
 
 Ele é a imagem do Deus invisível
 
 1 Timóteo 1.17
 
 Ao Rei eterno, imortal, invisível
 
 1 Timóteo 6.16
 
 A quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver
 
 1 João 4.12
 
 Ninguém jamais viu a Deus
 
 1 João 4.20
 
 [...] não pode amar a Deus, a quem não vê
 
Com todos esses versos, é fácil entender por que as pessoas
acreditam que seja impossível ver Deus. Entretanto, quando
analisados em contexto, um quadro diferente aparece. O fato de que
as pessoas normalmente não veem Deus não significa que seja
impossível vê-lo. Antes, por causa de nossa condição caída, não
nos é permitido vê-lo. Se víssemos Deus na plenitude de seu poder,
morreríamos (Êx 33.20). Trataremos dessa distinção em detalhes na
Parte Dois.
Por um lado, é impossível ver Deus. Por outro, nossos
patriarcas e profetas de fato viam “Alguém” de tempos em tempos.
Abraão viu esse “Alguém” em diversas ocasiões:
 
Apareceu YHVH a
Abrão [...] –
Gênesis 12.7
ַוֵּיָרא ְיהָוה ֶאל־ַאְבָרם
 
Veio a palavra-
YHVH a Abrão,
numa visão [...] –
Gênesis 15.1
ָהָיה ְדַבר־ְיהָוה ֶאל־ַאְבָרם ַּבַּמֲחֶזה
 
Apareceu-lhe [a
Abrão] YHVH [...]
- Gênesis 17.1
ַוֵּיָרא ְיהָוה ֶאל־ַאְבָרם
 
Apareceu YHVH a
Abraão nos
carvalhais de
Manre [...] -
Gênesis 18.1
ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה ְּבֵא�ֵני ַמְמֵרא
 
Nesses versos, a palavra apareceu em hebraico é a forma
passiva do verbo ver. Ela indica claramente que Abraão viu algo e
também poderia ser traduzida por “foi visto por Abraão”.
Nas três primeiras ocasiões, não temos uma descrição de quem
ou do que Abraão viu. No entanto, no capítulo 18, a descrição é
detalhada e específica. Estudiosos e comentaristas rabínicos se
esforçam para explicar que esse capítulo não pode ser entendido
como tendo um significado literal ou direto(פשט). Não obstante, o
texto é explícito e dá detalhes muito “físicos” em suas descrições.
A verdade espantosa e inevitável é que o próprio YHVH visitou
Abraão na forma de um ser humano. Eles almoçaram juntos e
conversaram sobre várias questões importantes, desde a iminente
gravidez de Sara até a iminente destruição de Sodoma. (Por favor,
separe alguns momentos para ler todo o capítulo 18 de Gênesis e,
depois, acompanhe em sua Bíblia enquanto o analisamos.)
 
Apareceu
Yehovah[3] a
Abraão nos
carvalhais de
Manre, quando
ele estava
assentado à
entrada da tenda,
no maior calor do
dia. Levantou ele
os olhos, olhou, e
eis três homens
de pé em frente
dele. Vendo-os,
correu da porta
da tenda ao seu
encontro,
prostrou-se em
terra [...] -
Gênesis 18.1,2
ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה, ְּבֵא�ֵני ַמְמֵרא ְוהּוא ֹיֵׁשב ֶּפַתח־ָהֹאֶהל ְּכֹחם ַהּיֹום׃ ַוִּיָּׂשא ֵעיָניו ַוַּיְרא,
ְוִהֵּנה ְׁש�ָׁשה ֲאָנִׁשים, ִנָּצִבים ָעָליו ַוַּיְרא, ַוָּיָרץ ִלְקָראָתם ִמֶּפַתח ָהֹאֶהל, ַוִּיְׁשַּתחּו
ָאְרָצה׃
 
Abraão viu “três homens” vindo visitá-lo. Quem são esses três
homens? Um dos três foi chamado de Yehovah; os outros dois eram
anjos.
 
Ao anoitecer,
vieram os dois
anjos a Sodoma
[...] - Gênesis 19.1
ַוָּיֹבאּו ְׁשֵני ַהַּמְלָאִכים ְסֹדָמה
 
Esses não são dois anjos quaisquer, mas os dois anjos. Eles
eram os mesmos dois anjos que estiveram ali com Yehovah e
Abraão. Os três visitantes que Abraão viu foram: 1) Yehovah na
forma corpórea de um homem, e 2) dois anjos. Todos os três são
chamados de “homens”.
Dois anjos e o Yehovah-Homem visitaram Abraão na hora mais
quente do dia. Com requintada hospitalidade beduína, Abraão se
colocou de pé e correu para dar-lhes as boas-vindas. Mas isso não
foi simples hospitalidade. Uma razão que levou Abraão a ir correndo
ao seu encontro foi ter reconhecido o Yehovah-Homem. Ele já o
tinha visto várias vezes.
Abraão correu em direção a ele, prostrou-se e chamou-o de
Senhor. A palavra aqui para prostrar-se é וישתחו, que pode ser
traduzida tanto como prostrar-se quanto adorar. É a principal
palavra hebraica para adoração. A palavra para Senhor aqui é אדוניי,
Adonai, que é a forma plural de Senhor, mais frequentemente usada
para fazer referência ao nome Yehovah.
Em todo o capítulo 18 de Gênesis, não há nenhuma indicação
sequer de que Abraão não tenha reconhecido ou percebido com
quem estava falando. Ele o trata como Yehovah, como “Alguém”
que já conhece. Os três visitantes são chamados de “homens” por
três vezes: nos versos 2, 16 e 22. A pessoa especial ou diferente no
grupo é chamada de Yehovah quatro vezes: versos 1 (acima), 17,
22 e 33.
 
Tendo-se
levantado dali
aqueles homens,
olharam para
Sodoma; e
Abraão ia com
eles, para os
encaminhar
[mostrar-lhes o
caminho]. Disse
Yehovah:
Ocultarei a
Abraão o que
estou para fazer
[...] - Gênesis
18.16,17
ַוָּיֻקמּו ִמָּׁשם ָהֲאָנִׁשים, ַוַּיְׁשִקפּו ַעל־ְּפֵני ְסֹדם ְוַאְבָרָהם, ֹהֵל� ִעָּמם ְלַׁשְּלָחם׃ ַויהָֹוה ָאָמר
ַהְמַכֶּסה ֲאִני ֵמַאְבָרָהם, ֲאֶׁשר ֲאִני ֹעֶׂשה׃
 
Depois de almoçar e falar sobre o nascimento de Isaque, os
três “homens” se levantaram para partir. Os dois anjos seguiram
adiante para cumprir sua missão em Sodoma. O Yehovah-Homem
permaneceu ali para conversar um pouco mais com Abraão.
 
Então, partiramdali aqueles
homens e foram
para Sodoma;
porém Abraão
permaneceu
ainda na
presença de
Yehovah. -
Gênesis 18.22
ַוִּיְפנּו ִמָּׁשם ָהֲאָנִׁשים, ַוֵּיְלכּו ְסֹדָמה ְוַאְבָרָהם, עֹוֶדּנּו ֹעֵמד ִלְפֵני ְיהָוה׃
 
Abraão e Yehovah discutiam questões de juízo e graça com
respeito a Sodoma. Quando terminaram de conversar, os dois anjos
estavam quase chegando a Sodoma. O Yehovah-Homem foi
embora, provavelmente para voltar ao céu.
 
Tendo cessado
de falar a Abraão,
retirou-se
Yehovah; e
Abraão voltou
para o seu lugar.
Ao anoitecer,
vieram os dois
anjos a Sodoma.
- Gênesis 18.33-
19.1a
ַוֵּיֶל� ְיהָוה, ַּכֲאֶׁשר ִּכָּלה, ְלַדֵּבר ֶאל־ַאְבָרָהם ְוַאְבָרָהם ָׁשב ִלְמֹקמֹו׃ ַוָּיֹבאּו ְׁשֵני
ַהַּמְלָאִכים ְסֹדָמה
 
Os dois anjos tinham a missão de resgatar Ló e destruir
Sodoma. Todo o encontro de Abraão com Yehovah em Gênesis 18 é
descrito em detalhes realísticos. O tempo estava quente. Eles
fizeram uma refeição completa, incluindo carne e leite. A destruição
de Sodoma é tangível. Isso não é retratado como um sonho ou
visão, mas como um evento histórico real.
Podemos acreditar ou não que a Bíblia seja verdadeira.
Contudo, é inquestionável que o texto bíblico considera que esse
evento aconteceu literalmente. Nessa descrição, temos uma
assombrosa afirmação bíblica: Yehovah é visto, ouvido e tocado.
Yehovah veio visitar o homem em forma humana.
O maior obstáculo para um judeu religioso acreditar em Yeshua
não é a afirmação de que ele é o Messias, mas de que ele é divino.
Nos últimos anos, o movimento judaico ortodoxo Chabad tem feito
alegações de que seu falecido rabino-chefe, Rebe Schneerson,
possuía atributos divinos. Entretanto, a visão deles é
consideravelmente inferior ao nível da declaração que a Nova
Aliança (NT) faz acerca da divindade de Yeshua.
Em última análise, a questão fundamental é o nosso
entendimento da natureza de Deus. A ideia de que Deus pudesse
assumir a forma de um homem, uma forma corpórea, e visitar a
humanidade não parece monoteísta, muito menos judaica. A raiz do
problema não é a interpretação das profecias messiânicas, mas a
essência de quem é o Messias. Pensar em “Deus encarnado”
parece detestável, quase blasfemo.
Contudo, é isso que vemos aqui. Nosso pai Abraão se encontra
com Deus manifestado na forma de um corpo humano. Se Deus
apareceu a Abraão em forma humana, então a principal objeção à
divindade de Yeshua desaparece. Gênesis 18 é uma passagem que
revela Deus encarnado de maneira mais radical do que qualquer
outro capítulo em toda a Nova Aliança (NT).
Seria perfeitamente válido alguém dizer que não consegue ver
o visitante celestial de Gênesis 18 como Yeshua. No entanto,
ninguém pode argumentar de maneira razoável que o texto de
Gênesis 18 não descreve a aparição de Yehovah na forma
corpórea. Aquela aparição de Yehovah a Abraão em forma humana
afasta o argumento mais fundamental do pensamento judaico para
não crer em Yeshua.
Na Nova Aliança, o capítulo 8 de João afirma especificamente
que quem visitou Abraão foi Yeshua. Numa discussão acalorada
com alguns líderes religiosos, a questão de Abraão veio à tona.
Yeshua respondeu:
 
Abraão, vosso
pai, alegrou-se
por ver o meu
dia, viu-o [e de
fato viu] e
regozijou-se.
Perguntaram-lhe,
pois, os judeus:
Ainda não tens
cinquenta anos e
viste Abraão?
Respondeu-lhes
Yeshua: Em
verdade, em
verdade eu vos
digo: antes que
Abraão existisse,
EU SOU. Então,
pegaram em
pedras para
atirarem nele. -
João 8.56-59
 
Yeshua fez várias declarações estarrecedoras aqui. Podemos
entender por que os líderes religiosos ficaram ofendidos e tentados
a apedrejá-lo. Yeshua disse que estava vivo antes do tempo de
Abraão. Disse, também, que Abraão se regozijou por ver seu dia.
Yeshua não estava querendo dizer que Abraão se alegrou numa
visão ou por ver uma data no calendário. Ele se regozijou ao ver
Yeshua no dia em que foi visitado por ele em Gênesis 18. Muitas
traduções inserem incorretamente no verso 56 o pronome oblíquo
“o” (“e de fato viu-o”), referindo-se ao dia. Abraão não se alegrou por
ver “o dia”. Ele se alegrou por ver Yeshua.
Isso pode ser constatado facilmente pela resposta dos líderes
religiosos quando exclamaram atônitos: “Viste Abraão?”.
Evidentemente, entenderam que, de acordo com Yeshua, Abraão
encontrou-se com ele e que viram um ao outro.
Outra declaração de Yeshua foi que ele existia antes de
Abraão. “Antes que Abraão existisse, eu sou.” Essa frase é uma
referência ao nome Yehovah. O homem em Gênesis 18 é descrito
quatro vezes como Yehovah. Yehovah e “EU SOU O QUE SOU” são
o mesmo nome (Êx 3.14,15). Que outra conclusão se pode tirar
senão que Yeshua está afirmando abertamente que ele é o Homem
Yehovah-EU SOU que almoçou com Abraão em Gênesis 18?
Talvez, Yeshua estivesse mentalmente desequilibrado. Mas foi
isso que ele disse. E foi assim que os líderes religiosos entenderam
suas palavras. Foi por esse motivo que ficaram enfurecidos a ponto
de querer matá-lo. Claramente, Yeshua não estava muito
preocupado com a opinião de seus ouvintes. Ele os deixou com
apenas três opções: pensar que ele era insano, matá-lo por ser um
blasfemo ou crer que ele era o Yehovah-Homem que visitara
Abraão.
Para os líderes religiosos do primeiro século, decidir entre a
insanidade de Yeshua ou sua divindade não era uma escolha muito
fácil. Espera-se que nós, judeus, tenhamos o desejo de seguir as
mesmas pisadas de Abraão. Deveríamos crer no mesmo Deus em
quem ele cria. Se cremos que Deus apareceu a Abraão como
homem, nessa mesma medida devemos crer que Deus pôde tornar-
se homem outra vez; não devemos crer nem mais nem menos do
que isso. Nossa fé deve ser coerente com a de nossos pais.
De acordo com a Torá e a Nova Aliança (NT), há um aspecto de
Deus que não podemos ver. E há outro aspecto em que ele aparece
na forma corpórea de um ser humano. Essa dualidade, de não ser
possível ver Deus e de ver Deus manifestado em forma humana, é
descrita por João da seguinte maneira:
 
Ninguém jamais
viu a Deus; o
Deus [Filho]
unigênito, que
está no seio do
Pai, é quem o
revelou. - João
1.18
 
O Deus que não podemos ver é aquele a quem Jesus chamou
de “nosso Pai celestial”. Aquele que assumiu forma corpórea e que
podemos ver e tocar é identificado por vários nomes: Palavra de
Deus, Anjo de Yehovah, Filho do Homem e Filho de Deus, dentre
outros. (Trataremos dessas referências em detalhes nos próximos
capítulos.) A Nova Aliança declara que essa pessoa é Yeshua.
Podemos ver um paralelo entre Abraão almoçar com o
Yehovah-Homem em Gênesis 18 e Jesus comer com seus
discípulos na última ceia e nas praias da Galileia. Pense na
dinâmica de cada encontro: íntimo, porém assombroso; místico,
porém material; divino, porém humano – Deus e o homem em
comunhão numa refeição de aliança. Imagine o aroma e o sabor da
comida, a transpiração ao sol quente do Oriente Médio. Imagine as
conversas que mantinham sobre justiça, família e o reino
messiânico vindouro. Eles puderam experimentar revelação eterna
num contexto totalmente temporal.
Você e eu somos convidados a essa mesma amizade de
aliança que Abraão desfrutou – e com o mesmo Yehovah-Homem
que ele conheceu.
 
 
CAPÍTULO DOIS
QUEM CHUTOU A PERNA DE JACÓ?
 
 
O s encontros de Abraão com esse Yehovah-Homem foram as
experiências mais importantes da vida dele. Sem dúvida, ele as
contava para todos à sua volta. Isso deve ter incluído sua esposa,
seus filhos, suas servas, seus servos e vizinhos.
Hagar, serva de sua esposa, também teve um encontro com
essa pessoa especial. No caso dela, ele foi descrito como o Anjo de
Yehovah. O Anjo de Yehovah a encontrou quando ela fugia de Sara.
Ele prometeu abençoar tanto a ela quanto a seus filhos por meio de
Ismael.
 
Tendo-a achado o
Anjo de Yehovah
junto a uma fonte
de água no
deserto [...] -
Gênesis 16.7
ַוִּיְמָצָאּה ַמְלַא� ְיהָוה ַעל־ֵעין ַהַּמִים ַּבִּמְדָּבר
 
Esse não era um anjo comum. Ele é chamado de Anjo de
Yehovah também nos versos 9, 10 e 11. Contudo, no verso 13, esse
anjo é identificado simplesmente pelo nome Yehovah.
 
Então, ela
invocouo nome
de Yehovah que
lhe falava: Tu és
Deus que [me]
vê. - Gênesis
16.13
ַוִּתְקָרא ֵׁשם־ְיהָוה ַהֹּדֵבר ֵאֶליָה, ַאָּתה ֵאל ֳרִאי
 
Existem muitos anjos, e eles aparecem muitas vezes aos filhos
dos homens. Porém, há outra figura, chamada Anjo de Yehovah. Ele
é diferente: fala como Deus na primeira pessoa e é chamado de
Yehovah. Nessa passagem, o Anjo de Yehovah também fala com
ela como Deus e é chamado pelo nome Yehovah.[4]
Esse mesmo anjo apareceu a Abraão por ocasião do sacrifício
de Isaque. Não era um anjo comum. Assim que Abraão levanta o
cutelo, lemos:
 
Mas do céu lhe
bradou o Anjo de
Yehovah [...] -
Gênesis 22.11
ַוִּיְקָרא ֵאָליו ַמְלַא� ְיהָוה ִמן־ַהָּׁשַמִים
 
Então, o anjo começa a falar com ele como Deus, na primeira
pessoa.
 
Pois agora sei
que temes a
Deus, porquanto
não me negaste o
filho, o teu único
filho. - Gênesis
22.12
ִּכי ַעָּתה ָיַדְעִּתי, ִּכי־ְיֵרא ֱא�ִהים ַאָּתה, ְולֹא ָחַׂשְכָּת ֶאת־ִּבְנ� ֶאת־ְיִחיְד� ִמֶּמִּני׃
 
E disse: Jurei,
por mim mesmo,
diz Yehovah [...] -
Gênesis 22.16
ַוּיֹאֶמר ִּבי ִנְׁשַּבְעִּתי ְנֻאם־ְיהָוה
 
Que deveras te
abençoarei e
certamente
multiplicarei a tua
descendência [...]
- Gênesis 22.17
ִּכי־ָבֵר� ֲאָבֶרְכ�, ְוַהְרָּבה ַאְרֶּבה ֶאת־ַזְרֲע�
 
Não seria razoável que um anjo comum falasse desse jeito, na
primeira pessoa, referindo-se a si mesmo como Deus.
De fato, os patriarcas chamaram aquele lugar de Monte Moriá,
que significa literalmente: “Monte onde Yehovah Aparece”.
 
No monte
Yehovah
aparecerá
[tradução literal].
- Gênesis 22.14
ֵיָאֵמר ַהּיֹום, ְּבַהר ְיהָוה ֵיָרֶאה׃
 
Eles consideraram a aparição desse Anjo como uma aparição
de Yehovah. Nesse caso, o Anjo estava presente no momento em
que Abraão ofereceu Isaque. Isaque “amarrado” é uma figura que
serviria de base para todos os futuros sacrifícios do Templo, e esses
sacrifícios eram vistos à luz do “sacrifício” de Isaque. Isaque sobre o
altar e os sacrifícios no Templo simbolizavam o futuro sacrifício do
Messias. Isaque é uma figura do Messias. O Anjo estava presente
naquele sacrifício simbólico. De fato, o Anjo testemunhou o retrato
simbólico de seu próprio sacrifício, que ocorreria quase 2 mil anos
depois.
A Bíblia também relata que Yehovah apareceu a Isaque uma
segunda e uma terceira vez.
 
Apareceu-lhe Yehovah [...] - Gênesis 26.2
ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה
 
Na mesma noite,
lhe apareceu
Yehovah [...] -
Gênesis 26.24
ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה ַּבַּלְיָלה ַההּוא
 
Nas três ocasiões, a raiz do verbo e a forma em hebraico são
as mesmas usadas nas aparições de Yehovah a Abraão.
O conhecimento desse visitante divino foi transmitido de Abraão
para Isaque e deste para Jacó, neto de Abraão. Jacó teve várias
visitações desse “Deus em forma de Homem”. No primeiro encontro,
Jacó estava fugindo de seu irmão Esaú. Naquela noite, ele teve um
sonho no qual viu uma escada colocada entre o céu e a terra, com
anjos subindo e descendo.
Todos eram anjos comuns. Mas, no topo da escada, ele viu
outra figura.
 
E acima dela [da
escada] estava
Yehovah que
disse: Eu sou
Yehovah, o Deus
de teu pai Abraão
e o Deus de
Isaque. - Gênesis
28.13 (AL21)
ְוִהֵּנה ְיהָוה ִנָּצב ָעָליו ַוּיֹאַמר, ֲאִני ְיהָוה, ֱא�ֵהי ַאְבָרָהם ָאִבי�, ֵוא�ֵהי ִיְצָחק
 
Depois que Jacó teve essa visão, ele ergueu uma coluna de
pedras, derramou azeite sobre ela e fez um voto ao Senhor. Então,
chamou o lugar de Betel, a casa de Deus.
Nesse capítulo, não está escrito explicitamente que Yehovah
apareceu a ele na forma de um homem. Entretanto, só precisamos
nos perguntar o que Jacó viu ali, de pé, no topo da escada. Isso
sugere a forma corpórea de um homem, já que a escada é um
utensílio fabricado para seres humanos.
Quando Yehovah apareceu a Jacó pela segunda vez, a Bíblia
esclarece quem estava no sonho da escada. A segunda vez
aconteceu quando Jacó estava sendo maltratado por seu tio Labão.
Foi quando ele recebeu o sonho dos machos malhados fecundando
as ovelhas. Nessa ocasião, o visitante divino voltou com o nome de
“Anjo de Yehovah”. Jacó recontou o sonho às suas esposas:
 
E o Anjo de Deus
me disse em
sonho: Jacó! Eu
respondi: Eis me
aqui! - Gênesis
31.11
ַוּיֹאֶמר ֵאַלי ַמְלַא� ָהֱא�ִהים ַּבֲחלֹום ַיֲעֹקב ָוֹאַמר ִהֵּנִני׃
 
Podemos imaginar que, na primeira aparição a Jacó na escada,
Deus não apareceu em forma humana. Também podemos pensar
que, nessa segunda aparição, Jacó viu apenas um anjo comum.
Contudo, esse “anjo” lhe disse algo muito fora do comum:
 
Eu sou o Deus de
Betel, onde
ungiste uma
coluna, onde me
fizeste um voto. -
Gênesis 31.13
ָאֹנִכי ָהֵאל ֵּבית־ֵאל, ֲאֶׁשר ָמַׁשְחָּת ָּׁשם ַמֵּצָבה, ֲאֶׁשר ָנַדְרָּת ִּלי ָׁשם ֶנֶדר
 
As implicações dessa declaração são estarrecedoras. O Anjo
de Yehovah apareceu a Jacó. É evidente que ele era um
mensageiro, um “enviado”. Então, esse Anjo falou: “Eu sou Deus.
Eu sou o Deus de Abraão e Isaque. Eu sou aquele que você viu na
primeira visão”. Ali estava um anjo que declarava ser Deus.
Vamos resumir: na primeira aparição (Gn 28), Deus Yehovah se
revela. Na segunda (Gn 31), um anjo aparece. Este anjo declara
abertamente ser o Deus Yehovah que aparecera a Jacó na primeira
vez. Ele não é um anjo, mas o Anjo. Deus Yehovah se revela como
o Anjo; e o Anjo se revela como Deus Yehovah. Eles são a mesma
pessoa.
Esse personagem, esse Deus-Anjo-Homem, é aquele que
Abraão, Isaque e Jacó chamavam de “meu Deus”. A crítica textual
moderna pode referir-se a essa descrição como um anacronismo ou
antropomorfismo. No entanto, esse tipo de terminologia acadêmica
não existia nos dias de Abraão, Isaque e Jacó. O que está escrito na
Bíblia reflete o que eles conheciam de Deus, o que eles
experimentavam de Deus e o que criam acerca dele. Isso pode soar
primitivo para alguns hoje, mas para eles era real.
A terceira visitação divina a Jacó foi ainda mais desafiadora.
Jacó estava voltando do exílio, assustado diante da possibilidade de
reencontrar-se com seu irmão Esaú, de quem fugira uns 20 anos
antes. Jacó enviou a esposa e os filhos à frente e ficou sozinho à
noite perto do rio Jaboque.
 
[...] ficando ele
[Jacó] só; e
lutava com ele
um homem, até
ao romper do dia.
- Gênesis 32.24
ַוִּיָּוֵתר ַיֲעֹקב ְלַבּדֹו ַוֵּיָאֵבק ִאיׁש ִעּמֹו, ַעד ֲעלֹות ַהָּׁשַחר׃
 
Dessa vez, a aparição não se deu num sonho. Alguém
apareceu no meio da noite e começou a lutar com Jacó. Como
nenhum dos dois parecia estar ganhando, o homem misterioso lhe
deu um golpe na parte de trás da coxa (resultando no que
chamaríamos hoje de “tendões ou ligamentos rompidos”). Jacó se
recusou a deixá-lo ir a despeito da dor e exigiu que o homem o
abençoasse.
Se Jacó estava pedindo que o homem misterioso o abençoasse
era porque provavelmente já havia descoberto quem ele era. O
homem então mudou o nome de Jacó para Israel – de “suplantador”
(“agarrado ao calcanhar”) para “príncipe de Deus”. Jacó perguntou
pelo nome do homem, mas seu pedido não foi atendido. Jacó, agora
Israel, chamou o lugar de Peniel, a face de Deus.
 
Àquele lugar
chamou Jacó
Peniel, pois
disse: Vi a Deus
face a face, e a
minha vida foi
salva. - Gênesis
32.30
ַוִּיְקָרא ַיֲעֹקב ֵׁשם ַהָּמקֹום ְּפִניֵאל ִּכי־ָרִאיִתי ֱא�ִהים ָּפִנים ֶאל־ָּפִנים, ַוִּתָּנֵצל ַנְפִׁשי׃
 
No verso 25, nosso personagem misterioso é chamado de
homem; no verso 30, ele é chamado de Deus. Então, ele é homem
ou Deus? Ou ele é um Deus-Homem? Na manhã seguinte, Jacó
descobriu que ainda estava mancando. Por que Deus o golpeara na
perna? A resposta é: para garantir a Jacó que aquilo não fora um
sonho, mas uma experiência real.
Jacó era acostumado a ter sonhos espirituais. Sempre que
fosse tentado a pensar que aquele encontro tinha sido apenas um
sonho ou uma experiência mística, irreal, haveria uma fisgada na
parte de trás de sua coxa – apenas para lembrá-lo de como havia
sido real.
Ele tivera um encontro com um homem que também era Deus.
Deus foi até ele na forma de homem. Jacó teve uma experiência no
seu corpo físico. (Se você não crê nisso, “cuidado com seu tendão”!)
Jacó e toda a sua família ficaram tão assombradoscom a
experiência que nunca mais comeram carne da parte de trás da
coxa por muitas gerações.
Alguns anos mais tarde, Deus mandou Jacó retornar a Betel.
Ali, Deus lhe apareceu pela quarta vez (Gn 35.9-13). Ele recapitulou
com Jacó as promessas da aliança feitas anteriormente naquele
lugar. (É possível que esta não tenha sido outra visitação, mas uma
revisão do que acontecera antes. Porém, há novos detalhes e
vislumbres que indicam que pode ter sido uma nova aparição.
Qualquer que seja o caso, a ideia é a mesma.)
Talvez, você ainda duvide de que o homem em Peniel fosse
Deus. Contudo, veja o que está escrito nessa revisão do encontro
em Peniel. O visitante divino reitera as promessas da aliança; ele o
faz lembrar-se da bênção e de como mudou seu nome para Israel.
Claramente, é a mesma pessoa do encontro anterior que está
falando.
 
Outra vez lhe [a
Jacó] apareceu
Deus e o
abençoou [...]
Disse-lhe mais:
Eu sou o Deus
Todo-Poderoso
(El Shaddai). -
Gênesis 35.9,11
ַוֵּיָרא ֱא�ִהים ֶאל־ַיֲעֹקב עֹוד... ַוּיֹאֶמר לֹו ֱא�ִהים ֲאִני ֵאל ַׁשַּדי
 
O Deus El Shaddai diz: “Eu sou o Homem que lutou com você
em Peniel”. E, invertendo a ordem, o Homem que lutou com Jacó
em Peniel diz: “Eu sou El Shaddai”. El Shaddai, o grande Deus
provedor que faz alianças e abençoa famílias e finanças, apareceu
muitas vezes aos nossos pais na forma de um homem. Esse El
Shaddai é o mesmo Homem que lutou com Jacó aquela noite em
Peniel. Ele afirmou que era Homem e Deus ao mesmo tempo.
Nossos antepassados conheceram El Shaddai na forma de um
Deus-Anjo-Homem. Entretanto, sua identidade exata ainda era, de
certa maneira, um mistério para eles. Anos mais tarde, ele se
revelou como Messias. Assim como nossos pais fizeram aliança
com El Shaddai, igualmente fazemos a nova aliança com Yeshua.
Ele era o Deus-Homem em quem nossos pais creram. Ele é o
Messias.
 
CAPÍTULO TRÊS
POR QUE YESHUA FOI CIRCUNCIDADO?
 
 
E l Shaddai era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Ele apareceu
aos nossos antepassados na forma de um Homem e de um Anjo.
Embora este Deus-Anjo-Homem fosse identificado muitas vezes
como Yehovah, ele não revelava seu nome pessoal (Gn 32.30),
porque seu nome não seria revelado até um tempo futuro. Esse
tempo viria quando o Deus-Anjo-Homem nascesse no mundo como
Messias.
A revelação de que o Deus-Anjo-Homem do Tanakh (Velho
Testamento) nasceria nesta terra como homem é impressionante. É
uma epifania, uma manifestação de Deus à humanidade. Isso é o
que João afirmou quando disse: “E o Verbo [a Palavra] se fez
carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). É também o que Saulo
(Paulo) quis dizer quando escreveu: “Grande é o mistério da
piedade: Aquele [Deus] que foi manifestado na carne” (1 Tm
3.16).
A importância do nascimento de Yeshua é notória nos círculos
cristãos e é conhecida como “encarnação”. Neste capítulo, eu
gostaria de tratar de um aspecto específico do nascimento de
Yeshua que provavelmente é negligenciado pela maioria tanto dos
cristãos quanto dos judeus – a circuncisão. Yeshua não apenas
nasceu, mas foi circuncidado. Ele não apenas veio a este mundo,
mas também foi circuncidado quando chegou aqui.
O procedimento cirúrgico da circuncisão é pouco relevante. No
entanto, o compromisso de aliança implícito no procedimento é
imenso. Para o povo judeu, a circuncisão tem o mesmo significado
que as alianças numa cerimônia de casamento. É um sinal de que
uma aliança foi “cortada”.[5]
O Deus-Anjo-Homem fez uma aliança com os patriarcas. Pela
aliança, ele nos escolheu como nação e nos deu a terra de Israel.
Foi como se tivesse dito aos patriarcas: “Eu não posso lhes dizer
meu nome agora. Meu nome está associado à aliança. Um dia, vou
nascer nesta terra e cortar uma aliança por meio da minha própria
circuncisão. Então, meu nome misterioso será revelado”. Quando
Yeshua foi circuncidado na carne, ele fez uma aliança com o povo
judeu; quando foi crucificado na carne, ele fez uma aliança com toda
a humanidade.
O Cristo-Messias e o Deus-Anjo-Homem são a mesma pessoa.
Ele não tinha um nome específico no tempo de nossos pais porque
seu nome só seria proclamado pouco tempo depois de seu
nascimento, por ocasião de sua circuncisão.[6]
 
Completados oito
dias para ser
circuncidado o
menino, deram-
lhe o nome de
Yeshua, como lhe
chamara o anjo,
antes de ser
concebido. -
Lucas 2.21
 
O nome dele é Yeshua. Ele recebeu esse nome quando foi
circuncidado. Yeshua é o Deus-Anjo-Homem que nasceu neste
mundo como Messias para salvar-nos de nossos pecados. Foi ele
quem apareceu aos nossos antepassados e fez aliança com eles
pela circuncisão (Gn 17.1-14). Quando foi concebido, seu caráter
divino uniu-se à natureza de Miriã (Maria). Ele existia anteriormente
como o Anjo (mensageiro) divino, mas a união divino-humana em
Yeshua era uma nova realidade que veio à existência somente em
seu nascimento. O Anjo de Yehovah que exigiu de Abraão a
circuncisão seria circuncidado, ele próprio, mais tarde quando
nascesse nesta terra como homem.
Por que isso é importante para nós hoje? Por que esse Deus-
Anjo-Homem não recebeu um nome até nascer no mundo dos
homens? Por que o nome de Yeshua foi proclamado
especificamente no momento de sua circuncisão? As respostas a
essas perguntas são bastante desafiadoras tanto para judeus
quanto para cristãos.
Vamos tratar primeiro do desafio para a visão de mundo
judaica. Deus apareceu aos nossos pais na forma de um Deus-Anjo-
Homem. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó não é uma divindade
desligada e distante, que não podemos sentir e conhecer. Ele está
mais próximo do que o Monte Sinai; ele faz mais do que escrever
leis e estabelecer regras; ele não é uma coluna de fogo e nuvem.
Ele é pessoal e íntimo, e envolve-se com nossa vida. Ele apareceu
aos nossos pais na forma de Homem e de Anjo e fez uma aliança
com eles (Gn 15.18; 17.2; Êx 2.24).
A segunda parte do desafio para a visão de mundo judaica é
que esse El Shaddai, Deus-Anjo-Homem, não é outro senão
Yeshua. Sim, aquele que, nós, judeus, temos rejeitado há 2 mil
anos. A figura dele tem sobressaído entre nosso povo por toda a
nossa história, quer gostemos disso, quer não. Não é coincidência
que nosso exílio de 2 mil anos tenha começado imediatamente
depois que rejeitamos sua mensagem. Crer em Yeshua é a
continuação correta e lógica de ter fé no mesmo Deus em quem
Abraão, Isaque e Jacó criam.
A terceira parte do desafio para o mundo judaico tem a ver com
a nossa visão das alianças firmadas com nossos pais. Por meio
daquelas alianças, nos tornamos o povo escolhido. Foi por elas que
recebemos a terra de Israel. Pelas alianças, recebemos bênçãos
terrenas e celestiais.
Porém, quem fez as alianças com Abraão, Isaque e Jacó? Foi
esse Deus-Anjo-Homem que estamos estudando neste livro. As
alianças originais que definem nosso povo foram feitas com Deus
em sua forma de Anjo-Homem. Aquele personagem era Yeshua
antes de seu nascimento nesta terra. Foi ele quem fez aliança com
nossos pais.
Somos o povo escolhido. Nossa eleição foi definida pelas
alianças dos patriarcas. Aquelas alianças foram feitas com Yeshua.
Nossa eleição não tem sentido sem um relacionamento de fé com o
Deus-Anjo-Homem que cortou uma aliança com nossos
antepassados. Nossa vocação como povo é determinada a partir de
nosso relacionamento com Yeshua. Sem Yeshua, nossa própria
identidade como judeus, como israelitas, como povo escolhido
perde o propósito.
Vamos comparar essa questão ao exemplo do casamento.
Minha esposa assumiu meu sobrenome quando nos casamos. Ela
se chamava Betty Kirshbaum. Agora, é Betty Intrater. Sem o nosso
relacionamento, seu novo nome, sua identidade e seu papel como
esposa e mãe perderiam o significado. Se ela se divorciasse de
mim, não haveria propósito em continuar a chamar-se Betty Intrater.
O mesmo é verdadeiro para mim. Meu papel como pai e marido não
teria significado fora de minha aliança matrimonial com Betty.
De modo semelhante, é impossível que Israel cumpra seu
propósito na aliança sem Yeshua. Nossa eleição não é baseada em
superioridade racial. Fomos escolhidosporque temos uma aliança
com El Shaddai. A identidade judaica, sem o Deus-Homem que
cortou uma aliança conosco, não tem propósito. Sem Yeshua,
estamos proclamando que somos “filhos da aliança” sem o
participante que a estabeleceu no princípio.
A quarta parte do desafio para a visão de mundo judaica é a
conexão entre a terra de Israel e a pessoa de Yeshua.[7] A
propriedade da terra de Israel foi dada a Abraão, Isaque e Jacó por
aliança. As alianças da terra foram feitas com o Deus-Anjo-Homem,
em quem nossos pais criam. Aquele personagem era Yeshua. O
direito de aliança do povo judeu sobre a terra de Israel tem origem
na aliança com Yeshua.
O retorno do povo judeu à terra de Israel desde o final do
século 19 não é uma questão meramente política ou histórica. É
uma questão de aliança e profecia. A visão atualmente considerada
“politicamente correta” não enxerga o mandato divino para que o
nosso povo volte a viver em sua antiga terra natal. Esse mandato
vem da Bíblia. Nosso “direito” de estar nessa terra é baseado em
nossas antigas alianças, e estas alianças foram feitas com Yeshua.
À medida que nós, judeus, nos voltamos com fé para o nosso
próprio Messias, nossa identidade de povo escolhido chega à
plenitude (Rm 11.15). Por intermédio de Yeshua, nossa restauração
à terra de Israel também chegará ao seu propósito completo (Lc
13.34,35; 19.41-44; 21.23,24).
Nossa identidade e nossa terra nos foram dadas por aliança.
Quem firmou essa aliança foi o Deus-Anjo-Homem, cujo nome é
Yeshua desde o nascimento. A circuncisão é o sinal da aliança. A
circuncisão está ligada à aliança, e a aliança está ligada a Yeshua.
À semelhança de Abraão, Yeshua entrou na Aliança “Abraâmica”
por meio da circuncisão. Por isso o nome de Yeshua foi anunciado
por ocasião de sua circuncisão.
Quando um pai realiza os preparativos para que o filho seja
circuncidado, ele recita a bênção que faz com que seu filho entre na
Aliança Abraâmica. Quando Yeshua foi circuncidado, ele se
comprometeu com a Aliança Abraâmica. Ele já havia-se
comprometido com essa aliança como Deus (quando passou por
entre as partes dos animais em Gênesis 15.17). Na circuncisão, ele
se comprometeu com a Aliança Abraâmica como homem.
A circuncisão de Yeshua demonstra seu compromisso com as
alianças feitas com o povo judeu. O fato de ter seu nome
proclamado no momento da circuncisão demonstra que a identidade
de Yeshua como ser humano está ligada a um compromisso de
aliança com o povo judeu.
Em vista disso, a ideia de que Yeshua é o Deus-Anjo-Homem
que fez uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó é igualmente
desafiadora para a visão de mundo cristã. Esse desafio afeta a
atitude do cristão em relação ao povo judeu, à terra de Israel e às
alianças firmadas com nossos pais.
Um cristão verdadeiramente nascido de novo tem uma aliança
com Deus por meio de Yeshua. Essa aliança proveu perdão de
pecados e vida eterna. Contudo, mais de mil anos antes da cruz, o
mesmo Yeshua cortou uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó. Foi
ele que fez com que os judeus se tornassem o povo escolhido. Foi
ele que declarou Israel como a Terra Santa que seria a herança do
povo hebreu.
O cristão tem salvação pela fé em Yeshua por meio da Nova
Aliança. No entanto, Yeshua estabeleceu uma aliança anterior com
o povo judeu. Yeshua prometeu dar vida eterna a todos os que
cressem. Apesar disso, muito tempo antes, ele também prometeu
dar a terra de Israel ao povo judeu. O que isso significa para o
mundo cristão hoje?
Vamos usar o exemplo de um contrato comercial. Uma pessoa
se dispõe a fazer um contrato para comprar seu negócio. Contudo,
você tem um sócio mais antigo na empresa. Quando chega a hora
de assinar o contrato, você deve levar em conta os compromissos
anteriormente firmados com seu sócio. Se o novo contrato violar o
contrato anterior, ele não terá validade.
Quando uma empresa compra outra, ela precisa reconhecer os
contratos que a antiga tinha com seus empregados e clientes
anteriores. De modo semelhante, para que a Nova Aliança
mantenha sua integridade, ela deve permanecer fiel aos
compromissos anteriores firmados na Velha Aliança. As promessas
da Nova Aliança para a Igreja exigem a fidelidade de Deus às
promessas da Velha Aliança feitas ao povo de Israel.
O mesmo princípio também se aplica a governos. Um novo
governo pode tomar posse num determinado país; porém, deve
reconhecer obrigações assumidas em tratados pelo governo anterior
em nome do país. As alianças de um “novo” governo devem
reconhecer as “velhas” alianças do governo anterior.
Todos os cristãos verdadeiros entram numa relação de aliança
com Yeshua. E Yeshua tem uma aliança anterior com o povo de
Israel. O cristão pode dizer que as alianças de Deus com Israel já
não têm validade porque nosso povo o rejeitou. Isso não é correto.
As promessas de Deus são condicionais, e o nosso povo, de fato,
quebrou as alianças com ele. Mas a palavra de Deus ainda é
eternamente válida. Mesmo que tenhamos sido infiéis às nossas
alianças, Deus é fiel às suas promessas. A questão não é a nossa
falta de justiça. A questão é a fidelidade de Deus às suas alianças.
 
Afirmo, pois, que
o Messias se
tornou servo
[ministro] da
circuncisão, por
causa da
fidelidade de
Deus, para
confirmar as
promessas feitas
aos patriarcas; e
para que os
gentios
glorifiquem a
Deus pela sua
misericórdia [...] -
Romanos 15.8,9
 
Yeshua foi circuncidado e viveu como um judeu observador da
Torá para demonstrar a fidelidade de Deus ao nosso povo. Yeshua é
um marido fiel, embora tenhamos sido uma esposa infiel (um tema
central no livro de Oseias). Se ele não for fiel a Israel, como será fiel
à Igreja?
Em Jeremias 31, Deus promete uma Nova Aliança a fim de
prover perdão de pecados e escrever a Torá em nosso coração.
Nesse mesmo capítulo, ele também promete preservar o povo
judeu. As promessas da Nova Aliança se encontram nos versos 31
a 34. As promessas de preservação para a nação de Israel são
encontradas nos versos 35 a 37.
 
Assim diz
Yehovah, que dá
o sol para a luz
do dia e as leis
fixas à lua e às
estrelas para a
luz da noite [...]
Se falharem estas
leis fixas diante
de mim, diz
Yehovah, deixará
também a
descendência de
Israel de ser uma
nação diante de
mim para
sempre. Assim
diz Yehovah: Se
puderem ser
medidos os céus
lá em cima e
sondados os
fundamentos da
terra cá embaixo,
também eu
rejeitarei toda a
descendência de
Israel, por tudo
quanto fizeram. -
Jeremias 31.35-
37
ֹּכה ָאַמר ְיהָוה, ֹנֵתן ֶׁשֶמׁש ְלאֹור יֹוָמם, ֻחֹּקת ָיֵרַח ְוכֹוָכִבים ְלאֹור ָלְיָלה
ִאם־ָיֻמׁשּו ַהֻחִּקים ָהֵאֶּלה ִמְּלָפַני ְנֻאם־ְיהָוה ַּגם ֶזַרע ִיְׂשָרֵאל ִיְׁשְּבתּו, ִמְהיֹות ּגֹוי ְלָפַני
ָּכל־ַהָּיִמים׃
ִאם־ִיַּמּדּו ָׁשַמִים ִמְלַמְעָלה, ְוֵיָחְקרּו מֹוְסֵדי־ֶאֶרץ ְלָמָּטה ַּגם־ֲאִני ֶאְמַאס ְּבָכל־ֶזַרע
ִיְׂשָרֵאל ַעל־ָּכל־ֲאֶׁשר ָעׂשּו
 
Há uma aliança triangular aqui. A Nova Aliança associa o
perdão dos pecados à preservação da nação de Israel, a qual, por
sua vez, está associada à preservação da criação natural. A criação
do mundo foi feita por aliança; a eleição da nação de Israel se deu
por aliança; e a salvação eterna de todos os crentes foi estabelecida
por aliança. Esses três fatos estão interligados por aliança.
A aliança exige que os três fatos sejam verdadeiros, ou que
nenhum deles o seja. Esse segredo espiritual explica por que a
Jihad islâmica, assim como os nazistas no século passado, tem
como alvo o extermínio do povo judeu. Se conseguissem destruir
nosso povo, a Nova Aliança e a ordem da criação estariam
seriamente ameaçadas.
Um dia, meu amigo Lou Engle me pediu para explicar a
importância de Israel no plano de Deus. Eu lhe perguntei: “Você vê
questões como aborto e homossexualidade como questões de
aliança?”. Ele disse: “Claro que sim”. Respondi: “Bem, as questões
relativas a Israel também têm a ver com aliança”. A questão não é
tanto Israel em si, mas a fidelidade de Deus para com Israel. Não se
trata de superioridade racial, mas da fidelidade de Deus às alianças.
A salvação do cristão depende da fidelidade de Deus às suas
alianças.Deus tem uma aliança anterior com o povo de Israel.
Assim como a identidade e o destino de Israel perdem a validade
sem a fé em Yeshua, a fé do cristão em Yeshua também perde
validade sem o reconhecimento da fidelidade de Deus às suas
alianças com o povo judeu.
Não estou dizendo que, para ser salvo, alguém precise se
comprometer com o povo judeu. Estou dizendo que a salvação dos
cristãos é baseada numa aliança com o mesmo Deus El Shaddai
que fez aliança com Abraão, Isaque e Jacó muitos anos antes. Se
Deus é fiel em uma, será fiel na outra.
Para um cristão, ouvir que a salvação é baseada numa aliança
que pressupõe um compromisso com Israel causa tanto espanto
quanto para um judeu que ouve que a preservação da nação de
Israel é baseada numa aliança que Yeshua cortou com nosso povo
no Antigo Testamento. A aliança é válida nos dois sentidos.
Você sabia que, um dia, Yeshua (Yehovah em sua forma
humana) tentou matar Moisés? Embora possa parecer absurdo,
aqui está a passagem:
 
Estando Moisés
no caminho,
numa estalagem,
encontrou-o
Yehovah e o quis
matar. Então
Zípora tomou
uma pedra
aguda, cortou o
prepúcio de seu
filho, lançou-o
aos pés de
Moisés e lhe
disse: Sem
dúvida, tu és para
mim esposo
sanguinário.
Assim Yehovah o
deixou. - Êxodo
4.24-26
ַוְיִהי ַבֶּדֶר� ַּבָּמלֹון ַוִּיְפְּגֵׁשהּו ְיהָוה, ַוְיַבֵּקׁש ֲהִמיתֹו׃
ַוִּתַּקח ִצֹּפָרה ֹצר, ַוִּתְכֹרת ֶאת־ָעְרַלת ְּבָנּה, ַוַּתַּגע ְלַרְגָליו ַוּתֹאֶמר ִּכי ֲחַתן־ָּדִמים ַאָּתה
ִלי׃
ַוִּיֶרף ִמֶּמּנּו
 
Moisés era o grande libertador do povo de Israel. Ele recebeu
profecias específicas para sua vida, autoridade espiritual e uma
missão ordenada por Deus. Só havia um problema: Moisés
esqueceu que sua grande missão espiritual se devia à fidelidade de
Deus à sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó (Êx 2.24).
Circuncidar seu filho era o sinal da aliança. Sem aquela aliança,
Moisés era um “homem morto”. Grande espiritualidade não elimina a
necessidade de ser fiel às alianças. Yeshua foi circuncidado para
mostrar a fidelidade de Deus às suas alianças.[8]
Yeshua recebeu seu nome na circuncisão. Ele foi circuncidado
para cumprir a fidelidade de Deus à aliança feita com o povo de
Israel. Yeshua tinha de ser fiel à aliança com Abraão porque foi ele
mesmo que a propusera. Yeshua foi circuncidado como um filho da
aliança de Abraão. Yeshua tornou-se parte da Aliança Abraâmica.
Pela circuncisão, ele cortou uma aliança com o povo judeu. Yeshua
foi e ainda é fiel àquela aliança.
Yeshua fez as alianças com Abraão, Isaque e Jacó. O mesmo
Yeshua fez a Nova Aliança de salvação para todos os que creem.
As promessas da Aliança Abraâmica fazem parte dos fundamentos
da Nova Aliança. As promessas da Nova Aliança para o cristão
estão integralmente ligadas à fidelidade de Yeshua ao povo judeu
na Velha Aliança.
Em conclusão, Yeshua foi circuncidado para mostrar a
fidelidade de Deus às suas próprias alianças. Tanto judeus quanto
cristãos podem alegrar-se nesse fato. Fidelidade às alianças é um
atributo essencial da fé bíblica. Visto que Yeshua fez a aliança
original com Abraão, o povo judeu só encontrará o pleno significado
de sua própria identidade e de seu destino quando descobrir a fé em
Yeshua. Como Yeshua foi fiel à Aliança Abraâmica, assim também
os cristãos devem demonstrar fidelidade de aliança ao povo judeu.
 
 
PARTE DOIS
O ÊXODO
 
 
Nesta seção, examinaremos as aparições de Deus a Moisés e ao
povo de Israel por ocasião do Êxodo.
 
Naquele período, as aparições do Mensageiro Divino ocorreram
principalmente na forma de um anjo – o Anjo de Yehovah.
Exploraremos a ligação entre esse Anjo e o Messias da Nova
Aliança.
 
Também consideraremos como essas aparições afetam nosso
entendimento dos Dez Mandamentos e da Lei Moral em geral.
 
 
CAPÍTULO QUATRO
O ANJO DE YEHOVAH
 
 
C hegamos agora ao período do Êxodo do Egito. Moisés teve
vários encontros com o Deus-Anjo-Homem que aparecera aos
patriarcas. Moisés o viu pela primeira vez na sarça ardente.
Moisés fora criado no Egito como príncipe, escondendo um
pouco sua identidade étnica e suas origens. Quando completou 40
anos de idade, fugiu para Midiã depois de uma tentativa frustrada de
ser o salvador do seu povo. Aos 80 anos, teve um encontro na sarça
ardente, ocasião em que foi chamado por Deus para voltar ao Egito
e libertar seu povo.
 
Apareceu-lhe o
Anjo de Yehovah
numa chama de
fogo, no meio de
uma sarça. -
Êxodo 3.2
ַוֵּיָרא ַמְלַא� ְיהָֹוה ֵאָליו ְּבַלַּבת־ֵאׁש ִמּתֹו� ַהְּסֶנה
 
Moisés não teve um encontro com uma sarça ardente, mas com
o Anjo de Yehovah que lhe apareceu no meio da chama da sarça. O
leitor do hebraico vai notar que a expressão “lhe apareceu” é
exatamente a mesma usada em todas as aparições a Abraão.
Nesse período da história das alianças, a aparição desse Anjo
em forma de fogo ou glória é uma nova revelação. Isso não
aconteceu anteriormente com nenhum dos patriarcas na terra de
Canaã.
No verso 2, o mensageiro divino é identificado como o Anjo de
Yehovah. Contudo, imediatamente depois, esse mesmo mensageiro
é chamado simplesmente de Yehovah ou Deus (Elohim).
 
Vendo Yehovah
que ele se
voltava para ver,
Deus, do meio da
sarça, o chamou
e disse: Moisés!
Moisés! Ele
respondeu: Eis-
me aqui! - Êxodo
3.4
ַוַּיְרא ְיהָוה ִּכי ָסר ִלְראֹות ַוִּיְקָרא ֵאָליו ֱא�ִהים ִמּתֹו� ַהְּסֶנה, ַוּיֹאֶמר ֹמֶׁשה ֹמֶׁשה ַוּיֹאֶמר
ִהֵּנִני׃
 
Observe a expressão paralela: “do meio da sarça”. Como
podemos entender isso? Havia duas formas corpóreas no meio da
sarça? Provavelmente não. Deus e o Anjo trocaram de lugar entre
os versos 2 e 4? Provavelmente não. O Anjo estava simplesmente
parado ali, sem dizer nada e, então, a voz de Deus veio
isoladamente do meio da sarça? Provavelmente não.
É evidente que quem está falando é o Anjo. Uma resposta
aceitável poderia ser que o Anjo falou EM NOME de Deus. Isso é
mais próximo da verdade, mas não é exatamente o que está escrito.
O texto diz que Elohim falou do meio da sarça; Deus falou. A única
maneira imparcial de interpretar essa passagem é que a mesma
pessoa que falou com Moisés é chamada de Anjo de Yehovah no
verso 2 e Elohim (Deus) no verso 4.[9]
Isso ainda nos deixa com duas possibilidades. A primeira é que
o Anjo de Yehovah não é divino, mas que lhe foi permitido ser
confundido com Deus apenas por causa de sua missão. A segunda
é que essa pessoa é uma personalidade especial; ele é, ao mesmo
tempo, um mensageiro de Deus e também divino em si mesmo –
divino suficiente para ser chamado tanto de Elohim quanto de
Yehovah.
A primeira possibilidade é parcialmente correta e abrange
evidência suficiente para ser aceitável até certo ponto. Entretanto,
não explica a total intercambialidade entre os nomes Anjo, Elohim e
Yehovah. Tampouco justifica a plenitude de autoridade da qual o
mensageiro é investido para falar e ordenar usando a primeira
pessoa como o próprio Deus.
Lembre que essa aparição na sarça ardente inclui grandiosas
declarações de divindade, como “Eu sou o que sou” (v. 14) e
“Dize-lhes: Yehovah, o Deus de vossos pais, me apareceu”
(v.16). Em outras palavras, esse Anjo não apenas fala em nome de
Deus como um mensageiro. Ele age, reage e interage como o
próprio Deus.
Fomos desafiados pela figura que apareceu a Abraão em
Gênesis 18. A figura divina naquele episódio tinha uma forma
corpórea totalmente humana e, ao mesmo tempo, qualidades
totalmente características de Deus-Elohim-Yehovah em tudo o que
disse e fez. Aqui, também, temos a combinação aparentemente
impossível de uma figura que é claramente um Anjo-Mensageiro de
Deus, mas, ao mesmo tempo, totalmente Deus-Elohim-Yehovah. Em
Gênesis 18, a combinação era de Deus e homem. Aqui em Êxodo 3,
a combinação é de Deus e anjo.
Vejamos outra situação em que esse Anjo, conhecido como
Yehovah, aparece a Moisés. Desta vez, olharemos para a travessia
do Mar Vermelho. Aqui, em vez de uma sarça ardente, temos uma
coluna de fogo e fumaça. Novamente, o Anjo-Yehovah aparece
numa forma de glória e fogo que não fora revelada aos patriarcas
em Canaã.
 
E Yehovah ia
adiantedeles,
durante o dia,
numa coluna de
nuvem [...] -
Êxodo 13.21
ַויהָוה ֹהֵל� ִלְפֵניֶהם יֹוָמם ְּבַעּמּוד ָעָנן
 
Então, o Anjo de
Deus, que ia
adiante do
exército
[acampamento]
de Israel, se
retirou e passou
para trás deles;
também a coluna
de nuvem se
retirou de diante
deles, e se pôs
atrás deles. -
Êxodo 14.19
ַוִּיַּסע ַמְלַא� ָהֱא�ִהים, ַהֹהֵל� ִלְפֵני ַמֲחֵנה ִיְׂשָרֵאל, ַוֵּיֶל� ֵמַאֲחֵריֶהם ַוִּיַּסע ַעּמּוד ֶהָעָנן
ִמְּפֵניֶהם, ַוַּיֲעֹמד ֵמַאֲחֵריֶהם׃
 
Yehovah, na
coluna de fogo e
de nuvem, viu o
acampamento
dos egípcios. -
Êxodo 14.24
ַוַּיְׁשֵקף ְיהָוה ֶאל־ַמֲחֵנה ִמְצַרִים, ְּבַעּמּוד ֵאׁש ְוָעָנן
 
Esses três versos da mesma passagem descrevem uma
pessoa que está se movimentando a fim de guiar e proteger o povo
de Israel. Essa pessoa está sempre por perto, viajando no interior
da coluna de fogo e nuvem.
No verso 13.21, ele é chamado Yehovah.
No verso 14.19, ele é chamado Anjo de Deus.
No verso 14.24, ele é chamado Yehovah.
Poderíamos tentar interpretar esse fenômeno de várias
maneiras para fazer malabarismos com a nuvem, o fogo, o Anjo,
Yehovah, Deus, e o Anjo de Deus – tudo numa tentativa de evitar o
significado óbvio do contexto da passagem: há um personagem
especial que tirou os filhos de Israel do Egito. Ele agia de dentro de
uma coluna de fogo e nuvem. Ele era, ao mesmo tempo, Anjo e
Deus.
A razão por que as passagens de Gênesis o chamam de
“homem” e as de Êxodo o chamam de “anjo” é que, em Gênesis, ele
é visto abertamente em forma humana. Nas passagens de Êxodo,
ele não é visto abertamente, porque está ocultado na nuvem. Para
os patriarcas, ele apareceu sem fogo ou glória, ao passo que, nos
textos de Êxodo, assumiu uma forma que tinha tanto fogo quanto
glória.
Há um padrão geral nas Escrituras sobre essas aparições:
dentro da terra de Israel, esse personagem normalmente aparece
como homem numa forma não glorificada, enquanto, para as outras
nações, ele aparece como anjo em forma glorificada. Vamos tratar
dessa diferença mais adiante na Parte Cinco.
A questão é que ele não pode ser chamado de homem nas
passagens de Êxodo por não ter sido visto em forma humana. As
pessoas não puderam vê-lo – não porque isso seria impossível, mas
porque ele estava imbuído de elevado grau de poder para fazer o
trabalho sobrenatural necessário para libertar, proteger e prover. Se
tivessem olhado diretamente para ele, esse nível de poder lhes teria
causado danos.[10]
Tanto no hebraico bíblico quanto no contemporâneo, há uma
forma gramatical chamada “s’michut” — סמיכות. A palavra “s’michut”
significa aproximar duas coisas de modo que uma fique em contato
com a outra. Essa forma gramatical consiste na união de duas
palavras. S’michut une dois substantivos de forma que um defina o
outro e ambos se tornem uma única unidade.
Para dar um exemplo em português, podemos encontrar algo
semelhante em nomes compostos como: copa de futebol, cão de
guarda e sala de jantar. Em português, como em hebraico, o
segundo substantivo descreve o primeiro. Copa de futebol não é
uma competição qualquer; é um torneio de um esporte específico.
Chamamos esse tipo de composição de substantivo composto por
justaposição.
Nos substantivos compostos em hebraico, os significados dos
dois nomes se fundem. Tornam-se, na prática, uma palavra, às
vezes aglutinando os dois termos originais ou utilizando os dois em
justaposição como se houvesse um hífen entre eles (como editor-
chefe ou porta-retrato em português).
A fusão dos dois nomes também é destacada em hebraico
porque as vogais do primeiro nome são contraídas, de modo que as
duas palavras são pronunciadas em conjunto num único padrão
rítmico. É o que acontece nas palavras compostas por aglutinação
em português; como, por exemplo, planalto (plano + alto, suprimiu a
vogal “o” em plano) ou aguardente (água + ardente, suprimiu a
última vogal “a” em água).
Nomes justapostos podem ser usados em sentido genérico ou
para identificar um nome próprio. Copa de futebol pode ser qualquer
tipo de competição com futebol, ou pode se referir a uma copa
específica como Copa do Brasil ou Copa Sul-Americana. Para fazer
com que nomes justapostos em hebraico se tornem um nome
específico no lugar de um nome comum, é preciso inserir a sílaba
“ha” (que corresponde ao artigo definido: o, a, os, as) antes do
segundo nome ou, então, fazer do segundo nome um nome próprio.
É exatamente como se faz em português: Copa do Brasil ou Copa
do Mundo.
Por que esse detalhe técnico é tão importante? Porque, na
expressão “o anjo do Senhor”, a forma “s’michut” sempre é usada.
Em hebraico, não dizemos “o anjo do Senhor”, mas “Anjo-Yehovah”
As duas palavras são unidas. A preposição “do” NÃO .מלאך יהוה —
existe no original. Além disso, no nome Anjo-Yehovah, o segundo
nome, Yehovah, é um nome próprio.
A partir dessa construção gramatical, chegamos a duas
conclusões:[11]
1. as palavras Anjo
e Yehovah se
tornam uma
unidade; e
2. Anjo-Yehovah é
um nome próprio,
não genérico.
Vamos aprofundar um pouco mais estes dois pontos.
 
1. É impossível separar o significado da palavra Anjo do
significado da palavra Yehovah e vice-versa. Elas são uma
única palavra. O Anjo é Yehovah, e Yehovah é o Anjo.
2. Essa categoria não pode ser aplicada a qualquer dos
outros anjos enviados por Yehovah; antes, é o nome próprio de
um Anjo específico que se chama Yehovah.
A palavra Anjo se funde com o nome próprio Yehovah. Ela pode
ser mais bem traduzida por Anjo-YHVH, Anjo-Yahweh ou Anjo-
Yehovah. Todas essas opções seriam aceitáveis. Deste ponto em
diante em nosso estudo, vamos usar o nome Anjo-Yehovah.[12]
Para simplificar o assunto: a forma gramatical de nomes
justapostos faz com que a expressão “Anjo do Senhor” seja: 1)
própria e 2) aglutinada.
1) Própria – Embora alguém possa argumentar que Anjo-
Yehovah seja qualquer um entre milhares de anjos enviados por
Deus, a forma gramatical indica que se trata de um nome próprio. É
O Anjo-Yehovah, não QUALQUER anjo enviado por Yehovah. Em
toda a Bíblia Hebraica, não me lembro de um único exemplo em que
o termo Anjo-Yehovah esteja na forma “s’michut”, e que o contexto
exija que seja entendido como um anjo comum ou como um grupo
de anjos.
2) Aglutinada – Os dois nomes, Anjo e Yehovah, modificam
um ao outro. No exemplo que vimos, não estamos falando de uma
copa e um mundo, mas de uma Copa do Mundo. É um tipo de copa
específico – do mundo. Esse não é apenas um anjo, mas um anjo
específico – o Anjo-Yehovah. Os dois termos não podem ser
separados um do outro. A natureza desse anjo é determinada pelo
nome Yehovah. Anjo e Yehovah formam uma nova entidade pela
aglutinação dos dois substantivos separados.
Essa estrutura gramatical acomoda-se perfeitamente à
descrição da figura que apareceu aos nossos profetas e patriarcas.
A “s’michut” é tão peculiar, tão apropriada e perfeita, que não
consigo afastar a impressão de que essa forma gramatical foi
soberanamente planejada e predestinada por Deus para a finalidade
primária de descrever essa Pessoa na Bíblia Hebraica.
É uma forma gramatical singular para definir um indivíduo
único. Não há outro como ele. Era preciso uma construção
gramatical especial para definir o nome dele. Nenhum homem se
encaixa nessa categoria; nenhum anjo se encaixa nessa categoria;
nem mesmo Deus, nosso Pai celestial, se encaixa nela.
O plano de salvação e o destino da raça humana exigem que o
Messias seja uma combinação de Deus e homem. A “s’michut” tem
uma forma dupla porque o Anjo-Yehovah tem uma dupla natureza. A
forma dupla corresponde perfeitamente à dupla natureza dele.
A forma s’michut é uma estrutura gramatical hebraica. Portanto,
o que estamos dizendo acerca do Anjo-Yehovah não se aplica aos
textos do Novo Testamento que foram escritos em grego. Visto que
Anjo-Yehovah é um termo hebraico específico, não é possível
representá-lo no texto grego.
Além disso, houve apenas um Anjo-Yehovah, que foi Yeshua.
Uma vez que ele nasceu na terra, ninguém jamais pode ocupar esse
papel. A categoria de Anjo-Yehovah não seencaixa em nenhuma
aparição na Nova Aliança. Do ponto de vista teológico, essa
categoria não existe mais. Todos os anjos na Nova Aliança são
anjos de Deus; eles não são divinos, mas são enviados para
missões específicas.
O Anjo-Yehovah nasceu num corpo humano e nele
permanecerá para sempre. Ele não pode mais voltar à condição
anterior ao seu nascimento. Aquele que era o Anjo-Yehovah
misterioso e sem nome da antiga nação de Israel tornou-se agora
Yeshua, o Messias, Filho de Deus e Filho de Davi (Rm 1.3,4), para
que todos o conheçam abertamente pela fé.
 
CAPÍTULO CINCO
QUEM ESCREVEU OS DEZ
MANDAMENTOS?
 
 
F oi o Anjo-Yehovah que apareceu a Moisés na sarça ardente. Foi
o Anjo-Yehovah que abriu o Mar Vermelho e tirou o povo de Israel
do Egito. Foi também o Anjo-Yehovah que se encontrou com Moisés
no Monte Sinai.
Começamos nosso estudo perguntando se um ser humano
pode ver Deus. Há muitas advertências bíblicas sobre a
impossibilidade de ver Deus em sua forma glorificada. No entanto,
temos, no livro de Êxodo, outro exemplo em que seres humanos de
fato viram o Deus de Israel. Nesse caso, havia setenta e quatro
líderes de Israel (74!) que subiram o Monte Sinai e viram Deus.
 
E subiram
Moisés, e Arão, e
Nadabe, e Abiú, e
setenta dos
anciãos de Israel.
E viram o Deus
de Israel, sob
cujos pés havia
uma como
pavimentação de
pedra de safira,
que se parecia
com o céu na sua
claridade. Ele não
estendeu a mão
sobre os
escolhidos dos
filhos de Israel;
porém eles viram
a Deus, e
comeram, e
beberam. - Êxodo
24.9-11
ַוַּיַעל ֹמֶׁשה ְוַאֲהֹרן ָנָדב ַוֲאִביהּוא, ְוִׁשְבִעים ִמִּזְקֵני ִיְׂשָרֵאל: ַוִּיְראּו ֵאת ֱא�ֵהי ִיְׂשָרֵאל
ְוַתַחת ַרְגָליו, ְּכַמֲעֵׂשה ִלְבַנת ַהַּסִּפיר, ּוְכֶעֶצם ַהָּׁשַמִים ָלֹטַהר׃ ְוֶאל־ֲאִציֵלי ְּבֵני ִיְׂשָרֵאל,
לֹא ָׁשַלח ָידֹו ַוֶּיֱחזּו ֶאת־ָהֱא�ִהים, ַוּיֹאְכלּו ַוִּיְׁשּתּו׃
 
Esse evento foi sem precedentes. Os anciãos viram a Deus
numa forma corpórea e humana, mas também em poder glorificado.
Tal proximidade ao poder divino era perigosa. Está claro que eles
estavam cientes do perigo porque observaram de modo especial
que Deus não “estendeu a mão sobre eles”.
Nesta passagem, o Anjo-Yehovah aparece outra vez em forma
humana. Suas pernas e seus pés são mencionados (em hebraico, a
palavra para pés e pernas é a mesma). O texto declara duas vezes
de maneira inequívoca que eles viram a Deus. O fato de mencionar
as pernas, não a face, indica que não viram seu rosto. Pelo
contexto, é provável que a coluna de nuvem que normalmente
escondia todo o seu corpo estivesse escondendo, neste caso,
apenas a parte superior ou a região do rosto.
Quando o Anjo-Yehovah não está em sua forma glorificada, seu
rosto pode ser visto. Mas quando aparece com o poder glorioso
“ligado”, sua face é a parte mais perigosa. O poder de sua glória
irradia de sua face e de seus olhos. O que nenhum ser humano
pode ver é a face glorificada de Deus (Êx 33.20). Da face de Deus,
vêm o brilho e a irradiação da bênção sacerdotal (Nm 6.25). Depois
de passar quarenta dias em sua presença, o rosto de Moisés
também começou a brilhar (Êx 34.29).
Há um paralelo na Nova Aliança em que o rosto de Yeshua
brilha como o sol (Ap 1.16), e seus olhos são como chama de fogo[13]
(Ap 1.14; 2.18; 19.12).
No Monte Sinai, o Anjo-Yehovah instruiu os setenta e quatro
líderes a comer e beber; imagino que, naquele momento, eles não
estavam com muita vontade de fazer isso. Ele pediu que comessem
e bebessem por duas razões. Primeiro, como no caso de Abraão,
Deus estava oferecendo-lhes uma refeição para selar uma aliança
de amizade. Em meio àquela esplendorosa aparição no Monte
Sinai, o Anjo-Yehovah queria que eles soubessem que seu principal
objetivo não era assustá-los, mas convidá-los à íntima comunhão
com ele. Ele estava estabelecendo uma aliança, não apenas
mandamentos; ele queria lealdade, não apenas leis.
A segunda razão era assegurar-lhes que a experiência era real.
Como no caso de Jacó em Peniel, Deus não queria que pensassem
que aquela visão era imaterial ou uma alucinação coletiva. Ele
estava ali. Ele de fato estava presente ali. Eles o viram, estiveram
fisicamente na presença dele e escaparam ilesos.
Essa passagem em Êxodo 24 é semelhante àquela da visita a
Abraão em Gênesis 18. Ela estabelece o fato de que o Deus de
Israel possui uma forma corpórea semelhante à de um ser humano.
O Deus de Êxodo 24 é o mesmo Deus de Gênesis 18.
O Deus de Israel, que apareceu a Abraão numa forma amigável
e não glorificada, apareceu a Moisés numa forma aterradora que fez
o monte tremer. É a mesma Pessoa, quer apareça em íntima
comunhão como a que existe entre seres humanos, quer se
manifeste em gloriosas demonstrações de majestade. Essa Pessoa
é o Deus de Israel. Ele é o Deus que nossos patriarcas e profetas
conheciam e em quem acreditavam. Eles entenderam que Deus
podia aparecer em forma humana. Ele podia vir com ou sem poder e
fogo. Foi ele que esteve no Monte Sinai. Foi ele quem fez aliança
com nossos pais e tirou nosso povo do Egito. Se ele esteve ali no
Monte Sinai, então deve ter sido ele quem escreveu os Dez
Mandamentos – com o “dedo de Deus” (Êx 31.18; Dt 9.10).
Moisés sabia das aparições do Deus-Homem a Abraão, Isaque
e Jacó. Afinal, ele mesmo escrevera sobre suas experiências no
livro de Gênesis. Ele deve ter suspeitado de que aquele que os
conduzira para fora do Egito era o mesmo que aparecera aos
patriarcas. Entretanto, até aquele momento, descrito no capítulo 24,
ele não o tinha visto.
Moisés passou quarenta dias e quarenta noites no Monte Sinai.
O Anjo-Yehovah escreveu os Dez Mandamentos e explicou-lhe
todas as outras leis. Embora Moisés ainda não tivesse
experimentado intimidade e glória com seu Criador, ele o desejava.
Moisés desceu do Sinai com a Torá e descobriu que o povo havia-se
desenfreado em carnalidade e idolatria. Ele ficou irritado e frustrado.
Quebrou as duas tábuas dos Dez Mandamentos que o Anjo-
Yehovah acabara de escrever (Êx 32.19)!
Uma guerra civil quase irrompeu entre os israelitas. Os levitas
mataram 3 mil pecadores (Êx 32.28). Depois de restabelecer a
ordem, Moisés voltou ao monte para um segundo jejum de quarenta
dias (!). A atitude dele nesse momento foi: “Olha Deus, eu não
aguento mais liderar; não aguento mais leis. Até mesmo ver todos
os teus milagres não é o bastante. Eu quero a ti. Quero ver o teu
rosto. Quero te conhecer. Quero tua intimidade e tua glória. Se não
vais me dar nem uma nem outra, então encontre outra pessoa”.
Moisés passou mais tempo com o Anjo-Yehovah do que
qualquer outro ser humano. Eles conversaram por horas. O Anjo
não apenas lhe deu = todas as leis, mas também lhe explicou
alguns detalhes sobre a história da criação que mais adiante seriam
usados para escrever o livro de Gênesis. Mas, em todas as
conversas até esse momento, o Anjo-Yehovah estava coberto por
uma nuvem. A Bíblia diz que Moisés falou com Deus face a face,
mas isso não significa que ele pôde ver sua face diretamente. É
óbvio que é por isso que Moisés ainda pediu para ver sua face.
Nos encontros anteriores, como na sarça ardente e no Mar
Vermelho, o Anjo-Yehovah sempre estivera coberto por fogo ou por
uma nuvem. Agora Moisés queria mais. Ele queria ver a face de
Yehovah, não apenas seu fogo.
 
Falava Yehovah a
Moisés face a
face[14], como
qualquer fala a
seu amigo [...] -
Êxodo 33.11
ְוִדֶּבר ְיהָוה ֶאל־ֹמֶׁשה ָּפִנים ֶאל־ָּפִנים, ַּכֲאֶׁשר ְיַדֵּבר ִאיׁש ֶאל־ֵרֵעהּו
 
Um homem poderia ver a face de Deus somente se ele lhe
aparecesse sem a sua glória. Ele poderia até ver Deus em seu
poder e glória desde que sua face estivesse coberta pela nuvem.
Moisés não ficou satisfeito com nenhuma dessas duas opções
parciais, e pediu para ver a face de Deus diretamente, com a
manifestação do poder de glória também. “Remove a nuvem. ‘Liga’
o poder no máximo. Deixa-me ver teu rosto”. Moisés foi muito
ousado!
 
Agora, pois, se
achei graça aos
teus olhos, rogo-
te que me faças
saber neste
momento o teu
caminho, para
que eu te
conheça [...] -
Êxodo 33.13
ִאם־ָנא ָמָצאִתי ֵחן ְּבֵעיֶני�, הֹוִדֵעִניָנא ֶאת־ְּדָרֶכ�, ְוֵאָדֲע�
 
Em linguagem espiritual, Moisés estava pedindo para ver a face
glorificada de Deus. Isso é evidente porque, no verso seguinte, o
Anjo-Yehovah responde:
 
Respondeu-lhe:
A minha
presença [face]
irá contigo
[adiante de ti], e
eu te darei
descanso. -
Êxodo 33.14
ַוּיֹאַמר ָּפַני ֵיֵלכּו ַוֲהִנֹחִתי ָל�׃
 
Moisés se recusou a aceitar essa resposta evasiva. Então,
insistiu mais.
 
Se a tua
presença[15] [face]
não vai comigo,
não nos faças
subir deste lugar
[...] Rogo-te que
me mostres a tua
glória. - Êxodo
33.15,18
ִאם־ֵאין ָּפֶני� ֹהְלִכים, ַאל־ַּתֲעֵלנּו ִמֶּזה׃ ... ַהְרֵאִני ָנא ֶאת־ְּכֹבֶד�׃
 
Então o Anjo-Yehovah esclareceu a questão: “Você pode falar
comigo como a um amigo e ver a minha face quando minha glória
não estiver manifesta. Ou você pode falar comigo de perto (como se
estivesse face a face) quando minha glória estiver ‘ligada’. Porém,
nesse caso, minha face terá de ficar coberta pela nuvem. Por quê?
Porque ninguém pode ver minha face em toda a sua glória e
suportar tamanho poder. Isso o mataria”.
 
Não me poderás
ver a face,
porquanto
homem nenhum
verá a minha face
e viverá. - Êxodo
33.20
לֹא תּוַכל ִלְרֹאת ֶאת־ָּפָני ִּכי לֹא־ִיְרַאִני ָהָאָדם ָוָחי׃
 
Então o Anjo-Yehovah ofereceu uma solução a Moisés. Ver a
face dele diretamente com todo o seu poder simplesmente não era
possível. Assim, ele o colocou na fenda de uma grande rocha e se
virou para que Moisés pudesse ver ao menos sua forma por detrás.
 
Disse mais
Yehovah: Eis
aqui está um
lugar junto a
mim; e tu estarás
sobre a penha.
Quando passar a
minha glória, eu
te porei numa
fenda da penha e
com a mão te
cobrirei, até que
eu tenha
passado. Depois,
em tirando eu a
mão, tu me verás
pelas costas;
mas a minha face
não se verá”. -
Êxodo 33.21-23
ִהֵּנה ָמקֹום ִאִּתי ְוִנַּצְבָּת ַעל־ַהּצּור׃ ְוָהָיה ַּבֲעֹבר ְּכֹבִדי, ְוַׂשְמִּתי� ְּבִנְקַרת ַהּצּור ְוַׂשֹּכִתי
ַכִּפי ָעֶלי� ַעד־ָעְבִרי׃ ַוֲהִסֹרִתי ֶאת־ַּכִּפי, ְוָרִאיָת ֶאת־ֲאֹחָרי ּוָפַני לֹא ֵיָראּו׃
 
Todos os profetas e patriarcas, por mais espirituais que fossem,
só podiam ver o Anjo-Yehovah de duas maneiras. Uma era vê-lo na
forma humana sem seu poder manifesto, como no caso de Abraão
nos carvalhais de Manre. A outra era ver o Anjo glorificado. Neste
caso, ele tinha de estar coberto por uma nuvem ou permanecer a
uma grande distância.
A opção mais excelente de vê-lo diretamente e em todo o seu
poder ainda existe. Essa opção foi alcançada por apenas dois
homens. Um deles foi Estêvão, o primeiro mártir (At 6-7). No
momento de sua morte, ele viu os céus abertos e Yeshua de pé, à
direita da glória (At 7.55). Neste caso, Estevão estava prestes a
deixar seu corpo físico de qualquer modo. Então, ver Yeshua em
plenitude de glória não lhe causou muito dano.
A segunda pessoa que alcançou essa revelação foi João na ilha
de Patmos. No último livro da Bíblia, a revelação total finalmente
chegou. João obteve o que tanto Abraão quanto Moisés ansiaram
por ver. Ele viu Yeshua em plena glória, face a face. João já era
nascido de novo. Ele estava cheio do Espírito Santo. Ele fora o
melhor amigo de Yeshua sobre a terra. Assim mesmo, ele quase
caiu morto com a experiência.
Ele viu Yeshua com seu rosto brilhando como o sol, os olhos
como chamas de fogo, a voz como muitos rios correndo (Ap 1.12-
16). João viu o rosto glorificado do Anjo-Yehovah e quase morreu na
hora. Aqui está o que João relatou naquele momento:
 
Quando o vi, caí
a seus pés como
morto. Porém ele
pôs sobre mim a
mão direita,
dizendo: Não
temas; eu sou o
primeiro e o
último. -
Apocalipse 1.17
 
Veremos essa revelação de forma mais detalhada na Parte
Cinco. Aqui queremos apenas fazer a ligação entre o pedido de
Moisés e a revelação de João. Em Apocalipse 1, João viu o que
Moisés havia pedido para ver em Êxodo 33. Moisés viu o mesmo
Deus-Homem glorificado da visão de João; só que teve de vê-lo
pelas costas. O tempo para que Yeshua fosse revelado em toda a
sua glória ainda não se cumprira.
Os outros discípulos de Yeshua também não chegaram a esse
nível de revelação. No Monte da Transfiguração, Yeshua tentou se
revelar, mas eles adormeceram. Eles não estavam preparados para
lidar com tamanha glória. Deus teve de cobri-los rapidamente com a
nuvem de modo que não fossem feridos pelo poder ali presente. Na
ocasião, os discípulos ficaram apavorados e quase morreram (Mt
17.6).
A experiência no Monte da Transfiguração ocorreu
aproximadamente 1.400 anos depois da experiência do Monte Sinai.
Nessa ocasião, Moisés já havia morrido e ido para o céu. Lá, Moisés
podia ver Yeshua, o Anjo-Yehovah, sempre que quisesse. Foi
registrado que Moisés apareceu no Monte da Transfiguração com
Yeshua e os discípulos. Portanto, não há mais necessidade de
preocupar-se com Moisés. No fim, ele recebeu tudo o que desejava
e muito mais.
 
Em verdade vos
digo que alguns
há, dos que aqui
se encontram,
que de maneira
nenhuma
passarão pela
morte até que
vejam vir o Filho
do Homem no
seu reino. Seis
dias depois,
tomou Yeshua
consigo a Pedro
e aos irmãos
Tiago e João e os
levou, em
particular, a um
alto monte. E foi
transfigurado
diante deles; o
seu rosto
resplandecia
como o sol, e as
suas vestes
tornaram-se
brancas como a
luz. E eis que
lhes apareceram
Moisés e Elias,
falando com ele.
Então, disse
Pedro a Yeshua:
Senhor, bom é
estarmos aqui; se
queres, farei aqui
três tendas; uma
será tua, outra
para Moisés,
outra para Elias.
Falava ele ainda,
quando uma
nuvem luminosa
os envolveu; e
eis, vindo da
nuvem, uma voz
que dizia: Este é
o meu Filho
amado, em quem
me comprazo; a
ele ouvi.
Ouvindo-a os
discípulos,
caíram de
bruços, tomados
de grande medo.
Aproximando-se
deles, tocou-lhes
Yeshua, dizendo:
Erguei-vos e não
temais! Então,
eles, levantando
os olhos, a
ninguém viram,
senão Yeshua. E,
descendo eles do
monte, ordenou-
lhes Yeshua: A
ninguém conteis
a visão, até que o
Filho do Homem
ressuscite dentre
os mortos. -
Mateus 16.28-17.9
 
Pedro, Tiago e João quase conseguiram ver o que todos os
profetas e patriarcas ansiaram por alcançar. Entretanto, não
estavam prontos. Em todo o restante do relato dos evangelhos,
Yeshua aparece em forma não glorificada, um pouco semelhante à
visita dos três varões a Abraão. Ele fez isso de propósito. Ele deixou
sua glória para poder aproximar-se da humanidade.
 
Pois ele,
subsistindo em
forma de Deus,
não julgou como
usurpação o ser
igual a Deus;
antes, a si
mesmo se
esvaziou,
assumindo a
forma de servo,
tornando-se em
semelhança de
homens; e,
reconhecido em
figura humana
[...] - Filipenses
2.6,7
 
Yeshua poderia ter vindo à terra como fizera anteriormente no
Monte Sinai, cheio de glória e poder. Se tivesse feito assim, todos
teriam fugido dele, assim como fizeram naquele tempo (Êx 20.18-
21). O Anjo-Yehovah “se despiu” de sua glória e poder e veio para
aproximar-se da humanidade. Ele não apenas se aproximou, mas
também morreu como um sacrifício para oferecer-nos perdão e
reconciliação.
Observe o paralelo entre o pedido de Moisés no Monte Sinai e
o desejo de Yeshua de revelar sua glória aos discípulos no Monte
da Transfiguração. Moisés esteve presente em ambas as ocasiões!
A nuvem e a glória também estiveram. Todos os elementos estavam
em seus devidos lugares. Contudo, os discípulos não estavam
prontos. Deus ainda deseja mostrar-nos sua glória e transformar-
nos à sua semelhança. No entanto, nós também ainda não estamos
prontos.
Yeshua também apareceu a Saulo (Paulo) antes de ele se
tornar um discípulo. Saulo ficou cego na hora. Não é que o poder
queimou os seus olhos; na verdade, foi bem o contrário. Além de
queimar seus olhos, a glória também o teria matado; mas Yeshua
lhe fez um grande favor e criou o primeiro par de lentes de contato.
Só que eram lentes opacas, que caíram de seus olhos três dias
depois quando Ananias orou por ele.
 
Subitamente uma
luz do céu
brilhou ao seu
redor, e, caindo
por terra, ouviu
uma voz que lhe
dizia: Saulo,
Saulo, por que
me persegues?
Ele perguntou:
Quem és tu,
Senhor? E a
resposta foi: Eu
sou Yeshua, a
quem

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