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Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas de recuperação ou transmitida em qualquer formato por quaisquer meios — eletrônicos, mecânicos, fotocópia digital, gravação ou qualquer outro —sem autorização prévia do autor. Todos os direitos reservados exclusivamente pelo autor. O autor assegura que todo o conteúdo é original e não viola os direitos legais de qualquer outra pessoa ou trabalho. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida em qualquer formato sem a permissão do autor. Todas as traduções de citações neste livro são do autor. Para os textos bíblicos, foi usada a versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, exceto em alguns casos em que foi usada a versão Almeida Século 21. Nesses casos, a nota AL21 aparece depois da referência bíblica. Quando a versão em português não confere com a tradução das Escrituras Hebraicas no original, foi inserida a palavra ou expressão correta entre colchetes []. Os textos da Nova Aliança (Novo Testamento) foram comparados a uma reconstrução adaptada da Moderna Tradução Hebraica (da Sociedade Bíblica de Israel). Algumas traduções do texto hebraico também foram comparadas às da Nova Versão King James (em inglês), da Nelson Publishers. SUMÁRIO Prefácio - É Possível Ver Deus? Parte Um Os Patriarcas Capítulo Um Quem Almoçou com Abraão? Capítulo Dois Quem Chutou a Perna de Jacó? Capítulo Três Por que Yeshua Foi Circuncidado? Parte Dois O Êxodo Capítulo Quatro O Anjo de Yehovah Capítulo Cinco Quem Escreveu os Dez Mandamentos? Capítulo Seis Yeshua e a Lei Moral Parte Três A Conquista Capítulo Sete O Comandante-Chefe Capítulo Oito Quem Lutou na Batalha de Jericó? Capítulo Nove Possuindo a Terra Parte Quatro Os Profetas Capítulo Dez Quem Está Assentado na Cadeira? Capítulo Onze Meus Olhos Viram o Rei Capítulo Doze O Filho do Homem Parte Cinco A Revelação Capítulo Treze Quem é o Homem em Chamas? Capítulo Quatorze A Divina Revelação de João Prefácio - O Homem-Mistério Apêndice Um Apêndice Dois Apêndice Três Apêndice Quatro Apêndice Cinco Apêndice Seis Apêndice Sete Apêndice Oito Apêndice Nove Apêndice Dez Apêndice Onze Apêndice Doze Sobre o Autor PREFÁCIO É POSSÍVEL VER DEUS? H á uma figura que aparece em toda a Lei e nos Profetas. Às vezes, ele é descrito como o Anjo do Senhor, às vezes como o próprio Deus, às vezes como alguém “semelhante ao Filho do Homem” e, muitas outras, sem nome algum. Entender quem é essa figura representa um desafio aos nossos conceitos mais básicos acerca de Deus e do Messias. Enxergar a conexão entre o Anjo do Senhor no Tanakh (Velho Testamento) e a figura de Yeshua (Jesus) na Nova Aliança (Novo Testamento) é desafiador tanto para a visão de mundo judaica como para a cristã. Este livro tem o propósito de desafiar os dois lados com a mesma intensidade, fazendo uma ponte entre os entendimentos judaico e cristão. O propósito principal deste livro é descrever as aparições de Deus e a natureza do Messias de acordo com as Escrituras. Desejamos essa verdade acima de todas as outras. Este livro também tem três propósitos secundários: 1. aprofundar as raízes judaicas da fé cristã; 2. descrever quem é Yeshua com base nas Escrituras hebraicas; 3. demonstrar a coerência da Bíblia do início ao fim. Raízes judaicas Fui criado num lar judeu liberal e, em minha juventude, frequentei uma sinagoga conservadora. Durante meus anos de universidade, fui tomado por uma intensa sede de verdade espiritual. Entretanto, minha busca pessoal e meus estudos de psicologia, filosofia e literaturas antigas em Harvard não me levaram a nada que satisfizesse a alma. Tentei todo tipo de experiência e prática espiritual. A única coisa que não estava disposto a considerar era Jesus. Contudo, num esforço para ser coerente em minha busca pela verdade, percebi que deveria ler os evangelhos pelo menos uma vez (embora estivesse convencido de antemão de que não encontraria nada de bom neles). A primeira vez que li os evangelhos, no inverno de 1977/1978, fiquei surpreso com sua atratividade. A pessoa de Yeshua, sua vida e seus ensinamentos inspiravam amor e admiração. Era difícil não “se apaixonar” por aquela figura inspiradora. A segunda vez que os li, no verão de 1978, tive uma segunda surpresa. Percebi que os escritos eram muito “judaicos”. Todos eram judeus, incluindo o próprio Yeshua e todos os seus discípulos. Além disso, toda a visão de mundo apresentada ali acerca do reino de Deus foi extraída dos Profetas hebreus. Por conta da primeira surpresa, dediquei minha vida para ser um seguidor de Yeshua em 1978. A segunda surpresa me levou a fazer parte do que é popularmente conhecido como Judaísmo Messiânico. A partir daí, resolvi continuar meus estudos, não apenas da Bíblia, mas também de literatura cristã e escritos rabínicos. (Como parte desses estudos, concluí dois mestrados, um em Estudos Judaicos pela Universidade Hebraica de Baltimore, e outro em Teologia pelo Instituto Bíblico Messiah.) Há muitas questões acerca das raízes judaicas do cristianismo. Uma das mais complexas é a figura do Anjo do Senhor na Torá (Lei) e nos Profetas. Neste livro, espero tratar dessas questões. Yeshua no Tanakh (VT) Um elemento fascinante da Nova Aliança (NT) é seu amor por toda a humanidade e, particularmente, pelo povo judeu. Não há lugar para qualquer tipo de racismo, embora o papel permanente de Israel como nação escolhida seja confirmado repetidas vezes (por exemplo, Rm 9-11). Yeshua chorou por Jerusalém (Lc 19.41-44), e o apóstolo Paulo (Saulo) disse que estaria disposto a morrer pelos judeus (Rm 9.1-4). Em minha nova fé em Yeshua, descobri também um novo amor por meu próprio povo. Senti-me impelido a falar com minha família sobre a graça de Deus e a vida eterna. Como muitos judeus aceitam a autoridade do Tanakh, mas não a da Nova Aliança, em geral é necessário explicar o plano de salvação usando somente o primeiro. [1] Há muitas profecias maravilhosas sobre o Messias no Tanakh. Em geral, os apóstolos começavam seus discursos por essas profecias. Em Atos 8, por exemplo, Filipe compartilha o evangelho com o eunuco etíope usando Isaías 53. O plano específico de Deus para minha vida levou-me a compartilhar as boas-novas de salvação em hebraico, aqui em Israel, quase sempre com judeus ortodoxos. Descobri que falar apenas sobre os escritos proféticos não era suficiente. O problema é que, apesar de as profecias serem absolutamente claras, uma pessoa que não tenha o coração aberto pode dizer simplesmente que não concorda com nossa interpretação. Por meio de muito estudo e oração (e também de muitos debates, conflitos e experiência pessoal), comecei a enxergar outro caminho: eu poderia testemunhar a eles usando não apenas profecias acerca do Messias, mas aparições reais dele na forma de Anjo do Senhor. A ligação entre o Anjo do Senhor e Yeshua, o Messias, traz de fato uma nova luz. É essa revelação dinâmica que espero transmitir neste livro. Coerência das Escrituras Muitos anos atrás, meu amigo Dan Juster compartilhou comigo o princípio filosófico de que a verdade precisa ser coerente consigo mesma. Se um ensinamento contradiz a si próprio, não pode ser verdadeiro. Este princípio se aplica à filosofia, à teologia, à interpretação bíblica e a todo pensamento lógico. Yeshua confirmou isso quando disse que não veio anular ou contradizer qualquer coisa escrita na Lei e nos Profetas, mas cumprir todas as coisas (Mt 5.17,18). O apóstolo Saulo (Paulo) repetiu esse princípio várias vezes (At 24.14, 26.22, 28.23). Acredito que a Bíblia é verdadeira e fidedigna. Como tal, ela deve ser coerente consigo mesma desde o Gênesis até o Apocalipse. Gênesis começa com a criação dos céus e da terra; o Apocalipse termina com a criação de novos céus e da nova terra. O que Deus planejou no princípio é levado a cabo no final.[2] O reino de Deus passa por vários estágios, começando com uma pequeninasemente até uma árvore frondosa que enche toda a Terra (Mt 13.31,32; Mc 4.26-28). Há diferentes estágios, mas o processo de desenvolvimento é constante do início ao fim. Infelizmente, por causa da história de divisão entre o cristianismo e o judaísmo, tanto rabinos quanto sacerdotes construíram espessas paredes teológicas entre o primeiro estágio do plano de Deus conforme revelado a Israel e o segundo estágio conforme revelado à Igreja. Dois mil anos de discordância entre Israel e a Igreja criaram uma barreira para o entendimento da coerência das Escrituras. Uma das chaves para derrubar essa barreira é a conexão entre o Anjo do Senhor e Yeshua, o Messias. As Escrituras são coerentes porque a natureza de Deus é coerente. Isso também é verdadeiro no tocante à natureza do Messias. Yeshua é o mesmo no passado, no presente e no futuro (Hb 13.8). Yeshua é o elo comum que une todas as Escrituras. A natureza eterna do Messias demonstra a harmonia das Escrituras. Ao mostrar o papel central do Anjo do Senhor na Lei e nos Profetas, espero que este livro ajude a reforçar a coerência das Escrituras desde a Lei de Moisés até o Apocalipse de João. Espero que você tire bastante proveito da leitura e que as ideias lhe sejam tão esclarecedoras quanto o foram para mim. Asher Intrater PARTE UM OS PATRIARCAS Nesta seção, examinaremos as aparições de Deus a Abraão e aos patriarcas no livro de Gênesis. Durante esse período, descobrimos um Mensageiro Divino que aparece na forma de um homem, um Deus-Homem. Compararemos as aparições desse Deus-Homem à figura de Yeshua (Jesus) na Nova Aliança (NT). Também consideraremos como essas aparições afetam nosso entendimento do chamado judaico e das alianças de Deus com Israel. CAPÍTULO UM QUEM ALMOÇOU COM ABRAÃO? U ma das crenças populares do judaísmo é que não é possível ver Deus. Nos treze princípios fundamentais de fé do rabino Moshe Ben Maimon (1135–1204), no hino de oração “Yigdal” e no credo “Ani Maamin”, encontramos as palavras: אין לו דמות הגוף ואין לו גוף “Deus não tem corpo nem forma corpórea.” Esse entendimento vem de Deuteronômio 4.12: O Senhor vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma. ַוְיַדֵּבר ְיהָוה ֲאֵליֶכם ִמּתֹו� ָהֵאׁש קֹול ְּדָבִרים ַאֶּתם ֹׁשְמִעים, ּוְתמּוָנה ֵאיְנֶכם ֹרִאים זּוָלִתי קֹול׃ Contudo, este verso não diz que Deus não tem forma. Diz que o povo no Monte Sinai não viu forma alguma. Em seu contexto, o verso não está fazendo uma declaração acerca da visibilidade de Deus. Trata-se de uma advertência contra a fabricação de imagens de escultura e a adoração a ídolos (vv. 15-24). A convicção de que é impossível ver Deus é apenas parcialmente verdadeira. A invisibilidade de Deus também é reiterada na Nova Aliança (NT): João 1.18 Ninguém jamais viu a Deus João 5.37 Jamais [...] vistes a sua forma João 6.46 Não que alguém tenha visto o Pai Colossenses 1.15 Ele é a imagem do Deus invisível 1 Timóteo 1.17 Ao Rei eterno, imortal, invisível 1 Timóteo 6.16 A quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver 1 João 4.12 Ninguém jamais viu a Deus 1 João 4.20 [...] não pode amar a Deus, a quem não vê Com todos esses versos, é fácil entender por que as pessoas acreditam que seja impossível ver Deus. Entretanto, quando analisados em contexto, um quadro diferente aparece. O fato de que as pessoas normalmente não veem Deus não significa que seja impossível vê-lo. Antes, por causa de nossa condição caída, não nos é permitido vê-lo. Se víssemos Deus na plenitude de seu poder, morreríamos (Êx 33.20). Trataremos dessa distinção em detalhes na Parte Dois. Por um lado, é impossível ver Deus. Por outro, nossos patriarcas e profetas de fato viam “Alguém” de tempos em tempos. Abraão viu esse “Alguém” em diversas ocasiões: Apareceu YHVH a Abrão [...] – Gênesis 12.7 ַוֵּיָרא ְיהָוה ֶאל־ַאְבָרם Veio a palavra- YHVH a Abrão, numa visão [...] – Gênesis 15.1 ָהָיה ְדַבר־ְיהָוה ֶאל־ַאְבָרם ַּבַּמֲחֶזה Apareceu-lhe [a Abrão] YHVH [...] - Gênesis 17.1 ַוֵּיָרא ְיהָוה ֶאל־ַאְבָרם Apareceu YHVH a Abraão nos carvalhais de Manre [...] - Gênesis 18.1 ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה ְּבֵא�ֵני ַמְמֵרא Nesses versos, a palavra apareceu em hebraico é a forma passiva do verbo ver. Ela indica claramente que Abraão viu algo e também poderia ser traduzida por “foi visto por Abraão”. Nas três primeiras ocasiões, não temos uma descrição de quem ou do que Abraão viu. No entanto, no capítulo 18, a descrição é detalhada e específica. Estudiosos e comentaristas rabínicos se esforçam para explicar que esse capítulo não pode ser entendido como tendo um significado literal ou direto(פשט). Não obstante, o texto é explícito e dá detalhes muito “físicos” em suas descrições. A verdade espantosa e inevitável é que o próprio YHVH visitou Abraão na forma de um ser humano. Eles almoçaram juntos e conversaram sobre várias questões importantes, desde a iminente gravidez de Sara até a iminente destruição de Sodoma. (Por favor, separe alguns momentos para ler todo o capítulo 18 de Gênesis e, depois, acompanhe em sua Bíblia enquanto o analisamos.) Apareceu Yehovah[3] a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. Levantou ele os olhos, olhou, e eis três homens de pé em frente dele. Vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro, prostrou-se em terra [...] - Gênesis 18.1,2 ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה, ְּבֵא�ֵני ַמְמֵרא ְוהּוא ֹיֵׁשב ֶּפַתח־ָהֹאֶהל ְּכֹחם ַהּיֹום׃ ַוִּיָּׂשא ֵעיָניו ַוַּיְרא, ְוִהֵּנה ְׁש�ָׁשה ֲאָנִׁשים, ִנָּצִבים ָעָליו ַוַּיְרא, ַוָּיָרץ ִלְקָראָתם ִמֶּפַתח ָהֹאֶהל, ַוִּיְׁשַּתחּו ָאְרָצה׃ Abraão viu “três homens” vindo visitá-lo. Quem são esses três homens? Um dos três foi chamado de Yehovah; os outros dois eram anjos. Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma [...] - Gênesis 19.1 ַוָּיֹבאּו ְׁשֵני ַהַּמְלָאִכים ְסֹדָמה Esses não são dois anjos quaisquer, mas os dois anjos. Eles eram os mesmos dois anjos que estiveram ali com Yehovah e Abraão. Os três visitantes que Abraão viu foram: 1) Yehovah na forma corpórea de um homem, e 2) dois anjos. Todos os três são chamados de “homens”. Dois anjos e o Yehovah-Homem visitaram Abraão na hora mais quente do dia. Com requintada hospitalidade beduína, Abraão se colocou de pé e correu para dar-lhes as boas-vindas. Mas isso não foi simples hospitalidade. Uma razão que levou Abraão a ir correndo ao seu encontro foi ter reconhecido o Yehovah-Homem. Ele já o tinha visto várias vezes. Abraão correu em direção a ele, prostrou-se e chamou-o de Senhor. A palavra aqui para prostrar-se é וישתחו, que pode ser traduzida tanto como prostrar-se quanto adorar. É a principal palavra hebraica para adoração. A palavra para Senhor aqui é אדוניי, Adonai, que é a forma plural de Senhor, mais frequentemente usada para fazer referência ao nome Yehovah. Em todo o capítulo 18 de Gênesis, não há nenhuma indicação sequer de que Abraão não tenha reconhecido ou percebido com quem estava falando. Ele o trata como Yehovah, como “Alguém” que já conhece. Os três visitantes são chamados de “homens” por três vezes: nos versos 2, 16 e 22. A pessoa especial ou diferente no grupo é chamada de Yehovah quatro vezes: versos 1 (acima), 17, 22 e 33. Tendo-se levantado dali aqueles homens, olharam para Sodoma; e Abraão ia com eles, para os encaminhar [mostrar-lhes o caminho]. Disse Yehovah: Ocultarei a Abraão o que estou para fazer [...] - Gênesis 18.16,17 ַוָּיֻקמּו ִמָּׁשם ָהֲאָנִׁשים, ַוַּיְׁשִקפּו ַעל־ְּפֵני ְסֹדם ְוַאְבָרָהם, ֹהֵל� ִעָּמם ְלַׁשְּלָחם׃ ַויהָֹוה ָאָמר ַהְמַכֶּסה ֲאִני ֵמַאְבָרָהם, ֲאֶׁשר ֲאִני ֹעֶׂשה׃ Depois de almoçar e falar sobre o nascimento de Isaque, os três “homens” se levantaram para partir. Os dois anjos seguiram adiante para cumprir sua missão em Sodoma. O Yehovah-Homem permaneceu ali para conversar um pouco mais com Abraão. Então, partiramdali aqueles homens e foram para Sodoma; porém Abraão permaneceu ainda na presença de Yehovah. - Gênesis 18.22 ַוִּיְפנּו ִמָּׁשם ָהֲאָנִׁשים, ַוֵּיְלכּו ְסֹדָמה ְוַאְבָרָהם, עֹוֶדּנּו ֹעֵמד ִלְפֵני ְיהָוה׃ Abraão e Yehovah discutiam questões de juízo e graça com respeito a Sodoma. Quando terminaram de conversar, os dois anjos estavam quase chegando a Sodoma. O Yehovah-Homem foi embora, provavelmente para voltar ao céu. Tendo cessado de falar a Abraão, retirou-se Yehovah; e Abraão voltou para o seu lugar. Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma. - Gênesis 18.33- 19.1a ַוֵּיֶל� ְיהָוה, ַּכֲאֶׁשר ִּכָּלה, ְלַדֵּבר ֶאל־ַאְבָרָהם ְוַאְבָרָהם ָׁשב ִלְמֹקמֹו׃ ַוָּיֹבאּו ְׁשֵני ַהַּמְלָאִכים ְסֹדָמה Os dois anjos tinham a missão de resgatar Ló e destruir Sodoma. Todo o encontro de Abraão com Yehovah em Gênesis 18 é descrito em detalhes realísticos. O tempo estava quente. Eles fizeram uma refeição completa, incluindo carne e leite. A destruição de Sodoma é tangível. Isso não é retratado como um sonho ou visão, mas como um evento histórico real. Podemos acreditar ou não que a Bíblia seja verdadeira. Contudo, é inquestionável que o texto bíblico considera que esse evento aconteceu literalmente. Nessa descrição, temos uma assombrosa afirmação bíblica: Yehovah é visto, ouvido e tocado. Yehovah veio visitar o homem em forma humana. O maior obstáculo para um judeu religioso acreditar em Yeshua não é a afirmação de que ele é o Messias, mas de que ele é divino. Nos últimos anos, o movimento judaico ortodoxo Chabad tem feito alegações de que seu falecido rabino-chefe, Rebe Schneerson, possuía atributos divinos. Entretanto, a visão deles é consideravelmente inferior ao nível da declaração que a Nova Aliança (NT) faz acerca da divindade de Yeshua. Em última análise, a questão fundamental é o nosso entendimento da natureza de Deus. A ideia de que Deus pudesse assumir a forma de um homem, uma forma corpórea, e visitar a humanidade não parece monoteísta, muito menos judaica. A raiz do problema não é a interpretação das profecias messiânicas, mas a essência de quem é o Messias. Pensar em “Deus encarnado” parece detestável, quase blasfemo. Contudo, é isso que vemos aqui. Nosso pai Abraão se encontra com Deus manifestado na forma de um corpo humano. Se Deus apareceu a Abraão em forma humana, então a principal objeção à divindade de Yeshua desaparece. Gênesis 18 é uma passagem que revela Deus encarnado de maneira mais radical do que qualquer outro capítulo em toda a Nova Aliança (NT). Seria perfeitamente válido alguém dizer que não consegue ver o visitante celestial de Gênesis 18 como Yeshua. No entanto, ninguém pode argumentar de maneira razoável que o texto de Gênesis 18 não descreve a aparição de Yehovah na forma corpórea. Aquela aparição de Yehovah a Abraão em forma humana afasta o argumento mais fundamental do pensamento judaico para não crer em Yeshua. Na Nova Aliança, o capítulo 8 de João afirma especificamente que quem visitou Abraão foi Yeshua. Numa discussão acalorada com alguns líderes religiosos, a questão de Abraão veio à tona. Yeshua respondeu: Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o [e de fato viu] e regozijou-se. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão? Respondeu-lhes Yeshua: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU. Então, pegaram em pedras para atirarem nele. - João 8.56-59 Yeshua fez várias declarações estarrecedoras aqui. Podemos entender por que os líderes religiosos ficaram ofendidos e tentados a apedrejá-lo. Yeshua disse que estava vivo antes do tempo de Abraão. Disse, também, que Abraão se regozijou por ver seu dia. Yeshua não estava querendo dizer que Abraão se alegrou numa visão ou por ver uma data no calendário. Ele se regozijou ao ver Yeshua no dia em que foi visitado por ele em Gênesis 18. Muitas traduções inserem incorretamente no verso 56 o pronome oblíquo “o” (“e de fato viu-o”), referindo-se ao dia. Abraão não se alegrou por ver “o dia”. Ele se alegrou por ver Yeshua. Isso pode ser constatado facilmente pela resposta dos líderes religiosos quando exclamaram atônitos: “Viste Abraão?”. Evidentemente, entenderam que, de acordo com Yeshua, Abraão encontrou-se com ele e que viram um ao outro. Outra declaração de Yeshua foi que ele existia antes de Abraão. “Antes que Abraão existisse, eu sou.” Essa frase é uma referência ao nome Yehovah. O homem em Gênesis 18 é descrito quatro vezes como Yehovah. Yehovah e “EU SOU O QUE SOU” são o mesmo nome (Êx 3.14,15). Que outra conclusão se pode tirar senão que Yeshua está afirmando abertamente que ele é o Homem Yehovah-EU SOU que almoçou com Abraão em Gênesis 18? Talvez, Yeshua estivesse mentalmente desequilibrado. Mas foi isso que ele disse. E foi assim que os líderes religiosos entenderam suas palavras. Foi por esse motivo que ficaram enfurecidos a ponto de querer matá-lo. Claramente, Yeshua não estava muito preocupado com a opinião de seus ouvintes. Ele os deixou com apenas três opções: pensar que ele era insano, matá-lo por ser um blasfemo ou crer que ele era o Yehovah-Homem que visitara Abraão. Para os líderes religiosos do primeiro século, decidir entre a insanidade de Yeshua ou sua divindade não era uma escolha muito fácil. Espera-se que nós, judeus, tenhamos o desejo de seguir as mesmas pisadas de Abraão. Deveríamos crer no mesmo Deus em quem ele cria. Se cremos que Deus apareceu a Abraão como homem, nessa mesma medida devemos crer que Deus pôde tornar- se homem outra vez; não devemos crer nem mais nem menos do que isso. Nossa fé deve ser coerente com a de nossos pais. De acordo com a Torá e a Nova Aliança (NT), há um aspecto de Deus que não podemos ver. E há outro aspecto em que ele aparece na forma corpórea de um ser humano. Essa dualidade, de não ser possível ver Deus e de ver Deus manifestado em forma humana, é descrita por João da seguinte maneira: Ninguém jamais viu a Deus; o Deus [Filho] unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. - João 1.18 O Deus que não podemos ver é aquele a quem Jesus chamou de “nosso Pai celestial”. Aquele que assumiu forma corpórea e que podemos ver e tocar é identificado por vários nomes: Palavra de Deus, Anjo de Yehovah, Filho do Homem e Filho de Deus, dentre outros. (Trataremos dessas referências em detalhes nos próximos capítulos.) A Nova Aliança declara que essa pessoa é Yeshua. Podemos ver um paralelo entre Abraão almoçar com o Yehovah-Homem em Gênesis 18 e Jesus comer com seus discípulos na última ceia e nas praias da Galileia. Pense na dinâmica de cada encontro: íntimo, porém assombroso; místico, porém material; divino, porém humano – Deus e o homem em comunhão numa refeição de aliança. Imagine o aroma e o sabor da comida, a transpiração ao sol quente do Oriente Médio. Imagine as conversas que mantinham sobre justiça, família e o reino messiânico vindouro. Eles puderam experimentar revelação eterna num contexto totalmente temporal. Você e eu somos convidados a essa mesma amizade de aliança que Abraão desfrutou – e com o mesmo Yehovah-Homem que ele conheceu. CAPÍTULO DOIS QUEM CHUTOU A PERNA DE JACÓ? O s encontros de Abraão com esse Yehovah-Homem foram as experiências mais importantes da vida dele. Sem dúvida, ele as contava para todos à sua volta. Isso deve ter incluído sua esposa, seus filhos, suas servas, seus servos e vizinhos. Hagar, serva de sua esposa, também teve um encontro com essa pessoa especial. No caso dela, ele foi descrito como o Anjo de Yehovah. O Anjo de Yehovah a encontrou quando ela fugia de Sara. Ele prometeu abençoar tanto a ela quanto a seus filhos por meio de Ismael. Tendo-a achado o Anjo de Yehovah junto a uma fonte de água no deserto [...] - Gênesis 16.7 ַוִּיְמָצָאּה ַמְלַא� ְיהָוה ַעל־ֵעין ַהַּמִים ַּבִּמְדָּבר Esse não era um anjo comum. Ele é chamado de Anjo de Yehovah também nos versos 9, 10 e 11. Contudo, no verso 13, esse anjo é identificado simplesmente pelo nome Yehovah. Então, ela invocouo nome de Yehovah que lhe falava: Tu és Deus que [me] vê. - Gênesis 16.13 ַוִּתְקָרא ֵׁשם־ְיהָוה ַהֹּדֵבר ֵאֶליָה, ַאָּתה ֵאל ֳרִאי Existem muitos anjos, e eles aparecem muitas vezes aos filhos dos homens. Porém, há outra figura, chamada Anjo de Yehovah. Ele é diferente: fala como Deus na primeira pessoa e é chamado de Yehovah. Nessa passagem, o Anjo de Yehovah também fala com ela como Deus e é chamado pelo nome Yehovah.[4] Esse mesmo anjo apareceu a Abraão por ocasião do sacrifício de Isaque. Não era um anjo comum. Assim que Abraão levanta o cutelo, lemos: Mas do céu lhe bradou o Anjo de Yehovah [...] - Gênesis 22.11 ַוִּיְקָרא ֵאָליו ַמְלַא� ְיהָוה ִמן־ַהָּׁשַמִים Então, o anjo começa a falar com ele como Deus, na primeira pessoa. Pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho. - Gênesis 22.12 ִּכי ַעָּתה ָיַדְעִּתי, ִּכי־ְיֵרא ֱא�ִהים ַאָּתה, ְולֹא ָחַׂשְכָּת ֶאת־ִּבְנ� ֶאת־ְיִחיְד� ִמֶּמִּני׃ E disse: Jurei, por mim mesmo, diz Yehovah [...] - Gênesis 22.16 ַוּיֹאֶמר ִּבי ִנְׁשַּבְעִּתי ְנֻאם־ְיהָוה Que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência [...] - Gênesis 22.17 ִּכי־ָבֵר� ֲאָבֶרְכ�, ְוַהְרָּבה ַאְרֶּבה ֶאת־ַזְרֲע� Não seria razoável que um anjo comum falasse desse jeito, na primeira pessoa, referindo-se a si mesmo como Deus. De fato, os patriarcas chamaram aquele lugar de Monte Moriá, que significa literalmente: “Monte onde Yehovah Aparece”. No monte Yehovah aparecerá [tradução literal]. - Gênesis 22.14 ֵיָאֵמר ַהּיֹום, ְּבַהר ְיהָוה ֵיָרֶאה׃ Eles consideraram a aparição desse Anjo como uma aparição de Yehovah. Nesse caso, o Anjo estava presente no momento em que Abraão ofereceu Isaque. Isaque “amarrado” é uma figura que serviria de base para todos os futuros sacrifícios do Templo, e esses sacrifícios eram vistos à luz do “sacrifício” de Isaque. Isaque sobre o altar e os sacrifícios no Templo simbolizavam o futuro sacrifício do Messias. Isaque é uma figura do Messias. O Anjo estava presente naquele sacrifício simbólico. De fato, o Anjo testemunhou o retrato simbólico de seu próprio sacrifício, que ocorreria quase 2 mil anos depois. A Bíblia também relata que Yehovah apareceu a Isaque uma segunda e uma terceira vez. Apareceu-lhe Yehovah [...] - Gênesis 26.2 ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה Na mesma noite, lhe apareceu Yehovah [...] - Gênesis 26.24 ַוֵּיָרא ֵאָליו ְיהָוה ַּבַּלְיָלה ַההּוא Nas três ocasiões, a raiz do verbo e a forma em hebraico são as mesmas usadas nas aparições de Yehovah a Abraão. O conhecimento desse visitante divino foi transmitido de Abraão para Isaque e deste para Jacó, neto de Abraão. Jacó teve várias visitações desse “Deus em forma de Homem”. No primeiro encontro, Jacó estava fugindo de seu irmão Esaú. Naquela noite, ele teve um sonho no qual viu uma escada colocada entre o céu e a terra, com anjos subindo e descendo. Todos eram anjos comuns. Mas, no topo da escada, ele viu outra figura. E acima dela [da escada] estava Yehovah que disse: Eu sou Yehovah, o Deus de teu pai Abraão e o Deus de Isaque. - Gênesis 28.13 (AL21) ְוִהֵּנה ְיהָוה ִנָּצב ָעָליו ַוּיֹאַמר, ֲאִני ְיהָוה, ֱא�ֵהי ַאְבָרָהם ָאִבי�, ֵוא�ֵהי ִיְצָחק Depois que Jacó teve essa visão, ele ergueu uma coluna de pedras, derramou azeite sobre ela e fez um voto ao Senhor. Então, chamou o lugar de Betel, a casa de Deus. Nesse capítulo, não está escrito explicitamente que Yehovah apareceu a ele na forma de um homem. Entretanto, só precisamos nos perguntar o que Jacó viu ali, de pé, no topo da escada. Isso sugere a forma corpórea de um homem, já que a escada é um utensílio fabricado para seres humanos. Quando Yehovah apareceu a Jacó pela segunda vez, a Bíblia esclarece quem estava no sonho da escada. A segunda vez aconteceu quando Jacó estava sendo maltratado por seu tio Labão. Foi quando ele recebeu o sonho dos machos malhados fecundando as ovelhas. Nessa ocasião, o visitante divino voltou com o nome de “Anjo de Yehovah”. Jacó recontou o sonho às suas esposas: E o Anjo de Deus me disse em sonho: Jacó! Eu respondi: Eis me aqui! - Gênesis 31.11 ַוּיֹאֶמר ֵאַלי ַמְלַא� ָהֱא�ִהים ַּבֲחלֹום ַיֲעֹקב ָוֹאַמר ִהֵּנִני׃ Podemos imaginar que, na primeira aparição a Jacó na escada, Deus não apareceu em forma humana. Também podemos pensar que, nessa segunda aparição, Jacó viu apenas um anjo comum. Contudo, esse “anjo” lhe disse algo muito fora do comum: Eu sou o Deus de Betel, onde ungiste uma coluna, onde me fizeste um voto. - Gênesis 31.13 ָאֹנִכי ָהֵאל ֵּבית־ֵאל, ֲאֶׁשר ָמַׁשְחָּת ָּׁשם ַמֵּצָבה, ֲאֶׁשר ָנַדְרָּת ִּלי ָׁשם ֶנֶדר As implicações dessa declaração são estarrecedoras. O Anjo de Yehovah apareceu a Jacó. É evidente que ele era um mensageiro, um “enviado”. Então, esse Anjo falou: “Eu sou Deus. Eu sou o Deus de Abraão e Isaque. Eu sou aquele que você viu na primeira visão”. Ali estava um anjo que declarava ser Deus. Vamos resumir: na primeira aparição (Gn 28), Deus Yehovah se revela. Na segunda (Gn 31), um anjo aparece. Este anjo declara abertamente ser o Deus Yehovah que aparecera a Jacó na primeira vez. Ele não é um anjo, mas o Anjo. Deus Yehovah se revela como o Anjo; e o Anjo se revela como Deus Yehovah. Eles são a mesma pessoa. Esse personagem, esse Deus-Anjo-Homem, é aquele que Abraão, Isaque e Jacó chamavam de “meu Deus”. A crítica textual moderna pode referir-se a essa descrição como um anacronismo ou antropomorfismo. No entanto, esse tipo de terminologia acadêmica não existia nos dias de Abraão, Isaque e Jacó. O que está escrito na Bíblia reflete o que eles conheciam de Deus, o que eles experimentavam de Deus e o que criam acerca dele. Isso pode soar primitivo para alguns hoje, mas para eles era real. A terceira visitação divina a Jacó foi ainda mais desafiadora. Jacó estava voltando do exílio, assustado diante da possibilidade de reencontrar-se com seu irmão Esaú, de quem fugira uns 20 anos antes. Jacó enviou a esposa e os filhos à frente e ficou sozinho à noite perto do rio Jaboque. [...] ficando ele [Jacó] só; e lutava com ele um homem, até ao romper do dia. - Gênesis 32.24 ַוִּיָּוֵתר ַיֲעֹקב ְלַבּדֹו ַוֵּיָאֵבק ִאיׁש ִעּמֹו, ַעד ֲעלֹות ַהָּׁשַחר׃ Dessa vez, a aparição não se deu num sonho. Alguém apareceu no meio da noite e começou a lutar com Jacó. Como nenhum dos dois parecia estar ganhando, o homem misterioso lhe deu um golpe na parte de trás da coxa (resultando no que chamaríamos hoje de “tendões ou ligamentos rompidos”). Jacó se recusou a deixá-lo ir a despeito da dor e exigiu que o homem o abençoasse. Se Jacó estava pedindo que o homem misterioso o abençoasse era porque provavelmente já havia descoberto quem ele era. O homem então mudou o nome de Jacó para Israel – de “suplantador” (“agarrado ao calcanhar”) para “príncipe de Deus”. Jacó perguntou pelo nome do homem, mas seu pedido não foi atendido. Jacó, agora Israel, chamou o lugar de Peniel, a face de Deus. Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva. - Gênesis 32.30 ַוִּיְקָרא ַיֲעֹקב ֵׁשם ַהָּמקֹום ְּפִניֵאל ִּכי־ָרִאיִתי ֱא�ִהים ָּפִנים ֶאל־ָּפִנים, ַוִּתָּנֵצל ַנְפִׁשי׃ No verso 25, nosso personagem misterioso é chamado de homem; no verso 30, ele é chamado de Deus. Então, ele é homem ou Deus? Ou ele é um Deus-Homem? Na manhã seguinte, Jacó descobriu que ainda estava mancando. Por que Deus o golpeara na perna? A resposta é: para garantir a Jacó que aquilo não fora um sonho, mas uma experiência real. Jacó era acostumado a ter sonhos espirituais. Sempre que fosse tentado a pensar que aquele encontro tinha sido apenas um sonho ou uma experiência mística, irreal, haveria uma fisgada na parte de trás de sua coxa – apenas para lembrá-lo de como havia sido real. Ele tivera um encontro com um homem que também era Deus. Deus foi até ele na forma de homem. Jacó teve uma experiência no seu corpo físico. (Se você não crê nisso, “cuidado com seu tendão”!) Jacó e toda a sua família ficaram tão assombradoscom a experiência que nunca mais comeram carne da parte de trás da coxa por muitas gerações. Alguns anos mais tarde, Deus mandou Jacó retornar a Betel. Ali, Deus lhe apareceu pela quarta vez (Gn 35.9-13). Ele recapitulou com Jacó as promessas da aliança feitas anteriormente naquele lugar. (É possível que esta não tenha sido outra visitação, mas uma revisão do que acontecera antes. Porém, há novos detalhes e vislumbres que indicam que pode ter sido uma nova aparição. Qualquer que seja o caso, a ideia é a mesma.) Talvez, você ainda duvide de que o homem em Peniel fosse Deus. Contudo, veja o que está escrito nessa revisão do encontro em Peniel. O visitante divino reitera as promessas da aliança; ele o faz lembrar-se da bênção e de como mudou seu nome para Israel. Claramente, é a mesma pessoa do encontro anterior que está falando. Outra vez lhe [a Jacó] apareceu Deus e o abençoou [...] Disse-lhe mais: Eu sou o Deus Todo-Poderoso (El Shaddai). - Gênesis 35.9,11 ַוֵּיָרא ֱא�ִהים ֶאל־ַיֲעֹקב עֹוד... ַוּיֹאֶמר לֹו ֱא�ִהים ֲאִני ֵאל ַׁשַּדי O Deus El Shaddai diz: “Eu sou o Homem que lutou com você em Peniel”. E, invertendo a ordem, o Homem que lutou com Jacó em Peniel diz: “Eu sou El Shaddai”. El Shaddai, o grande Deus provedor que faz alianças e abençoa famílias e finanças, apareceu muitas vezes aos nossos pais na forma de um homem. Esse El Shaddai é o mesmo Homem que lutou com Jacó aquela noite em Peniel. Ele afirmou que era Homem e Deus ao mesmo tempo. Nossos antepassados conheceram El Shaddai na forma de um Deus-Anjo-Homem. Entretanto, sua identidade exata ainda era, de certa maneira, um mistério para eles. Anos mais tarde, ele se revelou como Messias. Assim como nossos pais fizeram aliança com El Shaddai, igualmente fazemos a nova aliança com Yeshua. Ele era o Deus-Homem em quem nossos pais creram. Ele é o Messias. CAPÍTULO TRÊS POR QUE YESHUA FOI CIRCUNCIDADO? E l Shaddai era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Ele apareceu aos nossos antepassados na forma de um Homem e de um Anjo. Embora este Deus-Anjo-Homem fosse identificado muitas vezes como Yehovah, ele não revelava seu nome pessoal (Gn 32.30), porque seu nome não seria revelado até um tempo futuro. Esse tempo viria quando o Deus-Anjo-Homem nascesse no mundo como Messias. A revelação de que o Deus-Anjo-Homem do Tanakh (Velho Testamento) nasceria nesta terra como homem é impressionante. É uma epifania, uma manifestação de Deus à humanidade. Isso é o que João afirmou quando disse: “E o Verbo [a Palavra] se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). É também o que Saulo (Paulo) quis dizer quando escreveu: “Grande é o mistério da piedade: Aquele [Deus] que foi manifestado na carne” (1 Tm 3.16). A importância do nascimento de Yeshua é notória nos círculos cristãos e é conhecida como “encarnação”. Neste capítulo, eu gostaria de tratar de um aspecto específico do nascimento de Yeshua que provavelmente é negligenciado pela maioria tanto dos cristãos quanto dos judeus – a circuncisão. Yeshua não apenas nasceu, mas foi circuncidado. Ele não apenas veio a este mundo, mas também foi circuncidado quando chegou aqui. O procedimento cirúrgico da circuncisão é pouco relevante. No entanto, o compromisso de aliança implícito no procedimento é imenso. Para o povo judeu, a circuncisão tem o mesmo significado que as alianças numa cerimônia de casamento. É um sinal de que uma aliança foi “cortada”.[5] O Deus-Anjo-Homem fez uma aliança com os patriarcas. Pela aliança, ele nos escolheu como nação e nos deu a terra de Israel. Foi como se tivesse dito aos patriarcas: “Eu não posso lhes dizer meu nome agora. Meu nome está associado à aliança. Um dia, vou nascer nesta terra e cortar uma aliança por meio da minha própria circuncisão. Então, meu nome misterioso será revelado”. Quando Yeshua foi circuncidado na carne, ele fez uma aliança com o povo judeu; quando foi crucificado na carne, ele fez uma aliança com toda a humanidade. O Cristo-Messias e o Deus-Anjo-Homem são a mesma pessoa. Ele não tinha um nome específico no tempo de nossos pais porque seu nome só seria proclamado pouco tempo depois de seu nascimento, por ocasião de sua circuncisão.[6] Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram- lhe o nome de Yeshua, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido. - Lucas 2.21 O nome dele é Yeshua. Ele recebeu esse nome quando foi circuncidado. Yeshua é o Deus-Anjo-Homem que nasceu neste mundo como Messias para salvar-nos de nossos pecados. Foi ele quem apareceu aos nossos antepassados e fez aliança com eles pela circuncisão (Gn 17.1-14). Quando foi concebido, seu caráter divino uniu-se à natureza de Miriã (Maria). Ele existia anteriormente como o Anjo (mensageiro) divino, mas a união divino-humana em Yeshua era uma nova realidade que veio à existência somente em seu nascimento. O Anjo de Yehovah que exigiu de Abraão a circuncisão seria circuncidado, ele próprio, mais tarde quando nascesse nesta terra como homem. Por que isso é importante para nós hoje? Por que esse Deus- Anjo-Homem não recebeu um nome até nascer no mundo dos homens? Por que o nome de Yeshua foi proclamado especificamente no momento de sua circuncisão? As respostas a essas perguntas são bastante desafiadoras tanto para judeus quanto para cristãos. Vamos tratar primeiro do desafio para a visão de mundo judaica. Deus apareceu aos nossos pais na forma de um Deus-Anjo- Homem. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó não é uma divindade desligada e distante, que não podemos sentir e conhecer. Ele está mais próximo do que o Monte Sinai; ele faz mais do que escrever leis e estabelecer regras; ele não é uma coluna de fogo e nuvem. Ele é pessoal e íntimo, e envolve-se com nossa vida. Ele apareceu aos nossos pais na forma de Homem e de Anjo e fez uma aliança com eles (Gn 15.18; 17.2; Êx 2.24). A segunda parte do desafio para a visão de mundo judaica é que esse El Shaddai, Deus-Anjo-Homem, não é outro senão Yeshua. Sim, aquele que, nós, judeus, temos rejeitado há 2 mil anos. A figura dele tem sobressaído entre nosso povo por toda a nossa história, quer gostemos disso, quer não. Não é coincidência que nosso exílio de 2 mil anos tenha começado imediatamente depois que rejeitamos sua mensagem. Crer em Yeshua é a continuação correta e lógica de ter fé no mesmo Deus em quem Abraão, Isaque e Jacó criam. A terceira parte do desafio para o mundo judaico tem a ver com a nossa visão das alianças firmadas com nossos pais. Por meio daquelas alianças, nos tornamos o povo escolhido. Foi por elas que recebemos a terra de Israel. Pelas alianças, recebemos bênçãos terrenas e celestiais. Porém, quem fez as alianças com Abraão, Isaque e Jacó? Foi esse Deus-Anjo-Homem que estamos estudando neste livro. As alianças originais que definem nosso povo foram feitas com Deus em sua forma de Anjo-Homem. Aquele personagem era Yeshua antes de seu nascimento nesta terra. Foi ele quem fez aliança com nossos pais. Somos o povo escolhido. Nossa eleição foi definida pelas alianças dos patriarcas. Aquelas alianças foram feitas com Yeshua. Nossa eleição não tem sentido sem um relacionamento de fé com o Deus-Anjo-Homem que cortou uma aliança com nossos antepassados. Nossa vocação como povo é determinada a partir de nosso relacionamento com Yeshua. Sem Yeshua, nossa própria identidade como judeus, como israelitas, como povo escolhido perde o propósito. Vamos comparar essa questão ao exemplo do casamento. Minha esposa assumiu meu sobrenome quando nos casamos. Ela se chamava Betty Kirshbaum. Agora, é Betty Intrater. Sem o nosso relacionamento, seu novo nome, sua identidade e seu papel como esposa e mãe perderiam o significado. Se ela se divorciasse de mim, não haveria propósito em continuar a chamar-se Betty Intrater. O mesmo é verdadeiro para mim. Meu papel como pai e marido não teria significado fora de minha aliança matrimonial com Betty. De modo semelhante, é impossível que Israel cumpra seu propósito na aliança sem Yeshua. Nossa eleição não é baseada em superioridade racial. Fomos escolhidosporque temos uma aliança com El Shaddai. A identidade judaica, sem o Deus-Homem que cortou uma aliança conosco, não tem propósito. Sem Yeshua, estamos proclamando que somos “filhos da aliança” sem o participante que a estabeleceu no princípio. A quarta parte do desafio para a visão de mundo judaica é a conexão entre a terra de Israel e a pessoa de Yeshua.[7] A propriedade da terra de Israel foi dada a Abraão, Isaque e Jacó por aliança. As alianças da terra foram feitas com o Deus-Anjo-Homem, em quem nossos pais criam. Aquele personagem era Yeshua. O direito de aliança do povo judeu sobre a terra de Israel tem origem na aliança com Yeshua. O retorno do povo judeu à terra de Israel desde o final do século 19 não é uma questão meramente política ou histórica. É uma questão de aliança e profecia. A visão atualmente considerada “politicamente correta” não enxerga o mandato divino para que o nosso povo volte a viver em sua antiga terra natal. Esse mandato vem da Bíblia. Nosso “direito” de estar nessa terra é baseado em nossas antigas alianças, e estas alianças foram feitas com Yeshua. À medida que nós, judeus, nos voltamos com fé para o nosso próprio Messias, nossa identidade de povo escolhido chega à plenitude (Rm 11.15). Por intermédio de Yeshua, nossa restauração à terra de Israel também chegará ao seu propósito completo (Lc 13.34,35; 19.41-44; 21.23,24). Nossa identidade e nossa terra nos foram dadas por aliança. Quem firmou essa aliança foi o Deus-Anjo-Homem, cujo nome é Yeshua desde o nascimento. A circuncisão é o sinal da aliança. A circuncisão está ligada à aliança, e a aliança está ligada a Yeshua. À semelhança de Abraão, Yeshua entrou na Aliança “Abraâmica” por meio da circuncisão. Por isso o nome de Yeshua foi anunciado por ocasião de sua circuncisão. Quando um pai realiza os preparativos para que o filho seja circuncidado, ele recita a bênção que faz com que seu filho entre na Aliança Abraâmica. Quando Yeshua foi circuncidado, ele se comprometeu com a Aliança Abraâmica. Ele já havia-se comprometido com essa aliança como Deus (quando passou por entre as partes dos animais em Gênesis 15.17). Na circuncisão, ele se comprometeu com a Aliança Abraâmica como homem. A circuncisão de Yeshua demonstra seu compromisso com as alianças feitas com o povo judeu. O fato de ter seu nome proclamado no momento da circuncisão demonstra que a identidade de Yeshua como ser humano está ligada a um compromisso de aliança com o povo judeu. Em vista disso, a ideia de que Yeshua é o Deus-Anjo-Homem que fez uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó é igualmente desafiadora para a visão de mundo cristã. Esse desafio afeta a atitude do cristão em relação ao povo judeu, à terra de Israel e às alianças firmadas com nossos pais. Um cristão verdadeiramente nascido de novo tem uma aliança com Deus por meio de Yeshua. Essa aliança proveu perdão de pecados e vida eterna. Contudo, mais de mil anos antes da cruz, o mesmo Yeshua cortou uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó. Foi ele que fez com que os judeus se tornassem o povo escolhido. Foi ele que declarou Israel como a Terra Santa que seria a herança do povo hebreu. O cristão tem salvação pela fé em Yeshua por meio da Nova Aliança. No entanto, Yeshua estabeleceu uma aliança anterior com o povo judeu. Yeshua prometeu dar vida eterna a todos os que cressem. Apesar disso, muito tempo antes, ele também prometeu dar a terra de Israel ao povo judeu. O que isso significa para o mundo cristão hoje? Vamos usar o exemplo de um contrato comercial. Uma pessoa se dispõe a fazer um contrato para comprar seu negócio. Contudo, você tem um sócio mais antigo na empresa. Quando chega a hora de assinar o contrato, você deve levar em conta os compromissos anteriormente firmados com seu sócio. Se o novo contrato violar o contrato anterior, ele não terá validade. Quando uma empresa compra outra, ela precisa reconhecer os contratos que a antiga tinha com seus empregados e clientes anteriores. De modo semelhante, para que a Nova Aliança mantenha sua integridade, ela deve permanecer fiel aos compromissos anteriores firmados na Velha Aliança. As promessas da Nova Aliança para a Igreja exigem a fidelidade de Deus às promessas da Velha Aliança feitas ao povo de Israel. O mesmo princípio também se aplica a governos. Um novo governo pode tomar posse num determinado país; porém, deve reconhecer obrigações assumidas em tratados pelo governo anterior em nome do país. As alianças de um “novo” governo devem reconhecer as “velhas” alianças do governo anterior. Todos os cristãos verdadeiros entram numa relação de aliança com Yeshua. E Yeshua tem uma aliança anterior com o povo de Israel. O cristão pode dizer que as alianças de Deus com Israel já não têm validade porque nosso povo o rejeitou. Isso não é correto. As promessas de Deus são condicionais, e o nosso povo, de fato, quebrou as alianças com ele. Mas a palavra de Deus ainda é eternamente válida. Mesmo que tenhamos sido infiéis às nossas alianças, Deus é fiel às suas promessas. A questão não é a nossa falta de justiça. A questão é a fidelidade de Deus às suas alianças. Afirmo, pois, que o Messias se tornou servo [ministro] da circuncisão, por causa da fidelidade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos patriarcas; e para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia [...] - Romanos 15.8,9 Yeshua foi circuncidado e viveu como um judeu observador da Torá para demonstrar a fidelidade de Deus ao nosso povo. Yeshua é um marido fiel, embora tenhamos sido uma esposa infiel (um tema central no livro de Oseias). Se ele não for fiel a Israel, como será fiel à Igreja? Em Jeremias 31, Deus promete uma Nova Aliança a fim de prover perdão de pecados e escrever a Torá em nosso coração. Nesse mesmo capítulo, ele também promete preservar o povo judeu. As promessas da Nova Aliança se encontram nos versos 31 a 34. As promessas de preservação para a nação de Israel são encontradas nos versos 35 a 37. Assim diz Yehovah, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite [...] Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz Yehovah, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre. Assim diz Yehovah: Se puderem ser medidos os céus lá em cima e sondados os fundamentos da terra cá embaixo, também eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por tudo quanto fizeram. - Jeremias 31.35- 37 ֹּכה ָאַמר ְיהָוה, ֹנֵתן ֶׁשֶמׁש ְלאֹור יֹוָמם, ֻחֹּקת ָיֵרַח ְוכֹוָכִבים ְלאֹור ָלְיָלה ִאם־ָיֻמׁשּו ַהֻחִּקים ָהֵאֶּלה ִמְּלָפַני ְנֻאם־ְיהָוה ַּגם ֶזַרע ִיְׂשָרֵאל ִיְׁשְּבתּו, ִמְהיֹות ּגֹוי ְלָפַני ָּכל־ַהָּיִמים׃ ִאם־ִיַּמּדּו ָׁשַמִים ִמְלַמְעָלה, ְוֵיָחְקרּו מֹוְסֵדי־ֶאֶרץ ְלָמָּטה ַּגם־ֲאִני ֶאְמַאס ְּבָכל־ֶזַרע ִיְׂשָרֵאל ַעל־ָּכל־ֲאֶׁשר ָעׂשּו Há uma aliança triangular aqui. A Nova Aliança associa o perdão dos pecados à preservação da nação de Israel, a qual, por sua vez, está associada à preservação da criação natural. A criação do mundo foi feita por aliança; a eleição da nação de Israel se deu por aliança; e a salvação eterna de todos os crentes foi estabelecida por aliança. Esses três fatos estão interligados por aliança. A aliança exige que os três fatos sejam verdadeiros, ou que nenhum deles o seja. Esse segredo espiritual explica por que a Jihad islâmica, assim como os nazistas no século passado, tem como alvo o extermínio do povo judeu. Se conseguissem destruir nosso povo, a Nova Aliança e a ordem da criação estariam seriamente ameaçadas. Um dia, meu amigo Lou Engle me pediu para explicar a importância de Israel no plano de Deus. Eu lhe perguntei: “Você vê questões como aborto e homossexualidade como questões de aliança?”. Ele disse: “Claro que sim”. Respondi: “Bem, as questões relativas a Israel também têm a ver com aliança”. A questão não é tanto Israel em si, mas a fidelidade de Deus para com Israel. Não se trata de superioridade racial, mas da fidelidade de Deus às alianças. A salvação do cristão depende da fidelidade de Deus às suas alianças.Deus tem uma aliança anterior com o povo de Israel. Assim como a identidade e o destino de Israel perdem a validade sem a fé em Yeshua, a fé do cristão em Yeshua também perde validade sem o reconhecimento da fidelidade de Deus às suas alianças com o povo judeu. Não estou dizendo que, para ser salvo, alguém precise se comprometer com o povo judeu. Estou dizendo que a salvação dos cristãos é baseada numa aliança com o mesmo Deus El Shaddai que fez aliança com Abraão, Isaque e Jacó muitos anos antes. Se Deus é fiel em uma, será fiel na outra. Para um cristão, ouvir que a salvação é baseada numa aliança que pressupõe um compromisso com Israel causa tanto espanto quanto para um judeu que ouve que a preservação da nação de Israel é baseada numa aliança que Yeshua cortou com nosso povo no Antigo Testamento. A aliança é válida nos dois sentidos. Você sabia que, um dia, Yeshua (Yehovah em sua forma humana) tentou matar Moisés? Embora possa parecer absurdo, aqui está a passagem: Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o Yehovah e o quis matar. Então Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho, lançou-o aos pés de Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim esposo sanguinário. Assim Yehovah o deixou. - Êxodo 4.24-26 ַוְיִהי ַבֶּדֶר� ַּבָּמלֹון ַוִּיְפְּגֵׁשהּו ְיהָוה, ַוְיַבֵּקׁש ֲהִמיתֹו׃ ַוִּתַּקח ִצֹּפָרה ֹצר, ַוִּתְכֹרת ֶאת־ָעְרַלת ְּבָנּה, ַוַּתַּגע ְלַרְגָליו ַוּתֹאֶמר ִּכי ֲחַתן־ָּדִמים ַאָּתה ִלי׃ ַוִּיֶרף ִמֶּמּנּו Moisés era o grande libertador do povo de Israel. Ele recebeu profecias específicas para sua vida, autoridade espiritual e uma missão ordenada por Deus. Só havia um problema: Moisés esqueceu que sua grande missão espiritual se devia à fidelidade de Deus à sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó (Êx 2.24). Circuncidar seu filho era o sinal da aliança. Sem aquela aliança, Moisés era um “homem morto”. Grande espiritualidade não elimina a necessidade de ser fiel às alianças. Yeshua foi circuncidado para mostrar a fidelidade de Deus às suas alianças.[8] Yeshua recebeu seu nome na circuncisão. Ele foi circuncidado para cumprir a fidelidade de Deus à aliança feita com o povo de Israel. Yeshua tinha de ser fiel à aliança com Abraão porque foi ele mesmo que a propusera. Yeshua foi circuncidado como um filho da aliança de Abraão. Yeshua tornou-se parte da Aliança Abraâmica. Pela circuncisão, ele cortou uma aliança com o povo judeu. Yeshua foi e ainda é fiel àquela aliança. Yeshua fez as alianças com Abraão, Isaque e Jacó. O mesmo Yeshua fez a Nova Aliança de salvação para todos os que creem. As promessas da Aliança Abraâmica fazem parte dos fundamentos da Nova Aliança. As promessas da Nova Aliança para o cristão estão integralmente ligadas à fidelidade de Yeshua ao povo judeu na Velha Aliança. Em conclusão, Yeshua foi circuncidado para mostrar a fidelidade de Deus às suas próprias alianças. Tanto judeus quanto cristãos podem alegrar-se nesse fato. Fidelidade às alianças é um atributo essencial da fé bíblica. Visto que Yeshua fez a aliança original com Abraão, o povo judeu só encontrará o pleno significado de sua própria identidade e de seu destino quando descobrir a fé em Yeshua. Como Yeshua foi fiel à Aliança Abraâmica, assim também os cristãos devem demonstrar fidelidade de aliança ao povo judeu. PARTE DOIS O ÊXODO Nesta seção, examinaremos as aparições de Deus a Moisés e ao povo de Israel por ocasião do Êxodo. Naquele período, as aparições do Mensageiro Divino ocorreram principalmente na forma de um anjo – o Anjo de Yehovah. Exploraremos a ligação entre esse Anjo e o Messias da Nova Aliança. Também consideraremos como essas aparições afetam nosso entendimento dos Dez Mandamentos e da Lei Moral em geral. CAPÍTULO QUATRO O ANJO DE YEHOVAH C hegamos agora ao período do Êxodo do Egito. Moisés teve vários encontros com o Deus-Anjo-Homem que aparecera aos patriarcas. Moisés o viu pela primeira vez na sarça ardente. Moisés fora criado no Egito como príncipe, escondendo um pouco sua identidade étnica e suas origens. Quando completou 40 anos de idade, fugiu para Midiã depois de uma tentativa frustrada de ser o salvador do seu povo. Aos 80 anos, teve um encontro na sarça ardente, ocasião em que foi chamado por Deus para voltar ao Egito e libertar seu povo. Apareceu-lhe o Anjo de Yehovah numa chama de fogo, no meio de uma sarça. - Êxodo 3.2 ַוֵּיָרא ַמְלַא� ְיהָֹוה ֵאָליו ְּבַלַּבת־ֵאׁש ִמּתֹו� ַהְּסֶנה Moisés não teve um encontro com uma sarça ardente, mas com o Anjo de Yehovah que lhe apareceu no meio da chama da sarça. O leitor do hebraico vai notar que a expressão “lhe apareceu” é exatamente a mesma usada em todas as aparições a Abraão. Nesse período da história das alianças, a aparição desse Anjo em forma de fogo ou glória é uma nova revelação. Isso não aconteceu anteriormente com nenhum dos patriarcas na terra de Canaã. No verso 2, o mensageiro divino é identificado como o Anjo de Yehovah. Contudo, imediatamente depois, esse mesmo mensageiro é chamado simplesmente de Yehovah ou Deus (Elohim). Vendo Yehovah que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis- me aqui! - Êxodo 3.4 ַוַּיְרא ְיהָוה ִּכי ָסר ִלְראֹות ַוִּיְקָרא ֵאָליו ֱא�ִהים ִמּתֹו� ַהְּסֶנה, ַוּיֹאֶמר ֹמֶׁשה ֹמֶׁשה ַוּיֹאֶמר ִהֵּנִני׃ Observe a expressão paralela: “do meio da sarça”. Como podemos entender isso? Havia duas formas corpóreas no meio da sarça? Provavelmente não. Deus e o Anjo trocaram de lugar entre os versos 2 e 4? Provavelmente não. O Anjo estava simplesmente parado ali, sem dizer nada e, então, a voz de Deus veio isoladamente do meio da sarça? Provavelmente não. É evidente que quem está falando é o Anjo. Uma resposta aceitável poderia ser que o Anjo falou EM NOME de Deus. Isso é mais próximo da verdade, mas não é exatamente o que está escrito. O texto diz que Elohim falou do meio da sarça; Deus falou. A única maneira imparcial de interpretar essa passagem é que a mesma pessoa que falou com Moisés é chamada de Anjo de Yehovah no verso 2 e Elohim (Deus) no verso 4.[9] Isso ainda nos deixa com duas possibilidades. A primeira é que o Anjo de Yehovah não é divino, mas que lhe foi permitido ser confundido com Deus apenas por causa de sua missão. A segunda é que essa pessoa é uma personalidade especial; ele é, ao mesmo tempo, um mensageiro de Deus e também divino em si mesmo – divino suficiente para ser chamado tanto de Elohim quanto de Yehovah. A primeira possibilidade é parcialmente correta e abrange evidência suficiente para ser aceitável até certo ponto. Entretanto, não explica a total intercambialidade entre os nomes Anjo, Elohim e Yehovah. Tampouco justifica a plenitude de autoridade da qual o mensageiro é investido para falar e ordenar usando a primeira pessoa como o próprio Deus. Lembre que essa aparição na sarça ardente inclui grandiosas declarações de divindade, como “Eu sou o que sou” (v. 14) e “Dize-lhes: Yehovah, o Deus de vossos pais, me apareceu” (v.16). Em outras palavras, esse Anjo não apenas fala em nome de Deus como um mensageiro. Ele age, reage e interage como o próprio Deus. Fomos desafiados pela figura que apareceu a Abraão em Gênesis 18. A figura divina naquele episódio tinha uma forma corpórea totalmente humana e, ao mesmo tempo, qualidades totalmente características de Deus-Elohim-Yehovah em tudo o que disse e fez. Aqui, também, temos a combinação aparentemente impossível de uma figura que é claramente um Anjo-Mensageiro de Deus, mas, ao mesmo tempo, totalmente Deus-Elohim-Yehovah. Em Gênesis 18, a combinação era de Deus e homem. Aqui em Êxodo 3, a combinação é de Deus e anjo. Vejamos outra situação em que esse Anjo, conhecido como Yehovah, aparece a Moisés. Desta vez, olharemos para a travessia do Mar Vermelho. Aqui, em vez de uma sarça ardente, temos uma coluna de fogo e fumaça. Novamente, o Anjo-Yehovah aparece numa forma de glória e fogo que não fora revelada aos patriarcas em Canaã. E Yehovah ia adiantedeles, durante o dia, numa coluna de nuvem [...] - Êxodo 13.21 ַויהָוה ֹהֵל� ִלְפֵניֶהם יֹוָמם ְּבַעּמּוד ָעָנן Então, o Anjo de Deus, que ia adiante do exército [acampamento] de Israel, se retirou e passou para trás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles. - Êxodo 14.19 ַוִּיַּסע ַמְלַא� ָהֱא�ִהים, ַהֹהֵל� ִלְפֵני ַמֲחֵנה ִיְׂשָרֵאל, ַוֵּיֶל� ֵמַאֲחֵריֶהם ַוִּיַּסע ַעּמּוד ֶהָעָנן ִמְּפֵניֶהם, ַוַּיֲעֹמד ֵמַאֲחֵריֶהם׃ Yehovah, na coluna de fogo e de nuvem, viu o acampamento dos egípcios. - Êxodo 14.24 ַוַּיְׁשֵקף ְיהָוה ֶאל־ַמֲחֵנה ִמְצַרִים, ְּבַעּמּוד ֵאׁש ְוָעָנן Esses três versos da mesma passagem descrevem uma pessoa que está se movimentando a fim de guiar e proteger o povo de Israel. Essa pessoa está sempre por perto, viajando no interior da coluna de fogo e nuvem. No verso 13.21, ele é chamado Yehovah. No verso 14.19, ele é chamado Anjo de Deus. No verso 14.24, ele é chamado Yehovah. Poderíamos tentar interpretar esse fenômeno de várias maneiras para fazer malabarismos com a nuvem, o fogo, o Anjo, Yehovah, Deus, e o Anjo de Deus – tudo numa tentativa de evitar o significado óbvio do contexto da passagem: há um personagem especial que tirou os filhos de Israel do Egito. Ele agia de dentro de uma coluna de fogo e nuvem. Ele era, ao mesmo tempo, Anjo e Deus. A razão por que as passagens de Gênesis o chamam de “homem” e as de Êxodo o chamam de “anjo” é que, em Gênesis, ele é visto abertamente em forma humana. Nas passagens de Êxodo, ele não é visto abertamente, porque está ocultado na nuvem. Para os patriarcas, ele apareceu sem fogo ou glória, ao passo que, nos textos de Êxodo, assumiu uma forma que tinha tanto fogo quanto glória. Há um padrão geral nas Escrituras sobre essas aparições: dentro da terra de Israel, esse personagem normalmente aparece como homem numa forma não glorificada, enquanto, para as outras nações, ele aparece como anjo em forma glorificada. Vamos tratar dessa diferença mais adiante na Parte Cinco. A questão é que ele não pode ser chamado de homem nas passagens de Êxodo por não ter sido visto em forma humana. As pessoas não puderam vê-lo – não porque isso seria impossível, mas porque ele estava imbuído de elevado grau de poder para fazer o trabalho sobrenatural necessário para libertar, proteger e prover. Se tivessem olhado diretamente para ele, esse nível de poder lhes teria causado danos.[10] Tanto no hebraico bíblico quanto no contemporâneo, há uma forma gramatical chamada “s’michut” — סמיכות. A palavra “s’michut” significa aproximar duas coisas de modo que uma fique em contato com a outra. Essa forma gramatical consiste na união de duas palavras. S’michut une dois substantivos de forma que um defina o outro e ambos se tornem uma única unidade. Para dar um exemplo em português, podemos encontrar algo semelhante em nomes compostos como: copa de futebol, cão de guarda e sala de jantar. Em português, como em hebraico, o segundo substantivo descreve o primeiro. Copa de futebol não é uma competição qualquer; é um torneio de um esporte específico. Chamamos esse tipo de composição de substantivo composto por justaposição. Nos substantivos compostos em hebraico, os significados dos dois nomes se fundem. Tornam-se, na prática, uma palavra, às vezes aglutinando os dois termos originais ou utilizando os dois em justaposição como se houvesse um hífen entre eles (como editor- chefe ou porta-retrato em português). A fusão dos dois nomes também é destacada em hebraico porque as vogais do primeiro nome são contraídas, de modo que as duas palavras são pronunciadas em conjunto num único padrão rítmico. É o que acontece nas palavras compostas por aglutinação em português; como, por exemplo, planalto (plano + alto, suprimiu a vogal “o” em plano) ou aguardente (água + ardente, suprimiu a última vogal “a” em água). Nomes justapostos podem ser usados em sentido genérico ou para identificar um nome próprio. Copa de futebol pode ser qualquer tipo de competição com futebol, ou pode se referir a uma copa específica como Copa do Brasil ou Copa Sul-Americana. Para fazer com que nomes justapostos em hebraico se tornem um nome específico no lugar de um nome comum, é preciso inserir a sílaba “ha” (que corresponde ao artigo definido: o, a, os, as) antes do segundo nome ou, então, fazer do segundo nome um nome próprio. É exatamente como se faz em português: Copa do Brasil ou Copa do Mundo. Por que esse detalhe técnico é tão importante? Porque, na expressão “o anjo do Senhor”, a forma “s’michut” sempre é usada. Em hebraico, não dizemos “o anjo do Senhor”, mas “Anjo-Yehovah” As duas palavras são unidas. A preposição “do” NÃO .מלאך יהוה — existe no original. Além disso, no nome Anjo-Yehovah, o segundo nome, Yehovah, é um nome próprio. A partir dessa construção gramatical, chegamos a duas conclusões:[11] 1. as palavras Anjo e Yehovah se tornam uma unidade; e 2. Anjo-Yehovah é um nome próprio, não genérico. Vamos aprofundar um pouco mais estes dois pontos. 1. É impossível separar o significado da palavra Anjo do significado da palavra Yehovah e vice-versa. Elas são uma única palavra. O Anjo é Yehovah, e Yehovah é o Anjo. 2. Essa categoria não pode ser aplicada a qualquer dos outros anjos enviados por Yehovah; antes, é o nome próprio de um Anjo específico que se chama Yehovah. A palavra Anjo se funde com o nome próprio Yehovah. Ela pode ser mais bem traduzida por Anjo-YHVH, Anjo-Yahweh ou Anjo- Yehovah. Todas essas opções seriam aceitáveis. Deste ponto em diante em nosso estudo, vamos usar o nome Anjo-Yehovah.[12] Para simplificar o assunto: a forma gramatical de nomes justapostos faz com que a expressão “Anjo do Senhor” seja: 1) própria e 2) aglutinada. 1) Própria – Embora alguém possa argumentar que Anjo- Yehovah seja qualquer um entre milhares de anjos enviados por Deus, a forma gramatical indica que se trata de um nome próprio. É O Anjo-Yehovah, não QUALQUER anjo enviado por Yehovah. Em toda a Bíblia Hebraica, não me lembro de um único exemplo em que o termo Anjo-Yehovah esteja na forma “s’michut”, e que o contexto exija que seja entendido como um anjo comum ou como um grupo de anjos. 2) Aglutinada – Os dois nomes, Anjo e Yehovah, modificam um ao outro. No exemplo que vimos, não estamos falando de uma copa e um mundo, mas de uma Copa do Mundo. É um tipo de copa específico – do mundo. Esse não é apenas um anjo, mas um anjo específico – o Anjo-Yehovah. Os dois termos não podem ser separados um do outro. A natureza desse anjo é determinada pelo nome Yehovah. Anjo e Yehovah formam uma nova entidade pela aglutinação dos dois substantivos separados. Essa estrutura gramatical acomoda-se perfeitamente à descrição da figura que apareceu aos nossos profetas e patriarcas. A “s’michut” é tão peculiar, tão apropriada e perfeita, que não consigo afastar a impressão de que essa forma gramatical foi soberanamente planejada e predestinada por Deus para a finalidade primária de descrever essa Pessoa na Bíblia Hebraica. É uma forma gramatical singular para definir um indivíduo único. Não há outro como ele. Era preciso uma construção gramatical especial para definir o nome dele. Nenhum homem se encaixa nessa categoria; nenhum anjo se encaixa nessa categoria; nem mesmo Deus, nosso Pai celestial, se encaixa nela. O plano de salvação e o destino da raça humana exigem que o Messias seja uma combinação de Deus e homem. A “s’michut” tem uma forma dupla porque o Anjo-Yehovah tem uma dupla natureza. A forma dupla corresponde perfeitamente à dupla natureza dele. A forma s’michut é uma estrutura gramatical hebraica. Portanto, o que estamos dizendo acerca do Anjo-Yehovah não se aplica aos textos do Novo Testamento que foram escritos em grego. Visto que Anjo-Yehovah é um termo hebraico específico, não é possível representá-lo no texto grego. Além disso, houve apenas um Anjo-Yehovah, que foi Yeshua. Uma vez que ele nasceu na terra, ninguém jamais pode ocupar esse papel. A categoria de Anjo-Yehovah não seencaixa em nenhuma aparição na Nova Aliança. Do ponto de vista teológico, essa categoria não existe mais. Todos os anjos na Nova Aliança são anjos de Deus; eles não são divinos, mas são enviados para missões específicas. O Anjo-Yehovah nasceu num corpo humano e nele permanecerá para sempre. Ele não pode mais voltar à condição anterior ao seu nascimento. Aquele que era o Anjo-Yehovah misterioso e sem nome da antiga nação de Israel tornou-se agora Yeshua, o Messias, Filho de Deus e Filho de Davi (Rm 1.3,4), para que todos o conheçam abertamente pela fé. CAPÍTULO CINCO QUEM ESCREVEU OS DEZ MANDAMENTOS? F oi o Anjo-Yehovah que apareceu a Moisés na sarça ardente. Foi o Anjo-Yehovah que abriu o Mar Vermelho e tirou o povo de Israel do Egito. Foi também o Anjo-Yehovah que se encontrou com Moisés no Monte Sinai. Começamos nosso estudo perguntando se um ser humano pode ver Deus. Há muitas advertências bíblicas sobre a impossibilidade de ver Deus em sua forma glorificada. No entanto, temos, no livro de Êxodo, outro exemplo em que seres humanos de fato viram o Deus de Israel. Nesse caso, havia setenta e quatro líderes de Israel (74!) que subiram o Monte Sinai e viram Deus. E subiram Moisés, e Arão, e Nadabe, e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel. E viram o Deus de Israel, sob cujos pés havia uma como pavimentação de pedra de safira, que se parecia com o céu na sua claridade. Ele não estendeu a mão sobre os escolhidos dos filhos de Israel; porém eles viram a Deus, e comeram, e beberam. - Êxodo 24.9-11 ַוַּיַעל ֹמֶׁשה ְוַאֲהֹרן ָנָדב ַוֲאִביהּוא, ְוִׁשְבִעים ִמִּזְקֵני ִיְׂשָרֵאל: ַוִּיְראּו ֵאת ֱא�ֵהי ִיְׂשָרֵאל ְוַתַחת ַרְגָליו, ְּכַמֲעֵׂשה ִלְבַנת ַהַּסִּפיר, ּוְכֶעֶצם ַהָּׁשַמִים ָלֹטַהר׃ ְוֶאל־ֲאִציֵלי ְּבֵני ִיְׂשָרֵאל, לֹא ָׁשַלח ָידֹו ַוֶּיֱחזּו ֶאת־ָהֱא�ִהים, ַוּיֹאְכלּו ַוִּיְׁשּתּו׃ Esse evento foi sem precedentes. Os anciãos viram a Deus numa forma corpórea e humana, mas também em poder glorificado. Tal proximidade ao poder divino era perigosa. Está claro que eles estavam cientes do perigo porque observaram de modo especial que Deus não “estendeu a mão sobre eles”. Nesta passagem, o Anjo-Yehovah aparece outra vez em forma humana. Suas pernas e seus pés são mencionados (em hebraico, a palavra para pés e pernas é a mesma). O texto declara duas vezes de maneira inequívoca que eles viram a Deus. O fato de mencionar as pernas, não a face, indica que não viram seu rosto. Pelo contexto, é provável que a coluna de nuvem que normalmente escondia todo o seu corpo estivesse escondendo, neste caso, apenas a parte superior ou a região do rosto. Quando o Anjo-Yehovah não está em sua forma glorificada, seu rosto pode ser visto. Mas quando aparece com o poder glorioso “ligado”, sua face é a parte mais perigosa. O poder de sua glória irradia de sua face e de seus olhos. O que nenhum ser humano pode ver é a face glorificada de Deus (Êx 33.20). Da face de Deus, vêm o brilho e a irradiação da bênção sacerdotal (Nm 6.25). Depois de passar quarenta dias em sua presença, o rosto de Moisés também começou a brilhar (Êx 34.29). Há um paralelo na Nova Aliança em que o rosto de Yeshua brilha como o sol (Ap 1.16), e seus olhos são como chama de fogo[13] (Ap 1.14; 2.18; 19.12). No Monte Sinai, o Anjo-Yehovah instruiu os setenta e quatro líderes a comer e beber; imagino que, naquele momento, eles não estavam com muita vontade de fazer isso. Ele pediu que comessem e bebessem por duas razões. Primeiro, como no caso de Abraão, Deus estava oferecendo-lhes uma refeição para selar uma aliança de amizade. Em meio àquela esplendorosa aparição no Monte Sinai, o Anjo-Yehovah queria que eles soubessem que seu principal objetivo não era assustá-los, mas convidá-los à íntima comunhão com ele. Ele estava estabelecendo uma aliança, não apenas mandamentos; ele queria lealdade, não apenas leis. A segunda razão era assegurar-lhes que a experiência era real. Como no caso de Jacó em Peniel, Deus não queria que pensassem que aquela visão era imaterial ou uma alucinação coletiva. Ele estava ali. Ele de fato estava presente ali. Eles o viram, estiveram fisicamente na presença dele e escaparam ilesos. Essa passagem em Êxodo 24 é semelhante àquela da visita a Abraão em Gênesis 18. Ela estabelece o fato de que o Deus de Israel possui uma forma corpórea semelhante à de um ser humano. O Deus de Êxodo 24 é o mesmo Deus de Gênesis 18. O Deus de Israel, que apareceu a Abraão numa forma amigável e não glorificada, apareceu a Moisés numa forma aterradora que fez o monte tremer. É a mesma Pessoa, quer apareça em íntima comunhão como a que existe entre seres humanos, quer se manifeste em gloriosas demonstrações de majestade. Essa Pessoa é o Deus de Israel. Ele é o Deus que nossos patriarcas e profetas conheciam e em quem acreditavam. Eles entenderam que Deus podia aparecer em forma humana. Ele podia vir com ou sem poder e fogo. Foi ele que esteve no Monte Sinai. Foi ele quem fez aliança com nossos pais e tirou nosso povo do Egito. Se ele esteve ali no Monte Sinai, então deve ter sido ele quem escreveu os Dez Mandamentos – com o “dedo de Deus” (Êx 31.18; Dt 9.10). Moisés sabia das aparições do Deus-Homem a Abraão, Isaque e Jacó. Afinal, ele mesmo escrevera sobre suas experiências no livro de Gênesis. Ele deve ter suspeitado de que aquele que os conduzira para fora do Egito era o mesmo que aparecera aos patriarcas. Entretanto, até aquele momento, descrito no capítulo 24, ele não o tinha visto. Moisés passou quarenta dias e quarenta noites no Monte Sinai. O Anjo-Yehovah escreveu os Dez Mandamentos e explicou-lhe todas as outras leis. Embora Moisés ainda não tivesse experimentado intimidade e glória com seu Criador, ele o desejava. Moisés desceu do Sinai com a Torá e descobriu que o povo havia-se desenfreado em carnalidade e idolatria. Ele ficou irritado e frustrado. Quebrou as duas tábuas dos Dez Mandamentos que o Anjo- Yehovah acabara de escrever (Êx 32.19)! Uma guerra civil quase irrompeu entre os israelitas. Os levitas mataram 3 mil pecadores (Êx 32.28). Depois de restabelecer a ordem, Moisés voltou ao monte para um segundo jejum de quarenta dias (!). A atitude dele nesse momento foi: “Olha Deus, eu não aguento mais liderar; não aguento mais leis. Até mesmo ver todos os teus milagres não é o bastante. Eu quero a ti. Quero ver o teu rosto. Quero te conhecer. Quero tua intimidade e tua glória. Se não vais me dar nem uma nem outra, então encontre outra pessoa”. Moisés passou mais tempo com o Anjo-Yehovah do que qualquer outro ser humano. Eles conversaram por horas. O Anjo não apenas lhe deu = todas as leis, mas também lhe explicou alguns detalhes sobre a história da criação que mais adiante seriam usados para escrever o livro de Gênesis. Mas, em todas as conversas até esse momento, o Anjo-Yehovah estava coberto por uma nuvem. A Bíblia diz que Moisés falou com Deus face a face, mas isso não significa que ele pôde ver sua face diretamente. É óbvio que é por isso que Moisés ainda pediu para ver sua face. Nos encontros anteriores, como na sarça ardente e no Mar Vermelho, o Anjo-Yehovah sempre estivera coberto por fogo ou por uma nuvem. Agora Moisés queria mais. Ele queria ver a face de Yehovah, não apenas seu fogo. Falava Yehovah a Moisés face a face[14], como qualquer fala a seu amigo [...] - Êxodo 33.11 ְוִדֶּבר ְיהָוה ֶאל־ֹמֶׁשה ָּפִנים ֶאל־ָּפִנים, ַּכֲאֶׁשר ְיַדֵּבר ִאיׁש ֶאל־ֵרֵעהּו Um homem poderia ver a face de Deus somente se ele lhe aparecesse sem a sua glória. Ele poderia até ver Deus em seu poder e glória desde que sua face estivesse coberta pela nuvem. Moisés não ficou satisfeito com nenhuma dessas duas opções parciais, e pediu para ver a face de Deus diretamente, com a manifestação do poder de glória também. “Remove a nuvem. ‘Liga’ o poder no máximo. Deixa-me ver teu rosto”. Moisés foi muito ousado! Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo- te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça [...] - Êxodo 33.13 ִאם־ָנא ָמָצאִתי ֵחן ְּבֵעיֶני�, הֹוִדֵעִניָנא ֶאת־ְּדָרֶכ�, ְוֵאָדֲע� Em linguagem espiritual, Moisés estava pedindo para ver a face glorificada de Deus. Isso é evidente porque, no verso seguinte, o Anjo-Yehovah responde: Respondeu-lhe: A minha presença [face] irá contigo [adiante de ti], e eu te darei descanso. - Êxodo 33.14 ַוּיֹאַמר ָּפַני ֵיֵלכּו ַוֲהִנֹחִתי ָל�׃ Moisés se recusou a aceitar essa resposta evasiva. Então, insistiu mais. Se a tua presença[15] [face] não vai comigo, não nos faças subir deste lugar [...] Rogo-te que me mostres a tua glória. - Êxodo 33.15,18 ִאם־ֵאין ָּפֶני� ֹהְלִכים, ַאל־ַּתֲעֵלנּו ִמֶּזה׃ ... ַהְרֵאִני ָנא ֶאת־ְּכֹבֶד�׃ Então o Anjo-Yehovah esclareceu a questão: “Você pode falar comigo como a um amigo e ver a minha face quando minha glória não estiver manifesta. Ou você pode falar comigo de perto (como se estivesse face a face) quando minha glória estiver ‘ligada’. Porém, nesse caso, minha face terá de ficar coberta pela nuvem. Por quê? Porque ninguém pode ver minha face em toda a sua glória e suportar tamanho poder. Isso o mataria”. Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá. - Êxodo 33.20 לֹא תּוַכל ִלְרֹאת ֶאת־ָּפָני ִּכי לֹא־ִיְרַאִני ָהָאָדם ָוָחי׃ Então o Anjo-Yehovah ofereceu uma solução a Moisés. Ver a face dele diretamente com todo o seu poder simplesmente não era possível. Assim, ele o colocou na fenda de uma grande rocha e se virou para que Moisés pudesse ver ao menos sua forma por detrás. Disse mais Yehovah: Eis aqui está um lugar junto a mim; e tu estarás sobre a penha. Quando passar a minha glória, eu te porei numa fenda da penha e com a mão te cobrirei, até que eu tenha passado. Depois, em tirando eu a mão, tu me verás pelas costas; mas a minha face não se verá”. - Êxodo 33.21-23 ִהֵּנה ָמקֹום ִאִּתי ְוִנַּצְבָּת ַעל־ַהּצּור׃ ְוָהָיה ַּבֲעֹבר ְּכֹבִדי, ְוַׂשְמִּתי� ְּבִנְקַרת ַהּצּור ְוַׂשֹּכִתי ַכִּפי ָעֶלי� ַעד־ָעְבִרי׃ ַוֲהִסֹרִתי ֶאת־ַּכִּפי, ְוָרִאיָת ֶאת־ֲאֹחָרי ּוָפַני לֹא ֵיָראּו׃ Todos os profetas e patriarcas, por mais espirituais que fossem, só podiam ver o Anjo-Yehovah de duas maneiras. Uma era vê-lo na forma humana sem seu poder manifesto, como no caso de Abraão nos carvalhais de Manre. A outra era ver o Anjo glorificado. Neste caso, ele tinha de estar coberto por uma nuvem ou permanecer a uma grande distância. A opção mais excelente de vê-lo diretamente e em todo o seu poder ainda existe. Essa opção foi alcançada por apenas dois homens. Um deles foi Estêvão, o primeiro mártir (At 6-7). No momento de sua morte, ele viu os céus abertos e Yeshua de pé, à direita da glória (At 7.55). Neste caso, Estevão estava prestes a deixar seu corpo físico de qualquer modo. Então, ver Yeshua em plenitude de glória não lhe causou muito dano. A segunda pessoa que alcançou essa revelação foi João na ilha de Patmos. No último livro da Bíblia, a revelação total finalmente chegou. João obteve o que tanto Abraão quanto Moisés ansiaram por ver. Ele viu Yeshua em plena glória, face a face. João já era nascido de novo. Ele estava cheio do Espírito Santo. Ele fora o melhor amigo de Yeshua sobre a terra. Assim mesmo, ele quase caiu morto com a experiência. Ele viu Yeshua com seu rosto brilhando como o sol, os olhos como chamas de fogo, a voz como muitos rios correndo (Ap 1.12- 16). João viu o rosto glorificado do Anjo-Yehovah e quase morreu na hora. Aqui está o que João relatou naquele momento: Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último. - Apocalipse 1.17 Veremos essa revelação de forma mais detalhada na Parte Cinco. Aqui queremos apenas fazer a ligação entre o pedido de Moisés e a revelação de João. Em Apocalipse 1, João viu o que Moisés havia pedido para ver em Êxodo 33. Moisés viu o mesmo Deus-Homem glorificado da visão de João; só que teve de vê-lo pelas costas. O tempo para que Yeshua fosse revelado em toda a sua glória ainda não se cumprira. Os outros discípulos de Yeshua também não chegaram a esse nível de revelação. No Monte da Transfiguração, Yeshua tentou se revelar, mas eles adormeceram. Eles não estavam preparados para lidar com tamanha glória. Deus teve de cobri-los rapidamente com a nuvem de modo que não fossem feridos pelo poder ali presente. Na ocasião, os discípulos ficaram apavorados e quase morreram (Mt 17.6). A experiência no Monte da Transfiguração ocorreu aproximadamente 1.400 anos depois da experiência do Monte Sinai. Nessa ocasião, Moisés já havia morrido e ido para o céu. Lá, Moisés podia ver Yeshua, o Anjo-Yehovah, sempre que quisesse. Foi registrado que Moisés apareceu no Monte da Transfiguração com Yeshua e os discípulos. Portanto, não há mais necessidade de preocupar-se com Moisés. No fim, ele recebeu tudo o que desejava e muito mais. Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino. Seis dias depois, tomou Yeshua consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João e os levou, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. Então, disse Pedro a Yeshua: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias. Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi. Ouvindo-a os discípulos, caíram de bruços, tomados de grande medo. Aproximando-se deles, tocou-lhes Yeshua, dizendo: Erguei-vos e não temais! Então, eles, levantando os olhos, a ninguém viram, senão Yeshua. E, descendo eles do monte, ordenou- lhes Yeshua: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do Homem ressuscite dentre os mortos. - Mateus 16.28-17.9 Pedro, Tiago e João quase conseguiram ver o que todos os profetas e patriarcas ansiaram por alcançar. Entretanto, não estavam prontos. Em todo o restante do relato dos evangelhos, Yeshua aparece em forma não glorificada, um pouco semelhante à visita dos três varões a Abraão. Ele fez isso de propósito. Ele deixou sua glória para poder aproximar-se da humanidade. Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana [...] - Filipenses 2.6,7 Yeshua poderia ter vindo à terra como fizera anteriormente no Monte Sinai, cheio de glória e poder. Se tivesse feito assim, todos teriam fugido dele, assim como fizeram naquele tempo (Êx 20.18- 21). O Anjo-Yehovah “se despiu” de sua glória e poder e veio para aproximar-se da humanidade. Ele não apenas se aproximou, mas também morreu como um sacrifício para oferecer-nos perdão e reconciliação. Observe o paralelo entre o pedido de Moisés no Monte Sinai e o desejo de Yeshua de revelar sua glória aos discípulos no Monte da Transfiguração. Moisés esteve presente em ambas as ocasiões! A nuvem e a glória também estiveram. Todos os elementos estavam em seus devidos lugares. Contudo, os discípulos não estavam prontos. Deus ainda deseja mostrar-nos sua glória e transformar- nos à sua semelhança. No entanto, nós também ainda não estamos prontos. Yeshua também apareceu a Saulo (Paulo) antes de ele se tornar um discípulo. Saulo ficou cego na hora. Não é que o poder queimou os seus olhos; na verdade, foi bem o contrário. Além de queimar seus olhos, a glória também o teria matado; mas Yeshua lhe fez um grande favor e criou o primeiro par de lentes de contato. Só que eram lentes opacas, que caíram de seus olhos três dias depois quando Ananias orou por ele. Subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Yeshua, a quem
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