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Ensinar a Palavra de Deus e capacitar seus participantes a cumprirem a missão que Jesus nos deu. Ensinar a Palavra de Deus e capacitar seus participantes a cumprirem a missão que Jesus nos deu. MISSÃO DA ESCOLA BÍBLICA Copyright© CBSDB, 2014 Os doze profetas menores: ma ensagem tual para a greja de Cristo. / Daniel Miranda Gomes e Jonas Sommer (organizadores). - - Curitiba, PR: CBSDB, 2014. 216 p. ; 21 cm. ISBN 978-85-98889-10-8 1. Bíblia. 2. Estudo da Bíblia.I. Gomes, Daniel Miranda. II. Sommer, Jonas. II. Título. CDD: 224 O811 Estudos para a Escola Bíblica Sabatina. Proibida a reprodução, total ou parcial, por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográfi cos, fotográfi cos, estocagem em banco de dados, etc.), a não ser em breve citações com indicação da fonte ou salvo expressa autorização da Conferência Batista do Sétimo Dia Brasileira. Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil) salvo indicação específi ca. DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ Diretor: Pr. Jonas Sommer EXPEDIENTE Revisão de textos: Caroline Aquino Falvo Côrrea Capa: Rodrigo Rosalis www.rosalis.com.br Revisão teológica: Pr. Jonas Sommer, Pr. Daniel Miranda Gomes Diagramação: Rodrigo Rosalis www.rosalis.com.br Atendimento e tráfego: Marcelo Negri (41) 3379-2980 Impressão gráfi ca: Gráfi ca Exklusiva http://www.exklusiva.com.br/ Redação: Rua Erton Coelho Queiroz, 50 - Alto Boqueirão - CEP 81770-340 - Curitiba - PR http://www.ib7.org / secretaria@cbsdb.com.br SUMÁRIO Abreviaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Pr. Jonas Sommer Lição 1 A Atualidade dos Profetas Menores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Devocionais: Daisy Moitinho Comentário: Pr. Daniel Miranda Gomes Lição 2 Oséias - A Fidelidade no Relacionamento com Deus . . . . . . . . . . . 27 Devocionais: Daisy Moitinho Comentário: Pr. Marcos Shünemman Lição 3 Joel - O Derramamento do Espírito Santo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Devocionais: Pr. Luiz Rogério Palhano Comentário: Pr. Jonas Sommer Lição 4 Amós - A Justiça Social como Parte da Adoração . . . . . . . . . . . . . . 63 Devocionais: Pr. Jonas Sommer Comentário: Pr. Iverson Santos Lição 5 Obadias - O Princípio da Retribuição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Devocionais: Pr. Emanuel Lourenço da Silva Comentário: Pr. Daniel Miranda Gomes Os Doze P R O F E T A S Menores Uma mensagem atual para a Igreja de Cristo Lição 6 Jonas - A Misericórdia Divina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Devocionais: Pr. Emanuel Lourenço da Silva Comentário: Pr. Jonas Sommer Lição 7 Miquéias - A Importância da Obediência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Devocionais: Christiano Daniel Fritzen Comentário: Pr. Wesley Batista de Albuquerque Lição 8 Naum - O Limite da Tolerância Divina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Devocionais: Christiano Daniel Fritzen Comentário: Pr. Alfredo Oliveira Silva Lição 9 Habacuque - A Soberania Divina sobre as Nações . . . . . . . . . . . . . 149 Devocionais: Victória Brites Fajardo Comentário: Pr. Renato Sidnei Negri Junior Lição 10 Sofonias - O Juízo Vindouro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 Devocionais: Pr. Renato Sidnei Negri Junior Comentário: Pr. José de Godoi Filho Lição 11 Ageu - O Compromisso do Povo da Aliança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 Devocionais: Victória Brites Fajardo Comentário: Pr. Edvard Portes Soles Lição 12 Zacarias - O Reinado Messiânico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203 Devocionais: Pr. Renato Sidnei Negri Junior Comentário: Pr. Daniel Miranda Gomes Capítulo 13 Malaquias – O Culto Segundo Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223 Devocionais: Pr. Luiz Rogério Palhano Comentário: Pr. Jonas Sommer Nossos Autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238 AA – Almeida Atualizada ARA – Almeida Revista e Atualizada ARC – Almeida Revista e Corrigida ACRF – Almeida Corrigida e Revisada Fiel A21 – Almeida Século 21 ECA – Edição Contemporânea de Almeida Gn Êx Lv Nm Dt Js Jz Rt 1Sm 2Sm 1Rs 2Rs 1Cr 2Cr Ed Ne Et Jó Sl Pv Ec Ct Is Jr Lm Ez Dn Os Jl Am Ob Jn Mq Na Hc Sf Ag Zc Ml Mateus Marcos Lucas João Atos Romanos 1 Coríntios 2 Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses 1 Tessalonicenses 2 Tessalonicenses 1ª Timóteo 2ª Timóteo Tito Filemon Hebreus Tiago 1 Pedro 2 Pedro 1 João 2 João 3 João Judas Apocalipse Mt Mc Lc Jo At Rm 1Co 2Co Gl Ef Fp Cl 1Ts 2Ts 1Tm 2Tm Tt Fm Hb Tg 1Pe 2Pe 1Jo 2Jo 3Jo Jd Ap NOVO TESTAMENTO Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio Josué Juízes Rute 1 Samuel 2 Samuel 1 Reis 2 Reis 1 Crônicas 2 Crônicas Esdras Neemias Ester Jó Salmos Provérbios Eclesiastes Cântico Isaías Jeremias Lamentações Ezequiel Daniel Oséias Joel Amós Obadias Jonas Miquéias Naum Habacuque Sofonias Ageu Zacarias Malaquias ANTIGO TESTAMENTO L I V R O S D A B Í B L I A NVI – Nova Versão Internacional KJA – King James Atualizada BV – Bíblia Viva BJ – Bíblia de Jerusalém TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia NTLH – Nova Tradução na Ling. de Hoje ABREVIATURAS DAS VERSÕES BÍBLICAS UTILIZADAS ABREVIATURAS DE www.ib7.org 7 Pela graça e misericórdia de Deus, iniciamos mais um trimestre de estudos das Sagradas Escrituras. Nos próximos três meses, perscrutaremos os chamados Pro- fetas Menores. Veremos que o surgimento do profetismo em Israel e Judá se deu no período monárquico, com a finalidade de restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar as injustiças sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica. Nossos colaboradores se debruçaram em cima de um tema apaixonante e que jamais deixará de ser coevo: Os Doze Profetas Menores. Na elaboração de seus comentários, foram buscar mensagens proferidas há quase três milênios, e que, apesar de todos esses séculos já transcorridos, de forma alguma deixaram de ser atuais e relevantes para a Igreja de Cristo. Somente a Palavra, que é viva e eficaz, pode erguer-se como o livro contemporâneo de todas as gerações. Nos próximos treze sábados, teremos oportunidade de nos privar com Oséias, Joel e Amós. Com Obadias, Jonas e Miquéias, poderemos conversar longamente. Em seguida, iremos conhecer um pouco mais da vida e do ministério de Naum, Habacuque e Sofonias. E have- remos, finalmente, de inteirar-nos do contexto histórico e cultural em que profetizaram Ageu, Zacarias e Malaquias. É uma fascinante viagem pelas misteriosas e belas veredas da profecia bíblica. Durante esta peregrinação, constataremos uma vez mais que os arcanos do Senhor nunca deixarão de ser coetâneos. A voz do profeta, ainda que no deserto clame, é para ser ouvida por você e por mim. Reiteramos nossa assertiva de que toda a Bíblia é Palavra Inspirada de Deus. No entanto, alguns negli- genciam o estudo dos Profetas Menores. Grande parte EDITORIAL 8 Estudos Bíblicos da cristandade sequer tem a mínima ideia a respeito do conteúdo desses livros e da sua relevância para nossos dias. Portanto, “conheçamos e prossigamos em conhe- cer o Senhor” (Os 6:3). É nosso desejo que esta série de estudos abençoe sua vida de forma especial e o desperte a aprofundar-se ainda mais no estudo dos Profetas Menores. Que tenha- mos uma excelente e abençoada jornada pelos Doze Profetas Menores e sua atualíssima mensagem! Pr. Jonas Sommer e equipe www.ib7.org 9 Domingo – Hebreus 1:1-2 No Antigo Testamento, grande parte da comuni- cação entre Deus e seu povo acontecia por meio dos profetas. Mas o que é um profeta? Profeta é aquele que anuncia a mensagem de Deus, ou seja, o porta-vozda mensagem divina. Amós diz que “certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3:7). Deus sempre noticiava ao seu povo os seus planos para com ele. Esta era uma das formas de demonstrar seu amor. No Antigo Testamento vemos os profetas que foram usados por Deus para trazer palavras de amor, consolo, esperança e correção para o povo. Muitos pagaram um alto preço por sua fidelidade em entregar a mensa- gem do Senhor. Agradeçamos a Deus pela vida desses servos, pois até os dias atuais essas mensagens têm trazido consolo e alento ao nosso coração. Segunda-feira – 2 Timóteo 3:16-17 Pedro diz que “homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:20-21). Portanto, nenhuma profecia teve origem na vontade humana, nem foi inventada pele próprio profeta. Então, podemos confiar que as Escrituras são fiéis e verdadei- ras. Paulo diz que toda a Bíblia é inspirada e útil para nos ensinar. Nós precisamos estudar e ensinar tanto o Antigo como o Novo Testamento, para que sejamos “per- feitamente instruídos para toda boa obra”. Jesus disse que o Espírito Santo faria os discípulos se lembrarem de Daisy Moitinho MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS 10 Estudos Bíblicos tudo o que lhes havia dito (Jo 14:26). Não há como se lembrar de algo que não se conhece. Precisamos fazer a nossa parte, ou seja, aprofundarmo-nos no conheci- mento de toda Escritura. Terça-feira – Romanos 15:4 Tudo o que foi escrito na Bíblia, foi escrito com o propósito de nos ensinar como nos relacionar com Deus e com os homens. Por meio dela conseguimos respon- der perguntas existenciais, como de onde viemos, quem somos e para onde vamos. Nela encontramos várias formas literárias, tais como poesias, narrativas, histó- rias, cânticos, profecias, etc., que nos mostram a multi- forme graça de Deus. Nas histórias bíblicas aprendemos com os exemplos dos personagens, às vezes exemplos bons como a história de José, e às vezes ruins como a história do rei Acabe. Há um antigo pensamento que diz: “O tolo erra sempre e nunca aprende. O inteligente erra e aprende com os seus próprios erros. Porém o sábio aprende com os erros dos outros e não comete os mesmos erros”. Que possamos ser sábios e aproveitar ao máximo todos os ensinos bíblicos para nossa vida. Quarta-feira – Mateus 11:13-15 A expressão “os Profetas e a Lei” era a maneira judaica de se referir ao que conhecemos como Antigo Testamento, agora encontrando cumprimento nos fatos e na pessoa proclamados por João Batista. O Antigo Testamento aponta para a vinda do Messias como nosso Salvador, para nos redimir dos nossos pecados. Muitos profetas e justos ansiaram por ver os milagres de Jesus e ouvir seus ensinamentos, mas não o viram nem o ouviram (Mt 13:17). Eles profetizaram e creram www.ib7.org 11 na mensagem que o Senhor lhes deu, mas não viram a concretização das profecias (Hb 11:39). Porém isso não foi motivo para perderem a fé ou a esperança no Senhor. Que possamos aprender com eles a crer na Palavra do Senhor. Quinta-feira – Mateus 26:47-56 Nesta passagem, são descritas as circunstân- cias da prisão de Jesus no jardim do Getsêmani. E o último versículo nos fala sobre uma realidade muito con- tundente da vida de Cristo, realidade esta que estava anunciada há milênios e que agora, enfim, cumpria-se: “Mas tudo isto aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas” (v. 56). Por mais incrível que possa parecer, isto estava anunciado desde a criação do mundo (Gn 3:15); prenunciado por Moisés na insti- tuição da primeira Páscoa (Êx 12); vislumbrado por Davi em seus salmos (Sl 22); anunciado por Isaías em suas profecias (Is 53); profetizado por Zacarias (Zc 9) e Mala- quias (Ml 3) em suas visões do Messias, e recentemente apontado por João Batista (Mt 3). Em o Novo Testa- mento encontramos o cumprimento de muitas profecias do Antigo Testamento, principalmente sobre Jesus. Isso aumenta a nossa fé, pois sabemos que Deus é fiel e cumprirá todas as suas promessas ao seu tempo. Sexta-feira – Lucas 24:27 Estes dois discípulos estavam muito tristes. Todas as expectativas que tinham colocado sobre Jesus foram frustradas em sua morte. Talvez pensassem que fora tudo em vão. Mesmo depois das mulheres, de Pedro e de João terem dito que não encontraram o corpo de Jesus no sepulcro, eles ainda não acreditavam na sua 12 Estudos Bíblicos ressurreição e decidiram deixar o grupo. Então Jesus vem ao encontro deles no caminho e começa a con- versar. É importante ressaltar que Jesus usa o cumpri- mento das profecias a seu respeito para reavivar a fé daqueles discípulos. Isto vale para nós hoje. Quando nos sentirmos desanimados em nossa fé, voltemo-nos para a Palavra de Deus, pois lá veremos que o Senhor cum- priu as suas promessas e que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 11:8). Sábado – Atos 26:22,23 Moisés e os profetas anunciaram a vinda do Mes- sias para salvação da humanidade. Pregavam o que não tinham visto acontecer, mas creram pela fé e não desis- tiram de anunciar. A nossa mensagem não é diferente da deles e ainda temos o privilégio de podermos mos- trar para as pessoas que ainda não conhecem a Jesus as profecias e o cumprimento delas. No mundo de hoje, tudo tem que ser provado com fonte confiável. E o Senhor Jesus providenciou tudo isso para pregarmos o Evange- lho. Ele nos deixou os seus ensinos e os historiadores registraram as evidências de que ele era o Deus ver- dadeiro. Que nós, a Igreja do Senhor Jesus, tenhamos essa mesma coragem e intrepidez que nossos irmãos do passado tiveram em anunciar o Evangelho, indepen- dentemente das consequências. www.ib7.org 13 A ATUALIDADE DOS PROFETAS MENORES Pr. Daniel Miranda Gomes 05 de Julho de 2014 1 TEXTO BÁSICO: “Antes de tudo, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”. (2Pe 1:20,21, NVI) INTRODUÇÃO Neste trimestre, estudaremos os chamados “Profe- tas Menores”. Assim são conhecidos os doze menores livros proféticos do Antigo Testamento. O fato de serem chamados “menores” não significa que sejam inferiores ou menos importantes, mas apenas que os rolos que os profetas deixaram escritos não eram volumosos, quando confrontados com os demais livros proféticos. Os estu- diosos judeus deram um título alternativo a essa coletâ- nea: “o Livro dos Doze”. Na forma de rolos, geralmente eram escritos em um único volume.1 No decorrer dos estudos, veremos que, apesar de antiquíssimos, estes livros tratam de questões relevan- tes para os nossos dias e servem de edificação espiritual a todo o povo de Deus. Entre os temas tratados, temos: a família, a sociedade, a política e a espiritualidade. Na atual conjuntura, os profetas são um verdadeiro esteio da sabedoria divina para a Igreja de Cristo, pois nos encorajam a militarmos pela causa de Cristo. 1 CARMO, Oídes José do. Profetas menores: instrumentos de Deus produzindo conhecimento espiritual autêntico. Estudos Bíblicos, v. 19, n. 67, mar./jun. 2008, p. 2. 14 Estudos Bíblicos SOBRE OS PROFETAS MENORES Os chamados “Profetas Menores” – Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias – viveram em um período de tempo que vai do oitavo ao quinto século A.C., tendo sido alguns deles contemporâneos. O período abrangeu o domínio de três potências mundiais: Assíria, Babilônia e Pérsia. Entretanto, a mensagem anunciada por cada um deles é ainda atual e pungente para os nossos dias, pois traz princípios e advertências volta- dos para questões sociais, políticas, familiares e espi- rituais que se aplicam à realidade de cristãos de todas as épocas, além de conterem muitas profecias relativas ao Messias que viria, que já se cumpriram na pessoa de Jesus Cristo, e são atestadas nosEvangelhos.2 Essa estrutura atual que temos em nossas Bíblias vem da Bíblia Hebraica e, posteriormente, da Vulgata Latina. A Septuaginta (versão grega do Antigo Testa- mento) apresenta nos seis primeiros livros uma dispo- sição diferente da Hebraica, dispondo-os assim: Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias e Jonas. A expressão “Profetas Menores” é de origem cristã, pelo volume do texto ser menor em comparação aos de Isaías, Jeremias e Ezequiel, conforme explica Agostinho de Hipona (345- 430 D.C.), em sua obra ”A cidade de Deus”. Na literatura judaica, essa coleção é classificada como ”Os Doze” ou ”Os Doze Profetas”. Essa informação é confirmada desde o ano 132 A.C., quando da produção do livro apócrifo de Eclesiástico (49:10), escrito por Jesus ben Sirac, no 2º século A.C.; este livro mostra que eles eram bastante estimados no judaísmo.3 Por isso o citamos 2 COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Os doze profetas menores. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 9. 3 “Quanto aos doze profetas, que seus ossos floresçam no sepulcro, porque eles consolaram Jacó e com sua confiante esperança o resgataram”. www.ib7.org 15 como registro histórico, e não, obviamente, como obra inspirada. É também corroborada pelo Talmude (antiga literatura religiosa dos judeus) e ratificada pela obra Contra Apion do historiador judeu Flávio Josefo (37-100 D.C.). Na Bíblia hebraica, eles estão contidos em um só volume e foram provavelmente agrupados dessa forma por volta de 425 A.C., por Esdras e a chamada Grande Sinagoga, um grupo formado por 120 doutores da Lei.4 A ATUALIDADE DA MENSAGEM DOS PROFETAS MENORES O autor da carta aos Hebreus inicia afirmando que Deus falou no passado por meio dos profetas (Hb 1:1). A mensagem destes ainda tem relevância para os nossos dias, posto que Paulo diz que “tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar” (Rm 15:4, NVI). Em outra carta, referindo-se ao Antigo Testamento, ele diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3:16), servindo para a nossa edificação espiritual, ou seja, ela “é útil para nos ensinar o que é verdadeiro, e para nos fazer compreender o que está errado em nossa vida; ela nos endireita e nos ajuda a fazer o que é cor- reto” (2Tm 3:16-17, BV). Os evangelistas e o Senhor Jesus afirmam o cum- primento das Escrituras dos profetas (Mt 26:56; Lc 24:47; Jo 1:45). Jesus ressaltou que toda a mensagem da Lei e dos Profetas é cumprida em sua regra áurea (Mt 7:12). Tiago e Paulo frisaram que a mensagem dos profetas de Israel é essencialmente a mesma da Igreja (At 15:15-17; 26:22,23). A mensagem dos profetas do Antigo Testa- mento é de máxima importância para a vida espiritual do 4 COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Op. cit., p. 10. 16 Estudos Bíblicos cristão, pois apresenta a revelação a respeito de Deus, da salvação e da vinda do Messias.5 A mensagem dos profetas não era apenas predi- tiva. Esses homens de Deus eram, sobretudo, pregado- res morais e éticos, vigias, sentinelas levantados pelo Senhor para despertar e exortar suas respectivas gera- ções. Durante as dominações assíria, babilônica e persa, Deus levantou esses homens para ora conclamar o povo de Israel ao arrependimento, ora reanimá-los; e, em suas exortações proféticas, eles denunciaram e combateram contundentemente a corrupção, o abuso de autoridade, a injustiça social, a idolatria e o arrefecimento espiritual e a frouxidão moral do povo, o que atesta a atualidade premente dessas exortações para os nossos dias, ou melhor, para todas as épocas.6 Importa destacar que o conhecimento das condi- ções socioeconômicas, políticas e religiosas da época dos profetas são indispensáveis à compreensão da mensagem profética. Quando as referidas condições se assemelham às nossas, não obstante a passagem dos séculos, então os profetas de ontem falam hoje, e o Antigo Testamento se atualiza de uma maneira notável e também proveitosa.7 Interessante notar que os nomes dos profetas, dados como títulos dos seus livros, coincidem com a mensagem central que eles pregavam. Há, realmente, uma coincidência muito grande entre o significado dos nomes dos profetas e a mensagem anunciada por eles. Sua mensagem já está, em boa parte, no sentido dos seus nomes. 5 COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Os profetas menores. Rio de Janeiro: JUERP, 2002. 6 COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Op. cit., p. 10. 7 PAPE, Dionísio. Justiça e esperança para hoje: a mensagem dos profetas meno- res. São Paulo: ABU Editora, 1993, p. 4. www.ib7.org 17 OS PROFETAS MENORES E O MESSIAS Os escritos dos Profetas Menores também são notabilizados por suas mensagens messiânicas e esca- tológicas, de maneira que eles concluem o Antigo Tes- tamento com um clima de esperança e expectativa em relação à vinda do Messias e trazendo vislumbres do seu reinado milenar sobre a Terra. São, portanto, uma excelente porta de entrada para os livros neotestamen- tários. Esses homens foram escolhidos por Deus para cumprir uma missão: conduzir o povo à presença e à vontade de Deus. Suas mensagens enfatizavam a natu- reza de Deus, o pecado e o arrependimento, a predição e a esperança messiânica. Os temas abordados por eles têm relação com o Dia do Senhor e com os atributos de Deus. Suas mensagens eram dirigidas ao povo de Israel e Judá. Contudo, notamos que essas mensagens são ainda para os nossos dias. Muitas são as profecias relativas ao Messias que aparecem nas páginas dos Profetas Menores. Senão, vejamos. No livro de Oséias, lemos que o Messias seria o Filho de Deus e seria chamado do Egito (Os 11:1; c/c Mt 2:13-15), e venceria a morte (Os 13:14; c/c 1Co 15:55- 57). Em Joel, foi predito que o Messias ofereceria a sal- vação para todos (JI 2:32; c/c Rm 10:12,13). Em Amós, é anunciado que Deus faria com que o céu escurecesse ao meio-dia, como ocorreu na morte do Messias (Am 8:9; c/c Mt 27:45,46). Em Miquéias, é predito que o Mes- sias nasceria em Belém (Mq 5:2; c/c Mt 2:1,2), que seria o Servo de Deus (Mq 5:2; c/c Jo 15:10) e que veio da eternidade (Mq 5:2; c/c Ap 1:8). Em Ageu, é predito que o Messias visitaria o segundo Templo (Ag 2:6-9; c/c Lc 18 Estudos Bíblicos 2:27-32) e que seria descendente do governador Zoro- babel (Ag 2:23; c/c Lc 3:23-27). Em Zacarias, o Messias seria Deus encarnado e habitaria entre o seu povo (Zc 2:10,11; c/c Jo 1:14), seria enviado por Deus (Zc 2:10,11; c/c Jo 8:18,19), seria o descendente do governador Zorobabel (Zc 3:8; c/c Lc 3:23-27), seria chamado de o Servo de Deus (Zc 3:8; c/c Jo 17:4), seria sacerdote e rei (Zc 6:12,13; c/c Hb 8:1), recebido com alegria em Jerusalém (Zc 9:9; c/c Mt 21:8-10), visto como Rei (Zc 9:9; c /c Jo 12:12,13), justo (Zc 9:9; c/c Jo 5:30), traria a salvação (Zc 9:9; c/c Lc 19:10), seria humilde (Zc 9:9; c/c Mt 11:29), apresentado a Jerusalém montado num jumento (Zc 9:9; c/c Mt 21:6- 9), seria a pedra de esquina (Zc 10:4; c/c Ef 2:20), seria rejeitado por Israel (Zc 11:10; c/c Lc 19:41-44), traído e trocado por 30 moedas de prata (Zc 11:12; c/c Mt 26:14,15), as 30 moedas de prata seriam lançadas na Casa do Senhor (Zc 11:13; c/c Mt 27:3-5) e usadas para comprar o campo do oleiro (Zc 11:13; c/c Mt 27:6,7), o corpo do Messias seria transpassado (Zc 12:10; c/c Jo 19:34), ele seria um com Deus (Zc 13:7; c/c Jo 14:9) e seus discípulos se dispersariam (Zc 13:7; c/c Mt 26:31- 56). Em Malaquias, é anunciado que um mensageiro prepararia o caminho para o Messias (Ml 3:1; c/c Mt 11:10), que o Messias apareceria subitamente no Templo (Ml 3:1; c/c Mc 11:15,16), que seria o mensageiro da Nova Aliança (Ml 3:1; c/c Lc 4:43), que o precursor do Messias viria no espírito de Elias (Ml 4:5; c/c Mt 3:1,2) e que esse precursor converteria muitos à justiça (Ml 4:6; c/c Lc 1:16,17). www.ib7.org 19 DIVISÃO DOS LIVROS Os Profetas Menores podem ser divididos em três grupos, no âmbito do período histórico: profetas de Israel; profetas de Judá e profetas pós-exílicos de Judá. Também podem ser divididosem pré-exílicos (antes do exílio babilônico) e pós-exílicos (depois do exílio babilô- nico). Os profetas pré-exílicos são Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofo- nias. Os profetas pós-exílicos são Ageu, Zacarias e Malaquias. Muitos deles foram contemporâneos e algu- mas profecias foram proferidas ao mesmo tempo. Outra forma de organizar esses livros é observando para o público que se dirigiam. Assim, podemos dividi- -los em livros com mensagens direcionadas ao Reino de Judá (Joel, Miquéias, Habacuque e Sofonias), livros com mensagens específicas para o Reino de Israel (Amós e Oséias), livros com mensagens para as nações (Jonas, Naum e Obadias) e livros com mensagens dirigidas aos judeus remanescentes do período pós-exílio (Ageu, Zacarias e Malaquias). Os profetas do Reino de Israel profetizaram no oitavo século; os de Judá no oitavo e sétimo séculos; e os pós-exílicos no sexto e quinto sécu- los. CONCLUSÃO Os profetas, inspirados por Deus, olharam para o futuro, mas também para os seus próprios dias. Eles denunciaram os pecados do povo quando este se des- viava dos caminhos do Senhor. Os profetas nos mostram que o povo de Israel (e nós também) precisava se arre- pender de seus pecados, para finalmente, serem aceitos por Deus. Portanto, estudar os profetas menores é um 20 Estudos Bíblicos dever dos cristãos que desejam ter sua vida alinhada com a vontade de Deus no que tange a vida pessoal e práticas diárias. Nas próximas lições, será apresentado um estudo panorâmico de cada um dos doze livros citados, exa- minando o contexto histórico de cada profeta, o propó- sito de suas mensagens e a aplicação delas para os nossos dias e para a nossa vida. Esperamos que esta série de estudo abençoe a sua vida de forma especial e desperte-o a aprofundar-se ainda mais no estudo dos Profetas Menores. PERGUNTAS PARA DEBATE EM CLASSE 1. Os Profetas Menores tratam de questões relevantes para os nossos dias e servem de edificação espiritual a todo o povo de Deus. Com base no que estudou, dis- serte para a classe alguns dos temas por eles tratados. ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 2. Qual a origem do termo “Profetas Menores”? E, “os Doze Profetas”? ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 3. De quais livros compõe-se a coleção dos Profetas Menores? De onde vem a estrutura bíblica que adota- mos? Como é a estrutura da Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento)? www.ib7.org 21 ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 4. Qual o valor e a autoridade dos escritos dos Profetas Menores para a igreja cristã? Cite alguns exemplos prá- ticos. ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 5. Qual a procedência da mensagem dos Profetas Meno- res? Partiu de quem a iniciativa de impulsioná-los? (2Pe 1:20,21) ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 6. Qual a relação dos profetas menores com as profe- cias acerca do Messias? O que eles profetizaram sobre a vinda dele? ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 7. O que significa dizer “a palavra dos profetas”? O que quer dizer “como a uma luz que alumia em lugar escuro”? (2Pe 1:19) ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ www.ib7.org 23 Daisy Moitinho MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS Domingo - 2 Coríntios 11:2 A aliança que fazemos com Deus, quando nos convertemos, é considerada como um casamento. No Antigo Testamento vemos que Jerusalém, ou o povo judeu, era considerado como a noiva do Senhor. Mas infelizmente, por várias vezes, o Senhor se sentiu como o marido traído de Jerusalém. A adoração a outros deuses é considerada como adultério ou prostituição. Todos nós que fizemos uma aliança com Deus, fizemos um compromisso de fidelidade a ele. O nosso Deus é sempre fiel para conosco e ele nunca nos trai ou nos decepciona. Assim como nós, ele também espera fide- lidade de nossa parte. Que possamos a cada dia valori- zar o privilégio de termos um relacionamento profundo e pessoal com Deus. Segunda-feira – Isaías 54:5 Há uma teoria sobre a criação do mundo que diz que ele foi criado por Deus, mas que depois ele o aban- donou à própria sorte, ou seja, é como uma mãe que gera um filho e, depois dele nascido, abandona-o. É tão bom sabermos que o nosso Deus, o Criador do universo, não é assim. Ele ama a cada um de nós e nos conhece pelo nosso nome. Ele deseja ter um relacionamento pessoal com cada um dos seus filhos e filhas. Neste texto, ele se apresenta como o esposo do povo de Israel. Um esposo que ama, cuida e protege. Enquanto na outras religiões o ser humano é que tem que ir até seus deuses, no cris- tianismo é Deus que vem ao encontro da humanidade. O nosso Deus vem ao nosso encontro todos os dias, para 24 Estudos Bíblicos nos ouvir, falar conosco, nos amar e nos dizer: “Você pode confiar em mim, porque eu nunca te abandonarei”. Terça-feira – Jeremias 2:2 Desde a infância, tanto homens como mulheres são incentivados a encontrar o amor verdadeiro para chegar no “felizes para sempre” dos contos de fadas. Quando Deus formou Adão e Eva, o seu objetivo era que os dois tivessem um relacionamento feliz e não apenas estives- sem juntos, ou seja, o Senhor deseja para nós casamen- tos felizes. Por meio do casamento, homens e mulheres aprendem muitas coisas, tais como respeito, amor, fide- lidade, companheirismo, dependência, cuidado e prote- ção, que um deve ter para com o outro. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, o relacionamento entre Deus e o seu povo é retratado como um casamento. Neste texto vemos que o Senhor não quer ter conosco um relacio- namento de aparênciasou de conveniência; ele deseja ter um relacionamento feliz e cheio amor conosco. Você quer se relacionar com Senhor dessa maneira? Quarta-feira – Mateus 25:1 Todas as noivas sonham com o dia do casamento. Gastam muito tempo se preparando para este dia. Che- gado o dia, tudo já foi preparado, então elas se arru- mam e aproveitam este momento tão especial. Assim também nós temos nos preparado para nos encontrar como Cristo, que em breve virá nos buscar. Mas o que é se preparar para a volta de Cristo? Será que é apenas ir aos cultos e escola bíblica? Ler a Bíblia e orar? Tudo isso faz parte da nossa preparação, mas vai muito além destas coisas. Essa preparação envolve relacionamento profundo com Deus, entregar-se a ele sem reservas, www.ib7.org 25 permitir que o Espírito Santo arranque de nós tudo o que não é bom e nos molde segundo o seu querer. Assim, naquele dia, quando a trombeta soar, estaremos prontos e felizes para nos encontrarmos com o nosso amado Jesus. Quinta-feira – Jeremias 5:3 O nosso Deus requer fidelidade de cada um de seus filhos. Mas como ser fiel a ele? Certo dia, Jesus chamou os escribas e fariseus de túmulos pintados de branco, pois por fora pareciam ser justos, mas por dentro estavam cheio de pecados (Mt 23:27). Os escribas e fari- seus eram líderes religiosos que aparentavam ser fiéis a Deus, mas na verdade não eram. Muitas vezes, nós caímos neste mesmo erro, porque pensamos que por obedecermos ao decálogo estamos sendo fiéis a Deus. O que nos esquecemos é que o pecado não está em apenas cometer o ato pecaminoso, mas sim em ima- giná-lo em nossa mente (Mt 5:28). O lugar mais difícil de sermos fiéis a Deus é na nossa mente. Que diariamente coloquemos em prática (Fp 4:8), para que sejamos com- pletamente fiéis a Deus. Sexta-feira – Apocalipse 19:7 É uma grande alegria participar de um casamento, principalmente para os noivos. O encontro de Cristo com a sua Igreja será tão feliz, que foi comparado com uma festa de casamento. Assim como os noivos anseiam pelo dia do casamento, assim também todos nós temos ansiado por esse encontro, em que finalmente estaremos livres do pecado e poderemos voltar à origem, quando o relacionamento com Deus era face a face. Haverá uma grande festa no céu para celebrar a união entre Cristo e 26 Estudos Bíblicos a Igreja. Será algo muito melhor do que qualquer festa de casamento que já participamos nesta Terra, pois Paulo diz que “nem olhos viram e nem ouvidos ouviram o que o Senhor tem preparados para aqueles que o amam” (1Co 2:9). Como é maravilhoso servir a este Deus que nos ama e nos quer ao lado dele para todo sempre. Sábado – Êxodo 20:3 Há um filme chamado “A décima nona esposa”, que mostra o caso real do sofrimento e infelicidade de Ann Eliza Young ao ter que dividir o marido com outras esposas e mulheres. No Antigo Testamento vemos várias ocasiões em que o Senhor se sentiu como Ann, ou seja, dividindo seu povo com outros deuses. Mas assim como Ann, ele não aceita essa situação e nos deixa com as nossas próprias escolhas. O nosso Deus requer exclu- sividade em um relacionamento. Ele não nos divide com ninguém, pois é Deus zeloso. Ele é o único digno de todo o nosso amor, louvor e adoração. Nenhum outro deus se importou em tirar-nos do lamaçal do pecado, apenas o nosso Criador e Pai. Mesmo que tenhamos falhado, ele nos perdoou e nos deu uma nova chance. Que a cada dia ofereçamos a Deus a exclusividade que lhe é devida. www.ib7.org 27 INTRODUÇÃO O livro de Oséias é o primeiro e mais extenso dos Profetas Menores. Ele é o profeta da graça. É o homem de coração quebrantado. Ele não apenas falou do amor de Deus, mas o demonstrou de forma eloquente ao amar sua esposa infiel. Ele pregou aos ouvidos e também aos olhos. Ele falou à nação de Israel tanto pela voz profé- tica como pelo exemplo. Estudar esse livro é penetrar nas profundezas do coração de Deus e trazer à tona as verdades mais sublimes do amor incondicional de Deus pelo povo da aliança.8 O AUTOR O nome Oséias significa Deus salva, ou salva- ção, e é equivalente a Josué e Jesus. O nome do pro- feta já trazia em si um chamado ao arrependimento e uma semente de esperança. Oséias já foi chamado de “o profeta do amor”, porque seu livro manifesta um pro- fundo amor da parte de Deus por Israel, um amor não 8 LOPES, Hernandes Dias. Oséias: o amor de Deus em ação. São Paulo: Hagnos, 2010, p. 7. OSÉIAS FIDELIDADE NO RELA- CIONAMENTO COM DEUS Pr. Marcos Shünemman 12 de Julho de 2014 2 TEXTO BÁSICO: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele des- cerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra”. (Os 6:6) 28 Estudos Bíblicos correspondido. Deus é mostrado como um marido traído que procura reatar o casamento com a esposa, que se tornou prostituta.9 Muito pouco se sabe sobre ele, além do que está contido na sua profecia. A julgar pelos reinados durante os quais ele profetizou (Os 1:1), o ministério de Oséias estendeu-se aproximadamente de 725 a 700 A.C. As profecias de Amós, um jovem contemporâneo, estão inti- mamente relacionadas às de Oséias. Contudo, os seus ministérios foram diferentes. Oséias era um nativo do Reino do Norte, e Amós era oriundo de Judá, e viajou a Israel para profetizar. Oséias foi chamado para exempli- ficar o relacionamento entre Deus e Israel por meio do seu casamento com uma prostituta, ao passo que Amós foi enviado pelo Senhor para proferir juízo sobre o povo rebelde de Israel. Oséias começou a profetizar no final de um perí- odo de grande prosperidade material, durante o reinado de Jeroboão II sobre Israel (2Re 14:23-27). Porém, infe- lizmente, durante a maior parte da vida dele, as pes- soas estavam falidas espiritualmente. Os seus líderes permitiam que elas praticassem idolatria (2Cr 27:2; 2 Rs 15:35) e cometessem “prostituição” contra o Senhor (Os 1:2; 2:8; 4:12-15). Elas recusaram-se a reconhecer que Deus lhes tinha proporcionado a riqueza que possuíam (Os 2:8). Na verdade, atribuíam aos ídolos a sua prospe- ridade (Os 2:5; 10:1). O povo havia se tornado cobiçoso e avarento, oprimindo os que eram menos capazes de se defender (Os 4:2; 10:13; 12:6-8). Então, o ministério teve uma duração de 58 anos. A vida pessoal e o ministério profético de Oséias estavam ligados intimamente com a sua missão. O Senhor usou a vida matrimonial de Oséias como exem- plo para ensinar o Reino do Norte com muita veemência. 9 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p. 13. www.ib7.org 29 O casamento do profeta com Gômer ocupa lugar cen- tral no livro. Na verdade, foi a base de sua mensagem à nação. Os filhos, cujos nomes nos parecem muito estra- nhos, são mensagens do juízo de Deus à nação. De fato, “a tragédia doméstica de Oséias o preparou para enten- der e interpretar o amor imutável do Senhor”.10 CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS Podemos resumir a história de Israel, contida no livro de Oséias, por meio dos nomes dos três filhos do profeta: 1) Jezreel (1:4) significa “disperso”; refere-se à época em que Deus espalha Israel entre as outras nações; 2) Lo-Ruama (1:6) significa “desfavorecida”; quer dizer que o Senhor tira sua misericórdia da nação e permite que ela sofra por seus pecados; 3) Lo-Ami (1:9) significa “não meu povo”; refere-se àquela época do pro- grama do Senhor em que Israel não comunga com ele e não é o seu povo com antes o fora. Oséias informa que haverá um tempo em que o Senhor chamará Israel de “Meu Povo” e de “Favor” (2:1). Ele também apresenta um resumo da condição espiritual de Israel (3:3-5).11 A mensagem do livro, pode ser assim esboçada: O LIVRO DE OSÉIAS Tema Capítulos A imagem da infidelidade de Israel 1 a 3 A proclamação dos pecados de Israel 4 a 7 A proclamação do julgamento 8 a 10 A promessa de restauração de Israel 11 a 14 10 CRABTREE, A. R. O livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPB, 1963, p. 17. 11 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Wiersbe: Antigo Testamento, v. 4. San-to André, SP: Geográfica Editora, 2009, p. 628. 30 Estudos Bíblicos MENSAGEM PRINCIPAL A principal mensagem é o amor incondicional de Deus, sendo esta a mensagem que mais se aproxima à paixão de Cristo. De maneira ilustrativa pode-se recor- dar os acusadores da mulher pecadora que não conse- guiram atirar a primeira pedra, por causa dos seus peca- dos, e Jesus, que não tinha pecado algum, perdoando- -a e dizendo: “Vai e não peques mais” (Jo 8:1-11). Em Oséias, lemos: “Curarei a sua infidelidade, eu de mim mesmo os amarei” (14:4). Oséias estava lembrando o povo de Israel que Deus os amava intensamente e que a fidelidade do seu amor é constante. O amor de Deus é retratado no papel do marido sofredor da esposa infiel. Israel foi avisado que deveria abandonar seus deuses, os ídolos. A men- sagem foi direcionada principalmente para aqueles que ignoraram o amor verdadeiro, representado na atitude de Gômer para com Oséias. O propósito da mensagem era de conversão, mudança de atitude para com Deus. A IMAGEM DA INFIDELIDADE DE ISRAEL Oséias recebe uma ordem difícil do Senhor: “Vá, tome uma mulher adúltera” (1:2, NVI). Então ele vai e toma por esposa a Gômer. Conquanto haja várias inter- pretações, é possível que Gômer fosse uma mulher casta antes do casamento e que só se prostituiu após ter contraído o matrimônio com Oséias.12 A razão principal para essa interpretação é que seria incompatível com o caráter santo de Deus ordenar a seu profeta algo moral- mente reprovável e expor seu mensageiro a tal opróbrio. 12 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p. 34. www.ib7.org 31 Crabtree diz que essa interpretação salvaguarda o cará- ter moral do profeta e defende o caráter santo de Deus.13 Esse casamento é certamente um símbolo do adul- tério espiritual de Israel. Mediante o seu relacionamento cruelmente profanado com Gômer, Oséias pôde com- preender o verdadeiro significado do pecado de Israel: adultério espiritual e até prostituição.14 Depois, o Senhor ordenou que o profeta procurasse a esposa desobediente, e ele a encontrou à venda em um mercado de escravos (3:1-2). Ele teve de comprar a própria esposa, trazê-la para casa e assegurar-lhe seu perdão e amor. Ele tem todos os motivos para acreditar que Gômer se arrependeu de seus pecados e tornar-se uma esposa fiel. Tudo isso retrata a infidelidade de Israel com o Senhor. A nação estava casada com o Senhor (Êx 3 4:14-16; Dt 32:16; Is 62:5; Jr 3:14) e deveria manter- -se fiel a ele. Todavia, Israel desejou ardentemente o pecado, especialmente com os falsos deuses das outras nações, e cometeu “adultério espiritual” ao abandonar o Deus verdadeiro e adorar os ídolos dos inimigos. Eles prometeram-lhe muitos prazeres, mas ela descobriu que também havia dores e sofrimentos. Israel, como Gômer, seria escravizada (cativeiro) por causa de seus peca- dos. Mas esse não é o fim da história. Da mesma forma que Oséias procurou sua esposa e a trouxe para casa, o Senhor procuraria seu povo, o libertaria e o restauraria em sua bênção e amor.15 Não podemos deixar esses capítulos sem salien- tar que o “adultério espiritual” pode ser um pecado dos cristãos do Novo Testamento como foi dos judeus do Antigo (cf. 1Jo 2:15-17; Ap 2:1-7; Tg 4:1-10). Os cristãos que amam o mundo e vivem para pecar são falsos com 13 CRABTREE, A. R. Op. cit., p. 45. 14 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p. 34. 15 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 627-628. 32 Estudos Bíblicos seu Salvador e partem o coração dele. Paulo advertiu os coríntios em relação a isso (2Co 11:1-3). Assim como Oséias não deveria desistir da sua mulher, mesmo diante da sua ostensiva infidelidade, Deus não desiste do seu povo. Mesmo quando esse povo se torna infiel, Deus permanece fiel. O seu amor é incompreensível e imerecido. Ele não nos ama por causa das nossas virtudes, mas apesar dos nossos pecados; ele não nos busca por causa dos nossos méritos, mas apesar dos nossos deméritos. O amor de Deus nos opor- tuniza uma segunda chance. Ele é o Deus da segunda oportunidade. Foi esse amor devotado do Pai celestial que tornou possível nossa reconciliação com ele.16 A PROCLAMAÇÃO DOS PECADOS DE ISRAEL Sem dúvida, todos os vizinhos falaram sobre os pecados de Gômer e apontaram um dedo acusador para ela. Não obstante, agora Oséias aponta o dedo para eles e expõe os pecados deles. A mensagem dele é seme- lhante aos jornais de hoje (cf. 4:1-2). Perjúrio, mentira, homicídio, furto, adultério, traição, idolatria, bebedeira – esses pecados e muitos outros abundam em nossa nação. E, para deixar as coisas piores, a nação tentou esconder seus pecados em “reavivamentos religiosos” superficiais (6:1-6). Oséias foi um pregador magistral. Observe como retrata a condição espiritual do povo: 1) a nuvem da manhã (6:4), porque num momento está aqui e, no seguinte, já se foi, é passageira; 2) um pão que não foi virado (7:8), pois a religião do povo não estava enrai- zada na vida dele, mas era algo superficial; 3) as cãs (7:9), porque perde a força, mas não se dá conta disso; 16 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p. 65. www.ib7.org 33 4) uma pomba enganada (7:11), porque é instável, voa de um aliado político para outro; 5) um arco enganoso (7:16), com o qual não se pode contar.17 O povo de Israel estava com suas relações ver- ticais e horizontais interrompidas. Não há sociedade humana que possa prevalecer onde estão ausentes a verdade, o amor e o conhecimento de Deus. Esses são os fundamentos da piedade e da moralidade. Esses são os alicerces da família, da igreja e da sociedade. Por não haver verdade nas palavras e nas ações, era impossível a confiança nos relacionamentos. Por não haver com- paixão aos necessitados, era impossível o amor gover- nar suas atitudes. Por conseguinte, a falta de verdade e amor evidenciava a falta do conhecimento real de Deus, uma vez que tanto a verdade quanto o amor têm suas raízes no conhecimento de Deus. O profeta faz um diag- nóstico da nação de Israel, dissecando suas entranhas e trazendo à tona seus horrendos pecados. Esse diag- nóstico não é diferente daquele que descreve a nossa realidade em pleno século 21.18 A PROCLAMAÇÃO DO JULGAMENTO A rebeldia sempre é punida (Pv 14:14), e Israel era isso – rebelde (4:16; cf. Jr 3:6,11). Oséias via a chegada dos assírios para punir a nação e escravizá-la. Ele retrata esse julgamento com a chegada da águia veloz (8:1), a fúria de uma tormenta (8:7) e com o fogo consumidor (8:14). A nação se dispersará (8:8; 9:17) e colherá mais que semeou (10:12-15). Os pecadores colhem o que semeiam (Gl 6:7-8), todavia eles também colhem mais, porque as poucas sementes plantadas multiplicam-se 17 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 628. 18 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p.78. 34 Estudos Bíblicos e trazem uma grande colheita. Como é terrível segar a colheita do pecado!19 Por que Deus permitiu que Israel fosse julgado pela perversa Assíria? Porque ele amava seu povo. O amor sempre disciplina para melhorar o filho (Hb 12:1-13; Pv 3:11-12). A mão da disciplina é a mão do amor; é o Pai disciplinando o filho, não a punição de julgamento crimi- nal. Devemos ser agradecidos pela disciplina amorosa de Deus (Sl 119:71). O propósito de Deus na disciplina do seu povo não era a sua destruição, mas a sua restauração: “Então vol- tarei ao meu lugar até que eles admitam sua culpa. E eles buscarão a minha face; em sua necessidade eles me buscarão ansiosamente. Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura; ele nos feriu, mas sarará nossas feridas” (5:15-6:1, NVI). O que Deus esperava era uma genuína conversão, mani- festada pelo arrependimento (“até que se reconheçam culpados”) e pela fé (“e busquem a minha face”). O arre- pendimento e a fé são os dois elementos da conver- são. O primeiro elemento é negativo. O arrependimento é o reconhecimento da culpa, enquanto a fé é a volta para Deus para depositar nele inteira confiança. Esse apelo para voltar ao Senhorbaseia-se na certeza de que o administrador do castigo poderia sarar as feridas. Reduzidos à desesperança, não tiveram outro caminho, senão voltar para o Senhor. No entanto, será que Israel voltou-se mesmo para o Senhor? Era o Senhor mesmo que eles buscavam? O texto mostra que essa volta não era de todo o coração e que o arrependimento não foi profundo o suficiente.20 Israel tinha abandonado a Deus para buscar a Baal, o padroeiro da prosperidade. Eles não estavam interes- sados em Deus, mas em suas colheitas. Eles queriam 19 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 629. 20 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p.119. www.ib7.org 35 prosperidade, e não conhecimento de Deus. Essa volta para Deus era apenas uma barganha. Eles se voltariam para Deus, e Deus se voltaria para eles para abençoá-los com chuvas e fartas colheitas. A religião natural era tudo o que eles desejavam. Eles queriam uma boa colheita. Não Deus, propriamente. A igreja evangélica brasileira está eivada dessa mesma tendência. As pessoas lotam os templos não porque têm sede de Deus, mas porque têm fome do pão que perece. Elas não querem Deus, querem apenas as benesses de Deus. Por sua vez, muitos pregadores não estão interessados na salvação dos perdidos, mas apenas no lucro.21 A PROMESSA DE RESTAURAÇÃO DE ISRAEL Oséias não termina com uma nota sombria. Ele vê a glória futura da nação. Da mesma forma que ele tirou a esposa da escravidão e a restabeleceu em sua casa e em seu coração, também a nação seria restaurada à sua terra e ao seu Senhor. Esses capítulos finais exaltam o amor fiel de Deus em contraste com a infidelidade de seu povo. O Senhor amou Israel no Egito (11:1) quando era uma nação cativa sem glória nem beleza. A graça dele redimiu-a da escravidão, guiou-a, proveu a todas as necessidades dela. Contudo, desde o início desse rela- cionamento de Deus e Israel, o povo estava “inclinado a desviar-se” (11:7). Deus atraiu-o com laços de amor (11:4); no entanto, o povo tentou quebra-los e seguir seu próprio caminho.22 Pecado não é apenas quebrar a lei do Senhor; é partir o coração dele. Oséias descreve o coração do Senhor quando tentou trazer seu povo infiel de volta à sua bênção, e desejou que este lhe fosse fiel (11:8-11). 21 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p.119. 22 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 630. 36 Estudos Bíblicos O capítulo 12 apresenta a nação “falando com grandeza” e gabando-se de sua riqueza e de suas realizações, mas Deus diz: “Efraim apascenta o vento e persegue o vento” (12:1). O rebelde pode usufruir de riqueza material e dos prazeres físicos, mas isso nunca satisfaz o coração nem glorifica o Senhor, e, por fim, o rebelde ficará pobre, des- prezado, cego e nu. O profeta fecha as cortinas do seu ministério com uma palavra de esperança e com uma promessa de restauração. O cativeiro assírio não coloca um ponto final no plano soberano de Deus. As tragédias humanas não frustram os planos daquele que governa a história e dirige o universo. O último capítulo de Oséias é, de muitas maneiras, o mais belo de todo o livro e consti- tui um encerramento apropriado da série de discursos proféticos. Depois dos grandes vagalhões de conde- nação que se chocaram contra Israel, Deus agora fala ternamente em graça. Afinal, a graça brilha através das nuvens ameaçadoras.23 APLICAÇÃO PARA A ATUALIDADE O livro de Oséias relata a importância da fidelidade e a sua relevância nos relacionamentos, abordando desta forma os efeitos e as influências nos comporta- mentos. O relacionamento estabelecido por Deus foi de amor eterno e firmado através da aliança, sendo que as juras de amor de Israel foram quebradas, ficou conhe- cido através das circunstâncias o que realmente estava no coração, a deslealdade. Quando se fala de fidelidade, está se falando de cumprir e honrar os compromissos assumidos na aliança, tendo como princípio a moral, a obrigação; já a lealdade inclui os valores baseados no vínculo afetivo, 23 FEINBERG, Charles L. Os profetas menores. São Paulo: Vida, 1988, p. 64,65. www.ib7.org 37 ou seja, quem é fiel não trai devido à moral; já o leal não trai devido o vínculo de amor e se revela num envolvi- mento bem maior do que o previamente estabelecido. Deus revela assim a sua grande lealdade e misericórdia, pois mesmo Israel sendo infiel, Deus, contudo, esten- deu a sua lealdade providenciando o Cordeiro que tira o pecado do mundo. O foco do ministério profético de Oséias não era a política ou o social, senão alertar sobre as consequên- cias da infidelidade gerada pela falta de confiança em Deus. A idolatria ocupou o altar que era do Senhor, esta- belecendo uma adoração nos corações que foram envol- vidos com encantamento. A história da família de Oséias é singular e eviden- cia a profundidade do amor de Deus; amor imerecido. Sempre se deseja receber amor, mas o profeta preci- sou sentir na pele o peso da infidelidade da sua esposa e, ainda assim, decidiu perdoá-la. Vale ressaltar que, naquele tempo, o adultério era punido com a morte; a lei estava a favor do profeta, que poderia atirar a primeira pedra, mas Deus o conduziu para o perdão. Da mesma forma que a oração do Pai Nosso traz um confronto – “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores” - Deus fez o profeta sentir a dor da infidelidade do relacionamento do seu povo escolhido e ainda perceber que, se Ele sendo Deus é capaz de perdoar; isto deve ser praticado por todos os homens. Antes de se falar sobre a restauração do altar de Deus, precisa-se enfatizar a restauração da família, pois nos tempos atuais a infidelidade anda de mãos dadas com a vingança e o ódio, não restando lugar para o perdão. Para perdoar é necessário empenhar mais força do que para se vingar, ou seja, é mais forte/sábio o homem que libera o perdão do que aquele que se deixa 38 Estudos Bíblicos levar pela inflamação do ódio. A mensagem de Oséias é uma mensagem do perdão de Deus e isto é inspirador para viver uma vida de perdão e misericórdia. A presença do Senhor é real. Ele sempre esteve presente e desejou que os homens tivessem um relacio- namento pessoal com ele, mas desde o princípio até os dias atuais, Deus tem sido esquecido por muitos e subs- tituído por outros deuses, ou pior, Deus só é lembrado nos momentos difíceis da vida. Esta atitude de infide- lidade e idolatria (tudo o que ocupa o lugar de Deus) entristeceu e tem entristecido a Deus. Mas o profeta Oséias trouxe a memória de quem é Deus e que a pro- messa de restauração do altar ao único Deus vivo seria novamente estabelecida entre as famílias da Terra. O culto que agrada a Deus é aquele realizado em família, ou seja, através de pessoas que amam e querem obedecer a Deus, tanto em casa com a sua própria famí- lia quanto na igreja; momento em que as famílias se reúnem para celebrar a Deus pelas bênçãos, conquistas e desafios de fé. Na verdade o culto não termina, pois deve ser contínuo. CONCLUSÃO Deus mostra, por meio de Oséias, o quanto algo tão sagrado como o casamento pode ser destituído de sacralidade por meio da infidelidade. Se tomarmos a expressão infidelidade como sinônimo de traição, não teremos dificuldades em entender o quanto essa prática é abominável. Quando Deus estabelece um relacionamento, ele exige absoluta lealdade. Por intermédio de Oséias, o Todo-poderoso anunciou que aplicaria um severo julga- mento para libertar seu povo do torpor religioso e chamar sua atenção. Este julgamento tomaria a forma de secas, www.ib7.org 39 invasões e exílio. Apesar do rigor desse ato ter dado a impressão de que Israel seria abandonado para sempre, o Senhor pretendia restaurar seu povo. Quando os israe- litas se arrependessem de seus pecados, Deus os faria retomar à sua terra e restauraria suas ricas bênçãos. O livro de Oséias fornece uma clara e equilibrada ideia de Deus. O Senhor ama seu povo e com ele deseja ter um relacionamento profundo e amoroso. Ele é ciu- mento de afeição enão tolera concorrentes. Quando seu povo peca, ele o disciplina na medida certa. A disciplina do Senhor pode parecer dura, mas a resposta divina ao pecado de Israel é, na verdade, uma prova de seu amor e comprometimento. Deus não admite que coisa alguma arruíne o relacionamento que ele estabeleceu conosco, e fará tudo para preservá-lo. PERGUNTAS PARA DEBATE EM CLASSE 1. Qual o significado do nome Oséias? ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 2. Qual a principal mensagem do livro de Oséias? Como ela foi exemplificada? ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 40 Estudos Bíblicos ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 3. No que consistia a infidelidade do povo de Israel para com Deus? ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 4. Compare os termos lealdade e fidelidade. Quais semelhanças e quais diferenças? ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 5. Compare o amor de Oséias para com sua esposa e o amor de Cristo para com sua noiva. Defina o amor incondicional. ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ www.ib7.org 41 Pr. Luiz Rogério Palhano MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS Domingo - Isaías 40:3 Deus jamais nos deixará sem resposta. Ele perma- nece fiel. Os planos que Ele tem para nossa vida não mudaram e nem mudarão. Sabe por quê? Porque Ele nos ama imensuravelmente. O derramamento do Espírito é o poder pelo qual Deus realiza a sua vontade. A resposta para os sedentos de Israel é água com abundância, são rios sobre a terra seca, é benção sobre os descenden- tes, é promessa do derramamento do Espírito Santo a toda a posteridade, é a garantia da presença do Senhor, abundantemente, na vida do povo. Como seria possível duvidar de um Deus que se apresenta como o Primeiro e o Último, e que fora dele não há Deus? Segunda-feira - Salmos 51:1-11 Que tipo de cristãos nós seríamos sem o Espírito Santo de Deus? Qual seria o nosso caráter sem o fruto do Espírito? Parece que o rei Davi sabia estas respos- tas. A Bíblia ensina que quando o profeta Samuel ungiu- -o no meio de seus irmãos, desde aquele dia o Espí- rito do Senhor se apoderou de Davi (1Sm 16:13). Ele tornou-se aclamado, amado, exaltado em Israel porque o Espírito Santo estava sobre ele e apoderou-se dele. O texto de hoje apresenta um homem desesperado, que havia pecado contra Deus e sabia das consequências de suas atitudes. Um homem atormentado com a ideia de perder a alegria da salvação e de voltar à natureza fraca, endurecida pelo engano do pecado. Eis a razão do seu clamor. Oremos hoje para que entendamos como 42 Estudos Bíblicos Davi a importância da presença do Espírito Santo em nossa vida. Terça-feira – João 14:16-20 O texto de hoje faz parte de um contexto onde o Senhor Jesus está dando as últimas instruções aos seus discípulos. Segundo o dicionário bíblico, “Conso- lador” significa alguém chamado para estar ao lado de uma pessoa e defendê-la. Um advogado, em suma. O Senhor promete o Espírito da Verdade que estaria para sempre com os discípulos, que habitaria com eles e que estaria neles. Fisicamente, Jesus não estaria mais com eles, porém não estariam sozinhos. O Consolador o substituiria. Embora ele não estivesse presente fisica- mente, estaria espiritualmente. E para sempre! O mundo não pode recebê-lo porque está envolto nas práticas do pecado. A fórmula para que o Consolador esteja sempre conosco é crer em Deus e em Jesus Cristo. Esse é o princípio de uma vida em santidade. Amém. Quarta-feira – João 14:26 Toda a Escritura é de inspiração divina, e é apta para ensinar. Homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo. A Igreja Cristã é regida pelo Senhor, e é por meio da Bíblia que ele a ensina. Ele também abre as mentes e corações para as suas verdades. Jesus transmitiu a Palavra do Pai aos discípu- los (v. 24), e deu garantias de que eles seriam lembra- dos de tudo o que havia lhes dito. Quem tem ouvidos, deve ouvir o que o Espírito diz às Igrejas (Ap 2:7). Como Jesus mesmo falou, não somos órfãos, pois o Espírito Santo está conosco e sua missão é ensinar a Igreja do Senhor. Nossa oração hoje deve ser para que tenhamos www.ib7.org 43 bom ânimo para praticar tudo o que o Espírito de Deus tem nos ensinado. Quinta-feira – Atos 4:31 Que coisa maravilhosa! A igreja está em oração, e não porque simplesmente está com medo. Ao contrário, suplica para que o Senhor estenda suas mãos e conti- nue a fazer curas, sinais e prodígios em nome de Jesus. Como resultado, temos uma grande manifestação onde todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam a palavra de Deus. Se eu fosse pastor de uma igreja nessa época, e me fosse tirada a liberdade de falar do Evangelho da Salvação, como eu agiria? Como a minha igreja se comportaria? Há dois detalhes importantes no contexto do nosso estudo: Pedro falava com intrepidez, porque estava cheio do Espírito Santo (v. 8), e os após- tolos falavam das coisas que viram e ouviram (v. 20), ou seja, falavam daquilo que o próprio Jesus lhes havia ensinado. Olhando por essa ótica, acredito que eu e a igreja agiríamos da mesma forma, vocês não acham? Sexta-feira- Atos 2:1-16 De acordo com a promessa de Jesus, a descida do Espírito Santo ocorreu no dia do Pentecostes, dia em que os judeus ofereciam ao Senhor as primícias de suas produções agrícolas. Essa foi uma ocasião propí- cia para o derramamento do Espírito, porque ali estavam judeus e prosélitos de várias partes do mundo conhe- cido, e também porque naquele dia seria feita a primeira colheita dos frutos do Reino, a partir da obra consumada do Messias. Neste mesmo dia, a multidão foi possuída de perplexidade ao visualizar a manifestação do Espírito Santo, prometida no Antigo Testamento e confirmada pelo próprio Senhor. Lucas diz que todos foram cheios 44 Estudos Bíblicos do Espírito Santo e passaram a ser testemunhas de Jesus, a partir dali e em todos os lugares. Amém. Sábado - Atos 2:16-20 O marco da fundação da igreja em Jerusalém foi, sem dúvida, a descida do Espírito Santo, e o livro de Atos narra com riqueza de detalhes este grandioso evento. Como já vimos, o cenário para o derramamento do Espí- rito Santo foi o dia do Pentecostes. Para ali eram atraídos judeus de todo o mundo conhecido. Muitos peregrinos, mas também inúmeros judeus piedosos vinham a Jeru- salém para adoração. A manifestação do Espírito Santo ocasionou o fenômeno das línguas, que gerou debate sobre a sanidade dos discípulos. O discurso inflamado do apóstolo Pedro tem início com a citação, na íntegra, da profecia de Joel (Jl 2:28-32), e que naquele dia inau- gural da era da Igreja, deu-se o seu cumprimento. É muito importante saber que o Senhor cumpre todas as suas promessas, e confortador saber que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. www.ib7.org 45 JOEL O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO Pr. Jonas Sommer 19 de Julho de 2014 3 TEXTO BÁSICO: “E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões. Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias”. (Jl 2:28-29, NVI) INTRODUÇÃO Joel, o segundo dos chamados profetas menores, exerceu seu ministério em Judá, no Reino do Sul. Em que pese o fato de ele ter profetizado sobre o derramamento do Espírito de Deus no futuro, com manifestações espe- cíficas, a tônica de sua profecia vai mais além. O livro trata da ameaça de julgamento de Deus contra Judá, que é ilustrado com a devastadora praga de gafanho- tos. A esperança de Judá repousa no arrependimento e na misericórdia divina, que trará, com os julgamentos do Dia do Senhor, e na sua abundante misericórdia ao restaurar a nação. Joel atinge seu propósito desenvol- vendo-o nas três partes que compõem sua profecia. Há quem advogue que o livro de Joel pode ser dividido em duas partes. A primeira descreve a devas- tação de Judá, ocasionada por uma grande praga de gafanhotos e a comunidade. E a segunda, a resposta de Deus a Israel e às nações, conforme ilustrado no quadro abaixo:24 24 SOARES, Ezequias. Os doze profetas menores: advertências e consolações para a santificação da Igreja de Cristo. Lições Bíblicas. Rio de Janeiro: CPAD, out/ dez. 2012, p. 20. 46 Estudos Bíblicos LIVRO DE JOEL Primeira Parte Segunda Parte A praga de gafanhotos e a comunidade (1:1 - 2:17) A resposta do Senhor a Israel e às nações (2:18-3:21) A praga dos gafanhotos (1:1-4) Compaixão pela comunidade (2:18-27) Chamado à lamentação (1:1-4) Bênçãos para a cumunidade (2:28-32) Grande alarme (2:1-11) Julgamento das nações (3:1-17) Chamado ao arrependimento (2:12-17) Presença de Deus em Jerusalém (3:18-21) Há, no entanto, outros que dividem a profecia de Joel em pelo menos três partes: um juízo imediato (1), um juízo iminente (2:1-27) e o juízo futuro (Jl 2:28-3:21).25 O PROFETA, SEU ESTILO E SEU TEMPO Não sabemos muito sobre este profeta. Há 12 homens no Antigo Testamento com este nome, mas não podemos identificar o profeta com qualquer um deles. 26Seu nome significa “Yahweh é Deus”.27 Seu pai se cha- mava Betuel, segundo alguns targuns, ou Petuel, con- forme o texto hebraico que nos chegou à mão. Devido à familiaridade dele com aspectos do templo, dos sacrifícios e do sacerdócio, pode-se presu- 25 COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Os doze profetas menores. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 26. 26 CRABTREE, A. R. Profetas menores. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1971, p. 15. 27 FINLEY, Thomas J. The Wycliffe exegetical commentary: Joel, Amos and Oba- diah. Chicago: Moody Press, 1990, p 2. www.ib7.org 47 mir que pertencia à classe sacerdotal.28 Por conta de sua contundente mensagem de juízo, alguns o chamam de “João Batista do Antigo Testamento”.29 Joel escreve como um poeta lírico e dramático, com constante uso de contrastes.30 Conforme estudio- sos da estilística literária hebraica, há muito de parale- lismo e ritmo da poesia hebraica no escrito. As figuras de linguagem usadas por Joel mostram ser ele um homem de imaginação vívida. Ele emprega figuras fortes e usa muitas exclamações, como se vê no texto em português. Isto deve corrigir um equívoco que muitos, mesmo sem preconceito, nutrem. É que pensamos nos profetas como se fossem beduínos fanáticos ou ignorantes. Quando muito, julgamos que como eram pessoas vivendo numa época atrasada em relação à nossa, tais profetas foram primitivos e boçais. Esses homens foram geniais. Prova disso é que aqui estamos, já entrados no terceiro milênio, aprendendo com eles, estudando o que escreveram.31 As discussões sobre a data do livro são bastante acirradas. Tem-se atribuído datas desde o século nono até o século quarto A.C., pelas várias escolas. Porém, com base nas evidências internas, e tendo em vista que ele é citado por Amós e Oséias, a estimativa mais razo- ável é a época da minoridade de Joás, durante a regên- cia de Joiada, o sumo sacerdote, por volta de 830 A.C. (2Rs 11:17,18; 12:2-16; 2Cr 24:4-14). Em todo o livro também não há nenhuma referência à Babilônia, à Assí- ria ou mesmo à invasão da Síria, e os únicos inimigos mencionados são os filisteus, os fenícios, os egípcios e os edomitas (3:4,19). Se ele tivesse vivido após Joás, 28 SCHMOLLER, Otto. The book of Joel. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 2008, p. 3. 29 MACDONALD, William. Believer’s Bible commentary. Nashville: Thomas Nelson, 1995, p. 1107. 30 LOPES, Hernandes Dias. Joel: o profeta do Pentecoste. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 16. 31 COELHO FILHO, Isaltino Gomes. O profeta Joel. Disponível em: <www.scribd. com/doc/18338219/o-Profeta-Joel-Pr-Isaltino>. Acesso em: 25 mar. 2014. 48 Estudos Bíblicos sem dúvida teria mencionado os sírios entre os inimigos que enumera, uma vez que eles tomaram Jerusalém e levaram o imenso espólio de Damasco (2Cr 24:23,24). A idolatria também não é mencionada, e os serviços do Templo, o sacerdócio e outras instituições da teocracia são representados como florescentes.32 Warren Wier- sbe diz que Joel foi o primeiro profeta a escrever suas mensagens.33 O JUÍZO IMEDIATO: A DESOLAÇÃO CAUSADA PELA INVASÃO DE GAFANHOTOS O livro do profeta Joel é, sobretudo, escatológico. O primeiro capítulo descreve a desolação causada em Judá por uma invasão de gafanhotos – um dos instru- mentos do juízo divino mencionado por Moisés em sua profecia (Dt 28:38,39) e por Salomão em sua oração (1Rs 8:37), e que já havia sido usado por Deus contra o Egito (Êx 10:12-20). Nos capítulos seguintes, há também pro- messas de bênçãos em foco, mas o tema principal conti- nua sendo o juízo divino, sendo que agora em um futuro ainda mais adiante.34 Isto é, a principal mensagem de Joel é que Deus julga, e essa mensagem da realidade do juízo divino, conforme orientação do profeta ao povo, não deveria ser esquecida, mas recontada às gerações seguintes. Não é à toa que Deus permitiu que essa obra inspirada pelo Espírito Santo ficasse para a posteri- dade, para que sua mensagem nunca fosse olvidada e pudesse reverberar durante séculos, despertandovidas. A invasão assoladora dos gafanhotos não é uma tragédia natural, mas a vara disciplinadora de Deus 32 ARCHER JR, Gleason. Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1991, p. 233. 33 WIERSBE, Warren. Comentário bíblico expositivo. V. 4. Santo André: Geográfica, 2010, p. 420. 34 COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Op. cit., p. 25. www.ib7.org 49 sobre o povo da aliança. Não existe acaso, coincidência, nem determinismo cego. Não existe tragédia natural à parte da providência soberana de Deus.35 Joel faz uma descrição vívida e alarmante de uma invasão avassala- dora de gafanhotos em todo o território de Judá. Moisés profetizara que Deus poderia usar deste expediente para punir seu povo se ele se tornasse desobediente (Dt 28:38-42). São usadas quatro palavras hebraicas dife- rentes para gafanhotos nesta passagem: gazam, vertido como “gafanhoto cortador”; arbeh, o “gafanhoto migra- dor”; yeleq, o “gafanhoto saltador”, e hãsil, o “gafanhoto destruidor”.36 Têm sido dadas várias interpretações quanto a essa invasão de gafanhotos. Diz-se que essa descrição fala dos quatro tipos diferentes de gafanhotos que inva- diriam a terra. Outra possibilidade é que essa descrição fala de nuvens sucessivas de gafanhotos invadindo Judá, ou seja, Joel estaria falando sobre ataques sucessivos de insetos, ressaltando a intensidade da destruição. A terceira possibilidade é que a descrição fala metafori- camente dos quatro impérios que dominaram o mundo (Babilônico, Medo-persa, Grego e Romano). Há ainda aqueles que, embora careçam de sólida base bíblica, interpretam como sendo demônios que atacam as finan- ças do povo de Deus.37 Ao que parece, a interpretação literal, como sendo quatro tipos de gafanhotos que, em ataques sucessivos, deixam um rastro de destruição, seja a correta. No livro encontramos uma ordem para que esse evento não fosse olvidado, mas se deveria contar à geração seguinte (1:3). Quatro gerações são menciona- das, os ouvintes de Joel deveriam transmitir aos filhos, 35 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., p. 27. 36 HUBBARD, David Allan. Joel e Amós: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1996, p. 49 37 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., pp. 29-30. 50 Estudos Bíblicos netos e bisnetos. Quando não se aprende com os erros do passado, tem-se a tendência de repeti-los. A histó- ria precisa ser nossa pedagoga, não nosso coveira. Os eventos de uma nação são lições para todas as demais, pois se a memória do amor de Deus não nos despertar a gratidão, a memória dos ais do seu juízo, certamente nos ameaçará com a humilhação.38 Joel conclama os sacerdotes do Senhor ao arre- pendimento (1:13,14). O texto fala de clamor, pranto, pano de saco e jejum. No Antigo Testamento, é comum vermos jejuns serem apregoados em períodos de cala- midade ou de iminência de calamidades (2Cr 20:3; Et 4:16). Conquanto o povo de Deus não experimente pragas literais de gafanhotos, mui provavelmente vê con- gregações devastadas por aflições, pecados e doenças que angustiam famílias inteiras. Diante disso o conselho bíblico para se resolver tais impasses é que a liderança, juntamente com a membresia, reconheça igualmente, com a máxima urgência, a necessidade de ajuda, poder e bênção de Deus. Devem voltar-se a ele com a since- ridade, intensidade, arrependimento e intercessão des- critos por Joel (Jl 1:13,14; 2:12-17). Só há restauração e avivamento onde há genuíno arrependimento. UM JUÍZO IMINENTE: A VERDADEIRA CONVERSÃO E A PROMESSA DE FARTURA No segundo capítulo de Joel, o profeta trata esse exército de gafanhotos do capítulo 1 como um símbolo e precursor de um flagelo ainda mais terrível. A palavra do Senhor a Joel é que, no futuro, haveria uma desolação que envolveria toda a Terra. Ou seja, o pranto pelo juízo dos gafanhotos apenas prefigurava um pranto ainda maior decorrente de uma desolação muito maior. 38 Ibidem. www.ib7.org 51 Joel começa falando de uma invasão militar que Judá também sofreria (2:2-4) para, mais à frente, ainda no capítulo 2, aludir ao Dia do Senhor em sua acep- ção absolutamente escatológica. O “dia do Senhor” é a expressão-chave desse livro. Ela aparece pela primeira vez no versículo 15 do primeiro capítulo. Tal expressão se refere tanto ao julgamento divino de forma geral – sendo, nesse caso, usada para se referir a um julga- mento específico que poderia ser tomado como sím- bolo do Grande Julgamento Final – como também, e na maioria das vezes, ao Juízo do Fim dos Tempos, quando toda a impiedade será julgada pelo Senhor. Este último e mais recorrente sentido é explorado a partir do capítulo 2 de Joel, quando o profeta faz claramente referência a acontecimentos que se darão em um futuro mais distan- te.39 Esse dia, porém, culmina com o grande Dia do Juízo, na segunda vinda de Cristo, quando o Senhor se assentará no seu trono e julgará, com justiça, as nações (Mt 25:31-46). Nesse dia os homens ímpios desmaia- rão de terror, buscarão a morte, mas não a encontrarão. Nesse dia tentarão, inutilmente, escapar da ira do Cor- deiro (Ap 6:12-17).40 Tudo indica que os exércitos do Norte (2:20) são uma referência aos exércitos da Assíria e Babilônia. Aqui, Deus conclama mais uma vez o povo ao arrepen- dimento – mas a um arrependimento realmente sincero, verdadeiro, genuíno, autêntico (2:2,13). Deus diz ao povo que estava cansado do seu ritual de vestir pano de saco em jejum depois de rasgar as vestes, porque esses atos já não eram acompanhados de um real propósito de mudar, não eram realizados como exteriorização de um genuíno arrependimento (2:13). 39 COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Op. cit., p. 25. 40 LOPES, Hernandes Dias. Op. cit., pp. 51-53. 52 Estudos Bíblicos Não bastava rasgarem suas vestes se antes não esta- vam rasgando os seus corações diante dele. “Rasgai o vosso coração” significa “modificai toda a vossa atitude”, é a maneira hebraica de dizer que a contrição interna é mais importante do que a manifestação externa de pesar que, por si, poderia ser apenas um ato desprovido de sinceridade ou integridade.41 Ou seja, nessa passa- gem, Deus está afirmando que penitência externa não muda nada. É preciso um coração realmente rasgado diante do Senhor para que ele se volte para o seu povo com perdão, restauração e bênçãos (2:14). A necessidade de conversão é um dos aspectos teológicos mais importantes em nosso profeta. Nos dias em que vivemos podemos ouvir programas que são declarados como sendo evangélicos, pela televisão e pelo rádio, por meses a fio sem ouvirmos falar, uma vez sequer, da necessidade de arrependimento, de aban- dono dos pecados e de mudança de vida. A conversão foi deixada de lado em muitos púlpitos e substituída pela adesão ou pela contribuição. A cruz que o cristão deve tomar para seguir a Cristo foi esquecida e em seu lugar se oferece em trono em troca de ofertas e assistência aos cultos com contribuições regulares. A ética foi supri- mida e em seu lugar entrou a prosperidade como tema dominante das pregações. “Todavia ainda agora diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto” (2:12). Deus não quer uma liturgia morta, ele quer ação que mostre quebrantamento e não rito apenas. É para o povo chorar os seus pecados, como lemos no verso 17: Não é rito nem são palavras. Não é externo, é interno. É sen- timento. Podemos criticar o pietismo por sua internaliza- ção da fé religiosa, mas esta postura tem respaldo entre os profetas. É a conversão do homem que faz Deus 41 HUBBARD, David Alan. Op. cit., p. 66. www.ib7.org 53 mudar o juízo em bênção. Não é a contribuição nem é a liturgia. É o reconhecimento de que a vida está errada e deve ser mudada. Embora a contribuição seja necessá- ria e, muitas vezes seja evidência de uma conversão, é conversão e não contribuição que Deus pede. Pode-se dar dinheiro sem dar o coração. Pode-se praticar ritos sem ter consciência da presença de Deus. O coração
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