Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe 09/11/2021 Cristiane Lamas – Infectologia - Unigranrio Instituto Nacional de Cardiologia INI Evandro Chagas/Fiocruz DEFINIÇÃO Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e do córtex subjacente, causado por bactérias, levando a quadro sistêmico febril e a sinais e sintomas clínicos de meningoencefalite. A definição mais correta é meningoencefalite pois além das meninges temos o córtex subjacente sendo acometido também. ANATOMIA Três camadas de tecido chamadas meninges revestem o cérebro e a medula espinhal: • Dura-máter (camada externa) • Aracnóide-máter (camada intermediária) • Pia-máter (camada interna) Entre a membrana aracnóide e a pia-máter há o espaço subaracnóideo. Esse espaço contém o líquor que flui entre as meninges, preenche as cavidades intracerebrais e amortece o cérebro e a medula espinhal. Qual o melhor material para fazer o diagnóstico de meningite? O líquor!! Meninges e líquor Líquor: é um fluido aquoso e incolor que ocupa o espaço subaracnóideo e as cavidades ventriculares. É formado por poucas células, pouca proteína e quantidade de glicose normal. Líquor provê amortecimento de toda a calota e também da medula espinhal. O diagnostico se dá pela cultura e gram do líquor. Podemos fazer outros testes no líquor, como: Testes de látex ou de biologia molecular. CLINICA: SINAIS E SINTOMAS • Rigidez de nuca e sinais de kerning e brudzinsk, esses aparecem após a rigidez de nuca. A rigidez ocorre pela inflamação das meninges e acabam atingindo as raízes nervosas que emergem bem próximas da meninge • Cefaleia – aumento da Pressão Intracraniana desencadeado pela inflamação que gera edema cerebral. Síndrome de Hipertensão Intracraniana. • Febre e Calafrio • Alterações neurológicas pontuais: hemiplegia, anisocoria, afasia, disartria. Esses sintomas também são provenientes da Hipertensão intracraniana, assim como: • Vomito em jato • Sonolência/ Coma • Convulsão • Fotofobia Epidemiologia A meningite bacteriana é a infecção supurativa do SNC mais comum • Patógenos mais frequentes: ✓ Neisseria meningitidis (meningococo) – diplococo Gram negativo, embora seja agressivo é bastante sensível. Fica na garganta dos assintomáticos e assim é disseminado. ✓ Streptococcus pneumoniae (pneumococo) ✓ Estreptococos do grupo B (S. agalactiae) ✓ Listeria monocytogenes ✓ Haemophilus influenzae ✓ Outros: Mycobacterium tuberculosis; Staphylococcus aureus; Pseudomonas aeruginosa; Klebsiella pneumoniae; Enterobacter sp.; Salmonella sp.; Proteus sp. Ficar alerta, pois no Brasil temos o bacilo da tuberculose muito presente no cotidiano e esse bacilo pode também afetar as meninges: Tuberculose meníngea. Meningite bacteriana aguda 2 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Considerando adultos e crianças: São três as bactérias responsáveis por mais de 90% das meningites com agente etiológico definido: • Neisseria meningitidis (meningococo), • Streptococcus pneumoniae (pneumococo). •Haemophilus influenzae tipo b (Hib) – vacinação evitou a disseminação. No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. Casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. “A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno e das virais na primavera-verão.” – Harrison – Essa questão não se aplica ao Brasil. Contudo, surtos são possíveis em situações de aglomeração, ex: surtos de meningite meningocócica (Neisseria meningitidis) em cidades de praia no alto verão (búzios), em eventos religiosos de massa, eventos esportivos em massa. Epidemiologia no Brasil: incidência e mortalidade Maior letalidade pelo Pneumococo, alcançando 31%. Vemos no quadro acima que a maior incidência é pela meningite viral, esse tipo de meningite é bem benigna e não deixa sequelas e tem letalidade bem baixinha. Destaquei a doença meningocócica (Neisseria meningitidis) e meningite não específica, pois boa parte das meningites não especificadas são doenças meningocócicas, isso ocorre pelo fato de que embora o meningococo seja muito agressivo, ele também é muito sensível ao tratamento (penicilina), não complicando tanto a evolução. Então, associamos as meningites não especificadas como meningococo, pois responderam ao tratamento e não foi possível constatar seu agente patogênico. Qual é a diferença entre doença meningocócica X meningite meningocócica?? Em ambos o agente é o mesmo: meningococo. A manifestação clínica é a diferença entre a doença meningococcemia e a meningite meningocócica. A meningococcemia (doença meningocóccica) é quando temos sepse pelo meningococo, porém esse patógeno não alcançou as meninges. A meningite meningocócica está mais associada ao surto, disseminação por aglomerações. E, acomete, principalmente, a criança, com elevada mortalidade. Por faixa etária ✓ Período neonatal, até 3 meses de idade: S. agalactiae, E. coli, Listeria monocytogenes ✓ Dos 3 aos 10 anos Predomina Neisseria meningitidis (meningococo). • Em períodos epidêmicos, cerca de 15 -20% da população alberga este agente; segue-se Streptococcus pneumoniae; ✓ Após os 10 anos e na idade adulta Predomina Streptococcus pneumoniae (pneumococo); em geral, está associado a um foco infeccioso (pneumonia lobar, otite média, sinusite, ou fraturas de crânio). Segue-se Neisseria meningitidis, Listeria monocytogenes. ✓ Idosos: Pneumococo, Gram negativos da família das enterobactérias, Listeria monocytogenes. A questão da idade é importante na hora de tratar empiricamente o paciente. Para saber como tratar uma doença é necessário ter uma ideia de suas causas. Notificação compulsória • Todas as meningites são de notificação compulsória, à simples suspeita. • Devem ser registrados no Sinan (Sistema Nacional de Agravos Notificáveis) Caso suspeito de meningite • Paciente com quadro de febre alta, de início súbito. • Vômito, sem foco de infecção aparente, acompanhado de cefaleia intensa, rigidez de nuca, sonolência, torpor (mal- estar caracterizado pela diminuição da sensibilidade e do movimento), irritação, diminuição da sucção em lactentes, abaulamento de fontanela e convulsões. Pneumococo está mais associado com a presença de comorbidades. Meningococo maior incidência de gravidade em pacientes imunocomprometidos com asplenia ou hipoasplenia, ou seja, ausência do baço ou funcionamento comprometido do baço. A anemia falciforme vai causando pequenos infartos no baço levando também a sua função comprometida. 3 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe ETIOPATOGENIA: PORTAS DE ENTRADA Como o agente alcança o SNC? ✓ Por via hematogênica: atingem o Sistema Nervoso Central: (meningococo, pneumococo, S. aureus, Gram negativos) ✓ Por contiguidade, a partir de estruturas próximas, geralmente otites médias, mastoidites ou sinusites; ✓ Acesso direto: a) em fraturas de crânio; b) em crianças com defeitos congênitos de fechamento do tubo neural (espinha bífida, meningocele, meningomielocele, meningoencefalocele); c) em infecções iatrogênicas, causadas por punções liquóricas com agulhas contaminadas ou sem assepsia • derivações liquóricas, uso de cateteres de derivação liquórica ventrículo-peritoneal (hidrocefalia). PATOGENIA • A inflamação meníngea causa vasoespasmo e pode ocorrer trombose de arteríolas e veias cerebrais • Produtos inflamatórios bacterianos e de neutrófilos, ao atravessar a barreira hematoencefálica, causam processo inflamatório (necrose neuronal) e consequente edemacerebral inflamatório, podendo levar à compressão de nervos cranianos, levando as sequelas neurais. QUADRO CLÍNICO DE INSTALAÇÃO RÁPIDA Caracterizando-se por: a) síndrome infecciosa aguda: febre alta, sepse, prostração; b) síndrome de hipertensão intracraniana: cefaleia holocraniana, vômitos em jato, edema de papila; c) síndrome meningo-radicular: face à irritação das raízes no espaço subaracnóideo, há contratura da musculatura cervical posterior, com rigidez de nuca e da musculatura dorsal. Comentários clínicos • A cefaleia geralmente é holocraniana, constante e de forte intensidade • A febre é variável, porém na maior parte dos casos, é elevada. • Sinais de irritação meníngea, embora muito valorizados para o diagnóstico, têm baixa sensibilidade e podem surgir somente tardiamente na evolução do quadro, sua ausência não afasta o diagnóstico. • Rigidez de nuca pode estar ausente ou ser leve em pacientes que receberam analgésicos ou corticoide • Alteração do nível de consciência pode ocorrer em graus variados, desde sonolência até coma. Sinais de Brudzinski (rigidez de nuca) e Kerning (dificuldade de fazer a extensão completa da perna). Não são sinais sensíveis e muito inespecífico. Como quadro de meningite meningocócica pode ser confundida com várias outras doenças pelos mesmos sintomas clínicos como: febre , dor no corpo, cefaleia ... nos leva a pensar em quadros virais como dengue, chikungunia, viroses gripais... para a exclusão pedimos sempre o Hemograma para afastar ou confirmar hipóteses, as síndromes virais cursam com LINFOCITOSE e LEUCOPENIA (aumento de linfócitos e diminuição de leucócitos, principalmente-neutrófilo) e não vamos ver desvio a esquerda com neutrófilos. Já na meningite vemos leucócitos (aumento dos leucócitos - neutrófilos e desvio à esquerda. Estudo recente holandês • Estudo de 1268 adultos com meningite adquirida na comunidade, clínica: • cefaleia 83% • rigidez de nuca 74%, • febre 74% • alteração do nível de consciência 71% • A tríade completa da meningite (febre, cefaleia e sinais meníngeos) ocorreu em apenas 50% dos casos. Comentários clínicos Complicações: • Convulsões 17% • Evento cerebral isquêmico: 14% a 25% • Hidrocefalia 3% a 5% • Empiema subdural 3%, abscesso cerebral 5%, trombose de seio cavernoso 1% • Crises convulsivas e sinais focais ocorreram em cerca de 20% dos casos e podem representar lesões parenquimatosas cerebrais decorrentes de empiemas, abscessos e vasculite. 4 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe MENINGITE MENINCOCÓCICA Neisseria meningitis (meningococo) 1. Doença meningocócica: etiologia • Causada por Neisseria meningitidis (meningococo), de ocorrência mundial, com variações sazonais e potencial epidêmico significativo. • N. meningitidis é um diplococo Gram-negativo, aeróbio • A composição antigênica da cápsula polissacarídica permite a classificação do meningococo em 12 diferentes sorogrupos: A, B, C, E, H, I, K, L, W, X, Y e Z. • Os sorogrupos A, B, C, Y, W e X são os principais responsáveis pela ocorrência de surtos. • Pode alterar o material genético responsável pela cápsula, mudando de sorogrupo a. Reservatório e incidência • Reservatório é exclusivamente humano • Nasofaringe o local de colonização do microrganismo • A colonização assintomática caracteriza o estado de portador que é frequente. • Chega a > 10% em adolescentes e adultos jovens, especialmente em camadas socioeconômicas mais baixas, que podem albergar o meningococo por período prolongado. • A suscetibilidade a doença é geral, mas crianças < 5 anos, principalmente as < 1 ano tem maior risco. b. Epidemiologia no Brasil • Desde a década de 1990, os sorogrupos circulantes mais frequentes no Brasil foram o B e o C. • A partir de 2005, aumento no número e na proporção de casos atribuídos ao sorogrupo C. • Em 2010, devido ao aumento de circulação do sorogrupo C e à alta incidência da doença observada em crianças, a vacina meningocócica C (conjugada) foi introduzida no calendário de vacinação da criança. • Nos surtos há aumento de casos entre adolescentes e adultos jovens. No gráfico abaixo vemos que a vacina para meningo B (azul) e C (vermelho) fizeram com que a curva de incidência abaixasse. Assim como a curva de incidência meningocóccica (preto) em todos os casos. c. Transmissão e período de incubação •Transmissão por gotícula, pessoa a pessoa. • Período de incubação de 3 a 4 dias em média, podendo variar de 2-10 dias. d. Fisiopatogenia • Colonização da nasofaringe • Doença invasiva pode ocorrer Virulência da cepa CONDIÇÕES IMUNOLÓGICAS DO HOSPEDEIRO: • Capacidade de eliminação do agente da corrente sanguínea • Ação de anticorpos séricos com atividade bactericida mediada pela ativação do sistema complemento. • Integridade funcional do baço Portador colonizado pode somente ser agente de transmissão e não estar sintomático ou pode ter a invasão do meningococo na corrente sanguínea e essa disseminação hematogênica alcança as meninges. 55% dos indivíduos fazem disseminação hematogênica e alcançam a meninge. 30% dos casos: indivíduo é acometido por Meningite + Meningococcemia (sepse pelo meningo circulante no sangue) 15% dos indivíduos desenvolvem a meningococcemia fulminante: evolução rápida (em horas) para sepse grave com choque séptico refratário. 5 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Fatores de risco para Doença meningocócica invasiva (DMI) • Infecções respiratórias virais recentes (especialmente influenza) • Aglomeração no domicílio, residir em quartéis, dormir em acampamento militar ou em alojamentos de estudantes, tabagismo (passivo ou ativo), condições sócio econômicas menos privilegiadas e contato íntimo com portadores. • O risco de desenvolver doença invasiva entre contatos domiciliares de um doente é cerca de 500 a 800 vezes maior que na população geral. Por isso, fazemos quimioprofilaxia de todos que residem juntos. • Deficiência de complemento • Hipoesplenismo ou asplenia Classificação do MS da doença meningocócica invasiva: (1) pacientes com meningococcemia e sem choque; (ou seja, não desenvolvem resposta inflamatória grave) (2) pacientes apenas com meningite; (3) pacientes com meningite e meningococcemia; (4) pacientes com meningococcemia com choque, sem meningite (fulminante) QUADRO CLINICO PS: A fotofobia pode estar presente na clínica do paciente Figura 1: Vasculite pelo meningococo Chama muito atenção na meningococcemia a presença de lesões petequeais e purpúreas que representam a vasculite pelo meningococo. Petéquias e púrpura não somem à vitropressão. Outras doenças que podem cursar com vasculite: ✓ S. aureus ✓ Riquetsias (febre maculosa brasileira). Letalidade e sequelas • No Brasil situa-se em torno de 20% nos últimos anos • Na forma mais grave, a meningococcemia, chega a 50% Sequelas: • Perda da audição • Distúrbio de linguagem • Retardo mental • Sequelas motoras • Distúrbios visuais Diagnóstico etiológico Gram e cultura para germes comuns dos materiais: • Líquor • Sangue (hemoculturas) • Aspirado de lesões petequeais e purpúricas Recomendação de antibioticoterapia para casos de doença meningocócica Grup o etári o Antibiótico s Dose endovenos a Interval o Duraçã o Crianças Penicilina ou 200.000- 400.000UI/Kg/di a 4/4H 5-7 dias Ampicilina ou 200- 300mg/Kg/dia 6/6H Ceftriaxone 100mg/Kg/dia 12/12H Adultos Ceftriaxone 2g 12/12H 7 dias Tratamento específico Ceftriaxone há décadas vem sendo a primeira escolha pela facilidade posológica e disponibilidade, superiores a da penicilina. 6 AV2– Infectologia – Prof. CristianeLamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Ceftriaxone é cefalosporina de 3ª geração com excelente atividade contra meningo e excelente penetração do SNC. Diagnósticos diferenciais • Forma leve, com doenças exantemáticas virais e doenças do trato respiratório superior. • Forma grave (meningoccemia) ✓ Sepse de outras etiologias (principal S. aureus) ✓ Febres hemorrágicas (dengue, febre amarela, hantavirose) ✓ Febre maculosa (Rickettsia) ✓ Leptospirose forma íctero-hemorrágica ✓ Malária ✓ Endocardite bacteriana. • Nas meningites, diagnóstico diferencial com outros agentes causadores, principalmente Streptococcus pneumoniae e H. influenzae, meningite viral e outras meningoencefalites. MENINGITE PNEUMOCÓCICA Pneumococo Esse agente tem uma predileção por idosos e pessoas com comorbidades. É agente causador de outras doenças como: pneumonia, otite e sinusite. E por contiguidade no caso da otite conseguem alcançar as meninges e causar meningite. E na pneumonia por disseminação hematogênica alcançam as meninges. Etiologia • Bactéria Gram-positiva esférica (cocos), disposta aos pares, alfa-hemolítica •Possui 91 sorotipos capsulares, imunologicamente distintos, que causam doença pneumocócica invasiva (meningite, pneumonia com bacteremia e artrite) e não invasiva (sinusite, otite média aguda, conjuntivite, bronquite e pneumonia) • Segundo maior agente de meningite bacteriana no Brasil. • As crianças de até 2 anos de idade são as mais acometidas pela meningite pneumocócica. ✓ A partir de 2010, a vacina conjugada 10-valente, que protege contra dez sorotipos do pneumococo, foi disponibilizada no calendário de vacinação da criança para crianças menores de 1 ano de idade e foi muito importante para a queda acentuada de casos da doença. Nas outras faixas etárias não parece ter grande importância a introdução da 10 valente. Figura 2: Expressiva queda de incidência nos menores de 1 ano – Boletim 2019 • idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos ou de doenças imunossupressoras apresentam maior risco de adoecimento. • Entre 2003 e 2018, foram notificados 18.278 casos confirmados de meningite por pneumococo (MP), dos quais 5.446 evoluíram ao óbito: taxa de letalidade média de 30%. • Os coeficientes de incidência e mortalidade foram reduzidos com o passar do tempo, passando de: ✓ 0,80 para 0,49 casos/100 mil habitantes, (2003) ✓ 0,22 para 0,15 óbitos/100 mil hab., (2018) S. pneumoniae e risco de meningite Todas essas situações abaixam tem indicação para aplicação da vacina pneumocócica: • Sinusite, otite ou pneumonia por pneumococo • Esplenectomia, hipoesplenismo (doença falciforme) • Alcoolismo/Cirrose • Diabetes mellitus • Insuficiência renal crônica • Trauma com fratura da base do crânio (quebra da barreira hematoencefálica) • Fístula liquórica com rinorreia ou otorreia: comunicação anômala entre espaços que contém líquor e outras estruturas, geralmente é resultante de um trauma anteriormente. Otorreia ou rinorreia, trazendo risco a infecção do SNC. Assim, quando há detecção de fístula liquórica o indivíduo tem indicação de fazer vacina para o pneumococo. A ausência ou o mau funcionamento do baço irá prejudicar na eliminação do pneumococo (germe encapsulado) pois esse órgão é responsável pela lise da bactéria. Clínica • Focos contíguos e pneumonia devem ser pesquisados • Clínica neurológica predomina. • Petéquias e púrpura são infrequentes na meningite pneumocócica • Pode haver choque séptico, mas não tão frequentemente quanto na doença meningocócica invasiva. • Letalidade chega a 30% no Brasil 7 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Pacientes com história de sinusite, otite e eventualmente apresenta estado neurológico diferente como: sonolência, confusão, agitatação. É uma clínica diferente da meningo, pois a instalação é mais lenta. LISTERIA MONOCYTOGENES Acomete os extremos de idade (neonato e idoso) • Bastonete Gram positivo • Neonatos < 1 mês • Grávidas (pois está presente no canal vaginal) • Idosos > 60 anos • Imunocomprometidos de qualquer idade, incluindo Transplantados • ZOONOSE: Infecção é adquirida pela ingesta de alimentos contaminados (artesanais), como leite, queijos brancos, carne de delicatessen, salsichas mal cozidas A apresentação clínica é mais indolente, com poucos sinais clássico de meningite, predomina confusão mental, porém rigidez de nuca pouco expressiva, o que retarda o diagnóstico. Rombo encefalite clássica, encefalite das estruturas das partes mais baixas no cérebro. Tratamento: A Listeria não é usualmente tratada por penicilinas (ampicilina) ou cefalosporinas (ceftriaxona), então temos que lembrar de cobrir a Listeria no tratamento empírico em neonatos, grávidas ou idosos. BASTONETES GRAM NEGATIVOS E RISCO Também acometem extremos de idade, o neonato que tem contato com o canal vaginal (E. coli), ou processo de infecção urinária, peritonite no idoso. • Contiguidade: trauma, inclusive cirúrgico (Acinetobacter ou Pseudomonas dentro do contexto hospitalar) • Semeadura a distância: foco urinário, abdominal. ✓ Idosos: peritonite / infecção urinária (Enterobactéria) • Afeta indivíduos com comorbidades como alcoolismo, diabetes, cirrose Streptococcus agalactiae Beta hemolítico bastante agressivo. Vive no trato genital feminino. Associados a infecção puerperal. • Neonatos classicamente • Mais recentemente, notificado como associado a indivíduos com mais de 50 anos e com comorbidades. OUTROS patógenos • Sinusite ou otite crônica: enterobactérias, anaeróbios, S. aureus • Endocardite: patógenos associados a endocardite • S. aureus e coagulase negativo: associados a pós neurocirurgia MENINGITE POR H. INFLUENZAE SOROTIPO B • Diminuição drástica no número de casos após introdução de vacinação (vacina Hib) no calendário básico infantil, em setembro de 1999 no Brasil Diagnóstico laboratorial das meningites bacterianas: • Hemograma (leucocitose com desvio a esquerda, VHS, PCR elevada (normal: 0,5) e em infecções graves fica acima de 10. • Hemoculturas • Swab nasal • Swab de orofaringe • Aspirado de lesão cutânea (exantema) – se houver. • PADRÃO OURO → Líquor: ✓ Gram do líquor e semeia em ágar sangue para verificar o crescimento ✓ Cultura do líquor ✓ Glicorraquia ✓ Citometria global e específica (celularidade) ✓ Proteína ✓ GeneXpert TB Líquor • Pressão de abertura é alta (> 18 cm H20 em 90%, >40 em 20%), então ao fazer a punção lombar vemos escorrer mais rapidamente. • Aspecto cristalino ou em “água de rocha” • Celularidade global e especifica • Glicose • Proteína • Gram: imediatamente fazer!! • Positivo em 90% pneumo, 75% meningo, 50% Gram negativo,25% Listeria • Látex: sensibilidade de 65 a 100% • Reação em cadeia da polimerase: maior sensibilidade que o látex 8 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Bacterioscopia pelo Gram Diplococos negativos intracelular: Neisseria Diplococos Gram positivos: Listeria Diplococos Gram positivos: pneumococo. VIRAL X BACTERIANA X TUBERCULOSA Bacteriana: ✓ Predomínio de polimorfonucleares (neutrófilos), ✓ Glicose reduzida (hipoglicorraquia < 40 e as vezes <20) ✓ Proteína mais elevada do que na viral, porém na viral também ocorre elevação das proteínas. Viral: ✓ Predomínio de monomorfonucleares (linfócitos e monócitos), ✓ Glicose normal ✓ Proteína elevada (menor que na bacteriana) Lembrar que precisamos comparar a glicose no sangue (glicemia) com a glicose do líquor (glicorraquia), e saber que a glicose normal no líquor equivale 2/3 da glicemia. Ex: paciente com glicemia 99mg (normal) irá ter 66mg (normal) no líquor.A bactéria presente no líquor consome a glicose e isso faz baixar seus valores consideravelmente. PUNÇÃO LOMBAR Contra indicações: aumento da pressão intracraniana, dúvida de desvio da linha média pela presença de sangramento. Posição do paciente: decúbito lateral, ombros alinhados com quadril, flexão da perna junto ao abdome, para abrir os espaços intervertebrais. - Agulha Quincke para punção lombar, 25GVYGON - Agulha com conexão transparente e mandril obturador - Conexão transparente para visualização do refluxo do líquido cefalorraquidiano (LCR) 9 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe - Mandril ajustado ao lúmen da agulha para rápida chegada do LCR quando da retirada - “Esporão” indicando a orientação do bisel Posicionar a agulha inclinada, paralela as vertebras. IMAGEM E PUNÇÃO LOMBAR • Contraindicações à punção até que se realize a TC de crânio: ✓ HIV, imunossuprimido por medicações, transplantados – paciente que pode ter desvio da linha média. ✓ Lesão de massa: tumores, sangramento e abscessos ✓ Sinal neurológico focal: afasia, hemiplegia, anisocoria. ✓ Crise convulsiva ✓ Papiledema: aumento de PIC. ✓ Distúrbio da coagulação: plaquetopenia, alteração da coagulação com RN alargado (maior que 2) ✓ Nível de consciência muito deprimido Tratamento empírico Questão importante quanto ao tratamento: resistência do pneumococo a penicilina • Pneumococo no líquor não suscetíveis à penicilina: >30% em estudos brasileiros • Resistência do pneumococo às cefalosporinas de 3ª geração ainda é baixa. TRATAMENTO • Neonatos até 3 meses: →Associação da AMPICILINA (Lysteria + agalactiae) + CEFOTAXIME (E. coli, Streptococcus do grupo B) •Imunocompetentes de 3 meses até 55 anos: →CEFOTAXIMA OU (pneumococo e meningococo) →CEFTRIAXONA + VANCOMICINA (pneumococo e meningococo) (pneumococo resistente a ceftriaxona) • Adultos > 55 anos ou de qualquer idade se etilistas ou com doenças debilitantes →AMPICILINA (Listeria) +CEFTRIAXONA+VANCOMICINA • Meningite hospitalar, pós traumática ou pós neurocirurgia, em pacientes neutropênicos ou com deficiência de imunidade celular →MEROPENEM (Acinetobacter, enterobactérias e Pseudomonas aeruginosa) + VANCOMICINA (Staphylococcus aureus e coagulase negativo) Tempo de tratamento endovenoso (garantir maior penetração no SNC) Duração de tratamento Fonte: IDSA 2004 Associação com corticoide para modulação da resposta inflamatória para reduzir a mortalidade e sequelas na meningite por pneumococo e Haemophilus foi documentada. Lembrar de usar inicialmente, empiricamente. Se depois o agente etiológico não for Haemophilus ou pneumococo pode suspender a medicação. Dexametasona • Utilizada para modular a resposta inflamatória, inibindo a síntese de IL-1β e TNF-α • 10 mg 15 a 20 minutos antes do antibiótico (ou até no máximo 6 horas após) e a cada 6 horas, por 4 dias • Diminuiu a mortalidade e sequelas em adultos com m. pneumocócica • Diminui a sequela em crianças com meningite por Haemophilus e por pneumococo. Iniciamos com dexametasona, mas ao longo do tratamento se ficar constatado que o agente não é pneumococo ou Haemophilus vamos suspender o uso de dexametasona. Isso se deve, pois o corticoide não tem efeito contra meningo, contra gram negativo (e. coli e Listeria). O corticoide irá diminuir o edema cerebral e a resposta inflamatória. Tratamento para hipertensão intracraniana • Elevar a cabeceira da cama 30 a 45º • Entubação e hiperventilação do paciente para reduzir o edema cerebral (pCO2 25 a 30 mmHg) – Glasgow 9. • Manitol: é diurético osmótico, ou seja, enxuga o edema. Usar no máximo 5 dias. Podendo provoca hipernatremia, hipocalemia e desidratação. 10 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Não se deve fazer anticonvulsivantes como profilaxia. Só faz se tiver crise convulsiva. Fatores prognósticos • Nível de consciência rebaixado • Crise convulsiva nas primeiras 24 horas de internação • Lactentes ou adultos > 50 anos • Comorbidades • Presença de choque séptico ou necessidade de ventilação mecânica • Preditores laboratoriais: ✓ Glicorraquia com valores menores de 40 mg/dl (menor que 2/3 da glicemia) ✓ Proteína > 300 mg/d Diagnósticos diferenciais • Meningoencefalite viral (herpes simples, coxsackievírus, enterovírus, echovirus) • Febre maculosa • Leptospirose • Abscesso cerebral • Hemorragia subaracnóide: presença de sangue em contato com a meninge, usualmente, por aneurisma. Clínica idêntica a meningite, fotofobia, rigidez de nuca. • Meningite por hipersensibilidade a medicações (ex: metoclopramida -Plasil® -, AINE em crianças) • Meningite associada a doenças inflamatórias como LES, sarcoidose e doença de Behçet • Meningite carcinomatosa: tumor primário ou metástase • Nas evoluções subagudas: • Meningoencefalite tuberculosa • Meningoencefalite criptocócica (HIV) • Sífilis Quimioprofilaxia Está indicada para os contactantes íntimos expostos até 7 dias do início de sintomas, somente nos casos de doença meningocócica ou meningite por Haemophilus influenzae, que obedeçam aos seguintes critérios: Doença meningocócica: ✓ Contactantes domiciliares (residentes do mesmo domicilio) ✓ Quartéis e orfanatos (dormir no mesmo quarto) ✓ Creche e pré escola (da mesma sala) ✓ Pessoas expostas diretamente às secreções de orofaringe (beijos) ✓ Profissionais de saúde que tenham se exposto a secreções respiratórias sem uso de máscara cirúrgica durante procedimentos. A quimioprofilaxia não está sempre indicada para qualquer profissional da saúde, exceto os incluídos nos critérios acima. A profilaxia deve-se ser feita para que os portadores não desenvolvam a doença. Classicamente a quimioprofilaxia é feita com rifampicina em 4 doses, porém não está disponível isoladamente. VACINAS DA INFÂNCIA: PNI • Vacina meningocócica conjugado sorogrupo C: protege contra a Doença Meningocócica causada pelo sorogrupo C; • Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite. • Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo b, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B. • BCG: protege contra as formas graves da tuberculose. Vacina Meningocócica conjugada quadrivalente —ACWY •As sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) recomendam o uso rotineiro dessa vacina para crianças, adolescentes e adultos. Na impossibilidade de usar a vacina ACWY, deve-se utilizar a vacina meningocócica C conjugada. •Para crianças, a vacinação deve iniciar aos 3 meses deidade com três doses no primeiro ano de vida e reforços aos 12 meses, 5 anos e 11 anos de idade. • Para adolescentes que nunca receberam a vacina meningocócica conjugada quadrivalente — ACWY, são recomendadas duas doses com intervalo de cinco anos. •Para adultos, dose única 11 AV2– Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe VACINAS NO ADULTO • HIV positivo: ✓ Men C, ✓ pneumo 13 V, ✓ pneumo 23 V • Idosos, doenças crônicas: Pneumo 23 V • Portadores de neoplasia: Pneumo 13 V PARA NÃO ESQUECER!!! • Meningite é uma condição muito grave • Requer início de tratamento antimicrobiano imediatamente. Pode liberar do isolamento após 2 doses de ceftriaxone (2g EV de 12/12hrs) • Coletar hemoculturas antes • Coleta líquor antes • Se possível! Principais referências utilizadas • Harrison’s Textbook of Medicine • Guia de Vigilância em Saúde: volume único [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde – 3ª. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. • Boletinsepidemiológicos do Ministério da Saúde. • Consenso da Infectious Diseases Society of America (IDSA) • Review 2018. Davis LE. Acute Bacterial Meningitis.American Academy of Neurolog
Compartilhar