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_Apostila_Modulo_1246_8._HERMENEUTICA (1)

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2 
ÍNDICE 
 
1. INTRODUÇÃO 
1.1. O sentido profundo do texto 
1.2. Minúcias sobre a Bíblia Sagrada 
1.3. A questão da autoria 
1.4. Ataques contra a Bíblia 
1.5. A definição de Hermenêutica e termos relacionados 
1.6. Funções da Hermenêutica 
2. A BÍBLIA SAGRADA 
2.1. Particularidades sobre a Bíblia 
2.2. Por que a Bíblia não pode ser considerada um clássico? 
2.3. Por que a Bíblia não caiu no esquecimento? 
2.4. As consequências da Bíblia 
2.5. O poder transformador da Bíblia 
2.6. Dois axiomas sobre a Bíblia 
3. O ESPÍRITO SANTO E A BÍBLIA 
3.1. Restrições acerca da interpretação da Bíblia 
3.2. A participação do Espírito Santo na interpretação bíblica 
4. O ESTUDO NA INTERPRETAÇÃO 
4.1. Questões complementares acerca da leitura da Bíblia 
4.2. A Bíblia pode ser entendida? 
5. A PRÁTICA DA HERMENÊUTICA 
5.1. O Salmo 23 
5.2. Os nomes de Deus 
6. A TRANSPOSIÇÃO DOS ABISMOS 
6.1. Os muitos abismos 
6.2. O abismo cultural 
 
 3 
6.3. O abismo geográfico 
6.4. Abismo linguístico 
6.5. O abismo gramatical 
 
 
 
 4 
INTRODUÇÃO 
O sentido profundo do texto 
E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, 
e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como 
poderei entender, se alguém não me ensinar? E 
rogou a Filipe que subisse e com ele se 
assentasse. E o lugar da Escritura que lia era 
este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; 
e, como está mudo o cordeiro diante do que o 
tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua 
humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem 
contará a sua geração? Porque a sua vida é 
tirada da terra. E, respondendo o eunuco a Filipe, 
disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si 
mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo 
a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe 
anunciou a Jesus. 
Atos 8:30-35 
 
Esses versículos formam uma das histórias mais hermenêuticas da Bíblia Sagrada, 
de forma que quando começamos a perceber os detalhes e desdobramentos dos 
termos, entendemos que há muitos cristãos que estão perdidos em suas leituras, tal 
qual o eunuco.. 
Numa primeira leitura, o texto pode parecer conter pouco sentido, mal passando de 
um relato desimportante. Porém observemos alguns pontos sobre a leitura do texto 
de Isaías: 
1. A mera leitura das palavras da página de uma Bíblia não significa 
necessariamente que o leitor compreenderá seu significado. A 
hermenêutica vem para suprir esse abismo entre nós e a Bíblia. 
2. O episódio do evangelista mostra que uma orientação adequada ajuda 
as pessoas a interpretarem o que lêem na Bíblia Sagrada. Nesse caso, 
Filipe age como um hermeneuta para o eunuco. 
A pergunta é “compreendes o que vens lendo?” Isso indica a 
possibilidade de o leitor não estar entendendo, mas também a 
possibilidade de que entenda. 
Quando o tesoureiro pede que ele o explique, reconhece que não 
consegue interpretar as Escrituras sozinho, necessitando de auxílio. A 
partir disso, podemos entender que Deus tem dado graça a alguns de 
seu servos para suprir nossas dúvidas sobre as Escrituras 
3. Uma terceira lição que pode ser tirada do texto é esta: é necessário que 
reconheçamos que precisamos de ajuda para entender texto, pois 
 
 5 
sozinhos não temos condições de aprender e decifrar esse conjunto de 
histórias. 
4. Há ainda um quarto ponto: devemos sempre nos atentar aos seis 
abismos presentes nos textos da narrativa Bíblica. 
I. Abismo cronológico; 
II. Abismo geográfico; 
III. Abismo cultural; 
IV. Abismo linguístico; 
V. Abismo literário; 
VI. Abismo sobrenatural; 
Esses abismos estão posicionados entre nós e a Bíblia Sagrada. Para 
conhecermos o texto precisamos da hermenêutica que funcionará como 
a ponte de ligação entre o leitor e um livro escrito há muitos anos atrás, 
num lugar, cultura e língua estranhas a nós e sob influência divina. 
 
Minúcias sobre a Bíblia Sagrada 
O que é a Bíblia? Por que na nossa Bíblia há o termo Bíblia Sagrada? Sagrado deriva 
do latim “Sacratu”, e refere-se a algo que merece veneração ou respeito religioso. A 
palavra “bíblia” significa “coleção de pequenos livros”, de forma que o que a torna 
especial é a palavra “sagrada”. 
A origem da Bíblia Sagrada: 
A origem da Bíblia está agregada à história de uma planta muito comum na ribeiro do 
rio Nilo (Egito) chamada papiro (derivada do latim “PAPYRUS”). No Egito, o papiro 
chegava a crescer até a altura de quatro metros. 
Poderá o papiro crescer senão no pântano? Sem 
água cresce o junco? Mal cresce e, antes de ser 
colhido, seca-se, mais depressa que qualquer 
grama. 
Jó 8:11,12 
O que é Papiro? 
É uma matéria prima usada na fabricação do papel. Eles cortavam seu caule e, a 
partir dele, faziam tiras que virariam folhas de papel. Esse papel tornou-se algo tão 
especial que a elite do império romano usava-o para seus escritos, portanto tratava-
se de um material muito caro. 
 
 6 
● É daí que veio a palavra “Bíblia”, porque essa película (ou folha) tirada do caule 
do papiro chamava-se “biblos” (palavra grega que significa “livro”). 
● O plural de “Biblion” em grego é “Biblia”. Bíblia significa, portanto, “os livros” ou 
“coleção de livros”. 
● Do Egito, o papiro passou para a Síria, Sicília e Palestina, que é a terra onde 
foi escrita a Bíblia. 
 
A questão da autoria 
Sendo Deus seu verdadeiro autor, a Bíblia foi escrita por homens inspirados e 
dirigidos pelo Espírito Santo. Cerca de 40 diferentes autores que representavam 19 
diferentes ocupações (pastores, fazendeiros, pescadores, cobradores de impostos, 
médicos, reis, etc.) que viveram num período de cerca de 1600 anos. 
 
Ataques contra a Bíblia 
A Bíblia está traduzida em 2565 idiomas diferentes. Desde 1816 até hoje calcula-se 
que já foram vendidas mais de 6 bilhões de Bíblias. Foi o primeiro livro a ser impresso 
por Gutemberg (1440) e até hoje existe uma cópia desta edição nos EUA. 
 
A definição de Hermenêutica e termos relacionados 
O que exatamente vem a ser hermenêutica? Em que ela difere da exegese ou da 
exposição? A palavra hermenêutica é oriunda do grego “hermeneu” e do substantivo 
“hermeneia”, palavras associadas à mitologia grega, mais precisamente ao deus 
Hermes, o mensageiro de pés alados. Hermes tinha a função de transformar o 
entendimento. 
Afirma-se que foi Hermes quem descobriu a linguagem verbal e escrita, tendo sido o 
deus da literatura e eloquência. Dentre outras coisas, era mensageiro e intérprete dos 
deuses, principalmente de seu pai, Zeus. Assim, o verbo “hermeneu” passou a 
significar o ato de levar alguém a compreender algo em seu próprio idioma. 
Em nossa língua, o verbo “interpretar” às vezes é empregado com sentido de 
explicação e, em outras, tradução. Nas 19 vezes em que o termos “hermeneu” ou 
“hermeneia” aparece, o sentido quase absoluto é de tradução. Assim, o papel da 
hermenêutica é pegar um conteúdo do grego ou hebraico e trazê-lo para o português. 
Assim sendo, a diferença se dá no seguinte: 
 
 
 7 
● Hermenêutica: tem a função de apurar o sentido do texto; 
● Exegese: tem a função de verificar o sentido do texto; 
● Exposição: tem a função de transmitir o texto; 
● Homilética: tem a função de transmitir o sentido do texto sob a forma de 
pregação; 
● Pedagogia: tem a função de aplicar o texto sob forma de ensino; 
 
Funções da Hermenêutica 
A Hermenêutica é uma ciência e, como tal, enuncia princípios, investiga as leis do 
pensamento e da linguagem e classifica seus fatos e resultados. Como arte, ensina-
nos como esses princípios devem ser aplicados e comprova a validade deles, 
mostrando o valor prático que tem na elucidação das passagens mais difíceis. 
Portanto, a arte da Hermenêutica desenvolve e constitui um método exegético válido. 
Em que consiste, então, a exegese e a exposição? A exegese pode ser definida como 
a verificação do sentido do texto bíblico dentro de seu contexto histórico e literal. 
A exposição é a transmissão do significado do textoe de sua aplicabilidade ao ouvinte 
moderno. Enquanto a exegese é a interpretação propriamente dita da Bíblia Sagrada, 
a hermenêutica consiste nos princípios pelo quais se verifica o sentido das 
passagens. 
● A primeira função da hermenêutica é compreender o ambiente histórico e 
cultural do texto; 
● A segunda, explicar o real sentido do texto utilizando de todos os recursos 
linguísticos, históricos, culturais e geográficos substituindo-se de todos os 
recursos explicativos passíveis; 
● A terceira função é transpor os abismos existentes entre o leitor e o texto 
original; 
● A quarta função é auxiliar o leitor a compreender o conteúdo dos escritos; 
A Hermenêutica apresenta três etapas: 
● Observação 
● Interpretação 
● Aplicação 
 
 8 
A observação pode ser assemelhada a um cirurgião abrindo uma região do corpo 
afetada por algum mal. Ao investigar, ele verifica a presença de um tumor, uma 
hemorragia, um tecido com pigmentação anormal ou talvez algum tipo de obstrução. 
A averiguação sucinta algumas perguntas: O que significa isso? Como pode ser 
explicada essa ocorrência? Que tipo de tumor deve ser esse? Observando o que 
vemos no texto bíblico, devemos então manejá lo corretamente: 
Procura apresentar-te a Deus aprovado, como 
obreiro que não tem de que se envergonhar, que 
maneja bem a palavra da verdade. 
2 Timóteo 2:15 
Há dois termos a serem analisados aqui: Manejar (orthotomoulta) e Aprovado 
(dokumo). Dokumo carrega os significado de uma moeda, dessa forma percebemos 
que o apóstolo Paulo assemelha o pregador a uma moeda que soa legitimamente. 
O verbo manejar remete à construção de tendas, onde o corte da pele do animal deve 
ser perfeito para que haja a costura. Orthotomoulta é a combinação de “reto” (ortho) 
e “cortar” (tomeo). 
Como Paulo fabricava tendas, é possível deduzimos que o apóstolos estivesse 
empregando um termo relacionado a seu ofício. Quando fazia tendas, Paulo fazia uso 
de determinados moldes daquela época, de forma que e as tendas eram feitas de 
retalhos de peles de animais costurados uns aos outros. 
Cada pedaço deveria ser cortado de tal forma que se encaixasse bem com as outras 
peças. Assim podemos perceber que Paulo estava dizendo que se os pedaços não 
forem bem cortados, o todo ficará desconjuntado. O mesmo ocorre com as Escrituras: 
se as diferentes partes não forem interpretadas corretamente, a mensagem como um 
todo pode resultar em erro. 
Quer seja no estudo da Bíblia Sagrada, quer seja na sua interpretação, é dever do 
cristão ser preciso, minucioso e exato em suas empreitadas. Ao ler a Bíblia, muitos 
saltam diretamente da observação para a aplicação, passando por cima da etapa 
essencial da interpretação.. 
 
 
 9 
A BÍBLIA SAGRADA 
Particularidades sobre a Bíblia 
● Ela tinha tudo para fracassar; 
● Sua sobrevivência é espantosa; 
● Tem sérios problemas editoriais: 
I. Literários: o grego Koiné é inferior ao grego erudito; 
II. Pequenas contradições; 
III. Frases incorretas; 
IV. Histórias bizarras. Ex: não houve uma reunião de pauta, os 40 autores 
não se encontraram para que cada um soubesse o que iria escrever. 
 
Por que a Bíblia não pode ser considerada um clássico? 
Algumas razões: 
● Porque o escritor do clássico não pode ser do “povão”; 
● O clássico tem que ter apelo estético e chamar atenção dos intelectuais; 
● Tem que ter histórias que nos prendam (Mt 1 e Lc 3); 
● O clássico também não pode ser escrito com gramática pobre ; 
 
Por que a Bíblia não caiu no esquecimento? 
● Segundo Voltaire (nascido em 1694 na França) afirmou em 1776, em 100 anos 
a Bíblia seria apenas uma peça de museu. No entanto, a Bíblia tem 
transformado países, sociedades e milhões de vidas através da história; 
● Em 303 d.C., o imperador Diocleciano mandou queimar cada cópia da Bíblia 
Sagrada; 
● Em 1199, o Papa Inocêncio III proibiu a tradução da Bíblia para a língua 
francesa e mandou matar que a lesse. 
● Em 1564, o Papa Pio IV promulgou a lei que permitia a apenas algumas 
pessoas - os ricos - a leitura da Bíblia; 
● O Papa Clemente VIII proibiu a Bíblia Sagrada; 
 
 10 
● O Rei Ferdinando II mandou queimar aproximadamente dez mil Bíblias na 
praça da cidade; 
● Foi John Wycliffe quem traduziu a Bíblia Sagrada para o inglês. Em 1384, foi 
condenado por heresia. Mataram-no, enterraram seu corpo e tiraram seus 
ossos. Em 4 de maio de 1415, pegaram seus restos mortais e queimaram; 
● A Bíblia foi proibida em vários países: Irã, Iêmen, Afeganistão, Arábia Saudita, 
China, Coreia do Norte, Uzbequistão. 
● A arqueologia, a história, a filosofia e a ciência confirmaram a Bíblia. Nenhum 
outro livro inspirou tantos mártires como as Escrituras Sagradas. 
 
As consequências da Bíblia 
1. Se não fosse a Bíblia Sagrada, não haveria a Reforma Protestante. O pai desse 
movimento é Martinho Lutero. Ele publicou as suas 95 teses na porta da igreja 
em Wittenberg em 31 de outubro de 1597; 
2. Se não fosse a Bíblia, tanto a ciência quanto a literatura tomariam um rumo 
completamente diferente; 
3. Sem a Bíblia, Abraham Lincoln não teria libertado os negros em 1863. Ele 
disse: sem a Bíblia, eu jamais poderia saber o que é certo e o que é errado. 
 
O poder transformador da Bíblia 
● Jorge Lytton (1709 a 1773) era um barão nacionalista inglês, escritor e político. 
Ele queria provar que a conversão de Paulo era uma novela e, estudando a 
Bíblia, acabou por se converter, passando a escrever sobre o apóstolo Paulo; 
● William Ramsey era um especialista em História Romana. Ele quis investigar 
a história do apóstolo Paulo e acabou se convertendo no processo; 
● Lew Wallace (1872 a 1905) queria redigir um livro para detonar a Bíblia, mas 
acabou se convertendo, tornando-se autor de Ben-Hur; 
● Antony Flew era considerado o maior filósofo do século XX. Decidiu ler a Bíblia 
Sagrada e se converteu, acabando por escrever o livro “Um ateu garante: Deus 
existe”; 
 
 
 
 
 
 11 
Dois axiomas sobre a Bíblia 
Um axioma é uma verdade evidente por si mesma. Isto é, é uma afirmação aceita 
sem que seja necessária a apresentação provas para demonstrar sua validade. Assim 
sendo, podemos destacar dois axiomas acerca das Sagradas Escrituras: 
1. A Bíblia é um livro humano: embora a Bíblia seja uma obra sobrenatural de 
Deus, é sempre importante nos atentarmos ao fato de que ela também é um 
livro como qualquer outro. 
As Sagradas Escrituras foram escritas em idiomas que permitissem a 
comunicação de conceitos aos leitores. Assim sendo, os sinais ou símbolos da 
Bíblia foram nela colocados por meio da ação de escritores humanos com o 
objetivo de comunicar uma mensagem a alguém. 
Essa é, afinal, a finalidade da comunicação por escrito: ajudar os leitores a 
entenderem determinada coisa, isto é, transmitir uma ideia. A comunicação 
falada ou escrita sempre contém três elementos: 
● Aquele que fala, isto é, que busca transmitir a ideia que tem em mente 
utilizando-se de símbolos linguísticos compartilhados por ele e seu 
interlocutor; 
● A mensagem, isto é, a ideia do orador ou escritor codificada em forma 
de texto; 
● Os ouvintes, isto é, os receptores da mensagem compartilhada por 
aquele que fala; 
Este axioma apresenta as seguintes características: 
● Cada palavra foi registrada em linguagem escrita obedecendo os 
sentidos gramaticais; 
● Todo texto foi escrito para alguém que se encontrava num contexto 
histórico e geográfico; 
● O escrito foi afetado pelo meio cultural em que cada autor o escreveu; 
● Cada texto era entendido tendo em mente seu contexto; 
● Cada escrito bíblico adquiriu o caráter do estilo literário específico; 
2. A Bíblia é um livro divino 
Na qualidade de veículo de comunicação, as Sagradas Escrituras são um livro 
tal como qualquer outro, onde as palavras foram registradas pelas mãos de 
pessoas com linguagem humana. Dessa forma, o primeiro axioma manda-nos 
prestar atenção nas regras naturais de gramáticae sintaxe. 
 
 12 
No entanto, a Bíblia é também um livro singular, diferente de qualquer outro na 
história do universo, porque nos foi dado pelo próprio Deus, o que fica evidente 
por meio de suas próprias reivindicações de inspiração: 
Toda a Escritura é divinamente inspirada, 
e proveitosa para ensinar, para redargüir, 
para corrigir, para instruir em justiça; 
2 Timóteo 3:16 
Embora Deus tenha usado autores humanos para escrever as Escrituras, as 
palavras que registraram foram inspiradas por Ele. Assim sendo, inspiração é 
a obra sobrenatural do Espírito Santo por meio da qual Ele orientou e 
supervisionou os escritores bíblicos para que o que colocassem no papel fosse 
a palavra de Deus. 
Essa supervisão dos escritos constitui uma ação verbal e completa. É verbal 
pelo fato de o Espírito Santo ter orientado a escolha das palavras (que não 
podem ser divorciadas dos pensamentos), e completa porque abrangeu todos 
as textos da Bíblia. A Bíblia é, portanto, infalível quanto à verdade é definitiva 
em autoridade. 
A palavra grega para inspirado é “Teopneustia” cujo sentido é “soprado por 
deus”. Devido à sua origem de natureza divina, a versão original da Bíblia 
Sagrada se vê completamente livre de erros ou inconsistências. 
A maneira como o Espírito Santo proporcionou sua inspiração é apresentada 
em 2 Pedro 1:21: 
Porque a profecia nunca foi produzida 
por vontade de homem algum, mas os 
homens santos de Deus falaram 
inspirados pelo Espírito Santo. 
2 Pedro 1:21 
Os escritores registravam as palavra que Deus lhes dava a medida que eram 
movidos pelo agir do Espírito. Este orientava o que escreviam, como no caso 
de um veleiro que é conduzido com o vento. Pelo meio da inspiração, eles 
relataram por escrito as verdades que Deus revelou sobre Si mesmo aos 
autores. 
O segundo axioma revela-nos, portanto, que: 
● Pelo fato de ser um livro divino a Bíblia é inerrante; 
● Sendo um texto de autoria divina, é fonte inesgotável de sabedoria; 
● Na condição de literatura inspirada, apresenta total e perfeita unidade e 
coesão; 
 
 13 
● Por ser divina, a Bíblia Sagrada apresenta muitos mistérios. 
 
 
 14 
O ESPÍRITO SANTO E A BÍBLIA 
Restrições acerca da interpretação da Bíblia 
Todo aquele que não for regenerado não pode compreender totalmente o significado 
da Bíblia Sagrada, ou seja, quem não é salvo está cego espiritualmente para os 
mistérios revelados nas Escrituras. 
Nos quais o deus deste século cegou os 
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não 
resplandeça a luz do evangelho da glória de 
Cristo, que é a imagem de Deus. 
2 Coríntios 4:4 
Um dos primeiros obstáculos para a correta interpretação da Bíblia Sagrada é a 
regeneração. Um homem comum não tem esperanças de compreender o texto em 
seus sentidos mais profundos. 
Ora, o homem natural não compreende as coisas 
do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; 
e não pode entendê-las, porque elas se 
discernem espiritualmente. 
1 Coríntios 2:14 
Evidentemente, isto não significa dizer que quem não é salvo não tem condições 
intelectuais de entender o que as o texto das Escrituras dizem. Antes, significa afirmar 
que tal indivíduo não possui a capacidade espiritual de receber e assimilar as 
verdades espirituais encontradas na Bíblia. 
Martinho Lutero certa vez disse que os regenerados podem entender a gramática de 
João 3:16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, 
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, mas eles 
não agem em decorrência dos atos ali descritos. 
É nesse sentido que são incapazes de conhecer as coisas do Espírito de Deus. Quem 
não é salvo não acolhe as verdades das Escrituras porque elas atingem em cheio a 
natureza pecaminosa. 
A hermenêutica de 1 Coríntios 2:14 revela-nos que o verbo traduzido como “aceitar” 
é “dechomai”, que significa “acolher”. Isso quer dizer que uma pessoa em quem o 
Espírito Santo não habita pode entender mentalmente o que a Bíblia diz, mas rejeita 
a mensagem e se recusa a assimilá-la. O termo é o mesmo usado nos seguintes 
versículos: 
Ora, estes foram mais nobres do que os que 
estavam em Tessalônica, porque de bom grado 
receberam a palavra, examinando cada dia nas 
Escrituras se estas coisas eram assim. 
Atos 17:11 
 
 15 
E vós fostes feitos nossos imitadores, e do 
Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, 
com gozo do Espírito Santo. De maneira que 
fostes exemplo para todos os fiéis na macedônia 
e Acaia. 
1 Tessalonicenses 1:6,7 
O primeiro obstáculo entre o leitor e o texto é que a natureza pecaminosa não 
consegue assimilar a verdade por estar num nível muito inferior a ela. 
A passagem de 1 Co 2:14 também afirma que o irregenerado não entende as coisas 
espirituais. O verbo “compreender” não implica intelecto, mas sim a experiência de 
vida. O que não é salvo não é capaz de experimentar a palavra de Deus porque não 
acolhe suas verdades, pois apenas os regenerados possuem esse poder 
É preciso mais que a regeneração, entretanto. Reverência e interesse por Deus 
também são fundamentais para a correta interpretação das Sagradas Escrituras. Uma 
atitude de apatia ou de arrogância em relação à Bíblia não colabora para o 
entendimento correto da verdade de Deus. As Escrituras são chamadas de Santas, 
devendo ser tratadas como tal.. 
Outros requisitos são o espírito de oração e humildade. O intérprete precisa sempre 
reconhecer que, ao longo dos séculos, outras leitores da Bíblia lutaram para 
compreender o sentido de muitas das mesmas passagens Bíblicas com as quais 
agora ele se depara, e por isso talvez tenham adquirido alto conhecimento sobre 
esses textos das escrituras. 
Da mesma forma, nenhum intérprete é infalível, portanto ele precisa sempre estar 
disposto a admitir a possibilidade de sua interpretação de determinada passagem não 
estar certa. 
Ao ler as escrituras, deve haver também a disposição de obedecê-las, e colocar em 
prática o que foi dito na Palavra de Deus. Quando uma pessoa verifica como o Senhor 
atuou na vida dos personagens bíblicos e compreende os preceitos das instruções 
bíblicas para a vida de cada um, ela deve se dispor a seguir tais exemplos e 
orientações. A não reverência pela palavra revela orgulho, relutância e falta de 
oração: empecilhos para o entendimento do que a Bíblia diz. 
O intérprete também precisa depender do Espírito Santo, pois o Espírito bendito não 
é apenas o autor legítimo da palavra escrita, mas também seu expositor supremo e 
autêntico. 
 
 
 
 
 
 16 
A participação do Espírito Santo na interpretação bíblica 
1. Sua participação não significa que as interpretações de alguém serão 
infalíveis. Inerrância, infalibilidade, essas são características dos manuscritos 
originais, não seus intérpretes. 
2. A obra do Espírito Santo na interpretação não quer dizer que ele desvende 
para alguns intérpretes um sentido oculto diferente do sentido literal da 
passagem. 
3. Como já dissemos, o cristão que esteja vivendo em pecado é suscetível de 
interpretar erroneamente a Bíblia, pois seu coração e mente não estão em 
harmonia com o Espírito Santo. 
4. O Espírito Santo guia-nos a toda a verdade (Jo 16:13), o verbo “guiar” significa 
ir à frente ou conduzir ao longo de um caminho ou estrada. Jesus prometeu 
aos discípulos que o Espírito Haveria de esclarecer e expandir o que ele os 
havia dado. 
Depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu no Pentecostes para 
habitar nos fiéis e os discípulos entenderam então as passagens de Jesus com 
relação à si próprio, sua morte e ressurreição. 
Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele 
vos guiará em toda a verdade; porque não falará 
de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e 
vos anunciará o que há de vir. 
João 16:13 
5. O papel do Espírito Santo na hermenêutica bíblica significa que ele não 
costuma conceder vislumbres intuitivos e repentinossobre o sentido dos textos 
bíblicos. Muitas passagens podem ser entendidas à primeira vista, já o sentido 
de outras só é esclarecido gradualmente, depois de um estudo cuidadoso. 
6. A participação do Espírito Santo na hermenêutica não pressupõe uma atuação 
misteriosa que não se pode explicar nem averiguar. O papel do Espírito Santo 
na interpretação indica que a Bíblia foi dada para que todos os crentes 
entendessem. Sua interpretação não pertence a uma elite minoritária de 
eruditos. 
7. Entretanto, essas exigências espirituais não garantem automaticamente que 
qualquer interpretação da bíblia esteja correta. Estamos falando de pré-
requisitos, não garantias. 
 
 17 
O ESTUDO NA INTERPRETAÇÃO 
Questões complementares acerca da leitura da Bíblia 
Além das questões espirituais, existem outros pontos que facilitam a leitura e o estudo 
da Bíblia. A vontade de estudar é fundamental. Pode-se incluir aí, entre outras coisas, 
o conhecimento dos textos bíblicos, da história da bíblia e da teologia. 
As questões de ordem prática não podem ser resolvidas exclusivamente por meios 
espirituais: não se pode orar a Deus pedindo por informações sobre a autoria de 
Hebreus, por exemplo, e esperar que uma resposta clara venha do céu. 
Semelhantemente, não cabe ao estudioso das Sagradas Escrituras dobrar seus 
joelhos em oração em busca de respostas especiais sobre outras questões 
elementares sobre a Bíblia e esperar por uma revelação exclusiva. 
O estudante a Bíblia precisa aproximar-se das escrituras com equilíbrio e bom senso, 
procurando ser o mais objetivo possível, sem opiniões preconcebidas. Tudo isso quer 
dizer que a média dos leigos não tem condições de entender a Bíblia, precisando 
cursar uma escola bíblica ou um seminário para poder interpretar as Escrituras 
corretamente. 
Evidentemente, isso não implica que as páginas da Bíblia Sejam restritas a uma 
minoria: o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus e é um ser racional, 
emotivo e volitivo. Ele possui a capacidade intelectual de compreender as Escrituras 
como revelação de Deus escrita nas línguas humanas. 
Por outro lado, não podemos eliminar a necessidade de professores. Certas pessoas 
receberam o dom de ensinar, a exemplo dos quase 3.000 discípulos que receberam 
a salvação no dia do pentecostes e perseveravam na doutrina dos apóstolos. 
Pedro e João entravam no templo e ensinavam, e continuaram a ensinar o povo todos 
os dias. Barnabé e Saulo ensinavam a numerosa multidão em Antioquia. Paulo 
permaneceu em Corinto por um ano e meio ensinando, e também o fez em Éfeso, 
publicamente e de casa em casa, foi acusado de ensinar todos em toda a parte, até 
mesmo quando estava preso em Roma. 
Se cada crente fosse capaz de entender completamente as escrituras por conta 
própria, então por que os apóstolos estavam tão envolvidos na tarefa de ensinar os 
crentes? Além disso, por que o dom do ensino é dado a certas pessoas na igreja até 
os dias de hoje? 
Esse ensinamento pode ser transmitido pessoalmente ou mediante instruções 
escritas nos comentários. A atitude de manter-se aberto para receber a direção do 
Espírito Santo por meio de outros pode ajudar o estudante da Bíblia a evitar alguns 
perigos já mencionados. 
 
 18 
 
A Bíblia pode ser entendida? 
Os estudiosos da Bíblia referem-se às vezes à clareza das Escrituras, mas se a Bíblia 
é realmente clara, por que necessitamos de regras ou princípios de interpretação? 
Por que um cristão que vá ler a Bíblia precisaria da ajuda de mestres ou de escritos 
como os comentários conforme acabamos de discutir? 
Certas pessoas respondem que é impossível entender as Escrituras, elas se propõem 
a ler uma passagem bíblica decididas a desvendar seu significado, mas acabam 
descobrindo que este lhes foge ao alcance. Para elas, a Bíblia parece ser tudo menos 
cara. 
Se as Escrituras são claras, pra que discutir a interpretação? Realmente há certas 
passagens da Bíblia que são difíceis de compreender. Acontece, entretanto, que sua 
mensagem é básica e suficientemente simples para que qualquer indivíduo possa 
compreender. 
As Escrituras em si não são obscuras, e os ensinamento bíblicos não estão fora do 
alcance de uma pessoa comum, como já afirmamos. Da mesma forma, a Bíblia 
também não foi escrita para ser um quebra-cabeças, um livro de segredos e enigmas 
concebido de forma confusa e incompreensível. 
O fato de a Bíblia ser um livro é sinal de que foi feita para ser entendida. Na qualidade 
de revelação escrita de Deus, ela revela-nos Seu caráter, planos e regras. Os autores 
humanos cujos escritos foram guiados pela inspiração do Espírito Santo pretendiam 
ser compreendidos, não fazendo uso de enigmas obscurantistas. 
Como disse certa vez Martinho Lutero: o sacerdócio de todos os crentes significa que 
a Bíblia é acessível e pode ser entendida por todos os cristãos. Essa afirmação 
contrapunha-se à pretensa obscuridade da Bíblia sustentada pela igreja católica 
romana, que afirmava que somente a igreja poderia desvendar os significados das 
Sagradas Escrituras. 
Mesmo assim, existem problemas de comunicação entre o escritor original e o leitor. 
O que para o autor era nítido pode não ficar muito claro para o leitor imediato. Daí a 
necessidade de interpretação para remover os obstáculos à comunicação e ao 
entendimento. A exegese e a interpretação são, portanto, necessárias para ajudar a 
expor as clarezas que as Escrituras possuem em si mesmas. 
 
 
 19 
A PRÁTICA DA HERMENÊUTICA 
O Salmo 23 
O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. 
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me 
mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a 
minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, 
por amor do seu nome. Ainda que eu andasse 
pelo vale da sombra da morte, não temeria mal 
algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu 
cajado me consolam. Preparas uma mesa 
perante mim na presença dos meus inimigos, 
unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice 
transborda. Certamente que a bondade e a 
misericórdia me seguirão todos os dias da minha 
vida; e habitarei na casa do Senhor por longos 
dias. 
Salmo 23 
Há quem compreenda imediatamente o significado do texto, mas para aqueles que 
dedicam seu tempo esforçando-se para estudar as escrituras, novas camadas de 
entendimento se fazem manifestas. 
Há leitores que encontrarão dificuldades na interpretação dessa passagem, é aí que 
se precisa entrar no estudo cuidadoso. 
O termo “meu” em “O SENHOR é meu pastor”, por exemplo, funciona como pronome 
possessivo. O texto não afirma, entretanto, que Deus seja propriedade do salmista, 
uma vez que o radical hebraico carrega o significado de comunhão. 
 
Os nomes de Deus 
No Salmo 23, Davi fala sobre os vários nomes de Deus. No Velho Testamento, Deus 
se apresenta com uma miríade de nomes: 
● “O SENHOR é meu pastor” apresenta “Jeová-Raah” 
● “Nada me faltará” e “preparas uma mesa” é “Jeová-Nissi”, o Senhor que provê; 
● “Deitar-me faz em verdes pastos…” implica “Jeová-Shalom”, O Senhor é minha 
paz; 
● “Refrigera minha alma”, “Jeová-Rapha”, o Senhor que cura; 
● “não temeria mal algum, porque tu estás comigo” é “Jeová-Shammah” 
Primeiro o autor fala de Deus, depois passa a dar algumas características das 
ovelhas, estabelecendo paralelos entre a vida cristã e os pastos verdejantes, águas 
 
 20 
tranquilas e o vale da sombra da morte. A ovelha também não enxerga muito bem, 
de forma que deve ser guiada por seu pastor. 
A observação desses fatores torna a leitura muito mais rica, demonstrando a 
importância da quinta observação acerca da participação do Espírito Santo na correta 
interpretação das Sagradas Escrituras: 
● “Muitas passagens podem ser entendidas à primeira vista, já o sentido de 
outras só é esclarecido gradualmente, depois de um estudo cuidadoso.” 
 
 21 
A TRANSPOSIÇÃO 
DOS ABISMOS 
Os muitos abismos 
A Bíblia está muito distante de nós, não sendo escrita na cultura,idioma, circunstância 
e geografia em que vivemos. Existe, portanto, um enorme abismo posicionado entre 
os leitores do século XXI e as Sagradas Escrituras. Para que eu possa aproximar-me 
da Bíblia, preciso transpor esses abismos com o auxílio da Hermenêutica. 
 
O abismo cultural 
Cultura é definida como o conjunto dos moldes de comportamento, crenças, 
instituições e valores espirituais e materiais característicos de determinada 
sociedade, de forma que a cultura envolve o que as pessoas pensam, crêem, fazem 
e produzem. 
Estamos falando de suas crenças, formas de comunicação, costumes, hábitos e 
elementos materiais como ferramentas, habitações, armas, etc. A cultura de um 
indivíduo abrange vários níveis de relacionamento e influências: suas relações com 
outras pessoas e grupos, a função que exerce na família, classe social, nação e 
governo ao qual está sujeito, sua religião, preferências políticas, operações militares 
de seu Estado, suas leis, a arquitetura, agricultura, comércio, economia, geografia, 
literatura, etc… 
Quando abrimos as escrituras, é como se estivéssemos entrando num país estranho. 
Da mesma forma como ficamos confusos com a maneira de agir das pessoas de 
outros países, podemos ficar confusos com o que lemos na Bíblia. Assim, é 
importante conhecermos os personagens bíblicos, o que pensavam, no que 
acreditavam, o que diziam, faziam e produziam... 
À medida em que procedemos assim, temos mais condições de compreender e 
transmitir essas informações com maior grau de exatidão. Se não nos atentarmos a 
essas questões culturais, podemos ser acusados de projetar na Bíblia nossos 
conceitos ocidentais no mundo oriental. 
Transpor o aspecto cultural permite-nos conhecer o sentido literal e socialmente 
designado da palavra, expressão ou hábito. A expressão literal fica aleijada sem o 
estudo das culturas, como acontece com a história bíblica, as questões culturais não 
são pormenores. 
 
 
 
 22 
Política Religião Economia 
Daniel 5:7,16 
Filipenses 3:20 
Jonas 1 
Rute 4:1 
Êxodo 23:19 
1 Reis 19 
Colossenses 2:3 
1 Coríntios 8 
Jó 22:6 
Rute 4:8,17 
Leis Agricultura Vestimenta 
2 Reis 2:9 
Colossenses 1:15, 
1 Samuel 12:17 
Salmos 1:4 
Amós 4:1 
Jó 39:1 
Lucas 13:32 
Marcos 11:12-14 
Provérbios 6:27 
Jó 38:3 
 
 
O abismo geográfico 
Semelhantemente ao caso do abismo cultural, a Bíblia Sagrada foi escrita em 
condições geográficas que muito diferem das nossas. Através do estudo, entretanto, 
és possível que realizemos a leitura das Escrituras como uma forma de adentrar um 
mundo desconhecido, passando a compreender seus mistérios. 
Vida Doméstica Geografia 
Oséias 7:1 
João 13:23 
Tiago 5:14 
Mateus 6:17 
Lucas 7:46 
João 4:4 
1 Samuel 23:29 
Lucas 10:30 
 
 
Há certos princípios a serem observados para se descobrir o real significado dos 
costumes bíblicos. Às vezes fica difícil saber se devemos seguir ou continuar 
discutindo quando abordamos questões de costumes culturais, para tomar essa 
decisão, devemos nos atentar a esses pontos: 
● Veja se o costume naquela cultura tem um significado diferente em nossa 
cultura; 
● Se o costume tem significado diferente para nós, descubra o princípio 
permanente que o norteia; 
● Verifique se esse princípio pode ser expressado num equivalente cultural; 
 
 
 23 
 
Abismo linguístico 
Nossa Bíblias não foram originalmente escritas em nosso idioma. Isso é um fato. 
Tanto a grafia hebraica quanto a grega são distintas. Os textos bíblicos foram escritos 
em hebraico, grego e algumas porções em aramaico. 
Além de possuir diversos vocábulos derivados de outros idiomas do ramo semita, 
quando os hagiógrafos se comunicavam, faziam tanto pela palavra falada quanto pela 
escrita. Para que suas mensagens fossem entendidas em sua completude, precisar 
pelo menos coordenar sua fala e escrita de acordo com a gramática vigente. 
Por sua vez, essa gramática é a língua pela qual as escrituras foram produzidas. 
Como tal, possui sintaxe, morfologia, fonemas e estruturas diferentes da nossa, de 
forma que é quase impossível àqueles que não possuem conhecimento das línguas 
originais entender as escrituras em seu idioma de origem. 
O Hebraico 
O termo “hebraico” deriva-se do patriarca Heber, contemporâneo de Sem. Foi 
de Héber que o povo oriundo de Abraão recebeu o nome de Hebreus. O 
alfabeto hebraico é constituído de 22 letras consoantes, seu formato é 
quadrático e lê-se de trás para frente. Dentro do hebraico não há letras 
maiúsculas e minúsculas. 
O Aramaico 
O aramaico é uma língua dotada de semelhanças do hebraico. Possui o 
mesmo alfabeto do hebraico, diferindo nos sons e, do mesmo modo que o 
hebraico, não possui vogais. Geralmente as partes escritas em aramaico são 
mensagens de gentios a judeus, ou de gentios a gentios, jamais de judeus a 
judeus. São trechos significativos pronunciados nesse idioma do antigo 
testamento. 
O Grego 
O grego é a terceira língua que compõe as Escrituras Sagradas. O novo 
testamento foi escrito na língua grega. A única exceção foi o evangelho de 
Mateus, escrito em aramaico, mas que, por sua vez, foi traduzido para o grego 
Koiné. 
O alfabeto grego consta de 24 letras, sendo a primeira Alfa e última, Omega. 
O grego das escrituras neotestamentárias é denominado grego Koiné, uma 
variação falada por qualquer pessoa. Tornou-se uma língua universal 
principalmente depois das conquistas de Alexandre Magno no ano 330 a.C. 
 
 24 
Todo estudante deve sempre ter em mente que o Novo Testamento é escrito 
em grego, mas com mentalidade semita ou hebraica. Não basta apenas 
conhecer a língua para compreender o Novo Testamento, é também 
necessária empatia com a cultura hebraica. 
O Antigo Testamento foi traduzido do hebraico para o grego Koiné em 
Alexandria no ano 280 a.C. por um grupo de eruditos judeus helênicos. Essa 
tradução foi reconhecida como a septuaginta. 
Ela permitiu que a língua grega absorvesse a cultura hebraica enquanto essa 
assimilava a riqueza de vocabulário e a universalidade do idioma grego. Essa 
união sempre esteve em busca do enlace ou do divórcio, esta é a razão de 
muitos intérpretes procurarem explicar diversos texto bíblicos usando a cultura 
hebraica apesar de o texto estar no grego. 
O Koiné foi tão universalmente difundido que Paulo escreve à igreja em Roma 
não em latim, mas em grego. O grego usado por Lucas e pelo autor de Hebreus 
é o mais literário, enquanto o de Apocalipse, o mais comum. 
Toda a Bíblia foi escrita nessa três línguas por cerca de 40 escritores, muitos dos 
quais sendo responsáveis por escrever mais de um livro. Os autores possuíam as 
mais variadas funções possíveis, desde príncipes até pessoas simples como 
boiadeiros ou pescadores. Todos esses escritores, bem como a cultura de seu tempo, 
deixaram impressões nas Sagradas Escrituras 
 
O abismo gramatical 
Vários fatores destacam a importância de atentar para a gramática bíblica: 
1. A natureza da inspiração: Se cremos que a Bíblia foi verbalmente inspirada 
como esclarecido em outros tópicos, então acreditamos que cada palavra nela 
contida é importante. Talvez nem todas as palavras e frases tenham a mesma 
importância, mas todas elas tem uma finalidade. Do contrário, por que Deus as 
teria incluído? 
A interpretação gramatical é o único método que respeita integralmente a 
inspiração verbal das Escrituras. Se uma pessoa não acredita que a Bíblia foi 
verbalmente inspirada, seria uma contradição, e no mínimo estranho, se ela se 
preocupasse com os aspectos gramaticais. 
2. O objetivo da exegese: o objetivo da exegese bíblica é descobrir o que o texto 
diz e quer dizer. E não atribuir-lhe outro sentido. João Calvino sempre dizia que 
a primeira preocupação do intérprete é permitir que o autor diga o que ele 
realmente disse em vez de lhe impor o que acha que ele deveria dizer. 
 
 25 
Os pensamentos são expressados por meio de palavras, que sãoos elementos 
que constituem as frases. Assim sendo, para descobrir os pensamentos de 
Deus, precisamos estudar Suas palavras e como elas são combinadas nas 
frases. Se negligenciarmos o significado das palavras e a maneira como são 
empregadas, não teremos como saber quais interpretações são corretas. 
A afirmação de que é possível atribuir à Bíblia o sentido que se deseja só é 
verdadeira quando se despreza a interpretação gramatical. 
3. O problema da comunicação: já se constatou que um cidadão comum usa 
aproximadamente 30.000 palavras por dia em conversas normais. Quanto 
mais uma pessoa falar, mais será a probabilidade e ser mal-interpretada. 
Um orador ou escritor pode ser mal interpretado se os ouvintes ou leitores não 
souberem exatamente o que ele quis dizer com determinada palavra ou frase, 
por exemplo. 
Às vezes numa conversa uma pessoa diz para a outra “pensei que estavas 
querendo dizer isso”. Dessa forma, fica mais fácil comunicar o que se quer 
dizer acrescentando outras palavras. 
Nossa meta de estudo da hermenêutica é descobrir com a maior exatidão possível o 
que Deus quis dizer com cada uma das palavra e frases que colocou nas Escrituras. 
Para muitos leitores, o problema agrava-se pelo fato de a Bíblia ter sido escrita em 
outras línguas. Como então conhecer exatamente o significado dos textos sem saber 
o hebraico, aramaico e grego? 
Suponhamos que você abra uma Bíblia em alemão e tente ler. Se você não souber a 
língua e quiser conhecer o sentido das palavras, poderá empregar uma das seguintes 
opções: aprender a língua ou pedir que outra pessoa que saiba alemão traduza. 
O mesmo acontece com a interpretação bíblica. Nosso objetivo é chegar o mais perto 
possível do sentido original, para tanto, precisamos aprender as suas línguas originais 
ou, se não for possível, recorrer a quem as conheça. 
Não queremos dizer com isso que uma pessoa não pode conhecer, estimar e ensinar 
a Bíblia sem conhecer aquelas línguas. Deus já usou muitos expositores capazes que 
não sabiam hebraico, aramaico ou grego para pregar e ensinar. Da mesma forma, a 
vida espiritual de muitas pessoas que não conheciam as línguas originais já foi 
grandemente abençoada ao estudarem uma tradução da Bíblia em sua língua. 
A questão, entretanto, é hermenêutica e consiste em ser possível alcançar uma 
precisão maior quando se conhece as línguas bíblicas. Como se descobre o sentido 
das palavras? Há quatro fatores que determinam o sentido das palavras: 
 
 26 
1. Examinar a etimologia das palavras. Etimologia diz respeito à origem e 
evolução das palavras. Os alvos dela são recuperar o sentido da palavra em 
questão e descobrir como ela evoluiu; 
2. Descobrir o emprego das palavras. Como já dissemos, normalmente a 
etimologia de um termo não ajuda a esclarecer seu significado, portanto 
precisamos descobrir como o autor costuma empregá-lo. 
A maneira como ele a empregou em seu contexto quase sempre ajuda a 
esclarecer o sentido. Isso tem uma importância especial quando certa palavra 
abrange sentidos diferentes dependendo de como é empregada. 
3. Descobrir os significados das palavras semelhantes. Perceber a diferença 
entre uma palavra e seus sinônimos pode ajudar a reduzir o número de 
significados possíveis. 
É importante não atribuir a determinada palavra o sentido de seus sinônimos, 
mas sim procurar descobrir como as palavras apresentam variações de 
sentido. Ás vezes essas variações não são claras, pois os sinônimos podem 
ter sido praticamente idênticos. 
4. Examinar o texto. O exame do contexto é extremamente importante por três 
razões: 
4.1. As palavras, locuções e frases podem assumir sentidos múltiplos, e o 
estudo de seu emprego em determinado contexto pode auxiliar-nos a 
distinguir qual dentre os vários sentidos é o mais provável; 
4.2. Os pensamento normalmente são expressos por uma sequência de 
palavras ou frases, de forma que o sentido de qualquer termo específico 
é quase sempre determinado pelos elementos que o precedem e 
sucedem; 
4.3. Desconsiderar o contexto normalmente acarreta em interpretações 
falsas. A interpretação bíblica deve sempre levar em conta os vários 
tipos de contextos.

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