Buscar

A_FERIDA_NARCISICA_DO_DIREITO_PENAL (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1
AULA 9: A FERIDA NARCÍSICA DO DIREITO PENAL
Profa. Dra. Evelin M. C. Dan
1. LIVRO “Antimanual de Criminologia ” – CAPITULO V 
As feridas narcísicas da civilização:
O valor conceitual ao termo narcisismo foi atribuído por Freud (1912) para compreensão das neuroses traumáticas e psicoses individuais.
Todavia, o conceito narcisismo possibilitará instigante análise da cultura ocidental, de suas expectativas e de suas representações sobre o processo civilizatório. Em outros termos, permite interpretação dos sintomas sociais.
2
Em ensaio publicado na Hungria em 1917, Freud utiliza o conceito para diagnosticar as graves feridas que a investigação científica teria produzido no narcisismo geral, ou seja, no amor próprio da Humanidade. 
Lembra que o homem, seguindo suas impressões sensoriais, acreditava que a Terra, se encontrava em repouso no centro do Universo, e o Sol, a Lua e os planetas giravam ao seu redor.
Com as investigações de Copérnico há a destruição desta ilusão narcisista e o “amor proprio humano sofreu sua primeira ofensa: a ofensa cosmológica”.
3
A última e mais sensível ferida narcísica da cultura seria a de natureza psicológica, exposta pela psicanálise. 
Com a introdução da ideia de inconsciente, o reduto da superioridade humana, a razão (consciência) – enaltecida sobretudo a partir de Descartes –, é destronada.
O trabalho de Freud, na exposição das feridas narcísicas, notadamente no descentramento do eu, rompeu com o ideal moderno de segurança e de previsibilidade, de cálculo e controle racional dos riscos. 
Tudo aquilo que era relativamente estável e inquestionável é volatilizado.
4
2. A primeira Ferida Narcísica do Direito Penal: o Ideal do Controle do Crime Destituído pela Criminologia
O discurso criminológico fundado na sociologia norte-americana que proporcionou a emergência da criminologia crítica a partir da cisão com os paradigmas racionalistas e etiológicos, evidenciou o que poderia ser considerada a primeira ferida narcísica do direito penal.
5
A primeira ofensa ao narcisismo penal seria a relativa ao ideal de eficiência no controle punitivo do delito e do desvio.
A tradição do direito penal moderno foi a de conceber as agências que integram o sistema penal como idôneas e capazes de gerir o controle social através da repressão homogênea das condutas humanas criminalizadas.
6
As investigações criminológicas revelaram ser puramente retórico o discurso da reprodução igualitária da criminalização, pois apesar de estabelecidas universalmente (igualdade formal) as normas definidoras de ilícitos, a atuação das agências ocorre, invariavelmente, de forma seletiva (desigualdade material).
A cifra oculta da criminalidade corresponderia à lacuna existente entre a criminalidade real e as condutas que efetivamente são tratadas como delito pelos aparelhos de persecução criminal (criminalidade registrada).
7
Como variável obtém-se o diagnóstico da baixa capacidade de o sistema penal oferecer resposta adequada aos conflitos que pretende solucionar, visto que sua atuação é subsidiária, localizada e, não esporadicamente, filtrada de forma arbitrária e seletiva pelas agências policiais (repressivas, preventivas ou investigativas).
8
A impunidade é a regra. 
As pessoas criminalizadas concentram minoria em relação ao quadro geral dos delitos, sendo a condição de criminalizado definida a partir de variáveis relativas aos fatores de risco acerca do maior ou menor grau de vulnerabilidade do sujeito em adequar-se aos estereótipos que orientam a programação do sistema penal.
9
3. O Efeito da Lesão ao Narcisismo do Direito Penal na Criminologia
Foi exatamente a ineficiência congênita do direito penal em conter a criminalidade que fomentou a argumentação de Ferri da necessária superação do paradigma racional, estruturado no estudo das normas jurídicas, e o direcionamento das investigações ao delinquente e às causas do crime
10
Assim, a verificação da origem, da criminogênese, permitiria ação profilática e preventiva do resultado delitivo.
Contudo, os estudos sobre os crimes de colarinho branco revelam que as pessoas de classe socioeconômica alta cometem muitos delitos, mas não se enquadram no biótipo ideal de homo criminalis construído pelas escolas etiológicas.
11
4. O Direito Penal no Welfare State
No século XIX, a proteção assumiu a forma minimalista da garantia generalizada da sobrevivência, com o Estado liberal a deixar à esfera privada a gestão das condições materiais de existência. 
No século XX, as missões do Estado alargam-se, para além da simples sobrevivência, a garantia de certa qualidade de vida: “Estado social”.
12
12
A estrutura do direito penal é modificada.
Inclusive no que tange aos fundamentos e fins da pena. 
Neste modelo de providência ( Estado do bem estar social) importa a reintegração do criminoso no mercado de trabalho. 
13
5. Expansão do Direito Penal:
A ampliação do rol dos bens jurídicos (ex. crimes contra a organização do trabalho, contra o sistema previdenciário) 
e, em consequência, do sistema penal como instrumento de proteção, projeta a maximização dos aparatos de controle.
14
Contudo importante perceber que, mesmo direcionando a repressão penal à ampla gama de condutas, permanecem praticamente inalterados os quadros de seletividade operados na criminalização adquirindo a pena, na atualidade, a função real de controle das massas inconvenientes e a simbólica de tutela dos novos interesses sociais.
15
Apesar de a criminologia, durante as últimas décadas, demonstrar empiricamente a disfunção do controle penal e a incapacidade de o sistema cumprir suas promessas oficiais, fundamentalmente em relação aos fins da pena (ressocialização, intimidação e coesão social) e aos fins do próprio direito penal (proteção de bens jurídicos), a dogmática (ciência) segue reproduzindo discurso que, ao invés de instrumentalizar o projeto político criminal de mínima incidência, atribui fins e funções positivas à intervenção, potencializando e relegitimando a intervenção do sistema criminal.
16
A potência narcísica do discurso punitivista é exposta quando da atribuição ao direito penal da responsabilidade de garantir a proteção dos principais interesses da Humanidade, inclusive dos interesses das gerações futuras.
17
6. As Funções (Reais) do Direito Penal no Estado-Penitência
Na visão dos gestores da política econômica internacional, o Estado de Bem-Estar havia se tornado verdadeiro mastodonte, incapaz de cumprir suas promessas.
A saída para a proclamada crise seria a minimização do Estado com a flexibilização dos direitos sociais e a privatização das empresas públicas prestadoras de serviços, ações direcionadas à redução do déficit fiscal.
18
O incremento do projeto político de enxugamento do Estado produziu, a partir da década de 80, nos países centrais de economia avançada, o desmonte do Welfare State.
O efeito deste processo é a descartabilidade do valor pessoa humana. 
Compreende-se, neste quadro político, a formação de condições de irrupção de políticas criminais igualmente sustentadas na exclusão, para determinadas pessoas, do status de cidadão – v.g. direito penal do inimigo.
19
Ao descartar a pessoa como valor em razão de ser considerada supérflua, projeta-se a necessidade de maximização do poder policialesco de coação direta.
A alternativa ao Estado-providência, portanto, passa a ser a edificação do Estado penitência, configurando máxima que parece ser a palavra de ordem na atualidade: Estado social mínimo, Estado penal máximo.
20
Tudo porque algum lugar deve ser reservado aos inconvenientes – “nas atuais circunstâncias, o confinamento é antes uma alternativa ao emprego, uma maneira de utilizar ou neutralizar uma parcela considerável da população que não é necessária à produção e para a qual não há trabalho ‘ao qual se reintegrar’”.
21
Constrói-se, pois, saída plausível para aqueles que foram destituídos ou que nunca chegaram a ter cidadania: a marginalização social potencializada pelo incremento da máquinade controle penal, sobretudo carcerária.
22
Para refletirmos:
Dahrendorf é mais drástico ainda em sua anamnese: “certas pessoas (por mais terrível que seja colocar no papel) simplesmente não servem: a economia pode crescer sem a sua contribuição; de qualquer ponto de vista que se considere, para o resto da sociedade essas pessoas não são um benefício, mas um custo.”
23

Continue navegando