Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico Sífilis - Treponema pallidum Introdução A sífilis é uma infecção venérea crônica causada pelo espiroqueta Treponema pallidum. Tal bactéria tem como único hospedeiro natural o ser humano. Ademais, a virulência do treponema tem relação com a sua rápida motilidade, quimiotaxia e habilidade de aderir às células. Em ambiente externo, sofre rápido ressecamento, mas pode sobreviver por até 10 horas em superfície úmida. Além disso, ele é sensível ao sabão e outros desinfetantes. Transmissão Ocorre principalmente pelo contato sexual. Ou seja, o parceiro não infectado, a partir das próprias microfissuras na pele ou pelas membranas de mucosas, recebe o pallidum advindo da lesão cutânea ou da mucosa do parceiro infectado – com sífilis primária ou secundária. Além da transmissão sexual, há a transmissão de mãe para filho a partir da placenta. Acrescenta-se que a transmissão via transfusão sanguínea é rara. Não existe vacina. O contato prévio com o agente não confere imunidade protetora havendo, portanto, novas reinfecções. Patogenia O Treponema pallidum se dissemina rapidamente através dos vasos linfáticos e sanguíneos. Tal habilidade é uma das explicações para a ampla manifestação clínica, que pode ser subdivida em estágios primário, secundário e terciário. Sífilis Primária Em média 21 dias depois da infecção, aparece a primeira lesão. Tal lesão se inicia a partir de uma pequena pápula firme que cresce, sofre erosão e forma uma úlcera indolor com margens endurecidas e definidas, com base úmida. Ademais, essa lesão é popularmente denominada de “cancro duro”. Não obstante, o cancro tende a se resolver sozinho em 4-6 semanas. “Úlcera formada a partir da erosão de uma pápula”. FONTE: Fisiopatologia Porth “Pequena pápula firme”. FONTE: Patologia Básica Robbins. MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico Sífilis Secundária Em média dois meses após o desaparecimento do primeiro cancro, as lesões desse estágio aparecem. Ao contrário da primeira lesão, essa pode ser macupapulares, escamosas ou pustulosas. O acometimento das palmas das mãos e solas dos pés é comum. Além disso, nas regiões úmidas do corpo, como a anogenital, podem aparecer lesões denominadas de condilomas planos – condylomata lata. Até lesões superficiais na cavidade oral podem acontecer. Ao exame histológico da lesão, observa-se uma endarterite proliferativa acompanhada de infiltração inflamatória lindoplasmocitária. Tais lesões costumam se resolver sozinhas, e a partir de sua resolução, a doença entra na fase latente inicial com duração média de um ano. Ademais, é comum adenomegalia nos linfonodos cervicais e inguinais. Ao realizar análise histológica em tais linfonodos, observa-se hiperplasia dos centros germinativos associadas ao aumento no número de plasmócitos. Sífilis Terciária Costuma se manifestar após cinco anos ou mais do estabelecimento da fase latente inicial. Não obstante, as complicações desse estágio da doença, são subdividas em categorias: - Sífilis cardiovascular: manifesta-se sob forma de aortite sifilítica. Representa um pouco mais de 80% dos casos de complicações por sífilis terciária. No sistema cardiovascular, ocorrem retrações fibróticas da camada média da aorta torácica com formação de aneurismas. Esses aneurismas provocam dilatação do anel da valva aórtica e causam insuficiência aórtica. - Neurossífilis: corresponde cerca de 10% dos casos. É mais frequente nos indivíduos portadores simultâneos com HIV e sífilis. - Sífilis terciária benigna: caracteriza-se pelo desenvolvimento de gomas que se distribuem em diferentes regiões do corpo. Todavia, são comumente encontradas nos ossos, pele e nas mucosas das vias áreas superiores e boca. Não são altamente infecciosas. São casos raros. Sífilis Congênita Como dito anteriormente, a sífilis pode ser transmitida pela placenta, principalmente se a mãe estiver com a doença no seu estágio primário ou secundário – devido aos números espiroquetas. A placenta apresenta um aspecto aumentado, pálido e edematoso. Microscopicamente, observa-se endarterite proliferativa que envolve os vasos fetais, reação inflamatória mononuclear e imaturidade vilositária. De modo geral, as manifestações da sífilis congênita são subdividias em: 1) Natimortalidade: observa-se nos fetos hepatomegalia, anormalidades ósseas, fibrose pancreática e pneumonite. 2) Sífilis infantil: são manifestações clínicas observadas nos bebês nascidos ou nos primeiros meses de vida. Comumente apresentam rinite crônica, lesões mucocutâneas, e até alterações viscerais e esqueléticas observadas no subgrupo anterior. 3) Sífilis congênita tardia: diz respeito a doença não tratada e com mais de dois anos de duração. Suas manifestações clássicas incluem: “As lesões cutâneas da sífilis são abundantes em espiroquetas, portanto, são altamente infecciosas. MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico - Tríade de Hutchinson: dentes incisivos centrais entalhados em forma de V; queratite intersticial com cegueira e surdez causada pelo dano no oitavo par de nervo craniano. - Canela de sabre: inflamação crônica do periósteo da tíbia. - Molares em forma de amora: dentes Morales deformados. - Meningite crônica. - Nariz em sela: coriorretinite em goma do osso e da cartilagem nasal. Diagnóstico Exames diretos O exame em campo escuro se utiliza da amostra do exsudato seroso das lesões ativas, da sífilis primária – melhor momento - e secundária. Sensibilidade varia de 74% e 86%, e especificidade até 97%. É um teste que usa o microscópio com condensador de campo escuro. Possui baixo custo. Mesmo que o exame seja negativo, ele não exclui sífilis. Além disso, o treponema pode ser identificado mesmo antes da soroconversão, ou seja, da produção de anticorpos. A pesquisa direta com material corado possui menor sensibilidade que o exame anteriormente citado. A amostra deve ser coletada do mesmo modo que a do campo escuro. A diferença é a utilização de corantes. Testes imunológicos Na maioria dos casos, tais testes detectam os anticorpos a partir de dez dias do aparecimento da lesão primária da sífilis. Os testes não treponêmicos detectam anticorpos anticardiolipina – antígeno presente nos tecidos do hospedeiro ou das próprias células treponêmicas. Ademais, tal teste pode ser qualitativo (detecta a presença ou não de anticorpos) e o quantitativo (estima a quantidade de anticorpos). Tais dados qualitativos e quantitativos são importantes para estimar a fase da infecção, bem como a resposta ao tratamento. Geralmente, eles se tornam positivos a partir de 4-6 semanas após a infecção. São muito sensíveis para sífilis secundária. Ademais, existem quatro tipos de testes não treponêmicos: I. VDRL: consiste no uso de suspensão antigênica composta por uma solução alcoólica contendo cardiolipina, colesterol e lecitina purificada e utiliza soro inativado como amostra. II. PR, USR, TRUST: são modificações no teste VDRL. O que acontece com a amostra nesses testes? Colesterol, lecitina e cardiolipina se ligam e formam micelas. A partir daí os anticorpos anticardiolipinas – presentes na amostra -, ligam-se às cardiolipinas das micelas, resultado no processo de floculação. A depender do teste, pode ser visto ao microscópio ou olho nu. Ademais, nesses testes são identificados os anticorpos IgM e IgG. Entretanto, tais anticorpos não são produzidos exclusivamente a partir da infecção pela sífilis, podendo haver falso-positivo. Acrescenta-se que, caso o teste quantitativo for reagente, recomenda-se o teste qualitativo. Na sífilis secundária pode haver o fenômeno de prozona nos testes não treponêmicos,onde a grande produção de anticorpos pode resultar em falsos-negativos. Observações sobre os testes não treponêmicos A) Baixa sensibilidade na sífilis primária, latente e tardia, mesmo com a presença do cancro. Por isso, a visualização direta dos espiroquetas pela histologia da lesão, pode ser o único jeito para confirmar diagnóstico. MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico B) Até 15% dos resultados positivos para VDRL podem não estar relacionados com a sífilis, como na síndrome do anticorpo antifosfolipídico. C) Prós: é o baixo custo e a ampla disponibilidade nos laboratórios. Testes treponêmicos Utilizam lisados completos de T. pallidum ou antígenos treponêmicos recombinantes e detectam anticorpos específicos (geralmente IgM e IgG) contra componentes celulares dos treponemas. Ademais, tais testes são bons para diagnóstico na sífilis primária, latente e tardia. Além disso, quando o teste treponêmico e não treponêmico são reativos, é possível confirmar o diagnóstico para sífilis. Acrescenta-se que tais testes não são recomendados para acompanhar avaliar a evolução do tratamento. Lista-se: A) Teste de anticorpos treponêmicos fluorescentes com absorção –FTA-Abs: é o primeiro teste positivar após a infecção por T.pallidum. Utilizam-se os antígenos do T.pallidum, que são fixados na lâmina, e a imunoglobulina anti-humana (antigamaglobulina) marcada. Se houver anticorpos anti-T.pallidum na amostra, eles se ligação aos antígenos fixados – complexo antígeno-anticorpo. Em seguida, as antigamaglobulinas se ligam a esse complexo. A partir daí os treponemas podem ser visualizados. B) Ensaio imunossorvente ligado à enzima – ELISA. C) Teste imunológico com revelação quimioluminescente e suas derivações. D) Testes de hemaglutinação e aglutinação. E) Testes rápidos treponêmicos: utiliza-se a amostra de sangue a partir da digital ou punção venosa, além da amostra de soro e plasma. Esses testes utilizam antigenos do T. pallidum e um conjugado composto por antigenos recombinantes de T. pallidum que sao ligados a um agente revelador. Se houver anticorpos anti-T.pallidum na amostra, esses formam um complexo antígeno-anticorpo com os componentes existentes no teste. F) Testes específicos para detecção de anticorpos anto-T.pallidum do tipo IgM. Tratamento Penicilina é o tratamento preferido para sífilis. Em razão do período longo de desenvolvimento das espiroquetas, os níveis teciduais eficazes de penicilina devem ser mantidos por várias semanas. As preparações injetáveis de penicilina de ação prolongada são usadas preferencialmente. Tetraciclina ou doxiciclina é usada para tratar pacientes com alergia à penicilina. As gestantes devem ser dessensibilizadas e tratadas com penicilina porque a eritromicina não erradica infecção fetal. Os contatos sexuais devem ser avaliados e tratados profilaticamente, ainda que possam não ter sintomas da infecção. Observação 1: no que se concerne ao monitoramento da resposta ao tratamento, recomenda-se a utilização do mesmo teste utilizado inicialmente para o diagnóstico. Observação 2: durante a fase terciária, os testes treponêmicos podem tornar-se negativos. E também, persistentemente positivos após o tratamento bem-sucedido. MedResumos – Fisiopatologia e Diagnóstico ---- REVISÃO DE CONCEITOS ---- SÍFILIS ADQUIRIDA RECENTE Sífilis primária: Geralmente consiste em um único cancro no local da inoculação indolor e acompanhado por adenopatia regional bilateral. Sífilis secundária: Doença sistêmica que geralmente inclui erupção cutânea (disseminada e/ ou envolvendo as palmas das mãos e as plantas dos pés), febre, mal-estar e outros sintomas como faringite, hepatite, manchas mucosas, condiloma lata e alopecia. Sífilis latente precoce: Refere-se ao período em que um paciente está infectado com Treponema pallidum, conforme demonstrado por testes sorológicos, mas não apresenta sintomas. A sífilis latente precoce ocorre dentro do primeiro ano da infecção inicial. SÍFILIS ADQUIRIDA TARDIA Sífilis terciária: Paciente com sífilis tardia que apresentam manifestações sintomáticas envolvendo o sistema cardiovascular ou doença granulomatosa (pele, mucosa, tecidos subcutâneos, ossos ou vísceras). Sífilis latente tardia: Período em que um paciente infectado com T. pallidum, conforme de- monstrado por testes sorológicos, mas não apresenta sintomas. A sífilis latente tardia, por definição, ocorre mais de um ano após infecção inicial. Se o momento de uma infecção não for conhecido, presume-se sífilis latente tardia. NEUROSSÍFILIS Pode ocorrer a qualquer momento durante o curso da infecção. Neurossífilis precoce: Pacientes com neurossífilis precoce podem ter meningite assintomáti- ca; meningite sintomática; doença meningovascular (menos comum), isto é, meningite e derrame; perda da visão ou da adição, com ou sem meningite concomitante. Neurossífilis tardia: As formas mais comuns envolvem cérebro e medula espinha (paresia geral e tabes dorsalis). Referências Bibliográficas Fisiopatologia/Sheila C. Grossman, Carol Mattson Porth; [tradução Carlos Henrique de Araújo Cosendey, Maiza Ritomy Ide, Mariângela Vidal Sampaio Fernandes e Sylvia Werdmüller von Elgg Roberto]. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Robbins, patologia básica / Vinay Kumar... [et al] ; [tradução de Claudia Coana... et al.]. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2013. 928 p. : il. ; 28 cm
Compartilhar