Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Unidade I – Seção 3 – A leitura Menino lendo um livro. Fonte: https://pixabay.com/en/boy-reading-studying-books-286240/ Leitura e diversidade de gêneros Quando dizemos “leitura”, estamos nos referindo a uma das formas mais antigas de apropriação de informações, já inventadas pelo homem. Com efeito, na origem das sociedades, o ser humano encontrou na leitura uma maneira de absorver mais objetivamente informações, para que pudessem ser ampliadas e ressignificadas, alterando a sua relação com o mundo. Assim, a leitura favoreceu o desenvolvimento das sociedades humanas, na medida em que possibilitou, às novas gerações, o acesso a toda uma gama de saberes já descobertos e estruturados pelas gerações anteriores, registrados nos mais variados tipos e suportes de escrita. Em outras palavras, a leitura significou para o homem a possibilidade de acumular conhecimentos de maneira exponencial, o que se traduziu em avanços sociais e tecnológicos inimagináveis no período anterior à sua invenção. A leitura é um processo cognitivo delicado, que não se esgota no simples ato de extrair informações de um texto. Mais do que isso, a leitura supõe a recriação das ideias contidas no texto pelo leitor. Ou seja, o autor escreve, mas o seu texto só ganhará sentido, finalidade e razão de existir quando apropriado, interpretado e ressignificado pelo leitor. Para Soares (2000, p. 18), “Leitura não é esse ato solitário; é interação [...] entre indivíduos, e indivíduos socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e com os outros”. Diante disto, percebemos que ler um texto é mais do que decifrar os seus códigos para apreender as suas informações superficiais. Ler, de verdade, é se apropriar das informações contidas no texto para ressignificá-las, para torná-las parte do que pensamos e sentimos. Por isto, não adianta muito o leitor consumir rapidamente as palavras do texto, ou mesmo tentar decorá-las. Talvez assim ele até consiga memorizar algumas informações pontuais, que logo serão esquecidas. A leitura em profundidade deve ser feita sem pressa, com calma, parcimoniosamente. O leitor deve deixar as ideias lidas decantar dentro de si, deve avalia-las e relacioná-las a outras ideias (talvez às suas próprias). Só assim a leitura cumprirá a sua função de desvendar a própria realidade e proporcionar o verdadeiro saber. No mundo contemporâneo, são inúmeras as possibilidades de leitura. Desde o momento em que somos alfabetizados, passamos a ler indiscriminadamente, não apenas no ambiente escolar, mas, sobretudo, no nosso cotidiano, o que implica o domínio de uma infinidade de gêneros de leitura, essenciais à compreensão do ambiente que nos cerca. Estes gêneros vão desde os mais tradicionais, como as cartas ou os jornais, até os mais recentes, como o e-mail ou as mensagens no Facebook. É importante notarmos que cada um destes gêneros possui estilo próprio, bem como função social específica e linguagem definida. Se analisarmos, por exemplo, as mensagens lidas nos outdoors, podemos perceber que atendem a uma necessidade de fomentar desejos de consumo na mente doleitor. Para tanto, aescrita dooutdoor se vale deumestilo ágil, criativo, fundamentado numa linguagem dinâmica e sedutora. Por outro lado, quando lemos a bula de um remédio, notamos a primazia da informação direta, objetiva, engajada numa linguagem altamente técnica, às vezes, apenas dominada por especialistas. Isto ocorre porque a escrita da bula deve informar imediatamente ao usuário/consumidor a indicação daquele medicamento, sua posologia, possíveis efeitos adversos, etc. Observe os dois textos abaixo. Ambos tratam das mudanças que a internet provocou em nossas vidas. Mas observe como eles são diferentes entre si. Isto ocorre, porque pertencem a gêneros diferentes, com estilos, funções e linguagens próprios. O texto 1 pertence ao gênero quadrinhos, possui um estilo leve, acessível, colorido, voltado ao entretenimento. A sua linguagem prioriza os elementos visuais da mensagem. Texto 1 Tirinha de Nina Paley. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_da_permiss%C3%A3o O texto 2 pertence ao gênero jornalístico. Por isto, foi redigido num estilo formal, embora igualmente acessível. Trata-se de um texto objetivo, cuja função é informar osleitores sobre fatos ocorridos. A sua linguagem está ancorada naescrita convencional, demaneira aimprimir credibilidade eisenção ao conteúdo emitido. Texto 2 Reportagem do Jornal do C omércio. http://www.ienoticia.c om.br/wp-content/uploads/2012/02/PPP-Adv-Jornal-do-C omercio-RS http://www.ienoticia.com.br/wp-content/uploads/2012/02/PPP-Adv-Jornal-do-Comercio-RS Leitura e vida universitária Menina lendo um livro. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dislexia Ao longo da vida acadêmica, lemos, basicamente, os gêneros textuais típicos da literatura científica (livros, capítulos, artigos, ensaios, relatórios de pesquisas etc.). Este SAIBA MAIS Embora no nosso componente curricular priorizemos a ideia de “texto” como algo efetivamente escrito, o conceito de texto é muito mais abrangentedoqueisto: textoéoconjuntodeelementos(escritos,visuais ou orais) que atende à necessidade de compartilhar informações entre as pessoas. Assim, podemos ler textos escritos, como acontece na maior parte dos livros, mas podemos também experimentar textos visuais, como quadros ou fotografias. Podemos ainda acessar textos orais, como nas canções, ou mesmo entrar em contato com suportes que contenham todosas formasdetexto: seestamos nocinema, porexemplo,assistindo a um filme legendado, estamos absorvendo, ao mesmo tempo, as imagens do filme, as diálogos, efeitos sonoros e trilha sonora e as próprias legendas. manancial de leitura não constitui apenas mero suporte para realizar as avaliações e se dar bem com as notas. Antes, representa o lastro da nossa formação. Com efeito, não há formação acadêmica sem leitura. Éimportante que nos convençamos de que somos nós que fazemos a nossa carreira (acadêmica e profissional). Por mais boa vontade que tenham os nossos professores, por mais que nos preparem aulas fantásticas, que nos indiquem caminhos novos, a universidade nos exige mais. A universidade não está apenas nos conteúdos estudados nas aulas, nos ritos acadêmicos, nos congressos, palestras, eventos científicos que frequentamos... A universidade está, sobretudo, na nossa vontade de superar o nosso próprio conhecimento. E isso implica leitura. No ensino médio, costumamos ler os textos paradidáticos, nos quais os conteúdos são disponibilizados pontualmente, de maneira que possamos encontrar, condensadas e simplificadas, as informações necessárias tanto ao cumprimento das nossas avaliações escolares quanto para as provações institucionais a que estaremos submetidos: vestibulares, ENEM, concursos públicos, etc. Por outro lado, entramos em contato com a leitura ficcional, representada pelos textos de romancistas, contistas e poetas que lemos nas aulas de Literatura. Ora, nem a leitura paradidática nem a ficcional nos trazem a transcendência necessária à aquisição do conhecimento científico. A literatura científica nos deve proporcionar, além do contato com uma infinidade de novas ideias e teorias, as competências e habilidades necessárias à construção da nossa própria perspectiva teórica. Isso significa que não podemos aceitar, de imediato, as verdades contidas nos textos da Ciência. Antes de admitirmos as verdades dos conhecimentos absorvidos, devemos analisá-las, criticá-las e compará- las a outras ideias científicas. Somente depois disto, podemos assegurar algumas certezas sobre o que aprendemos. Ora, para atingirmos este nível de compreensão teórica,precisamos ler bastante. Mais do que isto, precisamos ler corretamente os autores, de maneiraa formar oque chamamos de “consciênciaepistemológica”. Consciência epistemológica é a capacidade que temos de reconhecer as propostas teóricas danossa área de formação, para nosfiliarmos auma corrente de autores. Ao contrário do que normalmente se imagina, a Ciência não fornece verdades absolutas. Antes, ela aponta caminhos que vão aproximando as sociedades das certezas do seu tempo. Por isto, temos uma grande variedade de métodos científicos, relacionados a linhas epistemológicas específicas. O aluno da graduação deve reconhece-las, sob pena de subaproveitar os seus estudos. SAIBA MAIS Epistemologia é uma palavra que vem do Grego - ἐπιστήμη, Episthème – e que designa o conhecimento superior. Na universidade, o normalmente o termo está circunscrito aos âmbitos da filosofia e da história da Ciência. Entendemos a Epistemologia como o estudo dos mecanismos que determinam as certezas científicas. Leitura e poder na universidade Fonte: https://pixabay.com/en/book-reading-study-learn-fingers-1000348/ Na graduação, temos acesso a um volume excepcional de informações, extraídas dos mais variados contextos: nossos grupos de ambiência, os estabelecimentos de ensino que frequentamos, os meios de comunicação que acessamos, as instituições sociais tradicionais ou recentes que fazem parte da nossa vida. No entanto, todo esse manancial de informações, isoladamente, não traz emsi nenhuma perspectiva de um conhecimento mais complexo, capaz de nos dotar da transcendência do saber — ou seja, de uma capacidade mais apurada de inferência, criatividade e criticidade —, que nos permita não somente compreender a nossa realidade, como também incidir sobre ela, alterando-a sempre que imaginarmos ser conveniente ou necessário. A posse da informação não gera automaticamente formação. Com efeito, nunca antes, emtoda a sua história, o ser humano teve tanto e tão irrestrito acesso à informação. Ironicamente, isto não torna as gerações que nasceram sob a égide da chamada Sociedade da Informação mais intelectualmente capacitadas — tampouco menos — do que quaisquer outras gerações humanas. Apenas há mais oportunidades para a aquisição de conteúdo, o que, em princípio, não traduz capacidade de organizá- los em conhecimentos sólidos e estruturados. Esther Gispert Pellicer afirma: “*...+ O conhecimento adquire-se, pois, quando as diversas informações se inter-relacionam mutuamente, criando uma rede de significações que se interiorizam. *...+” (apud COUTINHO; LISBÔA, 2011, p. 09). Esta rede de significações interiorizadas representa o alicerce do saber transcendente, qualidade de abstração superior na qual está pautada a atividade científica. O saber transcendente é adquirido unicamente da leitura. Até muito recentemente, a ideia de leitura se sustentava na concepção fenomenológica da semiótica, segundo a qual o ato de ler nada mais é do que o reconhecimento mecânico dos códigos linguísticos. O pensamento marxista, entretanto, fomentou a discussão sobre a importância da leitura para a formação de indivíduos críticos, comprometidos coma sociedade. Uma leituraautônoma eautodeterminada, emqueoleitor é sujeito da leitura — e na qual as informações são articuladas para, além de dar sentido, incidir sobre o seu contexto. A leitura deve, portanto, ser assumida como um iminente ato de poder. O exercício da leitura transcende a unidade do texto, interferindo diretamente na nossa autopercepção e na identificação ideológica dos elementos que compõem a nossa realidade. Assim,aleitura écondiçãoessencialna nossaformação nagraduação. No entanto, para Katya Luciane de Oliveira e Acácia Aparecida Angeli dos Santos, a leitura praticada por nós, alunos da graduação, não atende às nossas necessidades acadêmicas, nem contempla o grau de destreza que nos cobram neste nível de formação. De acordo com as autoras: É inquestionável a responsabilidade da leitura em uma educação de qualidade, mas as evidências apontam que diversos alunos saem do ensino fundamental e médio sem essa habilidade. Tais alunos ingressam no ensino superior com sérias deficiências no comportamento de leitura [...]. Fato lastimável, pois no ensino universitário a leitura é primordial, visto que ela dará ao estudante subsídios para o desenvolvimento crítico, cultural e técnico necessário na sua formação (2005, p. 119). Umnúmero considerável de alunos contenta-se como a leitura superficial de capítulos e trechos, de artigos científicos, de apostila ou ainda de material retirado da Rede Mundial de Computadores. Trata-se de uma leitura instrumental, fragmentada, cujo objetivo é absorver imediatamente os conteúdos para realizar as tarefas propostas pelos seus cursos — dentre as quais, figura a pesquisa científica. Com efeito, ao observarmos as dinâmicas acadêmicas contemporâneas, notamos que a leitura integral tem sido cada vez mais relegada ao plano da desimportância. Tentando encontrar atalhos nos processos acadêmicos, optamos por fazer uso de suportes fragmentados de leitura — apostilas, módulos, cópia de capítulos, material obtidoda Internet —,cujo objetivo éiminentemente instrumental: absorver rapidamente os conteúdos das disciplinas para realizar as nossas tarefas. Com o tempo, esta postura termina sendo institucionalizada, cooptando, inclusive, as próprias faculdades, universidades e centros universitários, que passam a oferecer a comodidade dasapostilasetodotipodematerialcaracterístico daCulturadaXerox. Desta forma, não criamos o habito da leitura integral — de livros inteiros —, sem o qual não desenvolvemos a consciência epistemológica. Na nossa história escolar até a graduação, prescindimos da leitura crítica dos livros e do diálogo fecundo com os seus autores. Agora, na universidade, o nosso desafio é, mesmo sem o habito da leitura integral, dominar a gama metodológico-epistemológica necessária à consecução de uma atividade científica. Isto implica seriedade e determinação da nossa parte, mas também exige da universidade uma preocupação maior em municiar de leituras os cursos que envolvam a atividade de pesquisa. Método de leitura L.A.R. (Ler, anotar, resumir) Muita gente sente dificuldade na leitura. Realmente, a leitura não é um processo natural na nossa espécie, ela demanda vigorosa atenção e capacidade de relacionar o conteúdo absorvido à nossa vivência. A leitura na universidade exige ainda algo a mais: a formação da consciência epistemológica. Evidentemente, não é fácil atingir esse nível da leitura, é preciso treinamento diário, de forma que ganhemos familiaridade com o texto científico. Contar com o auxílio de um método de leitura também ajuda bastante. Vejamos um método relativamente simples de potencializar a nossa leitura. Este método é conhecido pela sigla LAR – Ler, anotar, resumir. Basicamente consiste em quatro etapas: 1 - Leiturapanorâmica FONTE: http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=139320&picture=&jazyk=PT SAIBA MAIS No Brasil, os livros são de difícil aquisição por parte de estudantes da graduação, uma vez que sejam caros e exigidos em grandes quantidades nos cursos. Por outro lado, as bibliotecas públicas — e mesmo as bibliotecas das instituições de ensino superior — não costumam oferecer variedade e atualização de literatura científica. Buscando contornar esta situação, os professores universitários disponibilizam pastas de capítulos e trechos dos livros recomendados para as suas disciplinas nos núcleos copiadores das instituições em que trabalham. Este material é largamente consultado por seus alunos, em substituição à compra do livro ou mesmo ao seu empréstimo. Esta situação configura o que chamamos de ―Cultura da Xerox‖. http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=139320&%3Bpicture&%3Bjazyk=PTAssim como as pessoas, os textos nos impõem a sua “personalidade”. Vamos imaginar uma situação de flerte. Quando nos apresentam a alguém, costumamos fazer um esforço mínimo para reconhecer as suas características. Trata-se de um contato inicial que nos dirá se vale ou não a pena aprofundar aquela relação. Se a pessoa nos parecer interessante, iniciamos a paquera. Com os textos, não é diferente: quando travamos contato com um novo texto, normalmente, nada sabemos a seu respeito. É preciso tentar reconhecer as suas características imediatas, para decidir se ele atenderá, ou não, as nossas necessidades acadêmicas. Normalmente, procuramos ser simpáticos com as pessoas que paqueramos, costumamos dar-lhes uma chance de dizer algo sobre si e sobre a sua visão de mundo. Com os novos textos, é preciso que também permitamos que nos digam algo de si e do seu mundo. E o momento de dar esta chance ao texto é a leitura panorâmica. A leitura panorâmica consiste numa leitura superficial, onde o aluno procura identificar o assunto tratado e o ponto de vista que o autor adota para tratá-lo. É necessário que tenhamos alguma paciência com o texto. Assim como não dá para saber tudo sobre alguém no primeiro contato, com o texto, não poderemos nunca esgotar as suas possibilidades de produção de sentidos na primeira leitura. 2 – Nova leitura, buscando resolver os possíveis entraves à compreensão do argumento. FONTE: http://1.bp.blogspot.com/_IoGUYeTGyh0/Sq0ukl1P6nI/AAAAAAAAACE/PKRED5RAAFw/s400/namoro.png Suponhamos que o flerte tenha dado certo e que nós passamos a namorar aquela pessoa. Durante o namoro, é natural que o convívio nos mostre as diferenças e as similaridades de pensamento entre os envolvidos na relação. Também é comum que a pessoa nos apresente alguns traços da sua personalidade que temos dificuldade em entender. Aliás, o namoro existe exatamente para compreendermos estes traços de personalidade, de modo a perceber se seremos capazes de conviver com eles num possível casamento. Nesta segunda leitura do texto, ocorre algo semelhante. Após realizarmos a leitura panorâmica, voltamos a ler o texto, mas, desta vez, o nosso objetivo é encontrar os elementos que criam dificuldades à nossa compreensão. Aqui, o texto nos mostrará os seus “traços de personalidade”, seja na forma de palavras que http://1.bp.blogspot.com/_IoGUYeTGyh0/Sq0ukl1P6nI/AAAAAAAAACE/PKRED5RAAFw/s400/namoro.png desconhecemos, seja apresentando ideias, autores ou teorias sobre as quais nunca ouvimos falar, seja ainda na estrutura da sua redação ou na proposta estética do autor. O importante é que não saiamos desta leitura sem sanar toda e qualquer dúvida que porventura apareça. Devemos nos conscientizar que a leitura de um determinado texto implica consultas frequentes aoutros textos. No mínimo, aleitura do texto científico demanda ouso de umdicionário. Não precisamos ter pressa para fazer esta segunda leitura. Melhor ler devagar e tirar todas as dúvidas do que ler apressadamente e concluir otexto sem compreender todos os seus conceitos. 3 – Terceira leitura, identificando a estrutura do texto. FONTE: http://www.donagiraffa.com/wp-content/uploads/2012/07/Formas-de-economizar-no-casamento.jpg Pronto. Flertamos, namoramos e agora é a hora do casamento! No casamento, a relação é marcada pelo equilíbrio e pelo profundo grau de intimidade. É exatamente isto que devemos buscar desta terceira leitura do texto científico. Devemos realizar mais uma leitura, agora, procurando identificar a estrutura do texto, ou seja, a maneira como o autor organiza as suas ideias. Notem que as ideias, em si mesmas, são homogêneas. Dificilmente poderíamos negar a efetividade de uma ideia. Bom, o texto é feito de uma sucessão de ideias, amarradas por conectivos. Se não podemos cingir as ideias, podemos, pelo menos, verificar a lógica destes conectivos. Imagine que o texto é uma parede, em que as ideias são os tijolos usados na sua construção. Os conectivos representam o cimento que unta as ideias/tijolos. Se quisermos derrubar a parede, não devemos concentrar os esforços nos tijolos, porque são sólidos, mas, antes, devemos mirar no cimento que os une, estes são bem mais frágeis. Vamos a um exemplo bem simples. Veja as duas ideias abaixo: Ideia 1: o dia está bonito lá fora. Ideia 2: gatos só podem ter duas cores; gatas podem ter até três. http://www.donagiraffa.com/wp-content/uploads/2012/07/Formas-de-economizar-no-casamento.jpg Notem que são ideias verificáveis. Se olharmos pela janela e encontrarmos um belo dia de verão nos sorrindo, dificilmente poderíamos negar a Ideia 1. Assim como, com uma simples leitura de um manual de genética felina, comprovaríamos a efetividade da Ideia 2. Percebemos que os tijolos maciços das ideias não são nada fáceis de se quebrar. Agora, observe as duas ideias unidas por um conectivo: Claro que o conectivo “porque” foi escolhido propositadamente para criar uma incoerência argumentativa. Mas isto foi feito para que pudéssemos compreender o quanto os elementos que unem as ideias – o cimento – são mais facilmente refutáveis do queas ideias em si – os tijolos da parede. Quando realizamos a terceira leitura da técnica LAR, devemos nos preocupar em verificar a sustentabilidade dos conectivos, ou seja, devemos observar a consistência do cimento. Na prática, isso significa anotar, num papel ou no computador, cada ideia importante que encontramos nos parágrafos do texto, de maneira que possamos visualizar as relações que o autor estabelece entre elas. Quando estas anotações estiverem concluídas, podemos então organizá-las num esquema, produção visual que nos ajuda a sistematizar as ideias do texto. Os esquemas são muito pessoais e nos ajudam a identificar os argumentos do texto. Podemos construir um esquema na forma de gráfico, ou de organograma, ou ainda por tópicos numéricos (1. - 1.1. - .1.2. - 2. - 2.1...). O importante é que, ao passarmos os olhos sobre o esquema, as ideias do texto possam ser reconstruídas na nossa mente. 4 – Confecção doresumo FONTE: http://colorir.estaticos.net/desenhos/color/201208/familia-feliz-familia-pintado-por-laila-1008300.jpg Ideias unidas: odiaestálindolá fora, porqueosgatos sópodemter duascores e as gatas podem ter até três. http://colorir.estaticos.net/desenhos/color/201208/familia-feliz-familia-pintado-por-laila-1008300.jpg Normalmente, após algum tempo de casamento, aparecem os filhos. Vamos imaginarqueanossa relação como texto chegou aummomento emque nosexigea produção de algo, um“filho” daleitura, por assim dizer. Na técnica LAR, este “filho” é um resumo, que confeccionamos para nos facilitar o nosso acesso ao conteúdo do material lido, sempre que necessitarmos. Devemos ter em mente que a capacidade de armazenagem da nossa memória é limitada. Os detalhes daquilo que lemos agora, no primeiro semestre, serão esquecidos daqui a algum tempo. Então, o resumo nos ajuda a guardar estas leituras feitas, para que as acessemos sempre que necessitarmos delas. A técnica correta para confeccionarmos um resumo acadêmico será aprendida na Seção seguinte, mas, por ora, basta entendermos que o resumo acadêmico não é aquele texto sintético que costumamos imaginar no ensino médio. O resumo acadêmico representa uma maneira de facilitarmos a compreensão das ideias lidas no texto original. Nós já selecionamos as ideias principais do texto e já as disponibilizamos na forma de um esquema. Agora, basta que reescrevamos o esquema e o resumo automaticamente será consubstanciado. Questão reflexiva Agora que você aprendeu a técnica de leitura conhecida pela sigla LAR – Ler, Anotar, Resumir -, faça um pequeno exercício e teste a sua habilidade de produzir uma boa leitura científica. Acesse o texto “A organização da vida de estudos na universidade”, deAntônio Joaquim Severino, e aplique a técnica LAR na sua leitura. O texto está disponível em: www.aureliano.com.br/downloads/severino1.doc Devemos aprender como otimizar a nossa leitura, pois ela é a base da vida mais do que acumular conteúdo. A leitura nos torna aptos a avaliar o mundo de acordo com as nossas próprias crenças. Nesse sentido, ler éumato de poder. páginas da internet, etc.). O ideal é que possamos ler os autores nos seus livros que entendamos o ambiente intelectual proposto na graduação. Ler os autores da Ciência nem sempre é algo agradável. Mas podemos superar as http://www.aureliano.com.br/downloads/severino1.doc Referências ADLER, Mortimer Jerome. Arte de Ler: como adquirir uma educação liberal. Rio de Janeiro: Agir, 1954. P. 287. ADLER, Mortimer J.; VAN DOREN, Charles. Como ler livros: o guia clássico para leitura inteligente. São Paulo: É Realizações, 2010. (Col. Educação Clássica). BORBA, Valquíria C. M.; GUARESI, Ronei (Orgs.). Leitura: processos, estratégias e relações. Maceió: EDUFAL, 2007. P. 184. COUTINHO, Clara; LISBÔA, Eliana. Sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem: desafios para a educação no século XXI. Revista de Educação. Lisboa, v. XVIII, nº 01, pp. 05-22, 2011. FISCHER, Steven Roger. História da leitura. São Paulo: UNESP, 2006. MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 16ª Ed., São Paulo: Atlas, 2014. ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 1988. PERISÉ, Gabriel. Ler, pensar e escrever. 4ª Ed, São Paulo: Arte e Ciência, 2004. (Col. Elementos de criação literária). P. 94. PERROTTI, Edmir. Confinamento cultural, infância e leitura. São Paulo: Summus, 1990. (Col. Novas Buscas em Educação; vol. 38). SILVEIRA, Maria Inês Matoso. Modelos teóricos e estratégias de leitura: suas implicações no ensino. Maceió: EDUFAL, 2005. SOARES, Magda Becker. As condições sociais da leitura: uma reflexão em contraponto. In: ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel T. (Org.). Leitura: perspectivas disciplinares. 5ª. Ed., São Paulo: Ática, 2000. pp. 18-29. YUNES, Eliana (Org.). Pensar a leitura: complexidade. São Paulo: Loyola, 2002. (Col. Teologia e Ciências Humanas; Vol. 05). que visamos encontrar o tema e o posicionamento do autor; 2) nova leitura, cuja funçãoésanarasdúvidassobreoconteúdodotexto;3) maisumaleitura,procurando aestrutura queoautor forneceuaoseumaterial.Estaleituradeveserdisponibilizada
Compartilhar