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A História do Inconsciente

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INCONSCIENTE EM FREUD
O tema do inconsciente tem a idade das civilizações. A convicção da existência da atividade do espírito fora da consciência acordada é atestada por numerosos testemunhos. 
Místicos, sábios, poetas, filósofos tiveram a intuição de processos psíquicos inconscientes.
A maturação desta ideia tem uma longa história que foge aos objetivos deste trabalho. 
O INCONSCIENTE ANTES DE FREUD 
Muitos pensadores admitiram a existência de algo que escapa à consciência imediata e que nem por isso deixa de influenciar o comportamento humano. 
Descartes, porém, ao identificar o psiquismo com a consciência, vai criar involuntariamente um problema habitacional para o inconsciente. 
O INCONSCIENTE ANTES DE FREUD 
	Onde colocar agora os processos mentais inconscientes atestados pela experiência e registrados por tantos pensadores, se tudo o que não é consciência (res cogitans) se reduz a uma realidade material (res extensa)? 
O INCONSCIENTE ANTES DE FREUD 
	Tendo presente este contexto cultural, a descoberta do inconsciente não deve ser entendida como uma ‘descoberta científica’ e sim como uma reação à primazia exagerada da consciência. 
O INCONSCIENTE ANTES DE FREUD 
 Apesar do alastramento do racionalismo por todo o séc. XVII, não faltaram também neste século pensadores que chegaram a conceber os aspectos cognitivos do Inconsciente. 
 Pascal (1623-1662): "O coração tem razões que a própria razão desconhece". 
O Inconsciente no fim do Século XVll 
Malebranche (1638.1677): "A consciência que temos de nós mesmos nos mostra apenas a mínima parte do nosso ser". 
Leibniz (1646-1716) "Nossas idéias claras são como ilhas que emergem de um oceano de idéias obscuras". 
O Inconsciente no fim do Século XVll 
	A partir desse século, não apenas os aspectos cognitivos de inconsciente, mas também os vitais, emocionais e patológicos lhe são associados. 
Rousseau (1712-1778): “os verdadeiros e primeiros motivos da maior parte de minhas ações não são tão claros para mim mesmo como eu pensava por muito tempo”. 
O Inconsciente no Século XVIII 
Hume (1711-1776): O raciocínio empírico [...] nada mais é que uma espécie de instinto ou de poder maquinal que se agita em nós sem o sabermos. 
Platner (1744-1818), A alma não é sempre consciente de suas ideias [...] ideias inconscientes são certamente possíveis. 
O Inconsciente no Século XVIII 
Fichte (1762-1814), o primeiro de uma série de filósofos alemães que fizeram do inconsciente um princípio dinâmico sobre o qual se funda a razão consciente: a luz da consciência nasce da obscuridade do inconsciente. 
O Inconsciente no Século XVIII 
Goethe (1749-1832), o homem não pode ficar muito tempo em estado consciente; ele deve recolher-se no inconsciente, pois lá estão suas raízes. 
Schiller (1759-1805): A poesia parte do Inconsciente. É necessário libertar-se dos entraves da razão crítica e deixar-se levar pelo fluxo de associações livres. 
O Inconsciente no Século XVIII 
	O desenvolvimento da ideia do inconsciente se dá por dois caminhos: o do homem individual e o da natureza. 
Parte do estudo dos processos mentais: A Herbart (1776-1841) cabe o mérito de ter introduzido o conceito de limiar de consciência, além de ter sugerido a existência de pensamentos recalcados inconscientes. As ideias inconscientes só se tornariam conscientes (a percepção) se fossem congruentes com as da consciência. As incongruentes vêm coincidir com as ideias inibidas. 
O Inconsciente na primeira metade do século XIX 
	
A segunda metade do século XIX é o momento das formulações teóricas. 
Fechner (1801-1887): O espírito é como um iceberg, cuja parte maior está debaixo de água e que é movimentado por correntes ocultas e pelos ventos da consciência. 
O Inconsciente na segunda metade do Século XIX 
E. V. Hartmann (1842-1906), no seu famoso livro Filosofia do Inconsciente (3 vol.), publicado em 1869, apresenta uma visão panorâmica da filosofia alemã e da ciência ocidental interpretadas à luz de um único princípio: o de um processo mental inconsciente. 
Nietzsche (1844.1899): Todo alargamento do saber se faz tornando consciente o inconsciente. Todas as nossas motivações conscientes são fenômenos superficiais: atrás do eu está o conflito dos instintos e de nossos humores. 
O Inconsciente na segunda metade do Século XIX 
Schopenhauer (1788-1860), em sua obra mais famosa, O mundo como vontade e representação, refere: Assim, vimos no grau mais baixo a vontade nos aparecer como um impulso cego, como um esforço misteriosos e surdo, distante de toda consciência imediata [...]. Enquanto pensamento cego e esforço inconsciente, ela se manifesta em toda natureza orgânica. 
O Inconsciente na segunda metade do Século XIX 
	
 A enumeração, que segue, não pretende hierarquizar, mas apenas identificar algumas variáveis que estariam em jogo e podem nos ajudar na compreensão do fenômeno. 
 A filosofia romântica do fim do século XVIII, que se desenvolveu prevalentemente na Alemanha, viu no inconsciente a ligação entre o indivíduo e as natureza. 
Tendências que possibilitaram a emergência do Inconsciente 
O impacto das ideias vindas do Oriente, que colocaram em evidência a unidade que permeia o universo todo, do qual o indivíduo não é mais que uma parcela. 
O desenvolvimento da biologia e da teoria evolutiva, ao destacar as tendências orgânicas e a energia vital fortaleceram o fundo biológico do inconsciente. 
Tendências que possibilitaram a emergência do Inconsciente 
A reação ao consciencialismo cartesiano. Não é por acaso que, apesar da grande influência da psiquiatria francesa, do hipnotismo, da histeria, não é na França, marcada pelo racionalismo, mas na Alemanha, onde encontramos a formulação explícita do inconsciente. 
Tendências que possibilitaram a emergência do Inconsciente 
 Em síntese. Por um caminho ou por outro, a ideia do inconsciente começa a aparecer no fim de 1700, se torna atual ao redor de 1800, operante na segunda metade do século XIX. 
 Passa-se de uma descoberta geral da existência do espírito inconsciente dentro do contexto do pensamento pós-cartesiano, para uma tentativa de descobrir a estrutura dos processos mentais inconscientes, especialmente nos estados patológicos. 
 É neste contexto que emerge como um gigante a figura de Freud, mas utilizando a imagem do iceberg de Fechner poderíamos afirmar que ele é apenas a parte emergente; existe todo um contexto cultural submerso sobre o qual, de alguma maneira, se apoia. 
Portanto, se a alguns pensadores coube o mérito da prioridade pela intuição, a Freud coube o mérito da originalidade, visto que as mesmas conclusões são meras coincidências, tendo a elas chegado por outro caminho, o da árdua, lenta e laboriosa pesquisa científica. 
O CORTE EPISTEMOLÓGICO DE FREUD 
“É verdade que a filosofia repetidamente tratou do problema do inconsciente, mas com poucas exceções, os filósofos assumiram uma ou outra das duas posições seguintes: ou o seu inconsciente foi algo de místico, intangível e indemonstrável, cuja relação com a mente permaneceu obscura, ou identificaram o mental com o consciente e passaram a deduzir, dessa definição, aquilo que é inconsciente não pode ser mental nem assunto de psicologia” (FREUD, 1913, p. 213).
FREUD
1º. A maioria dos filósofos, especialmente os acadêmicos, herdeiros do consciencialismo cartesiano, não conseguem nem admitir a existência do inconsciente, considerando-o um absurdo lógico. O motivo dessa recusa estaria ligado à falta de familiaridade com métodos de trabalho científico ou com um estudo direto dos fenômenos mentais, especialmente de ordem patológica.
Três ideias fundamentais:
2º. Os que chegaram a falar do inconsciente o fizeram de tal maneira que o seu inconsciente foi algo de místico, intangível e indemonstrável, cuja relação com a mente permaneceu obscura, cabendo à psicanálise torná-lo objeto de uma análise científica. 
Três ideias fundamentais:
3º. Os poucosque chegaram a se aproximar surpreendentemente com o inconsciente psicanalítico lhe eram desconhecidos ou foram descobertos mais tarde, em nada, portanto, podendo ofuscar o mérito da descoberta. A eles o mérito da prioridade, a Freud o da originalidade. A eles o caminho fácil da intuição, a Freud o do laborioso parto científico. 
Três ideias fundamentais:
Com o conceito de Inconsciente, Freud vai de encontro a uma grande resistência da intelectualidade e da inteligência da época, herdeira de uma concepção racionalista do homem como um ser unitário identificado com a consciência e dominado pela razão. 
A psicanálise opera uma clivagem na subjetividade, não colocando a questão do sujeito da verdade, mas da verdade do sujeito. 
INCONSCIENTE
Divide a subjetividade humana em dois sistemas ? o Inconsciente e o Consciente ? e que é dominada por uma luta interna. Freud desloca-se dos ideais da Ilustração, indo interessar-se pelos fenômenos da vida afetiva que apresentavam dificuldades de estabelecimento conceitual
INCONSCIENTE
Começa a investigar os aspectos pulsionais, as forças obscuras que movem o ser humano, de modo que a racionalidade não se enraizava profundamente, sendo apenas uma camada de superfície, um verniz, e que não tem as rédeas sobre o comportamento humano. O mundo, pensado racionalmente, era escorregadio e não oferecia explicações para certos fenômenos.
INCONSCIENTE
Freud realiza a terceira ferida narcísica ao criar a psicanálise, descentrando o sujeito de si mesmo ao afirmar que o homem não é senhor da sua própria casa, mas coabita com forças conflituosas existentes no sistema inconsciente. 
INCONSCIENTE
O homem, antes visto como posseiro de um local privilegiado (o lugar do conhecimento e da verdade), agora é visto como um ser movido por forças que sua própria razão desconhece e sobre as quais ele tem pouco ou nenhum controle, portanto, o homem não é um agente racional sobre a própria vida, como se pensava. 
INCONSCIENTE
A psicanálise, portanto, promove uma ruptura com o saber existente, derrubando a razão e a consciência do lugar sagrado em que se encontrava
INCONSCIENTE
Freud elevou o inconsciente a um estatuto metapsicológico, tornando-o objeto de análise científica, identificando as características, os princípios, os processos, as estruturas do mesmo.
FREUD
O "meta" não remete para o transcendente e sim para o profundo, para o científico. Ela não vem dos céus metafísicos nem a eles chega. Parte da observação dos fatos, passa para uma análise dos mesmos, procurando relacioná-los e classificá-los, para só em seguida buscar adaptá-los à exigência da pesquisa. 
Com Freud nasce uma metapsicologia. 
 Na Primeira Teoria do Aparelho Psíquico: instância constituída por elementos recalcados que têm seu acesso negado às instâncias pré-consciente e consciente. Esses elementos são os representantes pulsionais que obedecem aos mecanismos dos processos primários (condensação e deslocamento).
INCONSCIENTE
Uma certa forma de descobrir sentidos, típica da interpretação psicanalítica. Ou seja, tendo descoberto uma espécie de ordem nas emoções das pessoas, os psicanalistas afirmam que há um lugar hipotético donde elas provêm.
INCONSCIENTE
É como se supuséssemos que existe um lugar na mente das pessoas que funciona à semelhança da interpretação que fazemos; só que ao contrário: lá se cifra o que aqui deciframos.
INCONSCIENTE
Entre o inconsciente e a consciência medeia um outro sistema psíquico, que é o pré-consciente. “Pré-consciente” chama-se o lugar onde, teoricamente, estariam as representações que, não sendo conscientes, podem vir a sê-lo, bastando para isso que o sujeito se interesse por elas. 
INCONSCIENTE
É o lugar do esquecido, do guardado, daquilo que é, no máximo, um tanto incômodo, mas não demais. O processo de relegar uma idéia ao pré-consciente chama-se “repressão”; é, por assim dizer, menos “forte” que o recalcamento.
INCONSCIENTE
O inconsciente trabalha só de acordo com o princípio do prazer-desprazer, como uma espécie de máquina de reduzir tensões mentais, porque o excesso de tensão é experimentado como desprazer.
INCONSCIENTE
 Na Segunda Teoria do Aparelho Psíquico: Designa a instância do Id e se aplica parcialmente àquelas do Ego e do Superego.
INCONSCIENTE
A segunda tópica não se funda na disposição dos conteúdos mentais em relação à consciência, mas leva em conta as funções que a psique perfaz e as estruturas por elas responsáveis. O nome dessas três estruturas psíquicas são: id, ego e superego.
INCONSCIENTE
O inconsciente, portanto, é o lugar teórico das representações recalcadas ou daquelas que nunca puderam chegar à consciência, das pulsões sem representação consciente. No inconsciente, segundo Freud, há energia pulsional livre e representações que podem ser carregadas com essa energia, provocando as maiores confusões
INCONSCIENTE
Por exemplo, o ato de escrever for excessivamente carregado com libido (ou “energia sexual”), alguém poderá sentir vergonha de escrever em público como se fora um exibicionista tímido. Inconsciente é também o próprio processo de recalcamento, que impede certas idéias de emergir.
INCONSCIENTE
Nasio (1993) considera que o inconsciente só pode existir no campo da psicanálise, no seio do tratamento analítico. O inconsciente se revela num ato que surpreende e ultrapassa a intenção daquele que fala, de modo que o sujeito diz mais do que pretende dizer e, ao dizer, revela a sua verdade. O "dizer mais" produz e faz com que o inconsciente exista e, para que o ato de existência do inconsciente se efetive é necessária a existência de um outro sujeito que o escute e o reconheça. Este sujeito é, portanto, o psicanalista (pág.50).
INCONSCIENTE

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