Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Química Experimental para EaD 2 Everton Luiz de Paula Valdir Mano Notas em Química Orgânica 1a Edição Diamantina UFVJM 2021 Notas em Química Orgânica 1 a Edição: UFVJM, 2021. Coordenação Geral: Professor Everton Luiz de Paula - UFVJM Professor Valdir Mano - UFSJ Capa: Everton Luiz de Paula Projeto Gráfico: Everton Luiz de Paula Prefácio: Valdir Mano Este livro foi publicado de acordo com a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento da Diretoria de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal dos Vales do Jequiti- nhonha e Mucuri. Os textos constantes nessa publicação podem ser copiados e comparti- lhados desde que: não sejam utilizados para fins comerciais, sendo citada a fonte e atribuí- dos os créditos. Distribuição gratuita. Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da UFVJM / SISB / UFVJM Química Experimental para EaD II Sobre os autores ..... Everton Luiz de Paula É graduado em Química, especialista em Educação Empreendedora, Mestre em Ciên- cias - Química de Materiais, pela Universi- dade Federal de São João del-Rei (UFSJ), especialista em Design Instrucional para Ead Virtual pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e Doutor em Físico-Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo realizado um estágio sanduí- che na Université de Montpellier 2 em cola- boração com o Professor Dr. Jean-Jacques Robin. Atualmente é docente da Diretoria de Educação Aberta e a distância na Universi- dade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) atua na área de Química. Valdir Mano Possui graduação em Licenciatura em Quí- mica pela Universidade Estadual de Campi- nas (1986), graduação em Bacharelado em Química - Atribuições Tecnológicas pela Universidade Estadual de Campinas (1986), mestrado em Química pela Universidade Estadual de Campinas (1990) e doutorado em Química pela Universidade Estadual de Campinas (1995). Atualmente é professor Titular na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) tendo exercido o cargo de Vice-Reitor. Tem atuação em Química, com ênfase em Polímeros e Colóides, atuando principalmente nas seguintes áreas: blendas poliméricas, polímeros biodegradáveis e modificação de nanomateriais de origem natural. Notas em Química Orgânica EXPEDIENTE Reitoria Reitor: Prof. Janir Alves Soares Vice-Reitor: Prof. Marcus Henrique Canuto Pró-Reitoria de Graduação Profª Orlanda Miranda Santos Diretoria de Educação Aberta e a Distância – DEaD Profa. Mara Lúcia Ramalho Coordenação Administrativa Ricardo Nogueira Coordenação de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC's) Luciano Geraldo Silva Curso de graduação em licenciatura em Química EaD Coordenador: Prof. Everton Luiz de Paula Vice-Coordenador: Prof. Fernando Armini Ruela Coordenação UAB Profª. Crislane de Souza Santos Coordenação UAB adjunta Prof. Geovane da Conceição Máximo UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI Rodovia MGT 367 - Km 583, nº 5.000 Alto da Jacuba CEP 39100-000 Telefone: +55 (38) 3532-1200 e (38) 3532-6800 Química Experimental para EaD II SUMÁRIO Prefácio ............................................................................................... III Apresentação ..................................................................................... IV Alcanos ................................................................................................ 1 Alcenos e Alcinos ............................................................................. 44 Aromáticos ........................................................................................ 91 Estereoquímica ............................................................................... 133 Haletos de Alquila ........................................................................... 151 Álcoois, fenóis e éteres .................................................................. 218 Aldeídos e cetonas ......................................................................... 266 Ácidos carboxílicos e derivados ................................................. 296 Aminas ............................................................................................. 330 Referências Bibliográficas ............................................................. 357 Notas em Química Orgânica PREFÁCIO O e-book “Notas em Química Orgânica” é o resultado da experiência e do amadurecimento que Valdir e Everton adquiriram como professores na Universidade Federal de São João del Rei e na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Neste e-book estão as notas de aula que Valdir tem utilizado nas aulas de orgânica, as quais, manuscritas, constituí- am a principal fonte de estudos dos alunos da UFSJ e que Everton, com sua experiência no ensino a distância, organizou para esta versão inicial. As “Notas em Química Orgânica” não têm a presunção de apresen- tar uma nova visão sobre o ensino da química orgânica, mas sim de discutir de forma objetiva os temas essenciais da disciplina, facilitando o aprendiza- do e reduzindo a necessidade de memorização. Este e-book foi pensado para servir como um guia para o estudante que, para aprofundar seus co- nhecimentos, deve buscar a orientação do professor e a consulta a livros textos atuais disponíveis nas bibliotecas universitárias. As Notas foram tam- bém pensadas para dar uma visão geral dos aspectos estruturais da química orgânica e apresentar as reações típicas dos grupos funcionais mais estuda- dos. Apesar de ser uma compilação de notas de aula ele não é um resumo, na verdade tomamos o cuidado de abordar muitos tópicos de forma detalha- da, explorando aspectos mecanísticos, destacando aplicações das reações e relacionando a compostos encontrados em produtos como alimentos, perfu- mes, produtos de higiene etc. Aos estudantes, objetivo final deste trabalho, desejamos que apro- veitem a disciplina de química orgânica, aprendendo a apreciar sua lógica encontrando prazer no estudo desse ramo da química por demais associado ao nosso cotidiano. Prof. Valdir Mano Química Experimental para EaD IV APRESENTAÇÃO Notas em Química Orgânica apresenta três temas principais: no- menclatura, propriedades e reações dos compostos orgânicos. Inicialmente, em cada capítulo são apresentadas informações gerais dos compostos. Na sequência apresenta-se a nomenclatura segundo a IUPAC e para os com- postos que se aplicam as nomenclaturas usuais. Por último, são apresenta- das as principais reações previstas para cada classe de compostos orgâni- cos. Em cada capítulo é apresentado um sumário em que o estudante conseguirá visualizar o que é abordado. Ao final de cada um são apresenta- dos exercícios para dar a oportunidade ao estudante de aplicar os conceitos aprendidos no livro. Ao propor este e-book os autores pretendem contribuir para uma formação mais sólida dos egressos na área de Química e afins. A proposta é que esse livro seja apreciado como um livro básico de Química Orgânica. É interessante destacar que o leitor pode navegar facilmente entre os diferentes conteúdos presentes no e-book. Para isso, ele pode clicar no item desejado no sumário ou em cada subtítulo principal. Ao final de cada capítulo, o leitor encontra à sua disposição um box que remete a materiais que complementam os assuntos como mostrado a seguir: Desejamos uma boa leitura a todos! Everton Luiz de Paula Valdir Mano 1.1 NOMENCLATURA .................................................................................... 6 1.1.1 Alcanos acíclicos ....................................................... 6 1.1.2Regras da IUPAC para a nomenclatura de alcanos . 7 1.1.3 Alcanos cíclicos (cicloalcanos) ............................... 10 1.2 ANÁLISE CONFORMACIONAL .............................................................. 13 1.3 ISOMERIA EM CICLOCALCANOS ......................................................... 16 1.4 PROPRIEDADES FÍSICAS ..................................................................... 17 1.4.1 Forças de Van der Waals ....................................... 19 1.4.2 Associações de dipolos (dipolo-dipolo) ................... 20 1.4.3 Ligações de hidrogênio ........................................... 22 1.5 INTERMEDIÁRIOS DE REAÇÕES QUÍMICAS ...................................... 24 1.5.1 Homólise e heterólise das ligações covalentes ...... 24 1.5.2 Os intermediários .................................................... 25 1.5.2.1 Carbocátions 26 1.5.2.2 Carbânions 28 1.5.2.3 Radicais livres 28 1.6 SÍNTESE DE ALCANOS ......................................................................... 30 1.6.1 Hidrogenação de alcenos e alcinos ........................ 31 1.6.2 Redução de haletos de alquila ................................ 32 1.6.3 Alquilação de alcinos terminais ............................... 33 2 Notas em Química Orgânica 1.7 REAÇÕES DE ALCANOS ....................................................................... 34 1.7.1 Oxidação (combustão) ............................................ 34 1.7.2 Halogenação ........................................................... 36 1.8 EXERCÍCIOS .......................................................................................... 40 Os alcanos pertencem à família dos hidrocarbonetos, ou seja, dos compostos que contêm apenas carbono e hidrogênio em sua estrutura. Mesmo com apenas dois elementos, há milhares de hidrocarbonetos conhecidos e outros milhares possíveis ainda não sintetizados. A família dos hidrocarbonetos é constituída, além dos alcanos, por alcenos, alcinos e compostos aromáticos. Esses hidrocarbonetos são também conhecidos por parafinas e, aqueles de cadeia aberta, têm fórmula geral CnH2n+2. Pela variação em “n” temos uma série homóloga. As fórmulas estruturais, mostradas acima, podem ser escritas de uma forma mais resumida conhecida como fórmula estrutural condensada. Capítulo 1 – Alcanos 3 Nota. As fórmulas condensadas não necessariamente explicitam as ligações, mas não se pode esquecer que estas existem. Devemos lembrar também que, devido à hibridação sp3 dos átomos de carbono, a molécula não está em uma linha reta e nem é planar. As quatro ligações dos átomos de carbono apontam para os vértices de um tetraedro (ângulo de 109°28’) e, em consequência, a molécula é tridimensional. O aumento do número de carbonos na cadeia também afeta as propriedades físicas dos alcanos. Tabela 1. Propriedades físicas de alguns alcanos acíclicos. Fórmula molecular Fórmula condensada Nome Ponto de fusão/°C Ponto de ebulição/°C CH4 C2H6 C4H10 CH4 CH3CH3 CH3CH2CH2CH3 Metano Etano Butano -182 -183 –138 -164 -89 0 4 Notas em Química Orgânica C7H16 C10H22 CH3(CH2)5CH3 CH3(CH2)8CH3 Heptano Decano –91 –30 98 174 Os alcanos mostrados na Tabela 1 são todos de cadeia contínua ou linear, isto é, não há ramificação. Os alcanos não ramificados são chamados de alcanos normais ou, abreviadamente, n- alcanos. Alcanos ramificados também são possíveis, por exemplo: Veja que o isobutano tem a mesma fórmula molecular que o butano (C4H10), ou seja, são isômeros. Como nos outros casos de isomeria, butano e isobutano são diferentes compostos com propriedades e estruturas diferentes. O número de isômeros cresce com o aumento do número de carbonos. Há dois isômeros para C4H10, três para C5H12, 5 para C6H14, 75 para C10H22, 366.319 para C20H42 e mais de quatro bilhões para C30H62. Examinando o isobutano, vemos que há um carbono ligado a outros três carbonos, mas no butano não existe carbono desse tipo. Devido a esse comportamento, podemos definir quatro tipos de carbonos: 1- carbono primário: é aquele ligado a apenas um carbono ou nenhum; Capítulo 1 – Alcanos 5 2- carbono secundário: é o carbono ligado a outros dois carbonos; 3- carbono terciário: aquele ligado a outros três carbonos; 4- carbono quaternário: nesse caso, o carbono está ligado a outros quatro carbonos. Vamos examinar os alcanos de seis carbonos. Ao todo temos cinco isômeros de fórmula molecular C6H14. 6 Notas em Química Orgânica Podemos notar que A e B são diferentes moléculas. E as moléculas representadas a seguir, são diferentes? Todas as estruturas anteriores correspondem ao mesmo composto A (2-metilpentano), porque todas elas têm as mesmas conexões, quer dizer, seus átomos são ligados da mesma maneira em todas as estruturas. Há uma cadeia principal de cinco carbonos e um grupo -CH3 ligado ao segundo carbono. 1.1 NOMENCLATURA 1.1.1 Alcanos acíclicos Todos os nomes de compostos químicos são obtidos a partir das regras recomendadas pela IUPAC – International Union of Pure and Applied Chemistry. Uma importante sistematização da IUPAC é a ideia de Capítulo 1 – Alcanos 7 grupo. Por exemplo, se retirarmos um hidrogênio do metano, ficamos com um grupo chamado metila (ou metil). Da mesma maneira podemos obter os grupos etil, propil e butil, entre outros. Todas essas estruturas são chamadas de grupos alquila (ou alquil) porque são derivados dos alcanos. Os grupos alquil não são compostos independentes, não existem como substâncias químicas, são apenas uma formalização que permite construir os nomes das moléculas. 1.1.2 Regras da IUPAC para a nomenclatura de alcanos Para nomear os alcanos, a IUPAC recomenda o seguinte procedimento: 1- encontrar a cadeia mais longa de átomos de carbono que fornecerá o nome do composto. Para o composto a seguir, a cadeia mais longa está indicada em vermelho: 8 Notas em Química Orgânica Nota. Veja que a cadeia mais longa contém cinco carbonos, por isso o composto principal é o pentano. A cadeia principal é sempre a mais longa, mas não necessariamente aquela desenhada em linha reta. 2- identificar os grupos alquila ligados à cadeia principal; 3- nomear cada um dos grupos e colocá-los em ordem alfabética (não se deve considerar os prefixos de quantidade como di-, tri-, tetra-, nem os prefixos terc, sec, normal etc.) diante da cadeia principal. Assim, o composto em estudo fica metilpentano (não se separam por hífen os nomes do grupo alquila e da cadeia principal); 4- numerar o composto principal de tal maneira que os substituintes recebam os menores números possíveis. Capítulo 1 – Alcanos 9 Assim, o nome do composto no exemplo, segundo a IUPAC, fica 3-metilpentano; 5- no caso de duas cadeias de mesmo tamanho, a principal é aquela com maior número de ramificações. A substituição de um ou mais átomos de hidrogênio por halogênios resulta na formação de haletos de alquila. Estes compostos halogenados podem ser nomeados de acordo com dois sistemas de nomenclatura: a substitutiva e a radicofuncional. Na substitutiva, os nomes dos haletos de alquila são formados como nos alcanos, citando- se os prefixos fluoro, cloro, bromo e iodo seguidos do nome do composto principal. A citação é feita em ordem alfabética, precedido do número indicativo de posição. 10 Notas em Química Orgânica Na radicofunconal, os nomes são formados pelos prefixos fluoreto, cloreto, brometo e iodeto seguidos do nome do alcano. É útil para um número limitado de compostos. CH3Cl Cloreto de metila (CH3)3Br Brometode terc-butila CH3CH2I Iodeto de etila _________________________________________________________ Exercício: Nomear os compostos abaixo segundo a IUPAC. _________________________________________________________ 1.1.3 Alcanos cíclicos (cicloalcanos) Os átomos de carbono podem ser ligados entre si para formar anéis, dando origem a uma série de hidrocarbonetos chamados cicloalcanos. Os anéis podem ser de qualquer tamanho, sendo o menor deles o ciclopropano. Os alcanos cíclicos são normalmente representados por fórmulas condensadas (aquelas que não mostram os átomos constituintes) e são nomeados acrescentando-se o prefixo “ciclo” ao nome do alcano acíclico de mesmo número de átomos de carbono. Capítulo 1 – Alcanos 11 Os nomes dos alcanos cíclicos ramificados seguem as mesmas regras dos alcanos acíclicos: 1- no caso de cicloalcanos com apenas um substituinte, o anel é a cadeia principal, a menos que o substituinte tenha mais átomos de carbonos que o anel. Neste caso, o anel passa a ser o substituinte. Não é necessário numerar a posição do substituinte; 2- se há dois substituintes no anel, eles são citados em ordem alfabética e o número é dado àquele citado primeiro; 12 Notas em Química Orgânica 3- se houver mais de dois substituintes eles são citados em ordem alfabética. A numeração é feita de modo a se obter o menor somatório do conjunto de números. Dos alcanos cíclicos, o ciclopropano e o ciclobutano são os mais instáveis devido à tensão no anel. Essa tensão decorre do fato de que a hibridação dos carbonos é sp3 e o ângulo entre as ligações C-C-C deveria ser 109°28’. No entanto, para o ciclopropano, esse ângulo é cerca de 60°, enquanto no ciclobutano é de 88° (não é 90° já que o composto não é planar). Esses desvios em relação ao ângulo tetraédrico (109°28’) acarretam decréscimo na superposição dos orbitais atômicos sp3-sp3, levando ao aparecimento das tensões no anel. No cicloexano, o ângulo entre as ligações C-C-C é de 109°28’ (exatamente o ângulo tetraédrico) e, em consequência, ele é muito Capítulo 1 – Alcanos 13 estável. O cicloexano e seus derivados podem adotar duas conformações: cadeira e bote. As duas conformações podem ser interconvertidas por rotações C-C; no entanto, a forma cadeira é mais estável que a bote, já que esta apresenta repulsão H-H (marcados em vermelho na figura a seguir). A conformação cadeira apresenta dois tipos de hidrogênio: os axiais (Ha) e os equatoriais (He). Os hidrogênios axiais são perpendiculares ao plano dos quatro carbonos centrais. 1.2 ANÁLISE CONFORMACIONAL Observe as representações A e B do butano. Uma vez que é livre a rotação em torno das ligações simples C-C em compostos acíclicos, a molécula de butano pode existir em diferentes formas espaciais. Os diferentes arranjos espaciais, resultantes da rotação em torno de uma ligação simples, são chamados conformações. Uma conformação específica é denominada confôrmero. 14 Notas em Química Orgânica As moléculas A e B diferem apenas pela rotação em torno de ligação C-C. Se essa rotação não fosse possível, os confôrmeros seriam isômeros que poderiam ser isolados. Como nunca foi possível obter essas moléculas isoladamente, considera-se que a rotação C-C (em ligação simples) tem rotação livre. As conformações A e B são extremas, chamadas conformações em oposição (A) e eclipsada (B). É possível um número infinito de conformações entre esses dois extremos. A conformação em oposição é a mais estável devido à maior distância entre as metilas nas extremidades, resultando em menor repulsão. A rotação não é totalmente livre, há uma barreira de energia separando os diferentes confôrmeros. Entretanto, essa barreira é tão baixa que, à temperatura ambiente, as moléculas A e B têm energia térmica suficiente para permitir a rotação C-C. Com isso, A e B convertem-se um no outro tão rapidamente que não podem ser isolados. A interpretação das propriedades dos isômeros conformacionais, em termos de suas conformações, é a análise conformacional. Capítulo 1 – Alcanos 15 O butano tem três ligações simples C-C e a molécula pode girar em relação a elas. Considerando a ligação C2-C3, é possível desenhar seis confôrmeros de diferentes energias. Utilizando projeções de Newman, os principais confôrmeros resultantes da rotação em torno de C2-C3 são mostrados a seguir: Os confôrmeros em oposição são os de menor energia. Aquele com ângulo diedro (w) de 180° é mais estável que os confôrmeros a 60° e 300°, e é chamado anti (do grego, oposto de). Os outros dois são chamados vici ou gauche (do francês, esquerda). Os confôrmeros anti e gauche têm diferentes energias devido à tensão estérica. Essa tensão é uma energia extra devida à repulsão entre nuvens eletrônicas de átomos ou grupos próximos. Os confôrmeros eclipsados também têm energias diferentes. A forma eclipsada com ângulo diedro de 0° é a de 16 Notas em Química Orgânica maior energia e a menos estável devido à proximidade entre os grupos metila e a repulsão resultante de suas nuvens eletrônicas. Como há rotação livre e contínua em torno de ligações simples C-C, moléculas orgânicas com essas ligações não são estáticas, elas apresentam infinitos confôrmeros que se interconvertem. No entanto, esses confôrmeros não são separáveis porque as pequenas diferenças de energia entre eles permitem a rápida interconversão. 1.3 ISOMERIA EM CICLOCALCANOS Os ciclocalcanos não apresentam rotação livre nas ligações C-C e, então, compostos cíclicos substituídos podem apresentar isômeros geométricos ou, mais precisamente, estereoisômeros. Considere o 1,2-dimetilciclopentano. Note que são possíveis dois isômeros que irão diferir apenas pelo arranjo espacial das metilas. Na molécula I, as metilas estão do mesmo lado do anel e devemos usar o prefixo cis antes do nome do composto, o qual passa a ser escrito cis-1,2-dimetilciclopentano. Na molécula II, as metilas estão em lados opostos do plano e devemos usar o prefixo trans, assim o nome completo do composto é trans-1,2-dimetilciclopentano. As Capítulo 1 – Alcanos 17 estruturas I e II são isômeros (têm a mesma fórmula estrutural) e, por diferirem no arranjo espacial de seus átomos, são chamadas estereoisômeros (ou ainda, isômeros geométricos). 1.4 PROPRIEDADES FÍSICAS As propriedades físicas mais importantes dos compostos orgânicos são o estado físico (incluindo os pontos de fusão e ebulição, p.f. e p.e., respectivamente), a solubilidade e a densidade. Em geral, os pontos de fusão e de ebulição aumentam com o aumento da massa molar (ver Tabela 2). Alcanos e cicloalcanos de até quatro carbonos são gases à temperatura ambiente, de 5 a 17 carbonos são líquidos e acima de 18 carbonos são sólidos brancos semelhantes a ceras. Tabela 2. Propriedades físicas de alguns alcanos cíclicos. Composto Fórmula p.f./°C p.e./°C Ciclopropano Ciclopentano Cicloexano -128 -94 07 -33 49 81 Alcanos são apolares, por isso são insolúveis em água, mas são solúveis em solventes apolares como benzeno, éter etílico e tetracloreto de carbono. Em termos de densidade, os alcanos líquidos 18 Notas em Química Orgânica apresentam uma leve diferença de densidades entre si, mas todos são menos densos que a água. Vamos analisar algumas propriedades físicas de compostos orgânicos e relacioná-las com as forças intermoleculares. Nos exemplos acima, vemos claramente que o aumento da massa molar em uma mesma família de compostos resulta também em aumento nos pontos de fusão e ebulição. Diferenças significativas nessas propriedades são observadas mesmo em compostos de massa molar semelhante.Essas diferenças são explicadas pelas diferentes forças intermoleculares que agem entre as moléculas, principalmente: i) forças de Van der Waals; Capítulo 1 – Alcanos 19 ii) associações dipolo-dipolo; iii) ligações de hidrogênio. 1.4.1 Forças de Van der Waals São mais importantes em líquidos do que em sólidos ou gases. Aparecem principalmente em moléculas apolares e são extremamente fracas. São resultantes do constante movimento dos elétrons, causando desequilíbrios momentâneos entre cargas parciais positivas e negativas, levando à formação de dipolos induzidos. A molécula que possui esse dipolo induzido, ao se aproximar de outra, induz nesta molécula a formação de um dipolo e assim sucessivamente. + - + +- - A atração do tipo Van der Waals é fraca e atua a curtas distâncias. Ela será maior quanto maior o número de elétrons na molécula (maior possibilidade de polarização) e quanto maior for o contato entre as moléculas. Assim, para os alcanos, quanto maior o número de carbonos (massa molar) maior é a força de Van der Waals e maior será o ponto de ebulição. Por outro lado, para alcanos de mesma massa molar, quanto maior o número de ramificações menor é o ponto de ebulição, pois menor é o contato entre as moléculas. Aqui, o fator principal é a área de contato entre as moléculas que diminui com a ramificação. 20 Notas em Química Orgânica CH3CH2CH2CH2CH3 p.e.= 36°C CH3 CH CH3 CH2 CH3 p.e. = 28°C H3C C CH3 CH3 CH3 p.e. = 9,5°C 1.4.2 Associações de dipolos (dipolo-dipolo) A interação do tipo dipolo-dipolo ocorre entre moléculas polares e resulta da atração da extremidade positiva de uma molécula pela extremidade negativa de outra. Moléculas polares apresentam dipolo permanente, ao contrário das apolares que só podem desenvolver um dipolo induzido. O dipolo permanente aparece quando átomos de eletronegatividade diferentes se ligam por covalência, nesse caso, o compartilhamento dos elétrons da ligação é desigual, dando origem a dipolos elétricos na ligação. Moléculas com pares de elétrons livres, como amônia e água, têm igualmente um dipolo originado pelo par de elétrons. As interações originadas pelos dipolos permanentes são mais fortes que as de Van de Waals (que são dipolos induzidos). Por exemplo, no HCl há um compartilhamento desigual dos elétrons de ligação devido a diferenças de eletronegatividade entre H e Cl. H Cl + - + - Os sinais + e - indicam que o cloro é parcialmente negativo e o hidrogênio é parcialmente positivo, dando origem a um dipolo Capítulo 1 – Alcanos 21 permanente. Os dipolos costumam ser indicados por setas cuja ponta é o lado negativo, por exemplo: H3C BrH Cl Assim, se temos duas moléculas de HCl, elas se atraem conforme indicado a seguir: ou + + + +- - - - ou seja, na fase líquida, as moléculas tendem a se orientar permitindo interações mútuas. + + + + + + + + - - - - - - - - Em virtude dessa interação, as moléculas polares encontram-se mais fortemente ligadas quando comparadas às moléculas apolares de massas molares semelhantes, apresentando, consequentemente, temperaturas de ebulição mais elevadas. 22 Notas em Química Orgânica 1.4.3 Ligações de hidrogênio Um tipo especial de interação dipolo-dipolo é a ligação de hidrogênio. Para que esse tipo de interação ocorra entre duas moléculas, é necessário que: i) uma das moléculas possua átomo de hidrogênio ligado a átomo bastante eletronegativo como oxigênio, nitrogênio ou flúor; ii) a outra molécula possua também átomo eletronegativo como oxigênio, nitrogênio ou flúor, com pares de elétrons livres (não- ligantes). A ligação de hidrogênio é representada por uma linha pontilhada e tem intensidade de cerca de 5 k cal/mol (mais fraca, portanto, que as ligações covalentes comuns que são da ordem de 50 a 100 k cal/mol). Capítulo 1 – Alcanos 23 O CH3 CH3 H O H O H H H O H H N H H N H H H CH3CH2 O H H O H O H H Ligações de hidrogênio podem ser entendidas como uma ponte entre dois átomos eletronegativos, ligando-se a um deles por ligação covalente e ao outro por forças eletrostáticas. Essa é uma interação mais forte que a dipolo-dipolo e a Van der Waals. Resumindo. As temperaturas de fusão e ebulição dos compostos orgânicos, normalmente, se elevam com o aumento da massa molar. No caso de massas molares semelhantes, p.f. e p.e. serão maiores quanto mais fortes forem as atrações entre as moléculas, ou seja, quanto mais polares forem as moléculas. 24 Notas em Química Orgânica Com relação à solubilidade, não estamos mais considerando atrações entre as moléculas do mesmo composto e sim entre as moléculas de um soluto (A) e de um solvente (B). Assim, os compostos muito solúveis em um dado solvente são aqueles que interagem mais fortemente com as moléculas do solvente que entre si. Ou seja, o solvente quebra as interações entre as moléculas do soluto. Como regra geral, compostos polares dissolvem-se em solventes polares, compostos pouco polares ou apolares em solventes pouco polares ou apolares. Por exemplo, o etanol é altamente solúvel em água porque eles podem interagir por ligações de hidrogênio. CH3 CH2 O H O H H O H H 1.5 INTERMEDIÁRIOS DE REAÇÕES QUÍMICAS 1.5.1 Homólise e heterólise das ligações covalentes Reações de compostos orgânicos envolvem quebra e/ou formação de ligações covalentes. Capítulo 1 – Alcanos 25 Na homólise, a quebra da ligação leva a fragmentos neutros A• e B• (cada um com um elétron da ligação). Homólise vem do grego (homo = o mesmo; lise = quebra) e significa quebra homolítica. Os fragmentos A• e B• são chamados radicais e contêm número ímpar de elétrons. Na heterólise, a quebra da ligação leva a fragmentos carregados (A-: e B+ ou A+ e B-:). A palavra heterólise também vem do grego (hetero = diferente; lise = quebra) e significa quebra heterolítica. Os fragmentos A-: e B-: são chamados carbânions; os fragmentos A+ e B+, carbocátions. 1.5.2 Os intermediários A homólise e a heterólise levam a intermediários altamente reativos. Na homólise temos a formação de radicais livres. A heterólise pode levar a um cátion (carbocátion) ou a um ânion de carbono (carbânion). 26 Notas em Química Orgânica Carbocátions e radicais são espécies deficientes em elétrons, por isso atuam como eletrófilos (espécies que procuram por elétrons para completar o seu “octeto”). Carbânions têm excesso de elétrons, por isso são bases fortes e nucleófilos fortes (procuram H+ ou centros de carga positiva para neutralizar sua carga). Intermediários são moléculas orgânicas que ocorrem frequentemente não como compostos estáveis, mas como espécies transientes em reações químicas. Alguns intermediários possuem ligações convencionais que podem ser representadas por estruturas típicas de ligação de valência. Em outros, o carbono tem menos de quatro ligações covalentes. Estas estruturas são muito instáveis, tendo apenas existência transitória, mas em certas circunstâncias possuem estabilidade suficiente para serem isoladas e estudadas. Os quatro tipos mais comuns de intermediários com menos de 4 ligações covalentes, usando o metano como exemplo, são: 1.5.2.1 Carbocátions Capítulo 1 – Alcanos 27 São intermediários que ocorrem em muitas reações químicas e são razoavelmente bem conhecidos. São mostrados abaixo alguns carbocátions em ordem relativa de estabilidade. O cátion tropílio é altamente estabilizado por ressonância e pode, inclusive, ser isolado e estudado. Já o cátion metila é tão instável que nunca pôde ser detectado em reações químicas usuais.Em geral, as estabilidades relativas dos carbocátions podem ser explicadas por efeitos de ressonância e/ou indutivo. Por exemplo, os quatro primeiros cátions são estabilizados com base na conjugação (ressonância). O efeito indutivo (resultante da ligação entre átomos de diferentes eletronegatividades) explica a ordem de estabilidade dos cátions t-butila, isopropila e etila. O carbono ionizado positivamente tem hibridação do tipo sp2 e é mais eletronegativo que os carbonos sp3 devido à carga positiva. Assim, quanto maior for o número de carbonos 28 Notas em Química Orgânica sp3 ligados ao carbono positivo maior será o fluxo de elétrons em direção a esse carbono (efeito indutivo) e maior será a sua estabilidade. 1.5.2.2 Carbânions Assim como os carbocátions, os carbânions têm estabilidades bastante diferentes. Os efeitos de ressonância e/ou indutivo também explicam essas estabilidades, que agora são opostas às dos carbocátions. O requisito essencial para a maior estabilidade dos carbânions é a presença de grupos que retiram densidade eletrônica do carbono carregado negativamente. Por exemplo, o carbânion abaixo é altamente estabilizado tanto por ressonância quanto por indução, já que o grupo nitro atrai elétrons fortemente. 1.5.2.3 Radicais livres São espécies altamente reativas e, quando em contato, podem reagir entre si por dimerização ou desproporcionação. A ordem de estabilidade dos radicais alquila é: Capítulo 1 – Alcanos 29 terciário > secundário > primário > metila. Os radicais alila e benzila são mais estáveis que os alquila simples, entretanto os primeiros dimerizam quase que instantaneamente. A ordem de estabilidade dos radicais foi obtida analisando-se a quantidade de energia necessária para a liberação de um átomo de hidrogênio do alcano correspondente: quanto menor a energia para liberar o radical . H mais estável é o radical formado. 30 Notas em Química Orgânica H2 > H1, pois é mais difícil formar o radical em B do que em A, ou seja, o radical em A é mais estável que em B (é mais facilmente formado em A do que em B). 1.6 SÍNTESE DE ALCANOS Há três importantes fontes naturais de alcanos, todas de origem fóssil: gás natural, petróleo e carvão. O gás natural consiste de aproximadamente 90-95% de metano, 5-10% de etano e pequena proporção de propano, butano e 2-metilpropano. Do petróleo são obtidos: 1- gases de pontos de ebulição abaixo de 20 °C, principalmente propano, butano e 2-metilpropano; 2- nafta: com p.e. entre 20 °C e 200 °C, é uma mistura de alcanos e cicloalcanos de C5 a C12, além de pequenas quantidades de compostos aromáticos, como benzeno, tolueno e xileno. A fração leve da nafta, p.e. entre 20 °C e 150 °C, compõe a gasolina usada como combustível veicular; Capítulo 1 – Alcanos 31 3- querosene: mistura de hidrocarbonetos de C5 a C15 e p.e. na faixa de 175 °C a 275 °C; 4- óleo combustível: apresenta p.e. de 250 °C a 400 °C, sendo composto por hidrocarbonetos de C15 a C18; o óleo diesel é o principal exemplo; 5- óleos lubrificantes e combustíveis pesados, que destilam acima de 350 °C; 6- asfalto: é o resíduo negro restante do processo de destilação fracionada usada para separar os componentes do petróleo. O carvão fornece o gás de síntese, uma mistura de monóxido de carbono e hidrogênio em variadas proporções. Dois importantes compostos orgânicos são produzidos quase exclusivamente de CO e H2: metanol e ácido acético. As misturas de alcanos obtidas principalmente do petróleo e do gás natural são importantes como combustíveis. Contudo, em laboratório, geralmente precisamos de amostras puras de alcanos específicos. Para esse propósito, o modo mais indicado de obtenção é a síntese do alcano com que se deseja trabalhar. A seguir veremos três dos métodos mais comumente usados na síntese de alcanos. 1.6.1 Hidrogenação de alcenos e alcinos Na presença de catalisadores metálicos, alcenos e alcinos reagem com hidrogênio para produzir alcanos. Como catalisadores são usados níquel, paládio e platina. A reação é geralmente realizada dissolvendo- se o alceno ou alcino em etanol, adicionando-se o catalisador metálico e 32 Notas em Química Orgânica expondo essa mistura ao hidrogênio sob pressão. Para a redução de alcinos a alcanos são necessários dois mol de H2. 1.6.2 Redução de haletos de alquila A maioria dos haletos de alquila reage com zinco e ácido aquoso para produzir um alcano. Os átomos de zinco transferem elétrons ao átomo de carbono ligado ao halogênio, portanto, a reação se passa por uma redução do haleto de alquila. Capítulo 1 – Alcanos 33 1.6.3 Alquilação de alcinos terminais O hidrogênio ligado ao carbono da ligação tríplice de alcino terminal (chamado hidrogênio acetilênico) pode ser substituído por grupo alquila. Esse hidrogênio é pouco ácido, mas pode ser removido por base forte, como o amideto de sódio, formando o ânion alcinido. Este ânion, ao ser tratado com um haleto de alquila apropriado (normalmente, um haleto de metila ou um haleto primário não ramificado no segundo carbono), dá origem a uma nova ligação carbono-carbono. Os haletos primários ramificados, os secundários e os terciários não se comportam da mesma maneira, fornecendo outros produtos predominantemente pelo mecanismo de eliminação. A formação da nova ligação carbono-carbono é, por si só, uma transformação importante, mas a ligação tríplice pode ainda ser usada em reações posteriores. Por exemplo, a hidrogenação do novo alcino recém-preparado constitui a síntese formal de alcanos. 34 Notas em Química Orgânica 1.7 REAÇÕES DE ALCANOS Em geral, as reações na química orgânica envolvem os grupos funcionais, quer dizer, a parte hidrocarbônica não costuma sofrer alterações durante uma reação. Se uma molécula contém um grande número de ligações C-H e C-C e apenas uma C-Y, esta última poderá sofrer reações seletivas que não afetam C-H e C-C. É difícil obter reações seletivas para C-H ou C-C, já que todas as ligações na molécula seriam afetadas. Normalmente, ocorrem reações competitivas nas ligações C-H e C-C. 1.7.1 Oxidação (combustão) É a principal reação dos alcanos, entretanto, não é útil do ponto de vista químico, pois há destruição da molécula. Do ponto de vista prático, é muito importante já que é uma grande fonte de energia. A combustão, quando completa, sempre leva à formação de CO2 e H2O e pode ser representada pela seguinte equação: Exemplo: Capítulo 1 – Alcanos 35 A energia liberada na combustão é também chamada de calor de combustão, sendo uma das principais fontes de energia no mundo contemporâneo. A oxidação é uma reação que pode ser iniciada por calor, luz ou catálise química e envolve a formação de radicais livres. Na maior parte das vezes a combustão é incompleta, levando à formação de carbono e/ou monóxido de carbono, que são substâncias de grande importância na indústria química. O carbono, obtido como um pó extremamente fino conhecido negro de fumo, é usado como pigmento em tintas, na constituição de pneus (para aumentar sua resistência) e na fabricação de fibras de carbono. O monóxido de carbono (CO) pode ser convertido em metanol e este em metanal; pode originar o fosgênio (COCl2), que é matéria prima na fabricação de espumas de poliuretana; e ser convertido em diversos aldeídos pela reação com alcanos. Um exemplo importante da oxidação controlada de um alcano é a produção industrial de ácido adípico a partir do cicloexano (ou ainda do cicloexeno). O ácido adípico é usado na produção de náilon. Da produção mundial de cicloexano, 90% é convertida em ácidoadípico. 36 Notas em Química Orgânica 1.7.2 Halogenação É uma reação que ocorre com flúor, cloro e bromo; o iodo é pouco reativo nas condições de reação dos demais halogênios. A ordem de reatividade dos halogênios é: F > Cl > Br > I. A halogenação também se passa com radicais. As reações que envolvem radicais são conhecidas como reações em cadeia e podem ser divididas em três etapas: iniciação, propagação e terminação. Em geral, a halogenação via radicais livres leva a uma mistura de produtos. A composição dessa mistura vai depender da proporção usada nos materiais de partida (por exemplo, excesso do alcano leva à mono- halogenação), bem como das condições experimentais (os organoclorados podem ser separados por destilação durante a reação). O mecanismo para a reação acima é apresentado a seguir: Capítulo 1 – Alcanos 37 Todos os alcanos reagem com halogênios da mesma maneira que o metano. A principal diferença é que quanto maior o número de carbonos, maior será o número de possíveis compostos mono e poli- halogenados. Para prever os possíveis produtos da halogenação é preciso levar em conta a estabilidade dos radicais e a seletividade do halogênio: a) estabilidade dos radicais: terciário > secundário > primário > metila; b) seletividade dos halogênios: I > Br > Cl > F; c) reatividade: F > Cl > Br > I. Por exemplo, na halogenação do isobutano é possível a formação de dois tipos de radicais: 38 Notas em Química Orgânica Na bromação, o isobutano é convertido quase exclusivamente no 2-bromo-2-metilpropano (via radical terciário), devido à seletividade do bromo e à estabilidade do radical terciário. Já a cloração do mesmo isobutano leva aos dois produtos possíveis devido à menor seletividade do cloro. Iniciadores Para que as reações em cadeia se processem, normalmente são usados iniciadores que dão origem aos radicais livres. Além da luz (hν), podem ser usados: calor (Δ), peróxidos, azo-compostos, alquil-nitratos, eletrólise etc. Capítulo 1 – Alcanos 39 Cicloalcanos de anéis pequenos também sofrem reações de halogenação. Bromo e iodo, na presença de catalisador (ácido de Lewis), causam quebra de ligação C-C do ciclopropano. 40 Notas em Química Orgânica 1.8 EXERCÍCIOS 1- Considere as fórmulas moleculares dos hidrocarbonetos abaixo listados. Ao reagi-los com cloro gasoso, o único produto formado é um composto monoclorado. Deduza a estrutura de cada hidrocarboneto e do seu derivado clorado. a) C8H8 b) C8H16 c) C8H18 d) C6H12 2- Considere os hidrocarbonetos abaixo listados. Desenhe as estruturas de todos os possíveis compostos monoclorados ao fazer a reação com cloro gasoso na presença de radiação ultravioleta. a- 2-metilpentano b- metilciclopropano c- etilciclopropano d- cis-1-etil-2-metilciclobutano 3- Dê os nomes dos seguintes compostos de acordo com a IUPAC: Capítulo 1 – Alcanos 41 4- Considere todos os isômeros das fórmulas moleculares C6H14 e C5H10. Apresente todas as fórmulas estruturais e os nomes IUPAC. 5- Desenhe a fórmula estrutural de cada composto a seguir: a- 3-metilexano b- cis-1,2-dimetilciclopentano c- etilciclopropano d- 2-fluoro-3-metilpentano e- 4-etil-6-isopropiloctano 6- Dar nomes aos seguintes grupos: 42 Notas em Química Orgânica 7- Em termos de geometria molecular, explique a diferença entre o cátion metila e o carbânion metila. 8- Ordene os seguintes carbocátions em ordem decrescente de estabilidade. 9- O cicloexano é um importante composto utilizado como matéria prima para a produção de outros solventes. Uma das reações que se passam com o cicloexano é a monocloração. Apresente o mecanismo completo (etapas de iniciação, propagação e terminação) para essa reação. 10- Desenhe a fórmula estrutural e dê o nome sistemático do produto monoclorado formado quando se aquece o alcano de fórmula C5H12 . 11- Ao reagir o alcano cíclico de fórmula C5H10 com quantidade suficiente de Cl2 para se formar mais de um quantos produtos diclorados você esperaria obter como produtos? Capítulo 1 – Alcanos 43 Quer aprender um pouco mais sobre alcanos? Acesse os materiais disponíveis nos seguintes links: http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/Vol28No2_364_32-ED04166.pdf http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/v37n10a19.pdf http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/Vol28No2_364_32-ED04166.pdf http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/Vol28No2_364_32-ED04166.pdf http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/v37n10a19.pdf 2.1 NOMENCLATURA .................................................................................... 45 2.1.1 Alcenos ........................................................................... 45 2.1.2 Alcinos ............................................................................ 50 2.2 PROPRIEDADES FÍSICAS ....................................................................... 51 2.2.1 Alcenos ........................................................................... 51 2.2.2 Alcinos ............................................................................ 52 2.3 SÍNTESE DE ALCENOS E ALCINOS ....................................................... 52 2.3.1 Síntese de alcenos via reações de eliminação .............. 53 2.3.2 Síntese de alcinos via reações de eliminação ............... 59 2.4 REAÇÕES ................................................................................................. 61 2.4.1 Reações de alcenos ....................................................... 61 2.4.2 Reações de alcinos ........................................................ 79 2.5 EXERCÍCIOS ............................................................................................ 86 Ao lado dos alcanos, a família dos hidrocarbonetos é composta ainda pelos alcenos, alcinos e compostos aromáticos. Os alcenos contêm ligação dupla entre carbonos; os alcinos, ligação tríplice e os aromáticos se caracterizam por apresentar ligações duplas deslocalizadas em composto cíclico (anel aromático). Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 45 2.1 NOMENCLATURA 2.1.1 Alcenos São nomeados pelas mesmas regras da IUPAC usadas para os alcanos, trocando-se o sufixo ano por eno. Quando o alceno tem quatro carbonos ou mais em sua estrutura, podemos ter isomeria estrutural já que a ligação dupla pode ocupar mais de uma posição. Nesses casos, numera-se a ligação dupla com os menores números possíveis. 46 Notas em Química Orgânica Alcenos ramificados ou substituídos por halogênios são nomeados como nos alcanos. Nota. Veja que a ligação dupla tem preferência sobre os substituintes, portanto, o que importa é que a dupla tenha o menor número possível. Considera-se cadeia principal a mais longa sequência de carbonos que contiver a ligação dupla. No caso de alcenos ramificados, a cadeia principal é a mais longa que contiver o maior número possível de ligações duplas. Para efeito de numeração, prevalece a regra do menor conjunto para as Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 47 ligações duplas e não para os substituintes. Apenas em caso de empate é que as posições dos substituintes são consideradas. Compostos cíclicos contendo ligações duplas são chamados cicloalcenos. Quando há somente uma ligação dupla, não é necessário mostrar o número no nome do composto. Compostos com duas ou mais ligaçõesduplas recebem o sufixo dieno, trieno etc. 2.1.1.1 Geometria e estereoisomeria em alcenos Ao contrário dos alcanos de cadeia aberta, não há rotação em relação à ligação dupla. Por isso, podemos ter o mesmo tipo de isomeria que verificamos com os cicloalcanos: estereoisomeria. Exemplo: há dois 48 Notas em Química Orgânica diferentes compostos chamados but-2-eno: trans-but-2-eno e cis-but- 2-eno. Como não há rotação em relação à ligação dupla, o isômero trans não pode ser interconvertido no cis. Assim, temos dois diferentes compostos, cada um com suas próprias propriedades físicas e químicas. Tabela 1. Propriedades físicas dos isômeros do but-2-eno. Composto p. f./°C p.e./°C Densidade/g mL -1 cis-but-2-eno trans-but-2-eno -139 -105 4 1 0,621 0,604 Nem todos os alcenos mostram estereoisomeria cis-trans. Para que ocorra essa isomeria é preciso que ambos os carbonos da ligação dupla estejam ligados a dois diferentes grupos. Se qualquer dos carbonos da dupla tiver dois ligantes idênticos não haverá estereoisomeria. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 49 Há casos em que a nomenclatura cis-trans pode ser ambígua, por isso ela só é recomendada para alcenos dissubstituídos. Para alcenos tri- e tetrassubstituídos utiliza-se outro sistema denominado E- Z proposto com base nas regras de Cahn-Ingold-Prelog. Por exemplo, os compostos a seguir são cis ou trans? 2.1.1.2 Nomenclatura E-Z A identificação E ou Z proporciona uma designação inequívoca e é um procedimento bastante simples: 1- para cada ligação dupla a ser descrita a configuração (E ou Z), determina-se qual dos dois grupos ligados a cada átomo de carbono da ligação dupla tem a maior prioridade de acordo com a convenção de Cahn-Ingold-Prelog; 2- à configuração na qual os dois grupos de maior prioridade estão do mesmo lado do plano de referência atribui-se o símbolo estereoquímico Z (do alemão zuzammen, junto); à configuração na qual esses grupos estão em lados opostos é atribuído o símbolo E (do alemão entgegen, oposto). 50 Notas em Química Orgânica Regras de precedência de Cahn-Ingold-Prelog Regra 1: se os átomos diretamente ligados ao carbono da dupla forem diferentes, tem maior prioridade o de maior número atômico. Regra 2: se a regra 1 não puder ser aplicada, deverão ser comparados os átomos em sequência. Regra 3: carbono terciário tem maior prioridade que secundário que, por sua vez, tem precedência sobre primário. Como exemplo, no composto abaixo, os átomos de maior prioridade, em cada carbono da dupla, estão designados com o número 1. Como esses átomos estão em lados opostos da dupla, esse composto é o (E)-2-clorobut-2-eno. Outros exemplos são mostrados a seguir. 2.1.2 Alcinos Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 51 São nomeados pelas mesmas regras aplicadas aos alcenos, exceto que o sufixo ino é usado no lugar de eno. Quando temos ligações duplas e tríplices no mesmo composto, o sufixo eno precede o ino. A numeração é feita de modo a atribuir os menores números aos carbonos insaturados. 2.2 PROPRIEDADES FÍSICAS 2.2.1 Alcenos As propriedades físicas dos alcenos são muito similares às dos alcanos correspondentes. Até quatro carbonos são gases; de cinco a dezessete, líquidos; de dezoito para cima são sólidos (sempre à temperatura ambiente). Os alcenos são insolúveis em água e têm densidade muito menor que a água. Tabela 2. Propriedades físicas de alguns alcenos. 52 Notas em Química Orgânica Composto p.f./°C p.e./°C Densidade/g mL -1 eteno propeno but-1-eno cis-but-2-eno trans-but-2-eno pent-1-eno -169 -185 -185 -139 -105 -138 -104 -47 -6 4 1 30 ¨¨¨¨ ¨¨¨¨ 0,595 0,621 0,604 0,641 2.2.2 Alcinos Os alcinos têm baixa polaridade e, em consequência, apresentam propriedades físicas semelhantes às dos alcanos e alcenos: são insolúveis em água e outros solventes polares, sendo bastante solúveis em solventes pouco polares como benzeno, tolueno, tetracloreto de carbono e clorofórmio. A densidade dos alcinos varia de 0,70 a 0,80 g/cm3. Para alcinos com apenas uma ligação tríplice, a temperatura de ebulição aumenta com o aumento do número de átomos de carbono. 2.3 SÍNTESE DE ALCENOS E ALCINOS Etileno e propileno são os dois mais importantes produtos orgânicos obtidos industrialmente. São usados na preparação de polietileno, polipropileno, etileno glicol (etano-1,2-diol), ácido acético, acetaldeído (etanal), óxido de etileno, cloreto de vinila, cumeno (2-fenilpropano) etc. Industrialmente, etileno, propileno e buteno são sintetizados pelo processo conhecido como craqueamento térmico de alcanos leves (C2 – C8). Craqueamento térmico (ou pirólise) é uma reação que Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 53 se passa a altas temperaturas, na faixa de 900 °C, na ausência de oxigênio. As altas temperaturas provocam homólise das ligações C-C e C-H, resultando na formação de moléculas de menor massa molar. Enquanto a química dos alcenos é dominada pelas reações de adição, a preparação de alcenos em escala laboratorial ocorre preferencialmente pelas reações de eliminação que veremos a seguir. 2.3.1 Síntese de alcenos via reações de eliminação Reações de eliminação podem introduzir ligações duplas em uma molécula, por isso são muito usadas na síntese de alcenos e de alcinos. Três métodos muito utilizados baseados em reações de eliminação são mostrados a seguir. Desidroalogenação de haletos de alquila Desidratação de álcoois 54 Notas em Química Orgânica Desbromação de vic-dibrometos 2.3.1.1 Desidroalogenação de haletos de alquila É quase sempre mais bem realizada por reação E2, já que o mecanismo E1 é muito variável e eventos concorrentes são possíveis, como o rearranjo do esqueleto de carbono. Para favorecer a eliminação, geralmente trabalha-se em temperatura relativamente alta (de 40 °C a 70 °C). Já para evitar condições E1, normalmente usa-se concentração alta de base forte, como um íon alcóxido, e um solvente relativamente apolar, como um álcool. Reagentes típicos incluem: Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 55 i) bases pequenas como etóxido de sódio ou hidróxido de sódio em etanol; ii) base volumosa como terc-butóxido de potássio em álcool terc- butílico. Orientação da dupla ligação no produto – Regra de Zaitsev Para alguns haletos de alquila é possível apenas um produto eliminação: Muitos haletos de alquila, entretanto, podem formar mais de um produto. Nesse caso, se usarmos uma base pequena como os íons etóxido ou hidróxido, o produto principal da reação será o alceno mais estável, ou seja, aquele com a ligação dupla mais substituída. Sempre que a eliminação fornece principalmente o alceno mais estável, diz-se que a eliminação segue a regra de Zaitsev (A.N. Zaitsev, químico russo, 1841 - 1910). 56 Notas em Química Orgânica Exceção à regra de Zaitsev Quando se usa uma base volumosa como terc-butóxido de potássio em álcool terc-butílico, o produto principal é o alceno menos substituído. 2.3.1.2 Desidratação de álcoois É frequentemente realizada pelo tratamento de um álcool com ácido forte a altas temperaturas. A eliminação é do tipo E1 e, por isso, é mais indicada para álcoois terciários, alílicos e benzílicos. A reação segue a regra de Zaitsev, isto é, forma-se preferencialmente o alceno mais substituído.Os álcoois terciários são tão facilmente desidratados que podem ser usadas condições brandas. Álcoois secundários também podem ser desidratados com ácidos, porém as condições são mais drásticas, levando à degradação de moléculas mais sensíveis. Cicloexanol, por exemplo, desidrata-se em meio de ácido fosfórico 85% na faixa de 165 °C a 170 °C. Para tentar eliminar a necessidade de ácido forte e permitir a desidratação Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 57 de álcoois secundários de maneira mais branda, foram desenvolvidos reagentes efetivos em condições suaves e básicas. Um desses reagentes é o POCl3 (oxicloreto de fósforo), tendo priridina como solvente, que é capaz de desidratar álcoois secundários e terciários a 0 °C por mecanismo E2. Nesse caso, forma-se o ânion diclorofosfato (-OPOCl2) que é melhor grupo de saída que -OH. Quando a eliminação é E1, a reação se passa por carbocátion e por isso podemos ter rearranjo para obter o intermediário mais estável. 58 Notas em Química Orgânica 2.3.1.3 Desbromação de vic-dibrometos Dialetos vicinais (ou vic) são compostos dialogenados em que os halogênios estão situados em carbonos adjacentes. Esses compostos são preparados pela adição de bromo a um alceno; consequentemente, a desbromação de vic-dibrometos é de pouca importância como reação preparativa. A bromação seguida por desbromação é útil, no entanto, na purificação de alcenos e na proteção da ligação dupla. vic-Dibrometos sofrem desbromação em duas condições: i) quando são tratados com solução de iodeto de sódio em acetona; ii) com mistura de zinco em pó em ácido acético glacial (ou etanol). A desbromação por iodeto de sódio se passa por mecanismo E2, em duas etapas, similar ao mecanismo para desidroalogenação de haletos de alquila: Etapa 1: remoção do bromo por eliminação E2 e formação da ligação dupla. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 59 Etapa 2: ataque, via mecanismo SN2, do íon iodeto ao IBr para a formação de I2 e brometo. Quando realizada com zinco, a desbromomação ocorre na superfície do metal e o mecanismo é incerto. Outros metais eletropositivos, como Na, Ca e Mg também causam desbromação de vic-dibrometos. 2.3.2 Síntese de alcinos via reações de eliminação 2.3.2.1 Desidroalogenação de vic-dibrometos Alcinos podem ser sintetizados a partir de alcenos. Inicialmente, o alceno é tratado com Br2 para formar um composto vic-dibrometo. O vic-dibrometo sofre, então, desidroalogenação por reação com uma base forte (frequentemente, amideto de sódio). Essa reação ocorre em duas etapas: na primeira, por eliminação E2, forma-se o bromoalceno; na segunda, também por eliminação E2, forma-se o alcino. Dependendo das condições, essas duas desidroalogenações 60 Notas em Química Orgânica podem ser realizadas como reações separadas ou em uma única mistura. A base forte, amideto de sódio, é capaz de realizar as duas desidroalogenações simultaneamente na mesma mistura reacional. As reações com amideto de sódio são geralmente realizadas em amônia líquida ou em meio inerte como óleo mineral. Nota. Se o produto é um alcino terminal, o átomo de hidrogênio (chamado de hidrogênio acetilênico), apesar de ser pouco ácido, pode ser removido pela base forte amideto de sódio, consumindo um mol da base nessa reação. Por isso, devem ser usados três equivalentes molares da base por mol do dibrometo, como mostrado na reação abaixo. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 61 2.3.2.2 Desidroalogenação de gem-dicloretos Cetonas podem ser convertidas em gem-dicloretos (em outras palavras, dicloreto geminal) por reação com pentacloreto de fósforo, e estes podem ser usados para sintetizar alcinos. 2.4 REAÇÕES 2.4.1 Reações de alcenos Ao contrário dos alcanos que são muito inertes, os alcenos sofrem muitas reações que se passam na ligação dupla. A energia necessária para quebrar a ligação dupla de um alceno é de aproximadamente 260 kJ/mol. Como esse valor é bem menor que os 350 kJ/mol necessários para romper a ligação simples C-C, os alcenos normalmente sofrem reações de adição à ligação dupla, gerando compostos saturados: em que A-B podem ser: H2, HCl, HBr, H2O, Cl2, Br2, dentre outros. 62 Notas em Química Orgânica Quais são os melhores reagentes para as reações de adição às ligações duplas C-C? Devido à geometria da ligação dupla, ela pode funcionar como uma base de Lewis, quer dizer, tem a capacidade de doar elétrons. Assim, os reagentes deficientes em elétrons (reagentes eletrofílicos ou ácidos de Lewis) adicionam-se facilmente aos alcenos. Essas são reações de adição eletrofílica e são características dos alcenos. 2.4.1.1 Hidrogenação É o método mais geral de conversão de uma ligação dupla em simples. A hidrogenação não ocorre em extensão apreciável na ausência de catalisador metálico. No caso de catálise heterogênea, em geral, são utilizados Pd, Pt ou Ni. No exemplo anterior, pode-se observar que as “ligações duplas aromáticas” são muito mais resistentes à hidrogenação que as ligações duplas comuns. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 63 Devido ao fato de a catálise ser heterogênea (a reação ocorre na superfície do metal), os hidrogênios irão se ligar do mesmo lado da ligação dupla, dando um produto de adição cis. 2.4.1.2 Adição de ácidos (H-Z) Ácidos próticos (H-Z) são reagentes eletrofílicos não-simétricos, podendo se adicionar a alcenos em reações de adição eletrofílica. Ácidos fortes, como H2SO4, HCl, HBr, HI e CF3COOH, adicionam-se rapidamente. Já ácidos fracos, como H2O e CH3COOH, adicionam-se quando em presença de traços de ácidos fortes (catalisador). 64 Notas em Química Orgânica Para alcenos simétricos, o produto de adição é facilmente determinado. Exemplos: Para os alcenos não-simétricos há a possibilidade de obtenção de dois produtos: Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 65 Em 1869, em reações como a mostrada acima, o químico russo Vladimir Markovnikov observou a formação preferencial de um entre os dois produtos e formulou a seguinte regra empírica: “Nas reações de adição de H-Z a alcenos não-simétricos, o próton (H+) liga- se preferencialmente ao carbono que já possui o maior número de hidrogênios”. Essa formulação ficou conhecida como regra de Markovnikov. Mecanismo da adição de H-Z Para entender o que se passa nas reações é preciso investigar o seu mecanismo. Um mecanismo descreve exatamente como a reação se processa. Para as adições de H-Z, o mecanismo ocorre por um processo polar em duas etapas: i) ataque eletrofílico: lento, determinante da velocidade: 66 Notas em Química Orgânica ii) ataque nucleofílico ao carbocátion (rápido): ou O primeiro processo é a etapa lenta, pois os carbocátions são muito reativos, isto é, muito energéticos. A formação de intermediários energéticos exige muita energia de ativação e, em consequência, o processo será lento (endotérmico). O segundo processo é exotérmico e tem pequena energia de ativação: é a etapa rápida. Conhecendo o mecanismo, podemos agora entender a regra de Markovnikov. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 67 Nós já sabemos que os carbocátions secundários são mais estáveisque os primários, são formados mais facilmente e exigem menos energia para a sua formação. Assim, o H+ prefere atacar C-1, que dá carbocátion secundário, do que C-2, que dá carbocátion primário. Sendo formado mais facilmente o carbocátion secundário, ele irá reagir com o nucleófilo dando o produto previsto pela regra de Markovnikov. O carbocátion é um exemplo de intermediário, uma espécie formada na reação e que é usada tão rapidamente que não pode ser isolada. Os carbocátions podem sofrer rearranjos, originando carbocátions mais estáveis, e com isso podem ser obtidas misturas mesmo quando se espera apenas um produto. Esses rearranjos se passam pelo deslocamento 1,2 de hidrogênio, sendo limitados a hidrogênios em carbonos adjacentes à carga positiva. Essas reações de adição de H-Z ocorrem segundo uma orientação preferida ou exclusiva. Isso é conhecido como regiosseletividade, ou seja, o reagente faz uma adição regiosseletiva. 68 Notas em Química Orgânica Nota. Para o HBr dar esse tipo de reação é preciso que o meio seja polar e escuro. Na presença de luz, de peróxidos ou de outros iniciadores de reações em cadeia de radicais livres, o HBr dá uma reação rápida com alcenos com adição contrária à regra de Markovnikov. Exercício resolvido: Dê os produtos da reação do 3-metilbut-1-eno com HCl. 2.4.1.3 Adição de HBr via radical livre É uma adição contrária à regra de Markovnikov e ocorre em meio contendo peróxidos, com exposição à luz ou com outros iniciadores de reações de radicais livres. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 69 As reações por radicais livres se passam em três etapas: Nota. Veja que agora temos radicais como intermediários e não mais carbocátions. Outra diferença é que primeiro temos a adição do halogênio e só depois a do hidrogênio, resultando em adição anti- Markovnikov. 70 Notas em Química Orgânica Apenas HBr tem as energias favoráveis para esse tipo de reação. HI não reage via radicais livres e HCl apenas em condições especiais. 2.4.1.4 Adição de halogênio (Cl2, Br2, I2) Reação muito usada para proteção das ligações duplas ou para testar a presença de insaturação em moléculas de estrutura desconhecida. Mecanismo das adições de halogênios: Nessas reações temos a formação de um intermediário cíclico (íon halônio). A formação desse intermediário tem um importante efeito sobre a estereoquímica do produto final da adição, uma vez que o Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 71 ataque do nucleófilo (X-) ao carbono ocorre pelo lado oposto ao halogênio, resultando em adição anti. Isso é evidenciado no caso de alcenos cíclicos em que há a formação de produto trans. O mecanismo acima também explica os produtos obtidos na halogenação do cis-but-2-eno. Os produtos são os enanciômeros d,l do 2,3-dibromobutano, sendo obtidos pelas rotas “a” e “b” mostradas no mecanismo a seguir. 72 Notas em Química Orgânica Exercício: Para a reação anterior, ao se partir do trans-but-2-eno chega-se apenas ao diastereoisômero meso. Mostre o mecanismo que explica a formação desse produto. 2.4.1.5 Epoxidação É uma reação de oxidação em que o alceno é convertido em éter cíclico de 3 membros (epóxido). A reação de oxidação se dá com perácido. 2.4.1.6 Hidroxilação (formação de dióis) Os alcenos podem ser convertidos em dióis por dois métodos: 1- pela abertura do anel do epóxido por hidrólise em meio ácido: forma-se sempre o trans-1,2-diol; Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 73 2- pela oxidação direta do alceno com KMnO4 ou OsO4: nesses casos, forma-se o cis-1,2-diol. Nota. A hidroxilação com KMnO4 não é tão eficaz porque é difícil parar no diol, já que a reação prossegue até a formação de cetonas ou ácidos carboxílicos. 2.4.1.7 Ozonólise Ozônio, O3, é um oxidante forte que leva à clivagem da ligação dupla. O ozônio se adiciona a alcenos, a baixas temperaturas, rendendo um composto instável chamado molozonídeo. Este é instável e 74 Notas em Química Orgânica rapidamente transforma-se em um segundo aduto conhecido por ozonídeo. Ozonídeos de baixa massa molar são explosivos e, portanto, não devem ser isolados. No entanto, se forem tratados com agentes redutores, como zinco metálico em ácido acético ou dimetil sulfeto (CH3-S-CH3), os ozonídeos podem ser convertidos em aldeídos ou cetonas, dependendo do alceno de partida. Alcenos tetrassubstituídos dão origem a duas cetonas; os trissubstituídos rendem uma cetona e um aldeído; e assim por diante. Note que o resultado líquido da ozonólise seguida de redução é a transformação de uma ligação dupla em duas carbonilas. 2.4.1.8 Clivagem oxidativa Assim como na ozonólise, o tratamento de alcenos com KMnO4 a quente, em meio ácido, leva à clivagem direta da ligação dupla com Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 75 formação de cetonas e ácidos carboxílicos. Aldeídos não são isolados uma vez que são prontamente oxidados a ácidos carboxílicos. 2.4.1.9 Hidratação de alcenos A água se adiciona a alcenos para formar álcoois em um processo chamado hidratação. A reação ocorre por tratamento do alceno com água na presença de ácido forte (normalmente, H2SO4 e H3PO4) como catalisador. O mecanismo é semelhante ao da adição de H-Z (ver item 2.4.1.2), em que a protonação da ligação dupla do alceno fornece um carbocátion que reage com a água para formar álcool protonado (R-OH2 +). A perda de H+ gera o álcool e regenera o catalisador ácido. A hidratação catalisada por ácidos é apropriada para procedimentos industriais em grande escala. Entretanto, é pouco interessante nas aplicações laboratoriais porque requer altas temperaturas e condições fortemente ácidas. A hidratação do etileno, por exemplo, se passa a 250 °C usando ácido sulfúrico concentrado como catalisador. Além disso, a ocorrência de rearranjos de carbocátions, os quais são formados na primeira etapa da hidratação, limita a utilidade da hidratação de alcenos como método laboratorial 76 Notas em Química Orgânica de preparação de álcoois. Em laboratório, os alcenos são facilmente hidratados por oximercuração ou hidroboração. Oximercuração Quando um alceno é tratado com acetato mercúrico em THF aquoso, ocorre rapidamente adição eletrofílica à ligação dupla. O composto organomercúrico intermediário, ao ser tratado com NaBH4, libera um álcool. Essa adição é estereoespecífica, dando produto do tipo Markovnikov. Hidroboração A hidroboração envolve a adição de uma ligação B-H do borano (BH3) para formar um intermediário organoborano, R-BH2: Nota. Borano (BH3) é um monômero hipotético do diborano (B2H6). Este é uma espécie gerada da reação entre boroidreto de sódio (NaBH4) e trifluoreto de boro (BF3), tanto in situ (na presença do alceno) como em frasco separado. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 77 Como o borano tem três hidrogênios, na prática a adição ocorre três vezes formando um trialquilborano, R3B: Alquilboranos sofrem oxidação em meio básico quando tratados com H2O2 aquoso. Como resultado, temos a hidratação da ligação dupla formando álcool. A reação é estereoespecífica (dá o produto trans) e anti-Markovnikov porque se passa em etapa única sem formação de intermediário carbocátion. Os alquilboranos quando tratados com ácidos carboxílicos(acético ou propanóico) são rapidamente convertidos em alcanos. 2.4.1.10 Cicloadição (reação Diels-Alder) 78 Notas em Química Orgânica É um dos métodos mais importantes na preparação de alcenos cíclicos de seis membros. A reação envolve um alceno (dienófilo) e 1,3-dieno. A cicloadição é mais rápida quando: a) o dienófilo está substituído por grupos que atraem elétrons (aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, ésteres ou amidas conjugadas); b) o dieno tem grupo doador de elétrons (por exemplo, grupos alquila). Outro fator experimental importante é que o dieno deve estar na configuração s-cis e não na s-trans (arranjos geométricos em torno da ligação simples). Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 79 2.4.2 REAÇÕES DE ALCINOS Os alcinos são compostos insaturados que sofrem reações de adição de modo semelhante aos alcenos. A ligação tríplice reage como a dupla e podemos ter adição de até dois mol do reagente. 2.4.2.1 Adição de hidrogênio Pode levar a alcenos cis ou trans, ou seja, estereoquímica sin e anti, respectivamente. 80 Notas em Química Orgânica O isômero formado será cis ou trans dependendo do catalisador usado. Para a obtenção do trans, faz-se redução catalisada por Na ou Li em amônia líquida (amônia resfriada em mistura gelo seco/acetona, cuja temperatura pode chegar a -72 °C). Quando se usa catalisador desativado (catalisador menos ativo), por exemplo, paládio depositado em sulfato de bário desativado por quinolina, obtém-se o isômero cis. Se usarmos 2 mol de H2 para cada mol de alcino, teremos a redução completa da ligação tríplice. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 81 2.4.2.2 Adição de X2 e HX Alcinos reagem com Cl2 e Br2 formando dialoalcenos trans ou tetraaloalcanos. Adição de HCl e HBr, na ausência de peróxidos, segue a regra de Markovnikov. Com peróxido, o produto é anti-Markovnikov. 2.4.2.3 Adição de água (hidratação) Como os alcenos, alcinos podem ser hidratados por dois métodos: adição catalisada pelo íon mercúrico, dando produto tipo Markovnikov; adição indireta, pela sequência de hidroboração/oxidação, fornecendo produto anti-Markovnikov. Com alcino interno, a hidratação leva à formação de cetona. Para alcino terminal, a hidratação com íon mercúrico leva a cetona e a hidroboração/oxidação fornece aldeído. 82 Notas em Química Orgânica Hidratação pelo íon mercúrico Alcinos são menos reativos que alcenos em reações de adição eletrofílica, entretanto, na presença de ácido sulfúrico e sulfato mercúrico, a hidratação se dá prontamente. Alcino terminal: a adição ocorre com regioquímica Markovnikov, o hidrogênio é adicionado ao carbono mais hidrogenado. Nota. O álcool vinílico (enol) é apenas um intermediário da reação, ele é instável e sofre rearranjo a cetona em um processo conhecido por tautomeria ceto-enólica. Alcino interno não simétrico: neste caso obtém-se uma mistura de duas cetonas, por isso a reação é mais útil para alcino terminal, pois forma-se apenas metil-cetona, ou para alcino interno simétrico. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 83 Hidratação por hidroboração/oxidação O borano (BH3) se adiciona rapidamente a alcinos (de forma semelhante aos alcenos) e o borano vinílico resultante, ao ser oxidado com H2O2 em meio básico, forma um enol. A tautomerização do enol gera aldeído (com alcino terminal) ou cetona (com alcino interno). Alcino terminal Alcino interno 84 Notas em Química Orgânica Nota. Comparando-se a hidratação de alcino terminal pelo íon mercúrico e pelo boro, verifica-se a obtenção de cetona e de aldeído, respectivamente. 2.4.2.4 Alquilação de alcinos terminais O hidrogênio ligado ao carbono da ligação tríplice de alcino terminal (chamado hidrogênio acetilênico) pode ser substituído por grupo alquila. Esse hidrogênio é pouco ácido, mas pode ser removido por base forte, como o amideto de sódio, formando o ânion alcinido. Este ânion, ao ser tratado com um haleto de alquila apropriado (normalmente, um haleto de metila ou primário não-ramificado no segundo carbono), dá origem a uma nova ligação carbono-carbono. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 85 Os haletos primários ramificados, os secundários e terciários não se comportam da mesma maneira, fornecendo outros produtos predominantemente pelo mecanismo de eliminação. A formação da nova ligação carbono-carbono é, por si só, uma transformação importante, mas a ligação tríplice pode ainda ser usada em reações posteriores. Por exemplo, a hidrogenação do novo alcino recém-preparado constitui a síntese formal de alcanos. 2.4.2.5 Cicloadição (reação Diels-Alder) Assim como alcenos, os alcinos dão reações Diels-Alder e agem como dienófilos. 86 Notas em Química Orgânica 2.5 EXERCÍCIOS 1- Desenhe seis alcenos isoméricos de fórmula molecular C5H10 e dê os nomes segundo a IUPAC. 2- Dê o nome sistemático para cada uma das seguintes substâncias: 3- Desenhe a estrutura de cada um dos compostos abaixo. a) 1-cloroex-3-ino b) 3,3-dimetilciclopenteno c) but-1-en-3-ino d) (Z)-3-isopropilept-2-eno e) (E)-1,2-dibromo-3-isopropilex-2-eno f) 3-etilexa-1,5-diino 4- Que produto resulta da hidroboração seguida de oxidação (com H2O2/OH -) do 1-metilciclopenteno quando o borano está deuterado (BD3)? Indique a estereoquímica (arranjo espacial) do produto. Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 87 5- Qual alcino seria o melhor reagente para a síntese de cada uma das cetonas abaixo? Para o caso da acetona, mostre os reagentes que você usaria na sua síntese. 6- Na reação de hidratação do propeno catalisada por ácido sulfúrico, em meio polar, é formado um álcool. Desenhe a equação que representa essa reação e proponha o mecanismo. 7- Considerando as mesmas condições da questão 6, qual é o produto principal se a reação se dá com o 3-metilbut-1-eno? Explique. 8- Dê as estruturas dos produtos formados pela adição dos seguintes reagentes ao but-2-ino. Mostre também os produtos intermediários quando for o caso. a) H2/Pt seguido de KMnO4/H +/Δ. b) H2/Pt seguido de CH3COOOH e hidrólise em meio ácido. c) 2 mol de HCl. d) But-1,3-dieno. 9- Considere o propeno. Apresente as estruturas dos produtos de adição ao fazê-lo reagir com as seguintes espécies: a) H2O, H + c) HBr (iônico) b) Br2 d) HBr (radicalar) 88 Notas em Química Orgânica 10- Proponha um mecanismo que explique a seguinte reação: 11- O isobutileno pode sofrer hidratação ao se realizar a reação com H2SO4 a 10%. Apresente o mecanismo que explica a formação exclusiva do álcool terc-butílico. 12- As reações de Diels-Alder são um caso especial de reações de adição que ocorrem com os alcadienos. Elas não precisam de nenhum catalisador, mas sim de ligações entre carbonos. Apresente as estruturas dos dienos e dienófilos que forneceriam os seguintes produtos em uma reação desse tipo: 13- Esboce um mecanismo que explique a seguinte observação: “a adição, em condições iônicas, de HBr ao 3-metilbut-1-eno forma dois produtos, o 2-bromo-3-metilbutano e o 2-bromo-2-metilbutano” . Capítulo 2 – Alcenos e Alcinos 89 14- Mostre as duas etapas necessárias para a síntese do 2-cloro-
Compartilhar