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CURRÍCULO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Pablo Rodrigo Bes Currículo e avaliação: um processo contínuo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar como a avaliação aparece no currículo. Organizar novas formas de avaliação para um currículo que atenda a escola do século XXI. Formular um portfólio como instrumento para uma avaliação contínua. Introdução A avaliação e o currículo escolar sempre tiveram uma conexão muito importante e próxima, uma vez que avaliar é uma das atividades neces- sárias para o alcance dos objetivos de aprendizagem propostos. Porém, ao longo do desenvolvimento histórico, a avaliação, assim como o cur- rículo e a própria didática, passou a considerar elementos e finalidades diferentes, modificando os paradigmas dominantes desses períodos. Os dois grandes paradigmas que envolvem a avaliação são o classificatório e o formativo, embora, entre as tipologias mais amplamente adotadas nas escolas, tenhamos, também, a avaliação diagnóstica. Avaliar na escola do século XXI exige, porém, que se reconfigure os conceitos que restringem os processos avaliativos a meros instrumentos de medição, controle e classificação e se considere o seu aspecto processual, subjetivo, quanti- tativo e qualitativo, bem como outros fatores inerentes ao processo de ensino e aprendizagem. Assim, a utilização de portfólios para avaliar pode significar um ótimo exemplo dessa busca por contemplar as competências e habilidades a serem desenvolvidas atualmente nas escolas. Neste capítulo, você vai conhecer como a avaliação e o currículo se relacionam a partir dos seus principais modelos. Além disso, verá as formas de avaliação necessárias para o currículo escolar do século XXI, entendendo o que é um portfólio, suas características e potencialidades. 1 Avaliação e o currículo A avaliação faz parte do contexto curricular desde que a escola surgiu como instituição social voltada para a civilização das massas populares no século XVIII. Porém, os sentidos que recaem sobre a avaliação em relação ao percurso de formação dos estudantes passaram por algumas mudanças signifi cativas, que se associam aos paradigmas de cada época histórica. Veiga-Neto (2007, p. 40), ao analisar os múltiplos usos e sentidos da polissemia da palavra paradigma, esclarece que “[...] um paradigma pode ser visto como uma imagem de fundo, qual uma imagem de um quebra-cabeça, a partir da qual se vê e se compreende aquilo que se pode ver e compreender do mundo”. Assim, um paradigma educacional corresponde aos conceitos, metodologias, técnicas, perguntas e respostas que dão embasamento, endossam e constituem o conhecimento científi co de cada época. Ao analisar a relação existente entre o currículo escolar e os procedimentos avaliativos nas escolas, Gimeno Sacristán (2020, p. 311) destaca que “[...] o currículo abarcado pelos procedimentos de avaliação é, enfim, o currículo mais valorizado, a expressão da última concretização de seu significado para professores, que, assim, evidenciam uma ponderação, e para alunos, que, dessa forma, percebem através de que critérios são avaliados”. Assim, avaliar faz parte da dinâmica curricular da escola, pois permite que os professores avaliem o alcance de suas estratégias pedagógicas por meio dos resultados apresentados pelos alunos com os critérios estabelecidos e que podem ser tanto de natureza qualitativa ou quantitativa. Dessa forma, considerando a avaliação e sua articulação com o currículo escolar, podemos afirmar que a avaliação apresentou, nas últimas décadas, dois paradigmas principais que, embora com inúmeras críticas, têm coexistido, o classificatório e o formativo. O paradigma classificatório é o modelo de avaliar mais antigo, em que se utilizam práticas voltadas para a classificação dos estudantes a partir dos resultados obtidos nas provas, nos testes e exames. Assim, também serve para manter o seu controle e, muitas vezes, promove a competição e a meri- tocracia. Vale-se, para atingir seus objetivos, prioritariamente, dos aspectos quantitativos. Ao longo do século XX, o paradigma dominante nos processos de ava- liação realizados nas escolas foi este, em que os estudantes assumem uma condição passiva frente ao ensino que os professores, legítimos detentores do conhecimento, transmitiam-lhes — essa metodologia foi denominada no Brasil por Freire (1987, p. 58) como uma “educação bancária”. Dessa forma, Currículo e avaliação: um processo contínuo2 para verificar se os “depósitos” feitos pelo professor em termos de conteúdos haviam sido assimilados pelos estudantes, bastava aplicar provas que medissem esses aspectos. Esse entendimento deu margem para que muitos alunos, ao longo de todo o seu período escolar, utilizassem técnicas de memorização para ter sucesso nessas avaliações — porém, não era possível confirmar se haviam aprendido alguma coisa ao fazer isso. É importante demarcar que não houve uma ruptura radical entre esses dois modelos de avaliação, e ambos ainda estão presentes no cenário educacional brasileiro. Nesse sentido, Sousa (2014, p. 412) faz uma crítica aos processos avaliativos encontrados atualmente nas escolas quando afirma que: Tradicionalmente a avaliação é concebida e vivida na escola como instru- mento de classificação e seleção de alunos por mérito e a perspectiva de uma avaliação formativa não foi capaz de se enraizar nas práticas escolares, embora tenha sido amplamente difundida nas redes de ensino, com expressão na legislação e documentos oficiais que tratam do tema. Em consequência, lamentavelmente, a restrição da concepção de avaliação da aprendizagem à medida de desempenho do aluno tende a ter acolhimento no contexto escolar, abrigando, inclusive, a ideia de repetência como uma medida apropriada a um sistema educacional que se pretenda de qualidade, admitindo-se a seletividade e a exclusão como inerentes à dinâmica escolar e social. Mesmo durante os períodos nos quais o paradigma avaliativo principal era o classificatório, autores já problematizavam que a avaliação deveria ser diferente ou, ainda, que a educação escolar deveria seguir outros rumos e que a prática docente e os objetivos educacionais não deveriam se restrin- gir a esses procedimentos. Podemos citar entre esses autores o educador brasileiro Paulo Freire (1921–1997), com a sua educação problematizadora, e ainda várias outras propostas de metodologias ativas da educação, como a aprendizagem baseada em problemas e aprendizagem baseada em pro- jetos, de John Dewey (1859–1952) e William H. Kilpatrick (1871–1965) respectivamente, os centros de interesse de Ovide Decroly (1871–1932), os jogos e materiais pedagógicos de Maria Montessori (1870–1952), entre tantos outros. O contraponto apresentado por esses pesquisadores da área da educação ao modelo tradicional, que se utilizava das avaliações de caráter classificatório, era de que o centro do processo educacional deveria ser o aluno; o estudante é que deveria interagir com conteúdo e colegas de forma a construir seu conhe- cimento de forma ativa, prática e concreta. Dessa forma, era urgente estender o caráter da avaliação para além do controle, buscando a emancipação dos 3Currículo e avaliação: um processo contínuo estudantes, propondo seu protagonismo e dando margem para a concepção de avaliação formativa, ou seja, ao longo do processo de ensino e aprendiza- gem, logo, contínua. Assim, a emergência do paradigma formativo na área educacional é bem mais recente, sendo aquele que envolve ação diagnóstica, ocorrendo de forma processual, ao longo de todas as etapas que o estudante experiencia em seu processo de ensino e aprendizagem, sendo, assim, também mais democrático e qualitativo. Podemos dizer que o grande ponto que fez com que o processo educacional sofresse uma modificação radical, que afetou a didática escolar de forma geral e, consequentemente, também as práticas avaliativas,foi a transição para um novo paradigma no qual a aprendizagem passa a ser o foco. Não se trata de uma simples aprendizagem, mas, sim, de uma aprendizagem significativa, que faça sentido aos estudantes, que se alie com a capacidade cognitiva já existente neles e a amplie rumo a novos entendimentos, que seja ainda conectada com sua realidade social e cotidiana. Dias (2014, p. 285) destaca os múltiplos sentidos e contribuições que recaem sobre a avaliação ao comentar que: A avaliação é sempre uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que informa o quanto cada estudante está conseguindo alcançar ou mesmo qual a situação em que estamos vivendo, também reflete se o que estamos planejando ou executando (modo ou conteúdo da ação profissional) alcança os objetivos pretendidos ou definidos. Por isso a avaliação é a guardiã dos objetivos; um processo e nunca uma atividade isolada. Fazendo uma relação da citação do autor com os aspectos inerentes ao currículo escolar, percebemos que a avaliação, além de nos informar acerca do desempenho dos estudantes em relação aos objetivos definidos ou às habilidades a serem de- senvolvidas que constam em nossos planos de aula, ainda serve como importante instrumento para que possamos ajustar nossos próprios esforços de planejamento, muitas vezes permitindo o ajuste de nossas estratégias pedagógicas. Outra tipologia para as avaliações foi proposta Haydt (2008), que, ao ana- lisar o processo histórico da avaliação escolar, estabeleceu para a mesma três funções básicas: diagnosticar, controlar e classificar. Dessa forma, as escolas costumam evidenciar seus processos avaliativos a partir de três modelos específicos: as avaliações diagnóstica, somativa e formativa. Acompanhe no Quadro 1, a seguir, as características desses tipos de avaliação. Currículo e avaliação: um processo contínuo4 Fonte: Adaptado de Haydt (2008). Tipo Função Propósito Quando aplicar Diagnóstica Diagnosticar Conhecer os saberes prévios dos alunos para preparar ações que favoreçam novas aprendizagens; detectar dificuldades específicas de aprendizagem, tentando identificar suas causas. No início do ano ou semestre letivo ou no início de uma nova unidade de ensino. Formativa Controlar Constatar se os objetivos foram alcançados pelos alunos. Fornecer dados para aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem. Durante o ano letivo, isto é, ao longo do processo de ensino-aprendi- zagem. Somativa ou classificatória Classificar Classificar os resultados de aprendizagem alcançados pelos alunos de acordo com os níveis preestabelecidos. Ao final de um ano ou semestre letivo ou ao final de uma unidade de ensino. Quadro 1. Características da avaliação diagnóstica, formativa e somativa Dessa forma, Haydt (2008) acrescenta aos dois grandes modelos ante- riores que aprendemos, a avaliação classificatória ou somativa e a avaliação formativa, o conceito de avaliação diagnóstica, também conhecida nas escolas como a ação pedagógica que visa realizar a sondagem dos saberes que os estudantes já possuem, principalmente quando progridem nos níveis de ensino. Dessa forma, a avaliação diagnóstica também pode ser associada com o paradigma formativo, pois, ao longo do processo de ensino e apren- dizagem, é importante produzir diagnósticos que amparem as ações dos professores, contribuindo para a percepção dos objetivos atingidos e para ajustes nos seus planos de aula. É importante esclarecer, ainda, que as mudanças no paradigma ava- liativo, propondo uma avaliação formativa, é o fato de que avaliação pas- sou a ser incorporada ao processo ensino e aprendizagem de maneira indissociável. Assim, realizamos avaliações diagnósticas para começar 5Currículo e avaliação: um processo contínuo a planejar de onde partir, permitindo que haja um equilíbrio no grau de dificuldade do conteúdo a ser ensinado aos estudantes e que contemple suas aprendizagens anteriores. Em seguida, fazemos o acompanhamento do processo de aprendizagem com avaliações formativas ao longo do percurso e, por fim, temos que atender às exigências oficiais e registrar até onde o aluno chegou quando o processo terminar, seja ao final do ano letivo, do semestre, trimestre ou bimestre, etc., tratando-se da avaliação somativa. Dessa forma, os três tipos de avaliação poderão ser utilizados pelos professores com foco na avaliação da aprendizagem, uma vez que “[...] uma não é nem pior, nem melhor que a outra, elas apenas têm obje- tivos diferenciados” (FERNANDES; FREITAS, 2007, p. 20). Nesse caso, apesar de a avaliação somativa ou classificatória ser considerada por vezes negativa, isso ocorre quando essa tipologia é utilizada como a única forma de avaliar, enfatizando a classificação e a exclusão. Portanto, podemos afirmar que as práticas avaliativas estão sempre sendo exercidas em sala de aula, pois, mesmo quando não as transformamos em objetos tangíveis (provas, testes, trabalhos, etc.), estamos avaliando de forma qualitativa, muitas vezes registrando em nossos planos de aula ou nos diários de classe questões como o nível de participação dos alunos, os aspectos de sua liderança, evidências de suas contribuições para o grupo, entre outras. Vamos ver, a seguir, como deve ser um processo avaliativo que se alie com a educação do século XXI. Uma das importantes contribuições intelectuais para a mudança nos paradigmas ava- liativos no Brasil foi o conceito de avaliação mediadora, desenvolvido pela professora Jussara Hoffmann nos anos 1990. Nessa concepção, a avaliação se estabelece a partir do diálogo entre professor e alunos e do acompanhamento ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Nessa relação dialógica, existe a apropriação dos saberes pelos estudantes (e pelo professor), como ação-reflexão-ação daquilo que ocorre na sala de aula, sempre com o objetivo de buscar aprimorar e enriquecer o processo, tornando-o mais significativo e compreensível. Currículo e avaliação: um processo contínuo6 2 Avaliação na escola do século XXI O século XXI se reconfi gurou de tal maneira que a escola precisa urgentemente rever a forma como tem pensado a formação de seus estudantes, uma vez que, quase diariamente, surgem novas competências que devem ser aprendidas pelas pessoas, o que implica elaborar novos processos de ensino e aprendizagem capazes de desenvolver as habilidades cognitivas necessárias. Ao mesmo tempo, habilidades sociais também emergem com grande importância para a humanidade, e o desenvolvimento pleno dos estudantes deve contemplá-las. Por outro lado, desenvolver o sentido crítico e a capacidade de participação e contribuição com o local onde vivem, ou seja, sua consciência cidadã, também é importante. A partir disso, questionamos: está a escola do século XXI ava- liando esses aspectos citados de forma homogênea? Ou estaria se restringindo mais aos aspectos curriculares que se voltam para o desenvolvimento das competências esperadas e impostas pelo mercado de trabalho? É oportuno, nesse momento, retomarmos que os objetivos da educação escolar no Brasil hoje, dever do Estado e das famílias e compromisso de toda a sociedade, conforme se apresentam na Constituição Federal vigente, em seu artigo 205, são os seguintes: pleno desenvolvimento da pessoa; preparo para o exercício da cidadania; qualificação para o trabalho. Dessa forma, a avaliação deveria contemplar mecanismos que pudessem evidenciar como esses três grandes objetivos estão sendo atingidos na contem- poraneidade, uma vez que são igualmente importantes para a formação humana. Suassuna (2007, p. 37), grande crítico do paradigma avaliativo classificatório, entende que um novo conceito de avaliação na atualidade deveria “instituir o pensamento crítico, favorecer a autonomia intelectual e a criatividade, desen- volver-se em processos pedagógicos democráticos e solidários”. Ou seja, como a educação atualmente integra o rol dos direitos sociais brasileiros, são urgentes novos pensamentosa seu respeito que possam de fato envolver os alunos, os professores (sua formação e suas práticas pedagógicas), o currículo escolar, a estrutura das escolas, a gestão escolar e os sistemas de ensino existentes. 7Currículo e avaliação: um processo contínuo Um novo paradigma educacional que vise romper com a avaliação tradi- cional, que enfatiza o controle e o gerenciamento das práticas educacionais, propondo modos de superação e promovendo o caráter processual e formativo necessário para o século XXI, deve abranger os seguintes pontos (GIMENO SACRISTÁN, 2020; HOFFMANN, 1994; SUASSUNA, 2007): processo; experiência histórica; experiência coletiva; ensino e aprendizagem; intersubjetividade; ética; política; cultura organizacional; dialogicidade e acompanhamento. A avaliação entendida como um processo faz parte da tipologia de ava- liação formativa que estudamos anteriormente e se aplica ao longo de todo o período em que se estabelece a prática educativa. Assim, costuma ocorrer desde sua abordagem inicial e diagnóstica, com a sondagem normalmente realizada pelos professores, estendendo-se ao longo do desenvolvimento dos conteúdos, inclusive contemplando os momentos de aplicação de provas e testes para medir resultados, porém, não como um fim em si mesmo, mas como possibilidade de ajuste e de planejamento pedagógico. Entender a avaliação como uma experiência histórica e coletiva envolve perce- ber que ocorre a partir de relações e interações múltiplas que ocorrem na escola, seja nas atividades de sala de aula ou em todas as demais experiências que ali são vivenciadas entre os estudantes, professores, gestores escolares e demais membros da comunidade escolar. Não é, nesse caso, uma experiência de caráter predominan- temente individual. Da mesma forma, a avaliação nunca é uma prática neutra, uma vez que está associada aos aspectos históricos de cada época, às características, aos conceitos e às visões de mundo existentes. Podemos citar como exemplo, na atualidade, como as competências exigidas para o mercado de trabalho invadiram a escola, não é mesmo? Assim, cabe à escola rever suas finalidades, passando a considerar de fato as realidades locais e os aspectos culturais, os cenários e as tendências que se apresentam no seu próprio contexto. O paradigma da avaliação do século XXI deve considerar que tanto o ensino quanto a aprendizagem são igualmente importantes. O ensino, porém, como tarefa inerente aos professores, deve ajustar-se às novas exigências Currículo e avaliação: um processo contínuo8 contemporâneas, que envolvem um mundo global e digital, bem como às técnicas e metodologias didáticas que contribuam para a aprendizagem dos alunos, personalizando suas aulas, inserindo metodologias ativas e inova- ções como a gamificação. Isso implica, também, modificar a formação dos professores para que atuem de forma mais eficiente em busca dos objetivos educacionais. Outra forma de percebermos a avaliação na contemporaneidade é conside- rando-a como um processo intersubjetivo, ou seja, que ocorre internamente, por meio das trocas entre professores e alunos, produzindo, assim, suas sub- jetividades. Para isso, a comunicação pedagógica entre alunos e professores é extremamente importante, devendo haver dialogicidade, abertura a participação e colaboração mútuas. Nesse caso, “a intersubjetividade implicada no ato de avaliar reclama novos olhares sobre a realidade: para o outro, para diferentes contextos e níveis de desenvolvimento cognitivo, acertos e erros, hesitações e conflitos, representações mentais e ideológicas, dados aparentemente in- significantes” (SUASSUNA, 2007, p. 38). Mariana é uma pessoa que, como a maioria, tem muitas lembranças a respeito de sua vida escolar, muitas delas relacionadas à postura de alguns professores durante as avaliações realizadas nas escolas que frequentou. Mariana tem recor- dações de coisas simples, mas que produziram efeitos ruins em sua vida, como: ao sentir vontade de participar das aulas, em algumas ocasiões, levantava o braço e falava o que entendia e, então, era duramente criticada por alguns professores, chegando até mesmo a ser motivo de piada e ridicularização em alguns casos mais graves. Expressões do tipo “perdeu a chance de ficar em silêncio”, “quem não sabe nada não fala”, “quanta burrice”, entre outras, fizeram parte do cotidiano escolar de Mariana. Além disso, quando entregavam as provas realizadas, algumas professoras costumavam ler o nome dos alunos em voz alta e, em seguida, informavam suas notas. Esses momentos eram felizes quando a média obtida era boa ou muito boa, porém, quando era baixa, deixavam Mariana muito constrangida diante da turma. Hoje, Mariana está bem, é uma profissional reconhecida, prosseguiu nos estudos, fez uma graduação e está escolhendo uma pós-graduação para cursar, porém, sempre que pode escolher, procura optar em não falar em público, pois tem receio de ser novamente criticada e julgada como incapaz. Esses são exemplos simples de intersubjetividade que acometem os estudantes ao longo de sua formação escolar e que reforçam a importância de termos uma postura docente ética, profissional e cuidadosa ao longo de nossas carreiras. 9Currículo e avaliação: um processo contínuo Outros pontos que devem pautar a avaliação são a ética e a política pelas quais se realizam. A ética envolve considerar a finalidade para a qual a educação se destina, questionando a quem está colocada a serviço, em quais condições de execução, com exclusão ou inclusão de todos, se com privilégios ou equitativamente. Já a política é importante por considerar que, no âmbito das relações democráticas, as metodologias avaliativas deveriam ser amplamente discutidas, negociadas com todos os atores sociais que fazem parte das comunidades escolares. Também é necessário que a avaliação seja parte da cultura organizacional das escolas, entendida como parte importante dos processos educacionais, que são postos em prática para a produção dos sujeitos que ali estão, ou seja, indo muito além de ferramenta de controle e de construção de indicadores. Os indicadores são importantes, mas, muito mais do que eles, são as ações realizadas a partir dos mesmos, pois, caso contrário, o processo de ensino- -aprendizagem não será enriquecido de alguma maneira. Outro ponto que deve pautar as avaliações do século XXI e que já vem sendo discutido ao longo das últimas décadas na área educacional, contribuindo para a modificação do sentido da educação escolar e da práxis docente, é a necessidade permanente de diálogo e de acompanhamento dos estudantes enquanto vivenciam o seu processo de aprendizagem. Conforme salienta Hoffmann (1994, p. 56), “a avaliação, enquanto relação dialógica, vai conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e também pelo profes- sor, como ação-reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um saber aprimorado, enriquecido, carregado de significados, de compreensão”. Assim, professores e alunos aprendem e se modificam na relação de ensinar e aprender, e a aprendizagem pode elevar-se de significados quando o docente procura conhecer seus estudantes e proporcionar espaços para que participem, debatam, envolvam-se com o que aprendem, bem como sejam capazes de autoavaliar-se em busca de melhorar sua própria performance. Ao refletir sobre as múltiplas relações existentes entre a avaliação e o currículo escolar, buscando propor um modelo mais adequado para os tempos atuais, Gimeno Sacristán (2020, p. 331) comenta o seguinte: Acreditamos que qualquer esquema ou modelo de realizar a avaliação, ou qualquer proposta de mudança qualitativa das práticas escolares, como pode ser a avaliação formativa, a qualitativa, a avaliação contínua, etc., deve considerar as possibilidades de ser realmente implantado em termos de sua adequação às limitações objetivas e subjetivas dos professores em seu trabalho. As primeiras podem ser melhoradas,por exemplo, com uma redução do número de alunos, com uma liberação de tempo durante a jornada escolar, etc.; as segundas, podem ser modificadas com uma melhor formação. Currículo e avaliação: um processo contínuo10 Assim, notamos que a avaliação sofre interferência de questões objetivas que, muitas vezes, impactam diretamente a possibilidade de aplicação de determinados métodos, bem como das questões internas, subjetivas, inerentes à nossa formação docente. Esses fatores podem diminuir a qualidade de nossa percepção e a produção de juízos mais adequados sobre o que avaliar, quais critérios estabelecer, como proceder em sala de aula. Buscar uma melhor qualificação como professores nesses aspectos é fundamental, uma vez que as avaliações devem fazer parte constante de nossos planejamentos docentes, de nossas práticas cotidianas em sala de aula, pois é também a partir delas que o processo de ensino e aprendizagem pode atingir seus objetivos, seja desenvolvendo competências ou formando plenamente o ser humano. Realizamos avaliações diariamente em sala de aula e, ainda que elas não sejam formali- zadas aos alunos no formato de testes ou provas ou outros instrumentos avaliativos, são avaliações qualitativas. Essas avaliações se dão pela observação dos estudantes e vão produzindo efeitos em nossa memória, ajudando a realinhar procedimentos e reforçar aprendizagens e, até mesmo, as técnicas didáticas que estamos utilizando. Com o decorrer do ano letivo e a partir da experiência docente, os professores vão adquirindo informa- ções sobre os comportamentos de seus estudantes e sobre as melhores estratégias de aprendizagem a serem utilizadas — isso é fruto das avaliações qualitativas que ocorrem diariamente ao longo da regência de nossas turmas. Da mesma maneira, se nos propomos a avaliar de forma mais qualitativa, podemos realizar as mesmas de forma colaborativa, em grupos, frente a desafios, soluções de problemas ou construção de outros materiais concretos. Nesse caso, é a contribuição de todos que leva ao alcance dos resultados. 3 Portfólio: instrumento de avaliação contínua Comentamos anteriormente que as avaliações nas instituições de ensino que pos- suem um currículo inovador, compatível com a formação humana necessária para os estudantes do século XXI, devem ser pensadas no sentido de fornecer condições para que os professores percebam em quais níveis de habilidades desenvolvidas cada aluno se encontre ao longo de todo o processo formativo, quebrando a ideia de avaliação com a fi nalidade classifi catória, realizada somente ao fi nal de certo período letivo (bimestre, trimestre ou semestre). Para que esse processo de avaliação formativa venha a ocorrer de fato, cumprindo com a fi nalidade de contribuir com 11Currículo e avaliação: um processo contínuo as práticas pedagógicas docentes que vêm sendo aplicadas, podem ser adotados os seguintes procedimentos: observar, registrar e documentar. Podemos afirmar que a observação é um ato indispensável para qualquer professor, pois é a partir dessa ação que se pode distinguir como os estudantes se situam dentro do processo que tem sido desenvolvido ao longo de suas aulas, permitindo que perceba se o que projetou em seus planos, atendendo ao que está proposto no currículo da escola, está sendo, ou não, aprendido pelos seus alunos. Afinal, alguns alunos estarão em condições de avançar em termos de capacidades cognitivas, enquanto outros ainda poderão apresentar dificuldades específicas em relação a alguns pontos trabalhados ao longo do período, não é mesmo? Assim, durante o processo de observação realizado com os estudantes, o professor deverá realizar seus registros com o objetivo de acompanhar os avanços e as fragilidades encontradas na aprendizagem dos alunos. Warschauer (1993, p. 56) se refere aos registros e à sua importância acrescentando que “além de favorecer a reflexão, o registro possibilita a construção da memória e da história, enfatizando o papel do diálogo e da experiência grupal na forma- ção”. Ou seja, tudo aquilo que observamos, mesmo que tenha um significado marcante e se apresente como um ponto potente a ser aplicado no futuro, tende-se a perder-se no esquecimento caso não seja devidamente registrado pelo docente em suas aulas. Dessa forma, segundo Warschauer (1993, p. 56), o registro pode ser visto ainda como: [...] possibilidade de formação, de reflexão, de introversão, tendo em vista a compreensão, busca de sentido para a ação cotidiana em sala de aula. O registro é um grande instrumento para a sistematização e organização dos conhecimentos. É também uma possibilidade de que a roda não se feche em si mesma, mas se abra para o mundo. Através de textos, os conhecimentos ali gestados podem, por exemplo, atingir outros grupos. Dessa forma, para que o registro possa nos fornecer condições de reflexão e ajuste de nossas práticas pedagógicas, é interessante que possamos documentá- -los, o que pode ser feito de forma muito eficiente a partir da construção de um portfólio pelos alunos. Alvarenga (2001, documento on-line) define o portfólio como “[...] uma coleção dos trabalhos realizados pelo aluno, que permite acompanhar o seu desenvolvimento. Permite ainda analisar, avaliar, executar e apresentar produções resultantes das atividades desenvolvidas num Currículo e avaliação: um processo contínuo12 determinado do período”. Dessa forma, esse documento pode ser produzido pelos estudantes com a utilização de vários materiais e sistematizado de acordo com critérios discutidos entre os estudantes e o professor que o aplica, como: produções dos estudantes; fotografias; destaques do período; observações de colegas; observações dos professores; registro dos pais; entrevistas realizadas; cronogramas; registros escritos e descrições do autor. A partir de fotografias selecionadas, produções relevantes dos estudantes ao longo de todo o processo de ensino e aprendizagem, interações dos pais ou responsáveis sobre o progresso obtido pelos alunos, destaques ocasionados durante o período, observações de colegas, do professor regente e dos demais professores com quem o aluno tenha interagido ao longo do ano letivo, entre outros apontamentos, o portfólio apresenta uma riqueza de detalhes a partir dos quais o estudante pode colocar sua criatividade e exercitar sua capacidade de organização e planejamento. Barbosa e Horn (2008, p. 114) alertam, porém, que “não basta agruparmos e organizarmos materiais produzidos na sala de aula. [...] eles só têm sentido se o educador puder apreciá-los, analisá-los, interpretá-los, contextualizá- -los, construindo um sentido para essas produções”. É a partir da análise de tais registros, agora devidamente documentados no portfólio, que tanto os estudantes quanto os professores poderão visualizar as fragilidades na aprendizagem que porventura possam ter ocorrido. Servem, então, como base para correções e ajustes necessários nas metodologias aplicadas para a promoção da aprendizagem, de acordo com as necessidades específicas de cada estudante, e não mais buscando uma aprendizagem universal e que ocorra no mesmo ritmo para todos que compõem a turma. Para começar a utilizar o portfólio como instrumento avaliativo em suas aulas, os professores podem seguir os seguintes passos (SHORES; GRACE, 2001): 13Currículo e avaliação: um processo contínuo 1. estabelecer uma política para o portfólio; 2. coletar amostra do trabalho; 3. fotografar; 4. entrevistar; 5. consultar os seus planos; 6. realizar registros sistemáticos; 7. preparar relatórios; 8. realizar registros; 9. conduzir reuniões para análise. Como o portfólio é um instrumento avaliativo que pode ser aplicado em todas as etapas da educação, desde a educação infantil até o ensino superior, esses passos nem sempre estarão presentes, pois se adequarão às possibilida- des dos estudantes e das combinações realizadas na política de seu uso, que, normalmente, deveser construída com o envolvimento dos alunos que serão os autores desses documentos avaliativos. Ao defender a importância do portfólio como estratégia de avaliação for- mativa, em que o aluno deve estar implicado na elaboração deste documento, Villas Boas (2004, p. 33) acrescenta que é necessário “[...] usar o envolvimento do aluno na avaliação como um espelho em que ele veja seu crescimento. Isso pode ser um poderoso meio de construir autoconfiança”. Dessa forma, quando o professor deixa claro aos estudantes que serão avaliados a partir da construção de seus portfólios, que evidenciarão suas aprendizagens e poderão contar com a participação dos mesmos para sua elaboração, o portfólio passa a ter também um aspecto de autoavaliação para os estudantes, pois torna visível suas conquistas e seus avanços, podendo, da mesma forma, servir para desenvolver a autocrítica e aperfeiçoar a forma como os mesmos têm se responsabilizado pelos resultados obtidos ao longo das aulas. A ideia da elaboração de portfólios, porém, costuma ter resistências por parte do corpo docente, tanto pelo seu caráter qualitativo quanto pela exigência de es- forços para a sua confecção. Villas Boas (2004, p. 33) comenta, nesse sentido, que: Alguns professores poderão indagar: “Essa não é a tarefa do professor? Isso não sig- nifica ‘facilitar’ demais as coisas para o aluno?”. Segundo a concepção tradicional de avaliação, sim, porque ela tem como objetivo dar nota e simplesmente aprovar ou reprovar o aluno. Por outro lado, a avaliação formativa quer a aprendizagem do aluno em todos os sentidos, inclusive no da formação do cidadão para ter inserção social crítica. Vale ressaltar: essa compreensão não retira a responsabilidade do professor nem a seriedade e o rigor da avaliação. Pelo contrário: o aluno passa a ser corresponsável pela organização, pelo desenvolvimento e pela avaliação do trabalho. Currículo e avaliação: um processo contínuo14 Percebemos que as resistências em relação ao uso do portfólio são para- digmáticas, ou seja, se os docentes se alinham com uma concepção pedagó- gica normalmente associada ao termo “tradicional”, logo, mais centralizada no professor e nos mecanismos de controle que a avaliação põe em prática, acabam resistindo à ideia de uma avaliação contínua, mais qualitativa e com participação direta do aluno. É importante demarcar, porém, que a construção de um portfólio pelos estudantes é um processo que envolve inúmeras etapas e exige rigor em sua realização, bem como proporciona autocrítica e oportuniza que seja colocada em prática a socialização de seus resultados com os demais colegas e com a comunidade escolar. Dependendo do ano escolar que os alunos estejam cursando e da dis- ciplina estudada, podem ser realizadas bancas de professores para que os estudantes possam apresentar os portfólios desenvolvidos ao longo de determinado período, momento em que podem descrever e justificar suas escolhas. Também poderão ser criadas possibilidades em eventos da escola, feiras ou exposições nas quais os estudantes possam tornar públicos seus portfólios para os demais membros da comunidade escolar, como seus pais ou representantes e demais membros da comunidade local que visitem a escola. Também costuma ser muito usual que os colegas da turma tenham contato com os portfólios criados, bem como os estudantes de outras turmas. O importante é que, nesses momentos de apresentação, sejam organizados períodos de tempo para que os alunos possam ser questionados sobre esse documento que produziram. As vantagens que podemos apontar dessa possibilidade de apresentação dos portfólios são que “os alunos aprendem a desenvolver argumentação oral para um público que pode lhes fazer perguntas, por um tempo definido, além de outras. Essa e outras são situações que os alunos enfrentarão mais tarde e que devem ser praticadas primeiramente em ambientes que não sejam amea- çadores” (VILLAS BOAS, 2004, p. 34). Dessa forma, além de propiciar uma avaliação formativa, diagnóstica e processual, os portfólios também desenvolvem habilidades sociais importantes para a vida em sociedade, como a comunicação e o relacionamento interpessoal. Como podemos perceber, a forma como entendemos a avaliação e suas relações com o currículo escolar são imprescindíveis para a maneira como pode vir a ocorrer a promoção das aprendizagens em nossas salas de aulas. Assim, se queremos uma prática avaliativa inovadora, condizente com nossos tempos atuais, formativa, processual, diagnóstica e autorreflexiva, o portfólio é uma boa estratégia a ser utilizada. 15Currículo e avaliação: um processo contínuo ALVARENGA, G. M. Portfólio: o que é e a que serve. Olho Mágico, Londrina, v. 8, n. 1, 2001. Disponível em: http://www.uel.br/ccs/olhomagico/v8n1/portfol.htm. Acesso em: 20 fev. 2020. BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Projetos pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008. DIAS, E. T. G. Provinha Brasil e regulação: implicações para a organização do trabalho pedagógico. 2014. 343 f. Tese (Doutorado) – Universidade de Brasília, 2014. Disponível em: http://repositorio.se.df.gov.br/bitstream/123456789/692/1/2014_Elis%c3%a2ngel aTeixeiraGomesDias.pdf. Acesso em: 18 fev. 2020. FERNANDES, C. O.; FREITAS, L. C. Currículo e avaliação. In: BEAUCHAMP, J.; PAGEL, S. D.; NASCIMENTO, A. R. (Org.). Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. 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