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1 Saúde Mental Transtornos Alimentares ANOREXIA NERVOSA CONCEITO → A anorexia nervosa é uma síndrome caracterizada por três critérios essenciais: 1. O primeiro é uma inanição autoinduzida até um grau significativo. 2. O segundo é uma busca incessante por magreza ou um medo mórbido de engordar. 3. O terceiro critério é a presença de sinais e sintomas resultantes da inanição – uma sintomatologia fisiológica. O que que é inanição? É caracterizada por um estágio de total ausência do consumo alimentar, muitas vezes reconhecida como “fome crônica”. → Com frequência, mas nem sempre, está associada a distúrbios da imagem corporal, à percepção do indivíduo de que ele está gordo apesar da inanição médica óbvia. → A distorção da imagem corporal é perturbadora quando presente, mas não patognomônica. EPIDEMIOLOGIA → A anorexia nervosa foi reportada mais frequentemente durante as últimas décadas, com relatos crescentes do transtorno em meninas e meninos pré-púberes. → A idade mais comum de início é entre 14 e 18 anos. → É 10 a 20 vezes mais frequente em mulheres do que em homens. → Mais frequente em países desenvolvidos. → E pode ser mais observado entre mulheres jovens em profissões que requerem magreza, como modelo ou bailarina. → Uma orientação gay em homens é um fator predisponente comprovado, não em razão da orientação sexual propriamente, mas porque as normas de magreza, ainda que magreza muscular, são muito fortes na comunidade gay, apenas um pouco menos do que para mulheres heterossexuais. → De modo geral, essa condição está associada a depressão em 65% dos casos, fobia social em 35% dos casos, e transtorno obsessivo-compulsivo em 25% dos casos. ETIOPATOGENIA FATORES BIOLOGICOS → A inanição acarreta muitas alterações bioquímicas, algumas das quais também estão presentes na depressão, como hipercortisolemia e a função da tireoide suprimida. → Essas anormalidades são corrigidas pela realimentação. → A inanição pode produzir amenorreia, que reflete a redução nos níveis hormonais (hormônio luteinizante - LH, folículo-estimulante - FSH e liberador de gonadotrofina - GnRH). FATORES PSICOLÓGICOS E PSICODINÂMICOS → Indivíduos com o transtorno substituem as preocupações adolescentes normais por outras preocupações, como a alimentação e o ganho de peso. Esses indivíduos carecem de um senso de autonomia e individualidade. 2 Saúde Mental → Muitos deles experimentam seu corpo como sob o controle de seus pais, de modo que sua autoinanição pode ser um esforço para obter validação como uma pessoa única e especial. QUADRO CLÍNICO SINAIS PSICOLÓGICOS → Preocupação excessiva com a alimentação, comida, corpo e peso; → Ansiedade constante e irritabilidade em torno das refeições; → Intenso medo de ganhar peso; → Dificuldade em manter um peso corporal normal para a sua idade e altura; → Dificuldade de concentração; → Ter uma imagem corporal distorcida (por exemplo, se vê com excesso de peso quando a realidade é de baixo peso); → Baixa autoestima e perfeccionismo; → Isolamento social; → Dificuldade ou indecisão para aceitar a busca por um tratamento psicológico. SINAIS COMPORTAMENTAIS → Comportamento de dieta (jejum, contagem de calorias, evitando gorduras e carboidratos); → Uso indevido e deliberado de laxantes, supressores de apetite e diuréticos; → Comportamentos repetitivos e obsessivos relacionados à forma e ao peso do corpo (pesar-se todos os dias ou mais de uma vez ao dia, olhar-se no espelho obsessivamente, comprimir a cintura, utilizar cintas e modeladores); → Evidência de compulsão alimentar (por exemplo, desaparecimento ou acumulação de alimentos); → Comer em privado e evitar refeições na presença de outras pessoas; → Prática de exercícios físicos de forma compulsiva ou excessiva; → Rituais obsessivos em torno da preparação e ingestão dos alimentos (comer muito devagar, cortar alimentos em pedaços muito pequenos, insistir que determinadas refeições sejam servidas exatamente no mesmo dia da semana); → Comportamentos autodestrutivos, abuso de substâncias ou tentativas de suicídio. SINAIS FÍSICOS → Perda de peso rápida ou mudanças frequentes de peso; → Ausência ou alteração da menstruação (amenorreia); → Diminuição da libido em mulheres e homens; → Desmaio ou tonturas; → Sensação de frio na maioria das vezes, mesmo em climas quentes (causado pela má circulação e também pela baixa gordura corporal); → Constipação intestinal; → Sensação de cansaço, fadiga e esgotamento. → Alterações no sono; → Mudanças faciais (por exemplo, olhos pálidos, afundados e olheiras); → Enfraquecimento de músculos e ossos; → Cabelo fino e quebradiços. Os riscos associados à anorexia: ✓ Anemia ferropriva; ✓ Comprometimento do sistema imunológico, ficando doentes com mais frequência; ✓ Problemas gastrointestinais como gastrite, dor abdominal, constipação e diarreia; ✓ Aumento do risco de infertilidade; ✓ Insuficiência ou falência renal; ✓ Osteoporose; ✓ Problemas cardíacos (arritmia, anormalidades cardíacas, parada cardíaca súbita); ✓ Morte. 3 Saúde Mental Subtipos da anorexia nervosa: RESTRITIVO: → Perda de peso por meio de dietas e jejuns; → A ingestão alimentar é muito restrita (em geral com tentativas de consumir menos de 300 a 500 calorias por dia e nenhum grama de gordura); → O paciente pode ser incansável e compulsivamente hiperativo, com lesões esportivas por esforço excessivo. PURGATIVO (COMPULSÃO ALIMENTAR): → Os indivíduos alternam tentativas de dieta rigorosa com compulsão intermitente ou episódios de purgação; → A purgação representa uma compensação secundária para as calorias indesejadas, muitas vezes realizada por meio de vômito autoinduzido, uso de laxantes e diuréticos. DIAGNÓSTICO → Indivíduos com anorexia nervosa são frequentemente reservados, negam seus sintomas e resistem ao tratamento. → Em quase todos os casos, os parentes ou amigos próximos precisam confirmar a história do paciente. CRITÉRIOS DO DSM-V A. Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, desenvolvimento e saúde física. B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo. C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual. Especificar se: Em remissão parcial: Depois de terem sido preenchidos todos os critérios para anorexia nervosa, o Critério A (baixo peso corporal) não foi mais satisfeito por um período sustentado. ✓ Porém ou o Critério B (medo intenso de ganhar peso), ou o Critério C (perturbações na autopercepção do peso) ainda está presente. Em remissão completa: Depois de terem sido preenchidos todos os critérios para anorexia nervosa, nenhum dos critérios foi mais satisfeito por um período sustentado. Especificar a gravidade atual: O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no índice de massa corporal (IMC) atual. • Leve: IMC ≥ 17 kg/m² • Moderada: IMC 16-16,99 kg/m² • Grave: IMC 15-15,99 kg/m² • Extrema: IMC < 15 kg/m² TRATAMENTO HOSPITALIZAÇÃO: → A primeira preocupação no tratamento de anorexia nervosa é recuperar o estado nutricional das pacientes. 4 Saúde Mental → Em geral essas pacientes podem vim a apresentar desidratação, inanição e desiquilíbrio eletrolítico, que podem comprometer gravemente a saúde e, em alguns casos, levar à morte. → A decisão de hospitalizaruma paciente está baseada em sua condição médica, na estrutura familiar e da possibilidade de gastos com despesas médicas, alimentares e psicológicas. o Em geral, pacientes com anorexia nervosa que estejam 20% abaixo do peso esperado para sua altura são recomendadas para programas com internação hospitalar. → A maioria das pacientes não está interessada em tratamento psiquiátrico e até mesmo resiste a ele; elas são trazidas contrariadas ao consultório médico por parentes ou amigos angustiados. → Internação compulsória ou involuntária deve ser feita somente quando houver risco de morte em razão de complicações da desnutrição. → As famílias devem ser alertadas de que as pacientes irão resistir à internação e, durante as primeiras semanas de tratamento, farão apelos dramáticos para obter o apoio familiar a fim de serem liberadas do programa hospitalar. PSICOTERAPIA → As pacientes são ensinadas a monitorar sua ingestão alimentar, seus sentimentos e emoções, seus comportamentos de compulsão e purga e seus problemas nas relações interpessoais. → Aprendem a reestruturação cognitiva para identificar pensamentos automáticos e desafiar suas crenças pessoais. FARMACOTERAPIA: → Estudos farmacológicos ainda não identificaram medicamentos que produzam uma melhora definitiva dos sintomas centrais da anorexia nervosa. → Alguns relatos apoiam o uso de ciproeptadina, uma droga com propriedades anti-histamínicas e antisserotonérgicas, para pacientes com o tipo restritivo de anorexia nervosa. → Também foi reportado algum benefício com amitriptilina. → Outros medicamentos que foram experimentados por pacientes com anorexia nervosa com resultados variáveis incluem clomipramina e pimozida. → Em pacientes com anorexia nervosa e transtornos depressivos coexistentes, a condição depressiva deve ser tratada. BULIMIA NERVOSA CONCEITO → A bulimia nervosa é caracterizada por episódios de compulsão alimentar combinados com formas inapropriadas de interromper o ganho de peso. → Diferentemente das pacientes com anorexia nervosa, aquelas com bulimia nervosa em geral mantêm um peso corporal normal. → A bulimia nervosa pode representar uma tentativa fracassada de anorexia nervosa, compartilhando o objetivo de ficarem muito magras, mas ocorrendo em pessoas com menos capacidade de manter uma semi-inanição prolongada ou fome extrema. Quais são os comportamentos compensatórios? ✓ Vômito; ✓ Utilização indiscriminada de laxantes ou diuréticos; ✓ Longos períodos de jejum; ✓ Prática excessiva de exercícios físicos; ✓ Uso de qualquer droga, lícita ou ilícita, prescrita ou “sem receita médica” de forma inadequada para controle de peso. → Uma pessoa com bulimia nervosa pode se perder em um ciclo perigoso, comendo sem controle e tentando compensar. Isso pode levar a sentimentos de vergonha, culpa e desânimo. 5 Saúde Mental → Esses comportamentos podem se tornar mais compulsivos e incontroláveis ao longo do tempo, e levar a uma obsessão com alimentos, pensamentos sobre como comer (ou não comer), perda de peso, dieta e imagem corporal. → Esses comportamentos são muitas vezes escondidos. → Muitas pessoas com bulimia experimentam oscilações de peso ou não perdem peso. Elas podem permanecer na faixa de peso normal, estar ligeiramente abaixo do peso ou mesmo ganhar peso. EPIDEMIOLOGIA → Bulimia nervosa é mais prevalente do que anorexia nervosa. → As estimativas de bulimia variam de 1 a 4% em mulheres jovens. → É mais comum em mulheres do que em homens. → Seu início costuma ser mais no fim da adolescência. O início também pode ocorrer no começo da idade adulta. → Embora a bulimia esteja frequentemente presente em mulheres jovens com peso normal, elas por vezes têm uma história de obesidade. ETIOPATOGENIA FATORES BIOLOGICOS → Os antidepressivos frequentemente beneficiam pacientes com bulimia nervosa. → Os níveis plasmáticos de endorfina são elevados em alguns pacientes com bulimia nervosa que vomitam, devido o sentimento de bem-estar após o vômito. FATORES SOCIAIS → Quem sofre de bulimia tende a ser pessoas com alto desempenho a responder às pressões sociais de ser esbeltas. → Assim como aquelas com anorexia nervosa, muitas com bulimia nervosa são deprimidas e têm maior histórico de depressão familiar. → As que sofrem com bulimia descrevem seus pais como negligentes ou rejeitadores. FATORES PSICOLÓGICOS → Pacientes com bulimia nervosa, assim como aquelas com anorexia nervosa, têm dificuldades com as demandas da adolescência, mas as com bulimia nervosa são mais extrovertidas, irritadas e impulsivas do que aquelas com anorexia. → Dependência de álcool, furtos em lojas e labilidade emocional (incluindo tentativas de suicídio) estão associados com bulimia. QUADRO CLÍNICO SINAIS PSICOLÓGICOS → Preocupação excessiva com a alimentação, comida, corpo e peso; → Sensibilidade aos comentários relacionados com alimentos, peso, forma do corpo ou exercício físico; → Baixa autoestima, sentimentos de vergonha, auto- aversão ou culpa, particularmente depois de comer; → Ter uma imagem do corpo distorcida; → Obsessão com alimentos e necessidade de controle das calorias; → Depressão, ansiedade ou irritabilidade. SINAIS COMPORTAMENTAIS → Evidência de compulsão alimentar (desaparecimento ou acumulação de alimentos); → Vomitar, usar laxantes, supressores de apetite ou diuréticos; → Comer escondido e evitar refeições com outras pessoas; → Comportamento anti-social, passando cada vez mais tempo sozinho; → Comportamento de dieta (praticar jejum, contagem de calorias, evitar determinados grupos de alimentos, como gorduras e carboidratos); → Idas frequentes ao banheiro durante ou logo após as refeições, o que pode ser evidência de vômito ou uso de laxante; → Comportamento errático (por exemplo, gastando grandes quantidades de dinheiro em alimentos); → Alterações nas preferências alimentares (por exemplo, alegando não gostar dos alimentos 6 Saúde Mental anteriormente apreciados, preocupação súbita com “alimentação saudável” ou substituição de refeições por líquidos); → Abuso de substâncias ou tentativas de suicídio. SINAIS FÍSICOS → Mudanças frequentes de peso (perda ou ganho); → Sinais de danos devido ao vômito, incluindo inchaço em torno das bochechas ou mandíbula, dano aos dentes e mau hálito; → Constipações intestinais; → Desenvolvimento de intolerância à determinados alimentos; → Amenorreia; → Desmaio ou tonturas; → Sensação de cansaço, fadiga e alterações no sono. Os riscos associados: ✓ Dor de garganta crônica, indigestão, azia e refluxo gástrico; ✓ Inflamação e ruptura do esôfago e do estômago devido ao vômito frequente; ✓ Dores de estômago e úlceras intestinais; ✓ Movimentos peristálticos irregulares, constipação ou diarreia provocados pelo uso indevido e deliberado de laxantes; ✓ Batimento cardíaco irregular ou lento que pode levar a um risco aumentado de insuficiência cardíaca. Subtipos da bulimia nervosa: PURGATIVA: → Paciente usa métodos compensatórios após a compulsão alimentar. Podem ser vômitos autoinduzido ou uso de laxantes e diuréticos. → Riscos de complicações como: hipocalemia, rupturas gástricas e esofágicas. NÃO-PURGATIVA: → Os indivíduos usam como métodos compensatórios: dietas restritivas, jejum e exercícios físicos vigorosos. Raramente realizam vômitos autoinduzidos. → Tendem a ter menos ansiedade em relação a alimentação. DIAGNÓSTICO Critérios diagnósticos do DSM-5 A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: 1. Ingestão, em um período de tempo determinado de uma quantidade de alimento definitivamentemaior do que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. 2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de não conseguir parar de comer). B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em excesso. C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses. D. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais. E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. Especificar se: Em remissão parcial: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, 7 Saúde Mental alguns, mas não todos os critérios, foram preenchidos por um período de tempo sustentado. Em remissão completa: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, nenhum dos critérios foi preenchido por um período de tempo sustentado. Especificar a gravidade atual: • Leve: Média de 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana. • Moderada: Média de 4 a 7 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana. • Grave: Média de 8 a 13 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana. • Extrema: Média de 14 ou mais comportamentos compensatórios inapropriados por semana TRATAMENTO → A maioria das pacientes com bulimia nervosa não complicada não requer hospitalização. Em geral, essas pacientes não são tão sigilosas em relação a seus sintomas quanto as com anorexia nervosa. Assim, o tratamento ambulatorial em geral não é difícil. → Em alguns casos – quando a compulsão alimentar está fora de controle, o tratamento ambulatorial não funciona, ou se a paciente exibir sintomas adicionais, como suicidalidade e abuso de substância –, a hospitalização pode se fazer necessária. PSICOTERAPIA → A terapia cognitivo-comportamental (TCC) deve ser considerada o tratamento de referência, de primeira linha, para bulimia nervosa. → A TCC implementa inúmeros procedimentos cognitivos e comportamentais para (1) interromper o ciclo comportamental de compulsão alimentar e dieta e (2) alterar as cognições disfuncionais do indivíduo; crenças sobre comida, peso, imagem corporal; e autoconceito global. FARMACOTERAPIA → Medicamentos antidepressivos, entre eles os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como a fluoxetina, revelaram- -se úteis no tratamento da bulimia. → Medicamentos antidepressivos podem reduzir compulsão alimentar e purgação independentemente da presença de transtorno do humor. Dessa forma, os antidepressivos têm sido usados com sucesso para ciclos de compulsão- purga particularmente difíceis que não respondem a psicoterapia. COMPULSÃO ALIMENTAR CONCEITO → Ingerem uma quantidade anormalmente grande de comida em um curto período de tempo. → Diferentemente da bulimia nervosa, pacientes com esse transtorno não têm comportamento compensatório inapropriado após um episódio de compulsão. EPIDEMIOLOGIA → O transtorno de compulsão alimentar é o transtorno alimentar mais comum. → Ele aparece em aproximadamente 25% dos pacientes que procuram atenção médica para obesidade e em 50 a 75% daqueles com obesidade grave (IMC > 40). → É mais comum em mulheres (4%) do que em homens (2%). ETIOPATOGENIA → A causa do transtorno de compulsão alimentar é desconhecida. → Estilos de personalidade impulsiva e extrovertida estão associados ao transtorno, assim como pessoas que começam uma dieta com teor muito baixo de calorias. → Também pode ocorrer compulsão alimentar durante períodos de estresse. Ela pode ser usada para reduzir a ansiedade ou aliviar humor deprimido. QUADRO CLÍNICO 8 Saúde Mental SINAIS COMPORTAMENTAIS → Consumo de grandes quantidades de alimentos em curtos períodos de tempo. → Comportamentos alimentares secretos, incluindo (por exemplo, comer sozinho ou no carro), esconder ou estocar alimentos em gavetas, bolsas, armários. → Perturbação nos comportamentos alimentares normais, incluindo comer durante todo o dia sem refeições previstas; → Já que o indivíduo que sofre de compulsão alimentar, frequentemente, sente vergonha de comer de modo exagerado na frente de outras pessoas. → É comum engajar-se em jejum esporádico ou dieta repetitiva, e desenvolver rituais alimentares (por exemplo, comer apenas um determinado alimento ou grupo). → Sem episódios de purgação. SINAIS PSICOLÓGICOS → Experimentar frequentemente sentimentos de raiva, ansiedade, inutilidade, ou vergonha antes e após a compulsão. → Durante o episódio de compulsão não existe uma avaliação clara dos sentimentos envolvidos. A “crise” acontece como um meio de aliviar a tensão ou entorpecer sentimentos negativos. → Outras condições podem estar presentes e associadas a compulsão. A mais comum delas é a depressão. Mas as pessoas que sofrem de compulsão alimentar também podem apresentar: isolamento social, mau humor e irritabilidade. SINAIS FÍSICOS → O peso corporal frequentemente varia de normal a obesidade leve, moderada ou grave. → Os riscos para a saúde são mais comumente encontrados naquelas pessoas diagnosticadas com a obesidade clínica. → Algumas das possíveis consequências para a saúde do transtorno de compulsão alimentar incluem: o Pressão alta; o Níveis elevados de colesterol; o Doença cardíaca; o Diabetes Tipo II; o Doenças da vesícula biliar; o Fadiga; o Dor nas articulações; o Apneia do sono. DIAGNÓSTICO Critérios diagnósticos do DSM-5 A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: 1. Ingestão, em um período determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas) de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. 2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o quanto se está ingerindo). B. Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes aspectos: 1. Comer mais rapidamente do que o normal. 2. Comer até se sentir desconfortavelmente cheio. 3. Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome. 4. Comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo. 5. Sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em seguida. C. Sofrimento marcante em virtude da compulsão alimentar. D. Os episódios de compulsão alimentar ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante três meses. E. A compulsão alimentar não está associada ao uso recorrente de comportamento compensatório inapropriado como na bulimia nervosa e não ocorre exclusivamente durante o curso de bulimia nervosa ou anorexia nervosa. 9 Saúde Mental Especificar se: • Em remissão parcial: Depois de terem sido previamente satisfeitos os critérios plenos do transtorno de compulsão alimentar, a hiperfagia ocorre a uma frequência média inferior a um episódio por semana por um período de tempo sustentado. • Em remissão completa: Depois de terem sido previamente satisfeitos os critérios plenos do transtorno de compulsão alimentar, nenhum dos critérios é mais satisfeito por um período de tempo sustentado. Especificar a gravidade atual: Baseia-se na frequência de episódios de compulsão alimentar. • Leve: 1 a 3 episódiosde compulsão alimentar por semana. • Moderada: 4 a 7 episódios de compulsão alimentar por semana. • Grave: 8 a 13 episódios de compulsão alimentar por semana. • Extrema: 14 ou mais episódios de compulsão alimentar por semana. TRATAMENTO PSICOTERAPIA → A TCC (terapia cognitivo comportamental) é o tratamento psicológico mais efetivo para o transtorno de compulsão alimentar. → Ela demonstrou levar a reduções na compulsão alimentar e nos problemas associados (p. ex., depressão). → TCC combinada com tratamentos psicofarmacológicos, como ISRSs, mostra melhores resultados do que isoladamente. → Grupos de mútua ajuda, como os Comedores Compulsivos Anônimos (CCA), revelaram-se úteis para pacientes com transtorno de compulsão alimentar. FARMACOTERAPIA → Sintomas de compulsão alimentar podem se beneficiar de tratamento medicamentoso com diversos ISRSs. → Os medicamentos ISRSs que demonstraram melhora no humor e na compulsão alimentar incluem fluvoxamina, citalopram e sertralina. → Alguns estudos mostraram que tratamento com ISRSs em alta dose (p. ex., fluoxetina 60 a 100 mg) com frequência resultava inicialmente em perda de peso. No entanto, a perda de peso em geral tinha curta duração, mesmo quando o medicamento era continuado, e o peso sempre retornava quando era descontinuado. 10 Saúde Mental Caso Clínico Controle x Compulsão A.B.D., 16 anos, sexo feminino, é levado ao ambulatório de psiquiatria pelo pais. Informa que há dois anos a mesma apresenta comportamento alterado, o que estaria levando ao aumento de peso e se tornando motivo de piada entre amigos e familiares. Genitora referi hábitos alimentares aberrantes, chegando a comer 10 pães e incontáveis biscoitos e bombons de chocolate em um dia. Menor relata ´´não consigo controlar minha vontade de comer/fome´´ ´´eu como até preencher um vazio dentro de mim´´. Referi ainda que após “dia de farra de comida”, passa de dois a três dias em intensa atividade física na academia - com sessões de 5 horas diárias- sem alimentar-se ou ingerir líquidos adequadamente. Esses ciclos alternantes vêm se repetindo 2 a 3 vezes por semana há 6 meses. Relata que se acha um pouco acima do peso, mas nega indução de vômitos ou uso de laxantes em qualquer época. Nega alucinações visuais ou auditivas. A avaliação mostrou plena orientação pessoal, temporal e espacial. O IMC era de 26 kg/m2; as mucosas estavam levemente ressecadas; demais aspecto do exame físico estavam normais. Foi realizada avaliação bioquímica que não demonstrou alterações. RESPOSTA: A paciente A.B.D. apresenta um provável diagnóstico de bulimia nervosa, sendo explicado pela associação dos períodos de compulsão, como comer 10 pães e incontáveis biscoitos e chocolates em um curto período de tempo, e logo depois apresentar formas compensatórias de aliviar o que foi ingerido, por meio de atividades físicas extenuantes e bloqueio da ingesta alimentar por cerca de 3 dias. Nesse caso, a bulimia se apresenta na forma não-purgativa, visto que, a paciente não utilizou de métodos compensatórios como vômitos e uso de laxativos, mas sim da prática de jejum associado a várias horas na academia. Outro ponto a se notar é que os sintomas acontecem de forma frequente (2 a 3 vezes na semana) há mais de 6 meses. Além disso, há manifestações psicológicas característica como o relato da necessidade de emagrecer e que durante os períodos de compulsão não conseguiu obter controle sobre suas necessidades e vontades.
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