Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
História das Religiões: Religiões Africanas e Orientais Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Rosenilton Silva de Oliveira Revisão Textual: Prof.ª Me. Luciene Santos Religiões de Matrizes Africanas no Brasil • Introdução; • Religiões Africanas no Brasil; • Pedaços da África no Brasil: O Modelo Ritual dos Candomblés; • Religião à Brasileira: O Modelo Ritual da Umbanda; • Considerações Finais: Religiões Afro-Brasileiras e a Identidade Nacional. · Refletir sobre a presença das religiões de matrizes africanas no con- texto brasileiro a partir de seus dois modelos mais difundidos (Can- domblé e Umbanda) e suas implicações na constituição da identida- de nacional brasileira. OBJETIVO DE APRENDIZADO Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Introdução Nesta Unidade, o nosso objeto é refletir sobre a presença das religiões de matri- zes africanas no contexto brasileiro a partir de seus dois modelos mais difundidos: o Candomblé e a Umbanda, e suas implicações na constituição da identidade na- cional brasileira. Você já parou para pensar que, possivelmente, todo e qualquer brasileiro, independentemente sua crença religiosa, já teve algum contato com as religiões afro-brasileiras? Isso não significa que todas as pessoas já foram assistir a uma cerimônia ou participou de algum ritual afro-religioso. Ao afirmar que todos já tivemos algum contato com essa religiosidade de matrizes africana, estamos dizendo que ela está de tal forma imbricada na constituição da cultura e na identidade nacional que é praticamente impossível separá-la. Tal como acontece com o Catolicismo, em que mesmo os não católicos já ouviram falar de padres, missas, santos, alguns dos sacramentos (sobretudo batismo, matrimônio, confissão e unção dos enfermos etc.), raramente encontraremos alguém que nunca ouviu falar em pai ou mãe-de-santo, terreiro, “macumba”, despacho, orixá (sobretudo Exu) etc. Isso significa que esse universo cosmológico permeia o imaginário popular, ora de modo positivo (quando se exalta a cultura nacional), ora de modo pejorativo. Nesta unidade, portanto, nosso caminho será pelas encruzilhadas da religiosidade afro-brasileira. Estudaremos o modo pelo qual as religiões de matrizes africanas se desenvolveram no Brasil e como elas ofereceram os elementos que permitiram a constituição da identidade nacional e cultural do nosso país. Importante! Religiões afro-brasileiras ou religiões de matrizes africanas, qual o correto? A literatura antropológica consolidou-se no Brasil utilizando a categoria religiões afro- brasileiras para se referir ao conjunto de sistemas religiosos que se desenvolveram em território nacional, ao longo dos séculos, a partir do diálogo de longa duração entre africanos, indígenas e europeus. Alguns intelectuais, religiosos e militantes do movimento negro, no século XX, passaram a adotar o termo religiões de matriz (es) africana (s) para se referirem à mesma realidade, entretanto, colocando em posição privilegiada as origens africanas desses sistemas. Em alguns casos, houve a tentativa de estabelecer uma diferenciação entre um e outro termo. No campo das ciências sociais, tais categorias de classificação são basicamente sinônimas (salvo em análises específicas) enquanto que na esfera pública, sobretudo no debate político, há uma preferência pelo uso do termo religiões de matrizes africanas. Nesse texto, tomamos essas expressões como equivalentes. Importante! 8 9 Começaremos nossa viagem nos terreiros de Candomblé e depois passaremos para as tendas de Umbanda para, finalmente, sairmos à rua e observamos a confi- guração dos símbolos nacionais. Antes, porém, de adentrar a esse espaço sagrado, convém recordarmos como se constituiu a religiosidade afro no Brasil de modo mais amplo. Religiões Africanas no Brasil Retraçar a história das religiões de matrizes africanas no Brasil não é tarefa fácil, pois esbarramos em duas grandes dificuldades: o caráter marginalizado dos segmen- tos sociais que as originaram e o aspecto da oralidade que marca essas religiões. A primeira dificuldade em apresentar as origens das religiões de matrizes africanas nas Américas, em geral, e no Brasil especificamente, deve-se justamente ao preconceito e à discriminação sofrida pelos grupos marginalizados donde ela deriva: indígenas e negros. Por que será que as pessoas tendem a associar as religiões afro-brasileiras ao mal e ao “demônio”? Ex pl or De fato, em nossa sociedade, o índio ocupa um lugar subalterno, do ponto de vista político, e no imaginário comum ele é tido como sinônimo de atraso, de “in- fantilidade”. Quando há uma postura mais positiva, há uma imagem romantizada e ingênua sobre essa população, sua história e sua cultura. No mais das vezes, representam-se indígenas de modo genérico (sobretudo no dia 19 de abril, data re- servada para a celebração da sua importância na constituição do Brasil), inspirado em imagens de grupos norte-americanos (sobretudo aquelas divulgadas pelo cine- ma), vivendo de modo bucólico, seminus, na floresta, como pescadores, coletores e caçadores de animais silvestres. A positivação desses sujeitos aparece quando se fala da sua relação com a natureza e na riqueza de seus artesanatos, entretanto, o imaginário nacional nega-lhes a possibilidade do domínio das tecnologias e das ferramentas modernas. No caso dos negros, devido, sobretudo, ao processo de escravidão que durou quatro séculos, quase tudo o que possui relação com a África teve seu sentido deturpado e na maioria das vezes foi sistematicamente depreciado e inferiorizado. A partir do século XVI, negou-se humanidade aos africanos e seus descendentes que foram escravizados no continente americano. Desse modo, suas culturas, religiosidades e história foram associadas ao mal (personificado no demônio cristão), além do empreendimento de diversas ações no sentido de exterminá-las. As religiosidades de origem ameríndia e africanas foram associadas ao atraso, in- feriorizadas diante do Cristianismo, e seus produtores – negros e indígenas – margi- nalizados. Sobre esse tema, o antropólogoVagner Gonçalves da Silva pondera que: 9 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Ainda que se considere, como o fizeram os evolucionistas, que as religiões mais atrasadas são aquelas que possuem uma dose maior de magia, bastaria lembrar que todos os sistemas religiosos baseiam-se nessa categoria de pensamento mágico. O ofício de uma missa, por um exemplo, comporta uma série de atos simbólicos ou operações mágicas (como bênçãos, a transubstanciação da hóstia em corpo de Cristo, etc.). (SILVA, 2005, p. 14) A segunda dificuldade está intimamente relacionada à primeira, trata-se da per- seguição às religiosidades dissidentes. Uma vez que, por quase quatrocentos anos, o Catolicismo foi a religião oficial e cuja prática era a única permitida em terras brasi- leiras, todas as demais expressões religiosas foram inibidas, proibidas e até mesmo perseguidas e combatidas, tanto pelo Estado quanto pela Igreja Católica. Há, entretanto, uma diferença de grau nesse processo de rejeição. As relações entre o Estado, a Igreja Católica e a presença de religiosos protestantes, islâmicos, judeus, as cosmologias indígenas e as religiões africanas variou enormemente ao longo dos anos. Durante o período colonial, os missionários católicos empreenderam campanhas de catequização dos nativos. O suposto é que a conversão ao Cristianismo era par- te importante no processo de “civilização” dos indígenas, vistos como “selvagens”. Nesse processo, muitos elementos da cosmologia indígena foram reinterpretados à luz do Catolicismo, o que produziu algumas transformações no modo pelo qual a Igreja vivenciava seus dogmas e liturgias no período colonial, e o aparecimento de expressões religiosas que conjugava os dois sistemas religiosos postos em relação. Há muitos trabalhos que tratam da relação entre os missionários católicos e os indígenas tanto no período colonial quanto contemporâneo. Vale a pena dar uma olhada na coletânea organizada por Paula Montero, Deus na aldeia (2006). Ex pl or No caso dos africanos, conforme dissemos acima, negou-se a própria humani- dade. Embora, ainda no século XVI, um acordo entre a Santa Sé e a coroa por- tuguesa determinasse que todos os africanos fossem batizados (em África ou ao chegar às colônias), essa ação ritual não impedia que esses milhares de homens e mulheres escravizados fossem tratados como coisa e tivessem seus valores culturais e religiosos depreciados. Do ponto de vista religioso, ao contrário do que ocorreu com os indígenas, não fora realizado nenhuma ação catequética específica, nem uma tentativa de incorporação e elementos das religiões africanas no Catolicismo. A exceção é observada com o surgimento das irmandades e confraria de negros e mulatos libertos, que, além do aspecto religioso, cumpria importante papel social no acolhimento e assistência à população marginalizada. 10 11 Figura 1 – Batismo de um homem negro. F. J. Stober, 1878. Mostra do redescobrimento: negro de corpo e alma. São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000 Fonte: Wikimedia Commons Somente após a Proclamação da República, quando o Catolicismo deixa de ser a religião oficial do Brasil, que os demais cultos são liberados; entretanto, esse be- nefício legal não fora estendido às expressões afro, pois, mesmo após a abertura republicana em 1889, as perseguições empreendidas tanto pelo Estado quanto pela Igreja continuaram. Tanto que, até a década de 1940, figurava no código penal brasileiro a prática ilegal da medicina, da magia e o curandeirismo como atividades proibidas, instrumentos pelos quais os praticantes das religiões afro-bra- sileiras tiveram suas práticas cerceadas, sacerdotes foram presos e objetos de culto foram apreendidos. Apesar dessas dificuldades, negros e negras resistiram e, de modos diversos, desenvolveram estratégias para realizarem seus cultos. Emerson Giumbelli no livro O fi m da Religião analisou as relações entre Estado e Igreja no Brasil e na França nos ajuda a compreender o processo de confi guração da laicidade no Brasil. Já o Yvone Maggie, em Medo de Feitiço analisa como o, por meio da legislação brasileira, as religiões afro-brasileiras foram perseguidas e proibidas de serem praticadas. Ex pl or 11 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Como veremos mais adiante, essa posição do Estado brasileiro era ambígua, uma vez que no início do século XX, por um lado, os negros e suas práticas religiosas e culturais eram depreciadas como inferiores e maléficas, por outro, os símbolos da herança africana no Brasil (como a capoeira, samba, carnaval, feijoada etc.) eram inventariados como sinais distintivos da identidade nacional. Sabe-se que os africanos que vieram para o Brasil, desde o início do século XVI, foram sequestrados em várias partes da África, e nomeados a partir dos portos de partidas, localizados na costa oeste e leste africana, como o Golfo do Benin (conhecida como Costa dos Escravos). O historiador Luiz Felipe Alencastro (2000) estima em quatro milhões o número de pessoas que foram trazidas para a colônia portuguesa na América, das quais destacam-se dois grupos étnicos principais: os bantos e os sudaneses. Os bantos, localizados sobretudo no centro oeste, sul e leste africano, começam a chegar na primeira metade do século XVI e continuam até o final do tráfico, no sé- culo XIX. Já os sudaneses, oriundos sobretudo da região ocidental africana, chegam em menor número entre os séculos XVII e XIX. Esses dois grandes grupos formam uma unidade étnica, por assim dizer, que possuem elementos culturais e linguísticos em comum, e se subdividem em outros grupos, como se vê na figura abaixo. NAGO SUDANESES BANTOS Queto Ijexá JEJE CONGO CABIND Jeje-fon Jeje-marrin Figura 2 – Grupos étnicos africanos vindo para o Brasil Essas subdivisões vão, de certo modo, marcar as diferenças rituais entre as diversas religiões afro-brasileiras cuja estrutura, no entanto, é a mesma. No qua- dro abaixo, podemos observar as principais diferenças entre o complexo ritual sudanês e o banto. Tabela 1 – Diferenças rituais entre os rituais bantos e sudaneses Sudanês Banto Deuses cultuados orixás, voduns, erês e caboclos inquices, orixás, voduns, vunjes e caboclos Forma de tocar os atabaques com aguidavis com as mãos Língua ritual dialetos africanos cantos em português Ritmos percutidos adarrum, aguerê bravum, ijexá, sató e vamunha cabula, congo, barravento/muzenza 12 13 Existe uma vasta bibliografi a sobre as religiões afro-brasileiras. O livro do antropólogo francês Roger Bastide, As religiões Africanas no Brasil (1985) tornou-se um clássico. Também vale a pena conhecer o trabalho do fotógrafo Pierre Verger que realizou um excelente comparativo entre as religiões afro-brasileiras e as religiões africanas. Confi ra no link da Fundação que leva o seu nome, cuja sede está em Salvador, na Bahia: http://www.pierreverger.org/br. Ex pl or De acordo como antropólogo Vagner Gonçalves da Silva: Os contatos entre as várias nações africanas e entre estas e os brancos já eram frequentes em períodos anteriores à deportação dos grupos negros para o Brasil. Devido às relações de aliança ou de dominação entre os reinos africano, era comum que cultos e divindades se difundissem de uma região para outra, como a adoção pelos iorubas de alguns dos deuses do Daomé e vice-versa. O islamismo, proveniente da África Oriental, também já havia se estendido até a costa ocidental, e o colonialismo europeu, a partir do século XVIII, intensificou o contato religioso entre bancos e negros. Pela ação da catequese religioso muitas tradições étnicas foram transformadas. (SILVA, 2005, p. 29) Esse diálogo de longa duração, em terras brasileiras, entre negros, indígenas e europeus (sobretudo portugueses) e as condições da escravidão que obrigou os africanos e seus descendentes a reorganizarem seus laços familiares, políticos, culturais e religiosos, impulsionou o desenvolvimento de um conjunto dereligiões de matrizes africanas. Nesse sentido, podemos compreender as religiões afro- brasileiras como mais um sinal de resistência e de luta contra o sistema escravocrata, assim como os quilombos. De fato, há uma estreita relação entre os terreiros e os quilombos, uma vez que os espaços sagrados foram locais de refúgio de muitos que fugiam da escravidão, “colocando sua organização a favor da luta pela libertação como, no plano religioso, promovendo a crença na magia compartilhada por pessoas que tinham em comum, além da condição de subordinação, a esperança na transformação dessas condições.” (SILVA, 2005, p. 50). Tal complexo religioso, também observado em Cuba e no Haiti, fora organizado levando em consideração os contextos socioculturais e religiosos em que essas populações estavam inseridas. Por isso, no Brasil, além dos modelos rituais mais difundidos – o Candomblé nas suas variedades rituais e a Umbanda – observa- se um conjunto de expressões religiosas, cuja importância regional não pode ser menosprezada. Nesse sentido, religiões como o Batuque (Rio Grande do Sul), Xangô (Recife), Tambor de Mina (Maranhão) são exemplos dessa vitalidade e diversidade afro. Vejamos mais detalhadamente a configuração dos Candomblés e da Umbanda. “As religiões africanas caracterizavam-se, como ainda hoje, pela crença em deuses que incorporam em seus filhos. São também religiões baseadas na magia. O sacerdote, ao manipular objetos como pedras, ervas, amuletos, etc., e fazer sacrifícios de animais, rezas e invocações secretas, 13 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil acredita poder entrar em contato com os deuses, conhecer o futuro, curar doenças, melhorar a sorte e transformar o destino das pessoas. Por esses princípios a magia africana era vista como prática diabólica pelas autoridades eclesiásticas, como já havia ocorrido com as religiões indígenas. Principalmente porque, sendo o Catolicismo colonial também uma religião fortemente magicizada, era preciso distinguir a fé católicas nos santos, almas benditas e milagres das crenças consideradas “primitivas” em seres que incorporam, em espíritos que recebem como alimento sacrifícios de sangue e em adivinhos que operam curas. Da mesma forma que foi preciso distinguir a ingestão da hóstia, representando o corpo de Cristo, da antropofagia ritual dos índios. ” (SILVA, 2005, p. 35) Pedaços da África no Brasil: O Modelo Ritual dos Candomblés Uma vez no Brasil, como dissemos acima, os africanos empreenderam a tarefa de reconstruir seus laços de parentesco, religiosos, culturais, políticos e sociais. Empreitada nada fácil considerando os contextos da escravidão. E foi justamente por meio da religião que os laços de solidariedade e resistência foram construídos. Deuses e rituais que eram restritos a um grupo étnico, passam a ser comparti- lhados (processo que já ocorria no continente, mas que se amplia na América). É justamente do diálogo entre o Catolicismo português, as cosmologias indígenas e as várias religiões africanas que começa a se configurar, do lado de cá do Oceano Atlântico, um conjunto de cultos que reorganiza os africanos e seus descendentes na diáspora. Espaços de fé, resistência e luta, os terreiros, juntamente com os quilombos e irmandades católicas, tornaram-se instituições essenciais na vida dos negros escravizados e livres. Importante! “As religiões afro-brasileiras se desenvolveram praticamente em todos os estados onde houve a presença do negro e seus descendentes. Fatores como o tamanho da população negra em relação à de brancos e de índios, a influência de determinadas etnias, a re- pressão ao culto, as condições urbanas e outros, fizeram com que os cultos apresentas- sem características regionais próprias, sendo em alguns conhecidos em uma região e desconhecidos em outras. ” (SILVA, 2005, p. 83) Importante! No início do século XVIII, o termo banto calundu parece ter sido acionado para classificar, de modo geral, as expressões religiosas de origem africana no Brasil, assim como os termos batuque e batucajé. “Os calundus foram, até o século XVIII, a forma urbana de culto africana relativamente organizado, antecedendo Às casas de Candomblé do século e aos atuais terreiros de Candomblé” (SILVA, 2005 p. 41). 14 15 A diáspora impactou não apenas no modo como os africanos passaram a cultuar seus deuses, mas também favoreceu algumas transformações no modo como as teologias das religiões africanas foram incorporadas pelos negros. Por exemplo, as manifestações de Zambi, deus supremo dos bantos, passaram a ser consideradas divindades específicas, responsáveis por domínios da natureza e setores da vida humana, tal como ocorre no panteão sudanês (MUNGUELE, 2003). De fato, a associação entre os orixás (dos iorubás), vodum (dos jejes) e inquices (dos bantos) foi possível porque eles já possuíam elementos estruturais em comum. Em cada um desses sistemas religiosos, os deuses desempenham funções específicas, são responsáveis por domínios da natureza da vida humana, por isso a cada um deles os rituais preveem o uso de cores, gestos, músicas, animais sacrificiais, minerais danças e louvações específicas. Por vezes, há confluências nas liturgias, noutros contextos, há divergências. Nesse sentido, há uma aproximação entre os desuses africanos e os santos católicos, uma vez que estes, estruturalmente, foram seres humanos que tiveram uma vida virtuosa e após a morte estão próximos de Deus, intercedendo em áreas específicas pelos fiéis que permanecem na terra. Na tabela a seguir, é possível observar algumas dessas aproximações entre os deuses africanos, os santos católicos e suas áreas de influência. Tabela 2 – Classifi cação do panteão africano e correspondência com os santos católicos Orixá (iorubá) Vodum (jeje) Inquice (banto) Catolicismo Elemento Natural Atributo, qualidade humana Oferenda alimentar Exu Elebará AluviáPombogira Demônio Fogo deus mensageiro fecundidade vingativo zombeteiro pimenta álcool farofa com dendê Ogum Doçu Roxo Macumbe Incoce Santo Antônio (BA) São Jorge (RJ) Fogo, ar, ferro (metais) violência virilidade inhame assado feijão preto Oxóssi Azacá MutacalomboCongobira São Miguel (PE) São Jorge (BA) São Sebastião (RJ)a Mata provedoragilidade feijão fradinho milho coco Obaluiaê Omolu Xapanã Acossi Sapatá Cavungo Cafunã São Roque São Lázaro Terra saúde doença abadô (milho torrado) pipoca Ossaim Aguê Catendê São Benedito São Roque São Jorge Folha Planta saúde doença segredo da magia das plantas mel fumo Oxumarê BessemDã Angorô São Bartolomeu Arco-íris serpente sagrada continuidade aberém (bolo de milho ou arroz) Xangô Badé-Quevioso Zaze São Jerônimo São Pedro Raio Trovão vaidade realeza riqueza amalá (quiabo cozido com farinha) 15 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Orixá (iorubá) Vodum (jeje) Inquice (banto) Catolicismo Elemento Natural Atributo, qualidade humana Oferenda alimentar Oxum AziritoboceEowa Quissambo Samba N. Sra. Das Candeias N. Sra. Da Conceição N. Sra. Aparecida Água doce fertilidade feminilidade riqueza amor omolocum (feião fradinho com ovos), ipeté (massa de inhame com camarão) Iemanjá Abé DandalundaQuissimbe N. Sra. Da Conceição N. Sra dos Navegantes Água salgada fertilidade maternidade arroz milho branco Iansã Sobô BamburucemaMatamba Santa Barbara Vento Raio Tempestade sensualidade coragem (domínio sobre os mortos) impetuosidade acarajé (bolo de feijão fradinho) Oxalá Mavu-Lissa ZambiLemba Jesus Cristo N. Sr. Do Bonfim (BA) Ar criação dos homens paciência sabedoria acassá (bolo de arroz sem sal), mel Fonte: Adaptado de SILVA, 2005, p. 94-96. Por meio do panteão afro, a natureza e a vida social são classificadas e organi- zadas, de tal modo, que as relações sociais encontram correspondência na cosmo- logia religiosa. Se o ser humano ama e odeia, faz guerra e paz, casa-se, tem filhos, age por impulso ouapós grande reflexão, é capaz de transformar a natureza por meio do emprego de técnicas e tecnologias, o mesmo ocorre com os deuses. Por isso, tanto a moralidade quanto a relação com o sagrado constituem-se de modo diferente daquela observada no contexto judaico-cristão. Uma vez que os deuses se manifestam e são cultuados nos vários espaços da natureza, toda ela passa a ser sagrada e objeto de reverência. Assim, a relação dos religiosos afros com as matas, pedreiras, rios, fontes, mar, praia, animais etc. é estabelecida de modo íntimo e respeitoso. Pois dependem dela para que o sistema religioso possa ser posto em prática. O abate sacrificial dos animais como a inges- tão ritual de alimentos, por exemplo, favorece o restabelecimento do equilíbrio das forças cósmicas e a comunhão plena entre natureza, homem e divindade. A partir da análise da comida no contexto do Batuque (religião de matriz africana com forte presença no Rio Grande do Sul), Norton afirma que: Tais alimentos assumem importância crucial, nesse contexto religioso, porque os deuses afro-brasileiros, como tantos outros de tantas religiões, “comem”. Basta pensar na religião judaica, em que se ofereciam produtos agrícolas e animais a Javé. Ou, no Catolicismo, em que Cristo, o “cordeiro de Deus”, é oferecido ao Deus-Pai e tem o sangue e a carne ingeridos simbolicamente pelos fiéis. Ao contrário da culinária de origem banto, o conhecimento do preparo e características dessas comidas rituais é mantido no espaço intramuros dos templos de batuque. Talvez, tanto por serem sagradas como pelo considerável fechamento que o culto mantém face à sociedade envolvente. (NORTON, 2017, p. 117) 16 17 Os cultos aos deuses africanos ocorrem de duas formas: em liturgias públicas e privadas. As cerimônias públicas, que dão visibilidade às religiões afro-brasileiras, contam com a grande participação de fiéis e também são abertas àquelas pessoas não iniciadas. Elas podem ocorrer no espaço ritual dos terreiros ou em espaços públicos como praias, matas, praças etc. São festas de louvação aos deuses, seguindo o calendário anual, apresentação de novos iniciados ou confirmação da iniciação, por exemplo. Nos espaços da natureza (praias, pedreiras, rios etc.) os ritos podem concentrar um grande número de fiéis (como a festa de Iemanjá, no litoral, ou de Santa Bárbara/Iansã, em Salvador), ou apenas o sacerdote e alguns fiéis, iniciados ou não (como os despachos nas ruas e matas e rituais individuais nas cachoeiras). As cerimônias privadas são assim chamadas porque são reservadas aos iniciados, e elas são realizadas em ambientes reservados no próprio terreiro ou mesmo no espaço público, mas longe da vista de terceiros. A consulta oracular individual, os rituais de purificação, iniciação e confirmação dos iniciados são exemplos de cerimônias privadas. O processo de perseguição e depreciação da religiosidade de origem africana empreendido pelos colonizadores durante o período da escravidão (e depois, por meio do Estado e da Igreja Católica) aliado ao caráter secreto de alguns rituais, favoreceu o florescimento de atitudes preconceituosas com relação às religiões afro-brasileiras. Não são raros os casos em que os deuses e seus ritos são associados ao mal, culminando com ações de intolerância religiosa em que templos, pessoas e símbolos afros são atacados tanto no espaço público quanto no privado. Você já ouviu falar ou participou de alguma festa relacionada ao universo das religiões afro- brasileiras, como a Festa de Iemanjá que acontece em várias praias brasileira, em janeiro, fevereiro ou dezembro? Algumas dessas festividades fazem parte do calendário turístico das cidades como a Festa de Iemanjá na Praia Grande (interior de São Paulo) e a Lavagem do Bonfi m (em Salvador). Ex pl or O espaço ritual por excelência é o terreiro ou barracão. Ali são realizadas as cerimônias públicas e privadas, serve de moradia para o sacerdote, espaço de socialização dos adeptos e simpatizantes e lugar onde são desenvolvidas ações de assistência social e promoção da cultura negra. Nesse sentido, muitas pessoas re- correm aos terreiros em busca de auxílio espiritual, mas também material. No terreiro de Candomblé, os negros reproduziram no nível mítico alguns desses padrões de moradia e de culto. Exu continuou guardando a entrada dos terreiros. Os orixás, com seus quartos individuais, sintetizaram a divisão de culto por família. O culto aos mortos também permaneceu no quarto de balé ou de egun (espírito dos mortos). E o barracão do terreiro, funcionando como espaço de encontro religioso e da realização das festas públicas, reproduziu o pátio interno do compound. (SILVA, 2005, p. 63) 17 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Importante! Muitos terreiros no Brasil funcionam como Pontos de Cultura e oferecem atividades socioedu- cativas para a população do seu entorno. Alguns deles também são parceiros do Estado na aplicação de ações de combate à fome, outros são tombados como patrimônio imaterial mu- nicipal, estadual e nacional. Para conhecer a lista dos terreiros tombados pelo Instituto Na- cional do Patrimônio Histórico e Geográfico (IPHAN), acesse: https://goo.gl/HEBqzv. Além do Iphan, órgãos estaduais e municipais também fazem a inscrição e salvaguarda do patrimônio afro-religioso Você Sabia? A síntese ritual observada no interior dos terreiros revela o próprio processo de configuração das religiões afro-brasileiras. Uma vez que os vários cultos africanos não tiveram condições de se reproduzir integralmente no espaço da diáspora, tal como ocorreu com o Catolicismo que veio com os colonizadores, os africanos e seus des- cendentes desenvolveram, em meio às mazelas da escravidão, a riqueza de sua reli- giosidade. Deuses antes rivais e étnicos, mas que já estavam em relação desde a Áfri- ca, compõem um panteão harmoniosamente organizado e possibilitam a vivência de uma fé de matrizes africanas, agora incorporando elementos católicos e indígenas. Figura 3 - Ilé Iyá Omi Àse Iyamasé, conhecido popularmente como Gantois foi fundado em 1849 Fonte: cenbrasil.org.br Os adeptos, uma vez cumpridos os ritos de iniciação, passam a pertencer a uma nova família, a “família de santo”, “a forma de organização que estruturou os terreiros onde negros e mulatos, destituídos de um grupo de referência pela escravidão, se reuniam, estabelecendo vínculos baseados em laços de parentesco religioso”. (SILVA, 205, p. 56). 18 19 É pela iniciação que uma pessoa passa a fazer parte de um terreio e de uma família-de-santo, assumindo um nome religioso (africano) e um compromisso eterno com seu deus pessoal e ao mesmo tempo com o seu pai ou mãe-de-santo. Assim, um adepto, ao se iniciar, nasce para a vida religiosa como “filho” espiritual do seu iniciador, o pai ou mãe-de- santo. Tendo o iniciado um pai ou mãe-de-santo, terá também irmãos/ irmãs-de-santo (os iniciados por um mesmo pai-de-santo), tios e tias-de- santo (os irmãos/irmãs-de-santo do seu pai-de-santo) avôs e avós-de- santo (pai ou mãe-de-santo de seu pai-de-santo) e assim sucessivamente. A esses “parentes” religiosos, deve-se a consideração, o respeito, o amor e a obediência que, supõe-se, deveria existir entre membros de qualquer família; ou ainda mais, pois são pessoas unidas por vínculos sagrados”. (SILVA, 2005. P. 58) A hierarquia religiosa se organiza também nesse contexto, sendo que as relações de respeito e as obrigações rituais são distribuídas com a referência do tempo de iniciação e suas características específicas e não a idade, o gênero ou o status social do adepto. Os cargos e funções sacerdotais, portanto, são organizados em função do tempo de iniciação e de sua especificidade (podem ou não entrar em transe). No Candomblé, aqueles que não podem incorporar a divindade para a qual foram iniciados, são colocados num lugar especial da hierarquia religiosa e recebem in- cumbências de grande prestígio, dentre elas: tocar os atabaques,no caso dos ho- mens; e ser responsável pela preparação do alimento que será ofertado aos deuses, no caso das mulheres. Vimos acima que a comida é essencial nas religiões afro-brasileiras, no mesmo nível está à música. Sem alimento e sem o toque dos atabaques, não é possível cultuar plenamente os deuses. É por meio das cantigas sagradas que caboclos, orixás, inquices e voduns são invocados e vêm a terra dançar nos corpos de seus filhos e socorrê-los em suas necessidades. No quadro abaixo, temos algumas dessas funções e suas distinções no modelo ritual Angola (banto) e nagô (Sudanês). Tabela 3 – Principais cargos nos Candomblés angola e nagô Cargo Candomblé Angola (Banto) Candomblé nagô Sacerdotisa chefe (mulher) Mam’etu ria Mukixi (Angola)Nengua ia Nkisi (Congo) Yalorixá Iyakekerê: mãe pequena Sacerdote chefe (homem) Tat’etu ria Mukixi (Angola) Dise ia Nkisi (Congo) Babalorixá Babakekerê: pai pequeno Pai sacrificador de animais Tata Kivonda (Congo)Kambodu Pokó (Angola) Axogun Tocador de atabaque Muxikiangoma Alagbê Ogan Cantador Njimbidi (Angola)Ntodi - Cantador (Congo) Alagbê Ogan 19 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Além dessas funções, há um conjunto de outras que variam de acordo com os modelos rituais. No caso do complexo jeje-nagô (Sudanês), por exemplo, a pessoa ainda não iniciada é chamada de abiã e, uma vez que passou pelo rito de iniciação até o sétimo ano, é chamada de iaô. Uma vez cumpridos esses sete anos, e tendo passado por um ritual específico, ela se torna uma egbomi. Entretanto, em alguns casos, esse interstício de sete anos não precisa ser observado, como ocorre no caso dos ogans e da yabassês (mulher responsável pela preparação das comidas de santo), pois como ela não entra em transe, uma vez iniciada, já é considerada “egbomi”, isto é, “mais velha”. Quer saber mais sobre a hierarquia e as funções no Candomblé? Lá você encontrará diver- sas informações sobre a religiosidade de origem banto no Brasil: http://inzotumbansi.orgEx pl or Além dos Candomblés, apresentados brevemente aqui e conforme já dissemos acima, as religiões de matrizes africanas se desenvolveram em todo o território na- cional, sendo que, em cada região, foram desenvolvidos modelos rituais específicos devido às condições sociais do contexto. Podemos encontrar variações dos ritos jeje-nagô, por exemplo, em todo Brasil: como o Batuque no Rio Grande do Sul, o Candomblé na Bahia e o Xangô em Pernambuco. Do mesmo modo, temos algu- mas religiões cuja presença regional é extremamente importante, mas que podem ser praticamente desconhecidas no restante do país, como: o Tambor de Mina no Maranhão; a Cabula no Espírito Santo (de forte influência banto); as religiões com maior influência indígena e presença mais significativa no norte do país, como o Catimbó, a Pajelança e a Cura. “O termo mina é uma referência à procedência dos africanos escravizados, aprisionados no forte português São Jorge da Mina, na África Ocidental, antes de embarcarem para o Brasil. ” (SILVA, 2005. p. 83). Ex pl or Passemos agora às características da Umbanda. Religião à Brasileira: O Modelo Ritual da Umbanda Diferente do Candomblé que, aos longos dos anos, foi reconhecido como es- paço privilegiado da salvaguarda das heranças culturais negras no Brasil – daí a expressão “África em conserva”, utilizado por Roger Bastide (1985) para classificar os terreiros – a Umbanda nasce ressaltando seu aspecto sincrético e positivando o fato de que ela é resultado da confluência de várias cosmologias religiosas, assim como a marca identitária do Brasil é a diversidade. 20 21 A partir da década de 1970, quando muitos religiosos intensificaram o contato com sacerdotes africanos, num processo que ficou conhecido como “reafricani- zação” das religiões afro-brasileiras, a Umbanda não aderiu a este movimento, justamente porque suas lideranças a veem como uma das marcas do seu panteão e dos seus rituais a adição de novos elementos, e não a sua exclusão. Claro que esse processo de inserção não ocorre de modo aleatório, mas obedece à lógica interna da própria religião. Sobre o processo de “reafricanização”, a antropóloga Josildeth (1990) Consorte analisou um manifesto produzido por lideranças do Candomblé, na década de 1980, contra o sin- cretismo religioso. Ex pl or Na virada do século XIX para o XIX, o Brasil vive um conjunto de transformações políticas, sociais, culturais e religiosas que mudaram completamente a sua história e o modo pelo qual o Estado pensa suas identidades nacional e cultural. Temos, em 1888, a abolição legal da escravidão e, no ano seguinte, a mudança do regime polí- tico do império para a república, a Igreja Católica deixa de ser a religião oficial, e in- telectuais e artistas empreendem sistematicamente a tarefa de pensar as brasilidades. É preciso ter em mente que a abolição da escravidão e a proclamação da república são eventos que estão diretamente implicados um no outro, uma vez que a ação dos abolicionistas em boa medida favoreceu a posição daqueles que queriam o fim do regime imperial. Uma vez sendo abolido trabalho servil, o Brasil precisa lidar com o problema de inserção da população negra na sociedade, isto é, o desenvolvimento de políticas públicas que permitissem o desenvolvimento integral dos libertos, tanto na zona urbana quanto rural. Até o final do século XIX, a fim de explicar as diferenças sociais existentes entre os vários grupos humanos, circulavam nas ciências sociais, explicações evolucionistas que sustentavam haver diferenças biológicas entre os seres humanos a tal ponto de ser possível classificá-los e hierarquizá-los, sendo que a miscigenação representaria um risco para a sociedade, uma vez que a mistura provocaria a destruição dos grupos humanos. De acordo com esse pseudocientista, na parte inferior da escala evolutiva, estavam os negros e índios e na parte superior os europeus brancos. Mesmo depois de que esse tipo de explicação foi superado pelas ciências, o Estado brasileiro empreendeu uma política de incentivo à imigração de brancos europeus, a fim de “purificar” o sangue miscigenado brasileiro, relegando às populações negras do campo e da cidade posições subalternas e estigmatizadas. Essa visão depreciativa começa a perder espaço no Brasil com a rejeição das teorias evolucionistas e o processo de valorização das populações originárias, no campo das artes e das ciências humanas. No início do século XX, o negro e o índio passam a ser retratados na literatura e nas artes plásticas e “as religiões afro- brasileiras, como expressões das experiências e tradições dos negros, tornaram-se um tema obrigatório da cultura popular” (SILVA, 2005, p. 101). 21 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Importante! O período literário que ficou conhecido como Romantismo, no Brasil, está repleto de exemplos em que a figura do indígena e do caboclo são apresentados de forma posi- tiva. Os romances de José de Alencar são exemplares nesse sentido. No Movimento Modernista de 1922 a figura do mestiço é posta em evidência o romance Macunaíma de Mário de Andrade é representativo desse movimento, assim como as pinturas A negra de Tarsila do Amaral. Importante! No campo da produção das ciências sociais e da história, há também um mo- vimento de ressaltar as qualidades da mestiçagem e o encontro entre europeus, indígenas e negros como marco fundador da brasilidade. As pesquisas nos terrei- ros de Candomblé, iniciadas pelo médico baiano Raimundo Nina Rodrigues, abre um novo campo de investigação, em que o universo afro-religioso ocupa o lugar central. Autores como Arthur Ramos, Gonçalves Fernandes, Edson Carneiro e, posteriormente, Roger Bastide, Melville Jean Herskovits, dentre outros, produzi- ram uma vasta bibliografia sobre o universo afro-religioso, substituindo as interpre- tações evolucionistas de Nina Rodrigues. No artigo Religiões afro-brasileiras. Construção e legitimação de um campo do saber acadêmi-co (2002), o antropólogo Vagner Gonçalves da Silva, analisa o modo pelo qual se construiu, nas Ciências Sociais Brasileira, o campo de estudos em torno do universo afro religioso. Ex pl or A partir, portanto, dos anos 1920, o Brasil começa a construir e projetar para o exterior sua identidade nacional, tendo a diversidade cultural e a mestiçagem racial como marcas principais. Colaboram nesse processo, produções artísticas e culturais, conforme dissemos acima, e também interpretações sociológicas como Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre. Paradoxalmente, os elementos alçados a símbolos da identidade nacional foram angariados no universo afro-religioso como o samba, o carnaval nas suas mais variadas expressões, a capoeira, a feijoada etc., ao mesmo tempo em que os religiosos de matrizes africanas são perseguidos e criminalizados, tal como apontamos acima. A contradição entre cultura oficial e cultura popular já se revelava neste período, pois a Missão de Pesquisas [Folclóricas, empreendidas pelo então secretário municipal de Cultura de São Paulo, Mário de Andrade, em 1938), mesmo sendo uma iniciativa do governo paulista, só conseguiu gravar os rituais religiosos depois que estes obtiveram autorização policial para serem realizados. (SILVA, 2005, p. 105) 22 23 Importante! “Como se vê, nas primeiras décadas [do século XX], a questão do negro e sua religiosi- dade tornaram-se invitáveis para a defi nição do Brasil buscada pelos intelectuais. Em muitos casos, a valorização desse segmento formador da cultura nacional se fez junta- mente com a adesão dos intelectuais ao seu universo religioso. Muitos pesquisadores e artistas brancos, encantados com essa reinvenção da África no Brasil, converteram-se ao Candomblé e passaram a divulga-lo com maior ênfase. ” (SILVA, 2005, p. 105) Em Síntese Nesse contexto surge a Umbanda, quando kardecistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, passaram a mesclar em suas práticas elementos das religiões de matrizes africanas. No Rio de Janeiro, por volta de 1910, o kardecista Zélio Fernandino de Mo- rais passa por algumas experiências mediúnicas, manifestando a incorporação de entidades consideradas de inferiores: o caboclo e o preto-velho, isto é, espírito de índio e negros. Essas manifestações não foram recepcionadas de modo positivo pelo kardecismo e, juntamente com outros médio, funda a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade. A Umbanda apresenta-se como uma “religião genuinamente brasileira”, uma vez que reproduz na sua cosmologia religiosa a síntese das crenças presentes no território nacional: as cosmologias indígenas, as religiões afro-brasileiras, o Catoli- cismo e o Kardecismo. Formada, sobretudo, por profissionais liberais de classe média, na sua maioria brancos, a Umbanda, ao apropriar-se dos Candomblés, retira alguns elementos como os vários ritos iniciáticos, o sacrifício de animais (algumas casa de Umbanda atualmente realizam a imolação ritual); valendo-se da teologia kardecista, em que os espíritos voltam à terra para, uma vez incorporado nos médiuns, “trabalham” em prol das necessidades humanas e assim alcançam a evolução, as entidades (caboclos, pretos-velhos, exus, orixás etc.) também passam a realizar essas ações. As entidades são organizadas em linhas ou falanges, de modo que o panteão se faz por adição e não por exclusão, como nas outras religiões. Nesse sentido, a figura do caboclo e do preto-velho ganham proeminência, sendo que os orixás, diferente do Candomblé, ao se manifestarem conversam, dançam e atendem diretamente os fiéis. Seguindo a lógica kardecista, as entidades são classificadas de modo a compor uma linha evolutiva, em que no extremo superior estão os seres de “mais luz” – a linha da direita - (ou mais evoluídos e que, portanto, não precisam mais se manifestar nos corpos dos médiuns) e no oposto, aqueles de “menos luz” – a linha da esquerda (como os exus e pombagiras). Quando se cultua apenas a “linha da esquerda”, a religião é conhecida como Quimbanda. 23 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Importante! “Se no Candomblé as entidades foram agrupadas preservando-se na medida do possível as referências aos grupos étnicos de origem africana, na Umbanda foi através da teoria das linhas que se tentou classificar e organizar a grande variedade de entidades cultuadas. Segundo a literatura que tem sido escrita pelos teóricos religiosos da Umbanda, nessa religião existem sete linhas dirigidas por orixás principais. Casa linha é composta por sete falanges ou legiões. O número sete é devido ao seu valor cabalístico. Algumas dessas linhas são: Linha de Oxalá, Linha de Iemanjá, Linha de Xangô, Linha de Ogum, Linha de Oxóssi, Linha das Crianças e Linha dos Pretos Velhos. Não existe, entretanto, um consenso entre os vários terreiros e codificadores da Umbanda a respeito da composição dessas linhas e falanges. ” (SILVA, 2005, p. 121) Em Síntese Na figura a seguir, podemos visualizar essa organização. Exus Espíritos de Trevas (Esquerda): Menos evoluidos Quimbanda Pretos Velhos Caboclos Orixás Santos Católicos Figura 4 – Organização do panteão na Umbanda Importante! Enquanto no Candomblé o Exu é um orixá, portanto, um deus como os outros; a Umbanda ele é considerado uma entidade de menos luz e não um orixá, é a ele que se recorre para realizar ações consideradas menos nobres, que envolvem malefícios. Importante! Dissemos, acima, que o contexto político-social favoreceu o florescimento da Umbanda e, de fato, ao ser composta majoritariamente por uma classe média in- telectualizada (sobretudo profissionais liberais), alguns valores capitalistas e liberais, de certo modo, orientam o modo pelo qual essa religião se apresenta no espaço público e se relaciona com o Estado. No caso do Rio Grande do Sul, Ari Pedro Oro observa que: 24 25 Já a Umbanda se instalou no RS na década de [19]30 num quadro so- cial em que a implantação do capitalismo encontrava-se numa fase mais adiantada: a economia se monetarizava, iniciava-se o processo de indus- trialização, já ocorria o êxodo rural. O tempo tomava nova dimensão. As pessoas centravam suas vidas em torno do trabalho. A Umbanda se adequou aos novos tempos: seus rituais não se prologavam noite adentro, não faziam uso de tambores, não realizam sacrifícios de animais. Dessa forma, os fiéis podiam cumprir suas obrigações religiosos sem alterar o ritmo do cotidiano; não se prejudicava o sono dos vizinhos e se levava em conta a diminuição dos espaços para criar os animais, além disso, se tornavam mercadoria cara. (ORO, 2002, p. 358) Isso não significa que essa nova religião não sofreu perseguição, pelo contrário, os enfrentamentos públicos com a Igreja Católica e outras religiões cristãs e mes- mo com outros grupos afro-brasileiros, fez com que a Umbanda diversificasse sua forma de atuação – centrada na noção de caridade e assistência material e espiri- tual à população –, a organização de federações que coordenasse o trabalho das várias tendas o investimento na sistematização e divulgação da doutrina por meio de livros, revistas, programas de rádio cursos de formação. Também as realizações de cerimônias públicas, como as festas dedicadas à Iemanjá, nas praias, colaboram para o aumento dessa visibilidade. Os umbandistas souberam aproveitar-se dos momentos políticos, mesmo durante a ditadura, para fortalecer-se enquanto religião. Como atesta Diana Brown: A Umbanda passou bem nas mãos da ditadura militar instituída em 1964. Diferentemente da ditadura anterior, sob Vargas, este novo governo mili- tar não negou aos umbandistas seus direitos políticos enquanto umbandis- tas nem a liberdade da prática religiosa. Ao contrário, a ditadura apoiou os ganhos políticos e sociais alcançados nos 15 anos anteriores e auxiliou a sua institucionalização. Foi sob a ditadura miliar que o registro dos cen- tros de Umbanda passou da jurisdição policial para a civil [em cartório], que a Umbanda foi reconhecidacomo religião no censo oficia, e que muitos dos seus feriados religiosos foram incorporados nos calendários públicos locais e nacionais, de caráter oficial. (BROWN, 1985, p. 37) Já em 1973, a Umbanda se apresentava como uma das religiões que mais crescia no Brasil, contava com uma extensa rede de instituições de assistência social, escolas, creches, ambulatórios etc. (SILVA, 2005, p. 117). Em 2013, o Ministério da Educação reconhece a Faculdade de Teologia com ênfase nas Religiões Afro- brasileiras (FTU), como uma instituição de ensino superior. No gráfico abaixo, observamos a porcentagem da população brasileira, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). 25 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil 73,6 15,4 1,3 0,3 1,8 0,2 7,4 64,6 22,2 2 0,3 2,7 0,1 8 Católica Evangélica Espírita Candomlé e Umbanda Outras Sem Declaração Sem Religião 2000 2010 Gráfico 1 – Distribuição da população segundo a religião – 2000/2010 Fonte: IBGE. Censo demográfico, 2010. Por fim, a Umbanda “ao absorver o sincretismo que caracteriza o universo reli- gioso afro-brasileiro, o fez intervindo conscientemente nesse campo heterogêneo, com vistas a produzir uma síntese que refletisse, no nível religioso, as contribuições (e contradições dos grupos formadores de nossa experiência social e histórica). E através dessas características a Umbanda pôde se afirmar como religião que se quer genuinamente nacional, uma religião à moda brasileira”. (SILVA, 2005, p. 125) Considerações Finais: Religiões Afro- -Brasileiras e a Identidade Nacional Vimos nesta unidade que as religiões afro-brasileiras se configuraram a partir do encontro entre três matrizes religiosas: as religiões africanas, as cosmologias indígenas e o Catolicismo português. Num contato de longa duração e sob as condições adversas do período da escravidão, os negros reelaboraram suas crenças e liturgias de acordo com os contextos em que estavam inseridos. É possível perceber duas grandes matrizes religiosas africanas: banto e sudanesas. Sendo que em cada uma delas, há também subdivisões. É essa diversidade observada em África, que permite que os modelos rituais desenvolvidos no Brasil apresentem específicas regionais ao mesmo tempo em que conservam uma estrutura comum. Portanto, podemos perceber continuidades e rupturas entre os Candomblés jeje- nagô (sudanês) e angola (banto). 26 27 A influência africana no contexto brasileiro não se limitou ao escopo da religião. Ao longo do texto, indicamos que a própria identidade cultural nacional se configurou a partir dos referenciais afros, embora de maneira paradoxal, a religiosidade africana tenha sido depreciada. Uma vez que a mestiçagem racial e o hibridismo cultural começam a ser positivados e apresentados como a marca da identidade nacional, nas primeiras décadas do século XX, observa-se um esforço no campo da política, das artes e da produção científica em inventariar os símbolos “representativos da brasilidade”. Destaca-se, nesse contexto, o fato de que tais elementos da cultura nacional têm suas origens nas religiões de matrizes africanas. Se, na produção artística do modernismo brasileiro, tal como apontamos an- teriormente, é possível encontrar os elementos da mestiçagem e o negro como protagonistas, o mesmo se passa na literatura e, de modo mais acentuado, nos ro- mances de um dos escritores brasileiros mais lidos, Jorge Amado, o universo afro- -religioso, tem lugar de destaque. Essa visibilidade aumenta à medida que as obras desse autor são reeditadas no cinema e na televisão, por meio das telenovelas. No campo da música, Rita Amaral e Vagner Gonçalves da Silva demonstraram como em todo repertório musical brasileiro, da Música Popular Brasileira ao Rap, o Funk e o Rock, a temática das religiões afro-brasileira também aparece. No diálogo das religiões afro-brasileiras com a cultura nacional a música popular desempenhou um papel fundamental, constituindo uma lingua- gem privilegiada em pelo menos dois planos: o melódico (entendido como um leque de ritmos praticados no terreiro e suas variações e releituras fora dele), e o discursivo (entendido como o que as letras dizem ou insi- nuam). Essa linguagem é constituída por um conjunto de símbolos que são articulados por compositores e cantores, com diferentes níveis de aproximação religiosa, que os interpretam e compõem seus repertórios segundo contextos musicais histórica e socialmente definíveis. Por outro lado, esses símbolos são decifráveis conforme os níveis de aproximação do ouvinte em relação às religiões afro-brasileiras. (AMARAL & SILVA, 2006, p. 233) Enfim, quando se olha para o Brasil e na sua pro- dução cultural, encontramos mais do que elementos de origem africana (como léxicos, saberes, mitos) nos deparamos também com o sagrado em suas múltiplas formas, mas, sobretudo, nas suas expres- sões lúdicas: capoeira, na música (samba, sobretu- do), na dança, no carnaval (afoxés, maracatus) etc. O catálogo A mão afro-bra- sileira, editada por Emanoel Araújo, apresenta a influên- cia dos artistas negros e da temática africana presente na arte brasileira, em todas as suas expressões. 27 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Do afro ao brasileiro Elaborado pelos pesquisadores Rita Amaral e Vagner Gonçalves da Silva, o site analisa a presença de elementos das religiões afro-brasileiras nas várias dimensões da cultura nacional. www.doafroaobrasileiro.org Livros A Morte Branca do Feiticeiro Negro ORTIZ, Renato. A Morte Branca do Feiticeiro Negro. Rio de Janeiro. Vozes. 1978. Resumo: A corporação do negro livre à sociedade que surgiu da abolição produziu um fenômeno central da cultura brasileira: a fratura do universo religioso dos escravos e a assimilação de seus elementos pela tradição cristã. O resultado não foi a africanização do Cristianismo nos trópicos, mas a cristianização das religiões africanas, que só assim pu- deram ser aceitas num ambiente dominado por uma elite que se pretendia européia. Em “A Morte Branca do Feiticeiro Negro”, as relações entre cultura e classes sociais no Bra- sil são analisadas pela inteligência viva e sensível de um dos nossos maiores intelectuais. Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de Todos os Santos, no Brasil, e na antiga costa dos escravos, na África. VERGER, Pierre. Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de Todos os Santos, no Brasil, e na antiga costa dos escravos, na África. São Paulo: Edusp, 2000. Resumo: O livro parte do culto aos orixás e voduns, na Bahia e compara-o com a tradição religiosa dos yoruba (Nigéria) e djè djè (Daomé), de onde se originou. Descreve os rituais de iniciação, o estado de transe, os orixás e voduns e outros deuses menos conhecidos. Anexos e Apêndices ampliam as informações contidas nos capítulo. Filmes O Atlântico Negro: Na rota dos Orixás Direção Renato Barbieri, Gaya Filmes, 1998, 54min, Colorido, Pt. Sinopse: O documentário trata da riqueza cultural africana sobretudo sua religiosidade. Uma viagem no espaço e no tempo, em busca das origens africanas da cultura brasileira. Historiadores, antropólogos e sacerdotes africanos e brasileiros relatam fatos históricos e dados surpreendentes sobre as inúmeras afinidades culturais que une os dois lados do Atlântico. Filmado no Benin, no Maranhão e na Bahia. 28 29 Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Identidade Cultural, Identidade Nacional no Brasil QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Identidade Cultural, Identidade Nacional no Brasil. Tempo Social - Rev. Sociologia da USP. S. Paulo, 1(1), 1. sem. 1989. Resumo: O problema da identidade cultural no Brasil vem sendo colocado desde os primeiros trabalhos em Ciências sociais no país, datados do século XIX. No correr do tempo, foi sendo abordado de ângulos diferentes, em ligação íntimacom as condições socioeconômicas nos diversos momentos em que se definia a identidade. Uma observação mais acurada mostra que há uma sinonímia entre os conceitos de identidade cultural e identidade nacional, ao do contrário do que ocorre na Europa. De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade, religião PRANDI, Reginaldo. De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade, religião. Revista USP, São Paulo, nº 46, pp. 52-65, junho-agosto 2000. Resumo: Retraça o processo de configuração da população afro-brasileira a partir das suas origens transatlânticas. 29 UNIDADE Religiões de Matrizes Africanas no Brasil Referências ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. AMARAL, Rita & SILVA, Vagner Gonçalves da. Foi conta pra todo canto: as religiões afro-brasileiras nas letras do repertório musical popular brasileiro. Afro- Ásia, n. 34, 2006, pp. 189-235. ARAÚJO, Emanoel (org.). A Mão Afro-brasileira – significados da contribuição artística e histórica. São Paulo, Tenenge, 1988. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1985. BROWN, Diana. Uma história da Umbanda no Rio. Umbanda e Política. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1985. CONSORTE, Josildeth Gomes. Em torno de um manifesto de ialorixás baianas contra o sincretismo. In: CAROSO, Carlos & BACELAR, Jeferson (orgs.), Faces da tradição afro-brasileira. Rio de Janeiro: Pallas, 1999. CORREA, Norton F. Correa. O Batuque do Rio Grande do Sul 1992 ed. Porto Alegre: Editora da UFRS. p. 55, 1992. GIUMBELLI, Emerson. O fim da religião: dilemas da liberdade religiosa no Brasil e na França. São Paulo, CNPq/Pronex/Attar Editorial, 2002. MAGGIE, Yvonne. Medo de Feitiço: Relações entre magia e poder no Brasil. Rio de Janeiro. Arquivo Nacional. 1992. MONTERO, Paula. (org.). Deus na aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Globo, 2006. MUNGUELE, Jean-Baptiste. Dinamismo cultural bantu e religião: o resgaste das estruturas simbólicas bantu. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 200. Dissertação de mestrado. ORO, Ari Pedro. Religiões Afro-Brasileiras do Rio Grande do Sul: Passado e Presente. Estudos Afro-asiáticos. vol.24 no.2 Rio de Janeiro, 2002. SILVA, Vagner G. Religiões afro-brasileiras. Construção e legitimação de um campo do saber acadêmico (1900-1960). In: Revista USP. São Paulo, USP-CCS, n. 55, 2002 (pp. 82-111). _____. Candomblé e Umbanda - Caminhos da Devoção Brasileira. São Paulo, Selo Negro, 2005, 5a. ed. 30
Compartilhar