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Fundamentos da Educação João Maria Pires Vilma Vitor Cruz Interdisciplinar Fundamentos da Educação Natal – RN, 2012 Interdisciplinar Fundamentos da Educação João Maria Pires Vilma Vitor Cruz 3ª Edição Catalogação da publicação na fonte. Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva. © Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Marcos Aurélio Felipe GESTÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luciana Melo de Lacerda Rosilene Alves de Paiva PROJETO GRÁFICO Ivana Lima REVISÃO DE MATERIAIS Revisão de Estrutura e Linguagem Eugenio Tavares Borges Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Kaline Sampaio de Araújo Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Thalyta Mabel Nobre Barbosa Revisão de Língua Portuguesa Camila Maria Gomes Cristinara Ferreira dos Santos Emanuelle Pereira de Lima Diniz Janaina Tomaz Capistrano Priscila Xavier de Macedo Rhena Raize Peixoto de Lima Sandra Cristinne Xavier da Câmara Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva EDITORAÇÃO DE MATERIAIS Criação e edição de imagens Adauto Harley Anderson Gomes do Nascimento Carolina Costa de Oliveira Dickson de Oliveira Tavares Leonardo dos Santos Feitoza Roberto Luiz Batista de Lima Rommel Figueiredo Diagramação Ana Paula Resende Carolina Aires Mayer Davi Jose di Giacomo Koshiyama Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Rafael Marques Garcia Módulo matemático Thaisa Maria Simplício Lemos Pedro Gustavo Dias Diógenes IMAGENS UTILIZADAS Banco de Imagens Sedis (Secretaria de Educação a Distância) - UFRN Fotografi as - Adauto Harley MasterClips IMSI MasterClips Collection, 1895 Francisco Blvd, East, San Rafael, CA 94901,USA. MasterFile – www.masterfi le.com MorgueFile – www.morguefi le.com Pixel Perfect Digital – www.pixelperfectdigital.com FreeImages – www.freeimages.co.uk FreeFoto.com – www.freefoto.com Free Pictures Photos – www.free-pictures-photos.com BigFoto – www.bigfoto.com FreeStockPhotos.com – www.freestockphotos.com OneOddDude.net – www.oneodddude.net Stock.XCHG - www.sxc.hu FICHA TÉCNICA Governo Federal Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-Presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Aloizio Mercadante Oliva Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Reitora Ângela Maria Paiva Cruz Vice-Reitora Maria de Fátima Freire Melo Ximenes Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) Secretária de Educação a Distância Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Secretária Adjunta de Educação a Distância Eugênia Maria Dantas Sumário Apresentação Institucional 5 Aula 1 Vôo livre pelos caminhos da Educação 7 Aula 2 Missão e compromissos da Educação 23 Aula 3 Modelos teóricos e metodológicos para a Educação 41 Aula 4 Organizando a difusão dos saberes e das práticas educativas 57 Aula 5 Fundamentos dos saberes e das práticas tradicionais na Educação 71 Aula 6 A Educação e as exigências do mercado 83 Aula 7 Cultura tecnológica e Educação 99 Aula 8 Formação pedagógica e cultura tecnológica 115 Aula 9 A dimensão pedagógica e as inovações da cultura tecnológica 131 Aula 10 A racionalidade contemporânea e a prática pedagógica 147 Aula 11 A elitização e a universalização da Educação no Brasil 165 Aula 12 O analfabetismo entre jovens e adultos 179 Aula 13 Educação, tradição e modernidade 191 Aula 14 A institucionalização da modernização na Educação 207 Aula 15 Desenvolvimento e Educação: sonho e realidade 225 Apresentação Institucional A Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil – UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações em Administração Pública e Administração Pública Municipal. Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfi co para atender às necessidades de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profi ssionais qualifi cados e que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas, livros, textos, fi lmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem. Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram o desafi o de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como modalidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o conhecimento uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local. Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA SEDIS/UFRN 5 Vôo livre pelos caminhos da Educação 1 Aula Apresentação 1 2 3 4 Aula 1 Fundamentos da Educação 9 Nesta primeira aula da disciplina Fundamentos da Educação, nada melhor do que irmos à raiz das questões. Assim, pensamos em iniciar nossos estudos sobrevoando (como o fazem os passarinhos quando miram um alvo) em torno de alguns conceitos e terminologias que nos serão úteis no decorrer da disciplina. Esse sobrevôo tem por fi nalidade tentar analisar as nuanças que circundam o termo educação e, assim, compreender a prática educativa no contexto da escola e da sala de aula. O que seria então a educação? Você pode dizer: essa é fácil de “matar”. Todos nós (adultos) temos um conceito formado sobre educação. A questão que se coloca aqui é saber se estamos certos em simplesmente defi nir educação a partir do senso comum, da experiência vivida ao longo de nossa formação acadêmica ou se deveremos ir um pouco mais além e perguntar: será que existe uma teoria educativa? Caso a resposta seja positiva, quais seriam seus fundamentos? Em quais princípios ela se apóia? Como está organizada? Você, por acaso, já se preocupou com essas questões? Pois bem, todas elas circundam a discussão sobre a educação. Daí iniciarmos esta aula da disciplina refl etindo acerca do que pensamos sobre a Educação, para depois aprofundarmos a compreensão de como ela se organiza e como é posta em prática. Nesse sentido, entendemos que para compreender o processo do qual decorre e se completa a formação docente, será necessário compreender o sistema no qual a Educação está inserida, pois, somente a partir disso o profissional poderá emergir no universo do seu trabalho, conciliando teoria e prática. Objetivos Apresentar a educação como processo universal e civilizatório. Identifi car a Educação na dinâmica das mudanças nacionais e internacionais. Perceber as transformações econômicas e sociais, e os movimentos de padronização cultural na Educação. Compreender os processos educativos dentro de uma relação dialética à medida que contribui para que a cultura também se transforme. Aula 1 Fundamentos da Educação10 O que é Educação? Essa pergunta pode parecer despretensiosa e desinteressante para você ou para qualquer outro que pense, de imediato, saber a resposta. Mas, adiantamos desde já que, ao contrário do que possa sugerir a leitura rápida e o impulso imediato para expressar a primeira resposta, tal questão exige e pressupõe uma reflexão consistente sobre os fundamentos nos quais se apóia e se desenvolve a dimensão teórica e prática da Educação. É perceptível que o referido questionamento direciona nossa atenção e a nossa refl exão para a busca de informações que esclareçam a base conceitual e as justifi cativas nas quais repousam as idéias que temos sobre Educação. Em outras palavras, fi ca claro que a questão é simples na sua forma e provocativa no seu conteúdo. Com essa provocação, estamos querendo dizer que, por encontrar-se carregada de interesses e interpretações, podemos misturar informação política com política de formação. Por isso, torna-se imprescindível identifi car, compreender e discutir os fundamentos e os interesses que a questão comporta, o que facilita captar e distinguir o que dela se projeta como ação formativa e algo que se encontra além da dimensão simplesmente informativa. Convidamos, pois, você para refl etir conosco sobre essa e outras interpretações que compõem o universo da Educação. Assim, o que você acha de iniciarmos nossa investigação pensando e refl etindo sobre a importância do conteúdo que envolve a questão proposta: o que é a Educação? Ora, vamos, não se assuste! Apenas estamos propondo que o caminho investigativo comece pelo esclarecimento sobre a necessidade de discutirmos os fundamentos do que o senso comum Aula 1 Fundamentos da Educação 11 convencionou chamar de educação. Compreendeu? Vou esclarecer mais um pouco. Veja bem, a idéia é desenvolver o tema e responder à questão central a partir dos argumentos que costumeiramente apresentamos como explicações e justifi cativas para algumas das nossas necessidades práticas. Entre estas, encontra-se a educação. Entendemos que ao identifi car tais justifi cativas, poderemos compor um quadro teórico de informações consistentes e, desse modo, chegar a uma dimensão conceitual explicativa para o ato de educar, com maior fundamentação. Viu como pode ser “mais fácil” nossa estratégia? Essas aspas são um sinal de que mesmo adotando nossa sugestão como estratégia de abordagem, ainda poderemos ter turbulências durante o vôo. Por outro lado, acreditamos que não será algo complicado e perturbador a ponto de nos tirar do objetivo principal que é o desejo de conhecer a Educação de modo mais consistente e signifi cativo. Nesse sentido, devemos ir além da idéia comum de educação, ainda que encontremos pelo caminho argumentos reforçando a tese de que a formação contemporânea se basta ou se completa apenas com os conhecimentos dos sofi sticados meios de comunicação e dos seus infi nitos recursos tecnológicos. De um modo ou outro, pensamos ser possível demonstrar que o grande e diversifi cado número de informações, disponíveis em nossa sociedade, ainda não é suficiente para dispensar a preocupação com os fundamentos, seja da Educação ou de qualquer outra área de conhecimento. Sendo assim, perguntamos: pronto para um vôo pelos campos verdes, mas, também áridos da Educação? Pois bem, vamos lá. A primeira providência é lembrar que investigar uma pergunta do tipo o que é Educação, já desgastada pelo seu uso indiscriminado e pouco refl exivo, poderá nos forçar a reconhecer que se torna desnecessário e improdutivo insistir nisso para aprofundar a compreensão dos seus fundamentos. Isso porque nosso termômetro ingênuo de sabedoria, o senso comum, indicaria que já sabemos a resposta na sua completude, o que ela é na sua mais profunda dimensão e o que representa em termos de importância social, política e cultural na escala evolutiva e racional que a raça humana atingiu até chegar a nossa sociedade. Por outro lado, assim como uma moeda tem dois lados, cara e coroa, distintos e complementares entre si, acreditamos que uma análise rigorosa da questão, como a que estamos propondo aqui, não se limitará à garantia de sabermos o que é a Educação a partir da evolução histórica do conhecimento humano, baseando nossos argumentos simplesmente na estreita visão ocidental que temos do homem no mundo, ou seja, esquecemos de ampliar as informações além dos referenciais que delimitam a fronteira do nosso modo de ver as coisas. Esse caminho de fato limitaria o conhecimento de outras experiências e, portanto, de interpretações possivelmente diferentes das nossas. Olhando por outro lado, o raciocínio que acabamos de apresentar contrasta, ou choca- se de frente, com pelo menos uma outra perspectiva que radicaliza (no sentido de ir às raízes) a questão que queremos investigar. Estou me referindo à problemática que a questão Atividade 1 Aula 1 Fundamentos da Educação12 sugere quando aprofundamos a refl exão perguntando se será possível sabermos, de fato, a essência do signifi cado da Educação. Que tal fazermos um exercício refl exivo e expressar, no papel, nosso primeiro conceito de Educação? Pois bem, se já sabemos o que é a educação, então, nada mais oportuno do que expormos esse saber, não é mesmo? Ele será resultado do que nossa experiência ingênua nos sugere acrescido do breve conteúdo exposto até o momento. Procure agora defi nir o que é educação. De outro modo, para expressar bem o que já sabemos sobre Educação, ou, para, paradoxalmente, investigar sobre o que não sabemos, teremos que nos esforçar para identifi car o que caracteriza e justifi ca a ação educativa. Portanto, qualquer que seja o caminho investigativo escolhido por nós, o primeiro passo será unir forças e interesses para compreender e apreender os fundamentos do que se esconde no ato de educar. Com isso, a partir de agora faremos de conta, melhor dizendo, assumiremos como pressuposto investigativo a idéia de que já sabemos de fato o que signifi ca educação e que apenas estamos interessados em compreender os desdobramentos do ato de educar como garantia de boa formação do indivíduo e do pleno exercício de sua cidadania. Combinado? Aula 1 Fundamentos da Educação 13 Para auxiliar a nossa empreitada de superação da visão ingênua de educação oferecida pelo senso comum, seguiremos as linhas interpretativas indicadas pelas teorias da Educação. Assim, sugerimos recorrer a Libâneo (2004), pesquisador de larga experiência no campo da Educação, que deverá dar apoio teórico e sustentabilidade ao nosso esforço para fundamentar a idéia central que estamos desenvolvendo. As defi nições a seguir assumem formas conceituais que se identifi cam com concepções teóricas específi cas e determinadas. Assumem também sentido de criação, geração ou elaboração de uma representação do mundo e do homem. Desse modo, todas elas buscam identifi car e apreender a importância da ação educativa no conjunto das diversas relações que comportam as transformações entre o homem e o mundo. Vejamos, por exemplo, algumas defi nições conceituais que possivelmente serviriam como respostas para a questão enfocada (o que é educação?), de acordo com Libâneo (2004, p.72-79). 1) Uma concepção geral, que serve de orientação para muitos educadores a. O acontecer educativo corresponde à ação e ao resultado de um processo de formação dos sujeitos ao longo das idades para se tornarem adultos, pelo que adquirem capacidades e qualidades humanas parao enfrentamento de exigências postas por determinado contexto social. b. Educação como processo de desenvolvimento: o ser humano se desenvolve e se transforma continuamente, e a educação pode atuar como confi guração da personalidade a partir de determinadas condições internas do indivíduo. 2) Uma resposta com base na concepção naturalista a. A educação e o ensino devem adaptar-se à natureza biológica e psicológica da criança; e as tendências de seu desenvolvimento já estariam prontas desde o nascimento. 3) Resposta baseada na concepção pragmática a. A educação não é a preparação para a vida, é a própria vida. [...] A educação é uma constante reconstrução ou reorganização da nossa experiência que opera uma transformação direta da qualidade da experiência. 4) Uma defi nição de educação com base na concepção espiritualista a. Cabe à educação atualizar disposições existentes potencialmente no aluno, cultivando suas faculdades mentais para atingir o ideal de perfeição, cujo modelo é Cristo. 5) A proposta de educação associada a uma concepção cultural a. A educação é uma atividade cultural dirigida à formação dos indivíduos, mediante à transmissão de bens culturais que se transformam em forças espirituais internas no educando. Atividade 2 1 2 Aula 1 Fundamentos da Educação14 6) Por fi m, uma idéia de educação baseada na concepção histórico-social a. A educação é um acontecimento sempre em transformação. Seus objetivos e conteúdos não são sempre idênticos e imutáveis, variam ao longo da história e são determinados conforme o desdobramento concreto das relações sociais, das formas econômicas da produção, das lutas sociais. Exercite sua habilidade de “pescador” para lançar a rede sobre as defi nições anteriormente citadas. Em seguida, selecione entre as idéias pescadas aquela que melhor enfatiza a principal preocupação de cada uma das concepções dadas. Faça um breve comentário ressaltando o que lhe chamou a atenção em cada uma das concepções anteriormente citadas. Aula 1 Fundamentos da Educação 15 É claro que as defi nições apresentadas compõem apenas um pequeno acervo teórico das respostas para a nossa questão investigativa. Desse modo, talvez até seja possível dizer que o universo dos conceitos e das teorias explicativas sobre a educação varia conforme o entendimento e a experiência vivida em torno dos processos de formação e desenvolvimento humano. Como exercício crítico-refl exivo, sugerimos que leia mais uma vez sua defi nição de educação, elaborada na primeira atividade, e compare-a com as defi nições vistas objetivando encontrar semelhanças entre elas. Algo semelhante a uma idéia básica, implícita nas entrelinhas de uma das concepções, que poderá servir como referencial discursivo para nós. Veja, por exemplo, se concorda que é possível admitirmos como primeiro ponto de apoio para nossa investigação o entendimento de que a educação, em seu sentido amplo, é um meio de promoção do homem. Concorda? Pois bem, este será nosso primeiro referencial. Na seqüência, buscaremos identifi car o desdobramento da promoção do homem através dos jogos de interesses em vários contextos e situações das políticas públicas da educação brasileira. Libâneo (2004) e Ghiraldelli Júnior (2001) nos oferecem indicações das concepções de educação na perspectiva de promoção humana, a qual aparece no centro de um emaranhado de interesses sociais, políticos econômicos e culturais. Os autores apresentam quatro projetos distintos (descritos a seguir) para a educação brasileira, que se identifi cam com movimentos em torno da idéia de um “novo Brasil”. a) Católicos – Defensores da Pedagogia Tradicional. Grupo de manifestantes defensores dos interesses católicos e ferrenhos opositores das teses da Pedagogia Nova. b) Liberais – Composto por intelectuais que manifestavam desejos por um país construído sob as bases urbano-industriais democráticas. Esses manifestantes defendiam uma Pedagogia Nova para a educação. c) Governistas – Numa situação aparentemente neutra, de livre trânsito entre os liberais e os católicos, o Governo Federal colocou em execução uma política de educação diferente dos outros dois projetos, distantes dos princípios democráticos que o país apresentava para o contexto. d) Aliancistas – Representantes das classes populares (proletariado e camada média) que formaram uma frente antiimperialista e antifascista (grupo dos Integralistas), sob a sigla ANL – Aliança Nacional Libertadora. Defenderam uma democratização da educação, em referência às teses reivindicatórias do Movimento Operário. Pedagogia Tradicional Pedagogia de cunho religioso-católico, com base nos princípios da educação jesuítica. Liberais Basicamente constituído de intelectuais que nos anos 20 propuseram várias reformas educacionais e, em 1932, publicaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Pedagogia Nova Pautava-se em métodos ativos de ensino-aprendizagem, incentivando os trabalhos em grupo e as práticas manuais, com ênfase substancial à liberdade da criança e ao interesse do educando. John Dewey Filósofo da Educação, grande entusiasta da Pedagogia Nova. Anísio Teixeira Defendia uma escola democrática, única, e o ensino profi ssionalizante. Émile Durkheim Dedicou grande parte de seus estudos sociológicos a transformar a sociologia em ciência autônoma: como disciplina rigorosa e objetiva. Aula 1 Fundamentos da Educação16 Segundo Ghiraldelli Júnior (2001), todos esses movimentos desejavam um país diferente da República Oligárquica imposta pela Revolução de 30, a qual promoveu um rearranjo na sociedade política possibilitando o assento de setores sociais marginalizados do poder durante a Primeira República. Mas, na verdade, estamos querendo destacar que para compreender o que é a educação, deveremos primeiro perceber que o sentido social de promoção humana – nosso primeiro referencial, lembra? – surge entrelaçado, principalmente, com interesses políticos e econômicos. O ambiente é constituído em torno de lutas ideológicas ferrenhas, protagonizadas por facções de concepções conservadoras, reacionárias e por profi ssionais liberais querendo assumir os rumos da modernização do país, também, pela educação. Só para ilustrar o complicado contexto no qual se formam as políticas de educação que irão predeterminar a promoção humana, o autor referenciado cita uma passagem da participação do presidente Getúlio Vargas (ainda que apenas para reforçar seu marketing político), na IV Conferência Nacional de Educação, em 1931. Os educadores brasileiros estavam discutindo “As Grandes Diretrizes da Educação Popular”. Na oportunidade, Vargas apareceu e teria dito que “‘O governo revolucionário’ não tinha uma proposta educacional, e esperava-se dos intelectuais ali presentes a elaboração do ‘sentido pedagógico da Revolução’”. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001, p.41). É bom não esquecer que os fundamentos da Educação que estavam sendo propostos no Brasil tinham suas raízes em teses e teorias da Educação e da Sociologia, mais elaboradas, fora do país. Estamos nos referindo principalmente às idéias de John Dewey (1859-1952), que infl uenciaram fortemente o pensamento de Anísio Teixeira, e ao sociólogo Émile Durkheim (1858- 1917), o qual infl uenciou diretamente o modo de pensar de Fernando Azevedo. Duas posturas diferentes de ver e projetar a educação, ainda que sob uma mesma base: a Pedagogia Nova. Para Anísio Teixeira, a escola seria controlada pela comunidade e aberta a todas as camadas sociais. Enquanto Fernando de Azevedo, procurando conciliar a proposta pedagógica de Dewey com a visão sociológica de Durkheim, assumiu uma visão elitista para a educação. Para ele, a escola deveria ter um papel de formadora de elites e a educação serviria para rearranjar os indivíduos na sociedade de acordo com suas aptidões. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001). Vemos, pois, a linha de ruptura entre o tradicional e o novo aprofundar-seatravés da perspectiva modernizante da educação ao se apresentar como a dimensão pedagógica, crítica, ativa e atuante, que permitirá a promoção humana através da formação social e política dos jovens. Desse modo, acreditamos ter chegado ao nosso segundo ponto de apoio: a promoção humana implícita na perspectiva de formação educacional poderá ocorrer em nome de interesses econômicos, políticos e ideológicos associados à racionalização instrumental, através da qual a educação assume a dimensão de instrumento das mudanças sociais, urgentes e necessárias para acomodar o “novo”, a racionalidade científi ca e tecnológica que se encontra à frente das transformações contemporâneas. Considerando que o nosso objetivo neste momento é buscar compreender os fundamentos da Educação, e, como tal, já os concebemos entranhados no movimento histórico da educação, nada mais justo do que esclarecer essa história. Esta, por sua Paidéia A palavra grega Paidéia aproxima-se do termo cultura com signifi cado de formação individual, com base nas “boas artes”, aquelas que são próprias do homem e que o diferencia de todos os outros animais. Nas “boas artes”, estava incluída a poesia, a eloqüência, a fi losofi a, a matemática, a música etc. (ABBAGNANO, 1982, p.209). Aula 1 Fundamentos da Educação 17 vez, como ressaltamos anteriormente, é constituída a partir dos interesses envolvidos nas relações sociais, políticas e econômicas. Nesse sentido, iremos dar seqüência a nossa abordagem, mas, saltando a linha imaginária do tempo para, de modo mais evidente, chegarmos à forma contemporânea de discutir os princípios educativos e as novas tendências reservadas para a Educação. Nossa caminhada segue no sentido de mostrar que as informações basilares encontradas até o momento, das quais nos servimos como pontos de apoio interpretativos, identifi cam, em um primeiro momento, a educação como meio de promoção do homem e, em um segundo momento, demonstram que tal promoção humana ocorre em função dos interesses intrínsecos aos confl itos ideológicos, em sintonia com a racionalização instrumental, que surge como indicadora confi ável para as mudanças que irão acomodar as transformações contemporâneas. Assumimos anteriormente como pressuposto investigativo a idéia de que sabemos o que é a educação e que apenas estamos interessados em compreender a importância dos desdobramentos do ato de educar como garantia da boa formação do indivíduo e o pleno exercício de sua cidadania na contemporaneidade. Ora, tais desdobramentos, como já os vimos, aparecem inseridos em propostas da sociedade organizada, dos técnicos e dos políticos que se encontram à frente das decisões ofi ciais, na forma de políticas de educação. Estas, por sua vez, procuram acompanhar os interesses sociais, políticos e econômicos, nacionais e internacionais, para propor uma adequação pedagógica em sintonia com os valores que estão em formação. Desse modo, admitir que sabemos o que é a educação, é no mínimo uma ousadia imprecisa. Pois, tal questão pressupõe uma sintonia com o emaranhado jogo de interesses de concepções ideológicas, políticas e econômicas, as quais se transformam em decisões e se transportam para o social como normas, princípios e diretrizes que, inseridos no processo educativo, passarão a indicar os caminhos pelos quais deverá ocorrer a formação político-social dos indivíduos. Daí que, para pensar e admitir a educação como algo diferente, capacitada a percorrer uma via formativa mais rigorosa e profunda, teremos que nos remeter aos gregos antigos. Estes, de fato, nos legaram uma educação forte e consistente, idealizada para ser desenvolvida sem interferências danosas dos interesses referidos. Os gregos compreenderam a educação como Paidéia, ou seja, como uma formação integral do homem em sua dimensão cultural mais sensível e intelectual possível. Vemos, portanto, meu caro aluno, a distância que estamos dos gregos e da idéia de educação que eles tiveram. É claro que não pretendemos entrar em clima de saudosismo com essa referência. Apenas objetivamos mostrar a dinâmica que altera o movimento conceitual da resposta para nossa questão principal. Nesse sentido, chegamos ao nosso terceiro ponto: não é possível responder ou saber “o que é educação”. Ou melhor, para tal questão existe uma infi nidade de respostas, quantas forem possíveis identifi car através de um levantamento histórico dos modos ditos civilizatórios, sobre a organização social, política e cultural dos povos. Agora, como forma de melhor fi xar o conteúdo sistematizado e desenvolvido até o momento, faremos nossa terceira atividade. Atividade 3 Aula 1 Fundamentos da Educação18 Com base nas idéias anteriormente desenvolvidas, apresentamos como atividade complementar a questão que segue. Faça uma entrevista com algumas pessoas da sua comunidade (professores, alunos, padre, pastor, juiz, prefeito, delegado etc.), procurando informar-se sobre: a. o que é educação? b. o que signifi ca educar, hoje? c. o que representa uma boa educação? d. o que a sociedade espera obter com a educação dos jovens? Depois desse nosso vôo livre pelos caminhos da Educação, não devemos concluir que a caminhada investigativa não valeu a pena. Que não adiantou nada procurar os fundamentos da Educação. Ou seja, que já sabemos tudo sobre educação e que investigar seus fundamentos, de fato, nos levou e levará à frustração. Não podemos raciocinar dessa forma. O fato de não termos chegado a uma resposta precisa para a questão posta não justifi ca uma interpretação errônea e desqualifi cada para o conteúdo tratado. Nossa conclusão indica a rica dimensão conceitual que envolve a pergunta: o que é educação? O que, de certa forma, traduz a difícil tarefa que nós educadores temos em compreender o movimento atual das transformações sociais, econômicas, políticas e culturais, para oferecer uma perspectiva educacional, sintonizada com as mudanças contemporâneas e, principalmente, integrada a uma formação crítico-refl exiva que promova no homem uma visão além do senso comum. Uma visão privilegiada dos acontecimentos do seu tempo e o pleno exercício de sua cidadania. Agora que você já tem uma compreensão consistente do ato de educar e conhece como sua comunidade pensa e assume as ações educativas, tem condições de assumir uma visão de educação mais cuidadosa, criteriosa, com base no seu aguçado senso crítico. Que tal fazermos neste momento o caminho inverso ao que realizamos anteriormente? A proposta segue a seguinte linha de raciocínio: Aula 1 Fundamentos da Educação 19 a) já temos uma idéia do que é ou pode vir a ser a educação; b) estamos inseridos em um conjunto de relações sociais, nas quais se constroem e se destroem continuamente valores e princípios educativos de acordo com os interesses envolvidos; c) acreditamos nos processos educativos que se organizam em torno das mudanças exigidas pela sociedade contemporânea, mas, a partir de uma educação para o pensar, fundamentada na perspectiva crítico-refl exiva; d) portanto, temos condições de fazer comentários críticos (com critérios) e refl exivos sobre educação. Assim, complementaremos nossa atividade prática lendo, refl etindo e discutindo sobre o texto a seguir. Leia-o atentamente e, em seguida, sistematize por escrito a(s) idéia(s) de educação que nele encontrar e depois comente com seus colegas de curso. [...] vista em seu vôo mais livre, a educação aparece sempre que há relações entre pessoas e intenções de ensinar-e-aprender. Intenções, por exemplo, de aos poucos “modelar a criança”, para conduzi-la a ser o “modelo” social de adolescente, para torná-lo mais adiante um jovem e, depois, um adulto. Todos os povos traduzem de alguma maneira esta lenta transformação que a aquisição do saber deve operar. [...] Não é nada raro que tanto na cabeça de um índio quanto na de um de nossos educadores ocidentais, a melhor imagem de como a educação se idealiza seja a do oleiro quetoma o barro e faz o pote. O trabalho cuidadoso do artesão que age com o tempo e sabedoria sobre a argila viva que é o educando. [...] Quando o educador pensa a educação, ele acredita que, entre homens, ela é o que dá a forma e o polimento. Mas, ao fazer isso na prática, tanto pode ser a mão do artista que guia e ajuda o barro a que se transforme, quanto a forma que iguala e deforma. [...] A educação aparece sempre que surgem formas sociais de condução e controle da aventura de ensinar-e-aprender. (BRANDÃO, 1991, p.24). Leituras Complementares ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem? São Paulo: Summus, 1985. A autora aborda problemas da realidade educacional a partir de uma abordagem eloqüente e construtiva, numa atualidade temática de rica variedade. GUDSDORF, Georges. Professores para quê? São Paulo: Martins Fontes, 1987. O autor discorre sobre a relação professor-aluno na perspectiva de aprendizagem, em um ensaio que extrapola as perspectivas de que as relações contemporâneas superaram a discussão sobre o ensino. Resumo Aula 1 Fundamentos da Educação20 ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1986. Rubem Alves, de modo simples e cativante neste livro, lança convite a todos os educadores para reverem aspectos importantes da prática de educador, e da relação ensino-aprendizagem. Ao mesmo tempo em que sinaliza para o cultivo de uma dimensão crítico-sensitiva no ensinar e aprender. Este breve sobrevôo teve por fi nalidade apresentar e analisar as nuanças que circundam o termo educação, para depois compreender a prática educativa no contexto da escola e da sala de aula. A idéia central foi desenvolvida em torno da problematização dos argumentos direcionados para responder à questão O que é Educação. Nosso propósito foi demonstrar que costumeiramente banalizamos ou simplifi camos nossa explicação pela atividade ingênua do senso comum e, por isso, corremos o risco de não percebermos a beleza e a profundidade da questão, que está além dos argumentos que fundamentam e justifi cam um processo de formação e evolução civilizatória, como é o caso específi co da educação. Durante o vôo, demonstramos a importância de buscarmos os fundamentos históricos, políticos e culturais para os desdobramentos do ato de educar, a serviço da boa formação do indivíduo para o pleno exercício de sua cidadania. Ultrapassamos opiniões do senso comum com as teorias oferecidas por Libâneo, como referência para chegarmos a uma resposta à questão inicial. Entre os vários conceitos e defi nições para a educação, a identifi camos como constante reconstrução ou reorganização da nossa experiência, visando a uma transformação direta da qualidade da nossa experiência. É uma atividade cultural dirigida à formação dos indivíduos, mediante a transmissão de bens culturais que se transformam em forças internas no educando. Por fi m, admitimos que o universo conceitual do termo educação varia conforme o entendimento e a experiência em torno dos processos de formação e desenvolvimento humano. Desse modo, concluímos que uma resposta apressada oferecida pelo senso comum, na qual admitimos saber o que é a educação, poderá constituir-se apenas como uma ousadia imprecisa da nossa vã sabedoria. Aula 1 Fundamentos da Educação 21 Referências ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de fi losofi a. São Paulo: Mestre Jou, 1982. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1991. GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. História da educação. São Paulo: Cortez, 2001. JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1986. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos para quê? São Paulo: Cortez, 2004. A partir da leitura e refl exão do texto que segue, retome sua defi nição de educação (elaborada na primeira atividade) e veja o que você mudaria nela. [...] a educação não é uma propriedade individual, mas pertence por essência a comunidade. [...] a educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valores que regem a vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valores válidos para cada sociedade. (JAEGER, 1986, p.40). Autoavaliação Anotações Aula 1 Fundamentos da Educação22 Missão e compromissos da Educação 2 Aula 1 2 3 Aula 2 Fundamentos da Educação 25 Na aula anterior, tratamos de alguns aspectos introdutórios da disciplina Fundamentos da Educação e, ao fi nal de sua apresentação, dissemos que a formação docente se completa quando o formando compreende o sistema no qual está inserido. Isso justifi ca-se pela necessidade que tem qualquer profi ssional de conciliar teoria e prática ao ingressar no universo de trabalho. Pois bem, nesta aula, tentaremos aprofundar as defi nições e terminologias já apresentadas na aula anterior. Sendo assim, nos reportaremos à dinâmica de organização e composição conceitual, em conformidade com os aspectos históricos, políticos, econômicos, sociais e culturais que envolvem o processo educativo. Certamente, não trataremos das bases conceituais com a profundidade que merecem, visto que nossa disciplina, por ser apenas de caráter introdutório, não dispõe do espaço necessário e sufi ciente para tal abordagem, a qual fi ca a cargo de disciplinas específi cas. No entanto, mesmo abordando apenas o necessário para entender a dinâmica do processo educativo, focalizaremos aspectos interessantes e instigantes que perpassam todo o conteúdo que envolve a base conceitual da Educação. No âmbito da educação nacional, por exemplo, trataremos das questões teórico- metodológicas, mas também das práticas ideológicas que acompanham suas aplicações pautadas na idéia de universalização da educação e do ensino. Assim, conheceremos aspectos relevantes das questões conceituais que fundamentam a educação, a partir de conceitos básicos como o de promoção do homem, tratado na aula anterior. Apresentação Proporcionar o entendimento teórico da Educação constituída em alicerces conceituais. Compreender que a educação, enquanto processo e produto, está além da simples visão mecânica do aprendizado pautado apenas em métodos e técnicas. Identifi car a base conceitual da Educação, a partir dos conteúdos gerados e organizados no processo civilizatório, estruturado em torno da formação de hábitos, atitudes e regras de boa convivência. Objetivos Aula 2 Fundamentos da Educação26 Organizando e discutindo a base teórico-conceitual da Educação Educar é mesmo promover o homem? A educação abrange os processos educativos que se desenvolvem na convivência humana, na vida familiar, no trabalho, nas instituições de ensino, de educação infantil, de formação profi ssional, de pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, no esporte, no lazer, nas manifestações culturais e no contato com os meios de comunicação social. (BRASIL,1990, p.11). A questão da promoção do homem é recorrente pelo fato da noção de elevação humana impulsionar a organização e o desenvolvimento da Educação em todo o mundo. A Legislação Educacional Brasileira é clara quando defi ne e expressa os fi ns da educação. Ela é apresentada como “[...] instrumento da sociedade, para a promoção do exercício da cidadania, fundamentada nos ideais de igualdade, liberdade, solidariedade, democracia, justiça social e felicidade humana, no trabalho como fonte de riqueza, dignidade e bem-estar universais.” Os fi ns reservados à educação brasileira são os seguintes: Aula 2 Fundamentos da Educação 27 I – O pleno desenvolvimento do ser humano e seu aperfeiçoamento; II – a formação de cidadãos capazes de compreender criticamente a realidade social e a consciência dos seus direitos e responsabilidades, desenvolvendo-lhes os valores éticos e o aprendizado da participação; III – o preparo do cidadão para a compreensãoe o exercício do trabalho, mediante acesso à cultura, ao conhecimento científi co, tecnológico e artístico, e ao desporto; IV – a produção e a difusão do saber e do conhecimento; V – a valorização e a promoção da vida; VI – a preparação do cidadão para a efetiva participação política; VII – o fortalecimento da soberania do país, da unidade e soberania nacional e da solidariedade internacional, pela construção de uma cidadania contrária à exploração, opressão ou desrespeito ao homem, à natureza e ao patrimônio cultural da humanidade. (BRASIL, 1990, p. 11). Vemos, pois, que a Legislação Educacional Brasileira expressa um entendimento que não é apenas nosso, mas, universal. Ela expressa o sentimento universal de valorização da vida e da promoção humana. Essa perspectiva indica que nossa educação é melhor do que as outras? A nossa Legislação Educacional refl ete de fato os anseios do nosso povo? Calma! Calma! No momento, só estamos demonstrando que a lei que rege nossa educação amplia os limites e perspectivas de formação local e nacional para uma dimensão universal. Ou seja, estamos lhe mostrando que a educação brasileira encontra-se pautada ou fundamentada numa visão universal de homem, o que oferece uma perspectiva além da sua condição de indivíduo e cidadão. Desse modo, as diretrizes que regem a educação brasileira incorporam uma perspectiva ampliada de formação social e cultural, ao preocupar-se com o desenvolvimento das capacidades físicas, mentais, intelectuais, morais, éticas e estéticas dos seres humanos, de modo a lhes permitir viver dignamente, em todos os sentidos, sua existência. De outro modo, a legislação brasileira de educação também defi ne as perspectivas locais e institucionais ao afi rmar que “[...] a educação, direito fundamental dos cidadãos, é dever do estado e da família, com a colaboração da sociedade” (BRASIL, 1990, p.12.). No que diz respeito ao poder público, caberá: I – assegurar a todos o direito à educação escolar, em igualdade de condições de acesso e permanência pela oferta de ensino público e gratuito em todos os níveis, além de outras prestações suplementares, quando e onde necessário. (BRASIL, 1990, p.12.) Os princípios educativos, postos na legislação brasileira, reforçam o modelo e o caráter da formação ao proporcionar uma cultura de padrões universais, para a qual devem ser observados, independentemente de raça, cor, sexo, religião ou condição econômica e social, como prevê a Constituição do Brasil. Nesse ponto, podemos nos interrogar como anda a educação nacional e como esses princípios são postos em prática. O que é dito na legislação refl ete o que de fato é feito com a nossa educação? É possível e viável aplicar os fundamentos da educação que estão na legislação? O que não dá certo na aplicação da legislação? Atividade 1 1 2 Aula 2 Fundamentos da Educação28 Antes de passar adiante, que tal testar seus conhecimentos em relação ao entendimento de direitos e deveres constitucionais que fundamentam a educação nacional? Para tanto, responda às questões seguintes. Pesquise e liste documentos sobre a Legislação Educacional Brasileira. Teça comentários sobre a visão de educação contida nos documentos pesquisados e listados, por você, no item anterior. Aula 2 Fundamentos da Educação 29 Você deve ter percebido, pela leitura dos documentos sobre a nossa legislação e outras leituras realizadas sobre a história da nossa educação, que não se consegue pôr em prática as intenções expressas na legislação. Essa história revela que, até o momento, as decisões envolvendo os princípios educacionais e suas respectivas aplicações estiveram concentradas nos confl itos ideológicos, no jogo de interesses políticos, econômicos e fi nanceiros, e deixaram de lado, na maioria das vezes, as exigências e necessidades sociais e culturais, historicamente constituídas, como parte do próprio processo civilizatório. Surge, então, para todos nós a pergunta: o que podemos observar como direcionamento futuro para a nossa prática educativa e de ensino, além do que a história nos oferece como refl exão? Ao que nos parece, é visível a distância entre o que legislamos como compreensão, explicação e justifi cativa e a realidade traduzida pelo confl ito das relações e interesses, na qual desejamos interferir. Por outro lado, essa difi culdade não é identifi cada apenas na Educação, mas, é possível encontrar indicadores de tal distanciamento em todas as áreas de conhecimento. A própria história do conhecimento revela-nos facetas das difíceis relações envolvendo o binômio conhecimento e poder, o qual atrai interesses para a não aplicação do modo mais correto e justo do conteúdo das legislações. Na educação, especifi camente a brasileira, parece que a questão envolvendo saber e poder fi ca mais evidente. Talvez pelos elementos ideológicos implícitos no processo educativo, os quais de uma forma ou outra infl uenciam os instrumentos formadores de opinião. Por outro lado, a questão da educação não concentra sua força apenas em um dos pólos, o do conhecimento ou o do poder, mas, na própria relação entre os dois pólos, identifi cada nos processos de aprendizagem. Aparentemente, os processos educativos destacam-se como um lócus (local) fértil e viável para inseminação e germinação, tanto de células de boa formação quanto de células de má formação. No caso, a questão saber e poder, na educação, em que essa relação demonstre o predomínio do poder frente ao saber, o resultado poderá ser a origem de um vírus ideologicamente forte e de caráter quase indestrutível, diluído por todo o corpo administrativo e executivo, infectando todos os processos educativos por onde passa, a partir do acesso aos pacotes e práticas educativas impostas como políticas e ações dirigidas à educação. Parte dos resultados dessa infecção virulenta poderá ser vista em estudos e pesquisas que identifi cam e ressaltam o quanto a elite nacional tem difi culdades em compreender o acesso à educação como um direito de todos. Encontramos indicações de que no passado e ainda hoje a educação é praticada sob inspiração e direção dos interesses estabelecidos pelas elites social e econômica. Nesse sentido, é possível que o fato anteriormente citado, como resultado da relação saber e poder, seja sistematicamente evidenciado nas práticas educativas do ensino no país. A exemplo disso, é perceptível o direcionamento das políticas de ações e práticas educativas para a formação de um movimento em torno do Ensino Fundamental. Tais políticas e iniciativas em prol do nível básico de ensino poderão oferecer um entendimento do grau de ingerência do poder no conhecimento a partir de uma leitura das entrelinhas do conteúdo ideológico implícito nas políticas e ações dirigidas à educação. Aula 2 Fundamentos da Educação30 O resultado deverá nos oferecer uma dimensão interpretativa que vai além do espírito solidário e do compromisso social com a boa formação do povo brasileiro para exercer o pleno exercício da cidadania. A compreensão política e pedagógica deverá ir além de medidas simples para forjar arranjos globais como alternativa e suporte para o segmento marginalizado da sociedade que se concentra nos mais pobres da população. A perspectiva que se forma em prol do Ensino Básico não é nova, remonta ao século XIX. De lá para cá, foram criados e desenvolvidos muitos projetos e programas de suplência educacional. Observamos que a partir dos anos trinta, a discussão sobre o acesso ao sistema de ensino ganhou muito espaço entre os técnicos, que passaram a traduzir suas preocupações em ações teóricas e práticas. Nos anos cinqüenta, foi implementada uma série de campanhas de alfabetização, destinadas aos marginalizados do campo e das cidades. Para alguns estudiosos, essa tendência à elitização do ensino decorre das nossas raízes, ou melhor, da herança recebida dos colonizadores, mais especifi camente, da infl uência das idéias de Educação elaboradas pelos portuguesesem sintonia com os ideais cristãos da Companhia de Jesus. Vemos, pois, ao longo do processo de institucionalização, as infl uências teóricas, metodológicas e ideológicas de diversas ordens, assim como pressões políticas nacionais e internacionais no embate travado entre os defensores da universalização do ensino e os da educação de classe. Essa discussão ainda se encontra presente na história recente do país. Se ampliarmos o leque de infl uências teórico-metodológicas, identifi caremos concepções de educação orientadas por idéias de instrumentalização e de tecnização. As descobertas técnicas e científi cas são incorporadas aos processos produtivos a partir das exigências políticas, fi nanceiras e econômicas da sociedade. Depois, como conseqüência da lógica do desenvolvimento, são postas como necessidades para a educação, no sentido de acompanhar as mudanças e os rumos propostos para a sociedade contemporânea. Nesse sentido, podemos dizer que a educação brasileira se organiza, em termos conceituais, em duas frentes de apoio: a primeira privilegia uma formação moral, com fundamentos de ética e estética, ainda que sob a inspiração de princípios religiosos; a segunda privilegia aspectos técnicos e instrumentais, por infl uência recebida do movimento do laissez-faire, signifi cando o saber fazer, o realizar tarefas, em função das novas organizações de redes e sistemas operacionais que se interligam aos vários processos do trabalho na atualidade. Em função das duas frentes de apoio apontadas, as mudanças na educação, no que diz respeito à fundamentação, à conceituação e às novas defi nições sugeridas pela política brasileira, são mais visíveis a partir da segunda metade do século XX. Tais mudanças são decorrentes do contexto das transformações que ocorrem em todos os níveis de conhecimento e desenvolvimento desse processo civilizatório, e que são implementadas principalmente pela ciência e pela tecnologia, notadamente nas áreas da comunicação, da organização do trabalho e da economia, com o nome de globalização. Você deve lembrar que, na aula anterior, nós apresentamos e discutimos o movimento das transformações políticas e econômicas, e suas várias tentativas de adequação às Companhia de Jesus Congregação jesuítica que chegou ao Brasil do período Colonial com a fi nalidade de catequizar os índios e organizar os processos de ensino- aprendizagem. O plano de estudos foi denominado de Ratio Studiorum e publicado em 1599, com a fi nalidade de unifi car os métodos e as atividades desenvolvidas na educação formal. Aula 2 Fundamentos da Educação 31 dimensões sociais e culturais através da educação. Agora, queremos chamar sua atenção para o fato da concepção de promoção humana, incorporada à educação brasileira, ter sido projetada em função das mudanças, internas e externas, que infl uenciaram os processos históricos de organização dos indivíduos, no mundo moderno. Neste momento, cabem algumas refl exões... O que o contexto das transformações no chamado mundo moderno trouxe de mudanças para a educação brasileira? Que tipo de promoção humana desenvolveu-se na educação brasileira, a partir das transformações impulsionadas pela ciência e tecnologia? Quais são, de fato, as principais bases conceituais que apóiam o desenvolvimento humano, implementadas pela educação brasileira nas confi gurações exigidas pelo mundo moderno? Essas questões deverão servir como momento refl exivo, de modo a facilitar a ligação entre os pontos principais do que até agora você leu e do que ainda vai ter. Portanto, fi que ligado e atento aos elementos importantes no movimento das transformações políticas e econômicas que de alguma forma passam a infl uenciar mudanças nos processos educativos. Ora, se de fato o foco principal da educação é com a promoção do homem, então, deveremos, antes de tudo, identifi cá-lo e compreendê-lo como indivíduo pertencente a um grupo social. Por outro lado, se queremos aprofundar os fundamentos da educação, uma outra questão se põe: a do próprio sentido da expressão educar. Isso porque será a partir das evidências que se mostrarem nas implicações do ato de educar que poderemos identifi car, ou não, os princípios que estimulam a promoção humana. Sendo assim, vemos como necessário adentrar na complexidade das relações que os humanos estabelecem com o meio físico, social e cultural, em tempo determinado. Entendemos que ao aprofundar o ato de educar, na perspectiva das relações humanas, estaremos identifi cando elementos que estão além de uma visão mecanicista, mercantilista e utilitária que se pensa para a educação. Na realidade, aprofundar-se no desenvolvimento humano na perspectiva que pretendemos, é caminhar para compreender uma questão pouco conhecida e discutida por nós: a da herança recebida não só genética, mas também físico- ambiental, simbólico-cultural, resultado de uma longa construção social. Percebemos, pois, que em ducação as questões conceituais, aparentemente simples, não estão “soltas”, isoladas de um contexto e de um conjunto maior de relações e implicações políticas, econômicas, culturais e sociais. Assim, talvez não seja difícil perceber por que nossa busca por identifi cação das bases conceituais que apóiam a concepção de promoção humana, na educação, poderá se aproximar de uma investigação sobre o processo identitário dos povos e nações. Atividade 2 1 2 Aula 2 Fundamentos da Educação32 Faremos agora uma breve parada para você exercitar seu potencial refl exivo e investigativo, respondendo às questões a seguir. O que você pensa sobre a perspectiva atual de promoção humana, assumida pela Educação contemporânea? Questione outras pessoas (família, amigos, professores) sobre a questão anterior e teça comentários sobre as respostas obtidas. Encontramos em Saviani (1989) argumentos que reforçam o nosso ponto de vista, anteriormente apresentado. Assim como nós, Saviani entende que a educação ganha força e signifi cado especial, ao “tornar o homem cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela transformando-a no sentido de uma ampliação da liberdade, da comunicação e colaboração entre os homens” (SAVIANI, 1989, p.41). Desse modo, como conclusão parcial, deveremos fi car com a idéia de que a educação brasileira, ao longo dos processos de organização, formação e consolidação, passou por mudanças metodológicas e de operacionalização, mas conservou, ao nível do discurso, a defi nição de bem público universal e de promoção do homem. É, exatamente, nesse nível que reside o fundamento mais importante do processo educativo. Aula 2 Fundamentos da Educação 33 Avançando um pouco mais nas nossas discussões, podemos dizer que cada sociedade credita à educação valores e crenças advindos das concepções religiosas, dos padrões culturais, das concepções de mundo e das motivações políticas e econômicas. Desse modo, em qualquer um desses casos, pelo menos no discurso de humanização e civilidade que a sociedade percorre, as políticas públicas, embora refl itam tendências universais ou globalizantes, são alicerçadas nos padrões sociais e, a partir deles, passam a refl etir os estágios de desenvolvimento da nação. Ora, se tomarmos por pressupostos da fundamentação teórica e prática as informações anteriores, então, deveremos perceber que nesse contexto cabe outro fator na composição conceitual de educação: o grau de organização do povo para se adequar ao conjunto das transformações que ocorrem no desenvolvimento das sociedades. Nesse caso, admitimos que a formação dos indivíduos decorre tanto das suar histórias particulares, quanto do conjunto social nos quais se organizam e se desenvolvem para construir e desconstruir suas interpretações nos vários níveis das relações estabelecidas. Tomaremos, pois, os pressupostos sugeridos como parâmetros em nossas investigações. Por sua vez, é importante que fi que claro que não podemos defi nir educação partindo de relativismos.Assumiremos, portanto, que a organização dessa base conceitual é concebida a partir de um conjunto de relações e implicações em que os fatores políticos, econômicos, sociais e culturais cumprem importante papel. Outrossim, no contexto de realização da organização da base conceitual torna-se importante ter a clareza de que o ato de educar é patrimônio de cada povo e que cada um torna possível a promoção humana ao seu modo, em conformidade com suas necessidades, mesmo que o país esteja submetido a algum tratado, direcionamento ou intervenção internacional. Dessa forma, transcorrida a fase investigativa sobre os fundamentos conceituais da educação, especifi camente a brasileira, focalizaremos nossa abordagem, desse momento em diante, em torno de algumas implicações que ecoam com a tentativa de consolidar o estilo elitista e classista, que atravessa a história da educação brasileira desde o tempo da colônia até os dias atuais. Como evidência mais atual desse fato, destacaremos a discussão sobre a inserção das chamadas minorias, ou marginalizados, do contexto da educação. Na busca da compreensão acerca da visão elitista que se difundiu na educação brasileira, veremos que, de modo geral, ela encontra-se impregnada nas políticas públicas de educação como tendência colonizadora adotada pelos países desenvolvidos em relação aos países periféricos, no sentido de orientá-los e, em alguns casos, guiá-los nas ações educacionais. Esse fato nos remete a uma viagem de volta ao nosso passado colonial, no qual é possível identifi car origens dessa visão, no comportamento predominante das classes sociais que decidiam os rumos do país. No contexto do Brasil colonial, a classe dominante entendia a educação como uma forma de concentração de poder – idéia que não é de todo equivocada – e que, por isso mesmo, fez com que a educação brasileira fosse, durante muito tempo, prioridade exclusiva dos que detinham o poder. Nesse sentido, Romanelli chama nossa atenção para o fato de que Aula 2 Fundamentos da Educação34 [...] não é pois de se estranhar que na Colônia tenham vingado hábitos aristocráticos de vida. No propósito de imitar o estilo da Metrópole, era natural que a camada dominante procurasse copiar os hábitos da camada nobre portuguesa. E, assim, a sociedade latifundiária e escravocrata acabou por ser também uma sociedade aristocrática. E para isso contribuiu signifi cativamente a obra educativa da Companhia de Jesus. (ROMANELLI, 1998, p. 33). Vemos, pois, a partir do que nos diz a autora, que do período da colonização aos nossos dias, o processo educacional brasileiro sofreu infl uências de diferentes ordens e segmentos classistas, internos e externos. Entretanto, é possível perceber também que, concretamente, em seu movimento evolutivo, a educação brasileira continuou sendo permeada pela luta que separava as classes sociais, fi cando assegurado às elites econômicas um ensino, se não de qualidade, pelo menos coerente e efi ciente com esse segmento. De outro modo, para aprofundar ainda mais nossa abordagem, destacamos o movimento que se projetou como caminho de combate a essa tendência elitista. Tal movimento surgiu a partir de 1930, ressaltando a importância de discutir o tema da universalização do ensino. Ora, por essa via discursiva, o interesse maior manifestado era o de evidenciar a contradição que se apresentava entre os encaminhamentos locais e a tendência mundial de democratização do ensino, sobretudo, aquelas inspiradas na reforma francesa, que se encontravam alicerçadas na igualdade dos direitos. Dessa maneira, ao identifi carmos as bases conceituais da educação a encontramos também ancorada em pilares construídos sobre as bases da política e da economia que a tornam a cada dia um bem especial, embora continue sendo oferecida de maneira privilegiada à classe social economicamente bem sucedida. Por isso, ela ainda hoje é valorizada como instrumento elitista de formação cultural. Tal fato, que em parte traduz a linha e o perfi l do desenvolvimento da educação brasileira, carrega em si conseqüências imprevisíveis em função do que é negado a outra classe social, pois se trata de um processo histórico de exclusão da maioria da população. Para compreender melhor a complexidade da defi nição de educação enraizada na formação social e cultural brasileira, reportamo-nos novamente a Otaíza Romanelli, quando diz que: [...] A instrução em si não representava grande coisa na construção da sociedade nascente. As atividades de produção não exigiam preparo, quer do ponto de vista de sua administração, quer do ponto de vista da mão-de-obra. O ensino, assim, foi conservado à margem, sem utilidade prática visível para uma economia fundada na agricultura rudimentar e no trabalho escravo. Podia, portanto, servir tão-somente à ilustração de alguns espíritos ociosos que, sem serem diretamente destinados à administração da unidade produtiva, embora sustentados por ela, podiam dar-se ao luxo de se cultivarem. Evidentemente, a esse tipo de desocupados sociais, cujo destino não estava associado a uma atividade manual - então reservada aos cativos e, portanto, estigmatizada – ou mesmo profi ssional defi nida, só podia interessar uma educação cujo objetivo precípuo fosse cultivar “as coisas do espírito”, isto é, uma educação literária, humanista, capaz de dar brilho à inteligência. Esse tipo de indivíduo convinha bem à educação jesuítica, “porque não perturbava a estrutura vigente, subordinava-se aos imperativos do meio social, marchava paralelamente a ele. Sua marginalidade era a essência de que vivia e se alimentava” (ROMANELLI, 1998, p. 34). Aula 2 Fundamentos da Educação 35 Neste momento de nosso estudo, queremos chamar sua atenção para o fato de que logo depois da expulsão dos jesuítas, a educação brasileira foi consolidada e difundida como formação de classe, e como meio pelo qual as elites conseguiam distinção. Foi assim na Colônia, no Império, e na República. Mas, recentemente, algumas teses a colocam como meio de reprodução de classes. Destacamos entre essas teses, o estudo sobre a reprodução de Bourdieu e Jean Claude Passeron. Da sua origem, dos valores impressos pela cultura jesuíta, a educação brasileira conservou a herança de uma formação confessional, que até hoje é praticada no país por ordens religiosas. De outra forma, identifi camos as bases conceituais da formação laica, desenvolvida em escolas públicas sob a responsabilidade do poder público. Nesse sentido, é importante destacar que a luta pela hegemonia e pelo direcionamento da política educacional deu-se até meados dos anos oitenta, como combate teórico-metodológico entre os defensores da educação confessional e laica. A primeira, praticada em estabelecimentos privados, voltada para atender os interesses e necessidades das famílias mais abastadas da estrutura social. A segunda, mais praticada pelos estabelecimentos públicos, gratuitos, destinados às camadas menos favorecidas, social e economicamente. Daí, Otaíza Romanelli, dizer que [...] A constituição de 1891, que instituiu o sistema federativo de governo, consagrou também a descentralização do ensino, ou melhor, a dualidade de sistemas, já que, pelo seu artigo 35, item 3ª e 4ª, ela reservou à União, o direito de “criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados “e “prover a instrução secundária no Distrito Federal”, o que, conseqüentemente, delegava aos Estados competência para prover e legislar sobre educação primária. (ROMANELLI, 1998, p. 41). Como vemos, das origens até os dias atuais, a questão do acesso ao sistema de educação e ensino formal no Brasil é emblemática. Por volta dos anos noventa, essa questão foi superfi cialmente resolvida com a privatização do ensino em todos os níveis. Veja que essa perspectiva da privatização nos conduz à questão proposta no início desta aula, lembra? Foi a discussão que articulamos sobre a questão da promoção humana. Pois bem, recolocada essa questão, nosperguntamos: como fi ca então a promoção social dos indivíduos que, ao nascer do lado dos menos favorecidos economicamente, foram, e continuam a ser, impedidos de terem acesso à escola? O refl exo da questão anterior aparece na atualidade entrelaçada a, pelo menos, dois fatores. Um deles decorre do fato de o sistema público de ensino, hoje, receber um número maior de pessoas em relação ao sistema privado de ensino, mas, continuar precário em suas estruturas físicas e humanas. O outro pode ser identifi cado no fato de o ensino privado ter sua maior clientela oriunda da classe média da sociedade. Essas duas vias de formação indicam que o acesso à educação continua, ainda hoje, condicionado às condições fi nanceiras da população. Portanto, à luz dos acontecimentos históricos, políticos e socioculturais, veremos que a partir dos anos vinte, mais precisamente em 1932, ocorreu o primeiro grande Movimento dos Pioneiros Movimento constituído em sua maioria por intelectuais que, nos anos 20, propuseram várias reformas educacionais e, em 1932, publicaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, apontando novas bases de reformulações para as políticas educacionais. Aula 2 Fundamentos da Educação36 movimento em defesa da reconstrução da educação pública no Brasil. Esse movimento embrionariamente permitiu mais tarde a discussão da educação popular no Brasil. Estamos falando do chamado Movimento dos Pioneiros, liderado pelo educador mineiro Fernando de Azevedo, o qual formalizou um documento assinado por 26 educadores de diferentes regiões do país. O teor do documento indicava o surgimento de uma nova postura frente à educação nacional, qual seja: a educação é um bem público e, sendo assim, constitui direito de todos. Nessa perspectiva, Janiel Cury afi rma em texto escrito para a abertura da II Conferência Brasileira de Educação, realizada em Minas Gerais, em junho de 1982, evento comemorativo dos cinqüenta anos do Manifesto dos Pioneiros: [...] Creio não podermos rememorar 1930, 1931, 1932 [...] cabe-nos rememorar uma postura que 26 corajosos educadores assumiram de se expor e dizer às claras que, no fi nal de contas, bem ou mal, a coisa pública, enquanto escola pública, era uma tarefa político-pedagógica que, sem práxis, não seria construída. (CURY, 1988, p. 6). Queremos destacar neste momento, que fi cam evidenciadas as bases conceituais na confi guração das concepções de educação como bem público e como promoção humana. A essas duas concepções são incorporadas as responsabilidades do Estado, evidenciando a perspectiva de promoção humana, sobretudo, no que diz respeito ao acesso da população que não tem como prover o seu ingresso ao sistema formal de ensino e educação. Ao referir-se à práxis educativa, Cury (1988) destacou a responsabilidade dos professores para alterar os padrões de ensino, principalmente, no que diz respeito à autonomia e à tomada de decisão para mudar os rumos nacionais. Seguindo essa mesma orientação, destacamos também o papel da sociedade civil, tomando para si a tarefa de pressionar o poder público no cumprimento das responsabilidades de prover o ensino nacional. Com isso, reforçamos a compreensão de educação como um ato político, em que instituições, governos e população devem trabalhar em conjunto, em prol da causa maior: o bem comum. Nesse sentido, lembramos que nos profícuos anos 30 surgiu no Brasil um sentimento de que algo deveria ser feito em prol da educação nacional, notadamente em relação à alfabetização de adultos. Tal sentimento revela a face da população que historicamente fi cou fora do sistema formal de ensino, entregue a sua própria sorte numa época em que a educação era meio de ascensão social e a escola cumpria esse papel. Todo esse contexto foi o ambiente favorável para o desencadeamento da reviravolta econômica e política que ocorreu nos anos trinta e quarenta. Destacamos como forças políticas atuantes nesse período a mobilização das ligas camponesas e o avanço do projeto de industrialização nos anos cinqüenta. Esses dois fatores foram importantes para fazer avançar as discussões em torno da elitização (privatização) do ensino e o seu oposto, a democratização. Educação popular Denominação utilizada para caracterizar os processos educativos que se preocupavam mais enfaticamente, em termos de métodos e conteúdos, com a classe trabalhadora e os menos favorecidos. Aula 2 Fundamentos da Educação 37 As discussões se estenderam por todo o resto do século XX com as propostas de reformas educacionais e a própria morosidade do Estado em operacionalizá-las. As discussões visavam sobremaneira reforçar uma concepção que permitisse os segmentos sociais marginalizados ingressarem no sistema formal de ensino. Assim, a sociedade civil organizada assumiu as bandeiras de luta dos trabalhadores no campo e dos operários na cidade em prol de uma educação, não só gratuita, mas também de qualidade. Surgiu, com isso, um novo conceito de educação – a educação popular. Antes de passarmos a discutir essa nova dimensão educativa, deveremos compreender o que se entende por “popular” no Brasil. Do ponto de vista erudito, esse termo é utilizado quando se faz referência ao povo, quando se quer designar uma ação ou um movimento realizado pela massa. Portanto, não existe consenso para essa terminologia. Entre as muitas defi nições, reportamo-nos ao conceito estudado por Brandão (1994) em seu livro Lutar com a palavra, no qual ele analisa as questões da educação popular no Brasil. Vejamos o que diz o autor sobre a concepção de educação popular: [...] o povo são os povos: índios, negros, caipiras. Não são nomes próprios, a não ser por acidente. A não ser quando um ou outro faz alguma coisa notável contra o senhor branco [...] Mas a cultura dos livros é a do povo. Nominada, quando consegue ser a de um aleijadinho (em geral os pobres têm apelidos) ou anônima, quando é a dos mulatos que fi zeram o que existe por debaixo da música erudita do Barroco Mineiro. Ela é principalmente a “cultura brasileira” dos “tipos” de gentes que a cultura livresca tipifi cou: bahiana, jangadeiros, cantadores de cordel, gaúchos, caipiras e tantos outros. Uma vaga cultura de “tipos” que são geralmente folclorizados (gaúchos, bahiana) ou gentes raciais (o branco, o negro o índio). Raros são povos (grupos tribais, nominados através de suas tribos e nações com a indicação das diferenças culturais) e, menos ainda, classes populares. (BRANDÃO, 1994, p. 68). Como se pode ver, o conceito de educação popular absorveu a condição excludente imposta pelas elites e sua posição de população marginalizada socialmente. A conseqüência mais grave foi o não reconhecimento ofi cial até o fi nal do século passado. À margem do Estado e do formalismo que tomou conta do ensino elitista, praticado até então, essa dimensão educativa popular já nasceu com o estigma de segunda categoria, em função da classe a que se destinava. A partir da segunda metade dos anos cinqüenta, a questão tomou fôlego e alguns programas de educação popular foram desenvolvidos. Alguns deles se impuseram como alternativa de ensino para os marginalizados do sistema. Esses programas serviram também para provocar o debate sobre a estrutura formal no seio da estrutura social. Por fi m, queremos destacar que esses movimentos acabaram vinculando a Educação à ótica do movimento político nacional – desenvolvimentista, sem perder, contudo, o vínculo com o ideário religioso dos movimentos de base, desenvolvidos sob a responsabilidade da Igreja Católica. Resumo Aula 2 Fundamentos da Educação38 SAVIANI, Dermeval. Do senso comum à consciência fi losófi ca. São Paulo: Cortez, 1989. Nesta obra, o autor reúne uma série de textos que mostram os fundamentos da Educação, seguindo orientações que visam aprofundar questões inerentes à prática educativa na perspectiva de sair do senso comum, para uma concepção fi losófi ca. CURY, Jamil. Ideologia e educaçãobrasileira: católicos e liberais. São Paulo: Cortez, 1988. O autor discute de modo simples e bem fundamentado confl itos ideológicos na cultura brasileira que confi guraram a emergência da sociedade urbano-industrial. Leituras Complementares A concepção de promoção do homem, na Educação, é recorrente da noção de elevação humana. Na história da educação brasileira, encontramos indicadores de uma prática educativa desenvolvida sob a inspiração e direção dos interesses estabelecidos pelas elites social e econômica. Na investigação que fi zemos acerca das bases conceituais da educação brasileira, fi cou clara a infl uência que recebemos dos colonizadores, em específi co dos valores portugueses incorporados aos ideais cristãos difundidos pelos Jesuítas. Nesse contexto, destacamos o embate entre os defensores da universalização do ensino e os da educação de classe. A partir de 1932, ocorreu o primeiro grande movimento em defesa da reconstrução da educação pública no Brasil. Aula 2 Fundamentos da Educação 39 Referências BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Lutar com a palavra. São Paulo: Brasiliense, 1994. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de diretrizes e bases da educação. Brasília: MEC, 1990. CURY, Jamil. Ideologia e educação brasileira: católicos e liberais. São Paulo: Cortez, 1988. ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. SAVIANI, Dermeval. Do senso comum à consciência fi losófi ca. São Paulo: Cortez, 1989. Autoavaliação Agora que você conhece os fundamentos da Educação e, em específi co, a educação popular, sugerimos que faça uma refl exão sobre a presença (formas de manifestação artísticas, culturais, educativas etc.) da educação popular em sua cidade e região, e faça um breve comentário descrevendo o que mais lhe chama a atenção nesse modelo de formação. Anotações Aula 2 Fundamentos da Educação40 Modelos teóricos e metodológicos para a Educação 3 Aula 2 1 Aula 3 Fundamentos da Educação 43 Nesta aula, veremos como o desenvolvimento do país e as transformações pelas quais passaram a política e a economia a partir dos anos cinqüenta provocaram modifi cações na concepção e nos objetivos da Educação, que durante quatro séculos permaneceu praticamente sem mudanças estruturais. Somente na segunda metade do século XX, observou- se o aparecimento de movimentos políticos organizados em defesa da crescente demanda por acesso ao ensino gratuito e de qualidade. Movimentos legítimos em razão dos níveis de crescimento do país e as mudanças na base produtiva, notadamente a transformação da produção agrícola, predominante até os anos sessenta, em produção industrial, a qual se consolida como força produtiva a partir dos anos setenta no Brasil. Apresentação Objetivos Compreender as políticas de desenvolvimento que influenciaram e ainda hoje influenciam a educação nacional, quebrando resistências e conservadorismo em nome do progresso econômico e social. Identificar as metas e as ações implícitas nas transformações políticas e econômicas que interferiram nos processos educativos, apontando alternativas e caminhos pelos quais deve passar a educação para responder às demandas sociais. Aula 3 Fundamentos da Educação44 Pressupostos teóricos e práticos para as ações educativas Caro aluno, assim como muitos acreditam no poder das preces para vencer ou encontrar clareza no que dizer ou fazer para alcançar determinado objetivo, nós acreditamos que a indagação, quando bem articulada, pode ser um caminho viável para projetar não apenas nossas dúvidas, mas, fundamentalmente, para criar um vínculo investigativo entre o que acreditamos saber e o que de fato desejamos conhecer. Sendo guiado por essa perspectiva, queremos lhe estimular a fazer uma ou várias ações refl exivas sobre os saberes já organizados até o momento, a fi m de encontrar, ou não, uma relação entre o que se entende por educação e política. Nesse sentido, iniciaremos nossas discussões com uma pequena atividade refl exiva. Atividade 1 Movimento dos Pioneiros Movimento constituído em sua maioria por intelectuais que, nos anos 20, propuseram várias reformas educacionais e, em 1932, publicaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, apontando novas bases de reformulações para as políticas educacionais. Aula 3 Fundamentos da Educação 45 Veremos, nesta aula, que não importa a opinião que se tenha sobre a vinculação da política com a educação; as duas, enquanto instituições de instâncias deliberativas na sociedade civil, são autônomas. Mas, na dinâmica dos processos organizacionais da economia, da sociedade, da educação e até mesmo da cultura, elas se entrelaçam e, em alguns casos, são interdependentes. Como isso é possível? É o que veremos a partir de agora. Começaremos, portanto, por reforçar a tese já apresentada em aulas anteriores, nas quais defendemos que para compreender os fundamentos da Educação, especifi camente a brasileira, torna-se necessário nos debruçar sobre os acontecimentos históricos, políticos, sociais e culturais que infl uenciaram e continuam a infl uenciar direta ou indiretamente o processo educativo e de ensino. Sendo assim, confrontaremos, nesta aula, nossos julgamentos sobre a questão com a dinâmica das relações que são estabelecidas entre a educação e a política. Tomaremos como ponto de partida o contexto e o conteúdo do chamado Movimento dos Pioneiros, ocorrido em 1932, para continuar a caminhada investigativa pelas trilhas que fundamentam a educação. Lembramos também que já citamos tal movimento em aulas anteriores. Em seguida, veremos como as idéias de gratuidade e universalização do ensino Refl ita sobre os conceitos de educação e política, em seguida, escreva uma explicação clara e convincente para a possível relação existente entre esses dois conceitos. Utilize como parâmetro interpretativo a leitura desta aula. Aula 3 Fundamentos da Educação46 se ampliam e, a partir dos anos cinqüenta, tomaram corpo em ações efetivas de campanhas de alfabetização e de mobilização popular. Na contextualização dos fatores que se misturam na ampliação dos conceitos de gratuidade e universalização, ressaltamos que a educação foi inserida no pacote dos projetos de desenvolvimento como parte das discussões em torno das questões da industrialização brasileira, na segunda metade dos anos cinqüenta. Na mesma discussão, não podemos esquecer de inserir as implicações resultantes do crescente processo migratório ocorrido com o deslocamento do homem do campo para as emergentes cidades, sobretudo no centro-sul do país, e a concentração destes nos centros urbanos. Observa-se que no âmbito da política, no campo ou na cidade, há um crescente movimento em defesa da reconstrução nacional. Contexto no qual ressurgirá a discussão em torno da educação, sobretudo nas regiões mais pobres do país. A discussão sobre os novos rumos para a educação é explicada pela maioria dos historiadores como sendo resultado da evolução econômica na perspectiva da internacionalização da economia e das transformações técnicas e tecnológicas do processo produtivo. Nesse sentido, Cruz (1990), referindo-se aos anos cinqüenta, destaca a determinação do presidente Juscelino Kubistchek em tornar o Brasil uma grande nação, reconhecida internacionalmente. A autora complementa seu pensamento dizendo: [...] Acreditava o Governo que somente o desenvolvimento praticado em bases associadas ou dependentes tiraria o país da condição de subdesenvolvimento e o projetaria mundialmente como uma grande potência. É interessante chamar a atenção para o fato de que, na mesma proporção em que o governo avança na defesa desse projeto, avança também o movimento de oposição, em defesa do desenvolvimento econômico em bases nacionalistas. (CRUZ, 1990, p.16). Na discussão anterior, percebemos que a política norteia os embates políticos na década de 1960, em defesa do nacionalismo e dos valores morais, de tradição
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