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(analise) morte e vida Severina

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OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 1
Nome: _________________________________________________ N.º: ___________
Série: 3.ª Turma: _________ Turno: _________ Unidade: BJ ___________________
MORTE E VIDA SEVERINA 
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
O AUTOR
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Cabral_de_Melo_Neto>. Acesso em: 11/09/18, às 15h15min.
João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade do Recife, a 6 de janeiro de 1920, filho de Luís Antônio 
Cabral de Melo e de Carmen Carneiro Leão Cabral de Melo. Era primo, pelo lado paterno, do poeta Manuel 
Bandeira e, pelo lado materno, do sociólogo Gilberto Freyre. Parte da infância de João Cabral foi vivida em 
engenhos da família, nos municípios de São Lourenço da Mata e de Moreno, em Pernambuco. Aos dez anos, 
com a família de regresso ao Recife, Cabral ingressou no Colégio de Ponte d’Uchoa, onde permaneceu até 
concluir o curso secundário. Aficionado de futebol, foi jogador pelo time juvenil do Santa Cruz Futebol Clube, 
do Recife, conseguindo o título de campeão em 1935. Em 1938 passou a frequentar o Café Lafayette, ponto 
de encontro de intelectuais que residiam na cidade.
Dois anos mais tarde, a família se transferiu para o Rio de Janeiro. A mudança definitiva, porém, só foi 
realizada em fins de 1942, ano em que o autor publicou o seu primeiro livro de poemas, Pedra do Sono. Em 
solo carioca, conheceu Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima e outros intelectuais 
da época.
Inscreveu ‑se, em 1945, no concurso para a carreira diplomática. Daí por diante, já como funcionário 
do Itamarati, iniciou uma larga peregrinação por diversos países. A Espanha foi o primeiro deles. E também 
a primeira viagem internacional do poeta, aos 27 anos. Viveu ainda na França, em Portugal, na Suíça, 
OBRAS LITERÁRIAS
2 MORTE E VIDA SEVERINA
no Senegal e em Honduras. As viagens e as mudanças constantes eram uma obrigação profissional e o 
deixavam tenso, pois ele tinha medo de avião.
Em 1984 foi designado para o posto de cônsul ‑geral na cidade do Porto (Portugal) e em 1987 voltou 
a residir no Rio de Janeiro, com a família. Foi aposentado da carreira diplomática em 1990 e logo depois 
começou a sofrer de uma cegueira que o teria levado à depressão. Faleceu de um ataque cardíaco, em 
outubro de 1999, aos 79 anos.
A atividade literária foi uma presença viva durante todos os anos no exterior e no Brasil, o que lhe rendeu 
numerosos prêmios, entre os quais Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo 
(1954); Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1955); Prêmio de Poesia do Instituto Nacional 
do Livro; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio Bienal Nestlé, pelo conjunto da Obra e Prêmio 
da União Brasileira de Escritores, pelo livro Crime na Calle Relator (1988). Cabral foi eleito membro da 
Academia Brasileira de Letras em 15 de agosto de 1968, tomando posse em 6 de maio de 1969.
Em 1990, o poeta escreveu um importante trabalho de pesquisa histórico ‑documental, editado pelo 
Ministério das Relações Exteriores, O Brasil no arquivo das Índias de Sevilha. Com as comemorações 
programadas para o final do século XX – relacionadas aos feitos dos navegadores espanhóis e portugueses 
nos anos que antecederam ou se seguiram ao descobrimento da América, e, em particular ao do Brasil –, 
a pesquisa de João Cabral assumiu valor inestimável para os historiadores dos feitos marítimos, praticados 
naquela época.
Da obra poética de João Cabral pode ‑se mencionar os seguintes títulos: Pedra do sono, 1942; O 
engenheiro, 1945; Morte e vida severina, (1945); O cão sem plumas, 1950; O rio, 1954; Quaderna, 1960; 
Poemas escolhidos, 1963; A educação pela pedra, 1966; Morte e vida severina e outros poemas em voz alta, 
1966; Museu de tudo, 1975; A escola das facas, 1980; Agreste, 1985; Auto do frade, 1986; Crime na Calle 
Relator, 1987; Sevilla andando, 1989. A Editora Nova Aguilar publicou, em 1994, sua Obra completa.
Em prosa, além do livro de pesquisa histórica já citado, João Cabral publicou Juan Miró, 1952 e 
Considerações sobre o poeta dormindo, 1941.
 Segundo Daniele Martins, em reportagem para a Revista da Cultura – Edição 31, de fevereiro de 2010 
–, Cabral considerava o clássico Morte e vida severina, uma obra menor, que não chegava a ser poesia. Era 
“apenas” um monólogo ‑diálogo. De acordo com o escritor e crítico literário, membro da Academia Brasileira 
de Letras e quem melhor analisou a obra de João Cabral, Antonio Carlos Secchin , “ele propositalmente 
desvalorizava Morte e vida severina, talvez para chamar a atenção para outros títulos da sua obra. Um poeta 
de sua estatura não pode mesmo se ver reduzido a um só livro, ainda que seja magistral e de merecido 
sucesso, como esse título inesquecível”.
Entretanto, a despeito do que dizia Cabral, Morte e vida severina foi, sem dúvida, a obra que o consagrou. 
O poeta teve seus livros traduzidos para diversas línguas (alemão, espanhol, inglês, italiano, francês e 
holandês), sendo sua obra conhecida em diversos países. Ainda segundo Secchin, Cabral é “o último grande 
clássico da nossa poesia, na sequência de Bandeira e Drummond”.
Disponível em: <http://www.academia.org.br/academicos/joao ‑cabral ‑de ‑melo ‑neto/biografia>. 
Acesso em: 13/08/2018, às 17h53min (adaptado).
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 3
João Cabral era conhecido como “poeta engenheiro”, em razão da racionalidade e do equilíbrio que 
permeiam o rigor estético de sua obra. Engenheiro de formação, sua literatura se assemelha à construção de 
um muro, com as “palavras/tijolos” encaixados à perfeição, “cimentadas” por uma sintaxe seca expressa em 
versos curtos. O poeta dizia que “escrever é estar no extremo de si mesmo”.
Convém lembrar que outros escritores da época – Cabral pertence à Geração de 45 do Modernismo 
brasileiro –, mostravam preocupação com a palavra e a forma, sem deixar de lado a sensibilidade poética. 
Nessa geração, em especial na poesia, não é muito simples encaixar os autores dentro de correntes literárias, 
mas é possível afirmar que a poesia deixou de ser intimista e passou a ser mais formalista. A palavra ganhou 
importância, e passa a ser o centro da expressão estética. Com o fim da Era Vargas, houve uma abertura 
social e alguns autores da Geração de 45 passaram a produzir textos que denotam efetivo engajamento 
social e político.
Para saber mais sobre a vida e a obra do escritor, consulte as páginas 79 a 83 de seu livro 
didático e faça os exercícios 1 e 2, da página 101.
A OBRA
Capa da 1.ª edição
FONTE: <https://www.infoescola.com/livros/morte ‑e ‑vida ‑severina/>. Acesso em: 05/09/18, às 17h06min.
OBRAS LITERÁRIAS
4 MORTE E VIDA SEVERINA
Morte e vida severina ou Auto de Natal pernambucano é um poema dramático.
O auto é um subgênero dramático que têm suas raízes vinculadas ao teatro popular medieval, em sua 
vertente religiosa, e era muito aceito e divulgado na Península Ibérica, tendo surgido na Espanha – um dos 
lugares que mais marcou a vida de Cabral – e amplamente divulgado por Gil Vicente, em Portugal, no período 
conhecido por Humanismo. No Brasil, o Padre José de Anchieta, no século XVI e Ariano Suassuna, no século 
XX, produziram autos importantes.
O poema de João Cabral está dividido em 18 partes, antecedidas por uma pequena apresentação do 
que cada uma delas trará, reproduzindo o que encontramos nos autos medievais. Essas partes podem ser 
divididas em dois aspectos, a busca e a desilusão.
• Parte 1 a 9 – a busca – trata da caminhada de Severino, que sai da Serra da Costela, nos limites com 
a Paraíba, cruza a Caatinga, passa pelo Agreste pernambucano, pela Zona da Mata e chega ao 
Recife. Observe no mapa a seguir a localização desses espaços geográficos.
• Parte 10 a 18 – a decepção – Severino, ao chegar a Recife, percebe que a realidade local em nada 
difere daquela da qual ele fugira, pois a morte permanece sendo uma presença constante na vida 
dos severinos.
Vamos agora empreender uma breve análise de cada umadas 18 partes que compõem a obra, escrita, em 
boa parte, por versos redondilhos maiores e com a presença de rimas alternadas. Importante destacar a constante 
repetição de versos, que é uma ferramenta muito usada pelo autor e que, além de servir como reforço semântico 
para o tema, promove a homofonia e a repetição de sons, que conferem maior musicalidade aos versos.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 5
Observe também o mapa a seguir, que estabelece o caminho que Severino traça, saindo de sua terra 
até chegar a Recife, em sua longa trajetória em busca da vida. Volte ao mapa, à medida em que avançar na 
leitura, para melhor localizar a viagem de Severino.
FONTE: <https://www.uol/noticias/especiais/vida ‑e ‑morte ‑peregrina.htm#morte ‑e ‑vida ‑peregrina>. Acesso em: 06/09/18, às 11h11min.
PARTE 1 – O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
FONTE: <http://notaterapia.com.br/2017/09/11/incrivel ‑animacao ‑baseada ‑em ‑morte ‑e ‑vida‑
‑severina ‑de ‑joao ‑cabral ‑de ‑melo ‑neto/>. Acesso em: 10/09/18, às 15h52min.
Severino inicia sua fala apresentando ‑se ao leitor/expectador. Nessa primeira parte, ele situa ‑nos quanto 
ao espaço geográfico de onde parte – Serra da Costela, limites da Paraíba. Busca, insistentemente, se 
individualizar, mas ao pronunciar essa tentativa, percebe que em nada se diferencia de outros tantos iguais a 
si. É como se a enunciação em voz alta o conscientizasse, aos poucos, de que ele é muitos, e seu drama é 
o mesmo vivido por tantos outros iguais a ele.
Desistindo de ser visto como indivíduo – como observamos na pluralização da voz “Somos muito 
Severinos / iguais em tudo na vida:” – Severino expõe o drama que atinge a todos os que lhe são iguais: “E se 
somos Severinos / iguais em tudo na vida, / morremos de morte igual, mesma morte severina: / que é a morte 
de que se morre / de velhice antes dos trinta, / de emboscada antes dos vinte, / de fome um pouco por dia.”
Aqui é perceptível que os Severinos trazem a marca da miséria e da morte entranhadas, o que nos amplia 
a perspectiva a respeito do termo severina, que serve como adjetivo para as palavras morte e vida do título. 
Severinos migram para fugir da morte (severina) em busca de vida, que se revelará também severina – cáustica, 
severa, dolorosa, miserável. A ressignificação do termo é aspecto imprescindível à compreensão da obra.
OBRAS LITERÁRIAS
6 MORTE E VIDA SEVERINA
PARTE 2 – ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO 
NUMA REDE AOS GRITOS DE: “Ó IRMÃO DAS ALMAS! IRMÃO DAS 
ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO!”
FONTE: <https://tvescola.org.br/tve/video/>. Acesso em: 10/09/2018, às 15h53min.
Nessa segunda parte, Severino vai se deparar, logo no início, com o fantasma da morte, que o 
acompanhará na trajetória. É o enterro de um Severino lavrador, que morreu de morte matada, à bala.
Aqui encontramos um jogo de perguntas e respostas, entre Severino retirante e os homens que carregavam 
a rede com o defunto. Esse diálogo estabelece ‑se como uma tentativa de entender o que acontecera com o 
homem, ao mesmo tempo em que os versos expressos na primeira parte a respeito da morte severina são 
retomados: trata ‑se de um Severino que morreu de morte matada, como se observa em “E o que havia ele 
feito, / irmão das almas, e o que havia ele feito / contra a tal pássara? / – Ter uns hectares de terra, / irmão 
das almas, / de pedra e areia lavada / que cultivava.”
O “crime” desse Severino lavrador foi ter um pequeno pedaço de terra “avara”, onde plantava palha. A 
metáfora “espingarda” é utiliza para designar aqueles que não admitem que haja pequenos produtores rurais, 
ou seja, os poderosos da região que, segundo um dos carregadores, “queria mais espalhar ‑se”.
Severino quer saber para onde levam o defunto e, ao saber que é em seu caminho – “cemitério de Torres, 
/ irmão das almas, / que hoje se diz Toritama” –, oferece ‑se para ajudar a carregar o infeliz assassinado, 
livrando, assim, um dos carregadores a voltar para casa. Observe no mapa anterior a localização de Toritama, 
no Agreste pernambucano.
Os carregadores do defunto exprimem grande cansaço físico e existencial, como se depreende dos 
versos “Mais sorte tem o defunto, / irmão das almas, / pois já não fará na volta / a caminhada.”
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 7
PARTE 3 – O RETIRANTE TEM MEDO DE SE EXTRAVIAR PORQUE O 
SEU GUIA, O RIO CAPIBARIBE, CORTOU COM O VERÃO
FONTE: <http://justificando.cartacapital.com.br/2014/12/13/morte ‑e ‑vida ‑severina‑
‑na ‑atualidade ‑2/>. Acesso em: 10/09/18, às 17h09min.
Essa parte apresenta referências à religião católica, como podemos observar em algumas palavras do 
vocabulário, que vão ganhando força por alegorizarem a busca de Severino: “– Antes de sair de casa / aprendi 
a ladainha / das vilas que vou passar / na minha longa descida.” Ladainha constitui ‑se em uma prece litúrgica 
estruturada em curtas invocações – a Deus, à Virgem, aos Santos – recitadas pelo celebrante e que se alternam 
com as respostas da congregação. Nesses versos, ladainha refere ‑se à caminhada dolorosa de Severino.
Outra referência ao universo católico está no termo rosário – fileira de 165 pequenas contas dispostas de 
maneira sucessiva, sendo que cada uma delas representa uma oração –, que configura um caráter religioso 
e sagrado à busca de vida que Severino empreende: “Sei que há muitas vilas grande, / cidades que elas são 
ditas; / sei que há simples arruados, / sei que há vilas pequeninas, / todas formando um rosário / cujas contas 
fossem vilas, / todas formando um rosário / de que a estrada fosse a linha. / Devo rezar tal rosário / até o mar 
onde termina, / saltando de conta em conta, /passando de vila em vila.”
Entretanto, em meio a ladainha que configura sua busca, Severino se perde, pois seu guia, 
o rio Capibaribe, secou, deixando ‑o sem saber que rumo tomar: “Pensei que seguindo o rio 
/ eu jamais me perderia: / ele é o caminho mais certo, / de todos o melhor guia. / Mas como 
segui ‑lo agora / que interrompeu a descida?” Ele pensa em procurar informações, mas não vê ninguém que 
possa ajudá ‑lo. Ele apenas ouve, ao longe, uma cantoria.
OBRAS LITERÁRIAS
8 MORTE E VIDA SEVERINA
PARTE 4 – NA CASA A QUE O RETIRANTE CHEGA ESTÃO CANTANDO 
EXCELÊNCIAS PARA UM DEFUNTO, ENQUANTO UM HOMEM, DO 
LADO DE FORA, VAI PARODIANDO AS PALAVRAS DOS CANTADORES
FONTE: <http://www.alagoas24horas.com.br/404982/morte ‑e ‑vida ‑severina ‑em‑
‑desenho ‑animado/>. Acesso em: 10/09/18, às 17h13min.
Nessa parte identificamos que o ritmo se altera, pois a métrica dos versos também se alterna, conferindo ao 
texto uma musicalidade distinta das partes anteriores. Trata ‑se da segunda morte com que Severino se depara.
Os versos iniciais trazem a cantilena das excelências (ou incelências), que fazem a encomenda do corpo 
de mais um Severino. Esses versos referem‑se à passagem pelo Jordão, que pode ser entendido de duas 
maneiras: de acordo com a Bíblia Hebraica, o povo de Israel atravessou o rio Jordão a seco (Livro de Josué, 
cap. 3, v. 17). O mesmo rio também foi atravessado a seco pelos profetas Elias e Eliseu. Já segundo os 
Evangelhos, João Batista desenvolveu a sua pregação nas proximidades do Jordão, onde Jesus foi batizado 
e não terá sido longe daí que decorreu o período das suas tentações.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Jord%C3%A3o>. Acesso em: 10/09/18, às 16h48min (adaptado).
Ocorre que o rio Jordão é também o nome de um rio que corta Pernambuco e que 
teria recebido esse nome em homenagem ao rio hebraico. Assim, mais uma vez o caráter 
mítico ‑religioso se faz presente nesse auto regional.
A quarta parte mostra a encomenda do corpo de um Severino que é parodiada por um homem que se 
encontra do lado de fora da casa, um contraponto lúcido e contundente quanto à vida e morte dos Severinos. 
Observe:
“ ‑ Finado Severino, /quando passares em Jordão / e os demônios te atalharem / perguntando o que é 
que levas.../
– Dize que levas cera, / capuz e cordão / mais a Virgem da Conceição.– Dize que levas somente / coisas de não: / fome, sede, privação.”
As excelências parodiadas encerram uma crítica à questão da terra e ao abandono dos miseráveis 
severinos, o que os condena, fatalmente, à morte.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 9
PARTE 5 – CANSADO DA VIAGEM, O RETIRANTE PENSA 
INTERROMPÊ ‑LA POR UNS INSTANTES E PROCURAR TRABALHO ALI 
ONDE SE ENCONTRA
FONTE: <http://frequenciainn.blogspot.com/2011/04/o ‑mais ‑celebre ‑poema ‑de‑
‑joao ‑cabral ‑de.html>. Acesso em: 10/09/18, às 17h15min.
Severino migra fugindo da morte, em busca de vida, mas só encontra mais morte: das árvores, das 
plantações e mesmo do rio Capibaribe, que secou.
“– Desde que estou retirando / só a morte vejo ativa, / só a morte deparei / e às vezes até festiva; / só a 
morte tem encontrado / quem pensava encontrar vida, / e o pouco que não foi morte / foi de vida severina.”
Aqui, pela primeira vez, encontramos referência à vida severina. Também nesta parte, Severino, já 
cansado de caminhar e de ver tantas mortes vai se deparar com uma dúvida: deveria ficar pela região, até 
esperar o inverno e o rio voltar a encher para poder segui ‑lo até Recife? “Penso agora: mas por que / parar 
aqui eu não podia / e como o Capibaribe / interromper minha linha? / Ao menos até que as águas / de uma 
próxima invernia / me levem direto ao mar / ao refazer sua rotina?”
Mas e se ele ficar, será que conseguirá continuar seu caminho, quando o rio encher? “Ou será que aqui 
cortando / agora a minha descida / já não poderei seguir / nunca mais em minha vida?”
No entanto, antes de se decidir, Severino precisa de recursos para se demorar naquele lugar: “Mas isso 
depois verei: / tempo há para que decida / primeiro é preciso achar / um trabalho de que viva.” Ao se deparar 
com uma mulher que parece viver bem, resolve se dirigir a ela em busca de um emprego.
OBRAS LITERÁRIAS
10 MORTE E VIDA SEVERINA
PARTE 6 – DIRIGE ‑SE À MULHER NA JANELA, QUE DEPOIS 
DESCOBRE TRATAR ‑SE DE QUEM SABERÁ
FONTE: <http://literaturaeciadhr3b.blogspot.com/2012/10/reconto ‑morte ‑e ‑vida ‑severina.html>. Acesso em: 10/09/18, às 17h55min.
Mais uma vez vamos nos deparar com uma estrutura dialógica:
“– Muito bom dia, senhora, / que nessa janela está; / sabe dizer se é possível / algum trabalho encontrar?” 
Ao que a mulher responde: “– Trabalho nunca falta / a quem sabe trabalhar; / o que fazia o compadre / na 
sua terra de lá?”
Severino responde que havia sido lavrador de terra má e, por isso, era apto para trabalhar em qualquer 
tipo de solo. A mulher responde que lá há pouco para lavrar. E inquire Severino continuamente. Para cada 
ofício que ele dizia saber – a maioria deles ligados à terra – ela dizia que não era de serventia naquele lugar. 
Nesse jogo dialógico, o caráter metafórico vai ganhando força, com o desnudamento da cruel realidade 
enfrentada por Severino: suportar o sol abrasador e trabalhar, independentemente se havia ou não matado a 
fome, como podemos observar nos versos a seguir:
“– Com a vinda das usinas / há poucos engenhos já; / nada mais o retirante / aprendeu a fazer lá? /
– Ali ninguém aprendeu / outro ofício, ou aprenderá: / mas o sol, de sol a sol, / bem se aprende a suportar.
– Mas isso então será tudo / em que sabe trabalhar? / vamos, diga, retirante, / outra coisa saberá. /
– Deseja mesmo saber / o que eu fazia por lá? / comer quando havia o quê/ e, havendo ou não, trabalhar./”
A mulher então diz que nada do que Severino sabia fazer teria uso, pois o melhor negócio ali era a 
morte. Ela, que agora se sabe era rezadeira, propõe trabalhar a meias com ele, mas o pobre homem não 
sabe as rezas para encomendar os defuntos. Ele fica curioso com a busca da mulher, que esclarece: “– [...] 
como aqui a morte é tanta, / vivo de a morte ajudar.” E complementa, à pergunta seguinte de Severino, se era 
profissão o que a rezadeira fazia: “– É, sim, uma profissão, / e a melhor de quantas há: / sou de toda região 
/ rezadeira titular.” O retirante insiste e pergunta “ – [...] não existe outro trabalho / para mim neste lugar?” A 
mulher encerra a questão: “– Como aqui a morte é tanta, / só é possível trabalhar / nessas profissões que 
fazem / da morte ofício ou bazar.”
Assim, a morte configura ‑se como a melhor empregadora naquela terra, ou seja, só vive quem se 
encarrega da morte – para matar ou enterrar quem morreu.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 11
PARTE 7 – O RETIRANTE CHEGA À ZONA DA MATA, QUE O FAZ 
PENSAR, OUTRA VEZ, EM INTERROMPER A VIAGEM
FONTE: <http://sarauxyz.blogspot.com/2015/11/reprise ‑morte ‑e ‑vida ‑severina‑
‑em.html#.W5bfAehKjIU>. Acesso em 10/09/18, às 18h22min.
Severino, ao chegar à Zona da Mata pernambucana, mostra ‑se impressionado com a qualidade e a 
fertilidade do solo e com a fartura de água: “– Bem me diziam que a terra / se faz mais branda e macia / 
quanto mais do litoral / a viagem se aproxima.” (Vale a pena dar uma olhada nos mapas anteriores, para 
localizar a mudança do espaço físico).
O retirante, após o encontro com tantas mortes anteriores, se ilude, pensando ter chegado a uma 
espécie de paraíso e estabelece um paralelo com os versos da primeira parte: “Decerto a gente daqui /jamais 
envelhece aos trinta / nem sabe da morte em vida, vida em morte, severina; e aquele cemitério ali, / branco 
na verde colina, / decerto pouco funciona / e poucas covas aninha.”
PARTE 8 – ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO 
E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO 
CEMITÉRIO
FONTE: <http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/especiais/morte ‑e ‑vida‑
‑severina.htm>. Acesso em: 10/09/2018, às 18h35min (fins pedagógicos).
OBRAS LITERÁRIAS
12 MORTE E VIDA SEVERINA
No entanto, naquele cemitério que Severino julgava haver poucos enterros, ele tem a oportunidade de se 
deparar com mais uma morte, a terceira desde que começara sua viagem. Nessa parte, a crítica contundente 
à má distribuição de terras no país e a necessidade de uma reforma agrária ganham força ao conhecermos 
um pouco a história do defunto, pela voz de seus amigos:
“– Esta cova em que estás, / com palmos medida, / é a conta menor / que tiraste em vida. / – É de bom 
tamanho, / nem largo nem fundo, / é a parte que te cabe / deste latifúndio. / – Não é cova grande, / é cova 
medida, / é a terra que querias / ver dividida. /”
Observe a antítese contida nos versos a seguir, que denunciam a ironia da situação, pois na morte o 
homem encontra o que não teve na vida. “– É uma cova grande / para teu parco defunto, / mas estarás mais 
ancho / que estavas no mundo.” O cemitério só era pequeno porque as covas eram rasas e estreitas...
Na tão sonhada distribuição de terra, os severinos só recebem seu quinhão quando morrem.
Vale a pena ouvir a versão musicada de Chico Buarque, no dueto de 
Rolando Boldrin e Renato Teixeira, disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=0VWbHb8QCyo>. Acesso em: 10/09/2018, às 18h45min.
PARTE 9 – O RETIRANTE RESOLVE APRESSAR OS PASSOS PARA 
CHEGAR LOGO AO RECIFE
FONTE: <http://arteculturamoda.blogspot.com/2011/07/morte ‑e ‑vida ‑severina ‑no‑
‑anima ‑mundi.html>. Acesso em: 10/09/2018, às 19h05min.
Severino volta a se dirigir ao leitor / expectador, revelando suas intenções, ao sair em migração. Revela 
sua idade – tinha vinte anos e ainda, nestes versos, mostra a percepção de que, embora tenha cruzado 
espaços geográficos distintos, socialmente deparou com pouca ou nenhuma mudança, uma vez que sua 
jornada em busca da vida o levou, sequencialmente, ao encontro com a morte, de quem, paradoxalmente 
fugira ao iniciar sua andança por terras pernambucanas. Vamos aos versos, que denotam a fragilidade da 
vida do nordestino (mas antes, dê mais uma olhada nos mapas para lembrar a longa trajetória de Severino!):
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 13
“– Nunca esperei muita coisa, / digo a Vossas Senhorias. / O que me fez retirar / não foi a grande cobiça: 
/ o que apenas busquei foi defender minha vida / da tal velhice que chega / antes de se inteirar trinta;/ se na 
serra vivi vinte, / se alcancei tal medida, / o que pensei retirando, / foi estendê ‑la um pouco ainda. Mas não 
senti diferença / entre o Agreste e a Caatinga, / e entre a Caatinga e aqui a Mata / a diferença é mais mínima. 
/ Está apenas em que a terra / é por aqui mais macia. / [...] e que nesta terra gorda, / quer na serra, de caliça, 
/ a vida arde sempre com / a mesma chama mortiça.”
Retomando a associação feita entre a retirada e as contas de um rosário, Severino afirma que Recife é 
a última conta, a derradeira ave ‑maria. É também aqui que se chega ao fim a divisão a que nomeamos “a 
busca”.
PARTE 10 – CHEGANDO AO RECIFE, O RETIRANTE SENTA ‑SE PARA DESCANSAR AO 
PÉ DE UM MURO ALTO E CAIADO E OUVE, SEM SER NOTADO, A CONVERSA DE 
DOIS COVEIROS
FONTE: <https://www.pensarcontemporaneo.com/morte ‑e ‑vida ‑severina/>. Acesso em: 10/09/2018, às 19h03min.
Mais uma vez a estrutura dialógica é retomada. Dois coveiros – um do cemitério de Santo Amaro e outro 
do cemitério da Casa Amarela – conversam a respeito de suas funções.
O coveiro da Casa Amarela fora pedir remoção para o de Santo Amaro, pois considerava que trabalhava 
demais em razão do grande volume de mortos que chegavam diariamente, que equivalia a “parada de ônibus, 
/ com filas de mais de cem.” Embora não tenha conseguido seu intento, o coveiro conseguiu mudança de setor, 
no cemitério em que trabalhava. Agora, em vez de enterrar os severinos, fará os enterros de defuntos de outros 
“bairros”, o grupo de operários: “– Passo para os industriários, / que também é o dos ferroviários, / de todos 
os rodoviários / e praças de pré dos comerciários.” O colega, de Santo Amaro, acha que foi um bom negócio: 
“– [...] não são tão contagiosos / e são muito menos numerosos.”
Os coveiros falam francamente sobre “– [...] a gente dos enterros gratuitos / e dos defuntos ininterruptos.”, 
os retirantes, que atravessam todo o sertão para vir morrer no Recife. Ambos chegam à conclusão que “– Na 
verdade, seria mais rápido / e também muito mais barato / que os sacudissem de qualquer ponte / dentro do 
rio e da morte. / – O rio daria a mortalha / e até um macio colchão de água; [...] – E não precisava dinheiro, / 
e não precisava coveiro, / e não precisava oração, / e não precisava inscrição.”
Os pobres, sob essa concepção não precisam de nada, nem do respeito daqueles que lhes são tão 
semelhantes, afinal, “morre gente que nem vivia”, e os severinos retirantes, que partem “lá de riba”, “vem é 
seguindo seu próprio enterro.”
OBRAS LITERÁRIAS
14 MORTE E VIDA SEVERINA
PARTE 11 – O RETIRANTE APROXIMA ‑SE DE UM DOS CAIS DO 
CAPIBARIBE
Severino, decepcionado com tudo o que vira ao longo de sua viagem e com a conversa que ouvira, 
desabafa. Ele sabia que seria difícil, mas sua intenção ao migrar não era na expectativa de uma mudança 
total de vida, e sim de que conseguisse o mínimo para sua sobrevivência: “esperei, devo dizer, / que ao menos 
aumentaria / na quartinha, a água pouca, / dentro da cuia, a farinha, / o algodãozinho da camisa,”.
Ao chegar a seu destino, entretanto, percebe que a morte de quem fugira fora sua companheira constante, 
em todos os lados em que passara e em todas as situações que vivenciara, o que o faz concluir que, nessa 
viagem, ele seguia mesmo era o próprio enterro. A solução seria, pois, apressar a morte, atirando ‑se ao rio, 
como o coveiro na parte anterior sugerira.
PARTE 12 – APROXIMA ‑SE DO RETIRANTE O MORADOR DE UM DOS 
MOCAMBOS QUE EXISTEM ENTRE O CAIS E A ÁGUA DO RIO
FONTE: <http://equilibrio.ipub.ufrj.br/portal/ensino ‑e ‑pesquisa/ensino/residencia ‑medica/
blog/itemlist/date/2016/10/26>. Acesso em: 11/09/2018, às 17h27min.
Mais uma vez o diálogo se estabelece, agora entre Severino e mestre José Carpina, um morador de uma 
das habitações miseráveis à beiro do Capibaribe. O retirante pergunta a profundidade do rio, para saber se, 
ao se atirar, conseguiria seu intento. Aqui, novamente, o jogo de perguntas e respostas apresenta caráter 
metafórico: “– Seu José, Mestre Carpina, / para cobrir o corpo de homem / não é preciso muita água: basta 
que chegue ao abdome, / basta que tenha fundura / igual à de sua fome.”
Neste ponto, o desespero de Severino encontra a esperança e a serenidade de Mestre Carpina: “– 
Severino, retirante, /o meu amigo é bem moço; / sei que a miséria é mar largo, / não é como qualquer poço: / 
mas sei que para cruzá ‑la / vale bem qualquer esforço.”
Severino pergunta a mestre José “por que ao puxão das águas /não é melhor se entregar?” A seu 
modo, ele pede ao carpina convencê ‑lo a não se atirar. O jogo de perguntas e respostas continua e José 
conta de sua origem – Nazaré da Mata (observe que temos um José, carpinteiro, nascido em Nazaré, claras 
referências à história do nascimento de Jesus, que vão configurar o Auto de Natal pernambucano começam a 
se delinear) – e fala de que nada em sua vida foi fácil “jamais me fiaram nada: / a vida de cada dia / cada dia 
hei de comprá ‑la”, ou seja, a esperança se renova a cada dia. Mas o retirante ainda está em dúvida sobre se 
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 15
atirar ou não da ponte e pergunta: “– Seu José, Mestre Carpina, / que diferença faria / se em vez de continuar 
/ tomasse a melhor saída: / a de saltar, numa noite, / fora da ponte e da vida?”
PARTE 13 – UMA MULHER, DA PORTA DE ONDE SAIU O HOMEM, 
ANUNCIA ‑LHE O QUE SE VERÁ
No momento em que Severino formula a pergunta a mestre José, uma mulher anuncia o nascimento do 
filho do carpina: “Estais aí conversando / em vossa prosa entretida: / não sabeis que vosso filho / saltou para 
dentro da vida?” Essa fala é a antítese da pergunta anterior de Severino, que queria saltar para fora da vida, 
enquanto que o menino de José salta para dentro da vida.
PARTE 14 – APARECEM E SE APROXIMAM DA CASA DO HOMEM 
VIZINHOS, AMIGOS, DUAS CIGANAS ETC.
“Todo o céu e a terra / lhe cantam louvor / e cada casa se torna / num mocambo sedutor.”
Os moradores celebram o nascimento do filho do Mestre Carpina e falam que, por causa da chegada 
do menino, o mundo de todos eles se tornou um lugar melhor: a maré não baixou e a lama não exalou o 
mau cheiro, o vento levou embora a umidade, os mocambos se transformaram em refúgios, os maruins 
(mosquitos) não apareceram e enfim, o rio, baço, se tornou um espelho do céu estrelado.
PARTE 15 – COMEÇAM A CHEGAR PESSOAS TRAZENDO PRESENTES 
PARA O RECÉM ‑NASCIDO
Nesta parte, pessoas vão surgindo pessoas de diversas partes, trazendo presentes para a mãe e para 
o recém ‑nascido, numa alusão aos presentes trazidos pelos reis magos ao menino Jesus. Só que não havia 
incenso, ouro ou mirra, mas dentro da pobreza de cada um, havia a oferenda de algo que lhes era importante, 
como caranguejos para a mãe, para fortalecer o leite (e também para vincular a criança a uma espécie de 
determinismo do meio – a lama). Outros presentes foram trazidos: papel de jornal para cobrir o menino (que 
assim, cobrindo ‑se de letras, vai se tornar doutor), água da bica do Rosário, de Olinda, um canário da terra, 
uma bolacha d’água, um boneco de barro, uma cachaça, um abacaxi, um pedaço de cana, tamarindos e 
jaca, mangabas, cajus, peixe, carne de boi, siris, mangas e goiamuns (tipo de caranguejo). São dezesseis 
presentes, a maior parte deles introduzidos pela expressão “minha pobreza é tal...”.
Além desses, uma mãe que amamenta compartilha seu leite com o bebê recém ‑nascido, igualando‑
‑os a todos na pobreza e na miséria que os irmanava: “– Minha pobreza tal é / que coisa não posso ofertar: 
/ somente o leite que tenho / para meu filho amamentar; / aqui são todos irmãos, / de leite, de lama, de ar.”
OBRAS LITERÁRIAS
16 MORTE E VIDA SEVERINA
PARTE 16 – FALAM AS DUAS CIGANAS QUE HAVIAM APARECIDO 
COM OS VIZINHOS
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=NbcyUHv6Nbk>. Acesso em: 11/09/2018, às 17h08min.
As duas ciganas que acompanhavam os vizinhos pedem a palavra para ler o futuro do menino. A primeira 
afirma que o recém ‑nascido será mais um catador de siri, repetindoa sina dos moradores dos mocambos: 
“aprenderá a engatinhar / por aí, com aratus, / aprenderá a caminhar/ na lama, com goiamuns, / e a correr o 
ensinarão / os anfíbios caranguejos, / pelo que será anfíbio / como a gente daqui mesmo.”
A outra cigana, no entanto, prevê um futuro diferente para a criança: ele será operário. A sujeira que ela 
vê é de graxa de fábrica, não de lama dos mangues: “Não o vejo dentro dos mangues, / vejo ‑o dentro de uma 
fábrica: se está negro não é de lama, / é graxa de sua máquina, / coisa mais limpa que a lama / do pescador 
da maré / que vemos aqui, vestido /de lama da cara ao pé.”
O destino do recém ‑nascido é, portanto, uma incógnita...
PARTE 17 – FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM 
COM OS PRESENTES ETC.
FONTE: <http://literaturaeciadhr3b.blogspot.com/2012/10/reconto ‑morte ‑e ‑vida ‑severina.html>. Acesso em 11/09/2018, às 18h.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 17
Agora, cada visitante profere sua fala, uma espécie de benção sobre o recém ‑nascido, acentuando os 
aspectos positivos – a“ formosura” – daquela criança: “De sua formosura / deixai ‑me que diga: / é tão belo 
como um sim / numa sala negativa. / É tão belo como a soca (muda da cana) / que o canavial multiplica. / 
Belo porque é uma porta / abrindo ‑se em muitas saídas. / Belo como a última onda / que o fim do mar 
sempre adia. / É tão belo quanto as ondas em sua adição infinita. / Belo porque tem do novo / a surpresa e a 
alegria. / Belo como a coisa nova / na prateleira até então vazia. / Como qualquer coisa nova / inaugurando o 
seu dia. / Ou como um caderno novo / quando a gente o principia. / E belo porque com o novo / todo 
o velho contagia.”
Observe que todas as falas encontram ‑se plenas de esperança. Nasceu uma criança, a vida ganha 
novos significados!
PARTE 18 – O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE 
FORA, SEM TOMAR PARTE EM NADA
Após a euforia do nascimento do filho, Mestre Carpina volta ‑se para Severino, que a todos os eventos 
anteriores assistira. José retoma a pergunta de Severino, antes de serem interrompidos com a notícia da 
chegada do pequeno. O homem experiente confessa que ele mesmo não tem como convencer o retirante a 
não saltar fora da ponte e da vida, mas ela, a vida, havia trazido a resposta, com o nascimento do filho. É um 
momento de epifania. O Auto de Natal se completa com o nascimento do menino e, com ele, o ressurgir das 
esperanças. A vida prevalece, afinal, em meio a tanta morte. Vale a pena a leitura dessa parte na íntegra.
“– Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
 esta que se vê, Severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê ‑la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
FONTE: <http://valiteratura.blogspot.com/2010/10/morte ‑e ‑vida‑
‑severina ‑1956.html>. Acesso em: 10/09/2018, às 18h32min.
OBRAS LITERÁRIAS
18 MORTE E VIDA SEVERINA
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê ‑la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida Severina.”
A OBRA ATUALIZADA
O site de notícias UOL fez uma série de reportagens refazendo a viagem de Severino, de João Cabral, 
mostrando as histórias das secas e a busca por emprego dos Severinos de hoje.
Nesse trabalho, vamos saber que a Serra da Costela, de onde parte Severino, na verdade, não existe. 
Ela faz referência às serras que ficam no município de Poção, em Pernambuco, onde está a nascente do rio 
Capibaribe. E Severino segue o rio até o encontro com o mar, no Recife.
Atualmente, os Severinos ainda fogem e buscam empregos na Zona da Mata e no litoral, onde chegam 
normalmente a plantações para o corte da cana de açúcar. Mas também encontram abrigo no meio do 
caminho, no agreste pernambucano, onde existe um polo de confecções que oferece trabalho a muitos 
fugitivos da seca.
No final do caminho, às margens do rio Capibaribe, no Recife, há o abrigo final – e persistente – às 
pessoas que ainda lutam contra a miséria e a fome. São todos severinos nessa história... e o mar ainda 
funciona como elemento catalisador de esperanças.
Observamos ainda que a amplitude dessa obra de João Cabral extrapola os nossos limites geográficos, 
uma vez que os Severinos também se espalham mundo afora. Vemos reportagens sobre os refugiados 
haitianos, sírios e venezuelanos, só para citar três grupos de indivíduos que, impedidos de permanecer em 
seu espaço natural por questões diversas – clima, instabilidade econômica, situação política, catástrofes 
naturais –, são impelidos à busca por uma vida melhor, fugindo da fome, da miséria, da angústia, da violência. 
E, assim como o Severino de Cabral, nessa “retirada” em busca da vida, muitos vão ter, como companhia 
constante, a morte.
Para conhecer um pouco mais sobre esse assunto, acesse:
• <https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/08/16/o ‑dramatico ‑vai ‑e ‑vem ‑dos ‑haitianos>. 
Acesso em: 06/09/2018, às 14h44min.
• <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/16/politica/1518736071_492585.html>. Acesso em: 
06/09/2018, às 14h51min.
• <https://nacoesunidas.org/guerra ‑na ‑siria ‑aumentou ‑numero ‑de ‑solicitacoes ‑de ‑refugio ‑no ‑brasil‑
‑diz ‑estudo ‑do ‑ipea/>. Acesso em: 06/09/2018, às 14h53min.
• <https://tab.uol.com.br/refugiados/>. Acesso em: 06/09/2018, às 14h51min.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 19
REFERÊNCIAS
MELO NETO, J. C. de. Morte e vida severina; e, Outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p.91 ‑133.
Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=391>. Acesso 
em: 05/09/2018, às 17h21min.
<https://www.uol/noticias/especiais/vida ‑e ‑morte ‑peregrina.htm#tematico ‑1?cmpid>. Acesso em: 06/09/2018, 
às 13h46min.
<https://www.culturagenial.com/vida ‑e ‑morte ‑severina ‑de ‑joao ‑cabral ‑de ‑melo ‑neto/>. Acesso em: 
06/09/2018, às 14h18min.
QUESTÕES DE VESTIBULAR
1. (UFPR) Anatol Rosenfeld, um importante estudioso da cena teatral brasileira, faz no trecho abaixo 
uma síntese que explica as motivações para o emprego de recursos narrativos na dramaturgia 
que, segundo ele, começa a ser realizada no Brasil ao fim da década de 50 do século XX. 
“O uso de recursos épicos por parte de dramaturgos e diretores teatrais não é arbitrário, 
correspondendo, ao contrário, a transformações históricas que suscitam o surgir de novas temáticas, 
novos problemas, novas valorações e novas concepções de mundo.”
ROSENFELD, A. O teatro épico. São Paulo: Perspectiva, 1985. p. 12.
Considerando o trecho citado e a leitura integral de Morte e vida severina, Auto de Natal 
Pernambucano, de João Cabral de Melo Neto, e Eles não usam black tie, de Gianfrancesco 
Guarnieri, assinale a alternativa correta. 
a) O auto de João Cabral de Melo Neto utiliza o verso e recursos da tradição oral popular do Nordeste 
para reforçar o caráter religioso da peça, excluindo indícios de crítica social aos problemas regionais. 
b) O conflito entre pai e filho em Eles não usam black tie transpõe para o ambiente cotidiano de uma 
família os conflitos e impasses da classe operária diante dos desmandos dos patrões. 
c) A peça de Guarnieri faz referências à cultura e ao ambiente da favela, incluindo até letras de sambas 
antigos, o que reforça a imagem idealizada do morro e da figura do malandro. 
d) Morte e vida severina utiliza versos de metrificação idêntica em todo o texto, o que prejudica o ritmo 
musical e melódico, ao contrário do que se observa na peça de Guarnieri.
e) Os personagens da peça de Guarnieri são considerados alegóricos,porque não apresentam conflitos 
psicológicos, enquanto os de João Cabral são personagens individualizados e diversos entre si.
OBRAS LITERÁRIAS
20 MORTE E VIDA SEVERINA
2. (UPE) João Cabral de Melo Neto, autor pernambucano, celebrizou ‑se com um Auto de Natal, que 
trata de uma das questões mais sérias da sociedade brasileira, a qual está bem representada na 
charge a seguir. Relacione a imagem com o fragmento do texto de Morte e vida severina.
– Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
– É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
neste latifúndio.
– Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
– É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
– É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
– É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.
João Cabral de Melo Neto
Analise as afirmativas a seguir e coloque V nas verdadeiras e F nas falsas.
( ) O poema não tem nenhuma relação com a charge, pois não se pode relacionar dois tipos de 
linguagem completamente diferentes: verbal e visual. Além disso, na charge, a mensagem imagética 
e linguística apresenta uma crítica ferrenha à desigualdade social, enquanto o poema nega o valor 
da Reforma Agrária, uma vez que defende o monopólio da terra.
( ) O poema de João Cabral de Melo Neto desenvolve a temática da desigualdade social à semelhança 
da charge, que também aborda a mesma questão. Ambos tomam como ponto de partida a posse da 
terra. Há, entre as duas mensagens, uma única preocupação que é a aquisição de bens materiais.
( ) A charge apresenta, tanto quanto o fragmento do texto de João Cabral, uma crítica à condição do 
lavrador, que, durante toda vida, trabalha a terra, mas só tem direito a ela quando morre. Na imagem, 
o lavrador vivo traz a placa SEM TERRA, enquanto no poema, tal qual na charge, só adquire o direito 
à terra após a morte, que representa “a terra que queria ver dividida.”
( ) Diferentemente do texto escrito, a imagem revela um novo tipo de transmissão de mensagem em 
que se encontra eliminada a linguagem verbal, ocorrendo exclusivamente um discurso imagético. 
Nele o homem e a terra se confundem por ocasião da morte, que iguala todos os seres humanos, e 
isso fica explícito na antítese sem terra/com terra.
( ) As duas mensagens tematizam a questão da posse da terra, apresentando um discurso crítico, 
que enfatiza o fato de o lavrador não ter direito à terra, razão pela qual é designado como “sem 
terra”. Essa expressão atualmente identifica os participantes do movimento social, que lutam pelo 
reconhecimento do camponês que continua sem obter o tão desejado torrão.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 21
Assinale a alternativa que contém a sequência correta.
a) F – F – V – F – V
b) F – F – F – F – V
c) V – V – V – V – V
d) F – F – F – V – V
e) V – V – V – F – F
3. (UPE – adaptada) Em relação à Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, coloque V 
para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) Trata ‑se do relato da história de um retirante que, tomando como modelo Vidas secas, deixa seu torrão 
natal e vai para a metrópole em busca de melhor qualidade de vida. Assim, Severino, protagonista do 
Auto de Natal pernambucano, chega ao Recife e consegue ascender socialmente, pois é contratado 
para trabalhar em uma fábrica, atingindo seus objetivos.
( ) Integra o texto cabralino uma cena intitulada Funeral do lavrador, composta por redondilhas, a 
qual foi musicada por Chico Buarque de Holanda, na década de 1970, momento de plena ditadura. 
Contudo, o texto não sofreu nenhuma censura do sistema constituído, por não apresentar ideologia, 
na época, considerada subversiva.
( ) Morte e vida severina segue a estrutura de um auto. Como romance que é, em treze capítulos, a 
personagem central desloca ‑se da Serra da Costela, situada no interior de Alagoas, vem margeando 
o Rio Capibaribe, chega ao Recife, onde se encontra com Mestre Carpina.
( ) O texto de João Cabral é composto por versos metrificados, redondilhas, numa perfeita harmonia 
entre a personagem e a linguagem, peculiar à literatura popular desde os autos do teatrólogo 
português Gil Vicente até a atualidade.
( ) Nos versos: “E se somos Severinos / iguais em tudo na vida, / morremos de morte igual, / mesma 
morte severina: / que é a morte de que se morre / de velhice antes dos trinta”, encontramos o uso 
de aliterações que trazem musicalidade ao texto. Além disso, a palavra severina exerce uma função 
adjetiva, pois qualifica o substantivo morte de modo criativo e inusitado.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a) F – F – F – V – V
b) V – V – V – F – V
c) V – V – F – F – V
d) V – F – V – F – V
e) V – V – V – F – F
OBRAS LITERÁRIAS
22 MORTE E VIDA SEVERINA
Leia o trecho a seguir, de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, para resolver a 
questão 4.
— Severino retirante,
deixa agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
(…)
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê ‑la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica [...]
4. (EsPCEx/Aman) Em relação a esse mesmo fragmento, pode ‑se ainda afirmar que
a) trata da impotência do homem diante dos problemas do sertão e da cidade.
b) Severino representa todos os homens que são latifundiários.
c) reflete sobre as dificuldades que o homem encontra para trabalhar.
d) trata da temática que descarta a morte como solução para os problemas.
e) é um texto bem simples e poético sobre o significado do amor da época.
5. (Enem)
Texto I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria,
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 23
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento).
Texto II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere ‑a, aqui, ao retirante Severino, que, como o 
Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto, 
nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são 
sempre partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).
Com base no trecho de Morte e vida severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), 
observa ‑se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta 
para um problema social expresso literariamente pela pergunta “Como então dizer quem fala/ 
ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem ‑narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino como um homem resignado com a sua situação.
c) representação, na figura do personagem ‑narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição.
d) apresentação do personagem ‑narrador como uma projeção do próprio poeta em sua crise existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha ‑se de ser descendente do coronel Zacarias.
6. (Fuvest)
Só os roçados da morte
compensam aqui cultivar,
e cultivá ‑los é fácil:
simples questão de plantar;
não se precisa de limpa,
de adubar nem de regar;
as estiagens e as pragas
fazem ‑nos mais prosperar;
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
pela colheita:recebe ‑se
na hora mesma de semear.
MELO NETO, J. C. de. Morte e vida severina; e Outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
OBRAS LITERÁRIAS
24 MORTE E VIDA SEVERINA
Nos versos anteriores, a personagem da “rezadora” fala das vantagens de sua profissão e de 
outras semelhantes. A sequência de imagens neles presente tem como pressuposto imediato a 
ideia de
a) sepultamento dos mortos.
b) dificuldade de plantio na seca.
c) escassez de mão de obra no sertão.
d) necessidade de melhores contratos de trabalho.
e) técnicas agrícolas adequadas ao sertão.
Texto para a questão 6.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (fragmento).
7. Nesse fragmento, o eu lírico retrata uma situação marcada pela
a) presença da morte, que universaliza os sofrimentos dos nordestinos.
b) figura do homem agreste, que encara ternamente sua condição de pobreza.
c) descrição sentimentalista de Severino, que divaga sobre questões existenciais.
d) miséria, à qual muitos nordestinos estão expostos, simbolizada na figura de Severino.
e) opressão socioeconômica a que todo ser humano se encontra submetido.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 25
8. (UFRGS – adaptada) A 12.ª parte da obra de João Cabral de Melo Neto mostra a conversa entre 
Severino, desiludido com o que encontrara durante e ao fim de sua jornada, e o Mestre José, 
como se observa nos seguintes versos
— Seu José, Mestre Carpina,
que diferença faria
se em vez de continuar
tomasse a melhor saída:
a de saltar, numa noite,
fora da ponte e da vida?
MELO NETO, J. C. de. Morte e vida severina; e Outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 123.
Analise o que se afirma a respeito do diálogo citado e assinale V para o que for verdadeiro e F 
para o que for falso.
( ) Severino, retirante chegado ao Recife, questiona a vida miserável de Mestre Carpina.
( ) Mestre Carpina defende a necessidade de viver mesmo que em condição precária.
( ) Mestre Carpina nega ‑se a ouvir os infundados questionamentos de Severino.
( ) Severino, em sua última interrogação, aponta uma hesitação entre viver e morrer.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V – V – F – V.
b) V – F – F – F.
c) V – F – V – V.
d) F – V – F – V.
e) F – V – V – F.
9. (Cefet – adaptada) Leia as seguintes afirmações sobre Morte e vida severina:
I. O nascimento do filho do mestre José é antagônico aos outros fatos apresentados na obra, já que 
esses são marcados pela morte.
II. Podemos dizer que o conteúdo é completamente pessimista, considerando ‑se que a jornada é 
marcada pela tragédia da seca, o que leva Severino à tentativa de suicídio.
III. Mais do que a seca, as desigualdades sociais do Nordeste são o tema da obra.
É correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III, apenas.
OBRAS LITERÁRIAS
26 MORTE E VIDA SEVERINA
10. (UEL – adaptada)
Os rios que correm aqui
têm a água vitalícia.
Cacimbas por todo lado;
Cavando o chão, água mina.
Vejo agora que é verdade
O que pensei ser mentira
Quem sabe se nesta terra
Não plantarei minha sina?
Não tenho medo de terra
(cavei pedra toda a vida),
e para quem buscou a braço
contra a piçarra da Caatinga
será fácil amansar
esta aqui, tão feminina
MELO NETO, J. C. de. Morte e vida Severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 41.
piçarra: material semidecomposto da mistura de fragmentos de rocha, areia e concreções ferruginosas.
Em relação ao trecho anterior, de Morte e vida severina, considere as afirmativas.
I. Esses versos referem ‑se ao momento em que Severino chega à zona da mata e encontra a terra 
mais macia. Isso nos é revelado num estilo suave e melodioso, em que a sonoridade das palavras 
expressa o entusiasmo do retirante.
II. “Rios”, “cacimbas”, “água vitalícia” e “água mina” são expressões que remetem a uma imagem 
positiva sobre a região por onde passa o retirante Severino. Isso mostra a sua alegria por ter encon‑
trado um lugar onde ele viverá com toda a sua família até a morte.
III. Nesse trecho, Severino encontra o que procura: água e, consequentemente, vida. Isso está retratado 
nos versos “Não tenho medo de terra/ (cavei pedra toda a vida)”.
IV. A expressão “tão feminina” do último verso é uma metáfora de terra macia, fácil de trabalhar, e se 
opõe à expressão “piçarra da Caatinga”, que significa terra dura, pedregosa.
V. Os versos “Os rios que correm aqui/ têm a água vitalícia” significam que os rios nunca morrem. Essa 
constatação refere ‑se à região da Caatinga, onde Severino vive sua saga.
É correto o que se afirma em
a) IV e V, apenas.
b) I, III e V, apenas.
c) I, II e V, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I, II, III, IV e V.
OBRAS LITERÁRIAS
MORTE E VIDA SEVERINA 27
11. (UFPR – adaptada) Leia o trecho e, a seguir, assinale as alternativas corretas a respeito de “Morte 
e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto.
O carpina fala com o retirante que esteve fora, sem tomar parte em nada
‑ Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que se vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
Que o espetáculo da vida,
Ver a fábrica que ela mesma,
Teimosamente, se fabrica,
Vê‑la brotar como há pouco
Em nova vida explodida;
Mesmo quando é assim pequena
A explosão, como a ocorrida;
Mesmo quando é uma explosão
Como a de há pouco, franzina;
Mesmo quando é a explosão
De uma vida severina.
(MELO NETO. João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas em voz alta. SP: Record, 1998)
OBRAS LITERÁRIAS
28 MORTE E VIDA SEVERINA
I. No início do texto, Severino fracassa ao tentar individualizar‑se em relação a outros Severinos; 
dessa maneira, estabelece‑se o sentido da palavra “severina”, adjetivo criado a partir do nome 
próprio que designa a dificuldade da vida no Nordeste, partilhada por todos os pobres.
II. Uma das cenas finais é a das ciganas, que visitam o recém‑nascido e, embora uma delas preveja 
para a criança uma vida igual à que seus pais tiveram, e a outra enxergue uma mudança de destino, 
ambas anunciam um futuro cheio de dificuldades para o menino.
III. Os momentos de alegria do retirante estão relacionados à sua esperança de que existam lugares 
onde a luta pela sobrevivência seja menos árdua do que no lugar de onde ele emigrou.
IV. A conversa final entre Severino e seu José, o mestre carpina, revela o otimismo ingênuo do segundo, 
uma vez que busca convencer o retirante de que a felicidade é um bem natural, independentemente 
das dificuldades, bastando estar vivo para ser feliz.
Estão corretos os itens
a) I e II, apenas. 
b) III e IV, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
GABARITO
1. B 2. A 3. A 4. D 5. C 6. A 7. D 8. D 9. C 10. A 11. D

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