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PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA URINÁLISE INFORMAÇÕES GERAIS A urina é um produto de eliminação de resíduos, através de um processo de filtração do sangue. A produção de urina é regular e constante, portanto, de fácil obtenção. Com isso, a avaliação do sistema renal é simples de fazer. O processo de avaliação da urina é chamado de urinálise. A urinálise é composta por exame físico, químico e sedimentário. A urinálise só está completa se esses 3 padrões forem avaliados! MÉTODOS DE COLETA Feita normalmente por clínicos veterinários e recebida no laboratório clínico. CATETERIZAÇÃO Passar o cateter até chegar à bexiga. Ao passar o cateter, ocorrerá a retirada de céls epiteliais, micro lesões (com retirada de sangue) e bactérias, portanto, estes componentes podem estar presentes nas análises. CISTOCENTESE Guiada pelo ultrassom, é retirada através de seringa de 20ml. Podem ocorrer hemorragias/rupturas de bexiga, caso o clínico coletor não saiba como coletar. A urina produzida é estéril dos rins até a uretra proximal, logo, neste método, podemos saber mais sobre a função renal. MICÇÃO ESPONTÂNEA O animal faz comportamento de micção e através de um potinho faz-se a coleta. Ocorre a varredura de células epiteliais, leucócitos e bactérias do trato. É uma ótima forma de coleta, pois na análise mostrará informações sobre todo o trato geniturinário. RECIPIENTES PARA AMOSTRAS Devem ser utilizados frascos limpos e identificados, inclusive com HORÁRIO DE COLETA. Usar de preferência os tubos Falcon, pois estes encaixam perfeitamente na centrífuga para sedimentoscopia. PROCESSAMENTO DE AMOSTRA Ao receber a amostra, o ideal é processar rapidamente! Quanto mais tempo demorar, maior o crescimento bacteriano, causando falsos negativos. Se passar de 30 minutos após a coleta, a amostra deve ir pra geladeira a 2-8°C por até 4 horas! Se não conseguir processar nas 4 horas, colocar uma gota de formol para preservar o material. Quando conseguir tempo para processar, retirar da geladeira e elevar pra temperatura ambiente, para posteriormente homogeneizar. Lembrar: quanto mais tempo levar, mais cristais e bactérias vão aparecer na amostra. AVALIAÇÃO DA URINA ASPECTO FÍSICO Cor Amarelo palha (diluída), amarelo clara (normal), amarela concentrada (forte), cor de coca cola (mioglobina) e urina com sangue. Turbidez Urina turva / Urina límpida Como medir a turbidez da urina: colocar um jornal atrás da urina. Se conseguir ler as letras, está normal, se não, está turva. Urina turva representa alta concentração de cristais, muco proteínas, células, bactérias, lipídeos, cilindros. Isso normalmente se associa a patologias. Solutos Com o auxílio de uma pipeta de Pasteur, pingar uma gotinha da urina no refratômetro (já calibrado com água destilada). Na coluna de 0-12, avaliamos proteínas plasmáticas totais. Na coluna da direita, avaliaremos a densidade da urina. Pode acontecer da urina ultrapassar a marca de 1.040. Então, devemos diluir a urina em 1:1 (com água), medir a densidade e multiplicar o resultado por 2. A densidade urinária está relacionada a função dos rins (absorção e filtração)! Nisso, sabemos como está a capacidade dos rins de concentrar a urina. Classificação quanto a densidade Hipostenúria (1,001 – 1,007): urina com densidade abaixo da do plasma sanguíneo. Pode estar relacionado a não função dos rins ou até mesmo a alta ingestão de água. Isostenúria (1,007 – 1,013): urina com densidade igual a do plasma. Não é um bom indicativo. Hiperestenúria (acima de 1,013): urina com densidade acima da do plasma. É considerado “fisiológico”. Espécie Densidade Cães 1,020 – 1,045 Gatos 1,020 – 1,050 Equinos 1,020 – 1,045 Bovinos 1,020 – 1,045 Odor Verificar o cheiro da urina. Procurar odor fétido, pútrido, amoniacal, etc. ASPECTOS QUÍMICOS Feito com as tiras reagentes. Não se acata a informação de densidade da fita e as informações sobre o sangue. Então, deve-se mergulhar a fita na urina e contar o tempo específico de cada laboratório (informado na própria embalagem). Secar o excesso lateralmente com papel e realizar a leitura. Podemos avaliar a bilirrubina, o urobilinogênio, corpos cetônicos, ácido ascórbico (vitamina C), glicose, presença ou não de proteínas, sangue, pH, nitrito, presença ou não de leucócitos e densidade. Algumas avaliações são em cruzes, mas no geral, é um exame qualitativo e não quantitativo. pH Intervalo de referência: cães e gatos: 6,0 e 7,5 e herbívoros: 7,5 e 8,5. Alcalinúria: trata-se da elevação do pH (diminuição de secreção de H+). Pode levar a formação de cristais. Acidúria: trata-se da diminuição do pH (aumento da secreção de H+). Pode levar a formação de cristais. Proteínas Conforme a fisiologia do glomérulo, sabemos que algumas proteínas pequenas e de baixo peso molecular (micro albuminas) podem passar para serem reabsorvidas nos túbulos proximais. Este caso é chamado de proteinúria. Em cães sadios é normal ocorrer proteinúria (+), e ao passar disso, o caso já deve ser averiguado. Proteinúria pré-renal: aumento da concentração de proteínas plasmáticas. Proteinúria glomerular: quando ocorre uma lesão no glomérulo e não existe barreira de filtração. Com isso, passam mais proteínas pequenas e também grandes proteínas. Proteinúria tubular: problemas em túbulos, culminando na não reabsorção de proteínas importantes para o organismo. Proteinúria inflamatória: quando proteínas começam a sair devido a problemas no trato genital, ou na bexiga. Glicose Toda a glicose do sangue passa pelo glomérulo e é reabsorvida nos túbulos. Existe, porém, um limiar na barreira de filtração, fazendo com que a quantidade sobressalente continue no fluxo do filtrado ao invés de retornar à circulação. Normalmente uma hiperglicemia faz com que ocorra glicosúria. Off: caso encontre corpos cetônicos, glicosúria e elevação de glicose sérica, podemos aliar a clínica/semiologia e diagnosticar Diabetes mellitus. Cetonas/corpos cetônicos Oriundos de ingestão inadequada de nutrientes. O organismo também tem um limiar de reabsorção e ocorre da mesma maneira que a glicose. Corpos cetônicos na urina é chamado de cetonúria. É muito comum em baixas concentrações de insulina e altas concentrações de glucagon. Basicamente, a célula/organismo está com fome, mas não tem glicose para quebrar. Então, recorre a utilização dos estoques de gordura, liberando na quebra, corpos cetônicos. Grupo Heme Parte da Hgb além do ferro. Ao aparecer em grandes quantidades na urina, é sugestivo de: Hematúria: trauma, infecção, neoplasias. Basicamente observa-se sangue na urina. Hemoglobinúria: hemólise intravascular em alta quantidade, liberando o grupo Heme. Mioglobinúria: esforço extremo/trauma dos miócitos. Com isso, ocorre liberação de mioglobina (PTN capaz de fosforilar ADP em ATP) na corrente sanguínea. Então, a mioglobina confere uma coloração “amarronzada” na urina. Bilirrubina Ao sofrer glicuronização e se tornar conjugada, é liberada. Porém, ao aparecer na urina em grandes quantidades, pode ser indicativo de ↑ hemólise extravascular (baço, gado). Chama-se bilirrubinúria. Urobilinogênio Parte da bilirrubina que confere cor as fezes e urina e está presente no intestino. Doenças que impedem a liberação desta substância no intestino (doenças hepáticas, hemolíticas ou biliares) fazem com que as mesmas se acumulem e acabem por retornar a corrente sanguínea. Após isto, quando for filtrada e excretada, indicando patologias. SEDIMENTOSCOPIA A urina no tubo Falcon é centrifugada a 1.500 – 2.500 RPM, por 5 minutos. Utiliza-se o tubo Falcon pois o sobrenadante será despejado na pia e o resto da urina (sedimentos, células [leucócitos, hemácias, epitélio], cristais, cilindros) ficará sedimentado. Após, será homogeneizado e dividido em lâmina (1 gota com corante e uma sem corante). Particularidades em relação as formas de coleta Micção espontânea: presença de células, e bactérias.Se o animal estiver saudável, será em pequenas quantidades, obviamente. Cateterizado: presença de células epiteliais e hemácias. Cistocentese: apenas sangue, além da urina. Avaliação Fechar o diafragma do microscópio (para reduzir a luz). No menor aumento (10x), observar cilindros e cristais na extensão de 10 campos e contar. Após, no aumento de 100x (com óleo de imersão), procurar por bactérias e células e contar. Relatar TUDO. Hematúria: quando se observa mais de 5 eritrócitos/campo no maior aumento. Sempre comparar com o exame químico, densidade e pH. Causas: traumas ou forma de coleta. Piúria: quando se observa 5 ou mais leucócitos/campo no maior aumento. Causas: inflamação do trato urogenital, método de colheita. Células epiteliais: é normal em animais sadios. Causas: desprendimento de mucosa, método de coleta. Bacteriúria: a urina sempre será estéril até a uretra distal, correlacionar com o método de coleta. Observar o número e tipo de bactérias, avaliando se existe pouca/moderada/grande quantidade (ou sistema de cruzes). Fungos: observar sua presença e correlacionar com a forma de coleta! Causas: imunossupressão, antibiótico terapia prolongada. Parasitos: como Capillaria plica, Dioctophyma renale, Dirofilaria immitis. Observam-se os ovos ou microfilárias (dirofilariose) na urina. Lipídeos: apresentam-se em forma de gotas claras de tamanho variado. São refráteis (ao mover o micrômetro, brilham). Não existe relação entre a lipidúria com a lipemia alimentar. Cilindros: aparecimento de cilindros na urina (cilindrúria). A depender da forma do cilindro, conseguimos presumir doenças associadas. É normal aparecer 1 a 2 cilindros por campo, além disso, é necessário relatar. - Fisiológico: estoque reserva/inativo dos néfrons libera a muco proteína de Thamm – Horsfall e passa a ser ativo. - Patológico: destruição dos túbulos libera secreções proteicas/lipídicas em grande quantidade. Cilindros hialinos: de difícil observação, composto de muco proteínas e albumina. Sugestivo de doenças glomerulares. Cilindros granulosos: tem coloração amarelo acastanhado, composto por muco proteínas e células. Indicativo de pielonefrite, necrose tecidual, infarto. Cilindros céreos: tem coloração clara, aparenta ser vazio e tem extremidades quadradas, composto por muco proteínas apenas. Indica doenças tubulares crônicas, grave! Cilindros gordurosos: composto por muco proteínas e lipídeos. Aparece com frequência em gato. Indica doenças tubulares e diabetes mellitus Cristais: aparecimento de cristais na urina (cristalúria). Em animais hígidos, é apenas um achado de lâmina. Porém, em pacientes doentes, deve se correlacionar com o relato clínico. Normalmente, cristais não se formam sem razões específicas. Grandes quantidades de cristais formam urólitos (pedras) na bexiga. O armazenamento em geladeira predispõe a formação de cristais! Portanto, para identificar e laudar, necessitamos de urina fresca! Urato de amônia: sugestivo de insuficiência hepática, pois não ocorre degradação da amônia; pH baixo. Bilirrubina: bilirrubinemia ou bilirrubinúria e pH baixo Carbonato de cálcio: suspeita de presença oxalato de cálcio mono-hidratado. Oxalato de cálcio di-hidratado: suspeita de hipercalcemia e hipercalciúria. Excesso de cálcio! Oxalato de cálcio mono-hidratado: sugestivo de intoxicação por álcool (etilenoglicol) Fosfato de cálcio: pH alto na urina (alcalina). Suplementar com vitamina. Colesterol: sugestivo de hipercolesterolemia e nefropatias. Fosfato de amônio magnesiano/estruvita: pH alto da urina (alcalino). Frequente em cães, suplementar com vitamina C. AVALIAÇÃO QUANTITATIVA Parte bioquímica da urina. Avalia-se a quantidade de substância excretada x tempo. Relação proteína : creatinina urinária - dosar proteína total da urina e a creatinina. Quando estiver aumentada, é sugestivo de proteinúria. Acima de 5.0 indica doença glomerular, e com isso, analisar a gravidade da doença.
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