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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6605-6
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 0 5 6
Código Logístico
59266
A política pública social é um instru-
mento imprescindível ao serviço social, 
pois é por meio dela que os assistentes 
sociais constroem os encaminhamentos 
necessários para a efetivação dos direitos 
constitucionais, principalmente no que diz 
respeito ao direito à assistência social.
Com este livro o leitor compreenderá 
que o direito à assistência social se mate-
rializa por intermédio da sua política. Esta 
objetiva, entre outros propósitos, a con-
cretização do Estado democrático de di-
reito e, na mesma linha, a universalização 
da seguridade social brasileira. Essa pers-
pectiva requer dos profissionais do serviço 
social uma postura interventiva, crítica, éti-
ca, criativa e politicamente comprometida 
com a classe trabalhadora.
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Políticas sociais 
públicas
Mirian Cristina Lopes
IESDE BRASIL
2020
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: BoykoPictures/Elements.envato
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L854p
Lopes, Mirian Cristina
Políticas sociais públicas / Mirian Cristina Lopes. - 1. ed. - Curitiba 
[PR] : Iesde, 2020.
90 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6605-6
1. Política social. 2. Políticas sociais públicas. 3. Bem-estar social. I. 
Título.
20-65667 CDD: 361.61
CDU: 364-7
Mirian Cristina Lopes Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Especialista em Análise da Questão 
Social e graduada em Serviço Social pela mesma 
universidade. Professora em instituições de ensino 
superior, produtora de materiais didáticos, palestrante 
e ministrante de cursos de capacitação continuada em 
instituições públicas e privadas. Atua na implantação 
de projetos de extensão comunitária e como técnica 
de Serviço Social. Temas de interesse: políticas sociais, 
novas alternativas em educação e cultura política e suas 
relações com a desigualdade brasileira.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Fundamentos sócio-históricos da política social 9
1.1 O nascimento das políticas sociais na sociedade capitalista 9
1.2 A origem e a organização das políticas sociais no Brasil 14
1.3 Políticas públicas setoriais 21
2 As políticas afirmativas e os distintos sociais 31
2.1 O nascimento das políticas afirmativas 31
2.2 Distintos sociais x minorias sociais 37
3 O serviço social e as políticas sociais 62
3.1 O projeto ético-político do serviço social e a garantia de direitos 
sociais 62
3.2 Articulação histórica entre serviço social e políticas sociais 66
3.3 O trabalho do assistente social na política de assistência social 69
4 As políticas sociais na era dos desmontes de direitos 75
4.1 Avaliação de políticas sociais 75
4.2 Reformas e contrarreformas 79
4.3 Perspectivas para os tempos atuais 82
 Gabarito 87
A política pública social é um instrumento imprescindível ao serviço 
social, pois é por meio dela que os assistentes sociais constroem os 
encaminhamentos necessários para a efetivação dos direitos constitucionais, 
principalmente no que diz respeito ao direito à assistência social. 
Com este livro você compreenderá que o direito à assistência social 
se materializa por intermédio da sua política. E esta objetiva, entre outros 
propósitos, a concretização do Estado democrático de direito e, na mesma 
linha, a universalização da seguridade social brasileira. Essa perspectiva 
requer dos profissionais do serviço social uma postura interventiva, crítica, 
ética, criativa e politicamente comprometida com a classe trabalhadora. 
Desse modo, reforçamos a importância da leitura integral de todos os 
capítulos, pois eles oferecem um amplo leque de informações a respeito da 
origem e da organização da política pública social, bem como sobre vários 
outros elementos essenciais à compreensão do universo da garantia de 
direitos e em relação ao trabalho dos assistentes sociais. 
O livro também aborda conteúdos sobre fenômenos e fatos sócio-
históricos e socioculturais que podem nos ajudar a compreender as 
dinâmicas de discriminação, violência e criminalização, as quais constituem 
o cotidiano de vida de diversos grupos historicamente excluídos. 
Em suma, este estudo oferece conhecimentos gerais e específicos para 
que possamos compreender a importância das políticas públicas e das 
políticas públicas sociais. Os capítulos estão divididos de modo a levar ao 
entendimento da origem, da operacionalidade, das potencialidades, das 
limitações, das contradições postas no campo do debate dos direitos sociais 
e, principalmente, de onde e em que medida os assistentes sociais podem 
fazer a diferença.
Desejamos que você aproveite esta oportunidade de aprimoramento. 
Bons estudos!
APRESENTAÇÃOVídeo
Fundamentos sócio-históricos da política social 9
1
Fundamentos sócio-históricos 
da política social
As políticas sociais ocupam um lugar significativo na história das 
sociedades, pois é por meio delas que a humanidade tem conse-
guido avançar no enfrentamento às desigualdades sociais. Para o 
serviço social, esse é o ponto central do debate da importância das 
políticas públicas sociais.
É nesse sentido que a leitura deste capítulo se faz essencial, 
visto que você terá acesso aos fenômenos e fatos sócio-históricos 
que fizeram parte da construção e da organização das políticas so-
ciais, desde o seu nascimento.
1.1 O nascimento das políticas sociais 
na sociedade capitalista Vídeo
As políticas sociais emergiram na Europa, na segunda metade do sé-
culo XIX, como medidas de Estado direcionadas a aquietar os reclames 
populares que se ampliavam significativamente com os novos níveis 
de desigualdade gerados pela implantação do sistema capitalista. Esse 
foi um período da história contemporânea marcado pelo agravamento 
das mazelas sociais já vivenciadas pelas populações e pelo nascimento 
de novos tipos de precariedade de vida.
Segundo José Paulo Netto (2005), autor que estuda a origem da extre-
ma desigualdade social, configurou-se um período inédito da história mun-
dial, dado que a dinâmica da pobreza passou a se generalizar na Europa 
e nos demais países onde o processo de industrialização se instaurava.
Se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas so-
ciais, se vinha de muito longe a polarização entre ricos e pobres, 
se era antiquíssima a diferente apropriação e fruição dos bens 
10 Políticas sociais públicas
sociais, era radicalmente nova a dinâmica da pobreza que então 
se generalizava. Pela primeira vez na história registrada, a pobre-
za crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de 
produzir riquezas. (NETTO, 2005, p. 153, grifos do original)
Esse contexto se apresentou, primeiro, na Europa e, depois, avan-
çou para vários países do globo, conforme ampliou-se o processo de 
industrialização. A pobreza que já existia foi exacerbada e novas condi-
ções sociais, como desemprego e violência, passaram a fazer parte do 
cotidiano da vida social. O sistema capitalista passou a se apresentar 
como um modelo de produção que, à medida que criava riquezas (para 
os donos dos meios de produção), produzia desigualdades aindamais 
extremas para a maioria da população – os que só tinham a mão de 
obra como força para sobrevivência.
Devido às as características do novo sistema, os trabalhadores não 
possuíam meios para produzir, pois o acesso a bens e serviços passou 
a depender exclusivamente da dinâmica salarial. Assim, quem não ti-
nha acesso a emprego, passou a viver aquém de condições dignas de 
vida. Os pobres não podiam mais contar com a divisão alimentar ad-
vinda da produção de engenho e tampouco dispunham de meios para 
produzir no novo modelo econômico.
Desse modo, o novo sistema econômico – que surgiu em sua fase 
concorrencial – alterou as formas de organização sociais existentes, 
bem como configurou novas relações sociais, conjuntura que fez nas-
cer os conflitos de classe.
A nova condição de extrema pobreza, o alto nível de exploração dos 
trabalhadores e a ausência de efetivas possibilidades de negociação 
entre as classes sociais foram os fatores que conduziram os traba-
lhadores a iniciar movimentos de resistência e de luta contra a lógica 
industrial, ou seja, contra os moldes de acumulação de lucro, funda-
mentados na exploração das capacidades de trabalho dos proletaria-
dos (mais-valia), que resultavam em níveis extremos de injustiça social.
A constituição de um fragmentado, miserável e “indigno” pro-
letariado, acabou por gerar, progressivamente, um processo 
verdadeiramente revolucionário, constitutivo da modernidade 
liberal, permitindo que o livre acesso à força de trabalho tornas-
se a base, a partir da qual se reestruturou toda a “questão social”. 
O protagonismo dos atores sociais, o proletariado pauperizado, 
no cenário da época, altera, portanto, o estatuto do pauperismo 
Fundamentos sócio-históricos da política social 11
para “questão social”. Isso põe no centro da luta de classe como 
fator determinante do surgimento da “questão social” enquanto 
tal e a necessária consciência política da classe trabalhadora de 
que somente a superação da sociedade capitalista permite a su-
pressão da “questão social”. (CASTEL, 1995, p. 15 apud GUERRA; 
ORTIZ; VALENTE; FIALHO, 2007)
Ao fim do século XIX, a insatisfação com o processo de industrializa-
ção e urbanização já desencadeava diversos movimentos reivindicató-
rios em toda a Europa. Com apoio de alguns intelectuais da época, os 
trabalhadores se organizaram, construíram ciência de sua condição de 
classe e cravaram o início das lutas contra as desigualdades sociais cria-
das pelo capitalismo. Deixaram de aceitar que as problemáticas sociais 
fossem contrapostas apenas com ações de cunho caritativo, paliativo 
ou repressivo e passaram a exigir do Estado respostas mais efetivas 
diante das suas precárias condições de vida.
Assim nasceram as políticas sociais, em pleno auge da expansão e 
do aprimoramento da exploração capitalista e no contexto do surgi-
mento da pressão exercida pela organização dos trabalhadores – com 
vistas à exigência de direitos. Políticas estatais requeridas como res-
posta às demandas a ele impostas.
Contexto de exploração e de luta que, segundo Meirelles (2017, 
p. 14), resultou no nascimento da questão social, conceito muito utili-
zado pelo serviço social para explicar a raiz da desigualdade, e que, na 
visão da autora, deve ser entendido como o “resultado da exploração 
do trabalho pelo capital e da concentração de renda e propriedade que 
configuram a desigualdade social”.
É importante considerar que o fato de as políticas sociais terem 
emergido da pressão do movimento dos trabalhadores proletariados 
não significou que elas tenham sido criadas para atender apenas aos 
interesses dessa classe. Em meio ao “campo de tensões entre os inte-
resses do proletariado e da burguesia” (NETTO, 2003, p. 16), os capita-
listas perceberam que, além de aquietar a pressão dos trabalhadores, 
as políticas sociais também poderiam ser utilizadas para alavancar a 
própria economia, ou seja, para os seus próprios interesses.
E nessa direção, as elites econômicas e políticas da época conduzi-
ram o Estado a criar um sistema de proteção social que também ser-
viu aos seus interesses capitalistas. A Alemanha, por exemplo, foi um 
12 Políticas sociais públicas
dos países europeus que, com os reclames sociais, pensou um novo 
modelo de Estado, voltado a implantar políticas sociais capazes de po-
tencializar o modo de produção capitalista, ao mesmo tempo em que 
garantiria algum bem-estar ao todo da população.
Um projeto político de desenvolvimento capaz de criar um Estado 
com base em uma ciência administrativa, capaz de promover um 
bem-estar social que implicasse a orientação de uma economia, volta-
da à prática do mercantilismo, que, em suma, “gerisse eficientemente 
os impostos, intervisse com os instrumentos apropriados, técnicos, ad-
ministradores e experts setoriais” (BRAGA, 1999, p. 194-195).
Esses novos modelos de Estado, capazes de intervir mais efetiva-
mente no social, foram chamados de Estado de bem-estar social, e 
passaram a ser implantados por meio de medidas interventivas (po-
líticas públicas), tanto para reduzir desigualdades quanto para im-
pulsionar planos de desenvolvimento econômico. Nesse ínterim, na 
segunda metade do século XIX, as políticas sociais foram implantadas 
em diversos países da Europa, sendo arranjadas de modo diferencia-
do em cada território.
Segundo Draibe e Henrique (1988), desde então os países capita-
listas aprenderam que em determinados períodos históricos é pre-
ciso equiparar a distribuição de renda para movimentar a base da 
economia e, ao mesmo tempo, impedir que os trabalhadores prole-
tariados organizem uma revolução social. O que fez surgir um tipo de 
cidadania controlada, que tem suas facetas de concretude (WILENSKI, 
1975; QUADAGNO, 1988).
Contudo, para Marshall, o grau contraditório que constitui as políti-
cas públicas sociais não se efetiva como um total impedimento à cria-
ção de uma cidadania completa, visto que:
o processo de ampliação progressiva da cidadania, manifestado 
na ampliação desses direitos, faz com que a igualdade formal e 
abstrata pressione no sentido da igualdade real e concreta, ao 
menos até que as diferenças existentes entre os indivíduos, no 
que se refere às suas condições de vida, não ofendam a concep-
ção prevalecente em cada sociedade do que é ou não tolerável. 
(MARSHALL, 1950, p. 36)
Segundo Wolf (2015), os quatro modelos de Estado de bem-es-
tar social que foram criados na Europa Ocidental influenciaram 
várias outras nações que, posteriormente, também implantaram 
Fundamentos sócio-históricos da política social 13
experiências de Estados de proteção social. Os modelos matrizes 
apresentam as seguintes tipificações: o modelo anglo-saxão (Irlan-
da e Reino Unido), o modelo continental (Alemanha, Áustria, Bél-
gica, França, Luxemburgo e Países Baixos), o modelo escandinavo 
(Dinamarca, Finlândia e Suécia) e o modelo mediterrâneo (Espa-
nha, Grécia, Itália e Portugal).
O modelo anglo-saxão caracteriza-se pelo papel residual do Estado 
que, mediante o recolhimento de impostos, assegura o pleno funciona-
mento do sistema econômico e algumas das necessidades fundamen-
tais dos grupos sociais que vivenciam níveis de miséria e de pobreza. O 
processo é pouco efetivo com relação ao enfrentamento real das desi-
gualdades sociais.
No modelo continental, o Estado assume um papel interventivo su-
perior ao do mercado, como mecanismo de resposta às necessidades 
individuais fundamentais. Esse processo é realizado por meio do pa-
gamento de contribuições mais igualitárias. Nesse modelo de Estado 
verifica-se maior regulamentação do mercado de trabalho e níveis de 
desigualdade mais reduzidos.
O modelo escandinavo garante benefícios sociais, independente-
mente do pagamento de contribuições, financiados por meio de impos-
tos. Verifica-se um grau elevado de coesão social, com níveis reduzidos 
de miséria e de pobreza.
Por fim, no modelo mediterrâneo os benefícios e serviços sociais 
são bem reduzidos. O acesso à maioria dos benefícios existentesvaria 
em função do tipo de ocupação e, portanto, do valor de contribuição 
pago por cada sujeito. Há, também, benefícios concedidos, indepen-
dentemente do pagamento de contribuições. Nesse modelo, verifica-se 
uma parcela expressiva da sociedade vivendo em situação de vulnera-
bilidade, além de ser notável a maior incidência de práticas clientelistas 
e níveis extremos de desigualdades sociais, se comparados aos demais 
modelos (WOLF; OLIVEIRA, 2016).
O nascimento das políticas sociais desenhou novos tipos de so-
ciedade, principalmente no que diz respeito ao exercício efetivo 
da cidadania, pois ainda que os sistemas de proteções sociais im-
plantados não tenham sido suficientes para que os trabalhadores 
pudessem construir “estratégias para confrontar, na mesma me-
dida, as estruturas do poder econômico instauradas no âmbito do 
14 Políticas sociais públicas
Estado”, é inegável que as “políticas sociais garantiram aos traba-
lhadores, o acesso a melhores condições de vida e de participação 
na agenda política” (LOPES, 2014, p. 133).
1.2 A origem e a organização das 
políticas sociais no Brasil Vídeo
Como estudamos na seção anterior, os modelos de proteção social 
passaram a ser implementados com a concepção de que o Estado deve 
se impor como mediador da relação capital/trabalho, a fim de intervir 
com vistas à proteção social dos sujeitos que se encontrem em situação 
de risco e/ou vulnerabilidade social.
Para tal, instituíram-se tipos de entendimento e prática de Estado 
voltados ao bem-estar social das nações, uma alteração significativa 
na história da humanidade, contexto que resultou tanto da organiza-
ção dos trabalhadores e da reorganização estratégica do capitalismo, 
após sofrerem o questionamento dos movimentos populares quanto 
às desigualdades criadas, quanto das experiências pós-guerras, que 
alteraram a forma de pensar o social na maioria das sociedades que 
compõem o globo.
No que concerne à realidade brasileira, ainda há divergência a res-
peito da existência ou não da implantação de um Estado de bem-estar 
social no Brasil. A literatura se apresenta heterogênea e diversificada 
com relação à definição de um padrão brasileiro de proteção social, 
dado que a experiência brasileira, no que se refere às políticas sociais, 
é ainda muito recente (em termos históricos).
Também, há de se considerar que a maioria dos estudos realizados 
tem focado o aspecto da denúncia, no que diz respeito à importância 
das políticas sociais para a efetividade de direitos (estudos sociais) e/ou 
sobre a ausência delas (diagnósticos). Segundo Vianna e Silva (1989), 
isso ocorre porque a “política social brasileira não tem sido examinada, 
no seu conjunto, sob a ótica analítica do Welfare State” 1 .
Em comparação com os tipos de Estado de bem-estar social implan-
tados em outros países, identificam-se, no Brasil, semelhanças e distin-
ções no que diz respeito à configuração das políticas sociais. Em suma, 
questiona-se a real implantação de um Estado de bem-estar social no 
país, dado que a realidade brasileira apresenta tipos incompletos de 
Para compreender me-
lhor as experiências da 
humanidade com relação 
às grandes guerras, vale 
a pena assistir a série de 
documentários intitulada 
O Mundo em Guerra.
Disponível em: https://www.
dailymotion.com/video/xzgnf6. 
Acesso em: 28 jul. 2020.
Filme
Também denominado Estado de 
bem-estar social.
1
 https://www.dailymotion.com/video/xzgnf6
 https://www.dailymotion.com/video/xzgnf6
Fundamentos sócio-históricos da política social 15
cidadania: cidadania regulada; cidadania cooptada; cidadania residual 
e cidadania fragmentada (ABRANCHES, 1982; DRAIBE, 1995; ESCOREL, 
1993; SANTOS, 1987).
A cidadania regulada refere-se à cidadania oriunda de um sis-
tema de estratificação ocupacional, e não de um entendimento de 
código de valores políticos. Dito de outro modo, trata-se de um tipo 
de cidadania ditada e fiscalizada pelo sistema estatal, por meio de 
medidas de padronização do que é ser cidadão (indústria cultural, 
mecanismos de policiamentos etc.). Já a cidadania cooptada se ca-
racteriza pelo controle do entendimento dos benefícios sociais, no 
sentido de materializá-los, não como direito, mas como privilégio 
(apesar de garantidos pelo Estado).
Na mesma linha de análise, observa-se que a cidadania residual é 
aquela que se institui com o beneficiamento de determinados grupos, 
com base em critérios de renda mínima, com vistas ao privilegiamento 
de grupos de risco (crianças, gestantes, nutrizes, deficientes e idosos). 
E a cidadania fragmentada traz luz ao debate acerca da dualidade 
existente entre uma minoria rica que vive na extrema riqueza e é con-
templada por diversas oportunidades da vivência cidadã e uma maioria 
pobre que vive à margem do exercício da cidadania (ABRANCHES, 1982; 
DRAIBE, 1991; ESCOREL, 1993; SANTOS, 1987).
Os países latino-americanos objetivaram construir, até os anos 
1970, as estruturas básicas de seus modelos de Estados de bem-estar 
social; porém, iniciaram o movimento de modo descontextualizado das 
suas particularidades. Uma tentativa de encaixe de modelos de Estado 
não encaixáveis em suas realidades.
A influência do contexto internacional deu tom à realidade bra-
sileira, no sentido de ensaiar a implantação de um Estado de bem-
-estar social. Foram criados direitos políticos, algumas políticas de 
saúde e se desenhava a construção de medidas voltadas ao ordena-
mento de recursos para o financiamento da previdência social. Em 
alguns estados brasileiros, por exemplo, já se debatia proposições 
de medidas interventivas mais amplas no campo da habitação, ali-
mentação e da nutrição (DRAIBE, 1995).
Contudo, o que realmente se efetivou foi a influência internacio-
nal de um Estado configurado por reformas institucionais voltadas a 
modificar e reestruturar a máquina estatal, sob a perspectiva do “pri-
16 Políticas sociais públicas
vilegiamento e do planejamento direto, da racionalização burocrática 
e da supremacia do saber técnico sobre a participação popular”. Esse 
período demarca a passagem do Estado populista para o tecnocrático 
(PEREIRA, 2002, p. 135).
Na sequência, o Estado brasileiro foi regido pelo regime militar que, 
de 1964 a 1985, restringiu e eliminou os poucos direitos existentes na 
época, como os direitos políticos – um exemplo foi o Ato Institucional 
n. 5 (AI-5), instaurado em dezembro de 1968, pelo general Costa e Sil-
va, que decretava a suspensão das atividades do Congresso Nacional e 
autorizava a perseguição a opositores. Ao total, foram promulgados 18 
atos institucionais que eliminaram significativamente a perspectiva de 
um Estado de direito e de bem-estar social, modelo de Estado que se 
instaurava pelo mundo (NAPOLITANO, 1998).
Além da retirada dos direitos políticos, houve forte repressão a 
qualquer manifestação de opinião diversa à do regime, ou seja, a li-
berdade de expressão não era permitida. Em termos econômicos, os 
militares buscaram empréstimos com o capital estrangeiro e instau-
raram medidas de corte de despesa, como a redução dos salários e 
dos direitos dos trabalhadores, o aumento de tarifas dos serviços pú-
blicos e a restrição de crédito, o que proporcionou, inicialmente, o 
fortalecimento da economia nacional, mas, posteriormente, em 1985, 
resultou na quebra do país, devido à crise instaurada pelo montante 
da dívida internacional.
Neste período o país foi governado por militares como os gene-
rais Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Emilio Garrastazu 
Médici, Ernesto Geisel e João Baptista Figueredo. Vale ressaltar 
que no governo Médici conhecido como “Anos de Chumbo” de-
vido ao aumento da repressão e censura o país também passou 
por um “Milagre Econômico” com o objetivo de desenvolvimento 
era conseguido com grandes projetos financiados pelo capital 
externo, com isso, de 1968 a 1973 a economia brasileira cresceu 
a uma média de 12% ao ano, os fatores que contribuíram foram 
os empréstimos externos e investimentos estrangeiros, a expan-são industrial (automóveis e eletrodomésticos), aumento das ex-
portações industriais e produtos agrícolas (soja, laranja), mas os 
salários ficaram baixos a mortalidade infantil aumentou, cresceu 
a miséria da população e também foi a época das grandes obras 
entre elas, a ponte Rio – Niterói e a estrada Transamazônica, foi 
também nesta época que o Brasil sagrou-se tricampeão mundial 
de futebol no México em 1970 todos esses “fatores positivos” era 
Fundamentos sócio-históricos da política social 17
usado pelo governo militar como propaganda a seu favor. ‘O país 
vai bem, mas o povo vai mal (Reconhecimento de Médici em visi-
ta ao nordeste)’. (BOULOS JR., 2009, p. 232-233)
A resistência ao regime ocorreu, inicialmente, por meio da organiza-
ção de estratégias de fuga do forte sistema de controle instituído pelos 
militares (Serviço Nacional de Informação – SNI). Artistas manifestavam 
crítica ao cenário opressor com peças, poesias e festivais de música 
que continham mensagens implícitas, jornalistas elaboraram jornais 
alternativos, como O Pasquim, e panfletos que ofereciam conteúdos 
teóricos e menções ideológicas, sindicalistas, estudantes e intelectuais 
se organizaram e planejaram atos de resistência e enfrentamento ao 
regime. O movimento conhecido como Diretas Já foi a organização que 
reuniu diversos grupos de oposição ao regime militar, instituiu passea-
tas e diversas manifestações.
Em suma, tratou-se de um capítulo peculiar da história brasileira 
que deixou cicatrizes. O endividamento do setor público também foi 
uma das heranças deixadas pelo regime militar, visto que na ten-
tativa de “compensar” a retirada dos direitos políticos, realizaram 
descomunais empréstimos internacionais a fim de promover o cres-
cimento econômico e a modernização no país. Contudo, o equilíbrio 
econômico instaurado não beneficiou a distribuição de renda e o 
resultado foi a ampliação da desigualdade social no país. Contexto 
que também exerceu forte influência na organização popular contra 
as arbitrariedades do governo.
A transição do regime militar para o Estado democrático de direi-
to se deu mediante dois grandes marcos históricos: a eleição do novo 
presidente da República, em 15 de janeiro de 1985 (empossa Tancre-
do Neves, que logo adoece e acaba falecendo, e assume seu vice, José 
Sarney), e a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988.
A Constituição Federal (CF) brasileira foi instaurada e, com ela, o país 
inaugurou um amplo leque de direitos fundamentais – direitos retira-
dos pela ditadura foram retomados e novos direitos instituídos, com 
base nos aprendizados resultantes do período ditatorial.
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi-
dentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos 
A série Os dias eram assim 
retrata o contexto viven-
ciado pela população 
brasileira do período do 
regime militar até o acon-
tecimento do movimento 
Diretas Já. Esse contexto 
histórico é de extrema 
importância para o 
nascimento das políticas 
públicas sociais. 
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=eq5U8DKCzTE. Acesso 
em: 28 jul. 2020.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=eq5U8DKCzTE
https://www.youtube.com/watch?v=eq5U8DKCzTE
https://www.youtube.com/watch?v=eq5U8DKCzTE
18 Políticas sociais públicas
termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu-
mano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, 
além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na 
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência 
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença re-
ligiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar 
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a 
cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica 
e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
gem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano 
material ou moral decorrente de sua violação [...]. (BRASIL, 1988)
Desse modo, a CF/1988 consagrou um novo modelo jurídico de so-
ciedade e de Estado, no qual o direito passa a ser entendido como in-
trínseco à condição humana. A Carta Maior passa a ser, portanto, o 
principal instrumento com o objetivo de efetivação da cidadania. Um 
dos marcos inéditos para a realidade brasileira se localiza nos artigos 
constitucionais 203 (prevê os destinatários) e 204 (prescreve as ações 
governamentais, a destinação de recursos que as diretrizes base de 
funcionamento), transcritos a seguir.
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessi-
tar, independentemente de contribuição à seguridade social, e 
tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência 
e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de defi-
ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa 
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir 
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por 
Fundamentos sócio-históricos da política social 19
sua família, conforme dispuser a lei.
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social 
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade so-
cial, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas 
com base nas seguintes diretrizes:
I - descentralização político administrativa, cabendo a coorde-
nação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a 
execução dos respectivos programas às esferas estadual e muni-
cipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social;
II - participação da população, por meio de organizações repre-
sentativas, na formulação das políticas e no controle das ações 
em todos os níveis.
Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal 
vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até 
cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, veda-
da a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela 
Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003);
I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emen-
da Constitucional nº 42, de 19.12.2003);
II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, 
de 19.12.2003);
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamen-
te aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda 
Constitucional nº 42, de 19.12.2003). (BRASIL, 2003)
Assim, tivemos o nascimento da assistência social, prescrita como 
política social pública, aprimorada pela Lei Orgânica da Assistência 
Social (LOAS) em 1993, instituída como direito de todo cidadão que 
dela tiver necessidade. Trata-se de um conjunto integrado de ações 
estatais, voltado a assegurar os direitos sociais e o rompimento do 
caráter conservador (assistencialismo e filantropia) atribuído às políti-
cas sociais nos anos que antecederam a CF/1988. A assistência social 
objetiva desenhar e implantar novos tipos de entendimentos e práti-
cas diante da condição de vulnerabilidade e/ou risco social da popula-
ção brasileira (BRASIL, 1993).A LOAS (Lei n. 8.742/1993) regulamenta os artigos 203 e 204 da 
CF/1988, reafirmando a concepção de assistência social como políti-
ca pública universal e enfatizando a particularidade da necessidade e 
obrigatoriedade de que sua gestão se efetive de modo participativo.
Desse modo, a responsabilidade da organização da assistência so-
cial passa a ser designada às diferentes esferas do governo, situando-as 
20 Políticas sociais públicas
quanto à descentralização político-administrativa, à divisão com rela-
ção a coordenação e a execução das ações, bem como às competências 
específicas da esfera federal, estadual e municipal. Coube também à 
LOAS assegurar o espaço de participação da sociedade (as organiza-
ções não governamentais e os conselhos paritários e deliberativos), 
diante do controle e da gestão das políticas sociais (BRASIL, 1993).
Na sequência dos marcos históricos que configuram a materiali-
zação da seguridade social no Brasil, apresenta-se a Política Nacional 
de Assistência Social (PNAS), estabelecida em 2004, mais de uma dé-
cada após a promulgação da LOAS. A PNAS apresenta características 
peculiares responsáveis pela potencialidade do real acesso às políticas 
sociais e, portanto, pela efetivação da legalidade imposta pela LOAS. 
Para tal, enfatiza: a perspectiva socioterritorial, ou seja, a identificação 
e atuação diante das demandas, conforme as particularidades de cada 
região brasileira (cidades, municípios e bairros); e a elaboração de es-
tratégias de atuação intersetorial, com vistas à constituição de serviços 
articulados em rede e à centralização sociofamiliar (BRASIL, 2004).
De modo geral, a PNAS conduz atuações mais significativas quanto 
à seguridade social e confere maior grau de eficiência, eficácia e efe-
tividade com relação à superação da desigualdade social brasileira. A 
melhor identificação dos diferentes níveis de vulnerabilidade e de risco 
(com base na realidade vivenciada em cada parte do território nacional) 
e a visibilização social dos grupos historicamente oprimidos.
No ano seguinte da criação da PNAS, já em 2015, tivemos a ins-
tituição do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), enquanto 
principal instrumento de implantação da PNAS. Um sistema que 
unifica cerca de 50 artifícios técnicos e políticos com o intuito de 
organizar e estabelecer ações, projetos e programas socioassisten-
ciais. Uma das mais importantes propostas do sistema se refere ao 
direito de participação e protagonismo dos usuários da proposição 
ao uso dos serviços (SPOSATI, 2006).
A base de operacionalização dos rumos e da gestão pública do SUAS 
é normatizada pela Norma Operacional Básica (NOB/SUAS), também 
aprovada em 2005. Essa norma estabelece: o estilo do sistema e suas 
funções, bem como seu financiamento; as instâncias de articulação e 
deliberação; e os níveis de gestão. Quanto aos princípios, é regida pela: 
universalidade; padronização; tipificação de atendimentos; descentrali-
A Lei Orgânica da 
Assistência Social é um 
dos principais instrumen-
tos interventivos com 
relação ao atendimento 
das pessoas que vivem 
em situação de extrema 
pobreza. 
Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8742compilado.htm. Acesso em: 
28 jul. 2020.
Leitura
 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm
 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm
 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm
Fundamentos sócio-históricos da política social 21
zação político-administrativa; fiscalização e controle; articulação de co-
bertura com as demais políticas; manutenção do sistema democrático e 
participativo, juntura institucional com órgãos de sistemas de defesa dos 
direitos humanos; manutenção do sistema de gestão de pessoas e ges-
tão e controle social da atuação por níveis de complexidade protetiva.
Desse modo, com a CF/1988, a LOAS, a PNAS e o SUAS, o Brasil inau-
gura uma nova era de seguridade para seu povo. De modo direto e 
indireto, estabelece o “tom e os rumos” do sistema de proteção social 
brasileiro e se configura como um dos principais mecanismos de dis-
tribuição de renda do país. Incide a nível nacional, em processos am-
plos, dinâmicos e complexos de democratização do acesso à garantia 
de direitos sociais, com base na garantia de condições de sobrevivência 
(renda e autonomia), acolhida e vivência familiar.
1.3 Políticas públicas setoriais 
Vídeo O século XXI tem sido demarcado por uma moderna gestão estatal 
que resultou em maior efetividade da função do Estado, bem como na 
democratização da participação cidadã – conferências, Conselhos de 
Direito, sistema de prestação de contas com maior transparência.
A integração de novos atores da sociedade civil (do planejamento 
à fiscalização da política pública), o estabelecimento de parcerias com 
organizações sem fins lucrativos e a atuação particularizada, por meio 
da definição de setores, também foram significativas transformações 
desse período. Ao passo em que se ampliava a responsabilidade esta-
tal, com a criação de políticas sociais, também se fortalecia a pressão 
do mercado para a terceirização dos serviços públicos.
Uma das dimensões da organização do Estado, que bem caracteriza 
esse período, refere-se ao planejamento de ações e projetos direciona-
dos a determinados setores da sociedade, isto é, às políticas públicas 
setoriais: setor agrário, saúde, assistência social, meio ambiente, entre 
outros, como o setor de educação.
À medida que se constituíam os novos cenários no âmbito do 
Estado, a aplicabilidade das políticas públicas foi se tornando mais am-
pla, complexa e organizada, com setores integrados, o que possibilitou 
uma visão mais totalitária das problemáticas da sociedade e o melhor 
encaminhamento das demandas.
22 Políticas sociais públicas
A divisão setorial é organizada com foco no desenvolvimento de 
políticas que atendam às particularidades de determinados setores da 
sociedade. Em outras palavras, as ações, os projetos e os programas 
públicos abarcam recursos específicos referentes a cada setor: espe-
cialidade técnica, recurso próprio, tecnologias peculiares, base teórica 
específica, bem como leis e diretrizes setoriais. Trata-se de um tipo de 
divisão estratégica que potencializa o estabelecimento de objetivos, 
plano de atuação, alocação de recursos econômicos e humanos.
Contudo, a divisão setorial requer avanços, visto que apresenta certa 
propensão a desconexões e disputas entre setores, devido ao difícil mane-
jo das relações sociais, tanto na questão do entendimento da necessidade 
de atuação interdisciplinar quanto da troca e do acompanhamento do ciclo 
de atendimentos. A articulação entre atores e instituições – intersetoriali-
dade – é um desafio que compõe a aplicabilidade das políticas setoriais.
A intersetorialidade se refere a práticas de aproximação e conexão 
entre diferentes setores. Trata-se, em suma, de uma estratégia que exige 
uma práxis mais maturada, voltada a fomentar e promover ações coope-
racionais e integrativas, a fim de que as políticas públicas alcancem maior 
eficiência, eficácia e efetividade. No entanto, isso dificilmente se efetiva 
de modo integral, dadas as particularidades da cultura política brasileira, 
que ainda apresenta fortes heranças do Brasil colonial.
A divisão setorial é um tipo de fragmentação estrutural que 
compõe o atual modelo de Estado. As políticas setoriais são cria-
das e implementadas por meio de medidas que beneficiam o olhar 
mais focalizado na especificidade e potencializam a objetividade no 
trato de determinada problemática; contudo, na mesma medida, 
podem se tornar um deficit de gestão quando aplicadas de modo 
centralizado e desarticulado.
Assim, o que se observa no Estado, seja em órgãos federais, 
estaduais e municipais é uma desarticulação na formulação e 
implementação de políticas públicas que gera uma ineficiência 
e ineficácia por parte do Estado, uma vez que se despedem re-
cursos para programas ou políticas para tratar públicosseme-
lhantes ou distintos que não atingem os resultados devidos. 
(LIPPI, 2009, p. 21)
Contudo, as experiências têm sido mais positivas do que negativas. 
A assistência social, por exemplo, é um setor que tem exercitado uma 
divisão estratégica integrativa do funcionamento dos serviços e meca-
Fundamentos sócio-históricos da política social 23
nismos. As políticas sociais apresentam alta capacidade de articulação, 
integração, ampliação e áreas de complexidade.
A assistência social, como direito constitucional, é gerida pelo Mi-
nistério do Desenvolvimento Social (MDS), órgão que objetiva atuar no 
enfrentamento à pobreza e no combate da pobreza extrema, frente 
que tem como base a PNAS. Em suma, compõem a gestão do MDS: o 
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); o Fundo Nacional de Assis-
tência Social (FNAS); o Fundo Nacional de Combate e Erradicação da 
Pobreza (FNCP); o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); a 
Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e o Conselho Nacional de Segu-
rança Alimentar e Nutricional (CONSEA). (BRASIL, 2018)
O MDS é o principal responsável pela coordenação e implemen-
tação do SUAS, estratégia de gestão compactuada com os estados e 
municípios, mediante repasses de fundos de financiamento. As Or-
ganizações da Sociedade Civil (OSC) também integram esse sistema 
unificado. A articulação entre gestores federais, estaduais, municipais 
e sociedade civil é a estratégia de gestão organizacional que melhor 
corresponde à necessidade de rede de proteção e promoção social 
do país. O SUAS é extremamente moderno no que diz respeito à 
sua gestão e operacionalização, visto que seu planejamento e insti-
tucionalização preveem a articulação de saberes e experiências do 
planejamento à avaliação, a cooperação entre diferentes setores e a 
participação de diferentes atores sociais.
O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) conta em sua es-
trutura com os órgãos de assistência direta e imediata ao Mi-
nistro de Estado: Gabinete da Ministro (GM); Assessoria Especial 
de Controle Interno (AECI); Consultoria Jurídica (CONJUR); Se-
cretaria Executiva (SE); Secretaria Nacional de Assistência Social 
(SNAS), que faz a gestão da Política Nacional de Assistência So-
cial e do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS); A Secre-
taria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), que executa a 
Política Nacional de Renda de Cidadania e realiza as atividades 
de gestão do Bolsa Família e do Cadastro Único para Programas 
Sociais; A Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento 
Humano (SNPDH) é responsável pela formulação e implemen-
tação de políticas e programas intersetoriais para a promoção 
do desenvolvimento humano, em especial para primeira infân-
cia, adolescentes, jovens e idosos. Também coordena, super-
visiona e acompanha a implementação do Plano Nacional da 
Primeira Infância; A Secretaria Nacional de Segurança Alimentar 
24 Políticas sociais públicas
e Nutricional (Sesan), que implementa a Política Nacional de Se-
gurança Alimentar e Nutricional e realiza ações estruturantes e 
emergenciais de combate à fome e de inclusão produtiva rural. 
A Sesan exerce o papel de Secretaria Executiva da Câmara In-
tersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN); A Se-
cretaria de Inclusão Social e Produtiva (Sisp) é responsável pelo 
planejamento, implementação e monitoramento de planos, polí-
ticas e programas de inclusão social e produtiva para os benefi-
ciários dos programas do MDSA; A avaliação e o monitoramento 
das ações e programas desenvolvidos pelo MDS são atribuições 
da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi), que 
também realiza e divulga estudos e pesquisas e viabiliza ciclos 
de capacitação de agentes públicos e sociais; Instituto Nacional 
do Seguro Social que regula a Previdência Social, direito social, 
previsto no art. 6º da Constituição Federal de 1988 entre os Di-
reitos e Garantias Fundamentais, que garante renda não inferior 
ao salário mínimo ao trabalhador e a sua família nas seguintes 
situações, previstas no artigo nº 201 da Carta Magna: I - cobertu-
ra dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II 
proteção à maternidade, especialmente à gestante; III proteção 
ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segu-
rados de baixa renda; V pensão por morte do segurado, homem ou 
mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes. (BRASIL, 2018)
A gestão do SUAS é executada entre a União – que tem a responsa-
bilidade de formular, fiscalizar e coordenar as ações gerais do sistema 
–, os estados e os municípios – que têm seus papéis desenhados pela 
NOB/SUAS. O planejamento de gestão do SUAS prevê três níveis de 
evolução, segundo as particularidades e capacidades dos municípios: 
inicial, básico e pleno.
Nesse ínterim, o maior campo de responsabilidade cotidiana fica 
a cargo dos municípios, que no nível inicial são responsáveis pela ga-
rantia de existência de conselhos de direito, bem como pelo controle 
dos fundos e dos planos municipais de assistência social. Já no nível 
básico, compete aos municípios gerir com autonomia a gestão da 
proteção básica, e no nível pleno, o município assume a gestão total 
de suas ações socioassistenciais.
A construção do processo de gestão descentralizada acontece tam-
bém por meio dos espaços de troca e partilha, por intermédio de suas 
instâncias de pactuação: a Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e as 
Comissões Intergestores Bipartite (CIB):
Fundamentos sócio-históricos da política social 25
A CIT é um espaço de articulação e expressão das demandas 
dos gestores federais, estaduais e municipais. Ela negocia e 
pactua sobre aspectos operacionais da gestão do Suas e, para 
isso, mantém contato permanente com as CIBs, para a troca 
de informações sobre o processo de descentralização [...] cabe 
a cada ente organizar a assistência social por meio do sistema 
descentralizado e participativo denominado SUAS, de acordo 
com sua competência, em consonância com Constituição Fede-
ral e os normas gerais exaradas pela União, de forma a otimizar 
os recursos materiais e humanos, além de possibilitar a pres-
tação dos serviços, benefícios, programas e projetos da assis-
tência social com melhor qualidade à população. Ademais, vale 
destacar que o Pacto de Aprimoramento do SUAS do quadriê-
nio 2014- 2017, aprovado por meio da Resolução nº 18 de julho 
de 2013, do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, 
destinado à gestão municipal, prevê como prioridade a adequa-
ção da legislação municipal ao SUAS, tendo como meta a atua-
lização ou instituição por todos os municípios de lei que dispõe 
acerca do respectivo Sistema. (IGD/SUAS, 2014)
Desse modo, a gestão setorial descentralizada tem se mostrado efe-
tiva na ampliação da capacidade de execução da PNAS e do SUAS, dada 
a potencialidade à articulação prevista nos moldes da descentralização 
e da perspectiva de cooperação entre governo federal, estadual e mu-
nicipal. Um tipo de gestão complexa e altamente refinada.
O MDS tem sido pautado para a exequibilidade da gestão da assis-
tência social, pelas seguintes frentes: gestão compartilhada; capacitação 
permanente do apoio técnico (orientação e capacitação da equipe técni-
ca responsável pela implantação dos serviços); vigilância socioassistencial 
(sistematização de dados e análise diante da demanda real e de serviços 
prestados); tipificação de serviços e financiamento (normas e diretrizes); 
efetivação do pacto de aprimoramento (ações de estruturação e aper-
feiçoamento do SUAS:  planejamento e acompanhamento da gestão, 
organização e execução dos serviços, programas, projetos e benefícios 
socioassistenciais); entre outros, como a regulação do SUAS – elaboração 
de leis, regras, normas, instruções, além da assessoria normativa para o 
desenvolvimento da política de assistência social. (BRASIL, 2018)
A aplicabilidade da gestão descentralizada da política de assistência 
social ocorre medianteimplantação de programas e serviços que obje-
tivam garantir suporte de atendimento por tipificação de demanda, ou 
seja, um leque de serviços voltados a prevenir situações de violação de 
26 Políticas sociais públicas
direitos e outro leque de programas voltados a apoiar pessoas que já se 
apresentam na condição de direito violado. Em outras palavras, o Ser-
viço de Proteção Social Básica e o Serviço de Proteção Social Especial.
O Programa Bolsa Família é o programa de assistência social 
mais conhecido, devido à sua abrangência. Trata-se do programa de 
transferência de renda mais amplo do mundo (abrange 50 milhões 
de beneficiários), coordenado pelo MDS e articulado a outros progra-
mas e serviços, como: Proteção e Atenção Integral à Família (PAIF); 
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI); 
População em Situação de Rua; Programa Bolsa Família; Convivência 
e Fortalecimento de Vínculos; Equipes Volantes; Abordagem Social; 
Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosos e 
suas Famílias; Serviços de Acolhimento; Medidas Socioeducativas; 
Situação de  Calamidade Pública; Benefício de Prestação Conti-
nuada BPC; Acessuas Trabalho, assim como as Ações Estratégicas 
do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.
Os programas e serviços são implantados por meio de mecanis-
mos públicos, bem como em entidades sem fins lucrativos que tenham 
atuação direcionada ao atendimento assistencial de crianças e/ou 
adolescentes, mulheres vítimas de abuso e/ou violência, pessoas com 
deficiência, pessoa em situação de rua e idosos. Adentram esse univer-
so: unidades de acolhimento (Casa Lar, Abrigo Institucional, República, 
Residência Inclusiva, Casa de Passagem), os Centros de Referência de 
Assistência Social (CRAS), o Centro de Referência Especializado de Assis-
tência Social (CREAS), entre outros mecanismos, como os Centro-Dia de 
Referência para Pessoa com Deficiência e suas Famílias.
Assim, a assistência social, como política setorial, por meio de 
um diverso campo de ações, projetos e programas, busca fomen-
tar e promover novos cursos na condição de vida dos sujeitos que 
se encontrem em situação de vulnerabilidade e/ou risco social. 
Também desenvolve o papel de criar novas visões e valores diante 
da desigualdade social, bem como instituir melhor distribuição da 
renda construída socialmente.
Trata-se, portanto, de uma política complexa, ampla e moderna, 
pois ainda que se trate uma política setorial, sua implantação apresenta 
inúmeros elementos que a caracterizam como política que se articula 
aos demais setores, tanto no que se refere à implantação intersetoriali-
Fundamentos sócio-históricos da política social 27
zada dos serviços e programas (se articula a demais políticas setoriais) 
quanto à articulação de instituições e agentes.
Portanto, a assistência social pode ser considerada uma das políti-
cas setoriais que melhor apresenta potencial de efetividade, dada a sua 
potencialidade de construção e intensificação de redes de atendimento 
e suporte, bem como sua diversidade e qualificação de recursos huma-
nos empregados, além de sua competência na geração de instrumen-
tos, métodos e saberes inovadores. Principalmente no que se refere à 
superação dos padrões sócio-históricos de ausência e/ou negligência 
do Estado diante das condições do exercício da cidadania.
Contudo, além de ainda estar em processo de implantação, na 
atual conjuntura (governo de Jair Bolsonaro), tem sofrido desmontes 
diversos, o que a impossibilita de cumprir o seu papel integral de 
política de seguridade social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As políticas sociais são instrumentos essenciais a toda sociedade que 
tenha como meta a efetivação da democracia e/ou ao menos a ampliação 
da igualdade social. No serviço social, as políticas sociais ocupam lugar 
central, pois é por meio delas que os/as assistentes sociais desenvolvem 
a maior parte da sua atuação cotidiana.
Não há como desenvolver um trabalho com vistas à emancipação 
humana sem os meios que possam concretizá-la. Portanto, as políticas 
sociais são instrumentos insubstituíveis (ao menos nas sociedades ca-
pitalistas), visto que são capazes de promover os acessos necessários 
à garantia de condições mais dignas de vida, sejam econômicas, sociais, 
culturais, habitacionais, educacionais, relacionadas ao equilíbrio do psico-
lógico humano e/ou à proteção social contra situações de violência, maus 
tratos e negligências sociais diversas.
O nascimento das políticas sociais também é um marco no que diz 
respeito às conquistas efetivadas pelos trabalhadores. Demonstra a 
força da organização popular com relação ao avanço da humanidade, 
tendo em vista que suas lutas resultaram no aprimoramento de di-
versos setores da sociedade.
Nesse sentido, também comprova que o rumo social das nações não 
pode ser deixado apenas nas mãos dos grupos que historicamente ocu-
pam os espaços de poder, dado que estes só voltam sua atenção aos gru-
28 Políticas sociais públicas
pos menos favorecidos quando se sentem afetados drasticamente, sejam 
pelas crises econômicas que freiam a economia, seja pela violência que se 
exacerba devido à condição de extrema desigualdade social.
ATIVIDADES
1. O contexto europeu do século XIX foi marcado por experiências de 
guerra, alterações no modo de produção, radicalizações diversas 
nos tipos de Estado e por intensos conflitos de classes; conjuntura 
social, econômica e política que desencadeou níveis extremos de 
desigualdade social, como o nascimento do desemprego e da pobreza 
extrema. Com essas experiências, a Europa compreendeu que não 
seria possível desenvolver-se enquanto sociedade sem medidas com 
relação à má distribuição de renda. Dado o contexto, qual foi a principal 
medida tomada pelos países europeus?
2. Além de ser a carta que formalizou o fim do regime ditatorial e a 
retomada da democracia no Brasil, a Constituição de 1988 inaugurou 
uma nova era para os brasileiros, no que diz respeito à proteção social. 
A nova proposta de seguridade social traz a assistência social como 
direito a quem dela precisar. Nesse sentido, em qual lei encontra-se 
fundamentada essa proposta de proteção social?
3. Uma das principais características do novo sistema de proteção 
social brasileiro é a sua dimensão organizacional estruturada por 
setores de atuação (educação, meio ambiente, habitação, saúde, 
assistência social etc.). Um elemento que resultou da própria 
característica democrática da Constituição de 1988, visto que a 
integração de novos atores da sociedade civil no planejamento e na 
fiscalização da política pública passou a ser fomentada e garantida 
como direito. Tendo em vista o contexto apresentado, explique o 
motivo de essa organização ser setorializada.
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As políticas afirmativas e os distintos sociais 31
2
As políticas afirmativas 
e os distintos sociais
Este capítulo aborda a política afirmativa no contexto da sua 
relação com a desigualdade social e sua importância e perspectiva 
frente à garantia de direitos. A fim de fornecer um arcabouço mais 
completo, apresentaremos alguns dos fenômenos e dos fatos que 
configuram dinâmicas sociais de discriminação, violência e crimina-
lização na vida de grupos historicamente excluídos.
Ofereceremos suportes para a compreensão das políticas afir-
mativas, enquanto medidas que visam amenizar e/ou eliminar as 
desigualdades sociais advindas de processos discriminatórios histó-
ricos. Nesse sentido, apresentamos alguns elementos constituintes 
da história de grupos sociais distintos, com maior ênfase na política 
afirmativa voltada à pessoa com deficiência e à pessoa idosa.
2.1 O nascimento das políticas afirmativas 
Vídeo As sociedades são alteradas e aperfeiçoadas conforme os fatos e 
os processos vivenciados ao longo da história. Na mesma direção, as 
políticas públicas são resultados desses processos, portanto, também 
evoluem. Sua criação, revisão e inovação resultam das transformações 
sociais impostas pelos grupos que constituem a sociedade.
Nesse ínterim, as políticas públicas surgiram como instrumentos 
voltados a implementar respostas às necessidades sociais. São medi-
das sociais interventivas oriundas tanto do resultado das lutas sociais 
travadas pela organização popular quanto das ações impostas pelos 
grupos dominantes para manter uma estrutura social que lhes perpe-
tue em postos de poder.
Dito de outro modo, as políticas públicas e sociais continuam a 
ser implantadas em diferentes realidades e por diferentes projetos 
32 Políticas sociais públicas
de governo, em diversos países do globo, e um dos últimos aprimo-
ramentos nesse quesito faz referência às políticas afirmativas, que 
visam intervir na organização das sociedadesem prol de enfrentar 
as desigualdades sociais históricas.
O debate sobre as políticas afirmativas nasceu nos Estados Unidos, 
com os grupos e movimentos sociais americanos que, na década de 
1960, ganharam força com reivindicações pela efetivação de uma de-
mocracia ampliada que realmente viabilizasse a igualdade de oportuni-
dades a todos, principalmente entre brancos e negros.
A ação afirmativa não ficou restrita aos Estados Unidos. Expe-
riências semelhantes ocorreram em vários países da Europa 
Ocidental, na Índia, Malásia, Austrália, Canadá, Nigéria, África 
do Sul, Argentina, Cuba, dentre outros. Na Europa, as primei-
ras orientações nessa direção foram elaboradas em 1976, uti-
lizando-se frequentemente a expressão ação ou discriminação 
positiva. Em 1982, a discriminação positiva foi inserida no pri-
meiro Programa de Ação para a Igualdade de Oportunidades da 
Comunidade Econômica Europeia. (MOEHLECKE, 2002, p. 199)
Os movimentos que efervesceram nos Estados Unidos rapidamen-
te também foram protagonizados na Europa e, posteriormente, na 
América Latina. A principal bandeira de luta enfatizava a supressão das 
leis segregacionistas e requeria o comprometimento do Estado para 
com o desenvolvimento de medidas que afirmassem condições iguali-
tárias de desenvolvimento aos grupos historicamente excluídos.
Assim, a reivindicação por políticas afirmativas passou a integrar 
o debate das políticas públicas e foi fortemente abraçada pelos mo-
vimentos sociais. Os diálogos e embates tiveram como conquista a 
implantação de cotas obrigatórias de inclusão, leis de incentivo, pro-
gramas e ações de enfrentamento à discriminação de sujeitos e grupos 
que, por sua condição de raça, gênero, etnia, religião, orientação sexual 
e/ou prática cultural, são historicamente excluídos e/ou negligenciados 
no sistema estrutural das sociedades.
No contexto brasileiro, o debate das políticas afirmativas teve início 
ao final da década de 1960, conforme materializado na proposta de lei 
criada pelos técnicos do Ministério do Trabalho e do Tribunal Superior 
do Trabalho, em 1968. Tal proposta versava sobre a instituição obrigató-
ria de cotas para contratação de negros e negras em empresas privadas, 
como uma medida de enfrentamento ao contexto de discriminação ra-
cial existente no mercado de trabalho brasileiro (SANTOS, 1999).
As políticas afirmativas e os distintos sociais 33
A proposta, contudo, não foi aprovada. Somente após a promul-
gação da Constituição Federal de 1988 os movimentos sociais bra-
sileiros tiveram acesso a meios e condições reais para projetarem a 
criação de políticas afirmativas. Os princípios constitucionais foram 
materializados por um conjunto de políticas públicas voltado ao en-
frentamento da desigualdade social e ao desenvolvimento da eman-
cipação dos brasileiros.
A imposição de parâmetros técnicos e de profissionalização para 
implementação de políticas públicas, por exemplo, foi uma das princi-
pais mudanças geradas pelo aparato constitucional, visto que possibi-
litou que a perspectiva do direito imperasse sobre as antigas práticas 
que constituíam a cultura política brasileira. Essas práticas foram usa-
das por séculos pelas elites políticas e econômicas para condicionar a 
maior parte da população brasileira a depender de ações de benevo-
lência, de caridade e de negociações de favores (LOPES, 2014).
Esse processo de superação de muitas das práticas políticas 
imediatistas, fragmentadas, restritas e excludentes protagonizou 
no país o exercício da proteção social integral, da democracia e dos 
direitos humanos, por meio de atuações preventivas e do comba-
te processual da desigualdade social brasileira (de modo direto e 
indireto); elemento que se constitui como prova concreta de que as 
políticas públicas e sociais se caracterizam como uma das principais 
frentes de resposta às injustiças sociais.
Os aprendizados resultantes das experiências diante da nova 
conjuntura imposta pelo acesso às políticas públicas alteraram, tam-
bém, os tipos de reivindicações, dado que a implantação das políti-
cas públicas e sociais oportunizou à população brasileira a vivência 
da era dos direitos e, portanto, a participação no processo de cria-
ção da coisa pública. A partir do momento que a era do favor perdeu 
espaço para a era dos direitos, uma parte representativa da popula-
ção brasileira passou a ampliar suas bandeiras de lutas e a instaurar 
novos marcos reivindicatórios.
Na década de 1990, o movimentos negro, feminista e outros grupos, 
bem como os movimentos sociais, passaram a exigir do Estado brasi-
leiro políticas públicas e sociais que pudessem transcender as ações 
já existentes, com relação à efetivação de direitos. Assim, entrou em 
pauta a necessidade de uma inclusão pensada sob a ótica das peculia-
ridades que constituem os diferentes.
34 Políticas sociais públicas
Como resultado desses processos, tivemos o nascimento das polí-
ticas afirmativas no Brasil, caracterizadas por um conjunto de ações, 
projetos e programas estatais e privados voltados ao pagamento de dí-
vidas históricas; estas advindas de discriminações e exclusões arcaicas 
oriundas do berço da maioria das sociedades.
Essas políticas sociais seriam voltadas a amparar, de modo in-
tegral, as necessidades peculiares dos sujeitos e dos grupos que 
tiveram e/ou ainda têm formação identitária comprometida, prin-
cipalmente com relação à ausência de valor e de respeito às suas 
características peculiares. Sujeitos que, por sua cor, raça, cultura, 
práticas, características linguísticas e/ou físicas, orientação sexual, 
prática cultural e/ou seus valores, foram e ainda são excluídos, ne-
gligenciados e/ou desamparados legalmente.
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) (BRASIL, 2005), por 
exemplo, é umas das macropolíticas que tem em sua estrutura medi-
das voltadas à afirmação de direitos dos sujeitos e dos grupos histori-
camente excluídos. A PNAS é uma política pública social especializada, 
particularizada, desmercadorizável, genérica e universalizante. Sua 
implantação proporcionou a identificação de demandas sociais histo-
ricamente invisibilizadas 1
Invisibilidades que marcaram e 
ainda marcam a vida de milhões 
de brasileiros (as) que consti-
tuem a população-alvo das polí-
ticas afirmativas, principalmente 
as populações que residem em 
aglomerados, favelas e regiões 
de distanciamento de estruturas 
essenciais como o saneamento 
básico.
1
 , além de ter abarcado territorialidades e 
intersetorialidades nunca antes priorizadas na história do Brasil.
A vivência do leque de acessos proporcionado pelas políticas públi-
cas sociais como a PNAS resultou em aprimoramentos diversos para 
a população brasileira, visto que abrangem aspectos para além do 
econômico. Essa é uma condição essencial para a afirmação de direi-
tos das populações historicamente excluídas, visto que o preconceito 
estrutural é um impeditivo à constituição de outros tipos de capitais 
como o capital social e o capital cultural.
Configuram o público-alvo das políticas afirmativas os sujeitos e gru-
pos vítimas de preconceitos históricos, como as negritudes, os indígenas e 
as mulheres. Incluem-se, também, as vítimas de discriminações por ques-
tões mais contemporâneas, como os sujeitos transgêneros e os demais 
sujeitos que compõem as populações LGBTQIA+ 2
LGBTQIA+ é a sigla utilizada 
para fazer referência a lésbicas, 
gays, bissexuais, travestis, 
transexuais,transgêneros, queer 
e intersex e assexuados. No livro 
História da Sexualidade, Foucault 
oferece um excelente material 
para quem busca compreender 
a raiz dessas questões. As 
autoras Simone de Beauvoir, 
Saffioti e Altmann também 
abarcam, de modo significativo, 
o debate acerca do gênero e da 
sexualidade.
2
 , idosa, em situação de 
rua, dentre outros, e a pessoa com deficiência. Sujeitos que, por sua con-
dição étnica, religiosa, de  gênero, de sexualidade, por características 
linguísticas, físicas e/ou culturais, são discriminados pelos demaisgru-
pos da sociedade e, portanto, ignorados e/ou excluídos de processos 
transgênero: termo que faz 
referência aos sujeitos que não 
se identificam com o gênero que 
diz respeito ao seu sexo biológico. 
É importante pontuar, também, 
que a questão de identidade de 
gênero não está necessariamente 
relacionada com a orientação 
sexual dos sujeitos. 
Glossário
As políticas afirmativas e os distintos sociais 35
sociais que são essenciais ao desenvolvimento de um aprimoramento 
humano mais justo e igualitário. 
Discriminações estruturais configuram uma dura realidade que se 
manifesta em séculos de histórias de vidas prejudicadas. Esse contex-
to de vida se materializa em números absurdos de vidas retiradas em 
todo o mundo e, no Brasil, aumentam mais a cada dia.
O povo indígena, por exemplo, é um dos grupos brasileiros que 
mais necessita de políticas afirmativas. Além do genocídio que eliminou 
milhões de indígenas nos tempos do Brasil Colônia, reduzindo essa po-
pulação em 90%, na atualidade continuam sendo assassinados cerca 
de 100 indígenas por ano. Mesmo após 500 anos de história, o Brasil 
continua a desrespeitar e a eliminar os verdadeiros donos do território 
nacional (CIMI, 2018).
A demarcação das terras dos povos indígenas é uma promessa 
constitucional que ainda não se cumpriu, e a população indígena conti-
nua sendo assassinada. O Estado brasileiro é o maior responsável pelo 
genocídio indígena. Primeiro porque a não demarcação deixa a popu-
lação indígena vulnerável diante dos conflitos gerados pela disputa da 
terra; segundo por não punir efetivamente os culpados pelos crimes 
cometidos contra os povos indígenas; terceiro porque garante supor-
te aos interesses dos ruralistas, agropecuaristas e garimpeiros (grupos 
que visam tomar posse das áreas onde vive a população indígena); 
quarto porque não concretiza políticas públicas que sejam mais efeti-
vas para a afirmação da cultura indígena; e, por último, porque o Esta-
do ainda se apresenta como uma instituição que reforça, em diversos 
aspectos, concepções e práticas indigenistas, racistas e etnocêntricas.
O povo negro recebe do Estado e da sociedade um tratamento 
ainda pior, visto a falta de demarcação de terra ao povo de origem 
africana, que ergueu as bases deste país por meio do trabalho es-
cravo. A eles foram destinados os territórios periféricos, os cortiços, 
as favelas e as encostas dos morros localizados no meio urbano, ou 
seja, há segregação social. Ao povo negro foi destinado o trabalho 
mais pesado, o salário mais baixo, a desqualificação da beleza, a 
criminalização da cultura, a prostituição, a naturalização da violência 
contra seus corpos e a miséria.
As mulheres continuam a ser vítimas de feminicídio, sendo assassi-
nadas pelo simples fato de serem mulheres, e o Brasil ocupa o 5º lugar 
36 Políticas sociais públicas
dentre os países que apresentam os maiores índices de feminicídio no 
mundo. A maioria das vítimas são negras e pobres que vivenciam coti-
dianamente diversos tipos de exclusão e violência devido a uma cultura 
estrutural machista e patriarcal que impõe a ideia da superioridade do 
masculino sobre o feminino. A elas tem sido destinada a naturaliza-
ção do abuso e a responsabilização pelo estupro de seus corpos. Elas 
compõem o maior grupo populacional do mundo, mas são minoria nos 
espaços e postos de poder (CIMI, 2018).
As mulheres carregam fardos extremos, são condenadas à sub-
missão ao masculino e à procriação como função social, têm suas 
liberdades condicionadas, são reprimidas em seus pensares, este-
reotipadas segundo a vontade masculina e agredidas quando se 
posicionam no enfrentamento. E, assim, se estabelece a violência 
contra a mulher, enquanto resultado de uma construção social es-
trutural de desigualdade nas relações de força e poder entre ho-
mens e mulheres. Um construto que se reproduz pela cultura e que 
culmina na morte de milhões de mulheres.
Os casos de discriminação contra as negritudes, os povos indíge-
nas e contra as mulheres, contudo, têm sido debatidos com mais fre-
quência na atualidade. Com o advento da internet, o mesmo pode ser 
dito sobre a discriminação contra a população LGBTQI+; uma conquista 
comprovada da militância incansável e histórica dos movimentos so-
ciais que representam esses grupos populacionais.
Esse sujeitos computam séculos de luta e avançaram tanto na pu-
blicitação de suas pautas quanto em relação a produções científicas no 
campo da luta pela efetivação de seus direitos. Tal contexto se compro-
va com o quantitativo de produções acadêmicas existentes acerca des-
sas temáticas, bem como pela frequência com que o debate aparece 
nas redes sociais e nos demais espaços de produção e disseminação 
de conhecimento e comunicação.
Quanto à população em situação de rua, compreendemos que 
já é um campo bastante demarcado pelo senso comum, em relação 
a uma consciência social coletiva que afirma seu próprio precon-
ceito e discriminação diante dessa parcela da população. Observa-
mos, também, certa priorização dessa pauta na abrangência dos 
debates, dada a atual conjuntura pandêmica em que vivemos: o 
surto de Covid-19.
As políticas afirmativas e os distintos sociais 37
Nas próximas seções, daremos maior ênfase à pessoa com deficiên-
cia e à pessoa idosa, pois entendemos que a discriminação desses dis-
tintos grupos sociais ainda se estabelece de modo mais velado e, por 
vezes, mascarado. Mas, antes, pontuaremos um importante debate 
acerca do uso dos termos: distintos sociais e minorias sociais.
2.2 Distintos sociais x minorias sociais 
Vídeo Aos poucos, o debate das políticas afirmativas também ganhou 
prioridade nos espaços acadêmicos e ampliaram-se as pesquisas volta-
das ao levantamento das condições de existência de grupos inicialmen-
te intitulados minorias sociais – não em relação à quantidade, mas no 
sentido do abarcamento dos direitos.
O termo minorias sociais está em debate no campo das ciências so-
ciais, visto que há discordância acerca da real adequação do uso desse 
termo para fazer referência aos grupos excluídos por suas característi-
cas peculiares. Ele tem sido usado para retratar uma dimensão quanti-
tativa da realidade e para tipificar grupos e classes sociais.
Essa confusão terminológica oculta detalhamentos importantes acerca 
dos diferentes debates, além de não contribuir para o desenvolvimento 
da consciência da maioria da população, com relação à ausência de igual-
dade de oportunidades. No sentido de fomentar o debate, enfatiza-se a 
necessidade de se eleger um termo que realmente possa fazer jus aos 
grupos que requerem uma proteção especial e particularizada, no que diz 
respeito às vulnerabilidades que vivenciam. Um termo que expresse que 
a diferença não pode ser “utilizada para a aniquilação de direitos, mas, ao 
revés, para a promoção de direitos” (PIOVESAN, 2005, p. 38).
Para melhor compreensão desse debate, cabe observarmos o 
exemplo das mulheres. Estas são quantitativamente majoritárias em 
quase todas as nações do globo e, juntas, formam o maior grupo de 
indivíduos do planeta, ao mesmo tempo que são minoria com relação 
aos sujeitos que possuem melhores salários. No mesmo tipo de exer-
cício comparativo, são minoria entre os sujeitos que ocupam cargos 
de melhor prestígio e nas profissões nas quais a mecânica, a física e 
as tecnologias imperam. Pertencem ao grupo que mais sofre violência 
de gênero e computam o maior quantitativo de vítimas de morte por 
agressão do mundo. São, portanto, minorias ou maiorias sociais?
38 Políticas sociais públicas
Vejamos, também, outros elementos: a vivência de uma mulher 
rica é extremamente diferente da de uma mulher pobre; há, inclusi-
ve, significativa divergência entre a vida de uma mulher branca e de 
uma negra, assim como existem diferenças significativas no campo 
do acesso entre as mulheres que são mães e as que não são respon-
sáveis por crianças e/ou adolescentes. Observamos distinção, ainda, 
entre mulheres que são as únicas mantenedoras

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