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1 Unidade 4 - Métodos de ensino favoráveis à formação do leitor O PAPEL DA FAMÍLIA, DA ESCOLA E DA SOCIEDADE NA PROMOÇÃO DA LEITURA Todo mundo quer ter um leitor em casa. Há certo status social na frase “meu filho lê muito”, como se a leitura Todo mundo quer ter um leitor em casa. Há certo status social na frase “meu filho lê muito”, como se a leitura excessiva fosse sinônimo de alta cultura. Ademais, muitos responsáveis sequer se preocupam com o conteúdo consumido pela criança, desde que ela leia; por outro lado, grandes exigências podem ser criadas durante o processo formativo da criança para que tenha contato com obras que muitos adultos sequer leram. Todo mundo quer ter um leitor em casa. Há certo status social na frase “meu filho lê muito”, como se a leitura excessiva fosse sinônimo de alta cultura. Ademais, muitos responsáveis sequer se preocupam com o conteúdo consumido pela criança, desde que ela leia; por outro lado, grandes exigências podem ser criadas durante o processo formativo da criança para que tenha contato com obras que muitos adultos sequer leram. Eis um problema quando falamos em leitura: nós a tratamos como se fosse uma atividade solitária, quando na verdade é uma empreitada coletiva, fruto da influência, nos dias de hoje, da família, da escola e da sociedade como um todo. Tenha isso em mente quando se perguntar, por exemplo, o porquê de você ter lido poucos livros de literatura infantil afro-brasileira quando criança, enquanto os contos de fadas dos irmãos Grimm são reconhecidos e lidos mundialmente. Contudo, antes de tratarmos dessa interação entre família, escola e sociedade na promoção da leitura, vamos esse “elemento” ao qual nos referimos, o leitor: Todo texto presume, então, uma espécie de leitor empírico, implícito a todo e qualquer texto literário. Leitor por que é para ele que é direcionado, presumível na medida em que o autor trava um diálogo com o indivíduo que será seu “alvo”, uma imagem não física, mas prevista (ECO, 1994, p. 17). Você já ficou surpreso como aquele seu aluno que não lê Senhora, de José de Alencar, mas “devora” em menos de duas semanas um livro com mais de 500 páginas, provavelmente sobre deuses e monstros, como O ladrão de raios, de Rick Riordan? Isso está intimamente associado ao gosto, às formas de pensar, ao campo de atuação, à experiência e ao interesse do leitor. A ideia de um indivíduo que “foge da realidade”, que prefere passar seu tempo com a leitura envolve a proximidade com esse hábito e o texto em si. O leitor, habituado à sua prática, desenvolve suas próprias estratégias de leitura, de acordo com sua individualidade. A ironia é que a escola, espaço de descobertas e saberes por excelência, torna-se o lugar de padronização das descobertas: todo ato realizado está inserido em um conteúdo programático ou em um currículo oculto. O texto literário estudado, nesse contexto, dá conta das premissas da escola, mas não do amadurecimento do aluno, embora isso não impeça, por exemplo, que transformações possam ocorrer, uma vez que a escola também precisa ser um espaço de mudança. É por isso que devemos observar os caminhos atuais – e a serem seguidos – para a proposição da mudança do atual ensino de literatura na escola. O problema é que a família, a sociedade e, principalmente, a escola, tratam esse leitor presumível como se fosse um leitor generalizado; como se todos tivessem os mesmos gostos, os mesmos apreços e as mesmas experiências de leitura. Talvez um estudante que se divirta com as 2 aventuras de Percy Jackson não tenha apreço por outro livro infantojuvenil, como Meu namorado é um zumbi, de Isaac Marion, obra que mistura aventura, comédia e terror com dilemas juvenis. Coloquemo-nos, portanto, nessa posição tripla: família, escola e sociedade. Qual espécie de leitores estamos formando e incentivando a formar? Considerando os 12 anos de educação básica, qual a base que um aluno tem dos textos mais fundamentais da nossa literatura? Por vezes, muitos se formam sem ter contato até com autores mais populares, ou, quando muito, tendo acesso a contos e trechos de poemas em suas provas. A situação se agrava ainda mais quando pensamos no retorno dessas práticas: qual será o impacto dessas atividades, desde a tenra infância, na formação desses futuros adultos: teremos uma geração futura que terá influência no surgimento de novos leitores? Ou sua experiência literária prévia será apenas voltada para o deleite artístico? A situação se agrava ainda mais quando pensamos no retorno dessas práticas: qual será o impacto dessas atividades, desde a tenra infância, na formação desses futuros adultos: teremos uma geração futura que terá influência no surgimento de novos leitores? Ou sua experiência literária prévia será apenas voltada para o deleite artístico? Se tradicionalmente o ensino fundamental tem a responsabilidade de despertar o gosto pela leitura, então o estudante já deveria ser um leitor competente ao adentrar o ensino médio. Nada mais longe da verdade: na atual conjuntura educacional do país, na qual o ENEM delimita os caminhos perseguidos por quem deseja aprovação nos melhores vestibulares, o ensino de literatura adentra sua fase mais tecnicista, em que o aluno é um executor de tarefas, limitado aos chavões e às decorebas. Nós abordamos constantemente a necessidade de projetos pedagógicos que tenham como premissa o trabalho com literaturas infantis. A relação abordada pela escola, pela família e pela sociedade, nesse sentido, passa por essa questão e por atividades reflexivas que contribuam para a formação dos discentes. BIBLIOTECA ESCOLAR Iniciando a problemática da criação de novos leitores, principalmente em um ambiente em que o próprio acesso à cultura é deficiente, Ezequiel Silva aponta que a formação de leitores depende do contexto nacional e da percepção da falta de condições sociais e econômicas para promovermos a capacitação dos cidadãos brasileiros (2012, p. 10). Dessa forma, considerando a carência das bibliotecas em todo o Brasil, que são próximas das grandes concentrações urbanas, mas longe das regiões mais carentes, resta à escola, para além do seu papel de espaço de promoção da educação, a responsabilidade do processo formativo dos leitores. Capitães de areia, de Jorge Amado, ou O menino do dedo verde, de Maurice Druon? Segure esse questionamento, já que o retomaremos adiante. 3 Devemos, porém, resgatar os problemas da mercantilização do saber: diferente do desenvolvimento da leitura literária, o protagonismo escolar pode ser suplantado pelo uso da velha metodologia que absorve livros didáticos e paradidáticos, afastando o aluno do uso do texto literário integral. Ocorre o erro da cristalização da leitura, prendendo o aluno às receitas e fórmulas prontas, muitas vezes disfarçadas de prazer estético, também conhecido como “prazer superficial”. Em suma, trabalhar um texto estruturado e organizado que evoca o lado lúdico da leitura, mas que não atinge a função social da escola: de promover o prazer essencial que flui do ato da leitura. Nesse sentido, essas atividades de leitura direcionada cumprem sua função, mas apresentam um risco enorme: o de castrar o leitor das possibilidades da literatura. E o que difere o prazer essencial do superficial? O prazer superficial está relacionado à leitura superficial do texto, na qual a atividade se estrutura em torno da dinamização do texto literário, limitando-se a questões óbvias. Esses aspectos estão presentes em textos que apontam as características mais comuns de dada obra, dividindo as avaliações em formato objetivo, uma prática não tão incomum, uma vez que busca direcionar o aluno para uma formação específica. Já o prazer essencial, por sua vez, envolve experiências de leitura focadas no aperfeiçoamento e na emancipação do indivíduo, possibilitando a problematização dos temas apresentados.Nesse segmento, as respostas não são mais essencialmente corretas, mas contextualizadas. É comum o uso do prazer superficial para a realização de atividades que visam mais o uso da língua do que o sentido do texto, de modo que o texto literário é tratado apenas como um fenômeno linguístico. Já atividades que valorizam o prazer essencial são voltadas para a contextualização e o desenvolvimento das habilidades lúdicas do aluno durante o processo de aprendizagem. Um exemplo disso seria uma atividade de contextualização entre Os Lusíadas, de Camões, e a obra direcionada para o público juvenil Por mares há muito navegados, de Álvaro Cardoso Gomes. O texto de Álvaro Cardoso Gomes leva o leitor a realizar um processo de interação, ao traçar paralelos com o texto de Camões: na obra, um jovem precisa terminar de ler Os Lusíadas enquanto traça o mesmo caminho de Vasco da Gama em um veleiro. Há uma exigência que força o leitor a realizar conexões inter e paratextuais, o que desenvolve sua capacidade de leitura. Eis a questão apresentada e não percebida pelos educadores: a incompreensão da diferença entre o gosto e a prática de leitura. Há toda uma sequência de produções, bem como de mercados voltados para uma prática constante, robotizada. Mas podemos falar, de fato, em leitor? Se o hábito da leitura envolve, antes de qualquer coisa, afinidade e gosto com a prática, em que medida a obrigatoriedade de um exercício de leitura contribui para o seu desenvolvimento? [15:15, 23/04/2021] Bruna Anjos: A animação de uma biblioteca infantil Como a criança utiliza e o que associa com o espaço da biblioteca? Trabalho, estudo ou diversão? Abordamos a relação da literatura infantil com o desenvolvimento do indivíduo, bem como a criação de espaços lúdicos direcionados para a leitura; mas como isso pode ser desenvolvido? Como a criança utiliza e o que associa com o espaço da biblioteca? Trabalho, estudo ou diversão? Abordamos a relação da literatura infantil com o desenvolvimento do indivíduo, bem 4 como a criação de espaços lúdicos direcionados para a leitura; mas como isso pode ser desenvolvido? Deve-se ter em mente, conforme apontam Bernardinelli e Carvalho, a importância que a criança dá para o senso de liberdade (2011, p. 4), e como essa liberdade pode ser construída por atividades básicas, como o próprio direito de escolher uma obra, embora essa mesma prática de liberdade precise de direcionamento. Pensa-se que o espaço escolar deve proporcionar, através da literatura infantil, “liberdade” ao aluno; entretanto, é necessário enfatizar que essa liberdade deve ser orientada com atividades programadas em ambientes livres, na biblioteca e na sala de aula, estimulando e aumentando o potencial de cada aluno. Além disso, precisa-se levar em consideração as transformações sociais: a própria biblioteca da escola não pode ser um lugar estático. Lembra-se de quando tocamos na questão dos livros que fazem parte do acervo de uma biblioteca? Peço que tenha o seguinte em mente: no ano de 1995, surgiu a internet e a sociedade passou por uma transformação de conceitos e conflitos sociais, o que influenciou toda a dinâmica das mídias, incluindo a produção do livro infantojuvenil: Eis um dos grandes dilemas de nossa época: o poder da áquina, da tecnologia, em confronto com o poder da ente, da inteligência. A áquina e o Homem. Em síntese: cresce a necessidade de que todos dominem, desde cedo, a instrumentalização tecnológica (para atuarem no cotidiano cibernético e, ao mesmo tempo (com igual ou maior intensidade , que cada um adquira, desde a inf ncia, a consciência de seu próprio Eu em relação ao Outro (ao mundo sua volta , que o complementará. Consciência crítica, globalizante, que só a linguagem da cultura, da literatura (e das artes) proporcionam (COELHO, 2010, p. 288). Desse modo, essas mudanças sociais, com o surgimento da tecnologia, também modificaram a relação dos pequenos leitores com os livros, bem como impactaram a literatura em geral. Nesse sentido, foi necessário que a literatura adquirisse um novo formato, incorporando ferramentas de mídias tecnológicas, como a ilustração e os livros em formato digital. Nesse campo literário novo, a imagem passa a ter uma significativa importância, tanto quanto a letra, por ser um meio de interação com o leitor virtualmente. CITANDO Sabemos que o trabalho do professor com a leitura e produção de textos é uma atividade árdua, principalmente porque os alunos, hoje, estão mais voltados para aspectos visuais e simbólicos do que propriamente para o texto escrito. Por isso, um livro que traga diversidade de ilustrações, textos pequenos, jogos, letras de músicas, textos em quadrinhos, palavras cruzadas, poesias, etc. é, sem dúvida, mais atraente e desperta mais atenção e interesse, pois esses recursos certamente abrirão novos horizontes para o aluno, podendo aguçar-lhe a imaginação e propiciar-lhe condições para reflexão (VERCEZE; SILVINO, 2008, p. 97). O que é um biblioteca nos dias de hoje? Espaço de leitura, interação ou integração? Diante de uma geração que é muito mais antenada às transformações midiáticas, o que pode ser atrativo para os alunos nesse espaço? Podemos ir além: abordamos a carência socioeconômica, o fato de que muitos estudantes sequer têm recursos básicos para ter acesso aos livros didáticos. Mas o que dizer de uma sociedade na qual podemos ler praticamente todos os livros que queremos a um clique? 5 A esse respeito, Kirchof afirma que: “Ao contrário do que apregoam tanto as previsões eufóricas quanto as pessimistas, o que parece estar ocorrendo é uma convergência entre a cultura do suporte impresso e a dos meios digitais” (2016, p. 205 . Isso nos releva como a literatura, infantil ou adulta, permanecerá no campo literário, em quaisquer formas, para o entretenimento, para o ensinamento, para o contentamento e para a crítica política e social. Porém, reafirmamos: o desenvolvimento da leitura envolve acesso, sendo que muito desse contato, principalmente em relação à literatura infantil, ocorre por meio da biblioteca. Nesse sentido, para termos em mente o tipo de atividades a serem desenvolvidas em uma biblioteca escolar, devemos ter noção do perfil dos leitores, conhecendo as leituras que eles realizam, geralmente (embora dependa de cada comunidade escolar): Recortes de livros, muitos deles de obras infantojuvenis; Em geral, livros nacionais, com exceção de contos de fadas; Um número maior de textos no livro de Língua Portuguesa e redação, mais voltados para exercícios textuais, do que para a literatura. A maioria dos livros didáticos se dividem em capítulos, voltados para temas que abordam, por exemplo, questões gramaticais. Cada capítulo iniciado por um trecho de uma grande obra, ou de um texto adaptado para se adequar ao direcionamento do capítulo. Não à toa diferentes leitores transformam em ficção sua prática de leitura nas escolas, a exemplo do conto Estudar é viver, de Bartolomeu Queiroz, ou Cecília Meireles, com o livro de poemas Ou isto ou aquilo. Em suma, os textos são trabalhados mais em seu caráter linguístico-interpretativo, do que pelo viés lúdico e catártico: eis um dos motivos pelo qual a biblioteca não é vista como um espaço de diversão, mas sim de continuidade da sala de aula. Porém, a correlação entre leitura infantil e biblioteca é muito rica: o que acha de uma roda de leitura, na qual cada aluno possa ler trechos dos contos dos irmãos Grimm? Nos dias atuais, as crianças são tomadas pela falta de concentração, o que atrapalha o desenvolvimento de diferentes tipos de atividades. Nesse âmbito, a biblioteca oferece um enorme potencial, pois pode desenvolver atividades extensivas que captam a atenção do aluno e trabalham o seu senso de liberdade ao oferecer-lhes uma variedade de gêneros literários, muitos voltados ao públicoinfantil: contos, fábulas, lendas, etc. (ANDRADE, 2014, p. 142). Em suma, o problema não é a falta de literatura, mas a falta de sua acessibilidade lúdica. Trata-se de uma literatura prejudicada nos manuais didáticos por causa do nosso sistema educacional (SILVA, 2007), substituindo o deleite do texto pela sua castração, pela delimitação do texto lido, pelos sentidos pré-definidos e pelo impedimento do aluno de desenvolver sua capacidade interpretativa. Kleiman, nesse sentido, amplia a crítica: É comumente sabido que há um pré-impedimento diante do que ou é muito difícil, ou muito complexo. A simplificação dos textos e seu descaso durante esse período letivo contribuirão, futuramente, para a não formação do futuro leitor, acostumado a ler enxertos e desacostumado a se lançar na leitura (2011, p. 12). Essa afirmação tem como base os seguintes pressupostos: 6 A interação desses conhecimentos, segundo a perspectiva cognitiva, ocorre na mente do leitor; ler é, portanto, uma ação individual, um ato estratégico de processamento da informação que não estabelece relação com os fatores externos ao texto. Cada uma das palavras que compõem o texto representa entidades do mundo físico, havendo uma relação direta entre linguagem e mundo (SANTOS, 2017, p. 29-30).
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