Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2018 Termodinâmica i Prof. Germano Schamann Bortolotto Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof. Germano Schamann Bortolotto Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. B739t Bortolotto, Germano Schamann Termodinâmica I. / Germano Schamann Bortolotto – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 184 p.; il. ISBN 978-85-515-0191-7 1.Termodinâmica – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 621.402 Impresso por: III apresenTação Saudações, acadêmico! Muito bem-vindo à disciplina de Termodinâmica I. Ao longo dos próximos meses, exploraremos esta área tão importante da Física. A Termodinâmica tem sido estudada há muitos séculos e é a base do funcionamento de diversas máquinas e indispensáveis à nossa sociedade atual. Neste livro, vamos aprender sobre os conceitos de temperatura e calor, criar nossas próprias escalas termométricas e entender o que acontece quando aquecemos ou esfriamos diferentes substâncias. Nossas discussões serão norteadas pelos desenvolvimentos históricos e pela demonstração de aplicações práticas no nosso dia a dia. Dividimos este livro em três unidades, que apresentarão alguns dos conceitos mais importantes da Termodinâmica como fundamentação para estudos ainda mais avançados em Física. Na Unidade 1, entenderemos o conceito de temperatura. Também vamos discutir as escalas termométricas. Aprenderemos sobre suas origens, seus diferentes usos e como converter uma medida de temperatura de uma escala à outra. Você ainda aprenderá a criar a sua própria escala de temperatura! Ao final da unidade, veremos alguns dos efeitos causados pela mudança de temperatura em diferentes substâncias e qual a importância desse conhecimento no mundo atual. Na Unidade 2, vamos discutir o conceito de calor e ver como os corpos podem mudar de estado. Veremos as diferentes formas com que o calor pode se propagar e apresentaremos a Primeira Lei da Termodinâmica, um dos grandes triunfos da história da Ciência. Por fim, na Unidade 3, utilizaremos todo o conhecimento das unidades anteriores para estudar o modelo para o gás ideal, quais são seus sucessos e limitações. Veremos como este modelo pode ser usado para entender diversos fenômenos envolvendo variação de temperatura, volume e pressão. Ao final deste livro, você terá um bom conhecimento sobre os principais conceitos e a importância da Termodinâmica. Entretanto, é importante ressaltar que este é apenas o início de nosso aprendizado, que será continuado na disciplina de Termodinâmica II. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Para que seu aprendizado seja significativo, não se esqueça de que você deve aprofundar seus estudos com leituras complementares, exercícios de outros livros, vídeos e experiências. Para isso, serão necessários disciplina e comprometimento com sua formação acadêmica. Bons estudos e até a próxima! Prof. Germano Schamann Bortolotto V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA ....................... 1 TÓPICO 1 – TEMPERATURA E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA ......................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 TEMPERATURA ................................................................................................................................... 3 3 LEI ZERO DA TERMODINÂMICA ................................................................................................. 4 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 8 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 9 TÓPICO 2 – ESCALAS TERMOMÉTRICAS ..................................................................................... 11 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 11 2 TERMÔMETROS.................................................................................................................................. 11 3 ESCALAS TERMOMÉTRICAS ......................................................................................................... 13 3.1 A ESCALA FAHRENHEIT ............................................................................................................. 13 3.2 A ESCALA CELSIUS ....................................................................................................................... 14 3.3 A ESCALA KELVIN ........................................................................................................................ 21 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 28 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 30 TÓPICO 3 – DILATAÇÃO TÉRMICA ................................................................................................. 33 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33 2 EXPANSÃO E CONTRAÇÃO ............................................................................................................ 33 3 DILATAÇÃO LINEAR ......................................................................................................................... 34 4 DILATAÇÃO SUPERFICIAL.............................................................................................................. 38 5 DILATAÇÃO VOLUMÉTRICA ......................................................................................................... 43 6 DILATAÇÃO VOLUMÉTRICA DOS LÍQUIDOS......................................................................... 49 7 DILATAÇÃO ANÔMALA DA ÁGUA ............................................................................................. 54 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61 UNIDADE 2 – CALOR E A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA ......................................... 63 TÓPICO 1 – NATUREZA E QUANTIDADE DE CALOR ............................................................... 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 A NATUREZA DO CALOR ................................................................................................................ 65 3 QUANTIDADE DE CALOR ............................................................................................................... 68 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 78 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 85 TÓPICO 2 – FORMAS DE PROPAGAÇÃO DE CALOR ................................................................. 87 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87 2 CONVECÇÃO ....................................................................................................................................... 87 sumário VIII 3 RADIAÇÃO ........................................................................................................................................... 88 4 CONDUÇÃO ......................................................................................................................................... 91 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 100 TÓPICO 3 – PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA.................................................................... 103 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 103 2 TRABALHO EM TRANSFORMAÇÕES GASOSAS .................................................................... 103 3 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA E PROCESSOS TERMODINÂMICOS ................. 107 4 PROCESSO ISOTÉRMICO ................................................................................................................ 109 5 PROCESSO ISOBÁRICO .................................................................................................................... 111 6 PROCESSO ISOVOLUMÉTRICO .................................................................................................... 112 7 PROCESSO ADIABÁTICO ................................................................................................................ 113 8 EXPANSÃO LIVRE ............................................................................................................................... 115 9 PROCESSOS CÍCLICOS ..................................................................................................................... 116 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 122 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 124 UNIDADE 3 – PROPRIEDADES DOS GASES IDEAIS .................................................................. 127 TÓPICO 1 – EQUAÇÃO DE ESTADO ................................................................................................ 129 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 129 2 EQUAÇÃO DE ESTADO .................................................................................................................... 129 2.1 LEI DE BOYLE.................................................................................................................................. 129 2.2 LEI DE CHARLES ............................................................................................................................ 132 2.3 A LEI DOS GASES IDEAIS ............................................................................................................. 135 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 144 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 146 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 148 TÓPICO 2 – ENERGIA INTERNA E CAPACIDADE TÉRMICA .................................................. 151 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 151 2 ENERGIA INTERNA ........................................................................................................................... 151 3 CALOR ESPECÍFICO MOLAR A VOLUME CONSTANTE ........................................................ 154 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 162 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 163 TÓPICO 3 – PROCESSOS ADIABÁTICOS PARA GASES IDEAIS ............................................. 165 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 165 2 EXPANSÃO ADIABÁTICA ................................................................................................................ 165 3 TRABALHO EM EXPANSÃO ADIABÁTICA ................................................................................ 172 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 180 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 182 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 183 1 UNIDADE 1 EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo dessa unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer situações que envolvam equilíbrio termodinâmico; • expressar e entender a Lei Zero da Termodinâmica; • descrever o funcionamento de um termômetro; • distinguir diferentes escalas termométricas; • transformar temperaturas entre as principais escalas termométricas utilizadas atualmente; • entender o fenômeno da dilatação térmica dos materiais; • analisar diferentes formas de dilatação para objetos considerados unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais; • avaliar a dilatação real e aparente de líquidos; • apontar aimportância de juntas de dilatação em estruturas e construções; • entender o comportamento anômalo para a dilatação de algumas substâncias (como a água). Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – TEMPERATURA E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA TÓPICO 2 – ESCALAS TERMOMÉTRICAS TÓPICO 3 – DILATAÇÃO TÉRMICA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 TEMPERATURA E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 1 INTRODUÇÃO A Física é um dos ramos mais abrangentes da Ciência. Seus objetos de estudo vão desde os maiores corpos do Universo (como estrelas, aglomerados de estrelas e galáxias) até as menores partículas (como elétrons e quarks). As mais diversas áreas da Física se desenvolveram para tentar explicar uma grande variedade de fenômenos, como movimentos, colisões, gravitação, a dinâmica dos fluidos e o eletromagnetismo. Para isso foi necessário o desenvolvimento de conceitos como força e energia. A área da Física que lida com transferências de energia e seus efeitos nos mais variados sistemas é a Termodinâmica. É por meio dela que se pode entender conceitos como temperatura, entropia e mudanças de fase. A Termodinâmica lida com os fenômenos que envolvem aquecimento e resfriamento. Também tenta explicar a dilatação dos materiais e o comportamento dos gases. Neste tópico será feita uma apresentação dos conceitos mais importantes da Termodinâmica, mostraremos diversas aplicações para o melhor entendimento dos fenômenos que envolvem mudanças de temperatura e seus efeitos na matéria. 2 TEMPERATURA Em nosso dia a dia encontramos diversas situações em que utilizamos uma ideia intuitiva de temperatura. É possível reconhecer quando um objeto está mais frio ou mais quente que outro. Entretanto, como definir realmente o que é temperatura, e como percebemos as diferenças entre corpos mais quentes ou mais frios? Essa não é uma questão simples. Tome como exemplo a experiência das bacias, conforme descrita por Michelena e Mors (2008): • Pegue três bacias, uma com água morna, outra com água à temperatura ambiente, e outra com uma mistura de gelo e água. • Mergulhe uma das mãos na bacia com a mistura de água e gelo, e a outra mão na bacia com água morna. UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 4 • Depois de algum tempo, retire as mãos de ambas as bacias e as coloque dentro da bacia com água à temperatura ambiente. • Você irá perceber que as duas mãos terão sensações diferentes. A mão que estava dentro da bacia de água com gelo irá sentir a água mais quente, e a mão que estava em contato com a água morna irá ter a sensação de que a água dessa terceira bacia está mais fria. Com essa experiência podemos perceber que medir temperaturas não é algo trivial. Não podemos nos basear somente em nossa sensação térmica, pois seria impossível comparar as temperaturas. Portanto, foi necessário desenvolver outros métodos para avaliar a temperatura de um corpo. Para entender como podemos fazer isso, precisamos conhecer a Lei Zero da Termodinâmica. 3 LEI ZERO DA TERMODINÂMICA Imagine que você está tomando uma deliciosa xícara de café quente enquanto tenta adiantar algumas tarefas importantes. Entretanto, você fica tão concentrado nas suas atividades que acaba esquecendo da xícara de café. Após algum tempo você se dá conta de que a xícara está lhe esperando e toma um novo gole. Péssima ideia! O café, que antes estava quente, esfriou e a experiência não é mais tão agradável. Nesta situação o café não está isolado termicamente, isto é, ele está em contato com o ar e pode trocar energia com o meio ao seu redor. O café, que antes estava quente, foi perdendo energia até atingir a mesma temperatura do ambiente. Isso significa que a xícara de café está em equilíbrio térmico com o ar à sua volta. Ao atingir o equilíbrio, cessaram as trocas de energia entre o café e o ar. Vamos imaginar que possuímos um instrumento que seja capaz de avaliar a mudança de temperatura de um dado corpo ou substância. A esse instrumento damos o nome de termômetro. O funcionamento de um termômetro é baseado na constatação de que algumas substâncias têm propriedades físicas, como o volume, alteradas por mudança de temperatura. Sendo assim, é possível quantificar essa mudança na temperatura com base na avaliação das alterações físicas dessa substância. Imagine que temos dois objetos, A e B, que não estão em contato térmico, ou seja, não trocam energia. Utilizamos o termômetro para medir suas temperaturas, conforme ilustrado na Figura 1. Para isso, colocamos o termômetro em contato com o corpo A e depois com o corpo B, e medimos as temperaturas. Se os valores anotados forem iguais, podemos dizer que os corpos A e B estão em equilíbrio térmico entre si, ou seja, estão com a mesma temperatura. TÓPICO 1 | TEMPERATURA E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 5 Essa situação sempre é verificada experimentalmente. Dada sua importância para a conceituação de temperatura, esta ideia foi denominada de Lei Zero da Termodinâmica, que é enunciada a seguir: Se os corpos A e C estão em equilíbrio térmico com o corpo B, então o corpo A está em equilíbrio térmico com C. Na realidade, a Lei Zero surgiu depois da Primeira e da Segunda Lei da Termodinâmica, mas, por ajudar a definir a temperatura, que é um conceito extremamente importante para essas duas leis, foi escolhido o termo “zero”, precedendo as demais. Na imagem (1), os corpos A e B estão separados e isolados. Um termômetro entra em contato com ambos e entra em equilíbrio térmico, marcando a temperatura, que é a mesma para os dois corpos. Na imagem (2), os corpos A e B são colocados em contato um com o outro. Vemos que ambos também estarão em equilíbrio térmico C. FIGURA 1 – LEI ZERO DA TERMODINÂMICA FONTE: O autor UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 6 Exemplo 1: (UFRJ-RJ) Considere quatro objetos A, B, C e D. Observou-se que A e B estão em equilíbrio térmico entre si. O mesmo para C e D. Entretanto, A e C não estão em equilíbrio térmico entre si. Pode-se concluir que: a) B e D estão à mesma temperatura b) B e D podem estar em equilíbrio térmico, mas também podem não estar. c) B e D não podem estar à mesma temperatura. d) A Lei Zero da Termodinâmica não se aplica a este caso, porque existem mais de três objetos. e) A, B, C e D estão à mesma temperatura. Resolução: De acordo com a Lei Zero da Termodinâmica, podemos afirmar que, se A e B estão em equilíbrio térmico, então as temperaturas de A e B são iguais, ou seja, TA = TB. Da mesma forma, se C e D estão em equilíbrio térmico, então as temperaturas de C e D também são iguais entre si (TC = TD). A questão nos informa ainda que A e C não estão em equilíbrio térmico, o que, pela Lei Zero da Termodinâmica, indica que ambos possuem diferentes temperaturas, logo TA ≠ TC. Analisando as alternativas, vemos imediatamente que as alternativas a); b); e) não podem ser verdadeiras, dado que B e D não estão à mesma temperatura por não estarem em equilíbrio térmico. A alternativa d) também está errada, pois a Lei Zero da Termodinâmica é válida para qualquer sistema, independente de quantos objetos estão sendo considerados. Resta, portanto, a alternativa c), que é a única verdadeira. Como TA ≠ TC , TA = TB e TC = TD, temos que, obrigatoriamente TE ≠ TD. É muito importante termos um bom entendimento da Lei Zero da Termodinâmica, pois é com base nela que podemos entender diversos fenômenos bastante comuns. Você já perguntou por que nosso corpo sua quando o dia está quente? Ou por que os pelos de nosso corpo ficam eriçados quando estamos com frio? De acordo com a Lei Zero da Termodinâmica, corpos em contato tendem a entrar em equilíbrio térmico entre si. Assim, se a temperatura ambiente for de 20 oC, todos os corpos e objetos nesse ambiente também estariam a 20 oC. TÓPICO 1 | TEMPERATURA E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 7 Entretanto, os sereshumanos são animais homeotérmicos, isto é, são capazes de manter uma temperatura corporal estável apesar das diferenças térmicas com o ambiente a sua volta. Suar, contrair os músculos e ter arrepios são formas encontradas pelo corpo humano de tentar manter sua temperatura estável, em torno de 37 oC, que é sua temperatura ótima de funcionamento, e não entrar em equilíbrio térmico com a temperatura em seu exterior. 8 Neste tópico, você aprendeu que: • Se os corpos A e C estão em equilíbrio térmico com o corpo B, então o corpo A está em equilíbrio térmico com C. O enunciado dessa lei nos indica que corpos em equilíbrio térmico estão também à mesma temperatura. • É com base nessa constatação que podemos desenvolver instrumentos (os termômetros) para medição de temperatura. RESUMO DO TÓPICO 1 9 1 Assinale a alternativa correta sobre a definição do equilíbrio térmico: a) ( ) Quando dois corpos que não estão em contato um com o outro estiverem sob a mesma pressão, dizemos que eles estão em equilíbrio térmico. b) ( ) Quando dois corpos estão em contato entre si e apresentam diferentes temperaturas, dizemos que os dois corpos estão em equilíbrio térmico. c) ( ) Quando dois corpos estão em contato entre si e apresentam mesma pressão e volume, dizemos que eles estão em equilíbrio térmico. d) ( ) Quando dois objetos estão em contato um com o outro e estão com a mesma temperatura, dizemos que os corpos estão em equilíbrio térmico. 2 Assinale V se a alternativa for verdadeira e F se a alternativa for falsa: a) ( ) Imediatamente após adicionarmos uma pequena quantidade de leite gelado a uma xícara de café quente, teremos um sistema em equilíbrio térmico. b) ( ) Em um dia de inverno em que a temperatura máxima foi de 15 oC, uma pessoa e o mar onde ela está nadando representam um sistema em equilíbrio térmico. c) ( ) Um termômetro em contato com a pele entra em equilíbrio térmico após alguns minutos e indicará a temperatura corporal. d) ( ) É possível encontrarmos dois corpos em temperaturas diferentes mas que estejam em equilíbrio térmico entre si. 3 (FATEC-SP) Um sistema A está em equilíbrio térmico com outro B e este não está em equilíbrio térmico com um outro corpo um outro C. Então, podemos dizer que: a) ( ) Os sistemas A e C possuem a mesma quantidade de calor. b) ( ) A temperatura de A é diferente da de B. c) ( ) Os sistemas A e B possuem a mesma temperatura. d) ( ) A temperatura de B é diferente da de C, mas C pode ter temperatura igual à do sistema A. e) ( ) Nenhuma das anteriores. AUTOATIVIDADE 10 4 (Cefet-PR) Quando dois corpos, de materiais diferentes e massas iguais, estão em equilíbrio térmico podemos afirmar que: a) ( ) Ambos possuem a mesma capacidade térmica. b) ( ) Ambos possuem o mesmo calor específico. c) ( ) Ambos possuem a mesma temperatura. d) ( ) Ambos possuem a mesma variação térmica. e) ( ) Ambos possuem a mesma quantidade de calor. 11 TÓPICO 2 ESCALAS TERMOMÉTRICAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para utilizarmos algum instrumento para efetuar qualquer tipo de medida é necessário que este instrumento esteja calibrado, ou seja, que ele apresente sempre os mesmos valores sob as mesmas condições. Desta forma, é possível garantir que diferentes profissionais obtenham os mesmos valores quando utilizam dado instrumento. Experimentos podem então ser reproduzidos e o conhecimento científico pode avançar. Nesta unidade estamos interessados em fenômenos térmicos. Um dos principais instrumentos utilizados para o estudo desse tipo de fenômeno é o termômetro, que será objeto de estudo deste tópico. 2 TERMÔMETROS Como mencionamos anteriormente, um termômetro é baseado no comportamento de certas propriedades físicas de algumas substâncias sob diferentes temperaturas. Como exemplo de propriedades físicas que variam com a temperatura e podem ser facilmente verificadas temos o volume de um fluido, a resistência elétrica de um fio condutor e a pressão de um gás mantido a volume constante. A Figura 2 ilustra um termômetro de mercúrio. Esse termômetro é baseado no fato de que o mercúrio sofre grande dilatação mesmo com variações pequenas de temperatura. Portanto, se esta substância for colocada dentro de um tubo capilar que permita sua expansão em apenas uma dimensão, aproximadamente, então podemos medir a diferença de altura em função do aquecimento ou resfriamento. Os termômetros de mercúrio já foram bastante comuns, porém sua utilização tem sido diminuída em função da possibilidade de intoxicação por mercúrio quando um desses instrumentos é quebrado ou descartado. UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 12 FIGURA 2 –TERMÔMETRO DE MERCÚRIO FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/kVD2C2>. Acesso em: 11 abr. 2018. A Figura 3 mostra um termômetro baseado na dilatação de metais. Como veremos adiante, diferentes metais sofrem maior ou menor dilatação em função da variação da temperatura. Assim, se criarmos um fio com duas hastes de metal conectadas, e o aquecermos, parte do fio dilatará mais. Essa diferença no tamanho de cada parte de metal resultará na dobra do fio. Podemos colocar uma agulha na ponta desse fio e criar um papel com marcador para registro. Com o aumento da temperatura, o fio bimetálico se entorta e a agulha gira, indicando o aumento da temperatura. O fenômeno da dilatação de diferentes materiais será melhor discutido no Tópico 3 dessa unidade. A seguir, note a espiral de metal na base do ponteiro: FIGURA 3 – TERMÔMETRO BIMETÁLICO FONTE: Disponível em: <https://www.freeimages.com/photo/ freezing-1250541>. Acesso em: 13 jul. 2018. TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 13 Atualmente é crescente o uso de termômetros digitais, sendo o tipo mais comum encontrado em farmácias para verificar a temperatura do corpo humano. Esse tipo de termômetro faz a medida da temperatura com base na variação da resistência elétrica de um resistor presente em seu circuito interno. Afinal, como podemos ter certeza de que os termômetros estão marcando realmente a mesma temperatura? Para compararmos os valores obtidos por diferentes termômetros é necessário que todos estejam calibrados e utilizem a mesma escala termométrica. Para garantir que isso ocorra, os termômetros devem marcar a mesma temperatura para eventos específicos. Entre esses eventos podemos citar os pontos de fusão ou ebulição da água. Para podermos avaliar se houve aumento ou diminuição de temperatura também devemos comparar a variação dentro de uma mesma escala de temperatura. 3 ESCALAS TERMOMÉTRICAS Muitas escalas termométricas foram desenvolvidas ao longo dos últimos séculos. Atualmente as mais utilizadas são as escalas Fahrenheit, Celsius e Kelvin. Descreveremos brevemente suas origens, utilizações e como transformar os valores de temperatura de uma para outra escala. 3.1 A ESCALA FAHRENHEIT Uma das primeiras escalas termométricas a ser bastante difundida é a escala Fahrenheit. Desenvolvida pelo físico Daniel Gabriel Fahrenheit em 1724, esta escala sofreu algumas variações até chegar ao padrão utilizado hoje em dia. Para determinar o zero em sua escala, Fahrenheit utilizou uma mistura de água, gelo e cloreto de amônio. Seu segundo ponto de calibração era baseado na temperatura do corpo humano sadio. A escala Fahrenheit sofreu algumas mudanças ao longo dos anos. Atualmente seus pontos de calibração são baseados nos pontos de fusão e ebulição da água, que, nesta escala, ocorrem em 32 oF e 212 oF respectivamente. Apesar de ter sido bastante utilizada no passado, especialmente em países de língua inglesa, a escala Fahrenheit é a escala padrão em poucos países, como Belize, Bahamas e os Estados Unidos. A Figura 4 ilustra os países que utilizam esta escala atualmente. Os países marcados em verde utilizam a escala Fahrenheit. Todos os demais utilizam a escala Celsius. UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 14 FIGURA 4 – UTILIZAÇÃO DAS ESCALAS CELSIUS E FAHRENHEITNO MUNDO FONTE: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Countries_that_use_ Fahrenheit.svg>. Acesso em: 23 abr. 2018. 3.2 A ESCALA CELSIUS No restante do mundo, a escala termométrica padrão é a escala Celsius. Desenvolvida pelo sueco Anders Celsius em 1742, ela foi originalmente denominada de escala centígrada. O ponto zero desta escala é baseado no ponto de fusão do gelo (0 oC). Seu outro ponto de calibração é a temperatura de ebulição da água, que ocorre a 100 oC à pressão de 1 atm. Entretanto, sabemos que substâncias diferentes se comportam de maneiras diferentes à uma dada variação de temperatura, podendo apresentar maior ou menor dilatação, por exemplo. De acordo com Serway (2004, p. 557), “... as discrepâncias entre os diferentes tipos de termômetros são especialmente grandes quando as temperaturas a ser medidas estão distantes dos pontos de calibração”. Apesar das diferenças entre as escalas Celsius e Fahrenheit, é muito fácil converter o valor da temperatura de uma escala para outra. A Figura 5 representa uma temperatura obtida simultaneamente por dois termômetros, um na escala Celsius e outro na escala Fahrenheit. TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 15 FIGURA 5 – TEMPERATURA MEDIDA COM O USO DE TERMÔMETRO NAS ESCALAS CELSIUS E FAHRENHEIT FONTE: Adaptado de: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/thumb/7/70/Thermometer_CF.svg/170px-Thermometer_ CF.svg.png>. Acesso em: 13 jul. 2018. Na Figura 5 também estão indicadas as temperaturas para os pontos de fusão e ebulição da água nas duas escalas. Podemos obter uma correspondência entre as duas escalas por meio de uma relação de proporcionalidade muito simples. Observando a Figura 5, vemos que os pontos de fusão e ebulição ocorrem em diferentes marcações em cada escala de temperatura, por exemplo, a fusão ocorre na marcação 0 para a escala Celsius e na marcação 32 para a escala Fahrenheit. Com base nessas diferenças e nas proporções entre temperaturas de fusão e ebulição, podemos estabelecer a seguinte equação. Em que: 320 100 0 212 32 fc tt −− = − − UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 16 Podemos simplificar os termos até obter uma equação mais simples: 32 100 180 32 5 9 9 32 5 fc fc c f tt tt tt − = − = = + Assim, para obtermos a temperatura na escala Fahrenheit, basta multiplicarmos a temperatura em Celsius por um fator e deslocar mais 32 unidades para compensar a diferença no valor da temperatura de fusão. Exemplo 2: Três amigos viajam aos Estados Unidos para visitar alguns pontos turísticos. Um deles, Gabriel, fica doente no primeiro dia. Para verificar a gravidade da situação, seus amigos compraram um termômetro e mediram a temperatura de Gabriel. O termômetro indicou o valor 102,2 oF. a) Com base nessa medição, os amigos de Gabriel devem ficar preocupados? Considere uma temperatura normal para o corpo humano saudável sendo algo entre 36,5-37,5 oC. b) Dentro de qual intervalo o termômetro deveria marcar caso Gabriel estivesse com a temperatura corporal normal? Resolução: a) Podemos utilizar as equações obtidas anteriormente para converter os valores de temperatura entre as escalas Celsius e Fahrenheit. Isolando tc para obter a temperatura equivalente na escala Celsius, teremos: 9 5 32 100 180 32 5 9 5( 32) 9 fc fc f c tt tt t t − = − = − = TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 17 Agora basta substituirmos o valor da temperatura marcado pelo termômetro (tf = 102,2 oF): Com base nesses cálculos, verificamos que Gabriel está com febre alta, pois a temperatura medida está bem acima daquela considerada normal para o ser humano. Seus amigos devem considerar a possibilidade de levá-lo logo a um médico. b) Para calcularmos qual o intervalo de temperatura de uma pessoa saudável utilizando um termômetro na escala Fahrenheit, devemos fazer uma nova conversão de temperatura. Considere, primeiramente, o limite inferior (tc = 36,5 oC). Utilizando as fórmulas descritas no texto, teremos: 9 32 5 9 36,5 32 5 328,5 32 5 65,7 32 97,7 = + × = + = + = + = c f f f f f tt t t t t ℉ Essa é a temperatura mínima dentro do intervalo considerado. Vamos agora calcular o valor do limite superior do intervalo de temperatura normal (tc = 37,5 oC). ( ) ( ) ( ) 5 102,2 32 9 5 70,2 9 5 70,2 9 39 c c c c t t t t − = = = = oC 351 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 18 Note que o tamanho do grau nas escalas Celsius e Fahrenheit não é o mesmo. Enquanto que no intervalo entre o ponto de fusão e ebulição da água existem 100 graus Celsius (0 a 100 oC), para o mesmo intervalo teremos 180 graus Fahrenheit (32 a 212 oF). Desta forma, não basta adicionar a diferença de 1 grau (entre 36,5-37,5 oC) para obtermos a nova temperatura em Fahrenheit. ATENCAO É necessário efetuar todos os cálculos para fazer a conversão corretamente. Substituindo na equação de conversão de temperatura entre as escalas Celsius e Fahrenheit, teremos: 9 32 5 9 37,5 32 5 337,5 32 5 67,5 32 99,5 = + × = + = + = + = c f f f f f tt t t t t ℉ Assim, caso tivessem apenas um termômetro na escala Fahrenheit para medirmos a temperatura de alguém (assim como os amigos de Gabriel), teríamos que obter um valor entre 97,7 – 99,5 oF para termos certeza de que esta pessoa não estivesse com febre. Exemplo 3: (FIA-SP) Um termômetro foi graduado segundo uma escala arbitrária X, de tal forma que as temperaturas 10 oX e 80 oX correspondem a 0 oC e 100 oC, respectivamente. A temperatura em X que corresponde a 50 oC é: a) 40 oX b) 45 oX c) 50 oX d) 55 oX e) 60 oX TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 19 Resolução: O problema nos forneceu dois pontos de calibração para a escala X. Esses pontos correspondem aos pontos de fusão e ebulição da água, conforme podemos verificar pela temperatura equivalente na escala Celsius. Para obtermos a temperatura em X que corresponde a 50 oC é necessário obtermos uma relação entre as duas escalas para podermos converter os valores. Conforme vimos no texto, isso pode ser feito por meio de uma relação de proporcionalidade. Sabemos que 10 oX correspondem a 0 oC e 80 oX correspondem a 100 oC. Com isso, podemos escrever a seguinte relação: 0 10 100 0 80 10 10 100 70 10 10 7 − − = − − − = − = c X c X c X t t t t t t Essa é a equação para a conversão de unidades entre a escala X e a escala Celsius. O exercício nos pede para obtermos a temperatura equivalente, na escala X, da temperatura de 50 oC. Para isso, basta substituirmos esse valor na equação que escrevemos. 10 10 7 1050 10 7 5 7 10 35 10 35 10 45 − = − = × = − = − + = = ° c X X X X X X t t t t t t t X UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 20 Com isso, obtemos que a temperatura equivalente a 50 oC é, na escala X, 45 oX. A alternativa correta para essa questão é a letra B. Exemplo 4: (FATEC-SP) A temperatura em que a indicação da escala Fahrenheit é o dobro da indicação da escala Celsius é: a) 160 oC b) 160 oF c) 80 oC d) 40 oF e) 40 oC Resolução: Para resolvermos essa questão, basta utilizarmos a equação de conversão de temperaturas entre as escalas Celsius e Fahrenheit tomando tf = 2tc. Em que: ( ) 32 5 9 2 32 5 9 9 5 2 32 9 10 160 9 10 160 160 − = − = = − = − − = − = fc c c c c c c c c c tt t t t t t t t t t ℃oC Assim, temos que a temperatura em que a indicação da escala Fahrenheit é o dobro da indicação da escala Celsius é tc = 160 oC, e a alternativa correta é a letra A. TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 21 3.3 A ESCALA KELVIN Você já se perguntou se existe um valor máximo ou mínimo para a temperatura de um corpo? Na verdade, não há nenhum limite superior para a temperatura, mas podemos extrapolar e descobrir qual a temperatura mínima possível que um corpo ou partícula poderia assumir. Para obter este valor de temperatura devemos primeiramente entender o funcionamentode um termômetro a gás. Em um termômetro desse tipo usamos o fato de que a pressão de um gás aumenta se aumentarmos a temperatura e mantivermos o volume constante. Assim, se mantivermos um gás dentro de um recipiente com volume constante, podemos variar sua temperatura e obter a pressão correspondente. Para isso, podemos medir a temperatura de um gás partindo de diferentes pressões iniciais à temperatura de 0 oC. Observando o gráfico da Figura 6, podemos ver três curvas distintas para a relação temperatura-pressão quando consideramos um gás com três pressões iniciais diferentes. Conforme veremos na próxima unidade, a relação temperatura-pressão é linear, isto é, dado um aumento na pressão há um aumento da temperatura. Expressando matematicamente teremos: ( )0 0− = −P P K T T Em que K é uma constante, P0 é a pressão inicial e T0 sua temperatura inicial. Considerando T0 = 0 oC e reorganizando os termos: 0= +P P KT Esta é uma equação de primeiro grau e P0 indica o ponto de intersecção com o eixo das ordenadas. Note que se partirmos de diferentes valores de P0, para um gás confinado, deveremos ter diferentes valores de K para atingirmos uma mesma temperatura T. É possível ver que, se extrapolarmos a pressão, as três curvas estarão à mesma temperatura: o zero absoluto. UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 22 FIGURA 6 – GRÁFICO DE PRESSÃO EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA PARA TRÊS DIFERENTES PRESSÕES INICIAIS P 0 FONTE: O autor Analisando a Figura 6, podemos extrapolar nossos dados e imaginar qual seria a temperatura para um gás à pressão zero, isto é, em um vácuo perfeito. As três curvas desenhadas se encontram em um mesmo ponto que corresponde à temperatura de -273,15 oC. Esta seria, então, a menor temperatura possível, também chamada de zero absoluto, mas o que significaria esse valor mínimo de temperatura? O zero absoluto é dado pela temperatura na qual a pressão exercida pelo gás é zero. Se lembrarmos do conceito de temperatura como o grau de agitação dos átomos e moléculas, podemos pensar que, à temperatura zero, essa agitação também é zero, segundo a Física Clássica. Veremos no decorrer deste curso que, mesmo em temperatura zero, as moléculas mantêm um mínimo de energia, chamada energia de ponto zero. Essa energia está associada a movimentos aleatórios das moléculas como consequência do princípio da incerteza da Mecânica Quântica. Esse princípio nos diz que é impossível definirmos simultaneamente a posição e a velocidade de uma partícula com precisão. Dessa forma, há uma flutuação na energia que é maior do que o mínimo previsto pela Física Clássica. ESTUDOS FU TUROS Foi com base nesse conceito de zero absoluto que foi criada a escala Kelvin de temperatura. Essa escala tem como ponto zero (0 K) a temperatura -273,15 oC. Isso significa que qualquer temperatura medida na escala Kelvin será positiva. A TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 23 conversão de uma temperatura na escala Kelvin para uma temperatura na escala Celsius é feita por um deslocamento do ponto zero, conforme evidenciado na equação a seguir: 273,15= +cT T Assim, se precisarmos obter a medida da temperatura dos pontos de fusão e ebulição da água na escala Kelvin, basta adicionarmos 273,15 às respectivas medidas de temperatura da escala Celsius: Temperatura do ponto de fusão da água na escala Kelvin: 0 273,15 273,15= + =T K Temperatura do ponto de ebulição da água na escala Kelvin: 100 273,15 373,15= + =T K É interessante reparar que as escalas Kelvin e Celsius estão divididas pelo mesmo número de graus. Na escala Celsius, entre os pontos de fusão (0 oC) e ebulição (100 oC) da água temos 100 graus. Na escala Kelvin, também contamos 100 graus entre os pontos de fusão (273,15 K) e ebulição (373,15 K). Note que ao mencionarmos uma temperatura na escala Kelvin nunca utilizamos a palavra “grau”. Assim, o correto é dizer, por exemplo, “5 graus Fahrenheit”, “78 graus Celsius” e “25 kelvin”. ATENCAO No Sistema Internacional de unidades utilizamos a unidade kelvin, cujo símbolo é a letra K, para dimensionar uma temperatura. A escolha da escala Kelvin como padrão internacional se deve ao fato de que é uma escala mais simples por não assumir valores negativos. Para essa escala foram escolhidos dois pontos de calibração facilmente reprodutíveis. O primeiro ponto de calibração é o zero absoluto obtido pela extrapolação do valor da pressão para um gás, conforme discutido acima. O segundo ponto de calibração é o ponto triplo da água. Este ponto é determinado pelas condições de pressão e temperatura que permitem que a água líquida, o vapor de água e o UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 24 gelo estejam em equilíbrio. O ponto triplo ocorre a uma temperatura de 0,01 oC (273,16 K) e à pressão de 612 Pa (aproximadamente 0,006 atm). O diagrama de fases para a água, com a identificação do ponto triplo é dado na figura a seguir: FIGURA 7 – DIAGRAMA DE FASES DA ÁGUA PARA PRESSÃO E TEMPERATURA FONTE: O autor O ponto triplo é onde ocorre a coexistência das fases sólida, líquida e gasosa. A definição formal da unidade kelvin no Sistema Internacional de unidades é a seguinte: “O kelvin, unidade de temperatura termodinâmica, é a fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água” (INMETRO, 2012, p. 26). O quadro a seguir relaciona algumas temperaturas importantes nas escalas Celsius e Kelvin: TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 25 Temperatura Kelvin (K) Celsius (oC) Zero absoluto 0 – 273,15 Radiação cósmica de fundo em micro-ondas 2,7260 – 270,424 Ponto triplo da água 273,16 0,01 Ponto de ebulição da água 373,15 100 Lâmpada incandescente 2500 2227 Superfície visível do Sol 5778 5505 Núcleo do Sol 16 x 106 16 x 106 Bomba nuclear (pico de temperatura) 350 x 106 350 x 106 Colisão próton X núcleo no CERN 10 x 1012 10 x 1012 QUADRO 1 – ALGUMAS TEMPERATURAS (NAS ESCALAS CELSIUS E KELVIN) ENCONTRADAS NO UNIVERSO FONTE: Adaptado de Serway e Jeweet (2004) Uma discussão aprofundada sobre o desenvolvimento histórico da termometria pode ser encontrada no artigo “A termometria nos séculos XIX e XX”, disponível no Caderno Brasileiro de Ensino de Física. Autores: PIRES, D. P. L.; AFONSO, J. C.; CHAVES, F. A. B. A termometria nos séculos XIX e XX. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 101-114, 2006. NOTA Exemplo 5: (CEFET-MG) Em um determinado dia, a temperatura mínima em Belo Horizonte foi de 15 oC e a máxima de 27 oC. A diferença entre essas temperaturas, na escala Kelvin, é de: a) 12 b) 21 c) 263 d) 285 e) 24 Resolução: Para respondermos essa pergunta precisamos saber o valor da temperatura mínima e máxima na escala Kelvin. UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 26 273,15 15 273,15 288 = + = + = min c min min T T T T K Para a temperatura mínima teremos: Para a temperatura máxima teremos: 273,15 27 273,15 300 = + = + = max c max max T T T T K A diferença entre essas temperaturas será então: 300 288 12 ∆ = − ∆ = − ∆ = max minT T T T K K T K Com isso, temos que a resposta correta é dada na alternativa A. Note que poderíamos ter chegado na resposta de forma mais rápida, sem fazermos a transformação de uma escala termométrica para outra. Bastaria subtrair o valor da temperatura máxima e mínima diretamente na escala Celsius e obteríamos o mesmo resultado: uma diferença de 12 graus. Exemplo 6: Em um laboratório medimos a temperatura de um dado líquido como sendo 60 oF. O valor da temperatura desse líquido na escala Kelvin será: a) 285,5 b) 321,5 c) 290 d) 282 e) 288,7 Resolução: Para podermos obter o valor da temperatura na escala Kelvin é necessário estabelecermos uma relação de proporcionalidade entre as escalas Kelvin TÓPICO 2 | ESCALAS TERMOMÉTRICAS 27 e Fahrenheit. Essa relação é fácil de ser obtida se conhecermos ao menos dois valores de temperatura para situações específicasem ambas as escalas. Sabemos que os valores da temperatura para os pontos de fusão e ebulição da água valem, na escala Kelvin, TK f = 273,15 K e TK e = 373,15 K, respectivamente. Os valores de temperatura para esses mesmos pontos valem, na escala Fahrenheit, TF f = 32 oF e TF e = 212 oF, respectivamente. Agora podemos criar a relação de proporcionalidade entre as temperaturas de ambas as escalas: ( ) 273,15 32 373,15 273,15 212 32 273,15 32 100 180 273,15 32 5 9 5273,15 32 9 5273,15 17,78 9 5 255,37 9 − − = − − − − = − − − − = − − = − = − − = − = + K Kf F Ff Ke Kf Fe Ff K F K F K F K F K F K F t T t T T T T T t t t t t t t t t t t t Com isso, podemos converter o valor de temperatura de tf = 60 oF para a escala Kelvin: . Em que: 5 60 255,37 9 × = +Kt 33,33 255,37 288,7 = + = K K t t K Portanto, a temperatura desse líquido é tK = 288,7 K e a alternativa correta é a letra E. 28 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem diferentes tipos de termômetros e como eles funcionam. • Um termômetro de mercúrio é baseado na dilatação volumétrica do mercúrio. • Um termômetro bimetálico é baseado na diferença de dilatação entre diferentes metais. A variação de temperatura causa um entortamento de um fio bimetálico que pode ser utilizado para mover um ponteiro sobre uma escala numerada. • Um termômetro digital é baseado na variação da resistência elétrica de um resistor presente em seu circuito interno. • A origem das principais escalas termométricas usadas atualmente são: Celsius, Fahrenheit e Kelvin. • Para uma escala termométrica ser criada é preciso definir pontos de calibração que servirão de base para a comparação de temperaturas. • A escala Celsius tem como pontos de calibração a temperatura de fusão da água (tomada como 0 oC) e a temperatura de ebulição da água (tomada como sendo 100 oC). • A escala Celsius é a principal escala termométrica utilizada no mundo. • A escala Fahrenheit tem como pontos de calibração o ponto de congelamento de uma mistura de água, gelo e cloreto de amônio e a temperatura do corpo humano sadio. • Na escala Fahrenheit a água congela a 32 oF e ferve a 212 oF. • A escala Kelvin foi criada tomando como pontos de calibração a temperatura do zero absoluto (0 K) e a temperatura do ponto triplo da água (a única temperatura sob a qual gelo, água líquida e vapor de água podem coexistir em equilíbrio), que ocorre a 273,16 K. • A temperatura do zero absoluto surge da extrapolação de um gráfico de pressão em função da temperatura para um gás. Quando a pressão é zero, teremos a menor temperatura possível para uma molécula. 29 • Existe a conversão da escala Celsius para a escala Fahrenheit. Para isso utilizamos a seguinte relação entre as temperaturas em Celsius TC e as temperaturas em Fahrenheit TF . 9 32 5 = +cf TT • Existe a conversão da escala Celsius para a escala Kelvin. Para isso utilizamos a seguinte relação entre as temperaturas em Celsius TC e as temperaturas em Kelvin T. 273,15= +cT T • É possível fazer a conversão de uma temperatura de qualquer escala termométrica para outra. 30 1 (ACAFE-SC) Largamente utilizados na medicina, os termômetros clínicos de mercúrio relacionam o comprimento da coluna de mercúrio com a temperatura. Sabendo-se que quando a coluna de mercúrio atinge 2,0 cm, a temperatura equivale a 34 oC e, quando atinge 14cm, a temperatura equivale a 46 oC. Ao medir a temperatura de um paciente com esse termômetro, a coluna de mercúrio atingiu 8,0 cm. A alternativa correta que apresenta a temperatura do paciente, em oC, nessa medição é: a) ( ) 36. b) ( ) 42. c) ( ) 38. d) ( ) 40. 2 Mesmo que as escalas sejam diferentes, ainda é possível encontrar uma temperatura para a qual um termômetro em Celsius e um termômetro em Fahrenheit marcariam o mesmo número. Qual valor, a seguir, representa esse número marcado no termômetro? a) ( ) -40. b) ( ) -35. c) ( ) 10. d) ( ) 40. 3 O uso do ponto de fusão do gelo e da ebulição da água ocorreu, pela primeira vez, para a calibração de uma escala termométrica desenvolvida em 1730 pelo físico francês René de Réaumur. Essa escala foi bastante comum na França, Alemanha e Rússia no século XVIII e ainda pode ser encontrada em alguns lugares na Europa. A escala usava o símbolo oR e tomava o ponto de fusão da água como 0 oR e o ponto de ebulição como sendo 80 oR. a) Estabeleça uma relação de conversão entre as escalas termométricas Celsius e Réaumur. b) Se um objeto está à temperatura de 25 oR, qual será sua temperatura em Celsius? AUTOATIVIDADE 31 c) Um termômetro antigo na escala Réaumur verificou uma mudança de 5 oR em um único dia. Qual foi a variação na escala termométrica Celsius? d) Qual a temperatura do ponto triplo da água (273,16 K) em graus Réaumur? 4 Imagine que você está desenvolvendo uma nova escala termométrica que se chamará Academius, e terá como símbolo oAc. Para calibrar essa escala você utiliza um fio de ouro. Quando este fio de ouro está em equilíbrio térmico com gelo, seu comprimento é de 20 cm. Quando este mesmo fio está em equilíbrio térmico com água em ebulição seu tamanho é 20,03 cm. a) Escreva a relação de conversão entre as escalas de temperatura Celsius e Academius. b) Sabendo que a temperatura de fusão do ouro é de 1064 oC, qual será o comprimento máximo que o fio de ouro poderá ter antes de derreter completamente? 32 33 TÓPICO 3 DILATAÇÃO TÉRMICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Você já se perguntou sobre o que são os estalos que ocorrem em uma casa após um dia de muito calor, ou por que os azulejos devem ser sempre separados um do outro por uma camada de rejunte? Após esse tópico você saberá a causa desses fenômenos. As situações descritas têm relação com a contração e expansão que diferentes materiais sofrem com a variação da temperatura. A esses fenômenos damos o nome de dilatação térmica. Entretanto, os materiais sofrem esse efeito de forma diferente. Qual a origem dessa diferença? Veremos que é possível estudar a dilatação térmica de forma simplificada considerando as dimensões do corpo estudado. 2 EXPANSÃO E CONTRAÇÃO Como vimos anteriormente, uma das principais formas de verificarmos a temperatura de um corpo é feita com base na expansão ou contração de uma certa substância com a variação de temperatura. Entretanto, a magnitude dessa contração ou expansão depende muito da substância. É mais fácil verificar a variação de volume em materiais como líquidos e metais. Para desenvolver qualquer tipo de objeto ou estrutura é necessário conhecer previamente todas as características dos materiais a serem usados. É possível prever como esses materiais se comportarão de acordo com a variação de temperatura a qual serão submetidos no dia a dia com o seu uso. A mudança na distância média entre átomos e moléculas de um corpo é o que define sua expansão térmica. Dessa forma, todas as substâncias sofrem variações nas três dimensões (comprimento, largura e altura) simultaneamente. Entretanto, dependendo do caso, é possível estudar a dilatação em cada uma das dimensões separadamente. 34 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 3 DILATAÇÃO LINEAR Em uma primeira situação vamos considerar um corpo idealmente linear. Essa aproximação é possível se considerarmos um corpo em que seu comprimento é muito maior que sua largura e altura. Estas outras dimensões podem ser, então, desprezadas. Experimentalmente é possível avaliar que a variação no comprimento é diretamente proporcional à variação da temperatura. Dessa forma, podemos escrever a seguinte equação: ∆L = αL0∆T Em que ∆L é a variação no comprimento, ∆T é a variação na temperatura, L0 é o comprimento original e α é uma constante de proporcionalidade obtida a partir de experimentos. Essa constante também é chamada de coeficiente de expansão linear e tem unidade (oC)–1. Note que o valor será o mesmo se considerarmosa variação de temperatura em kelvins, dado que o tamanho do grau nas duas escalas é o mesmo. O quadro a seguir relaciona alguns materiais com seus respectivos coeficientes de expansão linear: Material Coeficiente de expansão linear α (oC)–1 Material Coeficiente de expansão linear α (oC)–1 Alumínio 22 x 10–6 Ouro 14 x 10–6 Aço 14 x 10–6 Platina 9 x 10–6 Carbono 3 x 10–6 Prata 20 x 10–6 Chumbo 29 x 10–6 Quartzo fundido 0,55 x 10–6 Cimento 6,8 x 10–6 Silício 2,6 x 10–6 Cobre 17 x 10–6 Tungstênio 4,5 x 10–6 Cromo 4,9 x 10–6 Vidro comum 8,6 x 10–6 Latão 18 x 10–6 Vidro borossilicato (vidro pyrex) 3,2 x 10 –6 Níquel 17 x 10–6 Zinco 26 x 10–6 QUADRO 2 – COEFICIENTES DE DILATAÇÃO LINEAR PARA DIFERENTES MATERIAIS FONTE: Serway e Jewett (2004, p. 562) Com base na equação anterior podemos obter facilmente a medida do comprimento de um dado material após sua expansão ou contração. Essa nova medida será dada por: TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 35 L – L0 = αL0∆T L = L0 + αL0∆T L = L0(1 + α∆T) Exemplo 7: O gráfico a seguir representa os dados de dilatação linear obtida pelo aquecimento de uma nova liga metálica. Um pesquisador precisa determinar o coeficiente de dilatação para estudar uma nova possibilidade de utilização desse novo material. FIGURA 8 – VARIAÇÃO DO COMPRIMENTO DE UMA BARRA EM FUNÇÃO DA SUA TEMPERATURA FONTE: O autor a) Com base no gráfico, calcule o coeficiente de dilatação linear dessa liga metálica. b) Suponha que a dilatação continue linear mesmo a temperaturas muito altas. Qual seria o comprimento da barra caso a temperatura atinja 300 oC? Resolução: Para calcularmos o coeficiente de dilatação linear da liga metálica (alternativa A da questão), primeiramente devemos notar que o gráfico dado é uma relação linear do tipo y = ax, onde α é o coeficiente angular que determina a inclinação da reta. No gráfico temos a relação da variação do comprimento 36 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA em função da variação da temperatura. Podemos comparar a equação para a dilatação ∆L = αL0∆T com essa equação da reta, e identificamos o termo aL0 como o coeficiente angular. Note que o gráfico nos informa que para uma variação de temperatura entre 0 e 20 oC houve uma variação de comprimento de 150 cm a 150,014 cm. Com base nessas duas informações, e tomando L0 = 150 cm, podemos calcular o valor do coeficiente de dilatação linear α. Em que: Com isso, vemos que o coeficiente de dilatação dessa nova liga metálica vale a = 4,67 x 10–6(oC)–1. Para respondermos à questão proposta na letra B desta questão, devemos ter em mente que a dilatação continua linear mesmo a altas temperaturas. Assim, podemos extrapolar o gráfico dado, que continuará válido mesmo na temperatura de 300 oC. Durante o texto apresentamos uma equação que calcula diretamente o novo comprimento linear de uma barra com base no comprimento inicial, na variação de temperatura e no coeficiente de dilatação linear. Com os dados da questão e com o valor obtido anteriormente para o coeficiente de dilatação, teremos: ∆L = αL0∆T ( ) ( ) 6 1 150,014 150 150 20 0 0,014 150 20 0,014 3000 0,0001 3000 4,67 10 ( )− − − = − = = = = × á á á á á ℃oC α α α α α 14 ( ) ( ) ( ) ( ) 0 6 1 150 1 4,67 10 300 0 150 1 0,0014 150 1,0014 150,21 − = + ∆ = + × − = + = = L Lá T L L L L cm L = L0(1 + a∆T)α TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 37 Com isso, quando a temperatura de uma barra composta pela liga metálica estudada atingir 300 oC, veremos que o comprimento desta barra terá aumentado de 150 cm para 150,14 cm. Exemplo 8: (MACKENZIE – SP) Ao se aquecer de 1,0 oC uma haste metálica de 1,0 m, o seu comprimento aumenta de 2,0 x 10–2 mm. O aumento do comprimento de outra haste do mesmo metal, de medida inicial 80 cm, quando a aquecemos de 20 oC, é: a) 0,23 mm. b) 0,32 mm. c) 0,56 mm. d) 0,65 mm. e) 0,76 mm. Resolução: Para calcularmos o aumento no comprimento da haste de metal é necessário, antes de tudo, obtermos o coeficiente de dilatação linear do metal utilizado. Podemos obter esse coeficiente usando os dados da primeira parte do enunciado. Vamos utilizar a equação da dilatação linear para obtermos o valor do coeficiente α: Conforme dado no problema, temos que: L0 = 1m, ∆T = 1m, ∆T = 1,0 oC e ∆L = 2,0 x 10–2 mm. Para fazer o cálculo, precisamos sempre prestar atenção nas unidades envolvidas. Neste caso devemos transformar a unidade de medida dada em milímetros para metros, e teremos ∆L = 2,0 x 10–5m. Substituindo esses valores teremos: 0 ∆ = ∆ Lá L T ∆L = αL0∆T α 38 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA Este é o coeficiente de dilatação linear do metal que constitui a haste. Agora podemos calcular o aumento no comprimento da haste de medida inicial L0 = 80 cm após sofrer um aumento de temperatura de 20 oC. Substituindo os valores na equação para dilatação linear, teremos: 5 5 2,0 10 80 20 2,0 10 80 20 0,032 − − ∆ = × × × ∆ = × × × ∆ = L L L cm ∆L = αL0∆T Note que o resultado foi dado em centímetros. Para compararmos com as alternativas dadas nessa questão é preciso transformar esse resultado para milímetros, e teremos ∆L = 0,32 mm. Assim, a alternativa correta para essa questão é a letra B. 4 DILATAÇÃO SUPERFICIAL Quando estamos lidando com objetos aproximadamente bidimensionais, como um disco ou uma chapa, é mais interessante calcularmos a variação da área em função da temperatura. Dado que a área de um objeto é dada como A = L2, podemos extrapolar da dilatação linear (L = L0(1 + α∆T) para a dilatação superficial: 5 5 5 1 2,0 10 1 1 2,0 10 1 1 2,0 10 ( ) − − − − × = × × = × = × á á á ℃oC α α α L2 = [L0(1 + a∆T)]2 L2 = L02 + 2aL0∆T + a2 L02 ∆T2 A = A0 + 2aA0∆T + a2 A02 ∆T2 α α α α α TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 39 Note que ∆T é muito menor do que um, de forma que elevá-lo a potências maiores que 1 resulta em um número que podemos desprezar. Desconsiderando este termo, teremos: A = A0 + 2αA0∆T que é a equação para a dilatação superficial, onde α é o coeficiente de dilatação linear e A0 a área original. Também podemos reescrever essa equação de uma outra forma: Essa expressão é válida sempre que, para uma dada substância, o coeficiente de expansão linear for constante em todas as dimensões para uma mesma variação de temperatura em cada dimensão. Uma substância com esta propriedade é dita isotrópica. A – A0 = 2αA0∆T∆A = 2αA0∆T Uma discussão sobre o método matemático para a dedução do coeficiente de dilatação superficial pode ser encontrada no artigo “Dilatação térmica: Uma abordagem matemática em física básica universitária”, de Paulo Machado Mors (2016), disponível no Caderno Brasileiro de Ensino de Física. Consulte a referência ao final. NOTA Uma utilização prática do nosso conhecimento sobre dilatação superficial é quando precisamos abrir um pote em conserva. Muitas vezes, não conseguimos abrir a tampa utilizando somente a força. Nessas situações vale lembrar que a tampa é feita de metal, que tem propriedades de expansão e contração muito diferentes das do vidro. Verifique o quadro 3 e veja que a maioria dos metais possui coeficiente de dilatação muito maior que aquele do vidro comum. Desse modo, podemos aquecer a tampa colocando-a brevemente próximo a uma fonte de calor. O resultado será a dilatação (podemos tomá-la como superficial) da tampa metálica. O vidro também deve aquecer com a proximidade da fonte quente, porém sofrerá uma dilatação muito menor. Com isso, haverá uma folga entre a tampa e o vidro, de forma que ficará muito mais fácil abrir o pote em conserva. Exemplo 9: (UERN-RN) O quadro a seguir apresenta os coeficientes de dilatação linear de alguns metais: 40 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA Metal Coeficiente de expansão linear α (oC)–1 Ferro 12 x 10–6 Cobre 17 x 10–6 Alumínio 22 x 10–6 Zinco 26 x 10–6 QUADRO 3 – COEFICIENTES DE DILATAÇÃOLINEAR FONTE: Adaptado de Serway e Jewett (2004) Uma placa de metal de área 1 m2 a 20 oC é aquecida até atingir 100 oC apresentando uma variação de 35,2 cm2 em sua área. O metal que constitui essa placa é o: a) Ferro b) Cobre c) Zinco d) Alumínio Resolução: Para resolvermos esse exercício, devemos descobrir qual o valor do coeficiente linear do metal que compõe a placa. Lembrando que a placa pode ser considerada como um objeto bidimensional, devemos utilizar as fórmulas para a dilatação superficial. Em que: ∆A = 2αA0∆T O problema nos informa ainda que ∆A = 35,2 cm2, A0 = 1 m2 e que a variação da temperatura foi de ∆T = T – T0 = 100 oC – 20 oC = 80 oC. Note que a área original é dada em metros quadrados, enquanto que a variação de área sofrida pela placa de metal é dada em centímetros quadrados. Para podermos comparar ambos os valores, precisamos primeiramente transformar a unidade de cm2 para m2. Isso pode ser feito facilmente por meio de uma relação de proporcionalidade. Em que: 2 4 2 2 2 4 2 1 10 35,2 35,2 10− = ∆ ∆ = × m cm A m cm A m TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 41 Isolando o valor de α e substituindo esses valores, teremos: Podemos finalmente comparar o valor obtido com aquele dado no quadro de coeficiente para os metais, e vemos que a placa deve ser composta de alumínio. Logo, a resposta para essa questão é a letra D. Exemplo 10: (PUC-PR) Uma professora resolve passar suas férias de julho na Europa. A temperatura ao embarcar em Curitiba é de 10 oC. Ao desembarcar na Itália, após uma longa viagem, surpreende-se com o calor, muito maior que o esperado, já que o termômetro de rua marcava a temperatura em 40 oC. Ao observar seu anel, supostamente de ouro (coeficiente de dilatação linear α = 1,5 x 10–6 (oC)–1 de diâmetro de 20 mm), pode-se afirmar que o anel: a) Estava dilatado, com diâmetro 0,009 mm maior. b) Estava dilatado, com diâmetro 0,018 mm maior. c) Estava contraído, com diâmetro 0,009 mm menor. d) Estava contraído, com diâmetro 0,018 mm menor. e) Estava igual, sem sofrer qualquer variação. Resolução: Para resolvermos essa questão precisamos utilizar nossos conhecimentos sobre dilatação superficial. Conforme vimos no texto, podemos aproximar o anel como um objeto bidimensional. A dilatação neste anel irá acontecer ao longo do tamanho de sua circunferência e ao longo do seu diâmetro. Neste problema estamos interessados unicamente na variação de seu diâmetro. Dessa forma, basta calcularmos a variação linear que ocorre nesta dimensão, e ignorarmos a variação no comprimento. Para isso, basta substituir os valores dados nesta questão na fórmula da dilatação linear. Consideramos a variação de temperatura como sendo ∆T = T – T0 = 40 oC – 10 oC = 30 oC. ( )( ) ( ) 0 4 4 16 2 35,2 10 2 1 80 0,22 10 22 10 − − −− ∆ = ∆ × = = × = × Aá A T á á á ℃oC α α α α 42 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 6 6 20 1,5 10 30 900 10 0,009 − − ∆ = × × × ∆ = × ∆ = L L L mm ∆L = αL0∆T ∆L = αD∆T O valor obtido representa a variação no diâmetro do anel. Como a diferença de temperatura entre a Itália e Curitiba foi positiva, e o coeficiente de dilatação linear também possui um valor positivo, podemos identificar essa variação no diâmetro como sendo uma expansão. Dessa forma, a reposta correta para essa questão é a letra A, que afirma que o anel “estava dilatado, com diâmetro 0,009 mm maior”. Analisando atentamente a questão anterior, podemos perceber um comportamento por vezes contraintuitivo da dilatação de superfícies. Suponha que estamos estudando um disco com um orifício em seu interior, como o ilustrado na Figura 9. Sabemos que, ao ser aquecido, este disco se dilatará, mas o que acontecerá com o orifício no interior do disco quando a temperatura aumentar? FIGURA 9 – DISCO COM ORIFÍCIO FONTE: Disponível em: <https://www.freeimages.com/photo/gear- 4-1566681>. Acesso em: 23 abr. 2018. Quando aumentamos a temperatura de um corpo, estamos na verdade aumentando a energia cinética média das moléculas que o compõem. As moléculas mais agitadas tendem a se afastar umas das outras, aumentando o tamanho do orifício. Assim, há um aumento de superfície da placa, e um aumento no perímetro do orifício. TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 43 5 DILATAÇÃO VOLUMÉTRICA As considerações que fizemos até agora para dilatação linear e superficial são válidas para algumas situações específicas. Entretanto, no mundo real os objetos são tridimensionais e estamos geralmente mais intencionados em descobrir a dilatação no comprimento, altura e largura de um dado material. Dado que o volume de um objeto é por V = L3, podemos extrapolar da dilatação linear (L = L0(1 + α∆T)) para a dilatação volumétrica, de forma análoga à realizada para a dilatação superficial: L3 = [L0(1 + α∆T)]3 L3 = L03 + 3αL03∆T + 3α2 L03 ∆T2 + α3L03∆T3 V = V0 + 3αV0∆T + 3α2 V0∆T2 + α3V0∆T3 Novamente podemos desprezar os termos que apresentam ∆T elevado a potências maiores que 1. Ficaremos então com: V = V0 + 3αV0∆T Que é a equação para a dilatação volumétrica, onde α é o coeficiente de dilatação linear e V o volume inicial. Podemos reescrever essa equação de uma outra forma: V – V0 = 3αV0∆T ∆V = 3αV0∆T Exemplo 11: Um engenheiro possui uma esfera metálica de raio 10 cm à temperatura de 20 oC. Essa esfera é feita de alumínio maciço. Levando-se em conta que o alumínio suporta cerca de 660 oC antes de derreter (sofrer fusão), calcule o volume máximo que esta esfera irá atingir quando o engenheiro aumentar a sua temperatura. Considere o coeficiente de dilatação linear do alumínio como sendo α = 22 x 10–6(oC)–1. Resolução: Para resolvermos esta questão basta determinarmos a variação no volume da esfera quando esta sofre uma variação de temperatura entre 20 oC e 660 oC. Entretanto, a questão nos forneceu apenas o tamanho do raio da esfera. É preciso calcular então qual o volume inicial da esfera. Para isso, utilizamos a fórmula a seguir: 44 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 3 0 4 3 = RV p Considerando o raio da esfera como sendo R = 10 cm = 0,1 m, teremos: 3 0 3 0 4 0,1 3 0,00419 V V m p = = Agora podemos calcular a variação do volume da esfera para o intervalo de temperatura considerado: ( ) ( ) 6 6 3 3 22 10 0,00419 660 20 3 22 10 0,00419 640 0,000177 V V V m - - D = ´ ´ ´ - D = ´ ´ ´ D = ∆V = 3αV0∆T O valor calculado representa a variação no volume da esfera. Para calcular o volume total após a dilatação devemos somar esse valor ao volume inicial: 0 3 0,00419 0,000177 0,004367 V V V V V m = +D = + = Com isso, vemos que, após sofrer uma variação de temperatura de 20 oC a 660 oC (temperatura de fusão do alumínio), a esfera terá um volume de 0,004367 m3. Exemplo 12: (IFCE) Um bloco em forma de cubo possui volume de 400 cm3 a 0 oC e 400,6 cm3 a 100 oC. O coeficiente de dilatação linear do material que constitui o bloco, em unidades (oC)–1 vale: a) 4 x 10–5 b) 3 x 10–6 c) 2 x 10–6 d) 1,5 x 10–5 e) 5 x 10–6 TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 45 Resolução: Para resolvermos esse exercício é necessário obtermos algumas variáveis a partir do que nos foi dado no enunciado. A variação de temperatura ∆T é: 0 100 0 100 T T T T T D = - D = - D = ℃ ℃ ℃ oCoC oC Da mesma forma devemos obter a variação no volume ∆V: 0 3 3 400,6 400 0,6 V V V V cm V cm D = - D = - D = oC Agora, basta substituirmos esses valores na equação para a dilatação volumétrica de sólidos para obtermos o valor do coeficiente de dilatação linear α: 0 0 5 1 3 0,6 400 100 1,5 10 ( )- - D = D D = D = ´ = ´ V V T V V T a a a a ℃oC Assim, temos que o valor do coeficiente de dilatação linear do material que constitui o bloco é α = 1,5 x 10–5 (oC)–1. A alternativa correta é a letra D. Durante a construção de pontes é imprescindível avaliar a dilatação dos materiais que serão utilizados. Para evitar o colapso da estrutura,geralmente são utilizados blocos de metal ou concreto que não encostam um no outro. Entre os blocos são deixadas folgas de até alguns centímetros que garantem que as estruturas não sejam forçadas com a dilatação após o aumento de temperatura. A esses espaços de folga damos o nome de juntas de dilatação. A Figura 10 mostra um exemplo desse tipo de estrutura. Muitas vezes, essas juntas são preenchidas por diferentes materiais, como borracha, que garantem a solidez da estrutura e resistência à dilatação. 46 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA FIGURA 10 – JUNTAS DE DILATAÇÃO DENTADA EM UMA PONTE EM AUCKLAND, NOVA ZELÂNDIA FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/thumb/2/20/BridgeExpansionJoint. jpg/1200px-BridgeExpansionJoint.jpg>. Acesso em: 13 jul. 2018. Caso as juntas de dilatação não existissem, as diferentes partes da estrutura sofreriam graus variados de dilatação. Isso poderia fazer com que algumas ligações fiquem sob grande tensão e possam sofrer rachaduras ou quebras. Imagine um parafuso que dilate mais que o buraco onde está inserido. Nessa situação é possível que o parafuso não suporte as forças às quais é submetido, comprometendo toda a segurança da estrutura. Exemplo 13: Uma barra de comprimento L = 50 m, feita de um material X, sofre variação de temperatura de 20 °C, e seu comprimento varia em 0,02%. Considere duas barras do mesmo material X e de mesmo comprimento L, posicionadas, uma em frente à outra, separadas por uma distância d = 1 cm (veja a figura). Admitindo-se que cada barra cresça de forma homogênea, determine a variação de temperatura necessária para que a distância d, entre elas, se anule. TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 47 Resolução: Nesta questão temos representada uma situação análoga à das juntas de dilatação. Devemos avaliar a máxima variação de temperatura que o sistema pode sofrer sem causar deformações indesejáveis às barras. Aqui consideraremos novamente a aproximação das barras como materiais unidimensionais de comprimento L. Primeiramente é necessário calcularmos o coeficiente de dilatação linear do material da barra: 0 0 D = D D = D L L T L L T a a O enunciado nos informa que, após sofrer uma variação de temperatura de 20 °C, o tamanho da barra, que inicialmente era de 50 m, aumentou em 0,02%. Podemos usar uma relação direta de proporcionalidade para obter o valor da dilatação ∆L: 50 100 % 0,02 % = D m L Procedendo com o cálculo, teremos: 100 50 0,02 50 0,02 100 50 0,02 100 1 100 0,01 D = ´ ´ D = ´ D = D = D = L L L L L m Agora podemos calcular o valor do coeficiente de dilatação linear α para o material X: 48 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA 0 5 1 0,01 50 20 0,01 1000 1,0 10 ( )- - D = D = ´ = = ´ L L T a a a a ℃oC Com isso, podemos calcular a variação de temperatura necessária para que as barras dilatem e preencham a distância d = 1 cm entre elas. Note que ambas as barras devem preencher o espaço d, e que cada barra cresce em ambas as suas extremidades. Assim, cada barra irá contribuir com metade de sua dilatação total para o preenchimento do espaço. Sendo a medida d = 1 cm, devemos calcular o quanto cada barra deve dilatar: 2 2 ´D = =D Ld d L Assim, a dilatação total de cada barra tem que ser igual ao espaço vazio entre elas para garantir o preenchimento. Podemos agora calcular a variação de temperatura que garantirá essa dilatação. Para isso, também é necessário trabalharmos com unidades padronizadas, e devemos utilizar a medida d em metros, ou seja, d = 0,01 m: 0 0 0 5 0,01 50 1,0 10 20 - D = D = D D = D = ´ ´ D = L L T d L T dT L T T a a a ℃oC TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 49 Com isso, temos que, para preencher completamente o espaço entre as barras, estas devem sofrer um aumento de temperatura de 20 °C. Caso o aumento seja superior a esse valor, as barras começarão a se deformar. 6 DILATAÇÃO VOLUMÉTRICA DOS LÍQUIDOS Quando a substância com a qual estamos lidando é um líquido, devemos levar em conta o coeficiente de dilatação volumétrica β. Não faz sentido separar a dilatação de um líquido em uma ou duas dimensões, porque um líquido sempre toma a forma do recipiente no qual está contido. Para calcularmos a variação no volume de um líquido devemos usar a seguinte expressão: 0D = DV V Tb Novamente, podemos obter o volume final do líquido com a reorganização dos termos na equação anterior: ( ) 0 0 0 0 0 1 - = D = + D = + D V V V T V V V T V V T b b b O quadro a seguir relaciona algumas substâncias líquidas com seus respectivos coeficientes de dilatação volumétricos: Substância Coeficiente de dilatação volumétrico β (oC)–1 Água 1,3 x 10–4 Mercúrio 1,8 x 10–4 Glicerina 4,9 x 10–4 Benzeno 10,6 x 10–4 Álcool 11,2 x 10–4 Acetona 14,9 x 10–4 Petróleo 10,0 x 10–4 QUADRO 4 – COEFICIENTES DE DILATAÇÃO VOLUMÉTRICO PARA DIFERENTES SUBSTÂNCIAS LÍQUIDAS FONTE: Adaptado de Serway e Jewett (2004) Note que o coeficiente de dilatação volumétrica de um líquido é geralmente muito maior do que o coeficiente volumétrico para os sólidos (veja Quadro 2). Sempre devemos avaliar cuidadosamente nosso problema para verificarmos se não há derramamento do líquido em função das diferenças nos coeficientes de dilatação volumétrica. 50 UNIDADE 1 | EQUILÍBRIO TÉRMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA Exemplo 14: (Adaptada de Cesesp-PE) O tanque de gasolina de um carro, com capacidade para 60 litros, é completamente cheio a 10 °C, e o carro é deixado num estacionamento onde a temperatura é de 20 °C. Sendo o coeficiente de dilatação volumétrica da gasolina igual a 1,1 x 10–3 (oC)–1 e considerando desprezível a variação de volume do tanque, a quantidade de gasolina derramada é, em litros: a) 1,32. b) 1,64. c) 0,66. d) 3,45. e) 0,58. Resolução: A gasolina dentro do carro sofreu dilatação térmica em função do aumento da temperatura do carro. Desta forma, quando a temperatura variou de 10 oC a 20 oC parte da gasolina transbordou do tanque (nesta questão devemos desprezar a variação do volume do próprio tanque de gasolina). Para calcular o quanto de gasolina foi derramada, basta substituir os valores dados na questão na equação da dilatação volumétrica do líquido. Consideramos β = 1,1 x 10–3 (oC)–1, V0 = 60 L, T0 = 10 oC e T = 20 oC. Em que: ( ) ( ) 0 3 3 1,1 10 60 20 10 1,1 10 60 10 0,66 − − ∆ = ∆ ∆ = × × × − ∆ = × × × ∆ = VâV T V V V L ∆V = βV0∆T Assim, vemos que 0,66 L de gasolina vão ser derramados do tanque quando a temperatura variar de 10 oC a 20 oC. A resposta correta para essa questão é a alternativa C. Em um sistema real não podemos considerar apenas a dilatação do líquido. É necessário levar em conta a dilatação do recipiente que o contém. ATENCAO TÓPICO 3 | DILATAÇÃO TÉRMICA 51 A dilatação real de um líquido deverá levar em conta a dilatação do recipiente. Para avaliar o quanto um líquido se dilatou podemos estudar um recipiente com líquido até a borda. Quando aquecidos, tanto o recipiente quando o líquido se dilatarão. Entretanto, o recipiente se dilatará menos que o necessário para comportar a dilatação do líquido, e este será derramado (em parte). A quantidade derramada é chamada de dilatação aparente do líquido. Para calcularmos a dilatação aparente do líquido devemos considerar a dilatação real menos a porção dilatação que continuou contida no recipiente. ∆ = ∆ −∆aparente real recipienteV V V O recipiente no qual o líquido está contido é tridimensional e, quando submetido a uma variação de temperatura, sofrerá uma dilatação volumétrica dada por V0(1+ 3α∆T). O líquido sofrerá uma dilatação dada por V0(1+ β∆T). Assim, a dilatação aparente do líquido será: ( ) ( )aparente 0 0 aparente 0 0 0 0 aparente 0 0 V V 1 T - V 1 3 T V V V T - V - V 3 T V V T -3 V T ∆ = +β∆ + α∆ ∆ = + β∆ α∆ ∆ = β∆ α ∆ Nesta expressão fica claro que, quando o líquido e o recipiente sofrem uma
Compartilhar