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APLICANDO O CONHECIMENTO Leia o texto a seguir, sobre a lenda Cobra Honorato, para responder às questões 1 a 3. Cobra Honorato É uma das lendas mais populares do folclore amazônico, principalmente entre a população ribeirinha, e segundo ela uma índia teria engravidado da Boiuna (uma Sucuri, conhecida como Cobra Grande, que habita o fundo dos rios) e dado à luz duas cobrinhas gêmeas: Cobra Honorato e Maria Caninana. Os dois deixavam a pele de cobra no rio, assumiam a forma totalmente humana à noite, e Cobra Norato adorava ir para festas e ficar com as moças. Maria era má e violenta: virava embarcações, atacava pescadores e peixes pequenos, mas o irmão era bom e consertava todas as malvadezas da irmã. Ele, então, a matou; alguns dizem que foi porque estava cansado de suas maldades, outras versões contam que ele tinha ciúme dela. Em seguida, ele ficou sozinho no rio e, como era namorador e festeiro, queria poder ficar para sempre apenas na forma humana, sem importar se era noite ou dia. O homem foi, então, procurar sua mãe, mas ela tinha muito medo de desencantá-lo; na verdade, ela e toda a cidade. Quando ele estivesse dormindo, e ninguém sabia onde seria, deveriam colocar em sua boca leite fresco de mulher (em outra versão, deveriam ser pingadas sete gotas desse leite em sua cabeça) e bater na sua cabeça até machucar, mas ele poderia dar o bote. Ele sempre pedia uma vez ao ano para que um amigo ou uma amiga executasse o desencanto, mas ninguém tinha coragem. Uma noite, quan- do deixou o corpo, fez amizade com um soldado, que se aventurou a levar o vidrinho de leite e o machado a fim de livrar Cobra Norato para sempre do encanto, assumindo de vez a forma de homem. Autor ia desconhecida. Ribeirinho: que se localiza às margens de um rio. Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco. 1 A lenda acima é conhecida tanto com o nome Cobra Honorato quanto Cobra Norato. Considerando as carac- terísticas das lendas, formule uma hipótese para essa variedade de nomes. Como as lendas, no princípio, eram contadas oralmente, é provável que o nome inicial fosse Honorato, porém as pessoas, pela pronúncia rápida, simplificaram para Cobra Norato, cortando a sílaba Ho, pouco 2 Essa história, assim como a do Boto, é uma lenda ama- zônica, comum, portanto, no Norte do país. Que seme- lhança podemos notar entre ambas as lendas? Nas duas lendas, as mulheres têm filhos de animais. Além disso, os animais são aquáticos, os homens nos quais se transformam gostam de dançar e frequentam os bailes ribeirinhos. 3 Considere o ditado popular “Quem conta um conto aumenta um ponto!”, adequado ao estudo das lendas. a) Que indício a lenda Cobra Honorato nos dá de que é realmente popular e, por isso, já foi contada muitas vezes? Em várias partes da história há versões diferentes para explicar um mesmo fato, como a morte de Maria Caninana e o ritual para desencantar a Cobra Honorato. O próprio nome do personagem principal é um indício de que a lenda é um relato passado oralmente de geração em geração. expressiva do ponto de vista sonoro. Ideário Lab/Arquivo da editora 93 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 8 PH_EF2_7ANO_PT_087a098_CAD2_MOD08_CA.indd 93 11/27/19 15:35 b) Maria Caninana não teve a oportunidade de ser de- sencantada e ficar para sempre apenas na forma humana como seu irmão. Por que podemos dizer que esse é o sentido principal da lenda? E o que ela transmite sobre a realidade? Essa parte é permanente na lenda, não muda, já que é preservada nas demais versões. Cobra Honorato mostra que até mesmo irmãos gêmeos podem ter personalidades extremamente diferentes e que, se optamos por ser bons, somos recompensados (desencantados). Leia o texto a seguir para responder à questão 4. Arranca-Línguas Essa lenda, mais difundida no Centro-Oeste brasileiro, mais especificamente em Goiás, nos arredores do rio Ara- guaia, fala sobre uma espécie de mistura entre homem e Go- rila (por isso também é chamado de King-Kong, devido ao famoso filme), mas, segundo pessoas que afirmam já tê-lo visto, ele é muito maior que qualquer um dos dois poderia ser. Contam que um dos principais alimentos do Arranca-Línguas é a língua, que pode ser tanto de animais como bois, cavalos, cabras, ou até mesmo de gente. Costuma atacar suas vítimas à noite, matando-as e retirando as suas línguas para comer, e é por isso que recebe esse nome. Autoria desconhecida. 4 Uma explicação para o surgimento dessa lenda foi o surto de febre aftosa há muito tempo no gado da re- gião do Araguaia, espalhando essa endemia pela região Id e á ri o L a b /A rq u iv o d a e d it o ra Centro-Oeste, de modo que os pecuaristas da região ficaram alarmados. Essa doença, que pode contaminar seres humanos, gera dores e coceira na região da boca, levando à suposta retirada da língua pelos próprios ani- mais, com os dentes. a) Com base na explicação da origem da narrativa do Arranca-Línguas, mostre como as lendas se relacio- nam com a memória coletiva. As lendas preservam a memória coletiva traduzindo um acontecimento histórico por meio da imaginação, mostrando uma forma de se relacionar com o fato e eternizá-lo por meio da fantasia. b) Leia a seguinte manchete e o subtítulo: Operação prende suspeitos de receptar gado furtado em Inhumas [Goiás] Segundo investigações, grupo movimentou R$ 10 milhões em cinco anos. Dos 5 presos, dois são policiais civis suspeitos de receber vantagens. Disponível em: <http://g1.globo.com/goias/noticia/2016/12/operacao-prende- suspeitos-de-receptar-gado-furtado-em-inhumas.html>. Acesso em: 13 ago. 2019. Notícias frequentes como essa revelam ser comum o furto de gado na região Centro-Oeste do país, levando prejuízo aos fazendeiros. Com base nisso, responda: Que papel social a lenda do Arranca-Línguas pode desempenhar? A lenda gera uma crença limitante com base na construção amedrontadora do personagem Arranca-Línguas, que inibe as pessoas de se aproximar do gado à noite, quando geralmente os furtos ocorrem. Leia o texto a seguir para responder às questões 5 e 6. Quibungo A lenda nordestina diz que o Quibungo é uma espécie de bicho-papão (expressão mais comum no Sudeste, compon- do lenda regional de conteúdo semelhante) parecido com a forma de um lobo. Ele é uma espécie de monstro velho, de cabeça muito grande, sujo, faminto, feiticeiro e canibal. Tem uma boca enorme nas costas ou na barriga para pegar crianças rebeldes, malcriadas, mentirosas e que não gostam de dormir cedo. 94 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 8 PH_EF2_7ANO_PT_087a098_CAD2_MOD08_CA.indd 94 11/27/19 15:35 Os Quibungos mais malvados têm um olho só, e adoram carne fresca. Reza a lenda que, assim que a criatura engole a criança, ela já é digerida em seu estômago. Para destruir um Quibungo basta qualquer arma de fogo, mas apenas adultos podem matá-lo. Autoria desconhecida. 5 Essa é uma lenda amedrontadora, voltada para um pú- blico específico, o infantil. a) O que se espera que essa lenda promova no compor- tamento das crianças que tomam conhecimento dela? Espera-se que obedeçam aos pais e não saiam de perto deles. b) Quais são as informações da lenda que induzem o comportamento desejado? A predileção do monstro por crianças; sua forma medonha e criativa, correspondendo ao imaginário infantil; a digestão rápida da criança e, principalmente, o fato de só poder ser derrotado por adultos, o que mostra a relação de dependência da criança diante do adulto. 6 Observe atentamente o mapa, que mostra o fluxo de afri- canos escravizados para o Brasil, entre os séculos XVI e XIX: Disponível em: <www.faecpr.edu.br/site/portal_afro_brasileira/3_IV.php>. Acesso em: 13 ago. 2019. B a n c o d e i m a g e n s /A rq u iv o d a e d it o ra Pernambuco Bahia Moçambique Rio de Janeiro bantossudaneses BRASIL OCEANO ATLåNTICO Angola Congo Guiné ÁFRICA 1 560 km0 N S LO Fluxo de africanos escravizados para o Brasil Id e á ri o L a b /A rq u iv o d a e d it o ra A lenda do Quibungo foi trazida pelos angolanos e, conforme vimos, está, com poucas mudanças, presente tanto no folclore nordestino quanto no do Sudeste. a) Considerando seus conhecimentos históricos sobre a escravidão no Brasil e o mapa anterior, explique que fato da realidade levou à incorporação dessa lenda nessas duas regiões e à difusão dela por todo o país. Os africanos escravizados concentraram-se especialmente no Nordeste e no Sudeste por causa dos ciclos produtivos, o que promoveu uma aproximação maior com a cultura angolana nessas regiões. De qualquer modo, a influência africana é profunda na história e na cultura brasileiras, por isso a lenda é amplamente difundida. b) Aponte uma causa provável para a diferenciação das características da criatura lendária e seu nome. O cotidiano local de cada região, que complementou a história com suas peculiaridades na transmissão oral e o nomeou segundo o próprio sotaque. Leia o texto a seguir para responder à questão 7. João-de-barro Segundo a lenda indígena, um jovem chamado Jaebé se apaixonou pela mais bela moça de sua tribo, no sul do Brasil. Ao pedi-la em casamento, o pai exigiu provas de seu sentimento pela filha e lhe contou que o último pretendente havia prome- tido ficar em jejum por cinco dias, porém morreu no quarto. O jovem apaixonado jurou, então, ficar em jejum por nove dias e assim espantou a todos com sua coragem. O pai orde- nou que a prova se iniciasse imediatamente, enrolando-o em um couro de anta pesado para que fosse vigiado por todo o dia em relação à possível fuga e alimentação. A moça já ficava preocupada, pedindo ajuda à deusa Lua, e implorou no quinto dia que seu pai liberasse seu amor dos dias restantes. Como o pai considerou Jaebé arrogante, deixou que a pro- messa continuasse e no último momento do nono dia orde- 95 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 8 PH_EF2_7ANO_PT_087a098_CAD2_MOD08_CA.indd 95 11/27/19 15:35 nou que se tirasse o rapaz daquela situação. Ele saiu do couro da anta rapidamente com aspecto saudável e feliz. Foi muito impressionante quando ele olhou para seu amor e começou a cantar como um pássaro, transformando-se fisicamente em um. Os raios da Lua tocaram na menina, que seguiu a mesma transformação em pássaro. Conta-se que eles desapareceram juntos e assim surgiu o João-de-barro. Autoria desconhecida. 7 O pássaro joão-de-barro constrói o ninho como se fosse uma casa, à qual é apegado. Ele é um pássaro monogâ- mico, isto é, tem apenas um companheiro com o qual permanece unido por muito tempo, e tem o hábito de cantar na entrada da casa. Com isso em mente, por que podemos afirmar que a lenda do João-de-barro é uma forma poética de fantasiar a realidade não só do pássaro como também das pessoas por meio da transformação de Jaebé e de sua amada? Na lenda, os jovens apaixonados são verdadeiros e firmes em seus sentimentos, o que é visível quando ele cumpre sua prova de amor e também quando ela pede ajuda à deusa Lua para interceder por ele a seu pai, simbolizando a fidelidade monogâmica. No entanto, os personagens são seres humanos que só se convertem em joão-de-barro quando efetivam a verdade do sentimento e cantam como pássaro, mostrando o amor como símbolo da pureza da natureza que homens e animais podem ter. 8 Em todas as histórias, o caráter lendário é construído por meio da forma de contar, que ficaria ainda mais evidente na oralidade. a) Há expressões recorrentes que contribuem para essa percepção lendária. Retire uma de cada lenda do módulo. “segundo ela (lenda), uma índia teria engravidado”; “Contam que”; “Reza a lenda que”; “Segundo a lenda indígena” ou “Conta-se que”. b) O que essas expressões revelam sobre a postura da população em relação à história, especialmente do contador? Elas revelam uma postura de transferência de responsabilidade sobre a origem, a criação e a veracidade da história. Demonstram também um envolvimento afetivo com a lenda, que se deve à cultura. L u c ia n a T a n c re d o /S h u tt e rs to ck DESENVOLVENDO HABILIDADES Leia a charge a seguir e responda à questão 1. © L u te /A c e rv o d o c a rt u n is ta 96 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 8 PH_EF2_7ANO_PT_087a098_CAD2_MOD08_CA.indd 96 11/27/19 15:35 1 A quebra de expectativa proveniente da fala da última criança deve-se à seguinte característica das lendas: a) são histórias que podem ser provadas verídicas. b) são histórias conhecidas igualmente por todos. c) são histórias reconhecidamente fantasiosas. d) são histórias lembradas subjetivamente. Para resolver as questões 2 a 4, leia a história em quadrinhos “Mônica em ‘A loira do banheiro’”. © M a u ri c io d e S o u s a /M a u ri c io d e S o u s a E d it o ra L td a . SOUSA, Mauricio de. Mônica, n. 195, São Paulo: Globo/Mauricio de Sousa Editora, setembro de 2002. 97 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 8 PH_EF2_7ANO_PT_087a098_CAD2_MOD08_CA.indd 97 11/27/19 15:35 2 A lenda “A loira do banheiro” é muito famosa no Brasil, já tendo sido citada em séries televisivas e filmes, por exemplo. Mônica contou a história a Magali e, pelo que lemos, podemos perceber que essa é uma lenda urbana porque: a) apenas crianças que vivem em grandes centros a conhecem. b) o medo de a personagem aparecer está vinculado a tradições urbanas. c) a atitude de “matar” aulas é uma tradição nas cida- des modernas. d) o ambiente escolar, como uma instituição social, é uma das bases da vida urbana. 3 Há certo humor no terceiro quadrinho, no qual a per- sonagem “Loira do banheiro” dialoga com a figura da morte quando Mônica conta a Magali que a menina morreu e não diz a causa. NÃO é uma razão para a Mônica ter ignorado essa parte da lenda: a) o fato de que as lendas variam conforme são passa- das e as pessoas contam diversas justificativas, como suicídio e queda com batida na cabeça. b) o fato de que a lenda é uma construção individual e, como quem está contando é Mônica, ela inventou essa lenda sem que revelasse o motivo da morte. c) o fato de que esse não é o ponto principal da lenda: uma fantasia que explica às crianças por que não devem “matar” aulas. d) o fato de que essa história é infantil, não sendo con- veniente falar explicitamente em morte nem valori- zá-la contando detalhes. 4 Assinale a alternativa que justifique corretamente a es- colha do autor pelo formato de nuvem para o segundo e o terceiro quadrinho e para a fala de Mônica no quarto quadrinho. a) Mônica falava consigo mesma. b) Mônica apenas estava pensando. c) Mônica deixou de ser personagem para ser autora de uma história fantasiosa. d) Mônica assume a posição de narradora de uma his- tória paralela de que ela se lembra. R e p ro d u • ‹ o /E d it o ra G lo b a l CASCUDO, Luís da Câmara. Lendas brasileiras para jovens. São Paulo: Global, 2006. Esta coletânea de lendas brasileiras apresenta histórias de todas as regiões do país. Organizada por Câmara Cascudo, reconhecido estudioso do folclore nacional, é especialmente dirigida aos jovens. ANOTAÇÕES 98 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 8 PH_EF2_7ANO_PT_087a098_CAD2_MOD08_CA.indd 98 11/27/19 15:35
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