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Endereço do blog: http://vozdaesfinge.blogspot.com/2009/05/rodoviarias.html A primeira vez que tive contato com o Bauman foi na rodoviária de Jí-Paraná. Vejo as rodoviárias como espaço e síntese iconográfica de um determinado contexto. Que cenário interessante é uma rodoviária. Quando viajo, gosto de ir sempre uma hora antes do embarque para observar caras, tipos, bocas e circunstâncias. Neste sentido, a fala de Soares (2009) em seu blog denominado “A voz da esfinge” em post do dia 06 de maio de 2009 sobre casou como uma luva e parece que a blogueira escreveu pensando em mim: “Tenho um enorme apreço por Rodoviárias! Esses lugares nômades onde nada é de ninguém e ninguém existe como um sujeito em si, todos são de todos e todos comungam do mesmo interesse insípido de IR e VIR. Não existem trabalhadores, empresários, atendentes e profissionais liberais, não há artistas, intelectuais, poetas e políticos... As personalidades se diluem em viajantes transfigurados por chegadas e despedidas. O roncar dos motores dos ônibus e o barulho incessante das gentes, o tiritar de moedas, as cores e formas de toda espécie de iguarias, ninharias, artefatos, artesanatos ameríndios e american fast- food. Mantras visuais de cheiros-sons coloridos pintam esse quadro barroco de mil contrapontos e movimentos dramáticos. Rodoviária, lugar de eterna passagem para outro lugar. Nesta noite, quero eximir-me da minha classe, da minha raça vira-lata, de meu vagabundo sentimento de distância e ignota superioridade burguesa. Quero integrar-me ao chão febril e desgastado dessa rodoviária esquecida em algum lugar na última estação escura da América do Sul.” Tempos líquidos, rodoviárias liquidas onde se acha quase tudo. Voltando ao meu encontro primeiro com o Bauman. Ia para Porto Velho, cheguei na rodoviária uma hora antes e resolvi dar uma olhada na banca de revistas. De cara encontrei o exemplar da Revista Cult de agosto de 2009, com a seguinte chamada na capa: “Entrevista – Zygmunt Bauman. Para o sociólogo da “Modernidade líquida”, a possibilidade de um novo mundo está no homem”. Não tive dúvida, comprei e ali mesmo devorei a entrevista que é fabulosa. Na entrevista Bauman define modernidade liquida Como um momento em que a sociabilidade humana experimenta uma transformação que pode ser sintetizada nos seguintes processos: a metamorfose do cidadão, sujeito de direitos, em indivíduo em busca de afirmação no espaço social; a passagem de estruturas de solidariedade coletiva para as de disputa e competição; o enfraquecimento dos sistemas de proteção estatal às intempéries da vida, gerando um permanente ambiente de incerteza; a colocação da responsabilidade por eventuais fracassos no plano individual; o fim da perspectiva do planejamento a longo prazo; e o divórcio e a iminente apartação total entre poder e política. http://vozdaesfinge.blogspot.com/2009/05/rodoviarias.html Penso que o Bauman me ajudou a aprofundar essa relação de tempo e espaço como uma condição primeira nossa. Ia falar homem moderno, mas não sei se ficaria melhor pós-moderno e ai exigiria outra reflexão ou uma retomada do Hall e Giddens. Sofremos na pele as conseqüências da modernidade liquida, mas nem sempre somos conscientes delas. No contexto da modernidade liquida o tempo e o espaço devem ser considerados como constructos históricos. O tempo visto em sua volatilidade. O espaço não mais como um endereço fixo é um espaço contra a territorialidade definida. Nessa modernidade liquida não existe compromisso com a idéia de permanência e durabilidade. É uma tarefa enorme pensar na construção de outro mundo em tempos tão voláteis! Quanto ao texto do Giddens gostaria de acentuar alguns conceitos que eu entendi com maior clareza. O que é modernidade? Refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. Isto associa a modernidade a um período de tempo e a uma localização geográfica inicial, mas por enquanto deixa suas características principais guardadas em segurança numa caixa preta. Condição da pós-modernidade: é caracterizada por uma evaporação da grand narrative— o "enredo" dominante por meio do qual somos inseridos na história como seres tendo um passado definitivo e um futuro predizível. A perspectiva pós-moderna vê uma pluralidade de reivindicações heterogêneas de conhecimento, na qual a ciência não tem um lugar privilegiado. Giddens contesta Lyotard quando este afirma que: é procurar demonstrar que uma epistemologia coerente é possível — e que um conhecimento generalizável sobre a vida social e padrões de desenvolvimento social podem ser alcançados. A contestação: A desorientação que se expressa na sensação de que não se pode obter conhecimento sistemático sobre a organização social, devo argumentar, resulta, em primeiro lugar, da sensação de que muitos de nós temos sido apanhados num universo de eventos que não compreendemos plenamente, e que parecem em grande parte estar fora de nosso controle. Giddens fala de confusão de conceitos: Em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as conseqüências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes. Além da modernidade, devo argumentar, podemos perceber os contornos de uma ordem nova e diferente, que é "pós-moderna"; mas isto é bem diferente do que é atualmente chamado por muitos de "pós-modernidade". Atitude importante: Capturar a natureza das descontinuidades em questão, devo dizer, é uma preliminar necessária para a análise do que a modernidade realmente é, bem como para o diagnóstico de suas conseqüências, para nós, no presente tendo como base alguns conceitos epistemológicos da sociologia. As descontinuidades da modernidade: a história humana é marcada por descontinuidades. Mudanças dramáticas: as mudanças ocorridas durante os últimos três ou quatro séculos — um diminuto período de tempo histórico — foram tão dramáticas e tão abrangentes em seu impacto que dispomos apenas de ajuda limitada de nosso conhecimento de períodos precedentes de transição na tentativa de interpretá-las. Importante: Desconstruir o evolucionismo social significa aceitar que a história não pode ser vista como uma unidade, ou como refletindo certos princípios unificadores de organização e transformação. Mas nem tudo é caos.... Bauman (1999) observou a natureza historicamente mutável do tempo e do espaço, fazendo ligação destes com o padrão e a escala de organização social. Harvey (2004) considerou que “as concepções do tempo e do espaço são criadas necessariamente através de práticas e processos materiais que servem à reprodução da vida social” (p. 189). A objetividade dessas categorias resulta de práticas materiais que podem variar geográfica e historicamente, denotando que “o tempo social e o espaço social são construídos diferencialmente” (Harvey, 2004, p. 189). Em cada momento, modo de produção e de organização humana, se dá a construção de uma maneira específica de se perceber, conceitualizar e experimentar o espaço e o tempo. Portanto podemos dizer que tempo e espaço são categorias construídas; são definições e percepções dependentes das relações humanas que se desenvolvem em determinado momento e espaço histórico.
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