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Acromegalia Acromegalia é uma doença sistêmica crônica, decorrente da produção excessiva do hormônio de crescimento (GH – growth hormone) e do fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1 – insulin-like growth factor type 1). Embora destaque seja dado ao hormônio de crescimento, o principal agente das modificações percebidas na acromegalia é o insulin-like growth fator I (IGF-1). Este que é secretado pelo fígado, em resposta ao estímulo do GH. Clinicamente, caracteriza-se pelo surgimento de feições grosseiras e crescimento de extremidades. Os sintomas podem ser inespecíficos, tornando a doença subdiagnosticada, o que se associa a elevada morbimortalidade e redução média de 10 anos na expectativa de vida, em função de suas complicações sistêmicas. Na sua quase totalidade, a acromegalia é causada por um adenoma hipofisário secretor de GH (somatotropinoma). Os tumores podem ser classificados: Macroadenomas: >1cm, sendo estes os mais comumente encontrados no momento do diagnóstico (em mais de 70% dos casos); Microadenomas: <1cm. GHRH estimula a secreção de GH pela hipófise; Diversos agentes podem interferir aumentando a secreção do GH, mediante estímulo ao GHRH ou por ação direta sobre a hipófise, como a tiroxina, glucagon, esteroides sexuais, dopamina, hipoglicemia e alguns tipos de hexapeptídeos sintéticos. Outro secretagogo do GH é a grelina - atua no hipotálamo, no receptor grelina tipo Ia (GHS-Ria), promovendo maior liberação de GHRH e assim, aumentando os níveis de GH. Caracteristicamente, a secreção do GH se dá em pulsos. Estes ocorrem principalmente à noite, durante os estágios III e IV do sono (com meia vida de aproximadamente 20 minutos), que se intervalam com secreção basal mínima, que varia conforme a idade, sexo, exercício físico e estresse. Em indivíduos normais, a concentração de GH, fora do pico de secreção, apresenta valores geralmente imperceptíveis (< 0,2 µg/l). Em 24 horas, há cerca de 6-10 picos de GH, que podem alcançar valores tão altos quanto 30 µg/l (ng/ml), estes que são similares aos valores encontrados nos casos de acromegalia. A amplitude e concentração dos picos variam com a idade, aumentando na adolescência e diminuindo na vida adulta, com decaimento progressivo posteriormente. Destaca-se aqui, a produção do IGF-1, produzido principalmente pelo fígado (80%), mas também pelos ossos, músculo, rins e pela própria hipófise. Introdução Fisiologia Os níveis de IGF-1 sofrem influência - sexo e de fatores genéticos, e não apenas estão elevados na acromegalia, como são encontrados elevados em situações fisiológicas, a exemplo da gravidez e da adolescência. Por outro lado, estes níveis estão reduzidos em pacientes com desnutrição, doença hepática, hipotireoidismo ou DM mal controlado. IGF-1 - atua de forma endócrina, tem papel na regulação do eixo somatotrófico, através de feedback negativo (retroalimentação) sobre hipotálamo e hipófise, inibindo suas secreções, bem como impedindo a proliferação celular e estimulando a apoptose celular e a liberação de somatostatina. Somatostatina é um pept´deo hipotalâmico, que age sobre a hipófise, inibindo a secreção de GH. 98% dos casos - somatotropinomas ( adenomas hipofisários secretores de GH. Somatotropinomas: Condições genéticas ligadas à acromegalia: Dificilmente a acromegalia se relaciona com componentes de herança genética, mas quando nestes casos, as principais etiologias são a neoplasia múltipla do tipo I (NEM-1), o complexo de Carney ou a Síndrome de McCune-Albright, além do IFS. NEM-1: neoplasias simultaneas, adenomas de paratireoide, tumores de ilhotas pancreáticas e adenomas hipofisários. O diagnóstico se dá mediante a confirmação de pelo menos 2 dos 3 elementos que compõem a síndrome. Complexo de Carney: cursa com mixomas, manchas cutâneas pigmentadas e tumores adrenais, testiculares e hipofisários; Etiologia @isabeldantasdias / Fametro - Medicina Sínd. de McCune-Albright: há apresentação da tríade representada por displasia fibrosa poliostótica (doença que cursa com desgaste e lesões de múltiplos ossos, incluindo os da face e crânio), pigmentação cutânea (manchas café-com-leite) e hiperfunção hormonal (com acromegalia, puberdade precoce periférica, tireotoxicose ou síndrome de Cushing). Causas extra-hipofisárias: Ocorrência de secreção extra- hipofisária se dá raramente e os principais representantes são adenomas hipofisários ectópicos, tumores periféricos secretores de GH e iatrogenia. Excesso de GHRH: A hipersecreção de GHRH também pode condicionar o surgimento da acromegalia. Acromegalia é um distúrbio insidioso, com progressão gradual dos sinais e sintomas, os quais podem resultar: da compressão do tumor sobre as estruturas adjacentes (cefaleia, distúrbios visuais ou hipopituitarismo); da secreção excessiva de GH (aumento das mãos e dos pés, alterações cutâneas, modificações fisionômicas e manifestações musculoesqueléticas); das complicações (cardiovasculares, respiratórias, endócrinas, metabólicas, esqueléticas e neoplásicas) resultantes do excesso de GH. As modificações fisionômicas na acromegalia se caracterizam por alargamento do nariz, aumento dos lábios, crescimento exagerado da mandíbula com prognatismo, proeminência frontal, separação dos dentes, maloclusão dentária, macroglossia e aumento dos arcos zigomáticos - dificilmente representam o motivo que conduz o paciente ao consultório. Foi observado, que as alterações menstruais em mulheres e sintomas de hipogonadismo em homens, são as principais queixas que levam os pacientes a procurar o médico. Ainda como resultado da hipersecreção do GH, podem surgir visceromegalias (língua, tireoide, coração, glândulas salivares, fígado, baço e rins). Quadro clínico Nota-se aumento das extremidades em quase todos os casos. Artralgia; Artropatia - desgaste das articulações. Hiperidrose e pele oleosa com cheiro desagradável. Achado de ocorrencia corriqueira é o espessamento da pele e a presença de acrocórdons - pode funcionar como marcador para presença de pólipos e neoplasias colônicas em acromegálicos. Complicações Clínica + laboratoriais + exame de imagem; Diagnóstico laboratorial: IGF-1 e GH. A dosagem do IGF-1 é o melhor teste inicial. Geralmente encontram-se elevados em acromegálicos. No entanto, a secreção de GH é pulsátil, de modo que amostras colhidas aleatoriamente, ao acaso, não contribuiriam para o diagnóstico, pois não tem como saber se o valor obtido corresponde a um período de pico ou de vale entre as secreções. Diagnóstico A dosagem ao acaso do GH, no entanto, é utilizada para descartar a acromegalia. Se o valor obtido for <0,4 ng/ml, associado a IGF1 normal para idade, exclui-se o diagnóstico. Para maior acurácia no teste laboratório, convencionou-se a realização das dosagens de GH após sobrecarga de glicose. O paciente recebe 75g de glicose e então dosa-se o GH nos tempos 0, 30, 60, 90 e 120 minutos. A glicose suprime a secreção do hormônio, e em pacientes normais, a concentração sérica do GH cai para menos de 0,4 ng/ml em pelo menos uma das dosagens. Na acromegalia, o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), no entanto, não suprime a secreção do GH, já que o somatotropinoma não responde ao estímulo. Este teste não deve ser realizado em pacientes diabéticos. Neste grupo, considera-se o valor de GH basal, já que este já sofre influência dos elevados índices de glicemia, e o ponto de corte de 0,4ng/ml evidencia a não supressão. Outros exames laboratoriais são importantes para a avaliação do paciente, como glicemia de jejum, cortisol, TSH, T4 livre, prolactina, LH, FSH, testosterona total em homens, e paras as mulheres, a análise do ciclo menstrual já basta para avaliação gonadal. Exames de imagem: RM de sela túrcica após confirmação laboratorial. Se tiver contraindicações para RM - realizar TC. O obj. da RM - avaliar o tumor em tamanho, invasão para estruturas próximas e compressão do quiasma óptico. Paciente com manifestações clinicas e laboratoriais, mas à imagem não seja visto o tumor - deve-se procurar por um tumorectópico, com realização de TC de tórax e abdome. Outros exames: Ecocardiografia; Avaliação do sono; Colonoscopia; Exame físico da tireoide e, na existência de tumores palpáveis - ecografia. Para pacientes com queixas visuais ou que à RM seja visualizado contato entre tumor e nervo óptico, deve-se solicitar exames oftalmológicos com realização de campimetria visual, exame que detecta e quantifica anormalidades no campo visual. A terapêutica - diminuição da concentração do IGF-1 para valores normais, de acordo com a faixa etária e sexo do paciente; o controle do tamanho do tumor, reduzindo os efeitos de massa; e a melhora da sintomatologia, manejando também as complicações. 3 opções de tratamento possíveis para cura ou controle da doença: cirurgia, medicação e radioterapia. Cirurgia: 1° escolha Não está indicada apenas em caso de recusa do paciente, presença de riscos cirúrgicos inaceitáveis, ou em casos de tumores irressecáveis. A via de acesso de escolha é a transesfenoidal - é relativamente não invasiva, utilizando as cavidades nasais e os seios nasais e paranasais para alcançar a sela túrcica. Tratamento Cerca de 4 semanas após a cirurgia, dosa-se o IGF-1 e o GH pós TOTG. Na ocorrência de GH <1 mg/ml e IGF-1 normal para idade, considera-se o paciente como curado. Se os níveis de IGF-1 continuarem elevados, após 12 semanas, repete-se a dosagem do IGF-1, visto que este pode normalizar apenas mais tardiamente. Os pacientes curados devem ser reavaliados com 3 e depois 6 meses, com posteriores avaliações anuais, devido ao risco de recorrência da doença. A RM deve ser repetida também após 3 meses da cirurgia. Havendo normalização dos níveis séricos e nenhuma evidência de tumor à imagem, nenhuma outra terapia é indicada. Porém, pacientes que persistirem com uma ou ambas destas alterações, ou seja, que apresentam doença residual, podem ter indicação para repetir a cirurgia, serem direcionados à radioterapia, ou iniciarem tratamento medicamentoso. Terapia medicamentosa: Classes: análogos da somatostatina, agonistas dopaminérgicos e antagonistas do receptor de GH. O paciente é considerado como tendo a doença controlada quando os níveis de IGF-1 estão normais para a idade e o GH <1 mg/ml. Análogos da somatostatina: octreotida e lanreotida. Quando contraindicados para cirurgia e não cursa com sintomas compressivos. Como tto secundário: quando após 3-6 meses da cirurgia, não apresentar doença controlada ou ainda aqueles elegíveis à radioterapia, mas também sem controle. Octreotida: 20 mg a cada 4 sem. Ajustes podem ser realizados, intervalados em 3-6 meses, com aumento da dose para 30 mg a cada 4 semanas, alcançando o máximo de 40 mg por mês. Quanto a lanreotida injetável, via subcutânea, de liberação prolongada, inicia-se com 90 mg, intervaladas de 28-56 dias. Após 3 meses, o paciente é reavaliado, podendo a dose ser aumentada para 120 mg para pacientes com sintomas não controlados ou níveis elevados de IGF-1 ou GH. A dose inicial pode ainda ser reduzida para 60 mg, casos os sintomas e níveis hormonais se mostrem normais. Em ambas modificações, se mantêm a mesma periodicidade da dose inicial. Controle do TTO: dosagem aleatória de GH e IGF-1. O TTO deve ser mantido indefinidamente. Agonistas dopaminérgicos: cabergolina (CAB) Como terapia adjuvante em pacientes que cursam com falha após cirurgia, associando-os aos análogos da somatostatina, principalmente em pacientes que já se encontram em uso de dose máxima dos representantes desta classe e ainda assim exibem níveis de GH entre < 4 a 5 mg/ml e IGF-1 < 2, duas vezes o limite superior de normalidade para a faixa etária. Como terapia inicial - doença de leve a moderada e naqueles com adenomas mamossomatotróficos. ADM via oral. A dose de início de tratamento é de 1mg por semana, via oral. Conforme resposta do paciente, esta pode ser aumentada até 3,5mg, com ajustes sendo intervalados de 3-6 meses. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, cefaleia, tonturas, constipação intestinal, xerostomia, congestão nasal e hipotensão postural. Antagonistas do receptor de GH: pegvisomanto (PEG-V) Este que é um análogo do GH, ligando-se ao seu receptor, bloqueando, consecutivamente, a síntese de IGF-1. Desta forma, não há ação direta sobre o tumor, verificando-se ação periférica. Desta forma, seu uso está indicado apenas no caso de falha à cirurgia e à terapia com SA, seja combinado com outras classes ou em monoterapia. A dose inicial recomendada é de 10 mg/dia, via subcutânea, com a reavaliação dos níveis de IGF-1 em 4 a 6 semanas, onde então a dose pode ser aumentada. Escalona-se os aumentos em 5mg/dia a cada 4 a 6 semanas até que se atinja a dose máxima de 30mg/dia. O objetivo é a obtenção de valores de IGF-1 dentro da faixa etária para idade, entre 0 e +2 desvios padrões, prevenindo-se assim a deficiência de GH, esta que pode ocorrer caso em que o IGF-1 fique próximo ao limite inferior de normalidade. Radioterapia: apresenta uso restrito; Assim, recorre-se à radioterapia, quando não for possível controle da doença mediante cirurgia e terapia medicamentosa. Os efeitos laboratoriais, no entanto, não são imediatos, podendo ser visualizados apenas 10, 15 ou 20 anos após. Os efeitos adversos mais frequentes são o hipopituitarismo, acometendo cerca de 80% dos pacientes com técnica convencional (não estereotáxica). Lesão de vias ópticas ou de pares cranianos, déficit cognitivo, doença cerebrovascular e malignidade secundária também foram relatados, estando todos mais associados à técnica convencional.
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