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OBJETIVO 1) DESCREVER AS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA SENESCÊNCIA ENDÓCRINO. Hormônio do crescimento O hormônio do crescimento (GH) é secretado pela hipófise, sob estímulo hipotalâmico positivo pelo GHRH (hormônio liberador de hormônio do crescimento), e negativo pelo SRIF. Este último recebe feedback positivo do próprio GH e do IGF1 (realizador dos efeitos do GH), produzido tanto no fígado com posterior ação hormonal, como em diversos tecidos periféricos, com ação local. Somatostatina, de produção hipotalâmica, inibe a produção de GHRH, sob influência de neuropeptídios (CCK, VIP, glucagon), endorfinas e neurotransmissores (acetilcolina, serotonina). A produção de GHRH é estimulada positivamente pela grelina, um peptídeo orexígeno hipotalâmico e gástrico, e pela arginina, que antagoniza os efeitos da somatostatina, que faz feedback negativo sobre GHRH. Estímulos adrenérgicos podem estimular (via receptores alfa) ou inibir (via beta) a secreção de GH. Via alfa, clonidina, exercício, arginina, L-dopa e hipoglicemia são capazes de estimular GH. O fenômeno da hipoglicemia estimulando GH – um hormônio contrarregulador – é a base para o teste padrão para avaliação de deficiência de GH, o ITT (teste de intolerância a insulina), contraindicado em idosos, cardiopatas e epilépticos. Outros estímulos fisiológicos para a produção de GH são atividade sexual, sono profundo e jejum. Inibitórios: ácidos graxos livres (AGL), cortisol, hiperglicemia, hipotireoidismo e obesidade. A obesidade poderia contribuir para menor secreção de GH tanto por estar associada a maiores níveis de AGL, quanto pela maior secreção de leptina (o que não ocorre no idoso, em que está diminuída), pois leptina reduz produção de GH em animais. A obesidade, também, se associada a apneia do sono, poderia induzir alterações diretas na oxigenação hipofisária, levando à hipofunção. Além disso, a hiperinsulinemia levaria a maior produção de IGF-1 e redução de IGFBP1 (que inibe a ação do IGF-1), aumentando o feedback inibitório sobre a produção de GH (hormônio do crescimento). No idoso, a secreção de GH está alterada. No entanto, a relevância clínica disto ainda é tema de discussão. Em termos fisiológicos, está inalterada a resposta hepática ao GH (produção de IGF-1). A resposta fisiológica aos agentes estimuladores (GHRH, arginina, grelina), assim como a pulsatilidade hormonal e o ritmo circadiano estão mantidos. O que se altera é a intensidade dos pulsos, de sorte que a área sob a curva da secreção hormonal, refletindo a secreção total diária, está diminuída. A queda se dá em 14% a cada década após a puberdade. Em homens de 60 anos, a prevalência de deficiência de GH pode chegar a 35%. No entanto, esses dados não são substrato para uma ampla e indiscriminada reposição de GH na população idosa. É difícil discernir entre causa e consequência dessas alterações. Os sintomas de deficiência de GH (DGH) são bastante inespecíficos, além de serem tangíveis pela maioria da população em decorrência do estilo de vida mais prevalente. A deficiência de GH causa redução em massa magra, aumento de adiposidade visceral, redução de síntese proteica, redução na lipólise e oxidação de AGL, resistência à insulina, aumento de LDL, hipertensão, redução da fração de ejeção cardíaca, anemia, redução de vigor/vitalidade, redução da capacidade aeróbica para o exercício, queda na qualidade de vida e depressão. Como se vê, são todas alterações compatíveis com as consequências de um estilo de vida de privação de sono, lazer, atividade física e dieta inadequada. Atividade física e adiposidade central são reguladoras da secreção de GH. Os benefícios da eventual reposição de GH seriam relativos a parâmetros metabólicos e de ganho funcional muscular/qualidade de vida enquanto os riscos repousam, mormente, sobre aumento de incidência de malignidades e alterações glicêmicas. Depreendem-se de estados de hipofunção do eixo somatotrófico as consequências a longo prazo da falta da ação do GH em uma eventual “somatopausa”. Na síndrome de Laron, com deleção do gene do GH, ocorre maior resistência à insulina, aumento de rugas e SP4 “ ” diabetes, contudo sem aumento de disfunção endotelial e com aumento de sobrevida, redução de neoplasias, e, apesar de aumento de LDL e proteína C reativa, redução da espessura média intimal e ausência de alterações ecocardiográficas. Em centenários, há aumento de mutações que levam a resistência ao IGF- 1, o que poderia contribuir para maior sobrevida. Por outro lado, é sabido que em pacientes com mutação no receptor de GH, apesar de menor ocorrência de diabetes e neoplasias, não há aumento de sobrevida, sendo a média desta de 65 anos. Adultos com deficiência de GH sem reposição têm redução na expectativa de vida, e a reposição leva a mortalidade aos níveis da população geral, apesar de maior benefício ser observado em homens. Em estudos de reposição de GH em idosos saudáveis, os efeitos colaterais se sobrepuseram aos potenciais efeitos benéficos. Houve aumento de massa magra e redução de adiposidade visceral, mas aumento marginal de força apenas quando associada testosterona ao GH em homens. Não houve melhora da massa óssea. Os principais efeitos colaterais foram edema, artralgia, síndrome do túnel do carpo e disglicemia. Outros trabalhos similares chegaram a conclusões análogas. Poucos trabalhos mostraram melhora da massa óssea (BMD). Por isso a reposição é indicada apenas na presença de deficiência comprovada de GH. Estudos promissores quanto ao restabelecimento da função do eixo somatotrófico têm sido realizados com a utilização de análogos do GHRH (tesamorrelina). A proposta seria que, ao contrário do que ocorre na administração do próprio GH, o estímulo seria mais fisiológico, permitindo adequado feedback pelo IGF-1. Destes trabalhos, em não idosos obesos foi constatada redução da gordura visceral, melhora dos triglicerídeos, proteína C reativa e espessura média de carótida, sem piora glicêmica. Em idosos ou adultos (idade média 68 anos) com comprometimento cognitivo leve, o uso da medicação por 20 semanas comparada ao placebo levou a melhora de parâmetros de função executiva, memória verbal e visual. Esses resultados, no entanto, ainda não fundamentam a aplicação clínica deste recurso. O diagnóstico de deficiência de GH no idoso segue as mesmas recomendações do adulto. A análise inicial da dosagem de IGF-1 não é suficiente, posto que se normal não descarta deficiência de GH, e se baixa não define diagnóstico. Na análise do IGF-1 é necessário recordar causas secundárias de baixo valor: diabetes descompensado, insuficiência hepática e terapia oral com estrogênios. O diagnóstico de deficiência de GH pode ser estabelecido via IGF-1 apenas se este se encontrar diminuído na presença de mais de duas outras deficiências hormonais de origem pituitária. Na suspeita de deficiência de GH, um teste de estímulo se faz necessário, sendo que, dentre os testes disponíveis, o GHRH-arginina desponta como o mais apropriado na população idosa. Nele, valores de GH após estímulo menores que 4,1 μg/ℓ diagnosticam a condição. Na presença de IGF-1 baixo, nesse caso, provavelmente se está diante de um paciente que virá a melhor se beneficiar do tratamento. Alguns trabalhos têm mostrado que o valor de corte no teste do GHRH- arginina poderia variar conforme IMC, sendo 11,5 μg/ℓ se IMC < 25 kg/m2, 8,0 μg/ℓ se IMC = 25 a 30 kg/m2 e 4,2 μg/ℓ se IMC > 30 kg/m2. O ITT (teste de intolerância a insulina), que induz hipoglicemia para verificar a atividade do eixo, está contraindicado em idosos, cardiopatas e epilépticos. O teste do glucagon, que se baseia na queda reflexa da glicemia (sem hipoglicemia) após o estímulo hiperglicêmico pela substância como estímuloao eixo, é indicado no idoso. Entretanto, publicações recentes destacam que efeitos colaterais mais pronunciados podem ser desencadeados nessa população, como hipotensão grave. Esse efeito colateral fica mais compreensível se lembrarmos que o glucagon tem efeito sobre secreção de catecolaminas e era indicado até pouco tempo como teste de estímulo em diagnóstico de feocromocitoma. Vale ressaltar que o teste do GHRH-arginina pode não desmascarar a DGH de início recente (10 anos) se esta for de origem hipotalâmica, já que o restante do eixo ainda pode se encontrar responsivo. Os pacientes a serem investigados são aqueles que tiverem lesão estrutural hipotalâmica ou hipofisária, cirurgia ou irradiação nesses locais, história de trauma craniano ou evidência de outras disfunções hormonais hipofisárias. Pacientes com doença neoplásica ativa não devem ter o diagnóstico investigado, pois a terapia é contraindicada nesses casos. O tratamento no idoso (> 60 anos) deve ser realizado com doses mais baixas de GH do que no adulto jovem, posto que a frequência e a intensidade de efeitos colaterais são maiores. A dose inicial é de 100 a 200 μg/dia (comparativamente, no jovem a dose é de 400 a 500 μg/dia), sendo titulada a cada 1 a 2 meses (em aumentos de 100 a 200 μg/dia), objetivando manter o IGF-1 na metade superior do limite da normalidade ajustado para a idade. Um fator que pode levar à necessidade de reposição com maiores doses de GH é o uso de reposição oral de estrogênio, pois este inibe a geração hepática de IGF-1. O acompanhamento da reposição de GH deve ser feito mensalmente até que se atinja o alvo de IGF-1, sempre atentando para efeitos colaterais/sintomas, além de alterações metabólicas. Uma vez atingido o alvo, deve- se observar o paciente a cada 6 meses. Os efeitos do tratamento sobre qualidade de vida, parâmetros de composição corporal e metabólicos podem levar mais de 6 meses para tomarem forma. Em caso de insucesso, não há razão para manter o tratamento; assim como não há motivo para suspendê-lo se houver sucesso. Não há tempo máximo de tratamento estabelecido. O monitoramento da densitometria óssea deve ser feito a cada 1,5 a 2 anos, sendo verificada a necessidade de tratamentos adicionais individualmente. A DGH (deficiência de GH) sabidamente aumenta o risco de fraturas, e sua reposição pode levar a menor taxa de fraturas anuais. Em pacientes com múltiplas deficiências hormonais, particularmente hipotireoidismo e hipocortisolismo, a dose destas deve ser observada e ajustada se necessário, pois o GH aumenta a conversão periférica do hormônio tireoidiano de T4 em T3, via deiodinase 2, assim como aumenta a conversão de cortisol em cortisona (inativa) por estimular a 11-beta- hidroxiesteroide-desidrogenase-tipo 2. Hipogonadismo masculino O eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HHG) masculino é regido pela secreção hipotalâmica de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina), a qual controla os pulsos de hormônios luteinizante (LH) e foliculoestimulante (FSH) pituitários, que por sua vez estimulam as funções gonadais de produção de testosterona e espermatogênese. No testículo, sua maior parte e correspondente volume são constituídos pelos ductos seminíferos – lar das células de Sertoli, estimuladas pelo FSH – e o restante pelas células de Leydig, estimuladas pelo LH, produtoras de testosterona. A secreção de GnRH é influenciada por aferências hormonais e integrações neurais hipotalâmicas. No núcleo arqueado, subpopulações neuronais sensíveis à kisspeptina integram sinais de inflamação, nutrição e estresse. Assim, aferências somáticas podem delimitar alterações na pulsatilidade do GnRH. A kisspeptina é modulada também pela leptina, a qual está reduzida em idosos. A leptina exerce papel fundamental nas modulações do eixo gonadal, e está associada, por exemplo, a amenorreia em quadros de extrema magreza. O feedback hormonal se dá em níveis hipotalâmicos e hipofisários. No hipotálamo, a testosterona inibe a pulsatilidade do GnRH, assim como a secreção de gonadotrofinas na hipófise. Na hipófise, há a ação da ativina (feedback positivo) e da inibina B (feedback negativo). Produzidas nas células de Sertoli sob estímulo do FSH, modulam a secreção de seu estimulador. A inibina é antagonista do receptor de ativina na hipófise e principal moduladora do FSH. Os efeitos da testosterona determinando feedback negativo são modulados pelo estrogênio. A testosterona é convertida a estrógeno antes de realizar sua ação hipotalâmico-hipofisária. Contudo, as células produtoras de GnRH não contêm receptores estrogênicos. Os efeitos estrogênicos são exercidos, assim como pela leptina, via sistema kisspeptina- GPR54. À parte do feedback negativo, assim como na mulher o estrógeno sensibiliza o eixo para o pico de LH, testosterona/estrógeno sensibilizam a hipófise para manutenção da frequência fisiológica de secreção de LH, como também determinam a intensidade dos picos. A produção de testosterona decai com a idade, conforme observado em estudos populacionais. No European Male Aging Study (EMAS), realizado em homens entre 40 e 79 anos, a testosterona total (TT) apresentou queda de 0,4% ao ano, enquanto a testosterona livre (TL) teve queda de 1,3% ao ano. No Baltimore Longitudinal Study of Aging, a proporção de pacientes com diagnóstico laboratorial de hipogonadismo (testosterona total < 325 ng/dℓ) foi de 20, 30 e 50% para homens entre 60 e 69, 70 a 79 e 80 a 89 anos, respectivamente. No European Male Aging Study (EMAS), também foi demonstrada queda em TT e TL, maior na TL, e foi mais acentuada quando associada à obesidade. Ocorre uma elevação reacional de FSH e LH com a idade, conforme demonstrado no estudo de Massachussets, em que houve aumento de 0,9% ao ano de LH e 3,1% de FSH. No European Male Aging Study (EMAS), também houve aumento de FSH e LH proporcional à faixa etária. Desse modo, parece haver um fator gonadal primordialmente determinando déficit de testosterona. Contudo, não há uma reação proporcional de gonadotrofinas a ponto de compensar essa disfunção. Essa menor reação se dá por inibição ao sistema hipotálamo-hipófise de origem diversa, a qual, por exemplo, no EMAS foi a obesidade. No idoso, contudo, outras doenças que gerem estresse crônico podem ser as responsáveis pela modulação do eixo. Os fatores presentes no idoso que levam à progressiva supressão do eixo são: - Maior taxa de tecido adiposo no idoso, levando a maior conversão periférica pela aromatase com consequente inibição do eixo; - Hiporresponsividade relativa da secreção de LH frente à redução nos níveis de testosterona, visto que mesmo em jovens seu aumento não é pronunciado na vigência de queda nos níveis de andrógenos. - Resistência à leptina, nos casos associados a obesidade. - Aumento da SHBG (proteína ligadora de testosterona), o que reduz a fração livre de testosterona, isto é, sua forma ativa. Sabendo dos fatores interferentes no eixo, passamos ao diagnóstico do hipogonadismo. O rastreio somente é recomendado na presença de sintomas de alta suspeição, a saber: redução de libido ou número de ereções espontâneas, ginecomastia, redução dos pelos corporais ou da frequência do ato de se barbear, redução progressiva do volume testicular, infertilidade/azoospermia, baixa massa óssea, fogachos (os quais só ocorrem em situações de queda rápida hormonal, não usual no idoso). No entanto, sintomas mais inespecíficos podem ser causados pelo hipogonadismo, para os quais também é recomendada a coleta de testosterona como triagem. Contudo, como no idoso, tais sintomas podem ocorrer como apanágio do processo de envelhecimento, resta importante viés. São estes sintomas: falta de energia/motivação/autoconfiança, tristeza, depressão,distimia, perda de memória e concentração, alterações do sono, anemia leve normo- normo (dentro da faixa de normalidade para mulheres), perda de força, aumento gordura corporal e IMC, redução da capacidade de trabalho. Diante deste cenário de incerteza diagnóstica clínica, alguns escores foram propostos para o diagnóstico clínico, sendo o mais sensível – 88% – e específico – 60% – o ADAM (Androgen Deficiency in the Aging Male). Considera-se positivo o escore a resposta para as questões 1 ou 7 for afirmativo, ou se a resposta para três ou mais das outras respostas: o Tem observado redução de libido? o Tem observado falta de energia? o Percebeu diminuição de força muscular? o Perdeu altura? o Perdeu a alegria de viver? o Fica triste ou rabugento com frequência? o Percebe que as ereções são menos vigorosas? o Tem diminuído a capacidade para atividades esportivas? o Sente sonolência após o jantar? o Tem percebido piora no desempenho profissional? Uma vez bem fundamentada hipótese clínica, o teste de triagem inicial é a testosterona da manhã. Deve ser coletada neste horário, pois, apesar de esta faixa etária ter menores picos de T, a coleta em outros horários por vezes gera falso-positivos de hipogonadismo, em pacientes que teriam valores normais pela manhã. Recomenda-se a coleta na ausência de doença aguda ou subaguda que possa alterar testosterona. No caso de resultado com níveis compatíveis com hipogonadismo, a dosagem deve ser repetida para confirmação. A testosterona total representa a somatória da fração livre no soro, a ligada à albumina e a ligada à SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais). Sua dosagem deve ser realizada por espectroscopia de massa. Devem ser levadas em consideração alterações da testosterona causadas por redução de SHBG, tantos as que reduzem – obesidade – síndrome nefrótica, hipotireoidismo, uso de corticoides, andrógenos e progestógenos, acromegalia e diabetes melito –, quanto as que aumentam SHBG – envelhecimento, cirrose hepática e hepatite, hipertireoidismo, uso de anticonvulsivantes, estrógenos e AIDS. Na suspeita de falsos valores de testosterona por quaisquer destas condições, prega-se a avaliação da testosterona livre ou biodisponível. A dosagem de testosterona livre é apenas confiável pelo método de diálise de equilíbrio, muito pouco disponível e de difícil realização. No entanto, pode ser obtida por cálculo a partir das dosagens de testosterona total, SHBG e albumina – fórmula de Vermuelen. A testosterona biodisponível (testosterona livre somada à fracamente ligada à albumina) pode ser medida por precipitação com sulfato de amônia ou calculada a partir da testosterona total e SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais). Os níveis de testosterona total a serem considerados para diagnóstico variam bastante, mas a maioria considera valores menores que 240 ng/dℓ como diagnóstico de certeza, faixa duvidosa entre 241 e 300 ou 241 e 350 ng/dℓ. A testosterona livre < 6,5 ng/dℓ é indicativa de hipogonadismo. Constatado hipogonadismo, o diagnóstico diferencial entre primário (falência gonadal) e secundário (origem hipotalâmico-hipofisária) é necessário. Para tanto, avaliam-se FSH e LH. Se altos, sugerindo falência gonadal, cariótipo deve ser solicitado, na suspeita de síndrome de Klinefelter. Se baixos ou normais, triagem para hemocromatose e dosagem de prolactina são mandatórias para descartar causas secundárias de hipogonadismo. Demais basais hipofisários devem ser avaliados para verificar outras deficiências de origem pituitária. Em caso de testosterona total < 150 ng/dℓ (hipogonadismo grave), pan-hipopituitarismo, hiperprolactinemia persistente, sintomas ou sinais de efeito de massa tumoral (cefaleia, alteração visual) deve ser solicitada ressonância magnética da região selar para verificar integridade da estrutura e presença de eventuais lesões. O tratamento está indicado para os pacientes com hipogonadismo sintomático e diagnóstico laboratorial da condição, observando-se as contraindicações. Objetiva-se melhora dos sintomas não sexuais, manutenção dos caracteres sexuais secundários, massa óssea e melhora da função sexual. As contraindicações são câncer de mama ou próstata, hematócrito > 50% (por risco de poliglobulia), apneia do sono grave não tratada, sintomas graves de obstrução da via urinária inferiores, insuficiência cardíaca descompensada ou se desejo de manter fertilidade. Induração ou nódulo prostático em que não se descartou neoplasia, assim como PSA (antígeno prostático especifico) > 4 ng/mℓ ou PSA > 3 ng/mℓ em homens em alto risco para câncer de próstata (negros ou história familiar de primeiro grau com a doença) são também contraindicações ao tratamento. A reposição de testosterona está ora disponível em nosso país sob a forma de medicações intramusculares, géis e comprimidos. Para uso tópico, é recomendado o uso de géis a 1% de testosterona, 5 a 10 g por aplicação diária em área extragenital e coberta. Tal cuidado, assim como lavar as mãos após a aplicação, é necessário para que a medicação não passe para outras pessoas, em especial do sexo feminino. Esse método causa poucos efeitos adversos, principalmente tópicos, e permite suspensão com rápido retorno aos níveis basais de testosterona, caso necessário. Existem disponíveis duas apresentações: Androgel em envelopes de 25 e 50 mg de testosterona gel – tituláveis até 100 mg/dia, e Axeron para aplicação axilar de doses de 30 mg, fracionáveis e tituláveis até 120 mg/dia. Para uso intramuscular, recomenda-se o uso de enantato, cipionato ou undecanoato de testosterona: o Cipionato de testosterona (Deposteron®): em ampolas de 200 mg, alcança pico entre o 2 o e o 5 o dia após aplicação. Os níveis decaem até 20 dias após a aplicação, fazendo com que a aplicação, para manter níveis séricos, seja em média a cada 3 semanas. Tem como vantagem o custo, contudo pode fazer pico hormonal nos dias seguintes à aplicação, levando a níveis suprafisiológicos. o Ésteres conjugados de testosterona (Durateston®): 250 mg contendo propionato, fenilpropionato, isocaproato e decanoato de testosterona: a mistura de apresentações visa simular padrão fisiológico, levando a picos menores e não concomitantes dos componentes. A aplicação se assemelha à do cipionato. o Undecilato (undecanoato) de testosterona (ampolas de 1.000 mg; Nebido®): de aplicação trimestral (10 a 14 semanas), proporciona reposição mais fisiológica, sem causar picos. A dose inicial deve ser seguida de nova dose em 6 semanas, após a qual a posologia trimestral é possível. Sua principal desvantagem é o custo. Sem efeitos colaterais relevantes, apenas tópicos. Para uso oral, o único andrógeno recomendado é o undecanoato de testosterona, disponível no Brasil (Androxon® 40 mg). A dose inicial necessária geralmente está entre 120 e 160 mg/dia, durante 3 semanas. A dose subsequente (40 a 120 mg/dia), conforme avaliação clínica. A posologia de três tomadas diárias é sua principal desvantagem, assim como a variabilidade sérica. Outras apresentações orais de testosterona não são seguras e não devem ser utilizadas. Outras formas não disponíveis no Brasil para reposição incluem pellets subcutâneos implantáveis, adesivos transdérmicos e adesivos orais. O monitoramento do tratamento deve ser realizado após 3 a 6 meses de seu início, checando sua efetividade clínica, efeitos colaterais e aderência. Nesse período também deve ser avaliada a concentração sérica de testosterona, tendo como alvo valores na faixa intermediária da normalidade para a idade. Deve-se monitorar também hematócrito. Se houver aumento além de 54%, o tratamento deve ser interrompido até a normalização, avaliar o paciente parahipóxia e apneia do sono, depois podendo reiniciar tratamento com dose inferior. A densitometria óssea deve ser avaliada após 1 a 2 anos de reposição, em pacientes com história de osteoporose ou fratura de baixa energia. Em homens com mais de 40 anos ou idosos, se PSA (Antígeno Prostático Específico) basal > 0,6 ng/mℓ, recomenda-se exame de toque e monitoramento nos tempos 0, 3 e 6 meses após início, e então de acordo com as diretrizes próprias de screening para câncer de próstata. Consulta com o urologista deve ser realizada se houver um aumento no PSA maior que 1,4 ng/mℓ em 12 meses, ou 0,4 ng/mℓ em 6 meses. Também se anormalidade no toque ou AUA/IPSS > 19. Os benefícios do tratamento para o paciente são observados claramente na esfera das queixas sexuais e de virilização. A melhora da massa óssea em idosos hipogonádicos foi detectada após 1 ano de reposição, com variação de 1,4 e 3,2% em colo femoral e coluna lombar, respectivamente. Nesse mesmo estudo, houve melhora da massa magra, queda na massa adiposa, mas sem benefício adicional sobre força física ou desempenho funcional. Em termos de controle lipídico, o uso de testosterona não leva a alteração significativa em quaisquer dos lipídios analisados. Em recente revisão da Cochrane, foi observado que diversos estudos demonstraram benefício, apesar de serem evidências pouco robustas, de melhora funcional do idoso com uso de testosterona após fratura de fêmur. Contudo, essa conduta não é estimulada ou recomendada a partir dos dados analisados. Nos últimos anos, paira a questão sobre o risco de mortalidade ao se iniciar o tratamento com testosterona. Inicialmente, propunha-se que a testosterona pudesse agir como um “elixir da juventude”, já que ajudaria a se manter jovem eternamente. Parte dessa expectativa e a crença em um benefício cardiovascular da reposição vêm de dados que ligam baixa testosterona a maior risco de mortalidade. Contudo, vem se estabelecendo que, na verdade, a baixa testosterona seria um marcador de fragilidade de idosos com outras comorbidades. Desse modo, tem de se diferenciar o que seria um idoso hipogonádico de um idoso frágil com testosterona baixa. O debate ao redor dos últimos estudos apresentados ocorre, pois parte mostra aumento de risco cardiovascular, enquanto outros demonstram redução. Em dois estudos do Veteran Affairs, um demonstrou redução de risco versus placebo (10,3 × 20,7%), enquanto outro mostrou aumento – razão de risco de 1,29 (95% IC, 1,04 a 1,58). Os critérios de tratamento e acompanhamento não são claros nos trabalhos, mas havia uma grande diferença entre os dois: a taxa de risco cardiovascular aumentado pré- tratamento de 21 e 59%, respectivamente. Em estudo de 2014, constatou-se que haveria aumento de risco na prescrição para idosos acima de 65 anos e pacientes < 65 anos com antecedente de doença coronariana. Contudo, foi um estudo retrospectivo, não se sabe se os pacientes eram hipogonádicos, e foi baseado nos dados de uma base de dados nacional de prescrição de testosterona. Ademais, o aumento de risco foi da ordem de 1,25 caso a cada 1.000 pacientes. Diante desses dados, considerando todas as limitações dos estudos, podemos crer que a avaliação do risco cardiovascular seja uma variável a ser considerada antes da prescrição de testosterona. Um risco muito elevado, doença preexistente ou recente seriam bons motivos para evitar prescrevê-la. Função adrenal A glândula adrenal é dividida em córtex e medula. No córtex, há as zonas glomerular (produção de aldosterona), fasciculada (cortisol – sob comando do hormônio adrenocorticotrófico [ACTH]) e reticulada (DHEA e androstenediona – andrógenos). Na medular, ocorre a produção de epinefrina. Em teoria, diversos sintomas inespecíficos e déficits (como perda de massa muscular e cognição) poderiam ser atribuíveis a ou remotamente compatíveis com deficiências dos hormônios desta glândula. Há terapêuticas sendo sugeridas e indicadas indiscriminadamente, sugerindo reposição ou modulação hormonal. Quanto à produção de cortisol, é sabido que ela aumenta ou se mantém com a idade, sendo a média de cortisol sérico de 24 h aumentada em ambos os sexos, a resposta aumentada ao ACTH em idosas, a resposta ao jejum inalterada comparada aos jovens, o nadir noturno mais alto e precoce em idosos, além da resposta ao estresse, mais prolongada no idoso. Tais alterações são correlacionáveis com alterações no sono – menor nadir noturno, ou fraturas em ambos os sexos, contudo esses pacientes não possuem síndrome de Cushing, provavelmente são alterações fisiológicas próprias do envelhecimento. A produção de andrógenos adrenais se dá na forma de DHEA (di-hidroepiandrosterona) e seu sulfato – DHEAS, além de androstenediona. Quantitativamente, são produzidos mais DHEA e DHEAS, sendo o último o de maior produção pela adrenal. A androstenediona, embora quantitativamente menor, tem conversão periférica a andrógenos mais potentes com maior frequência, tendo potência, pois, maior. A produção de DHEA, estimulada em uníssono com o cortisol sob estímulo do ACTH, obedece a padrão circadiano semelhante. O DHEAS, por manter menor taxa de depuração, apresenta concentrações estáveis ao longo do dia. O DHEA pode ser formado a partir do DHEAS pré-formado; sendo assim, este compõe seu estoque. A produção total de andrógenos é composta por 40 a 60% de origem adrenal em mulheres, mas somente 5% em homens. Sua ação periférica pode se dar tanto em receptores estrogênicos, após conversão via aromatase, quanto em androgênicos, após conversão a andrógenos mais potentes. Essas conversões ocorrem em nível celular, de modo que o DHEA tem caráter de pré-hormônio, e age sobre os tecidos ao sabor da tendência do tecido em captá-lo. Não só age por receptores androgênicos ou estrogênicos, mas também por via de receptores específicos em membrana ligados à proteína G, modulando eNOS (produção fisiológica de óxido nítrico), dentre outras substâncias. Além disso, pode agir sobre outros receptores intranucleares, como PPAR-alfa, tendo efeito anti-inflamatório. Há queda de produção de DHEA/DHEAS ao longo da vida, em torno de 2 a 5% ao ano, com nadir ao redor de 70 a 80 anos, representando queda de 80 a 90% em relação ao pico de produção da juventude. Essa queda é atribuída à menor atividade 17,20-liase, a enzima que na esteroidogênese dá origem tanto ao DHEA quanto à androstenediona. Outra justificativa seria pela perda de volume da zona reticulada. Alguns estudos buscaram encontrar relação entre a baixa de andrógenos adrenais e doenças próprias da senescência. Foram encontradas correlações com maior taxa de hospitalização, fraqueza muscular, fragilidade. Outros mostraram aumento de obesidade, disfunção sexual. No entanto, não se sabe se são causas ou consequências de um processo de envelhecimento patológico. Sugerindo que sejam marcadores de boa saúde, temos trabalhos mostrando melhor sensação de saúde e bem-estar associados a maior DHEAS. No entanto, apesar de as associações citadas existirem, não houve benefício terapêutico sobre as mesmas em estudos recentes. Estes variam amplamente nas dosagens utilizadas, mas não mostraram melhora na síndrome de fragilidade, função sexual feminina, humor ou qualidade de vida, composição corporal, cognição, massa óssea ou resistência insulínica. Dados laboratoriais, como melhora angiográfica de aterosclerose e melhora na função endotelial, dão margem a futuras pesquisas visando observar melhora de desfecho cardiovascular, mas não há embasamento para delinear conduta clínica por ora. Ademais, vale lembrar que, sendo o DHEA um pró- hormônio, e podendo, em tese, estimular tumores sensíveis a esteroides sexuais, a American Cancer Society recomendanão utilizá-lo em pacientes com certos subtipos de câncer de mama, próstata e endométrio. Conforme exposto, não existe base científica para reposição de DHEA por ora, para qualquer que seja indicação. Tal posicionamento está de acordo com as evidências apontadas e reforçado pela guideline da Endocrine Society de outubro de 2014 sobre uso de andrógenos em mulheres. OBJETIVO 2) DESCREVER AS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA SENESCÊNCIA GENITURINÁRIO MASCULINO E FEMININO. ENVELHECIMENTO RENAL É antiga a observação de que a função renal declina com a idade, o que vem sendo reforçado por dados de continentes distintos como Ásia, América e Europa e a ciência vem há algum tempo montando os quebra- cabeças do processo multifatorial do envelhecimento humano, no sentido de melhor interpretar esse evento biológico e produzir alternativas de prevenção e tratamento das disfunções orgânicas relacionadas ao envelhecimento. A análise desse processo em um órgão como o rim e em suas modificações pode também auxiliar na abordagem terapêutica do grupo etário em questão, sabendo-se da participação desse órgão na manutenção do meio interno, no processamento e na posterior excreção de substâncias administradas com fins terapêuticos e/ou de investigação clínica, como os contrastes radiológicos. Esses estudos, no entanto, enfrentam dificuldades em separar o envelhecimento fisiológico daquele associado a doenças, pelas inúmeras comorbidades que o idoso pode apresentar, além da ação de fatores ambientais, como o tabagismo e a obesidade, que têm conhecida ação deletéria sobre a função renal. Outros estímulos ambientais de ação deletéria questionável são o pronunciado consumo de álcool e sal, hábitos mais comuns nas sociedades ocidentais. Uma abordagem mais moderna do envelhecimento é a proporcionada pelos estudos de transcrição genética. O trabalho de Rodwell et al. (2004), avaliando 630 genes, foi capaz de identificar a associação de alguns deles com o envelhecimento renal. Nesse estudo, foi observado que genes reguladores da idade determinam um perfil de envelhecimento para o córtex e a medula renal, sugerindo um mecanismo comum para o envelhecimento das duas estruturas, que têm origens embriológicas distintas. Acrescenta o autor que esses mesmos genes seriam não só marcadores do envelhecimento, mas também responsáveis pela saúde e fisiologia renais dos idosos. Esses estudos poderão no futuro contribuir para soluções precoces de diagnósticos, melhor controle do envelhecimento renal ou mesmo serem empregados no tratamento de doenças. Além de poder retardar e/ou evitar o ingresso dos pacientes com insuficiência renal crônica nos programas de terapêutica substitutiva renal (diálise e transplante), mantendo o paciente idoso em um prolongado tratamento conservador, o qual tem uma sobrevida semelhante aos que iniciaram os tratamentos dialíticos. Modificações morfológicas O rim sofre modificação no seu peso, que é de 50 g no nascimento e que, na fase adulta, varia de 230 a 250 g, proporcionalmente à área corporal do indivíduo. A partir da quarta década, inicia-se o processo de envelhecimento renal, com diminuição do seu peso, que pode chegar a cerca de 180 g, redução da área de filtração glomerular e, consequentemente, das suas funções fisiológicas, o que se detecta universalmente pela medida do ritmo de filtração glomerular, em geral quantificada na clínica pela depuração da creatinina endógena. A dicotomia da embriologia renal com referência à origem do córtex e da medula também está representada na evolução do envelhecimento renal, em que a medula é relativamente preservada, em contraposição à progressiva perda das estruturas corticais. Essas perdas são heterogêneas das estruturas renais e podem condicionar graus diferentes de atrofia, esclerose e hiperplasia de vasos, glomérulos, túbulos e interstício renal. A consequência desse fenômeno de alterações heterogêneas é uma perda funcional que não leva à plena falência do órgão. Conhecidos os efeitos, o modo como o envelhecimento se processa do ponto de vista biológico ainda é um assunto do campo da especulação. Algumas observações têm incluído insulin-like growth factor 1 (IGF-1), apoptose, plasminogen activator factor 1 (PAF- 1), epidermal growth factor (EGF) e alterações dos processos oxidativos como prováveis mediadores dessas alterações. Vasos renais Por serem intensamente vascularizados, os rins recebem cerca de 25% do débito cardíaco por minuto, que circula principalmente pelo córtex, para o processo de filtração glomerular. Esse é o ponto de partida da ação fisiológica renal, que promove depuração sanguínea de substâncias originárias do metabolismo e a manutenção do meio interno, por meio da regulação do equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico. A partir dos 40 anos, todos os vasos renais sofrem progressiva esclerose, levando a uma diminuição de seu lúmen, com consequentes modificações no fluxo laminar do sangue, o que facilita a deposição lipídica na parede vascular. Isso propicia a substituição de células musculares por depósitos de colágeno, o que causa a diminuição da sua elasticidade. Essas modificações vasculares parecem ser importantes na diminuição do peso dos rins, tanto em animais de experimentação como no ser humano. Em trabalho recentemente publicado, comparando-se vasos renais de jovens e idosos com base em critério de escores para as alterações, as diferenças arteriais foram observadas predominantemente nos vasos intra-renais (artérias interlobulares e arqueadas). Além dessas alterações, os idosos, mesmo nos estágios iniciais da insuficiência renal crônica, podem apresentar alterações vasculares envolvendo mecanismos de lesão do tipo inflamatório e também disfunção endotelial. Glomérulos O número de glomérulos à época do nascimento varia entre 800 mil e 1 milhão, divididos entre os de localização cortical e justamedular, que têm características funcionais distintas. Esse número de glomérulos mantém-se constante até a quarta década, quando se inicia o processo de envelhecimento renal; a partir daí, há uma progressiva redução dessas estruturas, alcançando na sétima década cerca de 1/3 do número de glomérulos iniciais. Além da redução em número e volume, os glomérulos sofrem processos de modificações estruturais, envolvendo mudança da expressão de genes que levam à expansão das células mesangiais e a um acentuado espessamento da membrana basal por mecanismos inflamatórios, associado a alterações bioquímicas da mesma. A deterioração glomerular deve-se a estímulos extrínsecos e intrínsecos que podem limitar o número de replicação celular causada por encurtamento telomérico. A principal consequência dessas alterações é a diminuição da área de filtração e da permeabilidade glomerular, o que proporciona a diminuição do ritmo de filtração glomerular. O aspecto histológico do rim senil exibe um padrão heterogêneo de comprometimento na evolução nas estruturas glomerulares, com diversos graus de acometimento: pode haver algumas unidades esclerosadas, outras hialinizadas, alguns glomérulos hipertrofiados e glomérulos de aspecto normal de permeio. Outra característica da ação do tempo sobre os glomérulos é a distinta evolução que sofrem os glomérulos corticais e medulares, o que foi evidenciado no clássico trabalho de Takazakura et al. (1972), a partir de estudos microangiográficos. Resumidamente, os glomérulos corticais sofrem uma evolução para atrofia e desaparecimento completo, com perda total do polo vascular, desaparecendo, assim, ambas as estruturas, enquanto nos glomérulos justamedulares ocorre o desaparecimento do glomérulo, sem a perda dos segmentos das arteríolas aferentes e eferentes que dão origem a um shuntvascular. Túbulos e interstício Após o nascimento, mantém-se o processo de expansão e maturação dos túbulos renais, que, a partir da quarta década, passam a sofrer o processo contrário, com diminuição do seu comprimento e volume, provavelmente em decorrência de isquemia. Como consequência, há uma substituição por tecido conjuntivo sem grandes sinais inflamatórios associados. Tais alterações ocorrem antes do processo degenerativo que sofrem os glomérulos; portanto, esses dois processos parecem ser independentes. Notam-se também modificações nas alças de Henle, principalmente, por diminuição do seu comprimento. Com relação ao interstício, novamente se observam diferentes comportamentos entre o interstício cortical e o medular. No primeiro, o aumento do tecido conectivo não é tão marcante quanto na medula, onde também ocorre acentuado depósito gorduroso. Nos estudos realizados pelos modernos métodos de diagnóstico por imagem, como a ultrassonografia e a tomografia axial computadorizada, foram identificadas essas alterações anatômicas dos rins dos idosos, o que possibilitou a criação de critérios para a representação daquelas alterações e facilitou a avaliação clínica do envelhecimento renal. Modificações fisiológicas Em decorrência das modificações estruturais observadas com o envelhecimento renal, haverá algumas modificações funcionais que podem ser atribuídas ao chamado envelhecimento bem-sucedido, já que, apesar dessas perdas, são preservadas tanto as funções de equilíbrio do meio interno, que é mantido em níveis de normalidade fisiológica, quanto as funções excretoras e endócrinas do rim. Desse equilíbrio resulta a preservação do metabolismo celular. As modificações funcionais são diretamente proporcionais à redução das medidas renais. No entanto, trabalhos longitudinais, como o estudo no Bronx, revelaram que essas perdas do envelhecimento não são homogêneas, classificando os idosos em três categorias: de acentuada redução da filtração glomerular, de situação intermediária e sem comprometimento nessa função renal. Em trabalhos recentes de comparação do curso da evolução do ritmo de filtração glomerular (RFG) entre uma população idosa urbana americana e outra de ameríndios de uma tribo de uma ilha do Panamá, cujo consumo de proteínas é baixo, não se observou nessas populações nítida tendência para aumento da pressão arterial, bem como não houve influência dos fenômenos alimentares e de urbanização, como participantes únicos no envelhecimento renal. Merecem atenção os resultados de um trabalho comparativo entre rins de doadores jovens e velhos para transplante renal que foram submetidos à biopsia e estudos fisiológicos com determinação da pressão oncótica, permeabilidade e área de filtração glomerular (clearance de creatinina; CC representa a filtração glomerular). Os autores concluíram que a filtração é comprometida pela redução do número de glomérulos funcionantes. Fluxo sanguíneo renal Os estudos sobre o fluxo sanguíneo renal (FSR) com o emprego do para-amino-hipurato evidenciaram uma diminuição do aporte de sangue, com redução de cerca de 700 mℓ/min medidos em adultos jovens, para próximo de 300 mℓ/min entre os idosos na nona década. Essas modificações seriam devidas às modificações funcionais do endotélio, com vasoconstrição, havendo pouco ou nenhum concurso das alterações estruturais dos vasos. Aqui, as modificações proporcionadas pelo envelhecimento também não são homogêneas, já que há uma diminuição mais acentuada do aporte sanguíneo para os glomérulos corticais em relação aos medulares, com menor prejuízo funcional para a medula renal. Ritmo de filtração glomerular O principal teste de avaliação da função renal é expresso pela medida do ritmo de filtração glomerular (RFG), que, na prática clínica corrente, utiliza a depuração da creatinina endógena na sua medida. A maioria dos autores refere como valores normais as variações entre 80 e 120 mℓ/min para uma área corpórea de 1,73 m2. Os estudos do envelhecimento renal têm apontado para uma contínua perda da função renal: a partir da quinta década, é registrada uma perda de 1 mℓ/min do RFG ou 1% para cada ano de vida ou, de modo mais abrangente, uma perda de 10 mℓ do RFG para cada 10 anos de vida. Como a medida do RFG (ritmo de filtração glomerular) emprega a depuração da creatinina endógena, que é um metabólito muscular, deve-se ter atenção quando se avalia o seu nível plasmático nos idosos. Neste grupo, como há uma diminuição da massa muscular, os níveis plasmáticos só se elevarão quando houver adiantado comprometimento da função renal, falseando a ideia de um nível de função renal normal quando se toma por base a avaliação exclusiva da creatinina plasmática. Contrariamente aos níveis da creatinina, observa-se um desproporcional aumento da ureia plasmática entre os idosos. A importância clínica dessa mudança na interpretação dos valores plasmáticos da creatinina é marcante quando do uso de medicamentos de eliminação por via renal, cujas doses padrão devem merecer atenção, com vistas a uma necessária redução para poupar uma agressão ao rim. A medida do RFG (ritmo de filtração glomerular) pela depuração da creatinina plasmática é um exame cuja realização demanda tempo, além de alguns cuidados que interferem na sua exatidão, especialmente entre os idosos, considerando-se as dificuldades que eles podem ter no aspecto cognitivo e operacional para a coleta completa da urina de 24 h, sem perdas. De modo a minimizar esses problemas de medida do RFG (ritmo de filtração glomerular), foram criados novos exames para essa aferição, como o de cisteína C que, apesar de se mostrar promissor, não tem sido universalmente implantado nas rotinas laboratoriais. Outra maneira alternativa para a avaliação da função renal foi a criação de fórmulas estimativas do RFG que se consolidaram ao longo do tempo, como a de Cockroft e Gault (1976) e a MDRD (modification on diet in renal disease), para as quais não há necessidade da coleta da urina de 24 h. Essas fórmulas estimativas, embora usadas para avaliação da função renal de qualquer nível, apresentam aumento de sensibilidade quando o RFG é inferior a 60 mℓ/min, valor a partir do qual o nível de comprometimento do rim requer cuidados especiais para a preservação da função renal. Sendo 140 e 72 duas constantes; idade – em anos; P – peso do paciente em kg; C – creatinina plasmática (mg/dℓ). Para o sexo feminino, faz-se um ajuste, multiplicando-se o resultado por 0,85 devido à menor massa muscular. MDRD: RFG =186 × C –1,154 × idade –0,203 × 0,742 (se mulher) e × 1,210 (se negro) Com a observação de que idosos que, sem manifestações de uremia, apresentam frequentemente valores do RFG (ritmo de filtração glomerular) inferiores àqueles considerados normais, alguns grupos de estudo têm estabelecido novos critérios como o descrito pelo Australasian Creatinine Consensus Working Group, que atribui a pacientes de idade igual ou superior a 70 anos, clinicamente estáveis e sem evidência de lesão renal, um RFG entre 45 e 59 mℓ/min, o que seria considerado uma função renal típica desse grupo etário. Essas diferenças entre idosos e adultos mais jovens também têm levado à criação de modelos matemáticos e nomogramas (Fernandes et al., 2015) mais apropriados aos idosos. Capacidade de reserva renal Esta é uma medida fisiológica renal de instituição relativamente recente, em que se avalia a capacidade do rim em responder aos estímulos de trabalho da filtração glomerular. Na sua medida, emprega-se o cálculo do RFG (ritmo de filtração glomerular) antes e após um estímulo por oferta oral de proteínas ou venosa de aminoácidos. A capacidade de reserva renal (CRR) é obtida pela diferençaentre a medida do RFG com e sem estímulo proteico. O resultado dessa medida é expresso em números absolutos. Entre os idosos, a CRR é inferior àquela obtida entre os adultos de faixas etárias mais jovens. A importância da preservação de parte da capacidade funcional entre os idosos é que esse grupo de pessoas ainda tem uma população de glomérulos recrutáveis, quando são submetidos a estímulos metabólicos que aumentem a necessidade de trabalho do rim, podendo mostrar uma função renal conservada em resposta a determinadas circunstâncias. Se presentes, situações de comorbidades, como hipertensão arterial, diabetes e doenças cardíacas, podem acentuar essas diminuições funcionais fisiológicas, como a CRR. Função tubular A ação do túbulo de modificar o filtrado glomerular, transformando-o em urina, conservando a água e eletrólitos e titulando o pH sanguíneo, está preservada nos idosos, embora em parâmetros discretamente diferentes dos observados em outros grupos etários. Balanço do sódio Os níveis plasmáticos de sódio dos idosos encontram- se nos limites da normalidade, havendo, no entanto, resposta mais lenta aos estímulos que impõem restrição ou sobrecarga salina. O padrão dos mecanismos envolvidos no controle do sódio que determinam ao final menor perda dessa substância na urina é: nível basal de renina e aldosterona reduzido; aumento dos níveis de fator natriurético atrial, o que favorece maior perda tubular de sódio e supressão parcial do sistema renina-angiotensina; e por fim, redução do RFG levando a maior perda de Na por unidade de glomérulo. Balanço do potássio O potássio tem sua fisiologia intimamente associada à do sódio. No idoso, a menor concentração de sódio nos túbulos renais leva a uma diminuição da sua troca pelo potássio, o que limita a sua eliminação e, consequentemente, possibilita o seu acúmulo no sangue. A importância desta alteração fisiológica é o risco de ocorrer hiperpotassemia, principalmente nos casos de uso de medicamentos como os diuréticos poupadores de potássio (amilorida, espironolactona, triantereno), hipotensores da classe inibidores da enzima de conversão da angiotensina e bloqueadores beta-adrenérgicos. Deve-se ter atenção também à concentração de potássio nos suplementos alimentares. Mecanismos de concentração e diluição tubular Os mecanismos envolvidos na concentração e diluição urinária dependem de fatores intra e extrarrenais integrados, a saber: (a) atividade do centro hipotalâmico da sede, que regula a ingestão de água; (b) efetivo ciclo de produção, liberação e ação tubular do hormônio antidiurético (HAD); (c) hipertonicidade da medula renal, sendo esses dois últimos comprometidos no envelhecimento. É sabido que a sensibilidade à sede do idoso está diminuída em relação a pessoas mais jovens, proporcionando um estado potencial de desidratação. Quanto ao HAD, sua produção está aumentada em relação a segmentos mais jovens, porém a sua ação tubular, sujeita a múltiplos fatores, está prejudicada, provavelmente, no nível dos seus receptores renais. A comprometida participação medular no mecanismo de concentração e diluição tubular dos idosos é determinada pelo fator vascular, analisado anteriormente, responsabilizado por maior perfusão nesse segmento, com consequente diminuição da sua hipertonicidade. Desse modo, os idosos se encontram em um estado homeostático que os torna mais vulneráveis aos estados de restrição de água, com chance de sofrer progressivos graus de desidratação. Mecanismo de acidificação urinária Parte integrante da manutenção do meio interno, os mecanismos de acidificação urinária e o consequente equilíbrio acidobásico do meio interno sofrem com o envelhecimento, de acordo com estudos de metanálise. Há uma tendência à acidose metabólica leve em decorrência de um aumento de cloretos plasmáticos, o que sugere que haja uma acidose metabólica leve do tipo tubular renal, com compensação respiratória. Rim endócrino Eritropoietina A eritropoietina é um hormônio peptídeo produzido principalmente pelo rim, cuja função é estimular a eritropoiese. Alguns autores relataram casos de diminuição da sua produção em casos de anemia inexplicada nos idoso. Por outro lado, em idosos com insuficiência renal crônica, pode haver um comportamento paradoxal, com aumento da sua produção em vez de diminuição da sua produção, ocorrendo nesses casos menor sensibilidade da medula óssea à eritropoetina, o que poderia ser mediado por fatores anti-inflamatórios, como a interleucina 6, levando à anemia. Vitamina D A vitamina D sofre a segunda hidroxilação nos rins, transformando-a na sua forma ativa. Atualmente se atribui a essa vitamina uma ação ampliada além da regulação do cálcio e fósforo ósseos, que é mediada pelos receptores da vitamina D, cuja deficiência pode determinar diversas manifestações osteomusculares no idoso. As atividades extra ósseas, denominadas não calcêmicas, incluem regulação das funções renais, cardíacas, declínio cognitivo e modulação do sistema imunológico, com enorme repercussão no idoso. Em estudo recente incluindo pessoas com e sem insuficiência renal crônica não foram observados níveis diferentes de vitamina D, mesmo quando foi envolvido o fator idade. ENVELHECIMENTO DO URETER, DA BEXIGA E DA URETRA Envelhecimento do ureter Estudos morfológicos do envelhecimento do ureter realizados em humanos por necropsia e urografia têm sinalizado um progressivo aumento do seu diâmetro desde a infância. Em outros estudos nos quais se avaliou o comportamento do ureter de coelhos condicionado à pressão em seu lúmen, observou-se que, sob essas condições, o ureter dos animais mais velhos sofria menos deformidade, tanto longitudinal como transversalmente, quando comparado ao ureter dos animais mais jovens. Recentemente, em estudos utilizando espectrofotômetro de emissão atômica, foram analisadas as modificações relacionadas à idade em relação ao conteúdo dos seus eletrólitos, constatando aumento de ferro e sulfato e diminuição das concentrações de cálcio, ao contrário do observado na maioria dos órgãos. Com relação à investigação funcional do envelhecimento do ureter, tem sido relatada maior contratilidade, que, provavelmente, estaria associada a uma expansão da sua camada muscular em relação às outras camadas desse órgão. Ainda em estudos com animais de experimentação, tem sido relatado um comportamento ambíguo com relação ao relaxamento do ureter, quando submetido a diferentes estímulos. A resposta de relaxamento ureteral é menor com emprego de betabloqueadores, provavelmente relacionada a uma diminuição na concentração de monofosfato de adenosina cíclico (cAMP), ocorrendo, ao contrário, um aumento do relaxamento quando do emprego de nitroprussiato de sódio como estímulo, fato provavelmente associado ao aumento das concentrações de monofosfato de guanosina cíclico (cGMP). Envelhecimento da bexiga Órgão responsável pelo armazenamento da urina produzida pelo rim e por seu esvaziamento para o meio exterior, a bexiga é submetida, no envelhecimento, a alterações próprias do órgão e extravesicais, que podem levar a uma exteriorização clínica, cujas repercussões ultrapassam a esfera biológica do indivíduo, podendo promover inúmeras limitações nos campos psíquico, social e profissional da pessoa idosa. O envelhecimento da bexiga pode resultar no desarranjo do delicado equilíbrio entre os músculos estriados (voluntários) e liso (autônomo), controlado pela ação simpática, responsável pelo relaxamento e pela capacidade de armazenamento vesical, e o parassimpático, com ação predominante na contração da bexiga e expulsão da urina. Morfologicamente, as alterações do envelhecimento da bexiga sãorepresentadas pela deposição de colágeno, com pronunciadas alterações histológicas observadas sob microscopia eletrônica nas três camadas do detrusor e consequente hiperatividade do mesmo, e pela progressiva esclerose dos vasavasorum, cuja consequência é a denervação da bexiga. Um fator extravesical, como o processo de atrofia cerebral, pode, também, ser responsável por alterações na função da bexiga, de forma temporária ou definitiva. Aspectos do envelhecimento diferenciado entre os sexos: - A origem embriológica comum de bexiga, uretra, ureter e trato genital responde, na mulher, a estímulo estrogênico, cujo declínio de produção que acompanha o climatério pode trazer consequências fisiológicas, participando como facilitador do aparecimento, por exemplo, de infecções urinárias - Nos homens, em associação aos processos degenerativos próprios, a bexiga está vulnerável, principalmente, ao aumento prostático e à consequente acentuação do prejuízo aos processos primários do seu envelhecimento. Envelhecimento da uretra Órgão pouco comprometido pelo envelhecimento, a uretra apresenta entre as mulheres uma diminuição da pressão uretral máxima e do comprimento funcional. Nos homens, o comprometimento principal é o extrínseco, promovido pela hipertrofia prostática. OBJETIVO 3) CARACTERIZAR AS DOENÇAS DEGENERATIVAS GÊNITO-URINÁRIAS PREVALENTES NO IDOSO (MASCULINO E FEMININO), SUA EPIDEMIOLOGIA E SUAS FORMAS DE PREVENÇÃO E ABORDAGEM (HPB E PERDA INV. DE URINA). 1. Incontinência urinária Incontinência Urinária (IU) é definida como qualquer perda involuntária de urina (International Continence Society, 2010) ou uma perda de urina em quantidade e frequência suficiente para causar um problema social ou higiênico, como um escape ocasional até incapacidade total para segurar qualquer quantidade de urina. Isso causa grande impacto na vida do paciente, como isolamento social, diminuição das atividades diárias, baixa auto-estima, insegurança, depressão e institucionalização. 1.1 Epidemiologia A incidência de IU aumenta proporcionalmente à idade, e é ainda maior em idosos institucionalizados, principalmente do sexo feminino pelo menor canal uretral. Nos idosos que frequentam os ambulatórios, a IU está presente em 10-15% dos homens e 20-25% das mulheres. Já nos pacientes internados, esse número supera os 30%. A IU é uma doença crítica, pois os pacientes pouco relatam sua existência por vergonha, e os profissionais raramente questionam os pacientes sobre o quadro. Segundo Guccione (2002), as mulheres experimentam incontinência com uma frequência duas vezes maior que os homens, com 15% a 30% sendo afetadas em todos os grupos etários. Dentre as mulheres de meia- idade, a pesquisa indica que 58% reportaram alguma perda urinária, mas apenas 25% procuraram tratamento. Dentre as mulheres não institucionalizadas com mais de sessenta anos de idade, demonstrou-se que 37,7% sofriam de incontinência. As estimativas mais baixas de prevalência da incontinência entre as residentes em asilos iniciam-se em 50% e têm um custo de US$ 3,3 bilhões por ano (dos US$ 7 bilhões gastos nos custos diretos totais da incontinência). 1.2 Fisiopatogenia A incontinência urinária não faz parte do envelhecimento normal, embora a prevalência do problema aumente com a idade, e os idosos acima de 75 anos constituem o grupo mais provável de sofrer com a incontinência. Isso porque o envelhecimento associa-se a uma série de alterações no trato urinário inferior que tornam o idoso mais suscetível a incontinência urinária. Entre elas destacam-se: Aumento nas fibras de colágeno na bexiga, acarretando diminuição da sua elasticidade A uretra, por sua vez, torna-se mais fibrosa, menos flexível e com perda de sua densidade muscular, o que pode acarretar falha esfincteriana. Na mulher, o hipoestrogenismo contribui para menor irrigação dos tecidos. A mucosa uretral se atrofia e resseca, tornando-se mais sensível a infecções, o que favorece irritação dos receptores de pressão. O envelhecimento renal provoca, por sua vez, diminuição do número de néfrons e, por consequência, uma redução da capacidade de concentrar urina. Esse fenômeno, junto com a diminuição da secreção de hormônio antidiurético, contribui para o aumento da frequência urinária 1.3 Classificação Para fins didáticos, adotaremos a seguinte subdivisão: Noctúria Incontinência urinária transitória Incontinência urinária persistente/estabelecida Atualmente, são cinco os tipos de incontinência urinária estabelecida: Incontinência Urinária de Esforço/Estresse (IUE) Incontinência Urinária de Urgência (IUU) Incontinência Urinária de Transbordamento (IUT) Incontinência Urinária Funcional (IUF) Incontinência Urinária Mista (IUM 1.3.1 Noctúria É a necessidade de levantar-se da cama mais de uma vez, com o intuito de urinar, após ter ido deitar com a expectativa de só se levantar pela manhã (definição mais aceita). Ocorre pela produção de urina, no período noturno, maior que 0,9 ml/min, e produção de urina noturna superior a 33% da produção diurna. A prevalência de noctúria na população adulta é de cerca de 10% quando considerados os indivíduos acima de 20 anos, aumentando para 16% a partir da quarta década, 26 a 66% a partir da quinta década e chegando a 55% nos homens com mais de 70 anos de idade. Apesar da alta prevalência em indivíduos idosos, 63% dos homens e 59 % das mulheres não procuram auxílio médico 1.3.2 Incontinência urinária transitória É caracterizada quando há perda precipitada por insulto psicológico, medicamentoso ou orgânico, que cessa ou melhora após controle do fator desencadeante. Existe um mnemônico que resume as causas da IUT: DIURAMID (delirium, infecções do trato urinário, uretrite e vaginites atróficas, restrição de mobilidade, aumento do débito urinário, medicamentos, impactação fecal e distúrbios psíquicos). Apesar da escassez de dados, acredita-se que a incontinência urinária transitória seja responsável por 35% dos casos de incontinência urinária em asilos de idosos, podendo corresponder a 50% dos casos de incontinência em pacientes idosos hospitalizados nos Estados Unidos. A - Constipação intestinal A presença de fezes impactadas na ampola retal pode ser responsável por até 10% dos quadros de incontinência urinária atendidos em clínicas geriátricas. A normalização do hábito intestinal e o esvaziamento do fecaloma muitas vezes melhora os sintomas de incontinência urinária nos pacientes idosos. B - Medicamentos Os sedativos e hipnóticos de longa duração, como o diazepam, podem alterar a percepção dos pacientes idosos, levando a episódios de incontinência. Os diuréticos de alça, como a furosemida, podem aumentar a produção de urina, funcionando como fator predisponente para perdas urinárias. Drogas como tranqüilizantes, antidepressivos, antiparkinsonianos, antiespasmódicos e opiáceos podem apresentar efeitos colaterais anticolinérgicos, diminuindo a contractilidade do músculo detrusor e causando retenção urinária, que pode precipitar o aparecimento de incontinência de estresse ou de transbordamento. C - Infecção As infeções do trato urinário podem levar à incontinência urinária, assim como infeções sistêmicas podem levar à confusão mental, ocasionando perdas involuntárias de urina. E - Distúrbios Psicológicos A depressão e a ansiedade podem levar à disfunção miccional e à incontinência urinária. Os estados de delírio, ao contrário da demência, levam o paciente à confusão mental por períodos que variam de horas a dias. O delírio pode ser causado por medicações ou injúrias agudas ao organismo. Muitas doenças podem se apresentar de maneira atípica nos idosos. Se o pacienteentrar em estado de confusão mental, muitas vezes a incontinência urinária é a primeira alteração a ser notada. 1.3.3 Incontinência urinária estabelecida - Incontinência urinária de estresse A incontinência urinária de estresse se caracteriza por perda involuntária de urina que ocorre com o aumento da pressão intra-abdominal e pode ser causada por tosses, espirros, risadas excessivas ou atividade física no caso de ausência de contrações vesicais. Os mecanismos envolvidos no caso de IU por estresse são a hipermobilidade uretral (decorrente do comprometimento do suporte anatômico dos órgãos pélvicos) e a deficiência esfincteriana intrínseca (perda do tônus do esfíncter). É a principal causa em mulheres jovens e é incomum em homens. 1.3.4 Incontinência urinária de urgência A incontinência urinária de urgência caracteriza-se pela perda de urina precedida ou acompanhada de um desejo urgente de urinar, com perda variável que depende da função esfincteriana uretral e da capacidade do paciente em suprimir essa urgência. É o tipo mais comum de IU estabelecida em idosos na comunidade. De acordo com a literatura, a maioria das evidências apontam que ela resulta da hiperatividade do músculo detrusor que causa contrações involuntárias durante o enchimento vesical. As causas mais comuns são: transtornos neurológicos, anormalidades vesicais e causas idiopáticas. 1.3.5 Incontinência urinária por hiperfluxo ou transbordamento A incontinência urinária por hiperfluxo ou transbordamento tende a decorrer de inabilidades do esvaziamento vesical pela hipocontratilidade do músculo detrusor, obstruções uretrais ou ambos. Comum em homens idosos, por obstrução secundária à hiperplasia prostática benigna. 1.3.6 Incontinência urinária mista Na incontinência urinária mista observa-se coexistência de mais de um tipo no mesmo paciente, sendo bastante frequente em idosos. 1.3.7 Incontinência urinária funcional A incontinência urinária funcional relaciona-se a fatores externos ao trato urinário, como comprometimento cognitivo, fatores ambientais, limitações físicas e psíquicas. Atualmente, questiona- se este tipo de incontinência devido à raridade de integridade do trato urinário inferior em idosos. 1.4 Tratamento No manejo terapêutico, é importante a individuação do tratamento, de modo a valorizar o tipo de incontinência, as condições clínicas associadas, a repercussão, as preferências do paciente, a aplicabilidade, os riscos e benefícios. Para um tratamento eficaz, é muito importante que o médico estabeleça metas a serem atingidas visando à melhoria holística do paciente e da sua qualidade de vida. O tratamento não farmacológico é baseado nas primeiras medidas a serem tomadas, como alteração no estilo de vida e terapias comportamentais que buscam corrigir fatores que contribuem para as comorbidades, deteriorações funcionais e iatrogenias medicamentosas. As terapias comportamentais envolvem exercícios para a musculatura do assoalho pélvico, treinamento vesical, diário miccional, biofeedback e eletroestimulação. O tratamento farmacológico será de acordo com a classificação da incontinência urinária do paciente. Existem medicamentos de ação misca, como a propiverina, medicamentos antimuscarínicos, como oxibutinina, solifenacina, tolterodina, trospium e darifenacina. Para a incontinência urinária de urgência, além do treinamento da bexiga, pode ser necessário o uso de anticolinérgicos, antidepressivos ou até mesmo toxina botulínica. Para pacientes com incontinência urinária mista, o tratamento consiste na combinação dos tratamentos aplicados nas incontinências de esforço e de urgência. Já na incontinência por transbordamento, o tratamento mais efetivo é a cirurgia. 1.5 Prevenção Embora seja difícil evitar completamente, há algumas medidas para prevenir a incontinência urinária. Veja essas 5 recomendações: 1.5.1 Manter o peso ideal A associação entre incontinência e excesso de peso se dá pelo enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico, causado pela gordura abdominal, o que leva à chamada incontinência de estresse. Consequentemente, quando se está acima do peso, aumenta o risco de que uma simples tosse ou uma risada leve à perda de urina involuntária. Pelo mesmo motivo, em alguns casos, a perda de peso pode ser suficiente para aliviar o problema. 1.5.2 Não fumar Entre os vários efeitos colaterais do tabagismo, há também um risco aumentado de incontinência. Além disso, a nicotina tem sido associada à incontinência de urgência, caracterizada pela súbita necessidade de fazer xixi. 1.5.3 Fazer ioga, pilates e atividades físicas moderadas Alguns estudos mostraram que atividades leves como ioga e pilates podem ajudar a prevenir a incontinência. Já atividades pesadas como crossfit, podem agravar o quadro. Mas, é certo que, atividades moderadas, e que ajudam a manter o peso, são maneiras eficazes para prevenção da incontinência urinária. 1.5.4 Reduzir o uso de álcool e cafeína Eles irritam a bexiga, e estão fortemente associados à incontinência de urgência. A mesma recomendação também se aplica a bebidas carbonatadas, adoçantes artificiais, alimentos apimentados e frutas cítricas (sucos incluídos). 1.5.5 Evitar esforços ao defecar Os músculos do assoalho pélvico podem pagar pelas consequências. Em vez disso, peça conselhos ao seu médico sobre como resolver problemas intestinais; uma dieta rica em fibras pode ajudar bastante https://www.tena.com.br/sobre-a-incontinencia/cuidadores/atividade-fisica-para-prevenir-incontinencia-urina 2. Hiperplasia prostática benigna (HPB) A hiperplasia prostática benigna (HPB) é o tumor benigno mais comum em homens, principalmente em idosos, sendo responsável por significativa deficiência, mas é causa infrequente de morte. É uma das patologias mais comuns nos homens a partir da quinta década de vida, podendo associar-se a sintomas do trato urinário inferior (STUI ou LUTS). A doença costuma interferir nas atividades diárias e no padrão do sono dos pacientes e, quando não tratada, pode levar à retenção urinária, hidronefrose e insuficiência renal. Ainda não se conhece completamente a etiologia da HPB, mas alguns relatos afirmam que se trata de uma causa multifatorial e de controle endócrino. Sabe-se que a próstata é composta por elementos estromais e epiteliais, e cada um deles, isoladamente ou não, pode dar origem à nódulos hiperplásicos e aos sintomas associados à HPB. Além disso, algumas investigações demonstraram a existência de correlação positiva entre os níveis de testosterona livre, que sob sua forma biologicamente ativa (DHT), estimula as células estromais a secretarem fatores de crescimento. Ainda, com o envelhecimento, há aumento nos niveis de estrogenio livres, que induz a expressão de receptores androgênicos, corroborando para o crescimento da glândula. 2.1 Epidemiologia O processo hiperplásico começa frequentemente na terceira década de vida; em torno dos 80 anos de idade, 85% dos homens apresentam HPB. A prevalência de HPB em homens com idade de 41 - 50 anos é de aproximadamente 20%, para aqueles com 51 - 60 anos é de 50% e para os que tem mais de 80 anos é de 90%. Evidencia-se que dentre os homens por volta de 55 anos, 25% relatam sintomas de obstrução miccional e aos 75 anos, 50% se queixam de alguma alteração de jato urinário. A prevalência da HPB, que aumenta com o passar dos anos, é notavelmente semelhante entre homens de diferentes etnias. O envelhecimento e os testículos funcionantes constituem os principais fatores de risco. O aparecimento de manifestações clínicas de HPB antes dos 65 anos de idade em um parente de primeiro grau também constitui um fator de risco. A prevalência das manifestaçõesclínicas é incerta, devido a uma falta de consenso na definição dos sintomas atribuíveis à hiperplasia. Entretanto, nos Estados Unidos, cerca de um terço dos homens norte- americanos na faixa dos 40 aos 79 anos de idade apresenta sintomas moderados a graves do trato urinário inferior, cuja maioria é atribuível à HPB. 2.3 Quadro clínico Os sintomas da HPB podem ser divididos em queixas obstrutivas e irritativas. A American Urological Association (AUA) desenvolveu um questionário autoaplicável, que permite identificação da necessidade e monitorização da resposta ao tratamento, sendo recomendado para todos os pacientes que apresentem clínica. Nesse sentido, a avaliação é baseada em 7 itens, e solicita-se ao paciente que quantifique a intensidade de suas queixas (obstrutivas e irritativas) em uma escala de 0- 5. Além disso, é importante avaliar se os sintomas prejudicam a qualidade de vida do paciente, sendo esse um fator norteador para otimizar o tratamento. Por vezes, essa avaliação é auxiliada por meio de um diário miccional, no qual o paciente deve registrar os sintomas, horário e volume das micções durante três dias e noites. Com isso, os sintomas podem ser classificados de acordo com a pontuação: 2.4 Diagnóstico clínico É baseado na presença de sintomas de trato urinário inferior e exame digital da próstata (que pode ou não estar aumentada), porém a gravidade dos sintomas não está correlacionada ao tamanho da próstata. Na história clínica deve-se também questionar sobre: história de infecção urinária recorrente, disfunção sexual, hematúria, doenças neurológicas, antecedentes cirúrgicos, cálculo vesical e história familiar de câncer de próstata. Exame digital da próstata (EDP) / Toque Retal: realizado em homens com suspeita de HPB para avaliar o tamanho da próstata e a presença de sinais de neoplasia (nódulo, endurecimento ou assimetria). A próstata é percebida como uma saliência no assoalho do reto. Estima-se o peso prostático através da palpação, sendo que uma calota palpável com 3 cm equivale a uma próstata de aproximadamente 30 g. Também, nesse momento, avalia-se a contração e a sensibilidade do esfíncter anal, o reflexo bulbo- cavernoso, e a parede retal. Próstata homogênea, sem nódulos ou áreas endurecidas não exclui a possibilidade de HPB ou neoplasia. 2.5 Manejo na Atenção Primária A decisão sobre o tratamento deve ser individualizada e compartilhada com o paciente. As principais opções de manejo são: Expectante (conservador): pode ser utilizada em pacientes com sintomas leves ou moderados e sem complicações. Quando se opta por esta conduta, deve- se ter em mente que os sintomas progridem com o tempo na maioria dos pacientes. Algumas medidas comportamentais podem ajudar a reduzir os sintomas: Redução da ingesta de líquidos à noite, Exercícios para treinamento vesical como dupla micção para esvaziar a bexiga mais efetivamente, Redução do uso de álcool, café e cigarros (efeito diurético e irritativo vesical). Medicamentoso: indica-se o uso de medicamentos quando a pessoa apresenta sintomas leves que causam prejuízo à qualidade de vida e pessoas com sintomas moderados a graves (I-PSS > 8). Os medicamentos da classe alfa-bloqueadores causam benefício imediato dos sintomas, enquanto os inibidores da 5-alfa- redutase requerem um tratamento em longo prazo.] Tratamento Cirúrgico: As principais indicações de tratamento cirúrgico são: Retenção urinária refratária ao tratamento ou recorrente, Hematúria recorrente, Insuficiência renal e Cálculo vesical. As opções de tratamento são diversas. Pode-se optar por terapias minimamente invasivas (como ablação prostática através de agulha transuretral e termoterapia transuretral com micro-ondas), ressecção transuretral da próstata (RTUP), prostatectomia aberta, entre outras. 3. CA de próstata O câncer de próstata é a segunda neoplasia mais comum no sexo masculino em todo o mundo, excluindo os tumores de pele (carcinomas basocelular e espinocelular), com uma estimativa de 1.100.000 casos anuais e levando à mortalidade aproximada de 307 mil homens. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimam 65.840 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata ocupa a primeira posição no país em todas as Regiões brasileiras, com um risco estimado de 72,35/100 mil na Região Nordeste; de 65,29/100 mil na Região Centro-Oeste; de 63,94/100 mil na Região Sudeste; de 62,00/100 mil na Região Sul; e de 29,39/100 mil na Região Norte. Alguns fatores de risco são conhecidos, como idade, história familiar, alterações genéticas e dieta rica em gordura. Há uma relação com etnia (negros apresentam mais risco, enquanto asiáticos, menos risco), mas essa diferença parece estar associada a fatores hormonais, dietéticos, socioeconômicos e perfis genéticos dessas populações. O rastreamento do câncer de próstata é responsável pelo diagnóstico precoce da doença e, em países onde essa prática é rotina, grande parte dos diagnósticos é feita com a doença confinada ao órgão, em estádio inicial. A suspeita diagnóstica do câncer de próstata é feita pela observação da elevação dos níveis séricos do antígeno prostático específico (PSA) ou, clinicamente, pelo toque retal, seja por alteração da consistência da glândula, seja pela presença de nodulação. 3.1 Etiologia Basicamente podemos dividir os cânceres de próstata em dois grupos: os de origem epitelial e os de os de origem estromal (não-epitelial). Quanto aos de origem epitelial podemos falar em adenocarcinoma acinar e não-acinar. Entre os adenocarcinomas não acinares temos o adenocarcinoma ductal, o qual apresenta um pior prognóstico. O tumor de próstata mais agressivo, no entanto, é o tumor de pequenas células. Tumores de bexiga podem também se alojar na próstata, porém são menos comuns. O adenocarcinoma multifocal corresponde a 95% dos cânceres de próstata, enquanto os outros 5% correspondem a sarcomas, linfomas e carcinomas uroteliais. 3.2 Quadro clínico A maioria dos pacientes com neoplasia de próstata é assintomática. Entretanto, em casos de invasão uretral, podem ocorrer sintomas obstrutivos, como hesitação urinária, diminuição do jato urinário, bem como esvaziamento incompleto da bexiga. Além disso, podem apresentar sintomas irritativos, como urgência urinária, disúria e até mesmo incontinência. Quando há envolvimento da uretra prostática e do trígono vesical, é comum a presença de hematúria. 3.3 Estadiamento O estadiamento TNM é uma forma de identificar o estágio do câncer com base no tumor (T), acometimento linfonodal (N) e metástases à distância (M). O estadiamento T do TNM ainda é dividido em estadiamento clínico e patológico. O clínico é baseado no exame físico (toque retal), biópsia guiada por ultrassonografia transretal (TRRE) ou em exames de imagem, particularmente a varredura óssea e a ressonância magnética. É de grande importância na avaliação do risco da doença, assim como na recomendação do tratamento. O estadiamento patológico T é feito com base no exame histológico da amostra de ressecção cirúrgica após prostatectomia radical. Pacientes não submetidos a essa intervenção não terão um estadiamento patológico definido e as decisões de tratamento serão baseadas no estágio clínico. O estadiamento clínico pode subestimar ou superestimar a extensão da doença quando comparado com os resultados baseados no exame patológico
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