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Bruno_Ap_Barbosa

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FACULDADE DEHONIANA 
FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
Monografia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO A PARTIR DO 
MÉTODO DA MAIÊUTICA SOCRÁTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: Bruno Aparecido Barbosa 
Orientador: Dr. Marcelo Pereira de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Taubaté – 2020 
 
FACULDADE DEHONIANA 
FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO A PARTIR DO 
MÉTODO DA MAIÊUTICA SOCRÁTICA 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Faculdade 
Dehoniana, como exigência parcial para 
obtenção do título de Bacharel em Filosofia. 
 
 
 
 
 
Aluno: Bruno Aparecido Barbosa Orientador: Dr. Marcelo Pereira de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Taubaté – 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Primeiramente, quero agradecer a Deus pelo 
dom da vida. Gratidão à minha família: meus 
pais Cláudio e Luciene, meu avô Antônio e 
minhas irmãs Isamara e Cláudia. 
Ao Instituto dos Missionários de São José, 
principalmente na pessoa do Pe. Aléscio 
Aparecido Bombonatti, que me acolheu e 
ajudou neste processo de discernimento 
vocacional, ao meu atual formador o Pe. 
Edilson Paes Landim de Farias, ao Superior 
Geral Pe. Ronaldo de Castro Neto, ao Pe. 
Wender José da Silva, que muito nos ajudou 
com orientações de estudo e pesquisa, ao Pe. 
Vicente Borges, Pe. Jaime Lemes e meus 
irmãos de convívio comunitário e de vida 
Religiosa. 
Aos meus amigos que sempre estiveram ao meu 
lado, dando apoio, incentivos, aos que rezaram 
por mim, aos amigos que mesmo distante de 
algum modo se faziam presentes: Maria Fatima 
de Almeida Guilherme, Pe. Antônio Fernando, 
Frei Dennys de Melo, a minha Comunidade de 
origem (Santa Clara – Paróquia do Menino 
Jesus), o Professor Maurílio Camello, meu 
Diretor Espiritual Pe. Arcemírio Leôncio de 
Carvalho e minha avó materna Maria Ap. (in 
memorian) que sempre acreditou em mim. 
Não poderia esquecer de mencionar a Dra. 
Rúbia, psicóloga e psicanalista, que ao longo do 
processo formativo esteve presente conosco, 
dando suporte para o nosso desenvolvimento. 
Ao corpo docente da Faculdade Dehoniana, em 
especial, o Coordenador de Curso Pe. Cleber 
Sanches e o meu orientador Professor Marcelo 
Pereira de Andrade. 
Por fim, aos colegas de turma, que ao longo do 
curso acadêmico foram essenciais e se 
colocaram à disposição, contribuindo para o 
desenvolvimento do curso. 
 
Eterna Gratidão! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao Professor Marcelo Pereira de Andrade pela 
amizade, dedicação, paciência na orientação е 
incentivo, tornando possível o sonho de 
concluir esta monografia. 
Ao Professor е Coordenador do curso de 
Filosofia Pe. Cleber Sanches pelo convívio, por 
todos os seus ensinamentos, dedicação e amor 
pelo curso, pеlа compreensão е amizade. É uma 
honra tê-lo na banca examinadora. 
Dedico esta monografia as Professoras Adriana 
Cintra e Fabrina Moreira, que desde o 1º ano da 
graduação se dedicaram a nos preparar para a 
escolha de temas do TCC, Elaboração de 
Projetos e as Metodologias. 
Aos Professores: Adalberto Vanzella, Carlos 
Antônio, Silvio Costa, Silvio Santos, José 
Marcos Miné Vanzella, Gilberto Heleno, 
Maurício Martins, Mário Marcelo, Walter 
Lisboa, Donizete Goulart e Eduardo 
Dalabeneta. 
Dedico ao Professor Maurílio Camello, que na 
minha humilde opinião é o maior filósofo da 
atualidade; homem sábio, dedicado, amigo com 
quem partilhei a semente daquilo que veio а ser 
este trabalho; professor que buscou ao longo do 
curso transmitir seus conhecimentos, 
despertando em nós o interesse pela Filosofia. 
À professora Rosemary, por seus ensinamentos, 
paciência е confiança ао longo das atividades 
do PAD, dando total apoio, auxiliando na 
integração dos alunos do primeiro ano de cada 
curso. É um prazer tê-la na banca examinadora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O início da sabedoria é a admissão da própria 
ignorância. Todo o meu saber consiste em 
saber que nada sei. Sócrates 
RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade refletir a temática A Construção do 
Conhecimento a partir do Método da Maiêutica Socrática, possibilitando ao homem o 
conhecimento de si no exercício de estímulo do pensamento fazendo com que a pessoa possa 
formular um conceito do desconhecido. Sócrates surge como aquele que provoca e incomoda, 
que não se contenta com um discurso alienante, recebe dos deuses uma missão um tanto 
incomum: curar a alma dos homens, só lhe é possível pelo diálogo vivo, não existe aquele que 
ensina e aquele que aprende, mas mestres e discípulos que se colocam no mesmo patamar, e, 
juntos, estabelecem uma experiência espiritual de pesquisa. O leitor é convidado a uma viagem 
pela filosofia socrática em busca da verdade e do conhecimento, pois uma vida sem desafios 
não vale a pena ser vivida. 
 
Palavras-Chaves: Conhecimento; Verdade; Investigação; Maiêutica; Método. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT: This work intends to reflect on the theme “The construction of knowledge 
starting with the Socratic Maieutic Method”, enabling the man to know himself in the exercise 
of the stimulus of though, thereby causing the person to be able to formulate a concept of the 
unknown. Socrates emerges as the one who teases and bothers, who does not abide by an 
alienating discourse, receiving from the gods a rather uncommon mission: to heal men’s souls, 
and this is only possible for him through the live speech, in which there is no one who teaches 
and no one who learns, but masters and disciples on the same level, and who, together, make a 
spiritual experience of investigation. The reader is invited to take a trip through the Socratic 
philosophy, seeking truth and knowledge, because a life without challenges is not worth living. 
 
 
Keywords: Knowledge; Truth; Investigation; Maieutics; Method. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................08 
 
CAPÍTULO I – A FIGURA DE SÓCRATES: AS PRINCIPAIS FONTES ANTIGAS 
...................................................................................................................................................10 
1.1 Aristófanes: As Nuvens.......................................................................................................11 
1.2 Platão: Apologia de Sócrates...............................................................................................14 
1.3 Xenofonte: Ditos Memoráveis de Sócrates..........................................................................19 
1.4 Aristóteles: Metafísica.........................................................................................................21 
 
CAPÍTULO II – A MAIÊUTICA SOCRÁTICA.................................................................25 
2.1 O Oráculo de Delfos............................................................................................................25 
2.2 O Método Dialético Socrático.............................................................................................28 
2.3 A Maiêutica Socrtática........................................................................................................31 
 
CAPÍTULO III – A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ATRAVÉS DO MÉTODO 
SOCRÁTICO..........................................................................................................................33 
 
CONCLUSÃO.........................................................................................................................39 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................41ANEXO....................................................................................................................................43 
 
 
 
 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A forma de pensar a existência humana e os problemas do mundo era explicada por 
meio das narrativas mitológicas, nas histórias dos deuses e até mesmo o fenômeno da natureza. 
Por muito tempo essas formas de conhecimento para explicar as coisas eram bem aceitas; 
porém, a partir de um determinado momento, elas não eram mais suficientes. Surgem os 
primeiros pensadores, os primeiros filósofos, nasce a filosofia que se manifesta frente ao saber 
mítico. As reflexões filosóficas acerca do homem, a ética e, principalmente, da natureza e do 
conhecimento; tornam-se de suma importância inicialmente em Mileto, para depois se 
destacarem em Atenas. 
A filosofia abre nossa mente, nos faz pensar, questionar, buscar respostas acerca da 
verdade, é filosofando que aprendemos. Ela desperta em nós um olhar crítico, a refletir e 
enxergar o mundo por nossa própria experiência. Sabemos que a filosofia ainda é muito 
questionada, tratada com um certo preconceito e muitas vezes desvalorizada. 
A elaboração deste trabalho monográfico tem como base o filósofo Sócrates, que 
embora não tenha deixado nada por escrito, o que se sabe sobre sua vida e pensamentos, é 
derivado de seus discípulos, naturalmente Platão, é considerado como um dos principais 
filósofos da história da filosofia. 
A questão central que norteia este trabalho é a construção do conhecimento com base 
na aplicação do método da maiêutica socrática. Sócrates aproxima a arte da maiêutica à sua 
mãe que era parteira, diferenciando que é do conhecimento vindo da alma que se trata e não do 
corpo. Pretendia que o seu questionamento sistemático levasse os outros a um ponto crucial de 
consciência crítica procurando a verdade no seu interior, dando assim lugar a uma espécie de 
“parto intelectual”. A maiêutica é, portanto, a fase positiva, construtiva, do método socrático, 
como se verá.1 
Como aponta o filósofo brasileiro Danilo Marcondes, “o pensamento filosófico de 
Sócrates é caracterizado como um método de análise conceitual, isto é, uma busca incessante à 
definição de conceitos muitas vezes relativos a qualidades morais dos indivíduos”.2 Com 
relação ao método de análise conceitual, como mencionado anteriormente, Sócrates estabelecia 
 
1 O MÉTODO SOCRÁTICO (on line). s.d. Disponível em: 
http:/www.educ.fc.ul.pt/docentes/hfe>protagoras2/links/met_socrat. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020. 
2 Danilo MARCONDES, Iniciação à História da Filosofia, 2007, p. 16. 
 
 
9 
 
um diálogo com seu interlocutor, que por sua vez, chegava a constatação de um conhecimento 
puramente envolvido pelo senso comum e de suas fragilidades, ou seja, Sócrates através do 
método nos faz compreender que seu interlocutor nada sabe ou até mesmo o que se julgava a 
saber, levando-nos a uma ponderação do conhecimento mais profundo daquilo que se pensava 
anteriormente.3 
Constatamos que, a partir do momento em que Sócrates atua em Atenas, a literatura 
em geral e a filosofia em particular registram uma série de novidades de considerável alcance, 
que depois permanecem, no âmbito do espírito da grecidade. As principais fontes escolhidas 
como contribuição para este trabalho monográfico são de suma importância e nos ajudará a 
compreender o pensamento de Sócrates. 
A escolha deste tema foi inspirada na obra “O Teeteto” de Platão. Por meio do diálogo 
entre Sócrates e Teeteto, somos levados a uma reflexão acerca da verdade e do conhecimento, 
o qual se configura pela busca do saber em um processo que não acontece de fora para dentro, 
mas de dentro para fora, ou seja, que é intrínseco a ele e emanando do seu interior contagiaria 
a realidade externa.4 
O presente trabalho se divide em 3 capítulos. No primeiro capítulo, apresentamos a 
figura de Sócrates no contexto histórico-biográfico na Antiguidade e sua contribuição no 
pensamento filosófico. É importante consultarmos as fontes disponíveis acerca de sua vida para 
compreendermos o por que foi considerado um homem tão sábio, admirado por muitos, odiado 
por outros, sendo condenado, por fim, à morte. Estas principais fontes são: Aristófanes, 
Xenofonte, Platão e Aristóteles 
A maiêutica socrática e a missão de Sócrates constituem o segundo capítulo, trata-se 
da missão que Sócrates recebeu do Oráculos de Delfos e de parte do método socrático, que 
consiste em dois momentos essenciais: a refutação/ironia e a maiêutica. Neste capítulo veremos, 
portanto, a primeira parte que trata da ironia. 
No terceiro e último capítulo, trataremos da Construção do Conhecimento. 
Examinaremos como Sócrates, após validar-se da máscara do “não saber” e da temida arma da 
“ironia”, começa então o processo da maiêutica na busca da verdade. 
 
 
 
 
3 Cf. Ibidem. 
4 Cf. Jaime Pereira LEMES, A Maiêutica Socrática como Método Gerador de Auto-Conhecimento no Teeteto de 
Platão, 2000, p. 22. 
 
10 
 
CAPÍTULO I 
A FIGURA DE SÓCRATES: AS PRINCIPAIS FONTES ANTIGAS 
 
 
Ao pensarmos em filosofia, embora a questão de sua existência tal qual apresentada 
por seus discípulos ainda seja debatida, a figura de Sócrates se destaca na Antiguidade. Apesar 
de tantos escritos no que diz respeito a Sócrates, pela simples razão dele nada ter escrito, surgem 
muitas dúvidas acerca de sua identidade, no entanto: 
 
De Sócrates conhecemos com certeza a data da morte, que aconteceu em 399 a.C., em seguida 
a condenação por “impiedade” (Sócrates foi formalmente acusado de não crer nos deuses da 
cidade e de corromper os jovens com suas doutrinas; mas atrás de tal acusação escondem-se 
os mais diversos ressentimentos e manobras políticas, como bem nos diz Platão na Apologia 
de Sócrates). Posto que o próprio Platão nos diz que, no momento da morte, Sócrates tinha 
cerca de setenta anos, deduz-se que nasceu em 470/469 a.C.5 
 
Neste capítulo recorremos às principais fontes antigas, destacando o contexto histórico 
e biográfico de Sócrates. Relata-se que Sócrates fora filho de Sofronisco (escultor) e de 
Fenarete, que exercia o ofício de parteira, que nasceu em Atenas no final de 470 ou início de 
469 a.C. e morreu, condenado pelo tribunal ateniense a tomar cicuta, em 399 a.C., com a idade 
de 70 anos.6 
Sócrates nada escreve. Sua mensagem foi transmitida através dos relatos diretos, 
escritos por seus discípulos, tais como Platão, Xenofonte e por seu crítico Aristófanes. De forma 
indireta, dos quais os mais importantes são os escritos por Aristóteles, que nasceu quinze anos 
após a sua morte.7 Reale mostra Aristófanes como uma das fontes mais antigas, que na célebre 
comédia As Nuvens, apresenta um Sócrates bem diferente do apresentado por Platão e 
Xenofonte, que é o Sócrates da velhice, da última parte de sua vida.8 Aliás, Aristófanes é aquele 
que ridiculariza a figura de Sócrates, faz comédias. 
Sócrates é idealizado por Platão, uma das fontes mais importantes da qual faremos uso 
nos próximos capítulos para o discorrer deste trabalho. A obra A morte de Sócrates, da qual 
também faremos uso para a contribuição filosófica deste trabalho, destaca Xenofonte como 
outra fonte antiga que descreve Sócrates como um homem sábio e inofensivo e por fim, 
 
5 Giovanni REALE, Sofistas, Sócrates e socráticos menores, 2009, p. 81. 
6 Marilena CHAUÍ, Introdução à História da Filosofia, 2002, p. 1. 
7 Louis André DORION, Ascensão e queda do problema socrático, 2016, p. 23. 
8 Giovanni REALE, História da Filosofia Antiga, 1993, p. 85. 
 
11 
 
Aristóteles, nossa última fonte, mas não menos importante, que fala de Sócrates 
ocasionalmente, entretanto, suas afirmações são consideradas mais objetivas. 
Levando em contaque os relatos dos discípulos de Sócrates divergem muito entre si, 
questiona-se a possibilidade de reconstrução de sua vida, principalmente no que se refere às 
ideias; é dito que o problema socrático diz respeito ao problema histórico e metodológico que 
os historiadores enfrentam quando tentam reconstruir as doutrinas filosóficas de Sócrates 
histórico e que qualquer posição futura acerca do problema socrático pretende ser uma posição 
informada e bem fundamentada, pressupondo um entendimento completo das origens e de 
soluções propostas nos últimos dois séculos: rever todas as tentativas de solução ultrapassa o 
âmbito de nossa competência.9 
Reale aponta que “a partir do momento em que Sócrates atuou em Atenas, pode-se 
constatar que a literatura em geral, principalmente a filosófica, registra uma série de novidades 
de alcance bastante considerável, que depois, no âmbito do helenismo iriam permanecer como 
aquisições irreversíveis e pontos constantes de referência”.10 
A seguir, apresentamos a figura de Sócrates de forma mais detalhada a partir das 
principais fontes. A ordem escolhida aqui é a cronológica, conforme sugerida por Reale.11 
 
 
1.1 Aristófanes: As Nuvens 
 
 
Sabemos que os ensinamentos filosóficos de Sócrates são relatados por seus alunos, e 
se quisermos explicar como um homem tão sábio foi condenado à morte, “precisamos recorrer 
as descrições mais antigas e composta durante sua existência, a comédia de Aristófanes As 
Nuvens, que faz o primeiro relato literário não apenas dos ensinamentos de Sócrates, mas 
também relatos de sua morte”.12 
Aristófanes era um satirista de profissão, e era de se esperar que ele produzisse uma 
paródia de Sócrates, que era sob qualquer perspectiva uma personalidade excêntrica, que sem 
dúvida atraía tal zombaria, mas a paródia, para ser eficaz, deve ter alguma base na realidade, e 
a questão que ocupou os estudiosos é em que medida o testemunho de Aristófanes, que é nossa 
 
9 Cf. Louis André DORION, Opus Citatum, p. 23. 
10 Giovani REALE, Opus Citatum, p. 86. 
11 Idem, p. 93. 
12 Emily WILSON, A morte de Sócrates, 2013, p. 32. 
12 
 
primeira testemunha da carreira de Sócrates, pode de fato lançar a luz sobre o caráter e as 
crenças deste.13 
O Sócrates de Aristófanes emergirá então como uma figura composta, representando 
não um único indivíduo, mas sofistas em geral, portando quaisquer características que fossem 
mais notáveis e capazes de divertir, da maneira como se diz que Zeuxis pintou Helena de Troia 
mediante a reunião das características de várias modelos diferentes. A ideia portanto, é remover 
as características alheias, a fim de revelar o núcleo socrático.14 
 
A imagem de Sócrates terá sido adaptada às demandas do gênero, e o enredo se desenvolverá 
de maneiras que são em alguma medida análoga aos enredos de outras peças de Aristófanes. a 
sugestão de Platão de que As Nuvens contribuiu materialmente para o preconceito contra 
Sócrates pode ser mais um ardil de defensor do que um reflexo acurado da influência da peça 
sobre as atitudes populares.15 
 
Os Sofistas contemporâneos de Sócrates “não eram pessoas desmazeladas, mas figuras 
respeitadas e ensinavam aos herdeiros dos ricos; Sócrates não cobrava pela instrução, conforme 
ele insiste na Apologia de Platão, vestia trajes simples e caminhava descalço, mesmo no 
inverno”.16 
Parece provável que a imagem de Sócrates como pobre e duro deriva da realidade e é 
combinada com elementos da visão popular dos retóricos profissionais como os ricos. De modo 
semelhante, as crenças de Sócrates sobre os deuses, como a representação das próprias Nuvens, 
são uma mistura: às vezes ele personifica forças naturais como divindades, enquanto em outras 
ocasiões ele explica essas mesmas forças em termos científicos.17 
Aristófanes relata em sua obra cômica, a vida de um homem chamado Estrepsíades, 
que endividado por conta de sua esposa esbanjadora e de seu filho, decide ser aluno de um 
professor de sabedoria – aqui chamamos de sofista – para aprender a se livrar de seus credores 
por meio de argumentos fortes; o sofista escolhido foi Sócrates, que tem sua cabeça literalmente 
nas nuvens, falando com seus deuses de estimação e as Nuvens que aparecem em pessoa, 
vestidas de branco, como o coro da peça.18 
Na obra de Aristófanes As Nuvens, observamos que Estrepsíades é um homem tolo e 
velho demais para compreender o discurso de Sócrates, não sendo capaz de acompanhar o 
raciocínio filosófico, o próprio Sócrates acaba que desistindo de ensiná-lo. Assume então como 
aluno, o próprio filho, um jovem que seria capaz de aprender com mais facilidade. 
 
13 David KONSTAN, Sócrates em As nuvens de Aristófanes, 2016, p. 115. 
14 Ibidem. 
15 Idem, p. 116. 
16 Ibidem. 
17 Idem, p. 120. 
18 Cf. Emily WILSON, Opus Citatum, p. 33. 
13 
 
Dentre as questões discutidas entre Sócrates e seus alunos, como aponta Konstan, 
“estão envolvidos com as investigações secretas e de assuntos mais profundos, como a distância 
que uma pulga pode saltar em proporção a seu tamanho, assim como as explorações 
subterrâneas, astronomia e geometria”.19 
Aristófanes em sua obra, mostra Sócrates estimulando Estrepsíades a fazer exatamente 
o que ele desejara desde o início: (...) recusar-se a pagar os credores e trapacear com 
trocadilhos, trata os credores como cavalos rebeldes, segurando-os pelo colarinho e instiga 
sobre eles seu escravo, com um chicote.20 Observemos o diálogo abaixo: 
 
Credor I: Pelas doze minas, que você tomou emprestadas para comprar o cavalo ruço... 
Estrepsíades: Cavalo? Vocês ouviram? Se todos sabem que eu detesto a equitação!... 
Credor I: Por Zeus, você jurou pelos deuses que pagaria! 
Estrepsíades: Sim, por Zeus, mas naquela ocasião Fidípides ainda não me tinha aprendido o 
raciocínio irrefutável... 
Credor I: Mas agora por esse motivo vocês pretendem negar a dívida? 
Estrepsíades: Pois que outra vantagem poderia tirar desse conhecimento? 
Credor I: Será que você pretende renegar o juramento, em nome dos deuses e no lugar em 
que eu mandar? 
Estrepsíades: Que deuses? 
Credor I: Zeus, Hermes, Posidão! 
Estrepsíades: Sim, por Zeus, e até depositaria mais três óbolos para jurar... 
Credor I: Está bem, tomara você pereça! E ainda mais pela sua impudência! 
Estrepsíades: Enxaguado em salmoura este fulano serviria para alguma coisa... 
Credor I: Como você caçoa de mim! 
Estrepsíades: Nele caberão seis medidas... 
Credor I: Não, por Zeus poderoso e pelos deuses, você há de pagar-me! 
Estrepsíades: Você me diverte admiravelmente, com os seus deuses!... Para os entendidos, 
por Zeus dos seus juramentos é ridículo! 
Credor I: Sim, está bem, com o tempo você há de ser castigado por ele... mas vai ou não vai 
pagar o meu dinheiro? Responda-me e deixe-me ir, 
Estrepsíades: Então fique tranquilo, pois já lhe responderei de maneira clara. (Sai) 
Credor I: (À testemunha). Que pensa você que ele vai fazer? Acha que vai pagar?... 
Estrepsíades: (Volta com uma gamela). Onde está esse homem que reclama o dinheiro? (Ao 
credor). Diga, que é isto? 
Credor I: Que é isso? “Um gamelão”. 
Estrepsíades: E ainda reclama dinheiro, sendo desse jeito? Eu não pagaria nem um óbolo a 
ninguém que chame “a gamela” de “gamelão”! 
Credor I: Mas então você não vai pagar? 
Estrepsíades: Que eu saiba, não! Então, depressa, vá dando o fora de minha porta!21 
 
No entanto, o prazer de Estrepsíades dura pouco, como dizem o ditado popular 
“castigo vem a cavalo” e neste caso por ironia do destino, seu filho Feldípedes começa a agredir 
seu pai e ameaça bater em sua própria mãe. Estrepsíades reconhece o erro de seus modos e 
 
19 David KONSTAN, Opus Citatum, p. 117. 
20 Emily WILSON, Opus Citatum, p. 34. 
21 PLATÃO, Sócrates. In: Victor CIVITA, 1972, p. 221-222.14 
 
atribuí a culpa a Sócrates, que e não deveria escutá-lo e ter rejeitado os velhos deuses e num ato 
rebelde ateia fogo à escola e Sócrates provavelmente morre no incêndio com alguns alunos 
restantes.22 
A morte de Sócrates na obra As Nuvens não resolve absolutamente nada, mesmo que 
possa satisfazer a alegria de seus inimigos e que aja uma insinuação de que o filósofo tenha 
corrompido os jovens. Em momento algum fica explícito que Sócrates tenha de fato feito tais 
coisas e além do mais, ninguém precisaria aprender com Sócrates como se corromper: 
“Estrepsíades nunca precisou das orientações de Sócrates para enganar seus credores”.23 
A descrição que Aristófanes faz acerca de Sócrates contrasta com as de outras 
importantes fontes e, embora haja divergência nas fontes, muitos põem de lado a descrição que 
Aristófanes fez de Sócrates, como sendo uma cômica difamação. Mas ela nos revela como a 
filosofia de Sócrates era vista por aqueles que não pertenciam ao círculo imediato e ajuda a 
entender por que o júri o condenou à morte: Sócrates foi simplesmente apresentado como o 
mais famoso profissional do perigoso aprendizado novo como um sofista.24 
 
 
1.2 Platão: Apologia de Sócrates 
 
 
A segunda fonte antiga por ordem cronológica é a Apologia de Platão. Platão, é nossa 
fonte principal, pois apresenta uma melhor coerência e apontado por Reale como fonte mais 
importante sobre a filosofia de Sócrates: “(...) acredita-se que o encontro deles tenha ocorrido 
quando Platão tinha vinte anos, frequentou o círculo de Sócrates com o objetivo da maioria dos 
jovens, não para fazer da filosofia a finalidade de sua própria vida, mas para melhor se preparar, 
pela filosofia, para a vida política, entretanto, os acontecimentos levariam Platão para outros 
caminhos”.25 
Platão tentou reproduzir o jogo das perguntas e respostas, com todos os meandros da 
dúvida, com as fugazes e imprevistas revelações que impulsionam para a verdade sem, porém, 
revelá-la, convidando a alma dos ouvintes a realizar o seu encontro com ela e com as rupturas 
dramáticas de sequência que preparam outras investigações: em suma, toda aquela dinâmica 
 
22 Cf. Emily WILSON, Opus Citatum, p. 34. 
23 Idem, p. 37. 
24 Cf. Idem, p. 39. 
25 Giovani REALE, Opus Citatum, p. 125. 
15 
 
socrática estava presente. Dá a expressão diálogo socrático para se referir ao próprio 
desenvolvimento de Platão.26 
A partir dos estudos históricos e filológicos, como mostra Chauí, distinguiu-se nos 
diálogos platônicos, o que era de Sócrates e o que era de Platão, sendo a divisão dos diálogos 
em “socráticos” e “clássicos”: nos primeiros, que correspondem à juventude de Platão, as ideias 
são de Sócrates; nos segundos, que correspondem à maturidade e velhice de Platão, Sócrates 
aparece de duas maneiras: ou colocando o problema que o próprio Platão terá que resolver, ou 
como uma simples personagem que já fala platonicamente.27 
Chauí observa que os primeiros diálogos nos apresentam um Sócrates histórico, 
enquanto nos últimos Sócrates é o nome de um personagem que fala por Platão. Sendo assim, 
os historiadores da filosofia propõem a seguinte classificação dos diálogos platônicos:28 
 
Diálogos Apologéticos: De defesa incondicional de Sócrates contra seus acusadores; são 
escritos logo após a morte de Sócrates (Apologia e Críton); 
Diálogos Socráticos ou Aporéticos: São os que terminam sem uma definição da 
problemática, são conversas sobre as virtudes e os valores da cidade (Laques, Lisis, Cármides, 
Hípias Maior, Primeiro Alcibíades e Eutifron); 
Diálogos Intermediários: Trata das questões que interessavam a Sócrates e os sofistas, aqui 
aparecem os pensamentos platônicos (Protágoras, Mênon, Górgias e Primeiro Livro da 
República); 
Diálogos Clássicos ou da Maturidade: Abordam os temas que constituem o núcleo da 
filosofia platônica (Banquete, Fédon, Fedro, Crátilo, Teeteto, República); Sócrates representa 
um estilo de vida, mas as ideias já são inteiramente de Platão; 
Diálogos da Velhice: Sócrates é um simples nome, um personagem apenas (Parmênides, 
Sofista, Político, Timeu, Crítias, Filebo); no último diálogo, “As Leis”, nem nome de 
personagem Sócrates recebe.29 
 
 
Observamos que na obra Apologia de Sócrates escrita por Platão, não é apenas um 
relato que desencadeou o julgamento de Sócrates, mas, os fundamentos e teorias de sua 
filosofia, relatadas com fidelidade. No Diálogos, Laques temos: 
 
Todo homem que entra em contato com Sócrates e dele se aproxima para conversar, seja qual 
for o assunto, se vê, infalivelmente, levado pelo jeito da conversa a lhe fazer confidencias 
sobre si mesmo, sobre seu modo de vida atual e sua vida passada, e, tendo chegado a isso, 
pode-se ter certeza de que Sócrates não o largará até que tenha passado no crivo tudo o que 
lhe foi dito.”30 
 
 
26 Idem, p. 130. 
27 Marilena CHAUÍ, Opus Citatum, p. 182-183. 
28 Idem, p. 184. 
29 Ibidem. 
30 Idem, p. 189. 
16 
 
Sócrates foi um adepto da arte das palavras em duas arenas, ele era capaz de usar uma 
excelente técnica da retórica, como na Apologia; ele fez discursos em diversas ocasiões, de 
acordo com Platão, o discurso que fez em sua própria defesa é o único proferido por sua própria 
pessoa, e é o mais refinado.31 
É interessante o fato de Sócrates comparar a si mesmo com uma mosca, e que suas 
picadas “são necessárias para manter um cavalo sonolento acordado”32 e a imagem nos é tão 
familiar que podemos deixar de notar que é fundamentalmente uma justificativa própria, uma 
minúscula mosca ao picar o cavalo não machuca, apenas o provoca, tudo isto para dizer que, 
assim como a mosca que incomoda, Sócrates com suas argumentações e questionamentos 
incomodava muitas vezes, principalmente aqueles que se julgavam sábios. 
Platão torna a cicuta de suma importância para o caráter e filosofia de Sócrates. Ele o 
descreve como um homem que pode controlar até mesmo o fim da própria vida, a morte é o 
ápice de sua vida; no Fédon de Platão, Sócrates afirma que aqueles que se dedicam à atividade 
filosófica se limitam a estudar o morrer e o estar morto, mas se isto for verdade seria um absurdo 
ficar ansioso durante a vida ou se afligir, quando o que desejam e que constitui o objeto de 
estudo e prática se apresenta diante de si, ou seja, Sócrates nasceu para morrer desta forma.33 
Na Apologia de Sócrates, observou-se um apontamento de três acusações que resultou 
na condenação: “(...) a falta de respeito e reconhecimento dos deuses da cidade, a introdução 
de novas divindades e a corrupção dos jovens”.34 
Quanto às acusações, vejamos o que Sócrates diz em sua defesa: 
 
Assim resolvido, atesta Hermógenes, quando seus inimigos o acusaram de não reconhecer os 
deuses do Estado, introduzir extravagâncias demoníacas e corromper os jovens, Sócrates 
adiantou-se e disse: 
- O que mais me surpreende no acusatório de Meleto, cidadãos, é afirmar ele que eu não 
reconheça os deuses do Estado, quando todos vós, Meleto convosco, se o quis, tivestes ocasião 
de ver-me sacrificar nas festas solenes e altares públicos. E como pretender que eu introduza 
extravagâncias demoníacas, quando digo advertir-me a voz de um deus do que deva fazer? 
Não se guiam por vozes os que tiram presságios do canto das aves e das palavras do canto das 
aves e das palavras dos homens? Ninguém negará seja voz o trovão, e até o maior dos augúrios. 
Pela voz não manifesta a sacerdotisa Pito, na trípode, a vontade do deus? Que esse deus possui 
o conhecimento do futuro e o revela a quem lhe apraz, eis o que digo e comigo dizem e pensam 
todos. Somente que a isso chamam augúrios, vozes, símbolos, presságios, eu lhe chamo 
demônio. Com esta denominação creio usar de linguagem mais veraz e mais piedosa que os 
que atribuem às aves o poder dos deuses. A prova de que não minto contraa divindade, ei-la: 
jamais, ao anunciar a bom número de amigos os desígnios do deus, fui apanhando em delito 
de impostura.35 
 
31 Ibidem. 
32 Emily WILSON, Opus Citatum, p. 12. 
33 Cf. Idem, p. 17-18. 
34 Idem, p. 41 
35 PLATÃO, Apologia de Sócrates, 1999, p. 170. 
17 
 
 
Segundo os relatos da morte de Sócrates, esta havia sido protelada para semanas depois 
de sua sentença, pois, por conta do festival religiosos que aconteceu durante o julgamento de 
Sócrates e segundo os costumes, nenhuma execução poderia ser realizada. Acreditam que o 
atraso significativo daria tempo para Sócrates fugir, porém ele não aceitou e enfatiza que seu 
dever é obedecer às leis da cidade, sendo justa ou não, deveriam ser cumpridas.36 Na Apologia 
de Sócrates, Platão narra que após condenado, Sócrates deveria escolher a pena a ser-lhe 
aplicada, mas, no entanto, não conseguiu pensar em nenhuma. Vejamos o que diz Platão: 
 
Qual a pena que escolherei para mim, ó atenienses? A que mereço, é claro. E que pena devo 
sofrer ou pagar eu, que em toda a minha vida jamais deixei de procurar ensinar, visto que, 
negligenciando aquilo pelo que os outros se interessam, andei por onde pudesse fazer a cada 
um, privadamente, o maior bem; tentando persuadir cada um de vós a não cuidar de suas coisas 
antes que de si mesmo, que se tornasse bom, sábio o quanto lhe fosse possível; que não 
cuidasse das coisas da cidade antes que da própria alma, e assim por diante?37 
 
Dada a opção de propor qual sentença ele acreditava merecer, Wilson comenta que, 
“Platão relata que Sócrates fez uma concessão e estaria disposto a pagar uma multa, sendo os 
amigos a oferecer este dinheiro, no entanto, antes desta concessão, ele afirmou que, caso fosse 
recompensado pelo que realmente merecia, deveria receber refeições gratuitas pelo resto da 
vida, se Sócrates realmente disse isto, deve ter chocado o júri.”38 
Diferente dos sofistas, Sócrates não cobrava por seus ensinamentos, acredita-se que 
ele vivia de presentes e gorjetas de seus amigos ricos. O sofista é um professor de técnicas, de 
política, de virtude e de sabedoria, portanto, alguém que julga possuir conhecimentos e ser 
capaz de transmiti-los, as prelações eram solilóquios ou monólogos, onde apenas o sofista 
falava enquanto os outros o escutavam, além do mais, eram céticos e para eles tudo é por 
convenção e tudo é opinião. O sim e o não dependem apenas dos argumentos para persuadir 
alguém a manter ou mudar de opinião, tudo isto para dizer que, não há o por que se preocupar 
com a verdade, pois ela não existe.39 
Sócrates não julga ser um professor ou mestre, no entanto, faz os questionamentos 
cabíveis sem dar uma resposta, é um indagador, provocador, instrumentador de um diálogo cujo 
objetivo é a busca da verdade, diferente dos sofistas. 
Platão sem dúvidas, fornece os relatos mais vívidos e filosoficamente mais 
interessantes, apresenta Sócrates como um caráter extraordinário: alegre, divertido e 
 
36 Cf. Emily WILSON, Opus Citatum, p. 82. 
37 Battista MONDIN, Curso de Filosofia, 1926, p. 46-47. 
38 Emily WILSON, Opus Citatum, p. 87-88. 
39 Cf. Marilena CHAUÍ, Opus Citatum, p. 188. 
18 
 
profundamente sério, irritante e inteligente. “As palavras de Sócrates, assim como seu rosto 
vivo, estão perdidas para sempre, mesmo no período de sua existência e ainda mais depois da 
morte, se tornou uma figura mítica, e cada um que fez os relatos de Sócrates, criou a sua própria 
versão de seu caráter”.40 
A busca pelo Sócrates histórico na obra de Platão em geral, baseia-se em relatos 
especulativos do desenvolvimento literário. Quando Platão começou a escrever, ele estava sob 
influências de Sócrates, em seus primeiros Diálogos, o Sócrates de Platão expressa apenas a 
visão adotada pelo Sócrates histórico e não menciona a Teoria das Formas; anos depois, Platão 
desenvolve suas próprias ideias e as mistura com as de Sócrates, como na obra A República e 
assim, Sócrates está começando a se tornar um porta-voz para o próprio Platão e os últimos 
Diálogos, como as Leis, Platão quase tinha esquecido o Sócrates histórico.41 
De todas as obras de Platão, destacamos quatro que evocam os últimos dias de 
Sócrates: o Eutífron, a Apologia, o Críton e por fim, o Fédon, um relato das horas finais do 
mestre. Com relação as questões que cada uma das principais obras trata, narrando os últimos 
acontecimentos da vida de Sócrates, listamos os pontos essenciais apresentadas abaixo, 
conforme Wilson. 
 
O Eutífron: sugere que a condenação de Sócrates sob acusação de impiedade é causada por 
um mal-entendido fundamental sobre a real natureza da santidade. O caso de Sócrates é uma 
oportunidade de examinar e questionar as ideias tradicionais sobre religião e moralidade. O 
texto sugere que este processo de exame pode, em si, ser mais verdadeiramente “piedoso” do 
que a aceitação impensada de algum código de comportamento. 
A Apologia: está menos preocupada com a religião do que com a política e sociedade; ela nos 
mostra Sócrates, a mutuca, e argumenta a favor da divergência, como parte de uma 
comunidade política saudável, é também, uma celebração da indagação da verdade, mesmo à 
custa da morte e mesmo se a verdade não puder ser descoberta por qualquer ser humano vivo. 
O Críton: nos mostra Sócrates diferente, uma figura estática, inspirada e mais próximo da 
morte, que teve uma visão de seu próprio fim vindo até ele como uma mulher vestida de 
branco, e que é bombardeado pelas vozes invisíveis das Leis. A decisão de Sócrates morrer se 
torna neste diálogo, uma grande oportunidade para Platão reexaminar os limites da autonomia 
humana. 
No Fédon: o sentido da morte de Sócrates muda outra vez, agora é o exemplo supremo com 
o qual explicar e analisar a velha ideia, quase estereotipada, de que um homem bom não tem 
medo da morte. Platão nos mostra um Sócrates que parece calmo, até alegre, com a perspectiva 
de morrer; ele prova, tanto com argumentos quanto com exemplos, que a morte não pode 
aterrorizar um verdadeiro filósofo.42 
 
Das obras mencionadas, o Fédon oferece um retrato de uma morte ideal, pois Sócrates 
morre com coragem e completo controle, calmo e cercado por seus amigos, mostrando que a 
 
40 Emily WILSON, Opus Citatum, p. 112. 
41 Idem, p. 123. 
42 Idem, p. 125-126. 
19 
 
morte é amiga do homem sábio, é o portão para a vida imortal da alma, tornando-se cada vez 
mais ele mesmo, à medida que se aproxima da liberação de seu corpo.43 
A obra O Fédon sugere, então, que “quem vive não pode ter completo acesso ao mundo 
dos mortos, nem mesmo a narrativa de histórias são capazes de mostrar-nos como é morrer, 
Sócrates gesticula para o que pode estar além da morte e o texto termina quando Sócrates 
silencia”.44 Nas últimas páginas do Fédon, encontramos os momentos finais da vida de Sócrates, 
uma cena um tanto provocadora e trágica para muitos que ali estavam acompanhando o 
desfecho da vida de Sócrates, como descreve Platão, mas, o que para uns é um triste e duro 
fim, para Sócrates é triunfo. Ainda sobre os momentos finais de sua vida, ao receber o cálice 
que continha a cicuta: 
 
Ele o pegou, e muito gentilmente, sem tremer nem sequer mudar de cor ou de expressão, 
olhando para o homem com seus olhos grandes de sempre, disse: “O que você me diz de 
derramar um pouco deste cálice em libação aos deuses? Posso, ou não? O executor lhe disse: 
“Sócrates, preparamos quantidade suficiente para beber”. Sócrates então responde: “Suponho 
que pelo menos eu possa e deva pedir aos deuses que minha viagem de partida seja feliz, então 
eu o peço e espero que minha prece seja atendida”. Com estas palavras, ele ergueu o cálice, 
muito alegre e calmo, bebeu tudo.45 
 
Sócrates nadou no rio de um novo aprendizado, mas mergulhoufundo direcionando-
se aos fins puramente morais e nesse processo transformou-se na semente da tradição platônica 
da filosofia e por meio de Sócrates, Platão não se tornou apenas um crítico, mas também, um 
herdeiro do novo aprendizado.46 
 
 
1.3 Xenofonte: Ditos Memoráveis de Sócrates 
 
 
A obra mais longa de Xenofonte é conhecida como Memoráveis – Memórias de 
Sócrates – e relata uma ampla variedade de conversas e ações de Sócrates, sobre tudo, com 
ênfase das influências que Sócrates gerava em seus amigos. Sócrates não é o centro dos escritos 
de Xenofonte como Platão o faz, pois ele via Sócrates dentro de um horizonte, filosoficamente 
 
43 Cf. Idem, p. 127. 
44 Idem, p. 131. 
45 Fédon 117b-c 
46 Paul WOODRUFF, Sócrates e o novo aprendizado, 2016, p. 154. 
20 
 
muito mais estreito do que o de Platão. Xenofonte é mais aberto aos modos como homens 
ambiciosos veem suas próprias aspirações.47 
O interesse de Xenofonte era por aquilo que faz a política e os líderes políticos 
funcionarem, entendendo a vida de Sócrates como exemplar mas não como única, pois, em 
particular, Xenofonte sempre considerou vidas de liderança política como alternativas à vida 
socrática e sugere que tais vidas políticas não são obviamente inferiores a vida socrática e 
compara esses modos de vida concentrando-se na tensão entre alcançar a autossuficiência e 
evitar a inveja.48 
Xenofonte defende que Sócrates foi um cidadão altamente patriota, piedoso, justo, que 
fazia sacrifícios aos deuses e era leal aos amigos. A honradez de Sócrates é o que mais interessa 
a Xenofonte e para combater aqueles que condenaram injustamente o filósofo, o autor conta 
episódios da vida de Sócrates que confirmam tal imagem e, ao mesmo tempo afirma que a 
preocupação central do filósofo era com a ética, ou seja, com a virtude identificada ao saber, 
com a utilidade do bem e com o domínio de si.49 
É de Xenofonte a imagem de Sócrates discutindo na Ágora e nas ruas, perguntando 
aos passantes o que é a virtude, o que é justiça, o que é o bem, deixando-os enfurecidos e 
desesperados à medida que refuta cada uma das respostas que lhe oferecem, provando que são 
ignorantes e, pior, nem sabem que o são.50 
O Sócrates que Xenofonte descreve é “um homem sábio e inofensivo, com uma 
estrutura mental asceta e levemente convencional, ensina os seus seguidores que não se deve 
comer muito, que as crianças devem honrar seus pais”.51 O meio social evocado por Xenofonte 
é diferente daqueles descritos nos diálogos platônicos: o Sócrates de Platão trata dos assuntos 
políticos, guerra e o mundo da conversa filosófica; por outro lado, Xenofonte nos mostra um 
Sócrates que está interessado em dar conselhos políticos, domésticos e estratégicos para uma 
ampla gama de pessoas.52 
Como um homem tão inofensivo poderia ter sido condenado à morte pelos atenienses? 
Veremos através de Xenofonte e seu ponto de vista político para entendermos um pouco melhor 
o ocorrido. Eis o que Xenofonte enfatiza a respeito de Sócrates: 
 
Sócrates era admirável porque parecia viver uma vida espartana, mesmo em Atenas, comenta 
que a fome é o melhor tempero, seu prazer em comprar é o oposto ao da maioria das pessoas, 
 
47 Cf. David K. O´CONNOR, Xenofonte e a invejável vida de Sócrates, 2016, p. 80. 
48 Cf. Idem, p. 81. 
49 Marilena CHAUÍ, Opus Citatum, p. 183. 
50 Ibidem. 
51 Emily WILSON, Opus Citatum, p. 116-117 
52 Ibidem. 
21 
 
é uma terapia antivarejo; quando ele via ouro e prata no mercado, exclamava com prazer 
“quantas coisas eu não preciso” e a morte de Sócrates mostra a loucura e a decadência moral 
dos atenienses.53 
 
Xenofonte sugere que, do ponto de vista ateniense, matar Sócrates foi um erro absurdo. 
Mas da perspectiva do próprio Sócrates, porém, a morte naquele momento preciso e daquela 
forma foi a melhor coisa que poderia ter acontecido a ele, basta lembrar quando seu amigo mais 
emotivo Apolodoro lamenta pela situação em que Sócrates seria morto injustamente, o mestre 
retruca o amigo se ele preferia vê-lo morrer justamente.54 Sócrates explicita o prazer em morrer 
naquele instante, recheado de um misto de previsões realistas e de autossatisfação: 
 
Estou imensamente satisfeito comigo mesmo e sei que meus amigos sentem o mesmo, porque 
sei que passei a vida inteira me comportando piedosa e justamente. Mas agora, se minha vida 
se prolongasse, sei que experimentaria as fragilidades da idade: minha visão iria se deteriorar, 
meus ouvidos ficariam mais fracos, eu me tornaria mais lento para aprender e mais esquecido 
daquilo que aprendi. Se visse que pioro e que me sinto mal comigo mesmo, como poderia a 
vida ser agradável para mim?55 
 
Os escritos de Xenofonte foram negligenciados e tratados como sombras pálidas do 
ideal platônico e alegou-se sempre que Xenofonte era uma fonte inferior para o Sócrates 
histórico, porque a pessoa enfadonha, velha e banal que ele descreve não poderia atrair a atenção 
de tantos jovens brilhantes. O Sócrates de Xenofonte era um tipo de herói alternativo, 
colocando-se contra os paradoxos da versão de Platão filosófico, aponta Wilson.56 
 
 
1.4 Aristóteles 
 
 
Por fim, destacamos Aristóteles. De acordo com Chauí, de Aristóteles, fica a imagem 
de um Sócrates criador da ciência, um capítulo decisivo da história da verdade, Sócrates é o 
criador do método de investigação científica, ou seja, dos procedimentos teóricos para chegar 
à definição universal e necessária de uma coisa.57 
Segundo Aristóteles, a preocupação socrática volta-se para a ética e deste modo, o 
Sócrates lógico subordina a lógica à moral, colocando a ciência a serviço desta última; Sócrates 
 
53 Idem, p. 118-119. 
54 Ibidem. 
55 Xenofonte, Apologia, s.d. p. 5-6. 
56 Emily WILSON, Opus Citatum, p. 121. 
57 Marilena CHAUÍ, Opus Citatum, p. 184. 
22 
 
surge como o primeiro filósofo racionalista e como criador de uma dialética diferente da que 
Aristóteles atribui a Zenão de Eléia.58 
De fato, Zenão usa a dialética negativamente, isto é, para provar o absurdo da tese 
contrária à tese eleata, Sócrates desenvolve uma dialética positiva, isto é, para provar a verdade 
de uma definição que oferece a essência verdadeira da coisa definida. Não podemos dizer em 
qual obra de Aristóteles a presença de Sócrates é mais forte, pois ela está espalhada em toda a 
produção aristotélica escrita, Aristóteles polemiza Sócrates e lhe faz críticas, mas 
diferentemente de Aristófanes, não o ridiculariza nunca.59 
A ciência, epistéme socrática é o resultado do método e segundo Aristóteles, essa 
ciência visa encontrar as definições universais e necessárias das coisas, ou a essência universal 
delas, fazendo desta uma ideia alcançada apenas pela razão. A ideia socrática manifesta 
racionalmente o que a coisa é em sua essência universal e necessária porque apresenta a causa 
pela qual ela é o que é, por que e como ela é o que é; operar com o exame de opiniões para 
chegar à definição universal e necessária, a mesma para todos. Sócrates dá início ao que 
Aristóteles chama de indução: chegar ao universal por meio do exame dos casos particulares, 
que era o procedimento empregado pela medicina.60 O método socrático ergue-se sobre dois 
pilares importantes, como aponta Aristóteles: 
 
1) O raciocínio indutivo: processo pelo qual o pensamento vai dos casos particulares ao geral 
que os engloba; 
2) A ideia: reunião dos traços comuns presentes em todos os casos particulares e que são os 
traços essenciais de todos eles; a ideia é uma síntese do diverso, a unidade racional de uma 
multiplicidade.61 
 
Os pilares apontados por Aristóteles acerca do pensamento socrático introduzem uma 
outra novidade: como os sofistas, Sócrates se interessa pela virtude. Todavia, os sofistas, 
mantendo-se no planodos costumes estabelecidos, falavam da virtude no plural, isto é, falavam 
em virtudes (coragem, temperança, amizade, justiça, piedade, prudência etc.), mas Sócrates fala 
no singular a virtude. 
Reale destaca a importância do método socrático – ironia e maiêutica – para destacar 
as relações de Platão e Aristóteles. O método de Sócrates fundindo-se com uma força poética 
excepcional, deram origem em Platão a um discurso sempre aberto e um filosofar que era como 
que uma busca sem descanso, já o oposto empírico científico de Aristóteles iria necessariamente 
 
58 Ibidem. 
59 Ibidem. 
60 Idem, p. 190-191. 
61 Ibidem. 
23 
 
levar a uma sistematização orgânica das várias aquisições, a uma distinção dos temas e 
problemas segundo sua natureza a uma diferenciação nos métodos com que se pode enfrentar 
e resolver os diversos tipos de questões.62 
De acordo com Aristóteles, Sócrates trata das coisas morais, nelas procurando o 
universo e, pela primeira vez, aplicando o pensamento às definições. As preocupações de 
Sócrates se voltam para as coisas morais e jamais para a Natureza em seu conjunto, tinha, no 
entanto, nesse domínio, procurado o universal, e foi o primeiro a fixar seu pensamento nas 
definições.63 No que se refere a teoria das ideias apontada pelo próprio Aristóteles, é a Sócrates 
que se deve atribuir a invenção das ideias, tidas, ante a mudança, como realidades verdadeiras. 
Vejamos: 
 
E quando Sócrates, deixando de lado a natureza e confinando seu estudo às questões éticas, 
buscou nessa esfera o universal e foi o primeiro a concentrar-se nas definições, Platão a ele 
aderiu e concebeu que o problema da definição não diz respeito a qualquer coisa sensível, mas 
a entidades de outro tipo, isto porque é impossível haver definição geral de coisas sensíveis, 
que estão em contínua mutação.64 
 
Em Aristóteles encontramos diálogos que a doutrina socrática se encontra exposta em 
toda a sua intensidade: a lógica e a ética são exemplos disto. A respeito da dialética, o projeto 
aristotélico torna-se, então o de forjar um instrumento mais seguro para a constituição da 
ciência: o Organon. Nele a dialética é reduzida à condição de exercício mental, não lida com 
as próprias coisas, mas com as opiniões dos homens sobre as coisas.65 Segundo Aristóteles, 
“(...) para se atingir a certeza científica e construir um conjunto de conhecimentos seguros, 
torna-se necessário possuir normas de pensamento que permitam demonstrações corretas, 
criando assim, a lógica formal”.66 
A dialética socrática difere da dialética que vamos encontrar no pensamento de Hegel, 
no sentido de que esta se constrói dentro de uma lógica sistematizada e de conceitos bem 
definidos; o método socrático, por sua vez, embora contenha em si a coerência e a formula 
dialógica (tese, antítese e síntese) ainda não constitui uma lógica sistematizada, que só será 
desenvolvida posteriormente por Aristóteles e explorada na construção do sistema dialético 
hegeliano.67 
 
62 Giovani REALE e ANTISERI, História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média, 1990, p. 178. 
63 Jean-Paul DUMONT, Elementos de história da filosofia antiga, 2004, p. 233. 
64 ARISTÓTELES, Metafísica, 2006, p.60. 
65 ARISTÓTELES, Organon, 1999, p. 100-103. 
66 Jaime Pereira LEMES, Opus Citatum, p. 13. 
67 Idem, p. 14. 
24 
 
Do ponto de vista crítico a respeito da obra aristotélica, poderia ser definida como uma 
justificação do conceito enquanto instrumento de conhecimento do real e sobre este ponto, 
Aristóteles procede da tradição socrática: “o mérito particular de Sócrates contra os céticos 
havia sido o de mostrar que toda verdadeira ciência era feita de definições e, consequentemente, 
de conceitos e de ideias gerais”.68 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68 Régis JOLIVET, Tratado de filosofia, 1972, p. 41. 
25 
 
CAPÍTULO II 
A MAIÊUTICA SOCRÁTICA 
 
 
Neste capítulo, trataremos da Maiêutica Socrática e a Missão recebida pelo Oráculo 
de Delfos. Sócrates surge como aquele que provoca e incomoda, que não se contenta com um 
discurso alienante, recebe dos deuses uma missão um tanto incomum: curar a alma dos homens, 
e isto só lhe é possível pelo diálogo vivo, onde não existe aquele que ensina e aquele que 
aprende, mas mestres e discípulos que se colocam no mesmo patamar, e juntos estabelecem 
uma experiência espiritual de pesquisa.69 
 
 
2.1 O Oráculo de Delfos e a missão de Sócrates 
 
 
Como vimos anteriormente, a filosofia se manifesta na tentativa de suceder o saber 
mítico pelo da razão, sendo fundamental para dar lugar à racionalidade humana e às reflexões 
filosóficas; o homem, a ética e o conhecimento surgem como as questões centrais da filosofia. 
A escrita no pórtico do Oráculo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo” é um convite para uma 
profunda reflexão acerca da temática. 
Indo consultar o oráculo de Delfos, Sócrates ouve a voz interior do daímon, que lhe 
transmite a mensagem de Apolo: “Sócrates é o homem mais sábio entre os homens”.70 
Espantado, Sócrates procura os homens que julgava sábios (políticos e poetas, cuja função é 
ensinar e guiar os outros) e consulta-os para que lhe digam o que é a sabedoria. Ao descobrir 
que a sabedoria deles era nula, compreende, então, o que o daímon lhe diz, que nenhum homem 
sabe verdadeiramente nada, mas o sábio é aquele que reconhece isso.71 
Sendo assim, a inscrição no pórtico do templo de Apolo “Conhece-te a ti mesmo”72 
significa que o conhecimento não é um estado de sabedoria, mas, um processo que procura pela 
verdade, eis a razão que levou Sócrates a praticar tal filosofia como missão: a busca incessante 
 
69 Jaime Pereira LEMES, Opus Citatum, p. 5. 
70 Marilena CHAUÍ, Opus Citatum, p. 187. 
71 Ibidem. 
72 Ibidem. 
 
26 
 
da sabedoria e da verdade e o reconhecimento incessante de que, a cada conhecimento obtido, 
uma nova ignorância se abre diante de nós. Isso não significa que a verdade não exista, e sim, 
que deve ser sempre procurada e que sempre será maior do que nós.73 
O fato mais marcante e decisivo na vida de Sócrates como descrito na Apologia é a 
declaração pelo Oráculo de Delfos. Sócrates conclui que sua sabedoria só poderia ser aquela de 
saber que nada sabia, essa consciência da ignorância sobre coisas que era sinal e começo da 
autoconsciência e viu nas palavras oraculares a indicação de uma missão a cumprir:74 “com a 
vontade dos deuses, não deixei de examinar os meus concidadãos e os estrangeiros que 
considero sábios e, se me parecem que não o são, vou em auxílio do deus revelando-lhes sua 
ignorância”.75 
Uma das mais conhecidas passagens na literatura filosófica relativas ao pensamento 
de Sócrates é a da descrição do serviço que ele presta ao deus – a sua conhecida missão divina 
– a exposição e justificativa desta missão. A atividade que Sócrates presta ao deus é a de 
examinar a todo cidadão e a si mesmo, começa a explicar de onde vem a sua decisão de 
investigar todo aquele que profere ter conhecimento dos assuntos que ele mesmo declara serem 
os mais importantes assuntos que estão para além do que ele reconhece como a sabedoria 
humana: 
Adquiri esta reputação, Atenienses, única e exclusivamente graças a uma certa sabedoria. Que 
gênero de sabedoria? Aquela que é talvez a sabedoria própria do homem. Na realidade, é esta 
a sabedoria que muito provavelmente possuo, ao passo que aqueles, de quem há pouco eu 
falava, possuem uma sabedoria que excede a humana, ou então é outra coisa que eu não sei 
explicar. Esta última sabedoria não a tenho de certeza e, se alguém disser o contrário, mente, 
com o único fito de me caluniar.76 
 
A Apologia nos leva a crer que a atividade filosófica de Sócrates tinha sua origem 
numa dimensãoreligiosa, pois, se em nome da indicação contida na afirmativa do Oráculo, 
Sócrates desenvolveu uma profunda investigação sobre o significado das palavras, certamente 
não visava, como interpretará Aristóteles, à definição de conceitos, tanto que os Diálogos de 
Platão, considerados transcrições aproximadas de conversações efetivamente entabuladas por 
Sócrates, terminam sempre sem que se chegue a uma conclusão a respeito da temática discutida. 
No entanto, para Sócrates, a meta seria não o assunto em discussão, mas a própria alma do 
 
73 Idem, p. 188. 
74 Cf. SÓCRATES, Defesa de Sócrates, 1999, p. 23. 
75 Cf. Ibidem. 
76 José Wilson da SILVA, Vida, Morte e totalidade do tempo na Apologia de Sócrates de Platão (on line), 2016. 
Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/cpa/article/view/2680/2098. Acesso em: 04/05/2020. 
p. 80. 
 
https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/cpa/article/view/2680/2098
27 
 
interlocutor que, por meio do debate, seria levado a tomar consciência de sua real situação, 
depois que se reconhecesse povoada de conceitos mal formulados e um tanto obscuro.77 
No cumprimento da missão e que se sente encarregado, Sócrates dialoga. Geralmente 
o interlocutor, tido como autoridade em alguns ramos de conhecimento ou de atividade, 
decepciona-o; apenas nos artífices encontra alguma consciência daquilo que fazem. Mas esses 
revelam um conhecimento restrito a suas especializações e embaraçam-se quando levados a 
opinar sobre outros assuntos, embora de geral interesse para os homens. Isso parece confirmar 
a Sócrates o sentido da superioridade que lhe fora atribuída pelo Oráculo: o reencontro consigo 
mesmo só pode partir da consciência da própria ignorância.78 Sócrates em sua defesa, diante 
das acusações apresentadas contra ele, busca esclarecer as causas das calúnias e a missão que 
recebeu do Oráculo de Delfos: 
 
Um de vós poderia intervir: "Afinal, Sócrates, qual é a tua ocupação? Donde procedem as 
calúnias a teu respeito? Naturalmente, se não tivesses uma ocupação muito fora do comum, 
não haveria esse falatório, a menos que praticasses alguma extravagância. Dize-nos, pois, qual 
é ela, para que não façamos nós um juízo precipitado." Teria razão quem assim falasse; tentarei 
explicar-vos a procedência dessa reputação caluniosa. Ouvi, pois. Alguns de vós achareis, 
talvez, que estou gracejando, mas não tenhais dúvida: eu vos contarei toda a verdade. Pois eu, 
atenienses, devo essa reputação exclusivamente a uma ciência. Qual vem a ser a ciência? A 
que é, talvez, a ciência humana. É provável que eu a possua realmente, os mestres 
mencionados, há pouco possuem, quiçá, uma sobre-humana, ou não sei que diga, porque essa 
eu não aprendi, e quem disser o contrário me estará caluniando. Por favor, atenienses, não vos 
amotineis, mesmo que eu vos pareça dizer uma enormidade; a alegação que vou apresentar 
nem é minha; citarei o autor, que considerais idôneo. Para testemunhar a minha ciência, se é 
uma ciência, e qual é ela, vos trarei o deus de Delfos. Conhecestes Querefonte, decerto. Era 
meu amigo de infância e também amigo do partido do povo e seu companheiro naquele exílio 
de que voltou conosco. Sabeis o temperamento de Querefonte, quão tenaz nos seus 
empreendimentos. Ora, certa vez, indo a Delfos, arriscou esta consulta ao oráculo — repito, 
senhores; não vos amotineis — ele perguntou se havia alguém mais sábio que eu; respondeu 
a Pítia que não havia ninguém mais sábio. Para testemunhar isso, tendes aí o irmão dele, porque 
ele já morreu.79 
 
Mais adiante, encontramos as investigações que Sócrates realizou após ter ouvido o 
que o Oráculo havia lhe dito, pondo-se a perguntar o que seria este enigma e porque o deus 
afirma que ele era o mais sábio entre os homens. Deste modo, Sócrates foi ao encontro daqueles 
que ele considerava ser mais sábio em busca de respostas. 
 
Examinai por que vos conto eu esse fato; é para explicar a procedência da calúnia. Quando soube 
daquele oráculo, pus-me a refletir assim: "Que quererá dizer o deus? Que sentido oculto pôs 
na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele, 
então, significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente, não está mentindo, porque isso 
lhe é impossível." Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito 
contra meu gosto, decidi-me por uma investigação, que passo a expor. Fui ter com um dos que 
 
77 Cf. SÓCRATES, Defesa de Sócrates, Opus Citatum, p. 24. 
78 Ibidem. 
79 PLATÃO, A defesa de Sócrates, 1999, p. 70. 
28 
 
passam por sábios, porquanto, se havia lugar, era ali que, para rebater o oráculo, mostraria ao 
deus: "Eis aqui um mais sábio que eu, quando tu disseste que eu o era!" Submeti a exame essa 
pessoa — é escusado dizer o seu nome; era um dos políticos. Eis, Atenienses, a impressão que 
me ficou do exame e da conversa que tive com ele; achei que ele passava por sábio aos olhos 
de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era. Meti-me, então, a explicar-
lhe que supunha ser sábio, mas não o era. A consequência foi tornar-me odiado dele e de 
muitos dos circunstantes. Ao retirar-me, ia concluindo de mim para comigo: "Mais sábio do 
que esse homem eu sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe 
saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que 
sou um nadinha mais sábio que ele exatamente em não supor que saiba o que não sei." Daí fui 
ter com outro, um dos que passam por ainda mais sábios e tive a mesmíssima impressão; 
também ali me tornei odiado dele e de muitos outros. Depois disso, não parei, embora sentisse, 
com mágoa e apreensões, que me ia tornando odiado; não obstante, parecia-me imperioso dar 
a máxima importância ao serviço do deus. Cumpria-me, portanto, para averiguar o sentido do 
oráculo, ir ter com todos os que passavam por senhores de algum saber. Pelo Cão, Atenienses! 
Já que vos devo a verdade, juro que se deu comigo mais ou menos isto: investigando de acordo 
com o deus, achei que aos mais reputados pouco faltava para serem os mais desprovidos, 
enquanto outros, tidos como inferiores, eram os que mais visos tinham de ser homens de senso. 
Devo narrar-vos os meus vaivéns nessa faina de averiguar o oráculo.80 
 
A ignorância que é um atributo de Sócrates, não é geralmente assumida pelas outras 
pessoas, que se julgam na posse de verdades, torna-se necessário, levá-los, de saída, a despojar-
se dessas pseudoverdades.81 
 
 
2.2 O Método Dialético Socrático 
 
 
Partindo da ideia de que método é o caminho a ser percorrido para se atingir um 
determinado fim, pressupõe-se que a construção filosófica está pautada na experiência de vida 
de cada pensador.82 A construção do método dialético socrático parte do pressuposto do “não-
saber”. Sócrates se apresenta como instrumento da sabedoria divina, mas que ele mesmo é 
estéril em matéria de conhecimento e sua sabedoria está na arte que lhe foi confiada: cuidar das 
almas dos homens e ajudar a dar à luz a verdade. 
A palavra “dialética” vem do grego. O prefixo “dia” dá ideia de reciprocidade ou de 
troca: dialegein é trocar palavras ou razões, conversar ou discutir; daí o substantivo dialectike, 
a arte da discussão.83 O método socrático, uma técnica de ensino e investigação, que utiliza uma 
forma de inquisição dialética, diferente de debates direcionados a persuadir o opositor, 
 
80 Idem, p. 71. 
81 SÓCRATES, Defesa de Sócrates, Opus Citatum, p. 25. 
82 Jaime Pereira LEMES, Opus Citatum, p. 10. 
83 Paul FOULQUIÉ, Dialética, 1979, p. 9. 
29 
 
manifesta a oposição de Sócrates à retórica como uma forma de arte que visa agradar os 
ouvintes e também à oratória, que convence por vias emocionais, não requerendo lógicaou 
prova. Seu método era o de dividir o problema em questão, a matéria do debate, em questões 
menores, que em tese poderiam ser respondidas com maior facilidade ou ao menos levariam o 
interlocutor a olhar o problema por todos os ângulos, entendendo as possibilidades lógicas da 
questão, eliminando as contradições e, em última análise, gradualmente levando ambos à 
solução do problema em questão.84 
No entanto, é evidente que esse método provoca discussões e irritações indesejadas 
nas pessoas as quais dizem saber tudo, com isso, provoca o verdadeiro efeito de purificação das 
falsas certezas, assim, compreende-se que, todos os métodos usados por Sócrates (ironia e 
maiêutica) tem uma determinada finalidade em estar sempre colocando o homem diante de 
vários questionamentos, no qual leva a um processo de purificação da alma pelo conhecimento 
já adquirido, “de algum modo, ela recupera a consciência da necessidade do diálogo, que estava 
presente no seu nascimento, na Grécia Antiga, a dialética nasceu incorporando, através do 
diálogo, as razões do outro”. Neste capítulo falaremos apenas da Ironia; quanto a Maiêutica, 
discutiremos no terceiro capítulo. 
O que distinguia, na verdade a atividade de Sócrates era o seu desejo de não ensinar 
os homens; em vez disso, parecia querer ele mesmo aprender com o seu interlocutor. No 
discurso, levava frequentemente os outros a reconhecerem os pontos fracos das suas reflexões, 
podia suceder então que o interlocutor fosse encostado na parede e tivesse de reconhecer, por 
fim, o que era o justo e o injusto.85 
Podemos observar nos diálogos platônicos que Sócrates examina a suposta sabedoria 
de seu interlocutor, Sócrates interroga fazendo uma pergunta, cuja resposta é uma indicação da 
suposta sabedoria do interlocutor e frequentemente, sempre a mesma indagação, ou melhor 
dizendo, a pergunta socrática o que é tal coisa?86 Observemos o diálogo entre Sócrates e o 
Teeteto acerca do aprender e a sabedoria: 
 
Sócrates: Dize-me o seguinte, aprender não significa tornar-se sábio a respeito do que se 
aprende? 
Teeteto: Como não? 
Sócrates: Logo, é pela sabedoria, segundo penso, que os sábios ficam sábios. 
Teeteto: Sem dúvida. 
Sócrates: E isso difere em alguma coisa do conhecimento? 
Teeteto: Isso, quê? 
Sócrates: Sabedoria. Não se é sábio naquilo que se conhece? 
 
84 Giovani REALE e ANTISERI, Opus Citatum, p. 96. 
85 Jostein GAARDER, O Mundo de Sofia, 1997. p. 80. 
86 Cf. Hugh H. BENSON, Método Socrático, 2016, p. 242. 
30 
 
Teeteto: Como não? 
Sócrates: Então, é a mesma coisa conhecimento e sabedoria? 
Teeteto: Sim. 
Sócrates: Eis o que me suscita dúvidas, sem nunca eu chegar a uma conclusão satisfatória: o 
que seja, propriamente, conhecimento. Será que poderíamos defini-lo? Como vos parece? Qual 
de nós falará primeiro?87 
 
Após a resposta do interlocutor a essa pergunta inicial, uma série de outras perguntas 
eliciam respostas do interlocutor, que são usadas por Sócrates para derivar a negação da 
resposta original. Neste ponto, o interlocutor reformula sua resposta original ou oferece uma 
resposta inteiramente nova ou admite ser incapaz de dizer o que sabe, ou professa sua ignorância 
e até substituído por outro interlocutor cuja sabedoria é examinada; os exemplos típicos da 
prática distintiva de Sócrates têm mais ou menos a seguinte estrutura formal:88 
 
1) Primeiro: Sócrates faz ao interlocutor uma pergunta cuja resposta visa exibir a sabedoria 
do interlocutor, usualmente, mas nem sempre, a respeito da definição de algum conceito 
moral; 
2) Em seguida: O interlocutor fornece uma série de respostas a uma série de outras perguntas 
socráticas; 
3) Terceiro: Sócrates passa a mostrar que essas respostas acarretam a negação da resposta 
original; 
4) Portanto: Determinada conjunção é falsa.89 
 
Sócrates pretendia primeiramente com tudo isto, encorajar esses indivíduos a 
buscarem o conhecimento robusto que eles não possuem, se de fato for revelado que eles não o 
possuem. Em segundo lugar, ele visa adquirir deles o conhecimento que ele não possui, se for 
revelado que eles o possuem. Finalmente, ele examina o conhecimento robusto desses 
indivíduos testando sua coerência doxástica mediante uma série de perguntas, frequentemente 
começando com sua famosa pergunta o que é tal coisa? 
Com suas perguntas, Sócrates deixa embaraçado e perplexo aquele que está seguro de 
si mesmo, fá-lo ver novos problemas, desperta a sua curiosidade e estimula-o a refletir. A sua 
arte educativa pode ser comparada com a de sua mãe, que era parteira, porque ele é como o 
médico que ajuda nos partos do espírito e por causa deste aspecto o método de Sócrates é 
chamado de maiêutica.90 
 
 
 
 
87 Platão, Teeteto Crátilo, 2001, p. 23-24. 
88 Cf. Ibidem. 
89 Cf. Ibidem. 
90 Battista MONDIN, Curso de Filosofia, 1926, p. 48. 
31 
 
2.3 A Maiêutica Socrática 
 
 
Sócrates realmente foi um grande mestre, pelas atividades que exercia mesmo que ele 
não se deixa considerar, mas sim, pelo método que usou para ensinar de forma diferente e tendo 
como finalidade fazer que o homem faça suas interrogações e descubra a purificação do seu 
conhecimento. Para Sócrates, a vida não examinada não vale a pena ser vivida por um ser 
humano” e os estudantes que fazem o exame final podem às vezes acreditar no oposto, de que 
a vida examinada não vale a pena ser vivida.91 
Deixemos claro que, para Sócrates, examinar a vida de alguém não tinha nada a ver 
com a realização de metas colocadas pela sociedade, mas, significa questionar e testar as 
crenças mais fundamentais de uma pessoa, ele argumentava que deixar de olhar honestamente 
para a própria vida era uma traição à verdadeira condição humana.92 
A maiêutica93 é uma arte que Sócrates praticava com os homens, visando a provocar 
o parto da alma, para saber se o que ela gera é uma imagem falsa ou fecunda e verdadeira. 
Sócrates não se dá por função gerar a sabedoria: como educador, ele extrai das almas 
os pensamentos belos e numerosos que ali estão. O homem que está imbuído do espírito de 
pesquisa retorna constantemente à sua fonte interior, de onde brota todo o saber, para se 
fortalecer na busca de tornar-se cada vez mais humano. Condição para se chegar efetivamente 
a esse saber é estar com o espirito livre, o que significa não conhecer opiniões dotadas de um 
caráter ingênuo, que nada podem gerar além de quimeras. 
 
Tenho, por outro lado, um ponto comum com as parteiras: sou estéril em matéria de sabedoria 
e a censura que frequentemente me fazem interrogar os outros sem nunca me pronunciar seja 
sobre o que for, porque não falta verdade. A razão está no seguinte; o deus obriga-me a fazer 
parir os outros, mas impediu-me de gerar. Assim de modo nenhum eu próprio sou sábio e não 
posso apresentar qualquer descoberta de sabedoria que a minha alma tenha dado à luz.94 
 
 
A partir da ironia, o interlocutor é levado ao questionamento, são feitas diversas 
perguntas a ele, questionando-o acerca de determinado assunto incansavelmente, até que este 
interlocutor por si próprio perceba que as respostas são insatisfatórias, pois surgem diversas 
 
91 Cf. Emily WILSON, Opus Citatum, p. 49. 
92 Cf. Ibidem. 
93 Maiêutica: Arte da parteira; em Teeteto de Platão, Sócrates compara seus ensinamentos a essa arte, porquanto 
consistem em dar à luz conhecimentos que se formam na mente de seu discípulo: “Tenho isso em comum com as 
parteiras: sou estéril de sabedoria; e aquilo que há anos muitos censuram em mim, que interrogo aos outros, mas 
nunca repondo por mim porque não tenho pensamentos a expor, é censura justa”. (ABBAGNANO, 1983, p.85) 
94 Platão, Opus Citatum, p. 30. 
32 
 
respostas/opiniões subjetivas. O interrogatório se torna hábil em buscada verdade e ao final 
disto, o propósito é fazer com que o interlocutor reconheça a sua própria ignorância, ou seja, 
que nada ele sabe, só assim ele purificará sua alma e estará livre das ilusões. 
Uma vez purificado e desfeito das ilusões e de todos os pré-conceitos, a Maiêutica é 
aplicada, ela é a arte geradora do auto-conhecimento. O interlocutor vai buscar respostas em si 
mesmo, ocorrendo a transformação interior, pois é preciso mergulhar no seu próprio ser tomado 
de admiração e contemplar a beleza da alma, “pois só se pode alcançar a verdade se dela a alma 
estiver grávida”, precisa ocorrer uma gestação espiritual, ir ao encontro do desconhecido que 
habita dentro de si provocado pelas inquietudes da alma; contemplar a alma como fonte de 
sabedoria para se chegar ao auto-conhecimento que resulta numa vida nova. 
Com o método, Sócrates pretende mostrar que o reconhecimento de nossa própria 
ignorância é o caminho da sabedoria. A filosofia socrática não pretende mostrar a verdade 
acerca dos conceitos utilizados como tema do diálogo, mas procura indicar um norteador para 
que o interlocutor possa ter um caminho a ser percorrido para obtenção da verdade.95 
A maneira como Sócrates interage com o seu interlocutor na aplicação do método, 
apresenta quatro características: 
 
 É dual, na medida em que se dirige sempre a um interlocutor determinado. Sócrates nunca 
se dirige a um grupo de homens, nem aos homens em geral. Há sempre uma personagem 
concreta a quem faz perguntas e põe questões, com quem dialoga segundo as 
particularidades desse indivíduo. 
 É dialético. Sócrates jamais admite como verdadeiro o que seu interlocutor não se considera 
de igual modo, o diálogo só se desenrola e toma caminho mediante aquilo a que o 
interlocutor dá de acordo. Sócrates nunca impõe as suas ideias a ninguém. 
 É elêntico, ou seja, refutatório. Nos seus diálogos, Sócrates ocupa o lugar de interrogador, 
ele parte sempre para a discussão com uma atitude de dúvida constante, afirmando nada 
saber, cabe ao interlocutor responder. Esta característica do modo como Sócrates se dirige 
ao seu interlocutor está ligada ao primeiro momento em que há a destruição das ideias 
feitas, da tese que o interlocutor sustentava inicialmente como verdadeiro. É através desta 
característica que Sócrates faz com quem o seu interlocutor entre em contradição 
 A última característica é a parhesia. Consiste em o interlocutor dizer o que pensa sem se 
preocupar com a opinião de outros ou com a coerência da sua posição inicial, aderindo 
totalmente e apenas ao que é verdadeiro.96 
 
Portanto, o método socrático compreende os seguintes momentos: a ironia, que 
denuncia as verdades feitas e o falso saber dos que pretendiam reduzir o verdadeiro ao 
verosímil, e a maiêutica, técnica através da qual se consegue observar como é que uma ciência 
desconhecida se transforma, progressivamente, numa ciência conhecida.97 
 
95 François CHÂTELET, A filosofia pagã do século VI a.C. ao século III d.C., 1973, p. 30. 
96 O MÉTODO SOCRÁTICO, Opus Citatum, s.p. 
97 Ibidem. 
33 
 
CAPÍTULO III 
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ATRAVÉS 
DO MÉTODO SOCRÁTICO 
 
 
Neste capítulo, trataremos do que é o conhecimento e os pré-conceitos iniciais 
definidos pelo próprio Teeteto daquilo que ele acredita ser. 
A identidade entre conhecimento e sensação, ressaltou Sócrates, era o que Protágoras 
alegava em outros termos, ou seja, quando dizia que o homem é a medida de todas as coisas, 
Sócrates, então, assimila a definição de Teeteto à doutrina do homem-medida de Protágoras, 
como vimos na passagem do Teeteto, “talvez tua definição de conhecimento tenha algum valor; 
é a definição de Protágoras; por outras palavras ele dizia a mesma coisa. Afirmava que o homem 
é a medida de todas as coisas; das que são, que elas são, e das que não são, que elas não são. 
Decerto já leste isso?”98 
A identificação de Sócrates e Teeteto atende a uma dinâmica do diálogo. A cena que 
põe início ao exame revela um jogo que se estenderá, e que diz respeito à relação entre mestre 
e aluno, ou entre quem sabe e quem não sabe. Não por acaso, a pequena dificuldade que 
Sócrates pretende avaliar junto a Teeteto, o que de fato pode ser o conhecimento. Teeteto é de 
algum modo um sabedor: como aluno, ele sabe, melhor mesmo que o professor, como se dá o 
processo de aprender. É sobre a maneira pela qual se dá o ato de aprendizado que um aluno, 
como Teeteto, tem autoridade para falar sobre.99 
Quanto à discussão sobre o conhecimento, Teeteto apresenta sua primeira resposta, 
oferecendo uma lista de áreas de conhecimento tanto prático quanto teórico. Sócrates, porém, 
insiste na diferenciação entre uma pluralidade de conhecimento e a definição do que é o 
conhecimento em si mesmo, como podemos observar: 
 
Sócrates: Ouvistes, Teeteto, o que disse Teodoro? Creio que não pensas em desobedecer-lhe, 
além de não ficar bem a um jovem, em assuntos dessa natureza, não acatar as prescrições de 
um sábio. Cria coragem, pois, responda à minha pergunta: No teu modo de pensar, que é 
conhecimento? 
Teeteto: Terei de obedecer, Sócrates, uma vez que o ordenais. De qualquer forma, se eu 
cometer algum erro, vós ambos me corrigireis. 
Sócrates: Perfeitamente; no que for possível. 
 
98 Ana FLAKSMAN, Aspectos da recepção de Heráclito por Platão, 2009, p. 87. 
99 Cesar de ALENCAR, A imagem do filósofo: o Teeteto de Platão e o método de Sócrates, 2018, p. 133. 
 
34 
 
Teeteto: Então, a meu parecer, tudo o que se prende com Teodoro é conhecimento, geometria 
e as disciplinas que enumerastes há pouco, como também a arte dos sapateiros e a dos demais 
artesãos: todas elas e cada uma em particular nada mais são do que conhecimento. 
Sócrates: És muito generoso, amigo, e extremamente liberal; pedem-te um, e dás um bando; 
em vez de algo simples, tamanha variedade. 
Teeteto: Que queres dizer com isso? 
Sócrates: Talvez nada; porém vou explicar-te o que penso. Quando te referes à arte do 
sapateiro, tens em mira apenas o conhecimento de confeccionar sapatos, não é verdade? 
Teeteto: Exato. 
Sócrates: E a marcenaria, será outra coisa além do conhecimento da fabricação de móveis de 
madeira? 
Teeteto: Não. 
Sócrates: E em ambos os casos, o que defines não é o objeto do conhecimento de cada um? 
Teeteto: Perfeitamente 
Sócrates: Mas o que te perguntei, Teeteto, não foi isso: do que é que há conhecimento, nem 
quantos conhecimentos particulares pode haver; minha pergunta não visava a enumerá-los um 
por um; o que desejo saber é o que seja o conhecimento em si mesmo. Será que não me exprimo 
bem? 
Teeteto: Ao contrário; exprimes-te com muita precisão.100 
 
Após Teeteto definir o conhecimento como sensação, Sócrates diz ao jovem que sua 
resposta foi bela e corajosa, mas propõe que examinem juntos se ela consiste ou não em um 
“feto viável”.101 Sócrates compara a definição de conhecimento dado pelo Teeteto com à 
doutrina do homem-medida de Protágoras: “Talvez tua definição de conhecimento tenha algum 
valor; é a definição de Protágoras; por outras palavras ele dizia a mesma coisa. Afirmava que o 
homem é a medida de todas as coisas; das que são, que elas são, e das que não são, que elas não 
são. Decerto já leste isso?”102 
Observamos que neste fragmento Sócrates não interpreta ou reelabora com suas 
palavras a “doutrina do homem-medida” de Protágoras, mas profere a sentença conhecida por 
Teeteto. É preciso observar adiante outras indicações que esclareça o que Sócrates está 
buscando estabelecer entre as teses de Teeteto e Protágoras. 
De todo modo, Sócrates nos oferece uma interpretação de Protágoras, na qual 
primeiramente ele declara a coincidência entre ser (eînai) e aparecer (phainetai); em seguida, 
será feita a identificação entre aparecer

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