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1 EAD - NÚCLEO COMUM POLÍTICAS EDUCACIONAIS, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO Maria Helena Quaite Rodrigues Natália Keneeip Gonçalves Atualização: Gabriela F. Dias Vicente 2 APRESENTAÇÃO O caráter universalizante dos direitos do homem (...) não é da ordem do saber teórico, mas do operatório ou prático: eles são invocados para agir, desde o princípio, em qualquer situação dada François Julien, filósofo e sociólogo Caros (as) alunos (as) A presente disciplina vai delinear os caminhos e os rumos percorridos pelas diversas reformas no campo educacional que o Brasil vem enfrentando desde o início da História da Educação brasileira, bem como planos de financiamento, formação de docentes e avaliação do sistema. Nossa proposta é enfocar a educação como um direito social, assentado no âmbito da Constituição Federal. Para tanto, faremos uma breve abordagem sobre as grandes transformações ocorridas na sociedade contemporânea, que reconfiguraram as relações de produção e impuseram novas demandas para os sistemas educacionais. Em seguida, analisaremos a retomada das constituições brasileiras até chegarmos a nossa atual Constituição Federal de 1988, destacando os artigos referentes à educação, a fim de compreendermos as determinações gerais que regem o conceito de educação nacional, bem como seus objetivos e finalidades mais amplas. Enfocaremos, de forma mais detalhada, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96, seus significados, determinações e trajetórias, buscando compreender e analisar a organização e a estruturação do sistema educacional brasileiro. Para compreender a ação do Estado como regulador da educação, identificaremos aspectos definidos na elaboração do Plano Nacional de 3 Educação bem como das ações previstas para os rumos da educação no país na próxima década. A formação docente e os sistemas de avaliação para a compreensão do funcionamento do ensino brasileiro serão apresentados nas unidades finais dessa disciplina. 4 PROGRAMA DA DISCIPLINA Ementa: Os direitos sociais e educativos, as responsabilidades das esferas educacionais. O financiamento da educação pública. O plano nacional de educação e suas metas. A formação do professor. Acesso, qualidade, e equidade na educação. A avaliação no sistema educacional. O contexto escolar na estrutura do sistema educacional brasileiro com base na Constituição Federal de 1988 e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9.394/96 e leis complementares. Objetivos • Adquirir conhecimentos sobre as políticas educacionais da Educação Básica, bem como suas reformas; • Reconhecer as transformações da sociedade contemporânea como determinantes da reconfiguração dos sistemas educacionais; • Refletir sobre a educação enquanto um direito social e os fundamentos da legislação educacional; • Estudar os aspectos relativos à educação na atual Constituição Federal (1988); • Conhecer a trajetória da LDB nº. 9394/96, realizando uma análise crítica sobre a mesma; • Analisar a estrutura e a organização do sistema educacional brasileiro, discutindo aspectos da gestão; • Refletir sobre a formação docente, bem como as incumbências do educador, no atual cenário educacional. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO A Educação antes da instituição escola. A Evolução da escola. Políticas Educacionais na Educação Básica no Brasil após 1.930. 5 Reformas do Ensino: Gustavo Capanema. Reformas do Ensino (1.960-1.970). A Reforma do Ensino de 1º e 2º graus. Políticas Educacionais na Nova República. Políticas Educacionais e o Governo FHC (Fernando Henrique Cardoso). Fundo de Manutenção e Desenvolvimento de Educação Básica (FUNDEB) A educação escolar no contexto das transformações da sociedade contemporânea: transformações técnico-científicas, econômicas e políticas. A educação como um direito social A formação docente e suas incumbências legais A legislação educacional brasileira A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96: O Plano Nacional de Educação Avaliação do Sistema Educacional brasileiro. METODOLOGIA Será adotada uma metodologia que alia a teoria à prática reflexiva, proporcionada por meio de atividades e questionamentos que permitam ao aluno enriquecer os seus conhecimentos necessários à sua formação de profissional da educação. AVALIAÇÃO No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados. De forma diversa, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. Assim, a avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: ➢ Trabalhos individuais ou a partir da interatividade com seus pares; ➢ Provas bimestrais realizadas presencialmente; ➢ Trabalhos de pesquisa bibliográfica e de aprofundamento. 6 As estratégias de recuperação incluirão: ➢ Retomada eventual dos conteúdos abordados nos módulos, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno; ➢ Elaboração de trabalhos com o objetivo de auxiliar a vivência dos conteúdos. Bibliografia Básica: DEMO, P. A Nova LDB: Ranços e Avanços. Campinas-SP: Papirus, 1997. LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. O.; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. MENESES, J. G. de C. et al. Estrutura e Funcionamento da Educação Básica. São Paulo-SP: Pioneira Thompson Learning, 2002. Bibliografia Complementar: BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Conselho Nacional de Educação/CEB. Resolução CEB nº 2. Institui as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Fundamental. BRASIL. Conselho Nacional de Educação/CEB. Resolução CEB nº 3. Institui as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Médio. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº 9.394/96. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: 1996. 7 BRASIL. Lei nº 13.005/2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília: 2014. FAVERO, Osmar (org.). Educação nas Constituintes Brasileiras 1823 – 1988. Campinas: Autores Associados, 2001. GARCIA, Walter. Administração Educacional em Crise. 2ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2001. NOVOA, Antônio. Relação Escola – Sociedade: Novas Respostas para um Velho Problema. IN. SERBINO, Raquel et al (org). Formação de Professores. São Paulo /SP: UNESP, 1.994. 8 Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................... 2 Objetivos ...................................................................................................................................................... 4 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ................................................................................................................. 4 METODOLOGIA .......................................................................................................................................... 5 AVALIAÇÃO ................................................................................................................................................5 Bibliografia Básica: ...................................................................................................................................... 6 Bibliografia Complementar: ......................................................................................................................... 6 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. ........................................................... 6 Unidade 01- A Educação antes da Instituição Escola ................................................................................ 11 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 11 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 11 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 13 Unidade 02 – A Evolução a escola. .............................................................................................................. 15 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ............................................................................................ 15 ESTUDANDO E REFLETINDO .................................................................................................................... 15 Educação antes da República: Educação Colonial .................................................................................. 15 BUSCANDO CONHECIMENTO ................................................................................................................... 16 Educação Pombalina ................................................................................................................................ 16 Educação Joanina ..................................................................................................................................... 17 Educação no Período do Império ............................................................................................................. 17 Unidade 03 - Políticas Educacionais da Educação Básica no Brasil ....................................................... 19 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 19 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 19 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 22 Unidade 04 - Reformas do Ensino: Gustavo Capanema............................................................................ 24 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 24 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 24 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 26 Unidade 05 - Reformas do Ensino (1960 – 1970) ........................................................................................ 28 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 28 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 28 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 31 Unidade 06 – A Reforma do Ensino do 1º e 2º Graus ................................................................................. 32 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 32 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 32 BUSCANDO O CONHECIMENTO ........................................................................................................... 34 Unidade 07 - Políticas Educacionais na Nova República .......................................................................... 36 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE. ........................................................................................... 36 ESTUDANDO E REFLETINDO .................................................................................................................... 36 9 BUSCANDO CONHECIMENTO ................................................................................................................... 38 a-) Melhoria da qualidade da Educação ................................................................................................... 38 b-) Plano de carreira nacional aos profissionais da educação que compreendia: valorização e qualificação. .............................................................................................................................................. 38 c-) Democratização da gestão. ................................................................................................................. 38 d-) Financiamento da Educação. .............................................................................................................. 39 e-) Ampliação da escolaridade obrigatória, abrangendo creche, pré escola 1 e 2 graus. ....................... 39 Unidade 08 - Políticas educacionais e o governo FHC .............................................................................. 40 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ............................................................................................ 40 ESTUDANDO E REFLETINDO .................................................................................................................... 40 A primeira Lei de Diretrizes e Bases foi a (4.024/61). .............................................................................. 40 A Lei n.9.394/96 delimita dois níveis de ensino: ...................................................................................... 41 BUSCANDO CONHECIMENTO ................................................................................................................... 42 Formação Profissional .............................................................................................................................. 42 Unidade 09 – O Financiamento da Educação – o FUNDEF ....................................................................... 44 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ............................................................................................ 44 BUSCANDO CONHECIMENTO ................................................................................................................... 44 BUSCANDO CONHECIMENTO .................................................................................................................. 47 Unidade 10 – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). ................ 48 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 48 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 48 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 50 Financiamento da Educação Superior: .................................................................................................... 52 Unidade 11 – Mudanças e permanência nas Leis do Ensino .................................................................... 54 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................54 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 54 O que muda em relação à legislação anterior em relação Seção I das Disposições Gerais do Capítulo II, sobre Educação Básica. ....................................................................................................................... 55 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 56 Unidade 12 – A formação docente e suas incumbências legais .............................................................. 59 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 59 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 59 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 61 Unidade 13 – As transformações científico culturais e o sistema educacional brasileiro .................... 63 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 63 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 63 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 65 Unidade 14 - Os direitos sociais e educativos de acordo com a Constituição Federal .............. 68 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 68 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 68 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 70 10 Unidade 15 – Constituição e Lei de Diretrizes e Bases ............................................................................. 72 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 72 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 72 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 74 Unidade 16 - A trajetória da LDB nº. 9394/96: significados e organização ........................................... 76 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 76 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 76 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 78 Unidade 17- As determinações da LDB nº. 9394/96 para o ensino brasileiro .......................................... 80 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 80 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 80 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 82 Unidade 18- O Plano Nacional de Educação ............................................................................................... 84 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 84 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 84 BUSCANDO O CONHECIMENTO ........................................................................................................... 87 Unidade 19 – Avaliação do sistema educacional ....................................................................................... 90 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ............................................................................................ 90 ESTUDANDO E REFLETINDO .................................................................................................................... 90 BUSCANDO CONHECIMENTO ................................................................................................................... 92 Funcionamento do Sistema Escolar Brasileiro ......................................................................................... 92 a) Do ponto de vista das entradas para o sistema (inputs): .................................................................. 92 b) Do ponto de vista do processo: ......................................................................................................... 92 c) Do ponto de vista das saídas do sistema (outputs): ......................................................................... 93 Unidade 20 – Avaliação de resultados na Educação Básica .................................................................... 95 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE ........................................................................................ 95 ESTUDANDO E REFLETINDO ................................................................................................................ 95 BUSCANDO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 97 Provinha Brasil .......................................................................................................................................... 97 ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio .............................................................................................. 98 IDEB - Índice de desenvolvimento da Educação Básica ......................................................................... 98 POLOS EAD .................................................................................................................................................... 99 0800-772-8030 ................................................................................................................................................. 99 11 Unidade 01- A Educação antes da Instituição Escola CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Relatar como se dava a instrução antes da Instituição Escola. ESTUDANDO E REFLETINDO Nessa Unidade, o enfoque à Instituição Escola vem apresentar como a arquitetura e o espaço da instituição contribuiu para o aprimoramento da Educação Básica, bem como, compreender o rompimento da atividade educativa familiar. A função da escola, enquanto arquitetura institucional deve ser a de proporcionar ao aluno uma proximidade do conhecimento, e que este não seja diferente da vida escolar. Desse ponto de vista, a escola não é o único espaço onde ocorre o ensino/aprendizagem. A escola pode ser um espaço sociocultural que implica o resgate dos sujeitos na trama social que a constitui enquanto instituição. A palavra escola, em grego, significa o lugar do ócio e surge, na Idade Média, para atender à demanda de uma nova classe social que não precisava trabalhar para garantir a sua sobrevivência, mas que precisava ocupar o seu tempo ocioso de forma nobre e digna. Logo, este espaço chamado “escola” era para o lazer e o prazer. Por isso, concordamos com Brandão (1988), quando defende a ideia de que a escola não é o único lugar em que se aprende. Nesse sentido, pode-se dizer que tudo aquilo que é aprendido fora da escola é visto com reserva,com desconfiança, marcando a diferença entre a Educação Formal e a Educação Informal, que se constrói no cotidiano dos atores sociais, a partir da interação entre os sujeitos. A escola consegue mudar a sociedade, porque pode partilhar de projetos com segmentos sociais que assumem os princípios democráticos, articulando-se com eles, e constituindo-se como um espaço de transformação. A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada pela Educação Básica Brasileira, englobando o Ensino Infantil, o Fundamental, o Médio e o Superior. Ela depende de uma diretriz educacional centralizada no 12 currículo, com estruturas hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos fiscalizadores do Ministério da Educação e Desportos (MEC). Segundo Teixeira (1968), a Educação tradicional apresentava-se centrada no professor e com métodos organizados com currículos fechados, além de uma organização baseada num ensino dualista e num sistema excludente, com metodologia que privilegiava a exposição oral e a reprodução, com atividades concentradas em aulas seletivas e classificatórias. A nossa sociedade tradicional via a criança como um “adulto em miniatura” (Philippe Ariès), isto é, não passava pelas etapas da infância e da juventude aprendendo os aspectos essenciais das sociedades evoluídas de hoje. A transmissão dos valores e dos conhecimentos e, de modo geral, a socialização da criança, não eram asseguradas pela família, pois a criança bem cedo, se afastava de seus pais, indo morar com outra família que não fosse a sua. Essa família antiga tinha como prática a conservação dos bens, ensinar ofício, proteção da honra e a convivência necessária à sobrevivência. Logo, a educação era garantida pela aprendizagem com a convivência com os adultos, ajudando-os a fazer seus deveres. Portanto, entendemos que a educação se dava através da ação genérica de um grupo de adultos sobre as gerações jovens, com o fim de conservar e transmitir a existência coletiva. Assim, esse modelo de educação era por imitação, era essencialmente uma educação natural, espontânea, inconsciente, adquirida na convivência de pais e filhos, adultos e menores. Não havia ainda uma educação sistemática, intencional com pessoal preparado para a função da ação educadora. Mais tarde, com o advento da escola, a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente, através do contato com eles. Passaram, em geral, a ter contato com a escrita, que fixa o saber. Para prosseguir no estudo da história da educação brasileira, convém assinalar a diferença entre a educação para os nobres e para os menos favorecidos. Assim, apresentaremos a antiga situação educacional brasileira e algumas características da educação moderna. Segundo TEIXEIRA, Não se cogitava de dar ao pobre a Educação conveniente ao rico, mas, antes, se dar ao rico a Educação conveniente ao pobre, pois a nova sociedade democrática não deveria distinguir a educação 13 de trabalhar, mas a todos queria educar para o trabalho, distribuindo-os pelas ocupações, conforme o mérito de cada um e não segundo a sua oposição social ou riqueza. (TEIXEIRA, 1.968, p. 29) ESCOLA ANTIGA ESCOLA MODERNA • Método expositivo e memorizado • Método pela ação • Conhecimento repetitivo e compartamentalizado • Conhecimento diversificado • Currículo enciclopédico • Currículo transversal • Classificatória e excludente • Organização centrada no professor • Transmitir conhecimento • Organização em forma de turmas • Quantidade • Inclusiva e aprendente • Organização centrada no aluno • Professor estimulador da aprendizagem • Organização em série e classe • qualidade Dentre as características apontadas por Teixeira (1968), na Educação Brasileira mais antiga, algumas se conservam até hoje; outras foram substituídas para atender melhor à nova demanda. Segundo o estudo acima as características que se conservaram foram aquelas que não influenciaram na perpetuação da sociedade, tais como: estrutura arquitetônica da escola, localização, transporte e infraestrutura. Assim, a escola moderna tanto quanto a escola antiga procura cumprir seu papel de equalizadora social. Portanto, com o advento da globalização, a Educação é tida como o maior recurso de que se dispõe para enfrentar a nova estruturação do mundo escolar e atender às necessidades da demanda técnica. Da globalização depende a continuidade do atual processo de desenvolvimento econômico e social, também conhecido como período pós-industrial. Vale ressaltar que hoje a Educação está centrada no aluno, valorizando o currículo baseado no seu cotidiano. O modelo da proposta pedagógica segue a orientação dos PCN, segundo a qual o importante é ensinar as questões ambientais, geográficas, políticas e econômicas, tanto no nível local, quanto no regional e no global. BUSCANDO CONHECIMENTO 14 O homem é um ser que se transforma, o que faz dele um ser histórico, logo, a educação é possível e necessária ser apresentada a ele. Contudo, essa evolução só se revela, quando os fins e os meios da educação como etapas a serem vencidas e propagadas acompanham a marcha da humanidade. Verificada a historicidade dos fins da educação, observa-se que há uma diversidade histórica dos fins. Sobre esse aspecto Spencer (apud in Meneses, 2001) coloca que tal diversidade é uma proposta a respeito dos conteúdos dos meios (processo educacional). Assim, os conteúdos propostos querem sempre moldar o homem para que ele seja eficiente, para a realização dos fins: colocar o homem em condições para desfrutar do seu próprio ser para si mesmo. No entanto, há que se ressaltar que, do ponto de vista pedagógico e moderno, os fins da educação estão voltados para a realização dos fins sociais. A partir dessas verificações, a educação deve proporcionar ao educando os meios necessários para entender o mundo em que vive e o momento histórico que está sendo apresentado a ele, podendo criar as possibilidades de sobrevivência e de defender-se de influências nocivas para a sua existência e para a comunidade a qual pertence. A escola como instituição arquitetônica surge para dar continuidade da atividade educativa familiar, isto é, os pais foram os primeiros educadores com o fim de assegurar a vida e o desenvolvimento da geração mais nova. 15 Unidade 02 – A Evolução a escola. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Mencionar as semelhanças e as diferenças entre as escolas jesuíticas e as demais. ESTUDANDO E REFLETINDO Educação antes da República: Educação Colonial A história do Brasil colônia não pode ser desvinculada da história europeia, já que a colonização deve ser compreendida como a necessidade de expansão comercial da burguesia enriquecida com a Revolução Comercial. Nesse contexto, percebe-se que a economia era o modelo agrário, baseado na monocultura da cana de açúcar e o grande proprietário de terras era o patriarcal da sociedade, centrada no poder do senhor do engenho. A mão de obra foi inicialmente dos índios e, depois, dos negros africanos. Por isso, a educação não era meta prioritária para o colonizador, uma vez que para a agricultura não precisa de trabalho especializado. O escravo era a força do trabalho. São os religiosos que iniciam o trabalho pedagógico, no Brasil, e os jesuítas desenvolveram a melhor atividade pedagógica. A vinda dos jesuítas para o Brasil se deu em 1549, acompanhados pelo Padre Manoel da Nóbrega, juntamente com a chegada do primeiro Governador Geral, Tomé de Souza. A primeira escola elementar fundada no Brasil foi em Salvador/Bahia. José de Anchieta foi mestre-escola. Ressalte-se que os Padres não ficaram só na fundação de escolas elementar, pois, após alguns anos, começaram a criar colégios no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. A regulamentação dos documentos dasescolas jesuíticas era através da Ratio Studiorum. Uma característica marcante do método jesuítico são os exercícios fixados na repetição a fim de serem memorizados. O método estimulava a competição. O conteúdo era baseado na leitura dos clássicos gregos e latinos. Por mais de duzentos anos, o ensino público ficou entregue aos padres da Companhia de Jesus, sendo mais tarde acusada a ação pedagógica 16 jesuítica de ultrapassada, pois sua maior preocupação era com a formação de novos jesuítas e não com a educação dos jovens: pregavam a fé católica ao trabalho educativo, a catequização dos índios e a obediência. Desse modo, percebe-se que a elite na época colonial era formada pelos jesuítas e os índios apenas catequizados. A principal marca da influência jesuítica na formação da cultura brasileira está na tradição religiosa do ensino, que perdura sempre. Com o intuito em proteger os índios dos colonos, os jesuítas ensinavam- lhes também a mão de obra na lavoura e, com isso, garantiam uma fonte de renda. Nesse sentido, a educação profissional era aprendida no convívio entre os índios, os negros e os mestiços. A mulher aprendia as prendas domésticas. BUSCANDO CONHECIMENTO Educação Pombalina Com a ruína do ensino jesuítico, o Marquês de Pombal assume a responsabilidade pela instrução pública e pretende renovar o ensino e seus métodos e recriar um sistema educacional. Tal programa não foi possível, somente criaram-se as aulas régias de humanidade, ciências e primeiras letras. A reforma proposta por Pombal apresentou problemas de ordem financeira e carência de professores. Vale dizer que a escola que pretendia organizar era para servir aos interesses da Coroa Portuguesa. D. João VI, em sua administração, sediada no Brasil, tinha o objetivo de formar pessoal especializado, logo, o ensino técnico destacava-se para atender às necessidades do momento histórico. Não era só o ensino técnico especializado que desabrochava, o ensino superior nas Academias da Marinha e Militar também começam ganhar força. Entretanto, a educação do povo continuava ao interesse pessoal e social da coroa no exercício do poder. Mediante o cenário criado pela Reforma de Pombal, há necessidade de recuperar a economia atual, momento oportuno para o Governo Central instituir os tributos. Nesse período da Educação Pombalina, muda-se a organização do ensino secundário que antes era oferecido em forma de curso-humanidades, passa-se para aulas avulsas (aulas régias). Porém, inúmeras dificuldades 17 foram enfrentadas, principalmente, por não existir mais a formação de mestres, não havendo, portanto, uniformidade no ensino. Educação Joanina A chegada de Dom João VI no Brasil, acompanhado da corte, trouxe medidas e consequências de ordem econômica muito importantes para o país. Instituiu-se, na Carta Régia de 1808, a abertura dos portos a todas as nações amigas, além de liberar o comércio. O contrabando diminuiu, mas o lucro da coroa portuguesa aumentou, formando uma grande fortuna que pode elevar o Brasil a Reino Unido. Cresceu o desenvolvimento das cidades portuárias. A cidade do Rio de Janeiro tornou-se a capital do império e sofreu diversas modificações. Missões estrangeiras vieram estabelecidas ao país, para avaliar as riquezas da região. Houve a criação do primeiro jornal do país. Alguns prédios públicos foram estabelecidos: A casa da Moeda, Banco do Brasil, a Academia Real Militar e o Jardim Botânico. Nesse período a educação ganhou força graças a chegada da imprensa, biblioteca pública, revista e o museu. Porém, o curso superior era voltado para a formação militar; os engenheiros, médicos e cirurgiões para o exército; técnicos em economia, agricultura e indústria para a marinha. Mesmo assim, não eram considerados como cursos em nível superior, porque organizavam-se com a preocupação básica do ensino profissionalizante. Quanto ao ensino primário continuava voltado para o aprendizado da leitura e escrita. Educação no Período do Império Em 1822, o Brasil ficou independente e isso se deu com muita luta. Com a independência, D. Pedro I convocou a “Constituição da Mandioca”, assim, chamada porque só poderiam votar, para eleger representantes aqueles que possuíssem uma renda equivalente a cento e cinquenta alqueires de mandioca, de forma que o número de eleitores foi restrito, pois poucos tinham essas posses. Essa medida peculiar em colocar o voto exposto ao poder tinha uma razão: excluir as camadas populares e os comerciantes portugueses. Os primeiros, porque não tinham renda suficiente; os segundos, por serem comerciantes, tinham a renda expressa em dinheiro e não em alqueires de 18 mandioca. Assim, num só golpe o “partido português” estava afastado da vida pública. Essa Assembléia Constituinte deveria elaborar as leis que passariam a organizar o sistema educacional brasileiro. Tudo não passou de um anteprojeto, pois, logo, D. Pedro I engavetou a Constituição que estava sendo elaborada e fez ele mesmo uma nova Constituição, promulgada em 1824. As leis que serviram de base para a organização do ensino no Brasil foram tributárias desta. Esta Constituição ficou em vigor e com poucas alterações, até a proclamação da República em 1889. A educação tornou-se elitista, seguindo a iniciada por D. João VI, reforçada durante o reinado de D. Pedro II. As leis promulgadas por D. Pedro I tiveram como objetivo formar um sistema educacional popular e gratuito. Os últimos anos do Império foram marcados por fatores de ordem econômica, social e política, que configuraram a crise da Monarquia e prepararam o advento da República. A Constituição de 1824, outorgada em 25 de março de 1824 por D. Pedro I, divide o governo em três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. 19 Unidade 03 - Políticas Educacionais da Educação Básica no Brasil CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Apresentar de que forma os rumos da educação no Brasil foram articulados e desenhados em acordos com os governos em vigor. ESTUDANDO E REFLETINDO O percurso da História da Educação no Brasil é permeado de leis e reformas que estabeleciam a organização do ensino brasileiro. Embora, muitos fracassados, mesmo antes de serem colocados em vigor. Essa unidade trará o esboço das transformações políticas, econômicas e educacionais ocorridas no Brasil na década de 30. Num ideário reformista, intelectuais e políticos do período de 1910 a 1920, acreditavam ser indispensável a modernização do Brasil com a montagem de um Estado Nacional, centralizador. Esse movimento deu origem à Revolução de 1930, pois valorizavam o papel da educação como imprescindível, porque nele pareciam estar contidas as soluções para os problemas do país: sociais, econômicos ou políticos. Essa concepção salvacionista considerava que a reforma da sociedade estava atrelada a reforma da educação e do ensino. No governo de Getúlio Vargas, cada vez mais tinha-se consciência de que a função da escola era uma questão de reprodução social. A primeira medida do Governo Provisório, instalado com a Revolução de 1930, foi criar o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. O objetivo era criar um ensino mais adequado à modernização. Essa revolução dá início a um período em que todos os setores são atingidos, caracterizando a passagem de uma sociedade pré-capitalista, agrário comercial e artesanal para uma sociedade urbano-industrial. Esse novo modelo político-econômico deu origem ao crescimento da população urbana devido às novas ocupações ligadas à vida urbano-industrial. Assim, cresce a demanda por educação, mas o Governo Provisório não tinha até o momento implementado toda a organização e um sistema nacional 20 integrado, ou seja, não havia uma política nacional de educação que estabelecesse diretrizes gerais e a elas subordinasse os sistemas estaduais.Uma característica dessa Reforma é a modificação do status social da mulher, ela passa a ter direito à educação, isto é, direito à matrícula no ensino secundário. A reforma de 1930 não atingiu todos os níveis de ensino, apenas o ensino secundário, ensino comercial e ensino superior puderam contar com o privilégio das mudanças em todo o território nacional. Houve uma ampliação da demanda e, como o baixo rendimento do ensino foi expressivo por causa da evasão, reprovação e o alto índice do crescimento populacional, a Reforma fracassou. Com a criação do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, o Ministro Francisco Campos é o primeiro titular da pasta, promovendo a realização de reformas que evidenciariam ampliação das funções federais relativas a as modalidades de ensino por ela abrangidas. O Decreto 19.852 foi o que ganhou maior expressividade, pois ele dispunha sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro. Os Decretos propostos por Francisco Campos que mudaram o desenho da educação foram: • Decreto 19.850, de 11 de abril de 1931, que criou o Conselho Nacional de Educação; • Decreto 19.851, de 11 de abril de 1931, que dispôs sobre a organização do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitário; • Decreto 19.852, de 11 de abril de 1931, que dispôs sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro; • Decreto 19.890, de 18 de abril de 1931, que dispôs sobre a organização do ensino secundário; • Decreto 19.941, de 30 de abril de 1931, que instituiu o ensino religioso como matéria facultativa nas escolas publicas do país; • Decreto 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissão de contados; • Decreto 21-241, de 14 de abril de 1932, que consolidou as disposições sobre a organização do ensino secundário. A Reforma de Francisco Campos significou a definitiva superação os exames parcelados e estabeleceu o currículo seriado, a frequência obrigatória, 21 a divisão do ensino secundário em dois ciclos e a sua ampliação para sete anos. O primeiro ciclo, ou fundamental, com a duração de cinco anos, destinava-se a proporcionar a formação geral básica. O segundo ciclo, ou complementar, com a duração de dois anos, diversificava a função dos cursos superiores para os quais constituíam pré-requisitos: Direito, Engenharia, Arquitetura, Medicina, Farmácia e Odontologia. Esse desenho educacional teve o caráter seletivo, elitista e preparatório para o curso superior. Desde 1.920, havia um grupo de educadores que vinha estruturando a nacionalidade do ensino brasileiro, entre eles, “Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova”, publicado em 1932, e endereçado ao povo e ao governo. Nele estavam as ideias dos educadores da Assembleia de Educação (ABE) que pleiteavam a atribuição de amplos poderes à União, defendiam a autonomia dos estados na organização e administração do ensino. Atribuía à União o papel de coordenar e estimular as atividades educativas em âmbito nacional. Esse Manifesto reconhecia a educação como direito de todos e dever do estado, reivindicava uma escola pública, assentada nos princípios de laicidade, obrigatoriedade, gratuidade e coeducação (ensino para os dois sexos). Para os intelectuais do Manifesto, o emergente processo de industrialização demandava políticas educacionais que asseguravam uma educação capaz de incorporar novos métodos e técnicas que fossem eficazes na formação do perfil da sociedade adequada ao processo de industrialização. Assim, essa organização racional do trabalho demandava uma pedagogia específica no campo da distribuição “racional” da população pelas atividades rurais e urbanas. Tanto os defensores da educação nova quanto os ideais da Igreja Católica, lutavam pela hegemonia de suas propostas junto ao governo Francisco Campos e Getúlio Vargas, procuravam conciliar reivindicações divergentes, sempre que possível em seu proveito. A divulgação do documento elaborado pelos educadores e intelectuais do Manifesto provocou violentos contra-ataques da direita católica e da hierarquia da igreja. Contra os ideais do grupo dos intelectuais o grupo dos católicos venceu, conseguindo com que o ensino religioso de freqüência facultativa e, ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno, fosse introduzido 22 como matéria nos horários das escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais (Art. 153). BUSCANDO CONHECIMENTO A expansão do ensino A partir da década de 30, a educação alcança níveis de atenção nunca antes atingidos, quer pelos movimentos dos educadores, quer pelas iniciativas governamentais, ou pelos resultados concretos. Segundo Fernando de Azevedo, de 1930 a 1940, dá-se um desenvolvimento do ensino primário e secundário que jamais se registrará até então no país. De 1936 a 1951 as escolas primárias dobraram e as secundarias quase quadruplicam, em número ainda que tal desenvolvimento não seja homogêneo, tendo se concentrado nas regiões urbanas dos estados mais desenvolvidos. Também as escolas técnicas se multiplicam, segundo Lourenço Filho, se em 1933 havia 133 escolas de ensino técnico industrial, em 1945, este número sobe para 1.368 e o número de alunos que era de quase 15.000, em 1933, ultrapassa, então 65.000. Em 1930, é criado o Ministério de Educação e Saúde, órgão importantíssimo para a organização do planejamento das reformas em âmbito nacional, e para a estruturação da universidade. Em 1934, é fundada a Universidade de São Paulo, pela aglutinação de diversas faculdades. O mesmo ocorre no ano seguinte, no Rio de Janeiro, com a criação da Universidade do Distrito Federal. Em 1936, é reconhecida pelo governo federal Faculdade de Filosofia São Bento, fundada em 1908 e que, desde 1911, se agregará à Universidade Católica de Louvain (Bélgica). Merece ser registrado o impulso no campo de formação do magistério, com a reorganização de algumas escolas de nível secundário, já existentes. Também, na recém fundada Faculdade de Filosofia de São Paulo, os alunos que se formam passam a obter complementação pedagógica no Instituto de Educação. Assim, em 1937, são diplomados no Brasil os primeiros professores licenciados, para o ensino secundário: Com esse acontecimento inaugurou-se, de fato, uma nova era do ensino secundário, cujos quadros docentes, constituídos até então de egressos de outras profissões, autodidatas ou 23 práticos experimentados no magistério, começaram a renovar e a enriquecer-se, ainda que lentamente, com especialistas formados nas faculdades de filosofia que além do encargo da preparação cultural e cientifica receberam por acréscimo o da formação pedagógica dos candidatos professorado do ensino secundário. É possível compreender tais mudanças a partir da análise do contexto social e econômico a que nos referimos no início. Com a crise do modelo agrário exportador e o delineamento do novo modelo nacional desenvolvimentista com base na industrialização, passa a ser exigida melhor escolarização. ARANHA, 1989, p 58 24 Unidade 04 - Reformas do Ensino: Gustavo Capanema CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Evidenciar que Gustavo Capanema implementou uma série de reformas no ensino brasileiro, que flexibilizaram e ampliaram as Reformas de Francisco Campos, ex-Ministro da Educação. ESTUDANDO E REFLETINDO Houve uma série de reformas propostas por Capanema, no período de 1942 – 1946, sendo chamadas de Leis Orgânicas do Ensino. Essas leis regulamentavam os diversos ramos e modalidades de ensino: secundário, industrial, comercial, agrícola, normal e primário. O Ministro Gustavo Capanema fez os seguintes decretos-leis: • Decreto Lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, Lei Orgânica do Ensino Industrial; • Decreto-Lei 4.073, 30 de janeiro de 1942, cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) outros Decretosse seguiriam a este, completando a regulamentação da matéria; • Decreto-Lei 4.244, de 09 de abril de 1942, Lei Orgânica do Ensino Secundário; • Decreto-Lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, Lei Orgânica do Ensino Comercial; • Decretos-Leis 8.529 e 8.530, de 02 de janeiro de 1946, Lei Orgânica do Ensino Primário e Normal, respectivamente; • Decretos-Lei 8.621 e 8.622, de 10 de janeiro de 1946, cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC); • Decreto-Lei 9.613, de 20 de agosto de 1946, Lei Orgânica do Ensino Agrícola. Esse conjunto de Decretos-Leis compôs as Leis Orgânicas que completaram o processo político aberto com a criação do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, em 1930. As demais eram poder ao governo da União para estabelecer diretrizes sobre todos os níveis da Educação no país. 25 A reforma Capanema foi diferente da reforma Campos, do ponto de vista do ensino profissional, a segunda era voltada para os interesses da economia agroexportadora, enquanto a primeira contemplava o ensino técnico profissional industrial, comercial e agrícola, além do ensino primário e normal. Assim mesmo continuava o dualismo: as camadas mais favorecidas da população procuravam o ensino secundário e superior para a sua formação, os menos favorecidos ou a classe trabalhadora, as escolas primárias e profissionais, com vistas à preparação para o mercado e trabalho. Nesse sentido, crescia o trabalho especializado para a indústria e fazia- se urgente um sistema de ensino para atender à demanda. O governo obrigou- se a recorrer à Confederação Nacional da Indústria (CNI), criando assim, um sistema paralelo ao ensino oficial. Com o reconhecimento da incapacidade governamental em promover a formação profissional em larga escala, o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial (SENAI) assume a formação técnica almejada, patrocinada pelos empresários filiados da CNI. Essas filiações com suas contribuições deveriam organizar e administrar as escolas de aprendizagem e treinamento industrial. Essa situação não perdurou por muito tempo, o SENAI reconhece que é função do Estado oferecer e cuidar da alfabetização e educação geral primária. Para o SENAI, sua função era a formação de trabalho. Ao longo dos anos, foi abandonado os cursos e atividades com vinculação à preparação da mão de obra, dedicando-se apenas à formação especializada de nível técnico. A luta ideológica sobre os rumos da educação brasileira continuava, sendo assunto de debate no Congresso Nacional, pois o Ministro da Educação da época, Clemente Mariano, nomeou uma Comissão de especialistas, com o objetivo de estudar e propor uma reforma geral da educação nacional. Isso resultou que uma nova Constituição fosse elaborada: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Essa lei elimina o dualismo administrativo do sistema de ensino herdado do Império, inicia-se a descentralização do sistema, concedendo certo grau de autonomia. Com a descentralização entre os órgãos, um ficou com a função normativa; outro, com a função executiva. Para as funções normativas criou-se o Conselho Federal de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação. Além das funções normativas referentes 26 ao sistema federal e aos sistemas estaduais, ficavam responsáveis também de elaborar o plano de educação referente a cada Fundo (Fundo Nacional do Ensino Primário, do Ensino Médio, e do Ensino Superior. Com a autonomia que LDB deu aos estados, eles puderam organizar-se seus sistemas de ensino em nível e instrução, de modo que o regime administrativo, disciplinar e didático fosse menos uniforme. Vale ressaltar que a LDB não trouxe soluções inovadoras, pelo contrário, conservou as linhas de organização anterior. Manteve o ensino secundário e os vários ramos profissionais. Englobou o ensino secundário e o profissional, sob a denominação comum de “Ensino Médio”, cuja finalidade era a “Formação do Adolescente”. Generalizou as denominações “Ginásio” e “Colégio”, para o primeiro e segundo ciclo de todos os ramos. Admitiu a equivalência de todos os cursos médios (a continuação dos estudos sem exames). Ainda com o objetivo de reduzir as diferenças entre os diversos ramos e de proporcionar uma formação básica comum, estabeleceu um núcleo de matérias obrigatórias a serem indicadas pelos CFE (Conselho Federal da Educação), para todas as modalidades de ensino médio, prevendo um currículo comum, no tocante às matérias obrigatórias, para as duas séries iniciais do primeiro ciclo. Apesar dessas inovações o ensino primário continuava distante do ensino médio, pois, para ingressar ao ginásio o aluno passava pelo exame de admissão. Essa era uma exigência que dificultava o ingresso, pois se o aluno não fosse aprovado deveria aguardar a matrícula do próximo ano e prestar outro exame para habilitar-se para o ingresso. BUSCANDO CONHECIMENTO A Reforma Capanema Diversos Decretos-Leis são assinados entre 1942 e 1946 e denominados Lei Orgânicas do Ensino. O curso secundário é novamente reestruturado, passando a ser o Ginásio com quatro anos e colegial com três. Vale dizer o colegial divide-se em curso clássico (com predominância de humanidades) e científico. A lei do ensino secundário, em seu artigo 1º especifica que as finalidades desse ensino são “formar a personalidade integral dos adolescentes”, “acentuar e elevar a consciência patriótica e a consciência 27 humanística”, “ dar preparação intelectual geral que possa servir de base a estudos mais elevados de formação especial” e, ainda, segundo o artigo 25, “formar as individualidades condutoras”. Quanto ao ensino profissional, as alterações foram consideráveis. O país passava por grande desenvolvimento industrial e a importação de técnicos estrangeiros achava-se comprometida pela guerra, o que exigia uma solução nacional para o problema. A Lei Orgânica cria, então, dois tipos de ensino profissional: um mantido pelo sistema oficial; o outro, paralelo, mantido pelas empresas. Assim é criado, em 1942, o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), organizado e mantido pela Confederação Nacional das Indústrias, com diversos cursos de aprendizagem, aperfeiçoamento e especialização, além de possibilitar a reciclagem do profissional. Em 1946, é criado o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), desenvolvendo o mesmo processo. A população de baixa renda, desejosa de se profissionalizar, encontra nesses cursos a condição ideal, mesmo porque os alunos são pagos para estudar. Daí o êxito desse empreendimento particular paralelo. Mesmo considerando o êxito do SENAI e SENAC, é preciso reconhecer aí a manutenção do sistema do alto ensino. A reforma do ensino primário só é regulamentada por lei, após o Estado Novo, em 1946, e institui diversas novidades. A criação do ensino supletivo de dois anos, por exemplo, foi importante para a diminuição do analfabetismo. Nos termos da lei, aparece novamente a influência do movimento renovador. É estipulada a necessidade do planejamento escolar e constitui novidade a previsão de recursos para a implantação reforma. Também é dada atenção à necessidade de estruturação da carreira docente, bem como a remuneração condigna do professor. Porém, se a lei leva ao otimismo, a realidade nem tanto. São inúmeras as dificuldades enfrentadas para sua aplicação e se acha inadequada à nossa realidade. Outra medida da Lei Orgânica foi a regulamentação dos cursos de formação de professores. A novidade da lei é a centralização das diretrizes. No entanto, um defeito é a predominância de matérias de cultura geral em detrimento das de formação profissional, bem como o mesmo caráter rígido de avaliação. 28 Unidade 05 - Reformas do Ensino (1960 – 1970) CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Compreender o sentido político social daEducação para todos. ESTUDANDO E REFLETINDO Na década de 60, a educação popular, é alvo de discussões e idealizações. Paulo Freire foi um dos principais pensadores deste movimento. Seu método de alfabetização de adultos centrado na adequação do processo educativo às características do meio e do educando. Alcançou repercussão nacional e internacional. Os ideais dos educadores da década de 20 e início dos anos 30, somente em 1961 foram efetivamente obtidos. Nesse ano, a União passa a assumir a função de coordenação educativa nacional. Os estados organizam os seus sistemas de ensino em todos os níveis e modalidades. Inicia-se um período contrário à descentralização política e administrativa. Nesse período, o planejamento da educação, que era incumbência do Conselho Federal de Educação – CFE transferiu-se para os órgãos executivos com o reflexo da hegemonia do Poder Executivo sobre o Legislativo. Em 1962, instala-se no Brasil o Regime Militar, a fim de garantir o capital e o continente contra o socialismo, impedindo qualquer abuso na economia e política do país. Neste regime, o Poder Executivo é repressor, controlava os sindicatos, os meios de comunicação, a universidade. Assim, os militares contiveram a crise econômica, abafaram a movimentação política e consolidaram os caminhos para o capital multinacional. As reformas do ensino no regime militar tiveram o planejamento da educação na concepção econômica de desenvolvimento. Essa política desenvolvimentista, ou seja, educação para a formação de capital humano, vínculo entre educação e mercado de trabalho, modernização de hábitos de consumo, integração da política educacional aos planos gerais de consumo, integração da política educacional aos planos gerais de desenvolvimento e 29 segurança nacional, defesa do estado, repressão e controle político ideológico da vida intelectual e artística do país. Assim, essa perspectiva “economicista” em relação à educação foi confirmada no Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social (1967 – 1976), para qual a educação deveria assegurar “estrutura do capital humano do país”. Para assegurar uma política educacional orgânica, nacional que garantisse o controle político e ideológico sobre a educação escolar, uma série de leis, Decretos-Leis, e pareceres declararam seus motivos para elaborar uma única lei: Lei nº 5.692/71 - Ministro Jarbas Passarinho. • Lei 4.464, de 09 de novembro de 1964, que regulamentou a participação estudantil; • Lei 4.440, de 27 de outubro de 1964, que institucionalizou o salário educação, regulamentado no Decreto 55.551, de 12 de janeiro de 1965; • Decreto 57.634, de 14 de janeiro de 1966, que suspendeu as atividades da UNE; • Decretos 53, de 18 de novembro de 1966, e 252, de 28 de fevereiro de 1967, que reestruturaram as universidades federais e modificaram a representação estudantil; • Decreto-Lei 228, de 28 de fevereiro de 1967, permitindo que reitores e diretores enquadrassem o movimento estudantil na legislação pertinente; • Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, que fixou as normas de organização e funcionamento do ensino superior; • Decreto-Lei 477, de fevereiro de 1969, e suas Portarias 149-A e 3.524, que se aplicavam a todo corpo docente, discente e administrativo das escolas, proibindo quaisquer manifestações políticas nas universidades. • Lei 5.370, de 15 de dezembro de 1.67, que criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), regulamentado em setembro de 1970; • Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, que fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus; • Lei 7.044, de 18 de outubro de 1882, que alterou dispositivos da lei 5.692, referentes à profissionalização do ensino de 2º grau. No período do regime militar que deram apoio a política educacional foram as seguintes leis: Lei nº 5.540/68 – Reformulou o ensino superior; Lei nº 5.692/71 – Reformou o ensino de 1º e 2º graus. A Lei nº 5.540/68 promove a reforma universitária ou ensino de 3º grau. Ela extingue a cátedra, unifica o vestibular e aglutina as faculdades em universidades. Institui o curso básico para suprir as deficiências do 2º grau e, no ciclo profissional. Estabelece cursos de curta e longa duração. Desenvolve um programa de pós-graduação. Além disso, uma reestruturação completa, visando a racionalizar e modernizar o modelo, com a integração de cursos, áreas e disciplinas. Uma 30 nova composição curricular permite a matrícula por disciplina, fica instituído o sistema de créditos. Para a nomeação de reitores e diretores da universidade não há exigência de que sejam pessoas ligadas ao corpo docente universitário. A Lei 5.540/68, além da proposta da reforma no ensino superior, introduziu o regime de tempo integral e dedicação exclusiva aos professores. Como leis anteriores, essa não rompeu com os antigos laços de poder, nem feriu os interesses constituídos, manteve a tradição das elites. Estiveram participando do movimento da Reforma de 1968 além dos pesquisadores e docentes o movimento estudantil. O movimento estudantil realizou seminários sobre a reforma universitária, criticando seu caráter elitista, denunciou a existência cátedra vitalícia, indicou a necessidade de realização de concursos públicos para a admissão de professores e lutou por currículos atualizados e pela ampliação da participação estudantil nos órgãos colegiados. Os Decretos nº 4.464/1964; o Decreto nº 2.28/1967, o Decreto nº 477/1969 foram de caráter repressivo: extinguiu a União Nacional dos Estudantes (UNE) limitou a existência de organizações estudantis ao âmbito estrito de cada universidade; puniu estudantes, professores e funcionários que não desenvolvessem as atividades de acordo com os planos do regime militar. Criou, no MEC, uma divisão de segurança e informação para fiscalizar as atividades políticas de professores e estudantes nas instituições. Essa repressão foi a primeira medida para impulsionar o golpe de 64, o setor da educação era o mais controlado, pois bastava que um programa educativo ou um livro tivesse inspiração comunista já era suficiente para acontecer a perseguição. Nos casos de pessoas que ocupavam cargos, ocorriam as demissões. Dessa forma, impediam que programas de educação, voltados para o povo fossem desenvolvidos. Com isso, traçam o modelo capitalista moderno no sistema educacional. Os defensores do ensino público foram substituídos por aqueles que lutavam pela hegemonia da escola particular subsidiada pelo estado, com os militares empenhados na repressão. Nesse sentido, começam as faculdades a tornarem-se mera transmissoras de conteúdos, onde bastava o aluno ter presença, ouvir e reproduzir, em decorrência da não autonomia didática do professor. 31 BUSCANDO CONHECIMENTO O Manifesto dos Pioneiros Devido ao clima de conflito aberto, em 1932, é publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, encabeçado por Fernando de Azevedo e assinado por 26 educadores. O documento considerava dever do Estado, tornar a educação obrigatória, pública, gratuita e leiga. Tal ação deve também ser ampla, mediante um programa de âmbito nacional. Diante do caráter social da educação, o Manifesto critica o sistema dual (que destina uma escola para os ricos e outra para os pobres), reivindicando uma escola básica única. Esse manifesto é muito importante na história da pedagogia brasileira, porque representa a tomada de consciência da defasagem entre a educação e as exigências do desenvolvimento. Dentre os adeptos da escola nova, que, na década de 20, tinham empreendido reformas de ensino, destaca-se Francisco Campos, autor da mesma reforma no estado de Minas Gerais. Uma vez tornado Ministro da Educação, imprime essa tendência renovadora em diversos decretos de 1.931 e 1.932. Pode-se dizer que, pela primeira vez, no Brasil, ocorre uma ação planejada visando a uma organização emnível nacional (as reformas anteriores foram estaduais), sobretudo no que se refere ao ensino secundário, ao comercial e à organização do sistema universitário. O ensino secundário passa a ter dois ciclos: um fundamental, de cinco anos, e outro complementar, de dois anos, visando à preparação para o ingresso no curso superior. Com isso, pretendia-se evitar que o ensino secundário permanecesse meramente propedêutico, ao não enfatizar a formação geral do aluno. Todas as escolas são equiparadas ao Colégio Pedro II (até então considerado modelo) e são estabelecidas normas de admissão de professores e formas de inspeção do ensino ministrado. No entanto, apesar do real avanço, algumas críticas podem ser feitas. Houve total descaso pela educação primária e pela formação de professores. Quanto às demais áreas do ensino profissionalizante, a atenção foi dada ao comercial, tendo sido descuidado o industrial, de premente necessidade. Grave também foi o desenvolvimento de programas de caráter enciclopédico que, ao lado de uma avaliação rígida, tornavam o ensino altamente seletivo e elitizante. 32 Unidade 06 – A Reforma do Ensino do 1º e 2º Graus CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Proporcionar ao educando esclarecimentos sobre a obrigatoriedade do ensino escolar de oito anos. ESTUDANDO E REFLETINDO A Lei nº 5.692/1971 representou uma elevação dos gastos dos estabelecimentos privados de ensino, devido a sua extensão de quatro para oito anos de escolaridade obrigatória. No 2º grau também ocorrem despesas adicionais, igualmente de difícil transferência para os pais como ocorreu no ensino de 1ª grau. Nesse sentido, os lucros dos estabelecimentos ficaram ameaçados, bem como sua sobrevivência. Um exemplo que ficou claro foram as faculdades que se abriram nas periferias das grandes cidades. Logo, o setor privado do ensino ficou desvantajoso não compensando mantê-los em funcionamento. A Lei nº 5.692/1971, de 11 de agosto de 1971, fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus. Introduziu mudanças no ensino que estava desarticulado, mas continua assegurando o amparo técnico e financeiro à iniciativa privada. Dessa vez, a luta não foi com a Igreja e os defensores da escola pública e leiga, como forma prevista na Constituição de 1934 e 1946, seus partidários é que estavam divididos. Mudanças introduzidas pela referida lei: • ampliar a obrigatoriedade escolar e quatro para oito anos; com a idade de 7 a 14 anos; • exclui o exame de admissão; • necessidade de educador para a educação elementar; Desvantagens: • seletividade do curso primário na rede particular; • elevado número de vagas; • inexistência de escola na zona rural. Tudo isso tornou impraticável a extensão e a obrigatoriedade da escolaridade para oito anos. Privilegiou-se a quantidade à qualidade. 33 O governo militar havia diminuído os recursos para e educação, isto é, não cumpriu o previsto na Lei nº 4.020/1964, que tinha o objetivo de incrementar o ensino de 1º grau. Assim, o salário-educação que a União deveria repassar aos Estados da Federação para a construção de escolas, era desviado para os interesses de políticos e empreiteiros. Portanto, o governo não valorizava o empreendimento de construção como era o sonho dos educadores. Com apenas dois anos de promulgação da lei, em 1973, foi baixado o Decreto 72.495, de 19 de junho de 1973, que estabelecia: “norma para a concessão de amparo técnico e financeiro às entidades particulares de ensino”. Esse decreto estabelece que os recursos a serem repassados teriam sua origem o FNDE (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação). Objetivos do repasse: • “suprir deficiências locais da rede oficial de ensino de 1º e 2º graus, • “adotar a intercomplementariedade entre estabelecimentos oficiais e particulares de ensino, • “equipar, reequipar e instalar unidades escolares, • “ampliar e recuperar imóveis destinados exclusivamente a atividades escolares;” (art. 3º). Estava previsto, na criação do FNDE, que os recursos conferidos às escolas privadas não seriam reembolsadas ao cofre público. As escolas devolveriam em forma de gratuidade total ou parcial de ensino oferecido, ou seja, uma parceria entre o governo e a instituição. Essa parceria estabelecia que, onde houvesse escola privada que atendesse a demanda, o governo não construiria a escola pública. Nesse sentido, era fácil cumprir o acordo, pois os empresários do ensino tinham a maioria dos membros que compunham os conselhos Estaduais de Educação, logo, seus interesses eram vencidos. Isso posto, os conselhos estaduais tinham recebido o decreto a incumbência de baixar as normas complementares para o cumprimento de tais exigências. Esse privilégio dado às escolas privadas é porque se entendia que ensino público e privado são equivalentes. Então, seria um critério visando aos interesses de ambas as partes: poder público e privado. 34 Em relação ao 2º grau, com duração de três anos, a lei nº 5.692/1971 recomendava o Art. 1º. “Proporcionar ao educando formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de autorrealização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania”. De acordo com o previsto nesse artigo, o ensino de 2º grau perde seu tradicional perfil propedêutico, sua função agora é preparar para o trabalho. Frente ao grande número de vagas particulares no ensino superior, esse tipo de ensino profissionalizante era o mais procurado ao ensino de qualificação do nível médio. Tudo não passava de um engodo, pois, excluindo da carga horária da formação básica, as disciplinas de Filosofia, Sociologia e Psicologia, os cursos estavam longe de formar um egresso para obtenção de emprego. BUSCANDO O CONHECIMENTO A Lei nº 5.692//71 obedece aos princípios da continuidade e da terminalidade. Para tanto, diversos pareceres regulamentam para currículo que consta de uma parte de educação geral e outra de formação especial. Além disso, foram incluídos como matérias obrigatórias, Educação Física, Educação Moral e Cívica, Educação Artística, Programa de Saúde e Religião (esta, obrigatória para a escola, mas optativa para o aluno). Em 1967 é criado o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) para começar a suprir a taxa de analfabetismo no Brasil. Paulo Freire teve seu método consagrado, mas logo tornou-se fracassado, por ter sido seu conteúdo considerado subversivo, segundo o ponto de vista da política vigente. Algumas vantagens da Lei nº 5.692: • extensão da obrigatoriedade do 1º grau (1ª a 8ª séries); • escola única: superação da seletividade com a eliminação do dualismo escolar, já que não existe mais separação entre o secundário e o técnico; • profissionalização a nível médio para todos: superação do ensino médio propedêutico, já que existe a terminalidade; • integração geral do sistema educacional do primário ao superior (continuidade); • cooperação das empresas na educação. ARANHA, 1989. p: 257. 35 Essas vantagens não tiveram sucesso no campo da terminalidade e da formação para o trabalho, pois o ensino profissionalizante oferecido era de baixa qualidade, pela insuficiência de laboratórios adequados às exigências dos cursos. Portanto, consegue-se vasta mão de obra barata no mercado, porque a escola prepara um exército de reserva”. Nesse sentido, a escola particular leva vantagem, mas o ensino em sala de aula continua com o sentido propedêutico entregando seus alunos às vagas das melhores universidades. Como consequência a reforma não consegue desfazer o dualismo (uma escola para o rico e outra para o pobre). O dualismo estende-se até ás faculdades. A Lei n. 5.692, teve a caráter tecnocrático, segundo o qual eficiência e produtividade tem validade por si só. Outro aspecto que deve ser mencionado é, a Lei foi política e não apolíticacomo pode transparecer. Por volta de 1.980 essa Lei torna-se obsoleta, uma nova Lei n.7.044/82 dispensa as escolas da obrigatoriedade profissionalizante, voltando a ênfase para formação geral. O cenário brasileiro é outro e os debates em prol de ser reconquistado o tempo e o espaço perdido, começam a ganhar força com a volta dos políticos que haviam sido exilados e as organizações estudantis retornam a atividade. A forca do regime militar começa enfraquecer. Vale registrar que a lei n. 5.692/71 foi alterada pela Lei n. 7.044/82, em virtude da reorientação quanto à profissionalização do 2º grau. O ponto fundamental alterado foi a substituição da proposta de que o ensino deveria qualificar para o trabalho pela ideia que deveria preparar para o trabalho. MENESES, 2.001. p. 164. 36 Unidade 07 - Políticas Educacionais na Nova República CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE. Efetuar um estudo sobre o período que antecede a criação da Lei n. 9.394/96. ESTUDANDO E REFLETINDO Nessa unidade será apresentada a crise que enfraqueceu o regime militar e as pressões por eleições diretas à escolha presidencial e como seriam definidas as políticas educacionais, ou seja, caberia ao Executivo Federal decidir quando e a que descentralizar. O regime militar estava enfraquecido e suas antigas alianças desfaceladas. A sociedade civil organizava-se para intervir nas políticas públicas educacionais, firmando um consenso sobre um novo projeto educacional com o interesse em subsidias o MEC na busca de soluções que respondessem às diversidades locais e regionais. A força do regime militar mesmo enfraquecida mantinha o poder de decisão entre o poder centralizado do governo federal com os estados e municípios. O repasse do salário-educação era distribuído de acordo com seus critérios. Com o objetivo de recuperar as forças, o governo federal decidiu atuar diretamente nos municípios. O resultado não foi dos benéficos, pois a política confusa permitiu maior comprometimento no planejamento global e articulado da educação. Assim, para atender a maioria da população, defendendo a escola pública, um novo projeto de LDB seria elaborado pela comunidade escolar para enfrentar o século XXI. Inicia-se o neoliberalismo na década de 90, com a posse para Presidente da República de Fernando Collor de Mello que governou de 1990- 1992. As políticas educacionais foram marcadas por forte clientelismo, privatização e enfoques fragmentados. Nesse período, houve muito debate sobre a redemocratização do ensino brasileiro, mas de pouca ação, pois os acessos do governo no plano da educação era a maioria conservador, inclusive no MEC. 37 Algumas intenções do governo federal para o setor educacional: • O Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania PNAC (1990); • O Programa Setorial de Ação do governo Collor na área da educação (1991-1.995); • Brasil: um Projeto de Reconstrução Nacional (1991). O ponto culminante do governo José Sarney (1985-1990) com relação ao projeto de redemocratização foi a vitória alcançada com a aprovação da Constituição de 1988. A nova Carta Magma do país conseguiu varrer diversos mecanismos que sustentaram o regime autoritário (militar). O fim da censura, a livre organização partidária, o retorno das eleições diretas e a divisão dos poderes. A Constituição foi uma vitória política, mas, no campo econômico, não, apesar do entusiasmo do plano cruzado. Quanto à indústria foi um furo, teve uma pane no setor da produção e da falta de produtos de primeira necessidade. Nesse sentido, o setor econômico foi abalado, pois as ações não freavam o índice inflacionário. Os Planos: Bresser e Verão tentaram articular ações de correção da inflação, mas a intenção foi em vão e a crise econômica financeira estava declarada. Essa crise convivia com a esperança e a perspectiva de democratização. Assim, o governo José Sarney perdia o apoio da sociedade civil. No que concerne à educação, a oposição erguia a bandeira da mudança, pois era um movimento que vinha reivindicando mudanças já a tempo. Como movimento da oposição pode-se citar: • Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED; • Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior ANDES; • Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CNTE; • Educação & Sociedade; • Revista da ANDE; • Cadernos do CEDES; • Conferencia Brasileira de Educação (CBES); 38 • - As reuniões anuais da SBPC. Assim, esses movimentos defendiam a educação pública e gratuita como direito público subjetivo e dever do Estado. Além disso, defendiam a erradicação do analfabetismo e a universalização da escola pública. BUSCANDO CONHECIMENTO O projeto educacional na Nova República teria, então, como principal diretriz assegurar o acesso, ingresso e permanência no ensino de boa qualidade. a-) Melhoria da qualidade da Educação • Merenda escolar; • Distorção idade e série; • Transporte; • Material didático; • Redução de números de aluno na sala de aula; • Bibliotecas e laboratórios; • Melhor infraestrutura; • Alteração no currículo; • Superação da formação profissional; • Implementação da educação politécnica; • Adequação do calendário regional; • Revisão de técnicas e métodos de ensino; • Revisão de critérios de avaliação do rendimento escolar; • Mudança dos conteúdos dos livros didáticos; • Formação docente e retribuições salariais dignas e justas. b-) Plano de carreira nacional aos profissionais da educação que compreendia: valorização e qualificação. c-) Democratização da gestão. 39 d-) Financiamento da Educação. e-) Ampliação da escolaridade obrigatória, abrangendo creche, pré escola 1 e 2 graus. Com o fim do Governo Sarney, quem assume, eleito pelo voto direto, foi Fernando Collor de Mello. Ao assumir, anunciou seu pacote de modernização administrativa, cujo objetivo era conter a inflação. Com a crise política somada à crise econômica, Collor foi alvo de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e, comprovado as irregularidades no seu governo deixou a presidência federal. Quem assumiu foi o seu Vice Itamar Franco (1992-1994). O presidente então eleito não teve quase nenhuma participação no setor educacional, seu compromisso maior foi de “arrumação da casa”, pois havia herdado do governo anterior problemas que foram possíveis de ser sanados somente com o ministro da Educação Paulo Renato Souza, na gestão de FHC (Fernando Henrique Cardoso). Como avanço pode ser citado a decisão de fechar o Conselho Federal de Educação, pois esse era alvo de denúncias no sentido de vender pareceres para a abertura de cursos superiores. Vale ressaltar que Paulo Renato implantou o programa para avaliação de livros didáticos e de universidades públicas. Os vetores da administração educacional da Nova República foram: Clientelismo, tutela e assistencialismo. 40 Unidade 08 - Políticas educacionais e o governo FHC CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Analisar o período político (1995-2003) quanto suas ações do setor da educação brasileira. ESTUDANDO E REFLETINDO A primeira Lei de Diretrizes e Bases (Lei n.4.024/61) conceituou a educação como processo formativo da infância e da juventude. Consideraram- se os fins da liberdade e ideais de solidariedade humana e os hegemonizou em relação aos meios (processos formais e informais de educar. Enquanto que a Lei n.9.394/96, atual LDB buscou privilegiar o processo, que visa à formação para a sociedade, a Lei n.5.692/71 em relação ao artigo1º da Lei n.4.024/61 referendou o seu respeito à formação do eu essencial. A Lei n.9.394/96 foi promulgada no Governo FHC, embora, o projeto estava sendo discutido na Assembleia desde o governo anterior. As Leis 5.692/71 e 5.840/l68 não podem ser consideradas LDB na medida em que se voltam apenas para uma fração da educação
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