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CONSTITUCIONALISMO – Por: Viviane Constante 1 CONSTITUCIONALISMO CONCEITO Trata-se de um movimento histórico-cultural inserido na história ocidental. Tem natureza jurídica, política, filosófica e social, almejando a limitação do poder e a garantia dos direitos fundamentais, que levou à adoção de constituições formais (escritas) pela maioria dos Estados. Ganhou forma com a Revolução Francesa. A palavra Constitucionalismo possui vários significados e seu conceito evolui ao longo dos tempos. Para o professor André Tavares, a palavra constitucionalismo possui pelo menos quatro sentidos, conforme segue: I. Movimento político-social historicamente remoto que tem, principalmente, o objetivo de limitar o poder arbitrário. II. Movimento histórico de imposição de constituições escritas: aqui, o constitucionalismo diz respeito ao surgimento de uma Constituição Formal (escrita). III. Evolução histórico constitucional de um determinado Estado: movimento histórico que deu ensejo às oito constituições do Ordenamento Jurídico Brasileiro. IV. É aquele que designa os propósitos mais latentes e atuais a função e a posição da Constituição em cada Estado nas diversas sociedades. Há nítida vinculação entre o constitucionalismo e os direitos fundamentais. Os direitos fundamentais são limitações ao Poder Arbitrário. A doutrina divide o constitucionalismo em algumas fases, conforme segue. CONSTITUCIONALISMO DURANTE A ANTIGUIDADE Na Antiguidade clássica haviam ideias que futuramente influenciariam na formação do constitucionalismo atual. Temos por relevantes o constitucionalismo hebreu, o constitucionalismo grego e o constitucionalismo romano. Foi observado entre os hebreus, ainda que timidamente, o surgimento do constitucionalismo. Na situação, era estabelecido no Estado teocrático limitações ao poder político ao assegurar aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites bíblicos. Sendo um Estado teocrático, haviam limites ao poder político através de dogmas religiosos. Esses limites eram representados pela Lei do Senhor, a qual fazia nascer a ideia de hierarquia entre as leis, ideia essa de extrema importância atualmente, uma vez que transcreve a supremacia constitucional. CONSTITUCIONALISMO – Por: Viviane Constante 2 Mais tarde, no século V a.C., observou-se um importante exemplo de democracia constitucional nas Cidades-Estados gregas, sendo a democracia direta, na qual o poder político estava igualmente distribuído entre todos os cidadãos ativos. Por fim, no Constitucionalismo Romano, encontramos o início da ideia de separação de poderes, especificadamente, no tocante a separação do poder entre os Cônsules, Senado e o Povo. O Constitucionalismo Antigo ainda não trazia constituições escritas, as Constituições eram consuetudinárias, além de sofrer forte influência da religião. Ademais, verificava-se a supremacia do monarca ou do Parlamento. CONSTITUCIONALISMO DURANTE A IDADE MÉDIA Compreendido entre os séculos XIII e XVIII. A Magna Carta de 1215 representa um grande marco no constitucionalismo medieval, estabelecendo a proteção a importantes direitos individuais. Não sendo uma Constituição propriamente dita, mas sim um contrato de domínio firmado entre o rei João sem Terra e os Barões, foi o primeiro movimento escrito no qual o rei reconheceu limites ao poder real. CONSTITUCIONALISMO DURANTE A IDADE MODERNA O Constitucionalismo moderno foi um movimento que ocorreu no final do século XVIII, com relevância nos Estados Unidos e na França, tendo como objetivo a limitação do poder e busca de se estabelecer direitos e garantias fundamentais. Destacam-se o Petition of Rights, de 1628; o Habeas Corpus Act, de 1679, o Bill of Rights, de 1689; e o Act of Settlement, de 1701. Estes buscavam resguardar direitos individuais e limitar o poder da monarquia. CONSTITUCIONALISMO MODERNO (DURANTE A IDADE CONTEMPORÂNEA) Predominam-se as constituições escritas como instrumentos para conter qualquer arbítrio decorrente do poder. Trata-se de um movimento deflagrado durante o Iluminismo e concretizado como uma contraposição ao absolutismo reinante, por meio do qual se elegeu o povo como o titular legítimo do poder. São marcos históricos e formais do constitucionalismo moderno: a Constituição norte-americana de 1787 e a francesa de 1791 (que teve como preâmbulo a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789). CONSTITUCIONALISMO NORTE-AMERICANO: encontram-se como pontos marcantes os chamados contratos de colonização (Compact e as Fundamental Orders of Connecticut), relevantes na história das colônias da América do Norte. CONSTITUCIONALISMO – Por: Viviane Constante 3 Além destes, a Declaration of Rights do Estado de Virgínia, de 1775, seguida pelas Constituições das ex-colônias britânicas da América do Norte e Constituição da Confederação dos Estados Americanos, de 1781. Houve o surgimento do primeiro controle de constitucionalidade tendo como parâmetro uma constituição escrita – trata-se do caso Marbury vs. Madison (1803) implementando o controle de constitucionalidade difuso. Ademais, contribuiu-se ainda para as noções de separação dos poderes com a criação do check and balance, forma federativa, sistema republicano, presidencialista e regime democrático. CONSTITUCIONALISMO FRANCÊS : teve seu marco inicial com a Revolução Francesa, de 1789. Como pilares do Constitucionalismo francês há a consagração do princípio de separação dos poderes, distinção entre poder constituinte originário e derivado, supremacia do parlamento e surgimento da escola da exegese, a partir do Código de Napoleão de 1804. Aqui, ainda se destaca o constitucionalismo liberal, marcado pelo liberalismo clássico (valorização do indivíduo e afastamento do Estado), com os seguintes valores: individualismo, absenteísmo estatal, valorização da propriedade privada e proteção do indivíduo. Temos, portanto, o surgimento dos chamados direitos fundamentais de primeira geração (ou dimensão). Como influenciados dessa perspectiva tivemos as Constituições brasileiras de 1824 e 1891. Em continuidade, diante da concepção liberal, houve uma concentração de renda e exclusão social. Há o surgimento da crise econômica após a Primeira Guerra Mundial, a qual intensifica as desigualdades econômicas, ocasionando uma crise no Estado Liberal. Tal crise faz com que o Estado passe a ser chamado para evitar abusos e limitar o poder econômico, deixando o Estado, portanto, de ser abstencionista para assumir um modelo intervencionista. É neste momento que se torna evidente os chamados direitos de segunda geração (ou dimensão), tendo como documentos marcantes a Constituição do México de 1917 e a de Weimar, na Alemanha, de 1919, influenciando a Constituição brasileira de 1934 (Estado Social de Direito). O Estado Social surge com a característica de intervenção no âmbito social, econômico e laboral, passando a ter um papel decisivo na produção e distribuição de bens, bem como trazendo a garantia de um mínimo de bem estar social, o chamado “Welfare State” (O Estado do Bem Estar Social” CONSTITUCIONALISMO – Por: Viviane Constante 4 CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO (DURANTE A IDADE CONTEMPORÂNEA) Está centrado naquilo que Uadi Lammêgo Bulos chamou de “totalitarismo constitucional, consectário da noção de Constituição programática”, e que tem como exemplo a Constituição brasileira de 1988. Por normas programáticas temos metas a serem atingidas pelo Estado, programas de governo, sedimentando um importante conteúdo social. Destaca-se uma concepção de proteção aos chamados direitos de terceira geração (ou dimensão), como os direitos de fraternidade ou solidariedade. NEOCONSTITUCIONALISMO Alguns o denominam de constitucionalismo pós-moderno ou pós- positivismo. É ummovimento pós-Segunda Guerra Mundial (segunda metade do século XX e início do século XXI). Dentro desse pensamento, busca-se a eficácia da Constituição, a concretização dos direitos fundamentais, indo além da ideia de atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação do poder político. Aqui, preza pelo Estado Constitucional de Direito, onde a Constituição passa a ser o centro do sistema, tida como uma norma jurídica imperativa e superior, marcada por uma intensa carga valorativa. Ademais, é onde se verifica a concretização dos valores constitucionais e garantia de condições dignas mínimas. Tem como premissa fundamental a dignidade da pessoa humana. Possui como marco histórico o estado constitucional de direito do pós-Segunda Guerra Mundial na Europa, com o surgimento de constituições na Itália, Alemanha, Portugal, Espanha, entre outras. CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO Tida como uma fase subsequente ao neoconstitucionalismo, buscaria um equilíbrio entre o constitucionalismo moderno e o neoconstitucionalismo. Prega a consolidação dos direitos humanos de terceira dimensão, de modo que prevalecesse a noção de fraternidade e solidariedade. Trata-se da “constituição do porvir”, calcada na esperança de dias melhores, um verdadeiro constitucionalismo altruístico. Sobre o tema destacam-se as ideias de José Roberto Dromi que prega um equilíbrio entre os atributos do constitucionalismo moderno e os excessos do CONSTITUCIONALISMO – Por: Viviane Constante 5 constitucionalismo contemporâneo. Segundo José Roberto Dromi, as constituições serão guiadas por determinados valores fundamentais: • Verdade, a qual busca a necessidade de promessas factíveis pelo Constituinte, de modo que o texto constitucional apenas veiculará aquilo que for possível de ser alcançado; • Solidariedade, entendida entre os povos, ligando-se a noção de justiça social, cooperação e tolerância; • Continuidade: aqui podemos inserir a ideia de vedação ao retrocesso da sociedade; • Participação, mediante a consagração da democracia participativa e do Estado de Direito Democrático; • Integração, de modo que as constituições devam integrar o plano interno e externo, mediante a previsão de órgãos supranacionais; • Universalização, trazendo a ideia de que as constituições do futuro darão primazia aos direitos fundamentais internacionais. QUESTÕES QUESTÃO 01 – ANO: 2016 – BANCA: CONCURSOS-MS O neoconstitucionalismo tem permanecido no centro dos debates hodiemnos do direito constitucional, assumindo posição de relevo na teoria constitucional. Dentre os elementos caracterizadores do neoconstitucionalismo não se pode elencar: Alternativas (A) A ideia da eficácia irradiante em relação aos Poderes e aos particulares. (B) A garantia de condições mínimas de dignidade. (C) À separação entre direito, ética e moral, como marco filosófico. (D) A carga axiológica da Constituição. (E) A normatividade da Constituição, centrada em sua imperatividade. QUESTÃO 02 – ANO: 2021 – BANCA: INSTITUTO AOCP Segundo a doutrina, o Neoconstitucionalismo tem como uma de suas marcas a concretização das prestações materiais prometidas pela sociedade, servindo como ferramenta para implantação de um Estado Democrático Social de Direito. São características do Neoconstitucionalismo, EXCETO Alternativas (A) encolhimento da justiça distributiva. (B) positivação e concretização de um catálogo de direitos fundamentais. (C) inovações hermenêuticas. (D) densificação da força normativa do Estado. (E) onipresença dos princípios e das regras. CONSTITUCIONALISMO – Por: Viviane Constante 6 QUESTÃO 03 – ANO: 2018 – BANCA: PGM-NI Constitucionalismo significa: Alternativas (A) limitação do poder. (B) supremacia da lei. (C) O movimento político, jurídico e ideológico que idealizou a estruturação do Estado e a limitação do exercício de seu poder. (D) Todas as respostas acima. QUESTÃO 04 – ANO: 2017 – BANCA: CESGRANRIO Buscando formular uma concepção estrutural de constituição, a doutrina reconhece que: “A constituição é algo que tem, como forma, um complexo de normas (escritas ou costumeiras); como conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações sociais; como fim, a realização dos valores que apontam para o existir da comunidade; (...)” SILVA, José Afonso da. in Curso de Direito Constitucional Positivo, 26ª edição, Malheiros, p. 39. Nessa mesma linha, reconhece(m)-se como causa criadora e recriadora da constituição: Alternativas (A) a rigidez constitucional. (B) a organização dos elementos essenciais do Estado. (C) o puro dever-ser. (D) o poder que emana do povo. (E) os direitos fundamentais do homem. QUESTÃO 05 – ANO: 2019 – BANCA: VUNESP O constitucionalismo representa uma série de movimentos históricos, culturais, sociais e políticos cujo objetivo central é a limitação do poder estatal mediante o estabelecimento de uma Constituição. Sobre a sua evolução histórica e caraterísticas, é correto afirmar: Alternativas (A) o constitucionalismo hebreu, identificado na fase medieval, era representado pela conduta dos profetas, responsáveis pela verificação da compatibilidade dos atos do poder público com o texto sagrado. (B) as Revoluções liberais do Século XVIII e início do Século XIX, promovidas na Europa Ocidental, são fruto do denominado constitucionalismo moderno, e foram caracterizadas, dentre outros elementos, pela consagração das liberdades individuais e defesa da igualdade em sentido formal. (C) a Revolução Gloriosa instaurada na Inglaterra, no âmbito do desenvolvimento do constitucionalismo moderno, contribuiu de maneira exponencial para o desenvolvimento de variados aspectos do constitucionalismo contemporâneo, destacando-se, dentre eles, a ideia de federalismo e também a visão da constituição como um documento sagrado político. (D) o constitucionalismo espartano foi marcado por uma organização política de base civil e democrática, assim como Atenas, permitindo-se a ampla participação dos cidadãos nos assuntos públicos da polis. (E) no Brasil, o denominado Constitucionalismo social teve início com a Constituição de 1946, a qual passou a consagrar não apenas os direitos sociais ao trabalho, CONSTITUCIONALISMO – Por: Viviane Constante 7 educação e previdenciário mas também defendeu a impossibilidade de exercício do direito de propriedade contra o interesse coletivo ou social. QUESTÃO 06 – ANO: 2019 – BANCA: VUNESP Assinale a alternativa correta a respeito do constitucionalismo. Alternativas (A) No constitucionalismo moderno, as Constituições de sintéticas passam a analíticas, consagrando nos seus textos os chamados direitos econômicos e sociais, e a democracia liberal-econômica dá lugar à democracia social, mediante a intervenção do Estado na ordem econômica e social. (B) A transição da Monarquia Absolutista para o Estado Liberal, em especial na Europa, no final do século XVIII, que traçou limitações formais ao poder político vigente à época, é um marco do constitucionalismo moderno. (C) O constitucionalismo antigo teve início com a Magna Carta de 1215, não havendo antes desse período indícios de experiências democráticas que contrastassem com os poderes teocráticos ou monárquicos dominantes. (D) John Locke, Montesquieu e Rousseau são reconhecidos como os principais precursores do constitucionalismo contemporâneo, em virtude de concepções revolucionárias que defendiam a unificação e consagração dos ideais e valores humanos universais. RESPOSTAS 1 C 2 A 3 D 4 D 5 B 6 B
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