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resilição x resolução

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Qual a diferença entre resolução e resilição contratual?
A sociedade, em seu cotidiano, estabelece relações para viver como grupo. Essas relações vão
desde a família, até relações entre países, desde trocas culturais, até trocas comerciais. Essas
relações, em sua maioria, são organizadas pelo direito, que cria leis para que exista segurança
e justiça.
Algumas dessas relações são conhecidas como negócios jurídicos. O contrato é uma espécie
de negócio jurídico que se caracteriza pelo acordo de vontade entre duas ou mais
pessoas. Este negócio jurídico cria direitos e obrigações para ambas as partes e possui uma
proteção jurídica do Estado, ou seja, caso descumprido o que foi combinado, é possível
recorrer à justiça.
Todavia, em algumas situações a relação contratual sofre com algum tipo de causa
superveniente à formação do contrato, em outras palavras, pode em algum momento
acontecer algo que não era previsto quando o foi feito o combinado. Nessas situações,
existem algumas possibilidades como: (i) resolução, (ii) resilição, (iii) rescisão. Aqui
falaremos especificamente da diferença entre resolução e resilição.
Todos os contratos possuem obrigações. Estas têm o objetivo final de serem cumpridas, ou
seja, adimplidas. Contudo, em algumas ocasiões, as partes não cumprem com suas
obrigações. A resolução contratual serve para extinguir esses contratos com obrigações não
cumpridas. A resolução pode se dar por um não cumprimento voluntário, ou seja, com
culpa, ou não voluntário, ou seja, sem culpa, vamos considerar os dois.
Na resolução por inexecução voluntária há culpa de uma das partes em relação ao não
cumprimento sua obrigação. O Código Civil prevê:
Art. 475: “A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não
preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e
danos.”.
Essa inexecução da obrigação contratual não pode ser algo mínimo, mas deve possuir uma
gravidade e certa relevância para a relação contratual estabelecida. Depois de o Juiz declarar
a resolução do contrato, todos os efeitos até aquele momento serão desconsiderados. A parte
lesada poderá ter uma indenização.
Há aqui, no entanto, uma exceção, se a parte lesada pela não execução de uma obrigação da
outra parte não tiver cumprido com sua própria obrigação, não pode esta cobrar a outra.
Por outro lado, a resolução por inexecução involuntária envolve um fato ou evento que estava
fora de previsão das partes no momento de assinatura do contrato. Dessa forma, a inexecução
não é culpa de uma das partes, o não cumprimento de sua obrigação está fora de seus
esforços, como alguma atitude prejudicial de terceiros, ou um acontecimento inevitável,
alheio a vontade das partes.
A inexecução tem de ser total, pois se for parcial a parte lesada pode querer o cumprimento
mesmo assim; definitiva, pois se for temporária a parte pode querer o cumprimento no futuro;
e objetiva, pois demonstra isso que fez tudo ao seu alcance para tornar a prestação possível.
Nessa situação de resolução, não fica o inadimplente responsável por perdas e danos, pois
não teve culpa, salvo algumas excessões [4].
Já a resilição também é uma forma de se acabar com um contrato. Porém ela se difere por não
ter inadimplemento contratual. Ela se baseia apenas na manifestação de vontade. Há pelo
menos dois tipos, o distrato, que é feito com a vontade das duas partes e a resilição feita por
apenas uma parte.
O distrato é uma forma simples de resilição que basicamente exige as mesmas coisas que
foram exigidas para se fazer e assinar o contrato. [5]
Já a resilição unilateral, ou seja, a desistência de uma das partes, só pode ocorrer em algumas
situações bem específicas, nas obrigações duradouras como na locação, onde o ato de
resilição se denomina denúncia; no comodato, que é uma espécie de empréstimo de um bem;
no mandato, onde a resilição se chama revogação ou renúncia, dependendo de quem o faça.
Segundo Orlando Gomes há possibilidade de resilição por apenas uma das partes quando há
contratos: (i) por tempo indeterminado; (ii) de execução continuada, ou periódica; (iii) que a
execução não foi começada; (iv) nos benéficos; (v) e nos de atividade. Há ainda a resilição
convencional, que é colocada como cláusula contratual a possibilidade de uma das partes
fazer a resilição sozinha. [7]
A técnica jurídica é imprescindível, na formação e elaboração do contrato, justamente por
todas essas nuances analisadas até aqui. Com a devida assistência jurídica e com o
conhecimento técnico adequado, é possível evitar disputas judiciais que questionem coisas
básicas do direito. Uma simples diferença de termos, no mundo jurídico, possui peso, a ponto
de determinar quem possui razão ou não em uma relação.
Autor:
Ítalo Jordânio de Andrade Mota
Notas de rodapé:
[1]Os art. 393º e 399º do Código Civil dispõe: “Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos
resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.” [...] “Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação,
embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o
atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente desempenhada.”
[2] O art. 472º do Código Civil dispõe: “O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato”.
Referências Bibliográficas:
BRASIL. Lei nº 8.955, de 15 de dezembro de 1994, Código Civil. Brasília, 1994. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8955.htm>.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais - 14. ed. São Paulo,
Saraiva, 2017.
GOMES, Orlando. Contratos. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8955.htm

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