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4- Formação e efeitos do contrato sobre terceiros

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Formação e efeitos do contrato sobre terceiros
Prof. Bruno Terra
false
Descrição
O procedimento de formação do contrato, com a apresentação dos passos antecedentes à sua celebração,
bem como a demonstração de situações previstas em lei nas quais os efeitos do contrato se estendem para
além da esfera jurídica dos contratantes.
Propósito
O estudo da formação dos contratos é relevante para a compreensão de como serão produzidos os efeitos
dos negócios jurídicos, o que é fundamental para a vida em sociedade e para o Direito. Os contratos não
estão isolados no ordenamento. Assim, tanto produzem efeitos que se espraiam para além dos interesses
das partes como, também, são afetados por terceiros, influências que também serão aqui analisadas.
Preparação
Os temas aqui tratados são minuciosamente regulamentados pelo Código Civil. Assim, recomenda-se que,
tanto antes de iniciado o estudo quanto durante sua realização, sejam consultados os dispositivos que
disciplinam as matérias aqui tratadas.
Objetivos
Objetivos
Módulo 1
Manifestação da vontade, proposta e aceitação
Reconhecer o processo de transformação da mera intenção do sujeito em formalização da manifestação
da vontade com aptidão para a produção de efeitos jurídicos.
Módulo 2
Efeitos dos contratos em relação a terceiros
Analisar algumas das formatações contratuais cujos efeitos do negócio jurídico atingem a esfera jurídica
de terceiros.
Módulo 3
Vícios redibitórios e evicção
Listar as regras acerca do vício redibitório e da evicção.
Os contratos, como emanação da vontade das partes, possuem uma finalidade. Assim, o
ordenamento jurídico deve criar mecanismos tendentes a garantir que tais finalidades contratuais
sejam adequadamente atingidas. É nesse contexto que se inserem as regras referentes aos vícios
redibitórios e à evicção.
No âmbito de um negócio jurídico que envolva a transferência de um bem não basta ao alienante
transferi-lo, pura e simplesmente: é necessário que essa transferência se dê com a respectiva
garantia de que o bem transferido poderá ser adequado e plenamente utilizado pelo alienatário.
Daí o estabelecimento das regras referentes aos vícios redibitórios e à evicção, mecanismos que
visam garantir a plenitude da finalidade contratual e atenuar os efeitos prejudiciais da frustração de
tais finalidades. Como se observará, o estudo de tais conceitos é essencial para a adequada
compreensão do regime jurídico contratual brasileiro.
Introdução
1 - Manifestação da vontade, proposta e aceitação
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer o processo de transformação da
mera intenção do sujeito em formalização da manifestação da vontade com aptidão para a
produção de efeitos jurídicos.
Manifestação da vontade, proposta e aceitação
Antes de adentrarmos especificamente nos assuntos atinentes ao presente módulo, é imprescindível
voltarmos um pouco à introdução do direito civil.
Nesse sentido, precisamos compreender os conceitos de fato jurídico, ato jurídico e negócio jurídico.
Somente a partir do estudo de tais conceitos e da diferenciação de cada um deles será possível
compreender adequadamente a noção de contrato e, por conseguinte, a importância de se estudar a
manifestação de vontade. Vejamos:
Fato jurídico 
Os fatos jurídicos consistem em fenômenos que geram alguma das três modalidades de efeitos
jurídicos (AMARAL, 2014, P. 405):
Constituição;
Modificação;
Extinção de direitos.
Esses fatos podem ser fenômenos gerados sem qualquer interferência humana, definindo-se como
fatos jurídicos em sentido estrito. Por exemplo, o evento climático que destrói uma propriedade:
note-se que a destruição verificada foi gerada por fenômeno unicamente natural.
Em outros casos, a ação humana é imprescindível para se chegar ao efeito jurídico. Essas situações
se enquadram no conceito de ato jurídico. Os atos jurídicos podem ser desdobrados em duas
espécies. A primeira refere-se aos casos em que os efeitos decorrentes da ação humana são
previstos pela lei. Tais situações se enquadram no conceito de atos jurídicos em sentido estrito.
Há casos em que as consequências do ato humano praticado são estipuladas por quem o pratica.
Tais situações se enquadram no conceito de negócio jurídico, sendo certo que as consequências
desses atos jurídicos devem ser permitidas pela lei (AMARAL, 2014, p. 405-406).
Por conterem consequências jurídicas estipuladas pelas partes, os contratos se enquadram no conceito de
negócios jurídicos, sendo elemento imprescindível à sua formação a existência de manifestações de
vontade convergentes.
ato ju d co
Ato jurídico 
Negócio jurídico 
É o que se extrai da definição de contrato concebida por Caio Mário da Silva Pereira, nos termos a seguir:
Contrato é um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade
de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.
(PEREIRA, 2015, p. 7)
O que se observa, assim, é que, para a celebração de um negócio jurídico, imprescindível será a existência
das manifestações de vontade tendentes à conclusão do contrato. E, para que estejamos diante de um
negócio jurídico válido, a manifestação de vontade deve emanar de um agente capaz, conforme disposto no
art. 104, I, do Código Civil.
Tal vontade pode ser expressa ou tácita, ocorrendo esta última quando a lei não impuser a forma expressa.
Note-se, inclusive, que o ordenamento jurídico prevê a produção de efeitos ao silêncio, como se observa do
art. 111 do Código Civil: o silêncio será considerado anuência “quando as circunstâncias ou os usos o
autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”.
Pode-se dizer, ainda, que a manifestação de vontade contém, basicamente, dois momentos:
Interno
Corresponde àquele psicológico, subjetivo. Trata-se do momento em que surge o querer fazer algo.
Externo
É o querer demonstrado, objetivo. Por ser a vontade externada, é essa que, por ser aferível, gerará efeitos
jurídicos (GONÇALVES, 2015, p. 72).
Comentário
Tanto essa afirmação é verdadeira que, havendo desacordo entre a intenção interna (a reserva mental ou
vontade real) do agente e a vontade declarada, esta última é a que, em regra, prevalecerá, segundo dicção do
art. 110 do Código Civil. Tal prevalência somente não ocorrerá quando a outra parte, por qualquer motivo,
conhecer aquela intenção interna contrária à vontade declarada.
Vistos os momentos da formação e externalização da vontade, retome-se a ideia do contrato como um
acordo de vontades. Tais vontades, na disciplina do Código Civil, são a proposta e a aceitação, conforme
disciplinado nos arts.427 a 435.
Nem sempre, contudo, o rígido esquema proposta-aceitação é verificado na prática. Isso porque existem
modalidades de contratos que não dependem, para a sua formação, da referida estrutura. Um exemplo disso
seriam os contratos plurilaterais, como aqueles que conduzem à formação de sociedades empresárias.
Nesses casos, a formação do contrato respectivo não se dá, propriamente, mediante apresentação de oferta
e manifestação de aceitação, já que os interesses das partes aí envolvidas não seriam contrapostos, mas
sim envolveriam fins comuns.
Apenas para ilustrar, tome-se a comparação entre um contrato de compra e venda e um contrato de
formação de sociedade empresária (LOBO, 2014, p. 75):
Contrato de compra e venda
Os interesses são contrapostos, na medida em que uma parte pretende o bem, enquanto a outra pretende o
valor em dinheiro correspondente.
Contrato de formação de sociedade empresária
Todas as partes envolvidas têm como objetivo comum o desenvolvimento da sociedade.
Atenção!
Em outros casos, não é possível a individualização, na relação contratual, do proponente e do destinatário
(também chamado de oblato). Assim, por vezes, essas figuras não são verificadas de maneira bem definida
na relação jurídica.
Pode ser que as manifestações de vontade evoluam em conjunto, como objeto de negociações das partes,
sem que haja uma nitidezentre quem faz a proposta e quem a aceita, como se fossem dois momentos
absolutamente estanques (SCHREIBER et al., 2019, p. 253).
Feitas tais observações, o rígido esquema previsto no Código Civil, embora nem sempre observado na
prática, ainda remanesce útil para fins didáticos. Nesse sentido, deve-se ressaltar que o momento da
proposta já obriga o proponente, segundo o disposto no art. 427, “se o contrário não resultar dos termos
dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”.
Portanto, salvo no caso das expressas exceções constantes do art. 427, deixam de ser obrigatórias as
propostas, ainda, quando sobrevierem as situações previstas no art. 428 do Código Civil.
Segundo a doutrina tradicional, a proposta deve ser “séria e consciente”
(GONÇALVES, 2015, p. 75). Integra a noção de seriedade a necessidade de que a
proposta contenha em si os elementos essenciais para a conclusão no negócio.
Tome-se, por exemplo, um contrato de compra e venda: analisando-se no art. 481 do Código Civil a definição
legal dessa espécie de contrato, nota-se dali que, para a sua formação, é imprescindível a definição acerca
do objeto a ser transferido, bem como do preço correspondente.
Não se considera uma autêntica proposta o oferecimento de um produto a alguém sem que isso esteja
acompanhado do preço respectivo. Trata-se de uma simples manifestação de interesse, sem, contudo, força
de proposta. A manifestação de interesse desprovida de algum dos elementos essenciais à formação pode
ser considerada como algo atinente a negociações preliminares, mas não se tratará de proposta.
Atenção!
Deve-se salientar que a existência de uma proposta não basta para a conclusão de um negócio jurídico.
C à i ã d ê i d
Como ato contraposto à proposta tem-se a aceitação, sendo esta a anuência com os termos da proposta.
Assim, o negócio jurídico será aperfeiçoado com a aceitação, cuja disciplina legal é encontrada nos arts.
430 e seguintes do Código Civil.
Não convém, aqui, analisar em detalhes todos os preceitos reguladores da aceitação. Entretanto, vale
abordar algumas ideias relevantes. Uma delas refere-se às hipóteses em que, excepcionalmente, a
aceitação não terá o condão de conduzir à conclusão do negócio jurídico. Tais são as situações constantes
dos arts. 430 e 433 do Código Civil.
Quanto ao art. 430, para a sua compreensão, há a necessidade de abordar a importância da limitação, no
tempo, da obrigatoriedade da proposta. Vale dizer: uma vez realizada a proposta, o proponente está a ela
vinculado para todo o sempre? Não. Essa limitação temporal da obrigatoriedade da proposta resta bastante
clara quando se analisa o que dispõe o art. 428 do Código Civil. Assim, à luz dos incisos do referido
dispositivo:
Em se tratando de proposta sem prazo efetuada à pessoa presente, aquela deixará de obrigar
o proponente se a aceitação não for imediata (inciso I).
Em se tratando de proposta sem prazo efetuada à pessoa ausente, aquela deixará de obrigar
caso tiver decorrido tempo suficiente para a chegada de eventual resposta ao conhecimento
do proponente (inciso II).
Em se tratando de proposta com prazo fixado à pessoa ausente, aquela deixará de obrigar
caso a resposta não tenha sido expedida dentro do prazo (inciso III).
A proposta deixará de obrigar se antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento do
destinatário a retratação do proponente.
Note que os preceitos acima deixam clara a ideia de que, uma vez feita a proposta, o proponente não fica,
eternamente, à mercê da aceitação do destinatário. Até para fins de segurança jurídica, há necessidade de
uma limitação temporal para a obrigatoriedade da proposta.
Essa ideia é relevante para a compreensão do art. 430 do Código Civil: ainda que a aceitação tenha sido
expedida a tempo, pode ser que, por quaisquer circunstâncias, ela demore a chegar até o proponente. O
largo lapso de tempo decorrido desde a proposta, sem o conhecimento da aceitação, pode ter feito surgir a
justa convicção, no proponente, de que a proposta tenha sido rejeitada, com a respectiva liberação da
obrigação.
Assim:
Tão logo receba extemporaneamente a resposta positiva, se o proponente fizer a imediata
comunicação de tal fato ao aceitante, ficará desvinculado da obrigatoriedade de honrar a sua proposta.
Se deixar de realizar tal comunicação, terá surgido no aceitante uma expectativa frustrada de
conclusão do negócio, o que gerará a responsabilidade do proponente em arcar com eventuais perdas
e danos.
Quanto ao art. 433 do Código Civil, ele dispõe sobre a possibilidade de retratação acerca da aceitação.
Assim, expedida a resposta positiva, pode o aceitante se retratar dessa manifestação de vontade, devendo,
contudo, cuidar para que a retratação chegue ao proponente em momento anterior ou simultâneo ao da
aceitação. Conseguindo fazê-lo, o negócio não terá sido concluído. A aceitação será considerada inexistente
em tais circunstâncias.
Há que se abordar, ainda, mais uma relevante noção quanto à aceitação: a prevista no art. 431 do Código
Civil, que dispõe acerca da situação em que o destinatário da proposta a recebe, mas deixa escoar o prazo
de aceitação sem se manifestar. Entretanto, na situação prevista no dispositivo, em lugar de, após o prazo
escoado, o destinatário manter a inércia, aceita a proposta, porém com adições, restrições ou modificações
à d

à proposta apresentada.
Nesse caso, não se terá por concluído o negócio nas bases originalmente propostas, mas sim a aceitação
com modificações será considerada uma nova proposta. O negócio somente será concluído, então, caso o
proponente originário aceite as novas condições.
Por fim, o art. 435 do Código Civil traz a regra referente ao lugar de celebração do contrato: será o lugar em
que foi proposto.
Oferta ao público
A oferta ao público, prevista no art. 429 do Código Civil, é aquela proposta dirigida a destinatários
indeterminados (SCHREIBER et al., 2019, p. 255), e deve conter os elementos essenciais à conclusão do
negócio.
Assim, retomando o exemplo já dado da compra e venda, o anúncio de determinado produto que não
contenha um dos elementos essenciais de tal modalidade contratual, como o preço, não valerá como oferta
pública e, portanto, não obrigará o proponente.
Atenção!
Note que o dado distintivo da oferta ao público reside no caráter dos seus destinatários, que são
indeterminados, e não na sua essência, já que essa proposta, tal como aquela dirigida a destinatários
determinados, deve conter os elementos essenciais à celebração do negócio jurídico.
Oferta nos contratos de consumo
No âmbito dos contratos de consumo, algo semelhante à disposição é encontrado no Código de Defesa do
Consumidor – CDC (Lei 8.078/90). Em razão da amplitude da aplicação da legislação consumerista, vale a
pena fazer uma análise da formação dos contratos nessa seara, com base no art. 30 do CDC.
Tal dispositivo se aplica tanto às propostas realizadas a pessoas determinadas quanto a indeterminadas, já
que se refere a toda informação ou publicidade e à veiculação por qualquer forma ou meio de comunicação.
Observa-se que a disciplina constante do CDC é muito parecida com aquela do Código Civil no que se refere
ao fato de a veiculação de informação/publicidade obrigar o fornecedor. Entretanto, tal como no regime do
Código Civil, a obrigatoriedade depende de a oferta ser suficientemente precisa, entendendo-se por isso a
necessidade de que a proposta contenha os elementos necessários para a conclusão do negócio.
Formalização da manifestação de vontade
Formalização da manifestação de vontade
Uma vez analisadas as principais modalidades de manifestação de vontade na celebração do negócio
jurídico, vale passar à análise da maneira como se dá sua formalização. Nesse sentido, segundo o art. 107
do Código Civil, na falta de previsão em contrário na legislação, a declaração de vontade não dependerá de
forma especial.
Um exemplo em que a forma especial é exigida pela legislação se dá nos casosde negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor
superior a trinta salários-mínimos, quando, segundo o art. 108 do Código Civil, a escritura pública é
essencial à validade do negócio jurídico.
Atenção!
Ainda que a lei não preveja forma especial para determinado ato, é possível que as partes, como expressão
da autonomia da vontade, determinem uma forma específica para os negócios jurídicos que celebrarem?
Sim, sendo disso que trata o art. 109 do Código Civil. Dessa forma, se as partes estipularem que
determinado negócio somente valerá caso praticado mediante instrumento público, este instrumento
integrará a substância do ato.
Sim! O art. 111 do Código Civil confere relevância jurídica ao silêncio, conferindo a ele o efeito de
anuência, caso não seja necessária a declaração expressa de vontade.
Interpretação dos negócios jurídicos
Não há como conceber o estudo da manifestação da vontade desacompanhado do estudo de sua
interpretação. Trata-se a interpretação de etapa essencial para a compreensão do significado e, por
conseguinte, da definição de seus efeitos. Nesse sentido, devem ser analisados, sobretudo, os arts. 112 e
113 do Código Civil.
Quanto ao que dispõe o art. 112, deve-se salientar que a “interpretação do negócio jurídico (...) não se
restringe ao sentido literal da linguagem, mas deve exprimir a comum intenção das partes por trás das
palavras empregadas.” (SCHREIBER et al., 2019, p. 73-74).
O sentido literal das palavras utilizadas no negócio nem sempre é o que melhor
exprime a intenção das partes ao celebrá-lo. Assim, uma vez aferindo-se que a
E o silêncio? É possível que a manifestação da vontade se dê a partir do silêncio da parte? 
intenção das partes difere daquele sentido mais evidente decorrente da literalidade
da linguagem, aquela intenção deve prevalecer.
Finalizando o presente ponto, de grande importância é a análise do art. 113 do Código Civil, o qual dispõe
acerca da função interpretativa da boa-fé objetiva. Dessa forma, a boa-fé objetiva é um dos fatores
condicionantes da interpretação dos negócios jurídicos.
Atenção!
Importante notar que outra das funções da boa-fé objetiva é a criação de deveres anexos, função essa
extraída do que dispõe o art. 422 do Código Civil. Ou seja, ao lado das condutas estabelecidas pelas partes
ao celebrarem um negócio jurídico, encontram-se condutas impostas pelo ordenamento jurídico. Assim,
decorrem da boa-fé objetiva, dentre outras, as condutas de probidade, lealdade e honestidade.
Conforme o disposto no art. 113 do Código Civil, deve prevalecer a interpretação do negócio jurídico que
melhor se compatibilize com o que impõe a boa-fé objetiva, devendo ser repelidas interpretações, por
exemplo, maliciosas ou que causem significativos prejuízos a uma das partes envolvidas no negócio,
contrariando as noções de probidade, lealdade e honestidade (SCHREIBER et al., 2019, p. 74).
Contratos aleatórios
No vídeo a seguir, o professor Bruno Terra discorre sobre os contratos aleatórios, como identificá-los e
fornece exemplos. Vamos assistir!
Contrato aleatório
A análise dos contratos aleatórios pressupõe uma prévia análise de dois outros conceitos:

Contratos bilaterais


Contratos comutativos
A partir do estudo dos conceitos acima pavimenta-se com mais tranquilidade o estudo do conceito de
contrato aleatório, cuja disciplina legal é encontrada nos arts. 458 a 461 do CC. Seguindo a linha de
raciocínio anteriormente traçada:
Contrato bilateral
A bilateralidade de um contrato diz respeito, sobretudo, aos seus efeitos. Nesse sentido, são bilaterais
aqueles contratos nos quais são previstas obrigações para ambas as partes.
Um exemplo de contrato bilateral é o contrato de compra e venda: nessa espécie de contrato, verifica-se a
existência de obrigações para ambas as partes. Assim, enquanto uma das partes deve entregar o bem, a
outra deve pagar o respectivo preço.
Contrato unilateral
No que diz respeito ao contrato unilateral, são verificadas obrigações para apenas uma das partes
contratantes (PEREIRA, 2015, p.59).
Um exemplo de um contrato unilateral é o contrato de doação. Percebe-se que na doação, a obrigação
envolvida se resume a um dos contratantes, sendo ele o doador que deverá entregar a coisa ao donatário.
Estabelecida a noção de contrato bilateral, passa-se à noção de contrato comutativo. Essa noção é própria
de certos contratos bilaterais e se manifestará quando, nos contratos bilaterais, as prestações de ambas as
partes forem, já de início, conhecidas e determinadas. Há, portanto, uma previsibilidade acerca das
“vantagens e [d]os sacrifícios, que geralmente se equivalem decorrentes de sua celebração, porque não
envolvem nenhum risco.” (GONÇALVES, 2015, p. 96).
Quanto ao contrato aleatório, ele também é um contrato bilateral, já que pressupõe obrigações de ambas as
partes. Ocorre, contudo, que a vantagem de uma das partes não pode ser aferida de antemão. Dessa forma,
ao menos para uma das partes, existe uma álea. A presença de tal álea traz para esse contratante um risco.
P d di l ó i j ídi l i l did
Pode-se dizer que qualquer negócio jurídico envolve risco em alguma medida,
como o risco do inadimplemento de uma das partes. Entretanto, nos contratos
aleatórios, o risco é da essência do contrato.
Assim, já de antemão as partes estão cientes de que as vantagens e sacrifícios decorrentes da celebração
do negócio dependem da ocorrência de evento incerto (PEREIRA, 2015, p.61).
Exemplo
Um exemplo de contrato aleatório, citado por Caio Mário da Silva Pereira, é o contrato de aposta autorizada
em hipódromos: o apostador paga um preço pela aposta sem saber, contudo, o benefício que auferirá. O
hipódromo também não sabe, de antemão, se terá que desembolsar determinado numerário ao apostador,
nem tampouco o valor respectivo (PEREIRA, 2015, p. 61).
Vejamos o que diz o Código Civil quando o risco diz respeito à:
Trata o art. 458 do Código Civil da situação em que o risco envolve a própria existência da coisa: é a
hipótese da “emptio spei ou venda da esperança, isto é, da probabilidade de as coisas ou fatos
existirem” (GONÇALVES, 2015, p. 98). Assim, no caso do art. 458, se o risco envolve a própria
existência da coisa, se uma das partes assumir tal risco, ainda que a coisa não sobrevenha, o preço
ajustado deverá ser pago.
Em relação ao art. 459, trata-se de hipótese em que o risco diz respeito à quantidade da coisa, isto é,
“respeitante à quantidade maior ou menor da coisa esperada, emptio rei speratae ou venda da coisa
esperada” (GONÇALVES, 2015, p. 98). Assim, a alienação subsistirá, ainda que a coisa venha a existir
em quantidade inferior à esperada.
O parágrafo único do art. 459 pontua, contudo, que, se a coisa não vier a existir, não haverá alienação, de
modo que o alienante deverá devolver o preço recebido. Ou seja, no caso do art. 459, o risco envolve a
quantidade da coisa, e não sua existência.
Já o art. 460 do Código Civil refere-se ao caso em que o contrato aleatório se refere a coisas existentes, mas
i id l d i N i d i já ã i i d
Própria existência da coisa 
Quantidade da coisa 
expostas a risco assumido pelo adquirente. Nesse caso, ainda que a coisa já não existisse no momento da
celebração do contrato, em parte ou no todo, o preço deverá ser pago na integralidade.
Atenção!
O art. 461 dispõe que se, no momento da celebração do contrato, o alienante já tinha conhecimento da
consumação do risco, com o perecimento integral ou parcial da coisa, a alienação feita conforme o art. 460
poderá ser anulada.
Contrato preliminar
Como se disse anteriormente, no esquema do Código Civil, a celebração de um contrato depende da
aceitação de uma proposta. Entretanto, pode ser que, a despeito de haver um acordo em relação ao objeto
do contrato, não seja possível, por qualquer motivo, a conclusão do contrato definitivo.
Pode-se citar como exemplo o caso em que a conclusão do negócio dependeda aprovação de um
financiamento: pode ser que, quando celebrado o contrato preliminar, o financiamento em favor do
contratante ainda não tenha sido aprovado. Nesse sentido, em lugar de concluir o contrato definitivo, as
partes fecham um contrato preliminar, prevendo a realização da contratação definitiva em momento futuro.
Dessa forma, por meio do contrato preliminar, as partes se comprometem a celebrar, futuramente, outro
contrato. O contrato futuro, sim, será o principal (PEREIRA, 2015, p. 71).
Um exemplo muito difundido de contrato preliminar é a promessa de compra e venda de bens imóveis.
Pode-se definir o contrato preliminar como sendo aquele “mediante o qual as
partes se obrigam a celebrar outro contrato, em caráter definitivo” (LOBO, 2014, p.
102).
Tendo em vista que o contrato preliminar pressupõe concordância em relação ao objeto e a condições
referentes ao contrato principal, o art. 462 do Código Civil prevê que tal contrato deva conter todos os
requisitos essenciais a contrato futuro a ser celebrado, exceto em relação à forma.
Mas seria o contrato preliminar uma mera “carta de intenções”, sem efeitos obrigatórios? Não! O contrato
li i l d di i d i i d l b ã d d fi i i
preliminar gera para qualquer das partes o direito de exigir da outra a celebração do contrato definitivo, se,
do contrato preliminar, não constar cláusula de arrependimento.
Atividade discursiva
Pode ocorrer de uma das partes exigir a conclusão do contrato, mas a contraparte permanecer inerte,
deixando escoar o prazo sem a celebração definitiva. O que fazer nessa situação?
Digite sua resposta aqui
Exibir Solução
Por fim, acerca da disciplina específica dos contratos preliminares há, ainda, o disposto no art. 466 do
Código Civil, atinente a contratos unilaterais. E o que dali consta é mais uma das demonstrações da
intenção do legislador em fazer com que o promitente de contrato não fique eternamente vinculado a tal
promessa.
Assim, sob pena de ficar sem efeito a promessa de contrato unilateral, deve o credor, no prazo nela previsto,
manifestar seu interesse na efetivação do contrato definitivo. Caso não haja prazo expresso na promessa,
deve o credor manifestar-se no prazo que, razoavelmente, for assinado pelo devedor.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Proposta


Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Formalização da manifestação de vontade
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Fred contratou com Yago a compra da produção de tilápias que este último cultiva em seu açude. A
produção objeto do contrato foi a do mês seguinte ao da avença. Tendo em vista que a produção sempre
variava um pouco de um mês para outro, Fred assumiu o risco de que a produção viesse a existir em
qualquer quantidade.
Infelizmente, pouco após a celebração do contrato e já próximo do dia da pesca das tilápias, a região do
açude foi acometida por uma chuva bastante forte. Isso fez com que muita lama atingisse o açude, o que
matou uma quantidade expressiva de peixes. Assim, a produção daquele mês foi apenas 40% da produção
édi l
média normal.
Insatisfeito com o resultado da produção, Fred pretendeu desfazer o negócio, com o que não concordou
Yago. No caso em questão
A trata-se de hipótese de contrato preliminar.
B
trata-se de hipótese de contrato aleatório, cujo risco de não existir a coisa futura foi
assumido pelo comprador.
C
trata-se de hipótese de contrato aleatório, mas o contrato deve ser desfeito, eis que a
redução da produção foi motivada por força maior.
D
trata-se de hipótese de contrato aleatório, mas, em razão de a quantidade de peixes ter
sido muito inferior à média, o preço a ser pago será proporcional a tal redução.
E
trata-se de hipótese de contrato aleatório, mas, em razão de o comprador ter assumido
que a coisa viesse a existir em qualquer quantidade, terá que pagar todo o preço, em se
considerando que o vendedor não agiu com dolo ou culpa na redução da produção.
Parabéns! A alternativa E está correta.
A alternativa E é a correta, tendo em vista tratar-se o caso de hipótese de celebração de contrato
aleatório, especificamente na modalidade prevista no art. 459 do Código Civil, tradicionalmente
denominada emptio rei speratae, ou venda da coisa esperada.
Assim, segundo essa modalidade de contrato aleatório, o alienante tem direito ao recebimento do
preço integral da coisa, ainda que ela venha a existir em quantidade inferior à esperada. Há a
condição, no dispositivo, de que essa redução na quantidade do bem não tenha sido motivada por
culpa do vendedor.
Questão 2
Lucas inicia tratativas com Mateus, com a finalidade de adquirir um automóvel (antigo e bem conservado,
uma autêntica relíquia) deste último. Momentaneamente, Lucas estava sem dinheiro para comprar o
automóvel, mas sabia que, dali a dois meses, estaria recapitalizado e poderia adquirir o bem.
Assim, ambos firmaram um contrato preliminar, prevendo que, em dois meses, quando Lucas recebesse o
dinheiro para a aquisição do bem, concluiriam o contrato definitivo de compra e venda do veículo.
O contrato não continha nenhuma cláusula de arrependimento. Passados os dois meses e já com o dinheiro
no bolso, Lucas procurou Mateus para, enfim, celebrarem o contrato definitivo. Mateus, contudo, se recusou
a concluir a venda do bem, sob argumento de que havia mudado de ideia, desejando, assim, permanecer
com o automóvel.
Acerca do caso e da modalidade contratual abordada, responda:
A
Lucas nada pode fazer, já que o contrato preliminar é apenas uma espécie de carta de
intenções, sem valor jurídico.
B
Lucas nada pode fazer, já que o contrato firmado é aleatório, de modo que assumiu o risco
de o negócio não ser concluído.
C
Lucas poderá exigir de Mateus a conclusão do contrato, assinando prazo a Mateus para
que o efetive.
D
Lucas nada pode fazer, já que a possibilidade de arrependimento é ínsita ao contrato
preliminar, não havendo a necessidade de disposição expressa nesse sentido.
E
Nos contratos preliminares em geral, uma vez havendo indevida recusa de uma das partes
na conclusão do contrato definitivo, o único caminho a seguir é o pleito de indenização por
perdas e danos, não havendo em nenhuma hipótese a possibilidade de o juiz suprir a
vontade da parte inadimplente.
Parabéns! A alternativa C está correta.
A alternativa correta é a C, tendo em vista que, de acordo com o art. 463 do Código Civil, uma vez
concluído o contrato preliminar, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento,
qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do contrato definitivo, assinando prazo à
f i
2 - Efeitos dos contratos em relação a terceiros
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de analisar algumas das formatações
contratuais cujos efeitos do negócio jurídico atingem a esfera jurídica de terceiros.
Estipulação em favor de terceiro
No vídeo a seguir, o professor Bruno Terra discorre sobre a estipulação em favor de terceiro e fornece
exemplos. Vamos assistir!
Um dos clássicos princípios do direito contratual é a relatividade dos efeitos dos contratos, segundo o qual
os contratos somente produzem efeitos entre as partes.
outra parte para que o efetive.


Note-se que o princípio da relatividade dos efeitos do contrato se compatibiliza com o princípio da
autonomia privada. Trata-se a autonomia privada do “poder jurídico conferido pelo direito aos particulares
para autorregulamentação de seus interesses, nos limites estabelecidos” (LOBO, 2014, p. 55).
Portanto, se o contrato se traduz na autorregulamentação dos seus interesses pelas próprias partes, lógico
será que essa autorregulamentação somente vincule, em regra, as partes nela envolvidas.
Sendo assim, a fim de que determinado contrato produza efeitos em relação a terceiros, lógico será que
esse terceiro emita vontade nesse sentido, expressando o seu consentimento.Portanto, sob a ótica
tradicional, o contrato somente produz efeitos em relação a terceiro, caso este terceiro manifeste
consentimento para tanto.
O exemplo tradicional de exceção a isso é a previsão da estipulação em favor de terceiro (KONDER,
BANDEIRA E TEPEDINO, 2020, p. 40), que, no atual Código, é regulada pelos arts. 436 a 438.
Qual é a estrutura da estipulação em favor de terceiro? Segundo ela, o estipulante estabelece com outra
pessoa (promitente) um benefício ou vantagem a terceiro, que não faz parte da relação contratual
(GONÇALVES, 2015, p. 118).
Trata-se de negócio jurídico firmado entre o estipulante e o promitente por meio do
qual os efeitos benéficos do contrato são estabelecidos em favor do terceiro
(beneficiário). O beneficiário se torna, assim, credor da avença, ainda que dela não
faça parte (GONÇALVES, 2015, p. 119).
Exemplo
No contrato de seguro de vida, o segurado celebra contrato com o segurador, segundo o qual o valor
estabelecido será pago em favor do beneficiário apontado.
Segundo o Código Civil, o estipulante pode:
1. exigir, em face do promitente, o cumprimento da obrigação em favor do terceiro (art. 436);
2. “reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência
d d ” ( 438) N id há ibilid d d b i i ã d i i
e da do outro contratante” (art. 438). Nesse sentido, há a possibilidade de substituição do terceiro, e isso
pode ocorrer sem sua anuência, se ao estipulante reserva-se esse direito.
Saiba mais
De acordo com o parágrafo único do artigo 438, essa substituição do terceiro pelo estipulante pode ocorrer
por ato entre vivos ou por disposição de última vontade. Não há necessidade de nenhuma formalidade
especial para se realizar a substituição: basta que a outra parte seja comunicada da substituição, a fim de
que o pagamento possa ser feito à pessoa correta (GONÇALVES, 2015, p. 124).
No que se refere à possibilidade de o estipulante exonerar o devedor da obrigação, isso não será possível se
ao terceiro for reconhecido o direito de reclamar a execução do contrato, conforme art. 437 do Código Civil.
Nesses casos, ao se reservar ao terceiro a possibilidade de reclamar a execução, estar-se-á tornando
irrevogável a estipulação.
Por sua vez, ao terceiro beneficiário também é permitido exigir o cumprimento da obrigação caso anua aos
termos do contrato (parágrafo único do art. 436 do Código Civil). Isso, porém, somente será possível se o
estipulante não promover a substituição do beneficiário nos termos do disposto no art. 438.
Por fim, deve-se aproveitar a oportunidade para ressaltar que a tradicional colocação da estipulação em
favor de terceiro, como uma das poucas exceções ao princípio da relatividade dos contratos, deve ser
readequada à luz dos atuais princípios contratuais ora vigentes no ordenamento.
Afinal, atualmente, não se concebe que o princípio da relatividade dos efeitos do contrato faça com que uma
relação contratual seja considerada de forma totalmente isolada, como se fosse inteiramente imune a
interferências externas. Disso resulta que o próprio Código Civil condiciona a liberdade de contratar à sua
função social (art. 421) e à boa-fé objetiva (art. 422).
Quanto à incidência da boa-fé objetiva sobre os contratos, esta impõe “aos contratantes e a terceiros o
respeito a efeitos contratuais que, sendo do conhecimento público, tornam-se bem jurídico digno de
proteção por toda sociedade.” (KONDER, BANDEIRA E TEPEDINO, 2020, p. 40).
Estando submetidas as relações contratuais aos efeitos da boa-fé objetiva, esta também impõe a terceiros o
dever de respeitar certos efeitos contratuais.
O princípio da relatividade dos efeitos do contrato deve ser relido à luz dos demais
princípios que regem as relações contratuais.
De qualquer modo, como já dito, mesmo sob um ponto de vista mais tradicional do Direito Civil, em que o
princípio da relatividade dos contratos é entendido de maneira mais intensa, à estipulação em favor de
terceiros vem sendo tradicionalmente colocada uma exceção ao referido princípio.
Promessa de fato de terceiro
A promessa de fato de terceiro se encontra regulada pelos arts. 439 a 440 do Código Civil, e consiste na
“obrigação assumida pelo promitente em face do promissário de obter certa obrigação de um terceiro.”
(SCHREIBER et al., 2019, p. 261). Portanto, o promitente assume a obrigação, perante o promissário, de que
obterá de terceiro a realização de determinada prestação (SCHREIBER et al., 2019, p. 261).
Um exemplo dado por Carlos Roberto Gonçalves é sobre aquela pessoa que promete levar um cantor de
renome a uma casa de espetáculos, sem que tivesse obtido sua prévia concordância. Assim, no momento
da promessa, sequer havia a concordância do artista. (GONÇALVES, 2015, p. 126).
Nesse sentido, à luz do art. 439, e tomando-se o exemplo do cantor, se o artista não comparecer à casa de
espetáculos, frustrando o que havia sido prometido, responderá o promitente por perdas e danos.
Atenção!
Importante notar que a situação se refere a uma obrigação de fim, não de meio: o promitente responderá
pela promessa frustrada ainda que envide todos os esforços no sentido de honrá-la, sem sucesso.
O parágrafo único do art. 439 apresenta uma única hipótese de exceção:
quando o terceiro é cônjuge do promitente, dependendo da anuência do promitente o ato a ser praticado
e desde que, em razão do regime de bens, a indenização venha a recair sobre os bens de tal terceiro.
Com essa disciplina do parágrafo único, pretendeu o Código excluir, por completo, qualquer possibilidade de
prejuízo ao terceiro que não consentiu com o fato prometido (SCHREIBER et. al., 2019, p. 261). Assim, se a
indenização puder recair sobre o patrimônio do cônjuge que não consentiu, a responsabilidade do art. 439
ã i i á
não existirá.
Já o art. 440 estipula que o promitente estará exonerado de responsabilidade caso o terceiro, após se
obrigar a realizar o prometido, frustre a obrigação. Ou seja, se o próprio terceiro se obrigar a realizar o
prometido, eventual inadimplemento passa a ser de responsabilidade deste, com a exoneração do
promitente.
Quanto à promessa de fato de terceiro, vale citar uma interessante decisão prolatada pelo STJ no REsp.
249.008/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministro Vasco Della Giustina, j. 24.08.2010:
No caso, a Confederação Brasileira de Futebol-CBF celebrou contrato de transmissão dos
jogos do Campeonato Brasileiro com a TVA Sistema de Televisão.
Sabe-se que os titulares dos direitos de transmissão são os clubes, não a CBF, conforme
disposto no art. 24 da Lei 8.672/93.
Assim, quando a CBF celebrou o referido contrato, prometeu à emissora que os clubes
autorizariam a transmissão.
Entretanto, os clubes não anuíram com os termos estabelecidos.
Nesse sentido, foi entendido que, nos termos do contrato, competiria à CBF obter a
autorização dos clubes para a transmissão.
f h d à b l d d l
Contrato com pessoa a declarar
O contrato com pessoa a declarar se encontra disciplinado nos arts. 467 a 471 do Código Civil. Trata-se de
situação na qual, no momento da conclusão do contrato, uma das partes reserva-se a faculdade de indicar
pessoa (o electus) que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações decorrentes da avença (art. 467).
Exemplo
Uma forma de aplicação prática disso se dá quando alguém tem interesse em adquirir determinado imóvel.
Porém, o interessado sabe que, por alguma condição pessoal sua, caso manifeste tal interesse junto ao
vendedor, este elevará o valor da venda.
Assim, uma outra pessoa celebra o negócio, havendo a previsão no contrato de que a parte compradora
poderá nomear outrem para adquirir os direitos e assumir as obrigações decorrentes da avença. Neste
exemplo, aquele interessado poderá ser a pessoa a ser nomeada, valendo-se das condições originalmente
estipuladas, como se fosse o contratante desde o início (GONÇALVES, 2015, p. 174).
O art. 468 do Código Civil estipula o prazo no qual deve haver a comunicação da indicaçãode outra pessoa:
cinco dias contados da conclusão do contrato.
Entretanto, é possível que haja no contrato a previsão de prazo distinto.
Por sua vez, o parágrafo único do art. 468 do CC disciplina que a aceitação da pessoa nomeada somente
será eficaz caso seja revestida da mesma forma utilizada para a celebração do contrato.
O art. 469 reforça a ideia de que os direitos e obrigações serão assumidos pela pessoa nomeada com
efeitos retroativos ao do momento em que foi celebrado o negócio originário, ou seja, o nomeado assume
os direitos e obrigações do contrato como se dele fizesse parte desde a origem.
O art. 470, por sua vez, estipula quando, apesar da previsão de possível nomeação, o contrato se manterá
fi l ã i i á i Sã l
Como essa autorização não ocorreu, foi reconhecida à CBF a responsabilidade pela reparação
dos danos à emissora daí decorrentes.
eficaz somente em relação aos contratantes originários. São elas:
1. Quando não houver a indicação;
2. Quando houver a indicação, mas o nomeado a recursar;
3. Quando o estipulante nomeia alguém insolvente e a outra parte desconhecia tal situação econômica.
O art. 471, por sua vez, repete, em parte, o disposto no art. 470 ao estatuir, novamente, que o contrato
produzirá efeitos somente entre os contratantes originários caso haja insolvência da pessoa a nomear.
Entretanto, traz uma novidade em relação ao artigo anterior, já que estipula o momento em que a insolvência
deve ser considerada para fins de incidência do art. 471: o da nomeação. Assim, se nesse momento a parte
era insolvente, o contrato somente produzirá efeitos entre as partes originárias. Logo, tal efeito não será
produzido caso o estado de insolvência tenha surgido em momento posterior.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Promessa de fato de terceiro
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Contrato com pessoa a declarar

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
João, em termo de acordo de separação judicial consensual homologado em juízo, promete à sua ex-
esposa, Daniela, que transferirá um de seus imóveis para o nome dos filhos do casal. A promessa realizada
se enquadra como
A promessa de fato de terceiro.
B contrato com pessoa a declarar.
C estipulação em favor de terceiro.
D evicção.
E contrato aleatório.
Parabéns! A alternativa C está correta.
O caso em questão se enquadra na hipótese prevista no art. 436 do Código Civil. Afinal, o negócio
jurídico celebrado com sua ex-esposa (o termo de separação homologado em juízo) estipula uma
vantagem em favor de terceiros, isto é, os filhos do casal.Questão 2
Bernardo possui uma prestigiada casa de shows, a SEMPRE SHOW. Certa vez, recebe Manuel para uma
reunião. Ao fim, celebram contrato por meio do qual Manuel promete a Bernardo que Sérgio Andrade,
famoso cantor, realizará um concerto na SEMPRE SHOW.
Manuel, que não possui qualquer vínculo jurídico com o cantor, procura Sérgio Andrade, para informá-lo do
show. Sérgio, surpreso com a história, em momento algum se compromete a comparecer ao evento. Mesmo
diante de toda a insistência de Manuel, Sérgio mantém-se resoluto na recusa ao show. Assim, não há show
na data aprazada. Bernardo, então, nega-se a pagar qualquer valor a Manoel e, ainda, ingressa na Justiça
pleiteando perdas e danos.
No caso narrado
A o contrato celebrado entre Bernardo e Manuel é com pessoa a declarar.
B
na verdade, Bernardo é quem deveria pagar a Manuel, já que este apenas se comprometeu
com a atividade-meio de envidar esforços para convencer o cantor a fazer o show, e não
com a atividade-fim.
C
Bernardo não tem direito a qualquer valor, já que assumiu o risco de contratar com alguém
que não era o prestador final do serviço.
D
Manuel, por ter prometido fato de terceiro, responderá por perdas e danos, já que Sérgio
jamais se comprometeu a fazer o show.
E
o contrato celebrado entre Bernardo e Manuel se enquadra no conceito de contrato
preliminar.
Parabéns! A alternativa D está correta.
A alternativa D é a correta, já que se aplica ao caso o disposto no art. 439 do Código Civil, o qual
preceitua que o promitente de fato de terceiro responderá por perdas e danos, caso o terceiro não
execute o prometido. Aplica-se, ainda, a contrario sensu, o art. 440, já que o cantor, em momento
l li ã d i
3 - Vícios redibitórios e evicção
Ao �nal deste módulo, você deverá ser capaz de listar as regras acerca do vício redibitório e
da evicção.
Vícios redibitórios
No vídeo a seguir, o professor Bruno Terra discorre sobre os vícios redibitórios e suas espécies.
O que ocorre se, estabelecido um contrato de compra e venda, a coisa vendida, já no momento da alienação,
apresenta defeito oculto que vem torná-la inútil ou com valor muito depreciado? A resposta jurídica a esse
problema é encontrada no regramento acerca dos vícios redibitórios, cuja disciplina no Código Civil consta
d 441 446
algum, se comprometeu a realizar a prestação do serviço.


dos arts. 441 ao 446.
Segundo Caio Mário, define-se por vício redibitório o “defeito oculto de que portadora a coisa objeto de
contrato comutativo, que a torna imprópria ao uso a que se destina ou lhe prejudica sensivelmente o valor”
(PEREIRA, 2015, p. 107). É isso, basicamente, o que consta do art. 441, caput.
Atenção!
Note-se que a definição legal menciona que a hipótese de vícios redibitórios é fenômeno passível de ocorrer
em contratos comutativos. Nesse sentido, vale retomar o sentido do termo, tratando-se de noção aplicada
aos contratos bilaterais nos quais as obrigações de ambas as partes sejam conhecidas e determinadas,
permitindo-se, assim, a aferição, de antemão, dos riscos envolvidos no negócio.
Verifica-se que o vício redibitório é situação que frustra a previsibilidade própria
dos contratos comutativos, já que uma das partes, sem que tivesse assumido o
risco disso, recebe coisa imprestável ou com valor diminuído. Logo, é cabível que,
nessas situações, seja a coisa enjeitada (ou seja, rejeitada).
É importante mencionar que o parágrafo único do art. 441 estende os efeitos do vício redibitório para os
contratos de doação onerosa, já que tais contratos representam encargos ao donatário.
Embora o art. 441 mencione serem os vícios redibitórios um fenômeno referente aos contratos comutativos,
entende-se que sua disciplina pode ser estendida aos contratos aleatórios desde que referentes aos
elementos não aleatórios do contrato, conforme o Enunciado 583 da VII Jornada de Direito Civil (SCHREIBER
et al., 2019, p. 262).
A lógica disso reside no fato de que, quanto aos elementos não aleatórios desses contratos, não foi
assumido o risco de inutilidade ou depreciação do valor da coisa.
O art. 441 preceitua que a coisa imprestável ou depreciada pelo vício oculto pode ser enjeitada, termo que
pode ser lido por rejeitada. Assim, o contrato pode ser redibido, o que significa a sua extinção com o retorno
das partes ao status quo ante, sendo devolvida a coisa e restituído o preço (SCHREIBER et al., 2019, p. 262).
O art. 442, por sua vez, preceitua que, caso permaneça o interesse na coisa, mesmo com a depreciação,
pode o adquirente pleitear o abatimento do preço em lugar de redibir o contrato.
Atividade discursiva
Quais os vícios da coisa que ensejam a redibição do contrato ou o abatimento do preço?
Digite sua resposta aqui
Exibir Solução
Exemplo
No que diz respeito a vício aparente, podemos citar a aquisição de um carro com avaria na lataria: muito
provavelmente, o valor da transação foi reduzido. Assim, como a avaria já foi levada em consideração na
celebração do contrato, ela não dará ensejo à redibição do contrato.
Se o vício fosse oculto, contudo, tal característica impediria que ele fosse levado em consideração na
celebração do negócio. Aí sim cabe a aplicação das regras dos vícios redibitórios. Além disso, não será vício
de qualquer montaque conduzirá à aplicação das regras atinentes aos vícios redibitórios.
Deve-se reforçar a noção constante do art. 441 do Código Civil no sentido de que somente os vícios que
conduzirem à imprestabilidade do bem ou à redução significativa de tal valor darão ensejo à aplicação de
tais regras.
Quando o defeito surgir após a alienação, não é cabível a aplicação das regras dos

vícios redibitórios. Para que haja essa aplicação, os vícios, ainda que não
manifestados, já devem existir no momento da alienação.
Atenção!
Note que não há que se confundir ocorrência do defeito com manifestação do defeito: se o defeito já existia
no momento da alienação, mas ele somente se manifestou posteriormente, trata-se, assim, de vício que era
oculto no momento da alienação, ensejando, pois, a aplicação das regras atinentes aos vícios redibitórios.
Entretanto, se não havia defeito, ocorrendo este apenas após a alienação, não estaremos, aí, em um campo
propício à aplicação das referidas regras.
Não! A aplicação das regras dos vícios redibitórios ocorrerá quer o alienante conheça ou não o
defeito oculto da coisa.
Uma vez que o alienatário pleiteie a redibição do contrato, com o retorno ao status quo ante, a alegação de
defesa consistente no desconhecimento do dano por parte do alienante não deve prosperar.
Entretanto, o conhecimento que o alienante tem do defeito da coisa possui uma repercussão, sendo essa
prevista no art. 443 do Código Civil:
Se o alienante conhecia o defeito, deverá não somente restituir o que recebeu, mas, também, arcar com
as perdas e danos.
Se o alienante não conhecia o dano, apenas restituirá o valor da coisa, acrescido das despesas do
contrato.
Por sua vez, o art. 444 é bastante contundente ao fixar que o relevante para a aplicação da responsabilidade
do alienante é a existência do vício no momento da alienação, ainda que a manifestação do defeito tenha se
desvelado, apenas, em momento posterior, quando o bem já se encontrava em poder do alienatário.
Há que se levar em conta, porém, que a possibilidade de desfazimento do negócio com base em vício
redibitório é um fator gerador de instabilidade nas relações jurídicas. Nesse sentido, não há como as partes
ficarem eternamente sujeitas a tal possibilidade.
O fato de o alienante conhecer o vício oculto no momento da alienação repercute na
possibilidade ou não de redibir o contrato? 

Seguindo essa lógica, o art. 445 do Código Civil estipulou os prazos dentro dos quais o adquirente pode
obter a redibição do contrato ou o abatimento do preço.
Importa ressaltar que, já no início do art. 445, a lei utiliza o termo decai.
Sendo assim, os prazos constantes do art. 445 são prazos de caráter decadencial. E quando falamos de
prazos decadenciais, devemos notar que o direito a ser exercido no referido prazo é um direito potestativo,
“impondo-se sobre a esfera jurídica do alienante sem possibilidade de resistência” (SCHREIBER et al., 2019,
p. 264).
Assim, em regra, os prazos serão contados a partir da entrega efetiva da coisa. Como estabelecido no caput,
o prazo decadencial para tais ações será de:
Bens móveis
30 dias
Bens imóveis
Um ano
Se, no momento da alienação, o alienatário já se encontrava na posse do bem, os prazos previstos no caput
serão reduzidos à metade. Essa redução do prazo se justifica na medida em que, desde o momento em que
se iniciou a posse, já era possível em tese, ao adquirente, constatar o vício do bem.
Mas e se, pela natureza do vício, ele só puder ser conhecido em momento posterior à efetiva entrega? Isto é,
e se, pelas características do vício, a sua manifestação somente puder ser conhecida em momento
posterior?
Vejamos um exemplo:
Um particular, dono de um automóvel, ao perceber que o veículo tinha um defeito no interior
do motor, fez um reparo utilizando material de baixíssima qualidade. Em suma, utilizou-se
daquilo que, popularmente, denomina-se gambiarra, mas que possibilitou que o carro
funcionasse por algum tempo. Feita a gambiarra, resolveu vender o carro.
O comprador começou a utilizar o carro, mas, somente depois de decorrido o prazo
decadencial de 30 dias do caput, manifestou-se o defeito com a quebra da peça de baixa
qualidade. Porém, os efeitos de tal quebra se estenderam para além da peça utilizada,
afetando o motor como um todo e tornando-o imprestável.
Na hipótese, o que se deve fazer, eis que, repita-se, já escoou o prazo previsto no caput?
Em casos assim, é extremamente injusto que o comprador fique sem possibilidade de se valer das regras
próprias do vício redibitório. Claro é que a imprestabilidade do bem, embora decorrente de defeito
manifestado apenas depois de escoado o prazo decadencial, teve origem no vício original, mal reparado
pelo alienante.
O Código Civil conferiu, assim, a solução no § 1º do art. 445, estabelecendo que os prazos decadenciais
previstos no caput somente serão contados a partir da ciência acerca do vício em até 180 dias para bens
móveis e um ano para imóveis.
Mas o § 1º merece uma explicação um pouco mais alongada. Isso porque, além de dispor sobre o termo
inicial da contagem do prazo nos casos de que trata, ele menciona que sua aplicação deve se dar até o
prazo máximo de 180 dias em caso de bens móveis; e de um ano, para os imóveis. Mas o que isso quer
dizer, exatamente?
A adequada interpretação desse dispositivo foi conferida pelo Enunciado 174 da III Jornada de Direito Civil,
segundo o qual a aplicação do caput do art. 445 se dará caso os vícios ocultos se revelem no prazo de 180
dias para bens móveis, e de um ano para bens imóveis. Caso os vícios se revelem após tais prazos, o
adquirente não mais poderá se valer das regras referentes aos vícios redibitórios.
As limitações de prazo constantes do § 1º se prestam a evitar que sobre o negócio jurídico paire um eterno
risco de desfazimento em razão de vícios redibitórios.
Atenção!
Deve-se ressaltar que a disciplina no Código de Defesa do Consumidor-CDC é um pouco distinta em relação
à d § 1º d 445 É b d d 26 § 3º d CDC di i li d d i l
à do § 1º do art. 445. É bem verdade que o art. 26, § 3º, do CDC disciplina que o prazo decadencial para
reclamar pelos vícios ocultos da coisa se inicia, apenas, com a evidenciação (isto é, a ciência) do defeito.
Porém, diferentemente do § 1º do art. 445, o § 3º do art. 26 não estipula um prazo dentro do qual a ciência
acerca do defeito deva ocorrer.
Por fim, deve ser analisado o caso em que no negócio jurídico há cláusula de garantia. A disciplina é
conferida pelo art. 446, segundo o qual os prazos decadenciais previstos no art. 445 não correrão na
constância da cláusula de garantia.
Assim, se, por convenção das partes, for estabelecida cláusula de garantia com prazo para que o alienante
se responsabilize por defeitos do bem, durante esse período não correrão os prazos do art. 445.
Logo, os prazos do art. 445 somente passarão a correr após o término do prazo da garantia. Entretanto, uma
vez descoberto o defeito, deve o adquirente denunciá-lo no prazo de 30 dias, sob pena de decadência
(SCHREIBER et al., 2019, p. 265).
Evicção
Suponhamos a seguinte situação: Caio vende a Tício um imóvel. Posteriormente, sobrevém decisão judicial
reconhecendo que Caio, que pensava ser o proprietário do bem, não o era. O real proprietário era Mévio.
Diante disso, Tício perde o imóvel em favor de Mévio.
Eis uma típica hipótese de evicção, assim definida por Carlos Roberto Gonçalves:
Evicção é a perda da coisa em virtude de sentença judicial, que a atribui a
outrem, por causa jurídica preexistente ao contrato.
(GONÇALVES, 2015, p. 142)
Portanto, depois de celebrada a alienação, é reconhecido judicialmente o direito preexistente de um terceiro
b i
sobre a coisa.
O art. 447 dispõe que o alienante (Caio, no exemplo) responde pela evicção. E qual o fundamento disso? O
fundamento reside no fato de que o alienante não tem obrigação, apenas, de entregar o bem, mas, também,
“a [de] garantir-lhe o uso e o gozo” (GONÇALVES, 2015,p. 142).
Nesse sentido, tomando-se novamente o exemplo dado, Tício (o evicto) adquiriu onerosamente de Caio um
imóvel. Entretanto, em virtude do fenômeno da evicção, que favoreceu Mévio (o evictor), Tício não poderá
fazer uso do bem. Segundo o art. 447, Caio, o alienante, responderá pela evicção.
Comentário
Note que a lógica da evicção se aproxima, em certa medida, da lógica do vício redibitório. Isso porque
ambos os institutos se fundamentam no princípio da garantia. Nos dois casos, o alienante responderá pela
frustração, experimentada pelo adquirente, da utilidade do bem (PEREIRA, 2015, p. 117).
Para a ocorrência da evicção, é necessária a coexistência das seguintes situações:
1. A perda da coisa em relação a um terceiro não participante da relação contratual;
2. Uma sentença, em razão da qual é acarretada a perda da coisa;
3. Anterioridade do direito do terceiro: o direito do terceiro que fundou a sentença deve ser fundado em
“causa preexistente ao contrato pelo qual se operou a aquisição do direito do evicto” (PEREIRA, 2015, p.
117).
Apenas faz-se uma ressalva em relação ao requisito constante da alínea b): há decisões que reconhecem
que é prescindível que a perda da coisa se dê mediante decisão judicial, sendo reconhecida a hipótese de
evicção em caso de perda da coisa por decisão administrativa, conforme decidido no REsp 1.342.145/SP, 3ª
Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 04.12.2014 (SCHREIBER et al., 2019, p. 266).
A evicção é uma garantia prevista em lei. Assim, tal garantia prevalecerá, mesmo se omisso o contrato com
relação ao tema. Entretanto, segundo o art. 448, as partes podem dispor, mediante cláusula expressa, de
maneira diferente do que prescreve a lei.
Segundo o art. 448, podem as partes “reforçar, diminuir ou excluir a
responsabilidade por evicção.”
Note que o próprio Código Civil, no art. 449, mitiga os efeitos da cláusula de exclusão da garantia prevista no
art. 448. Como se infere do art. 449, se, não obstante existir cláusula de exclusão da responsabilidade, o
evicto não tiver ciência do risco específico de evicção, o alienante terá o direito de receber o preço que
pagou pela coisa evicta.
Exemplo
Podemos citar a existência de uma ação reivindicatória já em curso. Assim, segundo o art. 449, se o evicto
não souber da existência dessa reivindicatória ou, ainda que o saiba, não assumir o risco respectivo, terá
direito a receber do alienante o valor pago pela coisa.
Os valores a serem ressarcidos ao evicto, salvo estipulação em contrário, constam do art. 450 do Código
Civil. Assim, devem ser ressarcidos ao evicto:
1. O valor integral do bem ou das quantias que já pagou;
2. A indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
3. A indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
4. As custas e os honorários do advogado constituído pelo evicto.
O parágrafo único do art. 450 traz disposição acerca da quantificação de tais valores.
Assim, à luz do referido dispositivo, o valor da coisa a ser considerado será aquele do momento em que a
coisa se envenceu, ou seja, de quando se operou a evicção. Assim, se no momento do contrato a coisa valia
100, mas no momento da evicção ela tinha se valorizado em 20%, o preço da coisa a ser considerado é 120.
O art. 451 dispõe que a garantia por parte do alienante, pela evicção, permanece, ainda que a coisa alienada
esteja deteriorada. Tal garantia não subsistirá, contudo, em caso de dolo do adquirente na deterioração da
coisa. Se houver tal dolo, “afasta-se a garantia em repúdio à má-fé do adquirente” (SCHREIBER et al., 2019,
p.267).
O art. 452, por sua vez, estabelece que, se o adquirente tiver auferido vantagem das deteriorações e não tiver
sido condenado a indenizá-las, o valor dessas vantagens será deduzido do valor a ser a ele ressarcido pelo
alienante.
Exemplo
O adquirente vendeu material de demolição. Não sendo condenado a indenizar tal valor ao terceiro evictor, o
valor respectivo deverá ser deduzido do ressarcimento que receberá do alienante. E isso ocorre porque a lei,
ao mesmo tempo em que quer evitar o prejuízo do adquirente, também não quer que a evicção seja fonte de
seu enriquecimento (PEREIRA, 2015, p. 122).
Atividade discursiva
Tome-se a hipótese em que o adquirente, uma vez utilizando o bem, nele faça intervenções para conservá-lo
(benfeitorias necessárias) ou para melhorá-lo (benfeitorias úteis). Nesse caso, o alienante deverá ressarcir
os valores respectivos?
Digite sua resposta aqui
Exibir Solução
E se a evicção for parcial? Qual será a solução conferida?
O art. 455 dispõe que:

Se a evicção for parcial, mas considerável, poderá a parte optar entre a rescisão do contrato e
a restituição da parte do preço correspondente.
Se a evicção não for considerável, somente caberá o direito à indenização correspondente à
parcela evicta.
Atenção!
Note que, pelas soluções conferidas pelo Código, o legislador entendeu que seria desproporcional uma
rescisão do contrato decorrente de evicção que não atinja parte significativa do valor do bem.
Por fim, o Código, no art. 457, dispõe que o adquirente não pode demandar pela evicção se sabia que a
coisa era alheia ou litigiosa. Ou seja, tal ciência “implica assunção do risco de uma futura evicção da coisa,
atribuindo caráter aleatório ao contrato.” (SCHREIBER et al., 2019, p. 268). Nesse sentido, tais circunstâncias
já teriam sido levadas em consideração por ocasião da celebração do negócio jurídico.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Vícios redibitórios
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Evicção
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Maria adquiriu de João uma casa e, imediatamente após a aquisição, passou a nela residir. Um mês após
fixar residência, Maria percebeu o surgimento de algumas rachaduras nas paredes. Ato contínuo, chamou
um engenheiro para apurar o que estava ocorrendo. O profissional, em laudo por ele assinado, atestou que a
estrutura do imóvel se encontrava avariada, necessitando de reparos bastante vultosos.
Constatou, ainda, que, embora somente manifestado quando Maria já ocupava o imóvel, o defeito na
estrutura da construção já remontava a período anterior à alienação. Não foi produzida, porém, qualquer
prova no sentido de que João, o vendedor, soubesse do vício. Maria ingressou com demanda em face de
João, enjeitando a coisa, pleiteando fosse o contrato redibido. Quais verbas Maria terá direito de receber de
João?
A As despesas do contrato com perdas e danos.
B Somente o valor por ela pago.
C Somente as despesas do contrato.
D O valor por ela pago, com perdas e danos.
E O valor por ela pago, mais as despesas do contrato.
Parabéns! A alternativa E está correta.
Trata-se de hipótese regida pelo art. 443, 2ª parte, do Código Civil. Como mencionado no
enunciado, não houve prova no sentido de que João soubesse do vício. Dessa forma, segundo o
dispositivo indicado, as únicas verbas a serem pagas pelo alienante à alienatária são o valor pago,
mais as despesas referentes à celebração do contrato.
As perdas e danos somente seriam cabíveis caso o alienante já conhecesse os vícios da coisa
por ocasião da alienação.
Questão 2
Maria adquiriu de João um imóvel, mediante contrato com cláusula de exclusão de responsabilidade pela
evicção. Maria, imediatamente após a alienação, foi nele residir. Ao alienar o bem, João desconhecia o fato
de que, sobre o imóvel, corria ação reivindicatória ajuizada por Pedro. Em momento posterior à alienação do
imóvel de João a Maria, a ação reivindicatória foi julgada procedente, sendo reconhecida, portanto, a
propriedade de Pedro sobre o bem.
Maria, assim, ingressou com demanda em face de João, suscitando a aplicação das regras atinentes à
evicção. Nesse sentido
A
Maria não tem direito a verba alguma, já que o contratocelebrado por ela com João
continha cláusula de exclusão da responsabilidade por evicção.
B
a cláusula de exclusão de responsabilidade por evicção é proibida pela lei, de modo que
Maria tem direito ao valor por ela pago, além de perdas e danos.
C Maria não tem direito a verba alguma, já que João sequer sabia da ação reivindicatória.
D
por conta da existência de cláusula de exclusão de responsabilidade, somente são
devidos a Maria as perdas e os danos.
E
não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, Maria tem direito a receber
o preço que pagou pela coisa evicta, já que não conhecia o risco específico da evicção.
Parabéns! A alternativa E está correta.
A alternativa E é a correta, tendo em vista que o art. 449 prevê que “não obstante a cláusula que
l i i i ã d di i i d b
Considerações �nais
Como vimos, há regras atinentes à proposta e à aceitação. Tais momentos, o Código Civil considera
essenciais para a celebração dos negócios jurídicos, mas eles nem sempre aparecem de maneira clara e
estanque na prática das negociações que antecedem a formação dos contratos.
Entretanto, o esquema constante do Código tem o mérito pedagógico de facilitar a compreensão das fases
antecedentes à formação do negócio jurídico. Ademais, em razão da presença do elemento aleatório, nem
sempre os riscos e benefícios de um negócio jurídico são previsíveis de plano.
A incerteza quanto aos benefícios e sacrifícios decorrentes da celebração do contrato é inerente aos
contratos aleatórios. E, embora os contratos preliminares não sejam o negócio jurídico principal a ser
firmado, não se trata de mera carta de intenções, e sim de documento dotado de relevantes efeitos
jurídicos.
Nos casos de estipulação em favor de terceiro; promessa de fato de terceiro; contrato com pessoa a
declarar, o contrato celebrado produz relevantes efeitos em relação a terceiros não contratantes.
Por fim, vícios redibitórios e a evicção consistem em mecanismos jurídicos tendentes a mitigar os efeitos da
frustração do fim do contrato, tendentes à garantia de consecução das finalidades dos contratos.
Podcast
Agora, com a palavra o professor Bruno Terra, mestre em Direito e doutorando em Direito Civil, apresentando
questões práticas sobre o conteúdo estudado. Vamos ouvir!
exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem o direito o evicto de receber o preço que
pagou pela coisa evicta, se não soube do risco de evicção”. No caso, conforme o enunciado da
questão, essa informação não foi prestada à alienatária.
Tampouco é relevante o fato de o alienante desconhecer o risco de evicção no momento da
alienação. Isso porque a lei não excepciona a responsabilidade nesses casos.

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Referências
AMARAL, F. Direito civil: introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014.
GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro. v. 3. Contratos e atos unilaterais. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
KONDER, C.; BANDEIRA, P. G.; TEPEDINO, G. Fundamentos do direito civil: contratos. Rio de Janeiro: Forense,
2020.
LOBO, P. Direito civil: contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de direito civil, v. III. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
SCHREIBER, A. et al. Código Civil comentado – doutrina e jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
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interpretação dos contratos no direito brasileiro.
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seus conceitos básicos.
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