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Ciência Política e Economia

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CIÊNCIA POLÍTICA 
E ECONOMIA
PROF.ª DOUTOR GABRIEL CUNHA SALUM 
PROF.ª MS. ANA LÍVIA CAZANE
SUMÁRIO
AULA 01 
AULA 02 
AULA 03 
AULA 04 
AULA 05 
AULA 06
AULA 07 
AULA 08 
AULA 09 
AULA 10 
AULA 11 
AULA 12
AULA 13 
AULA 14 
AULA 15 
AULA 16
INTRODUÇÃO GERAL ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS 4
O QUE É POLÍTICA? 11
CIÊNCIAS SOCIAIS E CIÊNCIAS POLÍTICAS 18
CIÊNCIAS POLÍTICAS: HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO 24
SOCIEDADE, POLÍTICA E PODER 31
POLÍTICA, DIREITO E CIDADANIA 37
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 43
ECONOMIA, SOCIEDADE E POLÍTICA 49
CONCEITOS ECONÔMICOS BÁSICOS 55
MACROECONOMIA X MICROECONOMIA 61
DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO 68
ESTRUTURAS DE MERCADO 80
RENDA NACIONAL - PIB 89
MOEDA E INFLAÇÃO 96
POLÍTICA MONETÁRIA 104
POLÍTICA FISCAL 108
INTRODUÇÃO
De acordo com os objetivos programáticos planejados pelos autores para esse livro, a pri-
meira parte é toda dedicada ao estudo das Ciências Políticas. Para tanto, procuramos apresentar 
tal temática por meio de uma abordagem das Ciências Políticas em conjunto com outros temas 
e esferas do saber que entendemos interligados a elas e, por consequência, delas indissociá-
veis. Ainda, a cada aula, procuramos trazer também um nível crescente de aprofundamento 
em termos de conteúdos conceituais, além de aspectos práticos dessa área do conhecimento 
humano que se fazem presentes em nossas vidas no dia a dia.
Assim, na primeira aula, fizemos uma introdução geral às Ciências Sociais e Políticas com o 
propósito de contextualizar e enfatizar determinados sentidos, bem como a importância de 
conteúdos dessas áreas do conhecimento na atualidade.
A segunda aula é toda voltada ao objeto central das Ciências Políticas: a própria política, 
isto é, fenômenos, organizações e processos que envolvam ações, decisões e relações da sua 
natureza. Procuramos salientar também dois significados possíveis e comuns na percepção 
e na vivência da política em nossos cotidianos: a política institucional e a política nos espaços 
de convivência social pela busca de certos objetivos para uma vida melhor.
Na terceira aula examinamos a relação entre Ciências Sociais e Ciências Políticas, buscando 
evidenciar, a partir da autonomia e da consolidação das Ciências Sociais como campo de inves-
tigação e reflexão, os caminhos de estruturação das Ciências Políticas enquanto disciplina, com 
objeto de pesquisa e dinâmicas de trabalho distintas de outras perspectivas de análise social 
ligadas à Sociologia e à Antropologia.
Então, na quarta aula, reunimos conhecimentos abordados e discutidos nas aulas anteriores 
para estudar a história do pensamento político, levando em conta, justamente pela relevância 
indiscutível do tema, esforços de compreensão e interesses por esse aspecto da realidade social, 
anteriores ao surgimento do entendimento moderno que se tem da política e que orienta os 
estudos de Ciência Política na atualidade.
As aulas seguintes tratam das relações de mútua dependência entre fenômenos políticos e 
outros aspectos da realidade social: o poder; o direito enquanto instrumento para a garantia, 
efetivação e ampliação da cidadania; a participação política e a economia, assunto esse que 
constitui o objeto central da segunda parte do livro.
Portanto, ao final dessa primeira parte do nosso livro, esperamos que os estudos reali-
zados acerca das Ciências Políticas possam efetivamente contribuir em termos de fornecer 
subsídios teóricos e conexões práticas com questões e dinâmicas profissionais, além do que 
é comum já retomar: uma antiga reflexão de que o estudo da política é sempre um exercício 
de liberdade.
Desejamos, desde já, muito sucesso nessa caminhada que esperamos que possa trazer novos 
conhecimentos, enriquecendo as trajetórias pessoal e profissional de vida. Vamos em frente!
INTRODUÇÃO GERAL ÀS 
 CIÊNCIAS SOCIAIS E 
POLÍTICAS
AULA 01
5
1.1 Considerações Iniciais
Nesta primeira aula buscaremos contextualizar o lugar de pertencimento das 
Ciências Políticas enquanto área de investigação e pesquisa de ações, relações 
e instituições do comportamento humano, inserida no contexto mais geral das 
chamadas Ciências Sociais.
Para isso, buscaremos inicialmente demonstrar, no contexto de acontecimen-
tos que produziram um novo mundo e uma nova sociedade em constante movi-
mento em termos econômicos, sociais, políticos e culturais – o mundo moderno 
e contemporâneo – como o pensamento científico passou a abranger, ao longo 
do tempo e de maneira contínua, diferentes esferas e assuntos da vida, ou seja, 
o contexto histórico-social de surgimento e consolidação das Ciências Sociais em 
geral e das Ciências Políticas em particular. 
Em seguida, apresentaremos as principais disciplinas que compõem as Ciências 
Sociais, com especial ênfase às Ciências Políticas, disciplina que constitui nosso 
objeto de estudo nesse curso.
Por último, cabe salientar que nosso objetivo nessa primeira aula é tão so-
mente contextualizar e ressaltar a relevância das Ciências Sociais e Políticas no 
mundo contemporâneo, sendo que um estudo mais detido das relações entre 
esses domínios será feito oportunamente na terceira aula.
1.2 A Sociedade Como Objeto De Estudo: O Surgimento 
E A Consolidação Das Ciências Sociais
Ainda hoje, é interessante notar a existência de uma vasta gama de ideias, 
perguntas, conceitos e até mesmo definições, frequentemente não consensuais 
e até mesmo contraditórios, a respeito da vida dos indivíduos em sociedade, dis-
cutindo-se questões como:
1. Os indivíduos sempre viveram em sociedade? 
2. A sociedade antecede os indivíduos ou os indivíduos antecedem a so-
ciedade?
3. Quais seriam os fatores determinantes para constituir comunidades 
ou sociedades e qual a diferença entre as noções de comunidade e 
sociedade?
6
4. Que forças atuariam no sentido de garantir a coesão ou, por outro lado, 
desagregar sociedades?
5. Diferentes modelos ou padrões de sociedade, aqui entendidos como 
certos modos historicamente verificáveis de organização da vida social, 
são constantes e imutáveis em seus elementos constitutivos essenciais 
ou possuem diferenças que variam entre si ao longo do tempo?
6. Uma mesma sociedade poderia ser constante por esforços de seus 
membros ou sofreria inevitáveis modificações ao longo do tempo?
7. Como se dão as correlações de força/poder numa dada sociedade?
8. Quais as possíveis relações entre seres humanos, sociedades e culturas, 
conjunto compartilhado de valores e preferências, dado a diversidade 
humana, passível de observação em incontáveis línguas, cores, usos, 
costumes, tradições, formas de comportamento social, preferências 
políticas, padrões artísticos e estéticos, modos de organização da eco-
nomia, além de distintas normas morais, éticas e jurídicas, etc.?
Todas essas questões, entre outras tantas que poderiam ser formuladas com 
pertinência à noção de sociedade, sejam elas mais gerais ou específicas, revelam 
para nós a riqueza de temas que fazem parte do objeto de estudo das Ciências 
Sociais.
Título: Multidão Humanos
Fonte: https://pixabay.com/pt/multid%C3%A3o-humanos-silhuetas-pessoal-2045498/
https://pixabay.com/pt/multid%C3%A3o-humanos-silhuetas-pessoal-2045498/ 
7
Desse modo, na tentativa de uma espécie de síntese provisória, demasiada-
mente parcial, fragmentada e incompleta, as Ciências Sociais têm tido como campo 
de estudo, interesse e investigação, a vida compartilhada de homens e mulheres 
em diferentes espaços e temporalidades, convivendo com suas escolhas, ações, 
regras, enfim, relações sociais que são inevitavelmente realizadas para fins de 
melhor satisfazer necessidades físicas e sociais essenciais de cada membro da 
sociedade e, assim, procurar garantir e ampliar formas e mecanismos de sobre-
vivência, além de ampliar os horizontes da existência pela própria convivência 
em coletividade.
Anote isso
No seu mais importante sentido, entendemos por “sociedade” uma espéciede contextura formada entre todos os homens e na qual uns dependem 
dos outros, sem exceção; na qual o todo só pode subsistir em virtude da 
unidade das funções assumidas pelos co-participantes, a cada um dos quais 
se atribui, em princípio, uma tarefa funcional; e onde todos os indivíduos, 
por seu turno, estão condicionados, em grande parte, pela sua participação 
no contexto geral. Assim, o conceito de sociedade define mais as relações 
entre os elementos componentes e as leis subjacentes nessas relações do 
que, propriamente, os elementos e suas descrições comuns (HORKHEIMER; 
ADORNO, 1956, p. 25-26).
Após essas considerações iniciais acerca do nível de profundidade que en-
volve a ideia de sociedade, é preciso atentar também para a complexidade das 
relações sociais, isto é, considerar que a convivência comum de uma variedade 
de indivíduos e grupos de indivíduos – com diferentes necessidades, reivindica-
ções e interesses de natureza social e política – pode tornar-se demasiadamente 
conflituosa, produzindo acontecimentos e eventos que de tempos em tempos 
afetam e colocam em questionamento, com maior ou menor intensidade, o pró-
prio sentido da vida em sociedade, tanto quanto a dinâmica de funcionamento 
de um determinado padrão. Tudo isso sem contar a recorrente e conturbada 
interferência de instituições e realidades com dinâmicas de funcionamento que 
se revelam dificilmente compreensíveis para o homem comum, tal como é o caso 
da atuação do Estado e a lógica dos fenômenos econômicos.
8
Durante séculos, nos períodos históricos comumente designados mundo an-
tigo e Idade Média, a força da religião e da tradição forneceu o “cimento” que 
garantia a coesão de grupos humanos e comunidades, explicando praticamente 
a totalidade dos fenômenos naturais e sociais. Durante essa época da história 
humana, a sociedade era entendida como algo natural, quer dizer, componentes 
importantes da realidade social como a distribuição da riqueza, que favorecia 
alguns em detrimentos de outros; a profissão desempenhada, que geralmente 
era a mesma dos ancestrais; os casamentos, arranjados conforme a origem social 
dos pretendentes; as práticas de trabalho e os fenômenos naturais, tal como a 
agricultura, a produção de bens de subsistência, secas, enchentes, etc.; tudo isso 
era compreendido, em grande medida, a partir da vontade dos deuses, da lógica 
dos costumes e da tradição e assim por diante. Então, as catástrofes naturais e os 
problemas sociais não eram entendidos como produzidos pelas próprias pessoas 
e, por essa razão, cabia a todos aceitarem a vida gestada dentro da ordem social 
como algo natural e não passível de questionamentos. A sociedade não era, ainda, 
algo que pudesse ser objeto de reflexão, questionamento e mudança (PIRENNE, 
1963; LÉVY, 1973; COULANGES, 1996).
Anote isso
O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamen-
to ocidental e para o surgimento da sociologia. As transformações econô-
micas, políticas e culturais que se aceleram a partir dessa época colocarão 
problemas inéditos para os homens que experimentavam as mudanças 
que ocorriam no ocidente europeu (MARTINS, 1984, p. 11).
Com o triunfo da Revolução Científica, da Reforma e da Revolução Francesa 
entre os séculos XVI e XVIII, a visão teocentrista de mundo fundamentada na re-
ligião, na tradição e na crença é substituída em diversos países pelos valores da 
burguesia vitoriosa. A hegemonização da nova ordem social na Europa ocidental 
favoreceu a disseminação do humanismo moderno, do racionalismo por parte 
significativa do globo terrestre, das grandes navegações, em curta síntese, de uma 
vasta acumulação de conhecimento, poder e riqueza por parte da burguesia, so-
bretudo europeia, que possibilitou mais um evento – a Revolução Industrial - que 
mudou a face do mundo por meio da modernização, do incremento da vida pelo 
9
aumento de bens e tecnologia e, paradoxalmente, pela miséria, doenças, mortes 
e condições insuportáveis de trabalho.
Temos, aqui, os principais elementos que caracterizaram o surgimento e o de-
senvolvimento do mundo moderno, forjado por um conjunto de acontecimentos, 
práticas e valores tão diferentes de tudo que o antecedeu nas formas anteriores 
de organização da vida em sociedade, que trouxe consigo a necessidade de um 
novo campo de investigação e pesquisa da vida social, dos costumes e valores dos 
homens e da dimensão dos processos políticos, sendo as Ciências Sociais essa 
nova área de saberes.
Todas essas mudanças econômicas, políticas e sociais, progressivamente ges-
tadas ao longo dos séculos anteriores, culminaram, a partir do século XIX, na 
construção de um novo campo científico voltado à investigação de transforma-
ções drásticas que resultaram no paradoxal incremento do desenvolvimento e 
melhoramento da vida humana e, ao mesmo tempo, da miséria e consequente 
contestação política e social da nova ordem vigente, cabendo às Ciências Sociais, 
por meio de seus ramos/disciplinas – Sociologia, Ciências Políticas e Antropologia 
– produzir interpretações, reflexões e críticas às formas de vida de indivíduos e 
grupos de indivíduos no mundo contemporâneo, tanto quanto procurar interferir 
nos rumos dessa nova realidade social dos tempos modernos, seja na tentativa 
inócua de restaurar estados anteriores das coisas, seja para aprofundar ainda 
mais as mudanças já em curso na “nova sociedade”.
Nesse contexto, as Ciências Sociais surgem e se desenvolvem até os dias atuais 
como instrumento de avaliação e interferência consciente nesse “novo mundo”, 
cabendo à Sociologia investigar o moderno padrão de organização da sociedade 
ocidental capitalista a partir de fenômenos como modernização e modernidade, 
que ao menos desde o século XV afetam diretamente a vida de milhões de homens 
e mulheres no mundo todo. Por seu turno, a Antropologia se tornou um campo 
do saber que busca estudar a diversidade da vida humana em diferentes contex-
tos sociais e culturais, em diferentes lugares e épocas, procurando compreender 
diferentes modos de vida. Por último, é objetivo das Ciências Políticas analisar, 
no mundo moderno e contemporâneo, os fenômenos relacionados à política e 
suas repercussões econômicas, sociais e jurídicas na vida de indivíduos, grupos 
de indivíduos, países, nações, etc.
10
1.3 Considerações Finais
A partir de uma conceituação inicial, abstrata e elementar de sociedade, obser-
vamos que a realidade social concreta é marcada por constantes transformações 
de ordem econômica, social, política, cultural, jurídica, entre outras. 
A realização histórica dessas mudanças no mundo ocidental desde o século 
XV produziram mudanças que destruíram os padrões mais ou menos estáticos 
de organização social do mundo antigo e da Idade Média, propiciando um rico 
contexto de reformulação dos modos de organização social, o que resultou em 
formas inéditas de vida mediadas por progressos e liberdades, acompanhadas de 
miséria e cerceamento de condições dignas de existência e de direitos.
Tal estado de coisas, a constante produção e reformulação de diferentes aspec-
tos da realidade social, levou a consideração da sociedade como objeto passível 
de pesquisas e investigações, cabendo às Ciências Sociais, com suas disciplinas 
específicas, entre elas as Ciências Políticas, a realização dessa tarefa.
11
O QUE É POLÍTICA?
AULA 02
12
2.1 Considerações Iniciais
Nesta aula damos início a um estudo mais aprofundado sobre as Ciências Po-
líticas, isto é, dentre vários assuntos importantes que examinaremos ao longo do 
curso, é oportuno voltarmos nossa atenção para uma questão fundamental, que 
constitui o objeto da disciplina Ciências Políticas: O que é política?
Neste sentido, considerando que temos por objetivo principal compreender 
as Ciências Políticas, procuraremos nesta aula apresentar um conjunto de conhe-
cimentos relativos à Política que possa contribuir no sentidode facilitar nosso 
contato com o que podemos chamar de “mundo da política”.
Vamos juntos percorrer esse instigante caminho que atraiu, fascinou e mobi-
lizou homens e mulheres de diferentes épocas em todas as partes do mundo? 
Mãos à obra!
2.2 O que é Política?
A partir de uma breve reflexão acerca de nossas experiências cotidianas em dife-
rentes espaços ou círculos sociais de que fazemos parte (família, amigos, trabalho, 
igreja, etc.) é bem possível que já possamos formular certas impressões sobre política, 
estabelecendo, assim, algum tipo de noção teórica ou prática acerca dessa parte da 
vida em sociedade, ainda que tal nível de percepção e de vivências possa ser impreciso 
e/ou parcial pela própria diversidade de temas e questões relacionados à política. 
Ora, não é raro participarmos de conversas e discussões que envolvam assun-
tos de teor nitidamente políticos, tais como:
a) necessidades, interesses e conflitos de indivíduos, grupos de indivíduos, 
classes sociais e até mesmo as motivações que ensejam conflitos militares;
b) a estrutura de organização e a lógica de funcionamento do nosso país - o 
Estado brasileiro - ou de outras nações - os Estados estrangeiros;
c) determinados direitos fundamentais que todos nós temos para uma 
vida digna enquanto seres humanos que convivem em sociedade, de-
vendo ser todos eles respeitados, garantidos e ampliados pelo Estado 
por meio de leis, políticas públicas, políticas sociais, etc.;
d) preferências políticas em termos de partidos políticos, candidatos, pla-
nos de governo, etc.;
13
e) eleições municipais, estaduais ou em nível nacional, que são realizadas 
pelo exercício do direito de votar e de candidatar-se à cargos públicos, 
conforme a lei;
f) propostas, intervenções e debates sobre o que é importante para bair-
ros, condomínios, empresas, instituições religiosas, clubes recreativos, 
sindicatos, etc.;
g) conceitos políticos mais técnicos, como é o caso dos regimes políti-
cos, formas de estado, formas de governo, doutrinas políticas, entre 
outros.
Isto acontece 
na prática
É comum na atualidade um alto grau de liberdade que permite às pes-
soas reivindicarem seus direitos e manifestarem suas convicções políti-
cas. Neste sentido, recomendamos a leitura de reportagem do periódico 
eletrônico BBC NEWS, veiculada em 19 de novembro de 2018.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46249017.
Último acesso em: 20.mai.2019. 
Assim que, considerando a proporção e a diversidade dessa lista de assuntos 
relacionados à ideia de política, que estão direta ou indiretamente presentes em 
nosso dia a dia, podemos dizer que todos nós, com base em nossas próprias vidas, 
sabemos de fato muitas coisas a respeito da política, mesmo que isso não nos apareça 
de forma clara quando pensamos essa temática.
Então, a partir dessa visão mais ou menos clara sobre experiências de vida 
relacionadas a diferentes questões políticas, como poderíamos alcançar um con-
ceito inicial sobre “O que é Política?”, que demonstre ser, ao mesmo tempo, objetivo, 
criterioso e abrangente para nosso entendimento e compreensão do assunto?
Em primeiro lugar, a resposta para esse questionamento depende do exercício 
de reflexão que acabamos de fazer no sentido de que todos nós somos cidadãos 
que convivem em sociedade num Estado de Direito, o que significa dizer que a 
política não é algo distante de nossa realidade, mas uma parte essencial das nossas 
próprias vidas. De maneira que, num certo sentido, a política nada mais é que nossa 
participação direta ou indireta, consciente ou não, nas questões e decisões tidas como 
importantes para nós, nossa sociedade, nossa cidade, estado ou país.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46249017
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É possível afirmar que a sociedade e o mundo em que vivemos hoje são re-
sultados de reivindicações, lutas, decisões e contradições políticas daqueles que 
viveram antes de nós. Além disso, em segundo lugar, conhecer e participar da 
política são verdadeiros direitos fundamentais constitucionalmente garantidos a 
todos nós enquanto cidadãos, sendo que, por essa razão, não podem ser negados 
ou diminuídos por órgãos e autoridades estatais sem que firam nossa cidadania e 
o regime democrático em que vivemos, resultando, nesse caso, no cometimento 
de graves ilegalidades e/ou injustiças por parte do Estado.
Anote isso
TA política é uma referência permanente em todas as dimensões do nosso 
cotidiano na medida em que este se desenvolve como vida em sociedade. 
Embora o termo “política” seja muitas vezes utilizado de um modo bastante 
vago, é possível precisar seu significado a partir das experiências históricas 
em que aparece envolvido (MAAR, 1994, p. 7).
É interessante observarmos que, ao apresentar a noção de política, Maar (1994, 
p. 9) distingue dois sentidos importantes atribuídos à política em nosso cotidiano: 
por um lado, a política institucional no sentido mais convencional ligada ao poder 
político, o funcionamento das instituições estatais e, por outro, um sentido mais 
genérico e talvez menos perceptível, o que poderíamos denominar de política em 
prol da consecução de certos objetivos para uma vida melhor.
Desse modo, vamos analisar, lado a lado, os dois conceitos, tal como trazidos 
pelo referido autor, acrescentando em seguida a cada conceito, respectivamente, 
ilustrações sobre espaços públicos de discussões/decisões em nível de política ins-
titucional e política em prol da consecução de certos objetivos para uma vida melhor.
Sobre a política institucional, Maar (1994, p. 9-10) afirma que:
Um deputado ou um órgão de administração pública são políticos para a totalidade 
das pessoas. Todas as atividades associadas de algum modo à esfera institucional 
política, e o espaço onde se realizam, também são políticas. Um comício é uma reu-
nião política e um partido é uma associação política, um indivíduo que questiona a 
ordem institucional pode ser um preso político; as ações do governo, o discurso de 
um vereador, o voto de um eleitor são políticos (MAAR, 1994, p. 9-10).
15
Título: Congresso Conferência
Fonte: https://pixabay.com/pt/congresso-confer%C3%AAncia-pol%C3%ADtica-74032/
Já a respeito do que podemos denominar política em prol da consecução de 
certos objetivos para uma vida melhor, Maar (1994, p. 10) diz que:
Quando se fala da política da Igreja, isto não se refere apenas às relações entre a 
Igreja e as instituições políticas, mas à existência de uma política que se expressa na 
Igreja em relação a certas questões como a miséria, a violência, etc. Do mesmo modo, 
a política dos sindicatos não se refere unicamente à política sindical, desenvolvida 
pelo governo para os sindicatos, mas às questões que dizem respeito à própria ativi-
dade do sindicato em relação aos seus filiados e ao restante da sociedade. A política 
feminista não se refere apenas ao Estado, mas aos homens e às mulheres em geral. 
As empresas têm políticas para realizarem determinadas metas no relacionamento 
com outras empresas, ou com os seus empregados. As pessoas, no seu relaciona-
mento cotidiano, desenvolvem políticas para alcançar seus objetivos nas relações de 
trabalho, de amor ou de lazer; dizer “Você precisa ser mais político” é completamente 
distinto de dizer “Você precisa se politizar mais”, isto é, “precisa ocupar-se mais da 
esfera política institucional” (MAAR, 1994, p. 10).
https://pixabay.com/pt/congresso-confer%C3%AAncia-pol%C3%ADtica-74032/
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Título: Conversa Pessoas Falando Duas Figuras
Fonte: https://pixabay.com/illustrations/conversation-talk-talking-people-799448/
 
Ao passo que a política em sentido genérico em prol da consecução de certos 
objetivos para uma vida melhor é mais abrangente, estendendo-se por diferentes 
esferas da vida de pessoas físicas e instituições, visando atingir metas pessoais e 
finalidades organizativas entre outros, dentro de sua área de vida e ação, a política 
institucionalfaz referência a um significado stricto sensu mais próximo da acepção 
comum de política que conhecemos e estamos habituados, qual seja a dimensão 
política referente ao aspecto político-administrativo do Estado expresso em sua 
estrutura espacial – União, Estados, Distrito Federal e Municípios - tanto quanto 
na regulação do poder pela harmonia e independência de suas funções legislativa, 
executiva e jurisdicional.
Dessa perspectiva, fica mais fácil entender o quanto somos políticos e fazemos 
parte da vida política do Estado.
https://pixabay.com/illustrations/conversation-talk-talking-people-799448/ 
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2.3 Considerações Finais
O fenômeno político está diretamente ligado ao nosso dia a dia e pode ser 
observado a partir de sentidos distintos, envolvendo a política no singular, no 
que tange à política institucional, assim como às políticas no plural, quando se 
pensa valores, objetivos programáticos, interesses e discussões relacionados à 
instituições e pessoas.
Enquanto a política em prol da consecução de certos objetivos para uma vida 
melhor é mais abrangente porque se estende por diferentes esferas da vida pes-
soal e institucional de pessoas físicas e jurídicas, visando atingir metas pessoais 
e finalidades organizativas, entre outros, dentro de sua área de vida e ação, a 
política institucional faz referência a um significado stricto sensu mais próximo do 
entendimento comum do termo política que conhecemos e estamos habituados 
a ler em jornais e assistir em noticiários/telejornais, qual seja aquela dimensão 
da política referente ao aspecto político-administrativo e às atividades desempe-
nhadas pelo Estado para e pelo funcionamento de seus órgãos e autoridades nas 
funções legislativa, administrativa e jurisdicional.
Portanto, a partir dos ângulos da política trazidos nessa aula, podemos agora 
identificar e entender manifestações políticas com maior facilidade, cumprindo o 
propósito de responder a indagação “O que é política?”. Também podemos notar o 
quanto somos políticos ao vivermos em comunidades e sociedades politicamente 
organizadas com mediação do chamado Estado de Direito no mundo contempo-
râneo.
Esse é o ponto de partida de nossa viagem pelos mares tempestuosos da Polí-
tica e das Ciências Políticas. Continuamos na próxima aula, quando examinaremos 
a área do conhecimento denominada Ciências Políticas em sua relação com as 
chamadas Ciências Sociais na árvore do conhecimento humano.
18
CIÊNCIAS SOCIAIS E 
CIÊNCIAS POLÍTICAS
AULA 03
19
3.1 Considerações Iniciais
Na aula anterior abordamos a noção de Política, buscando melhor compreen-
der conteúdos e significados relacionados a esse aspecto da vida social. Ao longo 
desta aula estudaremos a área e a disciplina do conhecimento humano que são 
responsáveis pela realização de investigações e análises dos fenômenos políticos, 
quais sejam as Ciências Sociais e as Ciências Políticas.
Desta forma, enquanto a Política nos diferentes sentidos discutidos na aula 
anterior constitui parte da vida em sociedade, as Ciências Políticas podem ser en-
tendidas como um amplo e diversificado conjunto de estudos científicos rigoro-
samente sistematizados dos mais diferentes aspectos de fenômenos e processos 
políticos, buscando esclarecer o sentido de ações e relações políticas estabelecidas 
entre pessoas, grupos de pessoas, classes, países, etc.
Logo, já examinados distintos sentidos dos fenômenos e processos políticos, 
chegamos à etapa de adentrar nos estudos relativos ao objeto de nossa discipli-
na: vamos nos aventurar nos caminhos do surgimento e do desenvolvimento das 
Ciências Sociais e Políticas! Mãos à obra!
3.2 Ciências Sociais e Ciências Políticas
A curiosidade e a busca dos seres humanos por investigar, conhecer e tentar 
explicar questões complexas da realidade, tais como o sentido da vida, o funciona-
mento da natureza e a melhor forma de viver em sociedade, remontam a milênios 
e fazem parte da história dos mais diferentes povos.
É comum encontrarmos nas civilizações do mundo antigo – como é o caso dos 
gregos, egípcios, romanos, povos da Mesopotâmia, da América do Sul, etc. – inú-
meras tentativas de explicação dos fenômenos naturais e sociais, sobretudo por 
meio de narrativas mitológicas ou fundadas nas grandes religiões.
20
Título: Poseidon Marinho Mar Mitologia Grega do Mar Profundo
Fonte: https://pixabay.com/photos/poseidon-marine-the-sea-deep-sea-1426660/
Ao longo do tempo, diferentes fatores influenciaram para o florescimento e 
o crescente desenvolvimento da Filosofia como forma de explicação racional do 
mundo e das relações humanas em nossa sociedade em detrimento de explica-
ções mitológicas e religiosas da realidade, sendo possível traduzir o conteúdo da 
Filosofia como uma espécie de amor ao conhecimento baseado numa permanente 
busca de verdades racionais.
Isto está 
na rede
Para um exame mais aprofundado sobre o papel da Mitologia como ins-
trumento de explicação da realidade em organizações sociais do mundo 
antigo, recomenda-se a leitura do artigo Mitologia – Uma das formas 
que o homem encontrou para explicar o mundo, de autoria de Antônio 
Carlos Olivieri. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/
historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-expli-
car-o-mundo.htm. Último acesso em: 28.mai.2019. 
https://pixabay.com/photos/poseidon-marine-the-sea-deep-sea-1426660/ 
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-explicar-o-mundo.htm
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-explicar-o-mundo.htm
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-explicar-o-mundo.htm
21
A partir da produção de conhecimentos filosóficos relacionados às mais va-
riadas áreas do mundo natural e social, particularmente no início do mundo mo-
derno, homens e mulheres de diferentes partes do mundo produziram esforços 
incansáveis para fornecer explicações lógicas sobre a realidade em seus mais 
diferentes aspectos, construindo, paulatinamente, métodos de investigação cada 
vez mais sofisticados em termos de pesquisa.
É o início da Era das Ciências que passariam a produzir, sem cessar até os dias de 
hoje, grandes descobertas que têm revolucionado continuamente nosso entendimen-
to sobre as mais diferentes facetas da realidade: da grandeza supostamente inson-
dável do universo até a dimensão aparentemente invisível das formas microscópicas 
de vida, passando por diversos estudos sobre o ser humano e a vida em sociedade. 
Isto acontece 
na prática
Uma das contribuições do “espírito científico” que propiciou profundas 
transformações de caráter econômico, político, social e cultural na vida 
de milhões de seres humanos nas mais variadas partes do mundo foi o 
conhecimento, controle e possibilidade de manipulação da eletricidade. 
Neste sentido, recomenda-se assistir o documentário A História da Ele-
tricidade, produzido pela BBC.
Disponível na Plataforma YouTube em: https://www.youtube.com/wat-
ch?v=rAqUvE97iCU&t=20s.
Último acesso em: 28.mai.2019. 
Com o surgimento e aprimoramento das Ciências nos mundos moderno e 
contemporâneo, podemos observar uma lógica de crescente divisão e fragmen-
tação dos conhecimentos científicos em áreas especializadas, ocupando posição 
de destaque nesse processo a ramificação de estudos relacionados à natureza e 
estudos voltados à sociedade, quer dizer, o “universo” das Ciências Naturais e o 
“mundo” das Ciências Humanas e Sociais.
Constituem as Ciências Sociais uma área de investigação científica nascida na 
Europa do século XIX para tratar de causas e consequências de ações e relações 
sociais realizadas por indivíduos e grupos de indivíduos, promovendo pesquisas 
e reflexões críticas sobre problemas enfrentados por diferentes pessoas, grupos 
de pessoas e sociedades. Pretende ofereceralternativas de mediação ou resolu-
https://www.youtube.com/watch?v=rAqUvE97iCU&t=20s
https://www.youtube.com/watch?v=rAqUvE97iCU&t=20s
22
ção de conflitos sociais, além de prevenir ou denunciar práticas, comportamentos 
e realidades sociais que demonstraram ser historicamente inviáveis no sentido 
de prejudicar o meio ambiente e os seres humanos.
Título: Lupa Cabeça Humana Enfrenta
Fonte: https://pixabay.com/illustrations/magnifying-glass-human-head-faces-1607208/
Em divisão hoje clássica referente aos diferentes campos ou domínios das 
Ciências Sociais temos como subáreas de interesses específicos: a Antropologia, a 
Sociologia e as Ciências Políticas. Por consequência, as Ciências Políticas podem ser 
entendidas com um ramo especializado das Ciências Sociais.
Anote isso
Com base no que investigamos até o presente momento, é possível afirmar 
que consiste as Ciências Políticas na disciplina voltada ao estudo e análise 
da política ou, mais especificamente, dos fenômenos, organizações, siste-
mas e processos políticos verificados em distintos padrões de sociedade 
no tempo e no espaço.
Assim, os cientistas políticos investigam e analisam tendências e teorias ligadas 
aos sistemas políticos, ou seja, verificando fenômenos políticos em múltiplas esfe-
ras, da política institucional às políticas públicas e sociais, tanto quanto processos 
que impliquem estrutura e mudanças dos regimes políticos com seus mecanismos 
contemporâneos de garantia de segurança e direitos aos cidadãos, etc.
https://pixabay.com/illustrations/magnifying-glass-human-head-faces-1607208/ 
23
3.3 Considerações Finais
Para que possamos compreender satisfatoriamente a contextualização das 
Ciências Políticas em seu sentido moderno e contemporâneo de disciplina aca-
dêmica e, ao mesmo tempo, área de pesquisa e investigação, é importante que 
voltemos no tempo, estabelecendo determinadas conexões de cunho não apenas 
teórico, mas também histórico-social.
É em nosso padrão cultural atual de ciência e sociedade que as Ciências Políti-
cas aparecem integradas às Ciências Sociais, que por seu turno seguiram outras 
linhas de ramificação do saber científico num histórico de empreendimentos hu-
manos que abrem mão da racionalidade como referencial adequado para co-
nhecer logicamente a natureza e a sociedade, alcançando nessa linha do tempo 
a Filosofia antiga, sucessora de explicações mitológicas e religiosas da realidade 
física e social.
Na próxima aula investigaremos aspectos da relação entre Ciências Políticas e 
História, isto é, procuraremos entender a fundo a dinâmica de surgimento e de-
senvolvimento do pensamento em torno das Ciências Políticas ao longo do tempo, 
mostrando que, para além do sentido moderno dessa disciplina em nosso tempo 
presente, a política sempre foi temática considerada objeto de grande relevância 
para estudiosos, governantes, estadistas e pessoas comuns, recordando, como 
já vimos anteriormente, o fato de que a política é parte de nossas próprias vidas 
na medida em que vivemos em sociedade.
24
CIÊNCIAS POLÍTICAS: 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
POLÍTICO
AULA 04
25
4.1 Considerações iniciais
Depois de examinarmos diferentes sentidos dos processos políticos – a política 
institucional e políticas para a realização de certos objetivos – assim como a contextua-
lização das Ciências Políticas como parte da árvore do saber das Ciências Sociais, vamos, 
nessa aula, aprofundar nosso conhecimento sobre percepções, vivências e aborda-
gens acerca do fenômeno político em diferentes sociedades ao longo do tempo, ou 
seja, realizaremos uma imersão em busca de perspectivas históricas presentes no estudo 
do pensamento político para além do significado teórico-conceitual da política. Em outras 
palavras, buscaremos em conhecimentos já consolidados da própria disciplina Ciências 
Políticas maneiras como a política foi vivenciada e refletida, tanto por filósofos e estu-
diosos, como também por pessoas comuns em distintas épocas e tipos de sociedade. 
Quanto à política, seria possível que o entendimento e as vivências dos gregos 
no mundo antigo possam ser similares ou iguais às nossas percepções e expe-
riências concretas no mundo contemporâneo? 
A organização e o funcionamento do Império Romano teriam paralelos com 
a estrutura espacial e o sistema de divisão dos poderes típicos de um moderno 
Estado Democrático de Direito? Quem detinha o Poder na Idade Média e o que 
significou a doutrina política e religiosa do direito divino dos reis?
Perguntas como essas nos ajudam a perceber que, enquanto objeto das Ciências 
Políticas, as organizações e os processos políticos são sempre históricos, logo sujeitos 
à ocorrência de constantes mudanças ao longo do tempo em diferentes sociedades.
Nessa perspectiva, para facilitar nossa tarefa e garantir maior didática na apre-
sentação dos conteúdos, optamos por seguir uma divisão usual entre cientistas 
políticos quando se trata de examinar historicamente organizações, processos e 
concepções ligados à política: começa-se com uma fase que remonta à fundamen-
tação da política a partir de premissas de ordem frequentemente religiosas e/ou 
morais até uma segunda fase que se inicia com o fim da Idade Média, tendo como 
marco teórico a publicação da obra O Príncipe do florentino Nicolau Maquiavel, 
que trouxe uma nova visão sobre justificação da política que passaria a influen-
ciar percepções, debates e comportamentos políticos típicos do que passaria a 
ser entendido como pensamento político moderno, quer dizer, uma ideia de que 
reflexões e práticas políticas devem ou estão sujeitas a um conjunto de preceitos 
racionais baseados em diferentes interesses e razões que nada têm a ver com 
argumentos morais ou religiosos. Mãos à obra!
26
4.2 História do pensamento político
Já vimos que as Ciências Sociais, enquanto conjunto de disciplinas especializa-
das em torno de diferentes aspectos da vida em sociedade – o que inclui a nomen-
clatura Ciências Políticas com o delineamento de seu campo de investigação – elas 
constituem resultado de um projeto teórico nascido recentemente em termos 
históricos, que reporta suas origens na Europa do século XIX, quer dizer, algo em 
torno de duzentos anos atrás.
Não obstante, o pensamento político é muito mais antigo em seu sentido histó-
rico mais profundo e autêntico: reflexões acerca da melhor forma de organização 
da vida em comunidade, o que para os antigos era indissociável de participação 
ativa dos cidadãos em grandes decisões tomadas coletivamente em espaços e 
reuniões públicas, com é o caso da Ágora grega e dos fóruns romanos.
Anote isso
“A ciência política enquanto disciplina viria a surgir ainda mais tarde, não 
porque o respectivo conteúdo – o Estado contemporâneo e a sua compo-
nente política – se prestasse menos à análise nomotética, mas antes de 
mais nada devido à resistência oferecida pelas faculdades de Direito quanto 
a ceder o monopólio que detinham nessa área. A resistência a esta matéria 
por parte das faculdades de Direito pode explicar a importância atribuída 
pelos cientistas políticos ao estudo da filosofia política – por vezes sob a 
designação de teoria política -, pelo menos até a revolução behaviorista 
do período posterior a 1945. A filosofia política permitiu que essa nova 
disciplina que era a ciência política reivindicasse como sua uma herança 
que já vinha dos gregos, detendo-se na leitura de autores desde há muito 
com lugar firmado nos currículos universitários” (COMISSÃO CALOUSTE 
GULBENKIAN, 1996, p. 37-38, grifos nossos).
Ainda neste sentido, tanto quanto a dinâmica de participação política ativa, 
podemos mencionar outras temáticas que constituem o pensamento político 
dos antigos: habitualidade de intrigas, estratégias e guerras como formas privi-
legiadas de conquista ou manutenção do poder político; crença e influência em 
valores religiosos e morais na tomada de decisões ou ações de cunhopolítico; 
27
discussões em torno de instituições políticas; formas de governos; alianças entre 
famílias reais; vínculos sociais baseados em instituições hoje ilegais e ilegítimas 
como a escravidão, violência contra minorias (crianças, mulheres e escravos), as 
formas de servidão, etc.
Título: Legião Romano Exército Antigos Militar Soldados
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/legi%C3%A3o-romano-ex%C3%A9rcito-antigos-444126/
Em curta síntese, muito embora as Ciências Políticas como disciplina acadêmi-
ca especializada seja algo relativamente recente em termos históricos, assuntos, 
teorias e vivências relacionadas à política datam de milhares de anos. Nessa li-
nha de raciocínio, é preciso recordar que até mesmo a palavra Política tem suas 
raízes linguísticas no grego antigo, proveniente das palavras Politeia e Pólis, asso-
ciadas, por sua vez, às cidades-estado gregas, aos espaços em que ocorriam as 
assembleias públicas para deliberações políticas por parte daqueles que eram 
considerados cidadãos gregos, visto que, em geral, nos povos antigos, mesmo 
em regimes políticos democráticos, mulheres, estrangeiros, escravos e crianças 
não eram considerados cidadãos. Ainda, também são gregos e pertenceram ao 
período histórico do mundo antigo renomados filósofos que procuraram discutir 
teoricamente questões e dilemas políticos, particularmente Platão - autor da obra 
A República - e Aristóteles – autor do texto Política. 
https://pixabay.com/pt/photos/legi%C3%A3o-romano-ex%C3%A9rcito-antigos-444126/
28
De acordo com (MAAR, 1994, p. 29):
“Falar em Grécia é falar em democracia. Atenas, a Constituição de Sólon, os grandes 
debates na ágora – a época de Péricles, etc. De vez em quando, lembra-se Esparta, 
o seu espírito bélico e o ascetismo da sua vida cotidiana “espartana”. Esta seria uma 
espécie de “contraponto” da democracia ateniense. Por vezes se menciona também 
o fato de a sociedade grega basear-se no trabalho escravo, o que exigiria uma ordem 
autoritária. Há ainda quem fale de Platão, que teria postulado em sua República a cen-
sura às artes em nome da saúde do Estado. Nada disso, porém, impede o prestígio 
dos gregos como “precursores” da democracia.” (MAAR, 1994, p. 29, grifos do autor).
Ainda sobre reflexões, teorias e vivências acerca da política no pensamento 
filosófico do mundo antigo, muitos milênios antes do advento da disciplina Ciên-
cias Políticas no quadro mais amplo das Ciências Sociais, Maar (1994, p. 29) diz que:
“O termo “política” foi cunhado a partir da atividade social desenvolvida pelos ho-
mens da pólis, a cidade-Estado grega. Em outros locais, como na Pérsia ou no Egito, 
a atividade política seria a do governante, que comandava autocraticamente o cole-
tivo em direção a certos objetivos: as guerras, as edificações públicas, a pacificação 
interna. Na Grécia, ao lado destas atribuições do soberano, a atividade política de-
senvolver-se-ia como cimento da própria vida social. O que a política grega acres-
centa aos outros Estados é a referência à cidade, ao coletivo da pólis, ao discurso, à 
cidadania, à soberania, à lei. (politikós), significa tudo aquilo que se refere à cidade, 
e portanto ao cidadão, civil, público e também sociável e social, o termo “política” 
foi transmitido por influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que 
deve ser considerada o primeiro tratado sobre a natureza, as funções, as divisões 
do Estado, e sobre várias formas de governo, predominantemente no significado 
de arte ou ciência do governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções 
meramente descritivas ou também prescritivas, sobre as coisas da cidade.” (MAAR, 
1994, p. 29, grifos do autor).
Com o declínio dos modelos de organização social e política que caracterizaram 
os períodos históricos do Mundo Antigo e da Idade Média, cujo traço essencial 
nesse último caso é o poder da Igreja e as disputas dos papas por influência po-
lítica e riquezas com reis e nobres, além da consolidação dos Estados modernos 
29
fundados em monarquias absolutistas, vemos ocorrer uma mudança profunda 
nas concepções anteriormente vigentes em relação aos modos de pensar e fazer 
Política, sendo a obra O Príncipe (1513) do florentino Nicolau Maquiavel um marco 
dessa nova era de transição do pensamento político do mundo antigo para o pen-
samento político do mundo moderno, tratando-se de um texto importante até os 
dias de hoje para todos aqueles que buscam entender e participar de governos, 
dado que essa obra discute justamente a maneira como os governantes devem 
agir para conseguir controlar e manter funcionando a ordem política.
De acordo com Sadek (2001, p. 18):
“Maquiavel provoca uma ruptura com o saber repetido pelos séculos. Trata-se de 
uma indagação radical e de uma nova articulação sobre o pensar e fazer política, 
que põe fim à ideia de uma ordem natural e eterna. A ordem, produto necessário 
da política, não é natural, nem a materialização de uma vontade extraterrena, e 
tampouco resulta do jogo de dados do acaso. Ao contrário, a ordem tem um impe-
rativo: deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie, e, uma 
vez alcançada, ela não será definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em 
negativo, isto é, a ameaça de que seja desfeita.” (SADEK, 2001, p. 18, grifos do autor).
Título: O Príncipe Rei Lear Stratford Upon Avon Estátua
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/o-pr%C3%ADncipe-hal-rei-lear-4085836/
https://pixabay.com/pt/photos/o-pr%C3%ADncipe-hal-rei-lear-4085836/
30
Isto está 
na rede
Para uma leitura sucinta e objetiva sobre dados biográficos e aponta-
mentos sobre a obra de Nicolau Maquiavel, recomenda-se a leitura da 
matéria 550 anos do nascimento de Nicolau Maquiavel, mestre da política do 
renascimento, de autoria de André Nogueira, publicada em 03/05/2019. 
Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reporta-
gem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renasci-
mento.phtml. Último acesso em: 08.jun.2019. 
Portanto, quanto ao cerne do pensamento político do mundo moderno no 
contexto mais geral da história do pensamento político, temos uma substitui-
ção de seu sentido original no sentido de passar a indicar mais estritamente as 
atividades de governantes e Estados para alcançar e manter o poder político e a 
ordem social, tudo isso além da adoção de um rol especializado de termos como 
“filosofia política”, “ciências políticas” ou “do Estado”, etc., em lugar da simples 
arte dos antigos de pensar e viver a política como parte primordial do cotidiano 
de qualquer cidadão (BOBBIO, 2000).
4.3 Considerações finais
Nas Ciências Políticas, a história do pensamento político é um assunto de fun-
damental importância no sentido de demonstrar-nos que as concepções políticas, 
as instituições políticas, os regimes políticos, as formas de estados e de governo, 
as relações entre governantes e governados, etc. não devem ser entendidos como 
lógicas e dinâmicas imutáveis, mas, pelo contrário, tanto no plano teórico, como 
no plano prático, os conteúdos fundamentais inerentes à política estão sempre 
em constante tensão, disputa e reformulação.
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renascimento.phtml
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renascimento.phtml
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renascimento.phtml
31
SOCIEDADE, POLÍTICA E 
PODER
AULA 05
32
5.1 Considerações Iniciais
Nessa aula, com base nos conhecimentos já adquiridos nas aulas anteriores 
sobre as Ciências Políticas, trataremos da relação entre Sociedade, Política e Poder. 
Tal temática, especificamente o fenômeno do poder, é fundamental nos estu-
dos de Ciências Políticas já que, comovimos ao menos desde Maquiavel, é parte 
essencial da política a constante busca por conquista e manutenção do poder.
5.2 Sociedade, Política e Poder
Inicialmente, é importante ressaltar a relação existente entre a questão do poder e 
o modo como se organizam os governos, isto é, como se deu historicamente a relação 
entre governantes e governados acerca do poder político em diferentes modelos de so-
ciedade. Temos, assim, diferentes tipologias historicamente observáveis nessa relação.
A ditadura se dá pelo governo autoritário de uma única pessoa, como é o caso 
das monarquias absolutistas fundadas na teoria do direito divino dos reis. É co-
mum regimes ditatoriais criarem medidas políticas e legais para garantia e ma-
nutenção do poder político exercido pelo mandatário, bem como de seus asseclas. 
Também é usual posturas, medidas e punições severas contra qualquer um que 
se oponha ao governante e suas ideologias, o que implica frequentemente a ne-
gação de direitos fundamentais dos governados.
Título: Xadrez, Penhor, Rei, Jogo, Torneio, Inteligência
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/xadrez-penhor-rei-jogo-torneio-1483735/
https://pixabay.com/pt/photos/xadrez-penhor-rei-jogo-torneio-1483735/
33
Por sua vez, na aristocracia temos o exercício do governo por um grupo específico 
de pessoas que detém privilégios numa dada sociedade. Elementos que destacam 
supostas virtudes dessas pessoas são usualmente empregados para justificar sua 
posição de supremacia e poder em relação aos governados, variando seus conteú-
dos no tempo e no espaço. Em geral, tais características das pessoas do grupo que 
governa estão associadas às ideias de força, inteligência, origem social, etc.
O desvirtuamento dos ideais que procuram justificar a aristocracia transforma essa 
modalidade de relação em oligarquia ou despotismo, isto é, governos em que reinam 
injustiças, corrupção e favorecimento de interesses privados dos setores dominantes.
Finalmente, observamos no caso da democracia a ideia de um governo de 
todos no sentido de que a coletividade participa direta ou indiretamente das 
grandes decisões do Estado.
É preciso ressaltar, no entanto, diferença fundamental entre a democracia no 
mundo antigo e governos democráticos modernos, isto porque, nas comunidades 
menores do mundo antigo, todos aqueles considerados cidadãos podiam parti-
cipar diretamente das deliberações públicas (democracia direta), enquanto que, 
pelo próprio fator demográfico com o aumento da população e o aumento da 
dimensão e complexidade das questões e debates estatais, a participação dos 
cidadãos passou a dar-se por via indireta, confiando em representantes legais por 
eles eleitos – mandatários – as tomadas de decisão nas questões importantes 
(democracia representativa).
Título: Eleições, Democracia, Urna, Os boletins de Voto, Votos
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/elei%C3%A7%C3%B5es-democracia-urna-1496436/
https://pixabay.com/pt/vectors/elei%C3%A7%C3%B5es-democracia-urna-1496436/ 
34
Anote isso
Entre esses padrões de relacionamento entre governantes e governados 
acerca do exercício do poder, a democracia é o modelo que se tornou 
predominante no mundo contemporâneo, sendo pouco usual posiciona-
mentos de governantes e países que se declarem abertamente antidemo-
cráticos.
Assim, a grande maioria dos Estados modernos e contemporâneos dos últimos 
séculos é comumente caracterizada pelo modelo do chamado Estado Democrá-
tico de Direito, o que significa dizer que, embora eles continuem sendo os únicos 
detentores legais e legítimos do monopólio do poder e do uso da violência, eles 
também devem respeitar e garantir direitos fundamentais de todos os cidadãos, 
mesmo porque, nessa concepção de estado democrático, todo poder emana do 
povo e deve ser exercido em seu nome.
De acordo com Silva (2001, p. 123-124):
“A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de ser um processo 
de convivência social numa sociedade livre, justa e solidária, em que o poder emana 
do povo, e deve ser exercido em proveito do povo, diretamente ou por represen-
tantes eleitos; participativa, porque envolve a participação crescente do povo no 
processo decisório e na formação dos atos do governo; pluralista, porque respeita a 
pluralidade de ideias, culturas e etnias e pressupõe assim o diálogo entre opiniões e 
pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização 
e interesses diferentes da sociedade; há de ser um processo de liberação da pessoa 
humana das formas de opressão que não depende apenas do reconhecimento for-
mal de certos direitos individuais, políticos e sociais, mas especialmente da vigência 
de condições econômicas suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício.” (SILVA, 
2001, p. 123-124).
35
Isto está 
na rede
Para compreender de maneira didática e por meio de eventos históri-
cos concretos a lógica de funcionamento de monarquias e nobreza, bem 
como a passagem desses padrões de relacionamento entre governantes 
e governados aos regimes democráticos modernos, recomenda-se assistir 
o documentário A Revolução Francesa, produzido pelo History Channel. 
Está disponível na Plataforma Youtube em: https://www.youtube.com/
watch?v=tHkcp0f2kwc. Último acesso em: 28.mai.2019.
Um exemplo claro do exposto pode ser encontrado na Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil de 1988 em vigor:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de 
Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representan-
tes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” (BRASIL, 1988, grifos nossos)
Isto acontece 
na prática
Nos Estados Democráticos de Direito são realizadas eleições periódicas 
para a escolha pela população de representantes para o exercício de 
mandatos políticos por meio do voto direto, secreto, universal e periódi-
co. Nesse sentido, recomendamos a leitura da seguinte matéria no sítio 
eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral: http://www.tse.jus.br/imprensa/
noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-
-das-eleicoes-2018. Último acesso em: 10.jul.2019. 
https://www.youtube.com/watch?v=tHkcp0f2kwc
https://www.youtube.com/watch?v=tHkcp0f2kwc
http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-das-eleicoes-2018
http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-das-eleicoes-2018
http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-das-eleicoes-2018
36
5.3 Considerações finais
Desse modo, no que se refere às relações entre governantes e governados 
mediadas pelo poder político, vimos diferentes tipos de manifestações do fenô-
meno do poder na esfera política, analisando, especificamente, os conceitos de 
ditadura, aristocracia e democracia, evidenciando, ao final, a prevalência dos regi-
mes democráticos baseados no modelo hegemônico na atualidade dos chamados 
Estados Democráticos de Direito.
37
POLÍTICA, DIREITO E 
CIDADANIA
AULA 06
38
6.1 Considerações Iniciais
Nesta aula, a partir do modelo Estado Democrático de Direito, tratado na aula 
anterior, estudaremos a relação da Política com a esfera do Direito, enfatizando 
a noção de cidadania.
Veremos que, ao menos no caso específico dos Estados Democráticos de Direito, 
as conexões mútuas entre essas diferentes esferas que compõem a vida social 
são não apenas uma realidade, como também, num certo sentido, constituem 
vínculos essenciais para que indivíduos e grupos de indivíduos tenham garantidos 
certos direitos fundamentais pautadosem condições para uma vida digna, além 
de propiciarem segurança jurídica e um grau significativo de ordem social.
6.2 Política, Direito e Cidadania
Inicialmente, importante recordar dos conteúdos das aulas anteriores - espe-
cificamente das aulas referentes ao pensamento político do mundo antigo, bem 
como das relações entre sociedade, política e poder - o fato de que nem sempre 
a política foi ou é baseada no Direito em seu sentido mais recente, quer dizer, é 
notório que existiram em outros tempos e ainda existem no mundo atual certas 
formas de governo e regimes políticos cujo fundamento de legitimação da auto-
ridade política não se encontra em prerrogativas legais, mas em outros fatores, 
como são as hipóteses da prevalência do mais forte, de justificativas de caráter 
religioso - argumentos recorrentes em teocracias, etc.
Contudo, essa tendência se tornou minoritária no mundo moderno e contempo-
râneo, sendo que, na maior parte dos países vigora o modelo do Estado Democrático 
de Direito, já examinado na aula anterior, o que significa dizer que o poder político 
de governantes e estados, outrora ilimitado, resta hoje submetido ao controle de 
mecanismos jurídicos, vale dizer, a vontade do governante é regulada pelo Direi-
to, que a ela se sobrepõe, isso para coibir, evitar ou diminuir diferentes hipóteses 
de abusos, arbitrariedades e injustiças da parte do Estado para com os cidadãos, 
seja em âmbito doméstico – no interior de cada Estado em que o poder político é 
controlado pelas Constituições - seja em âmbito internacional pela mediação de 
instituições, organizações, tratados, convenções, protocolos, acordos e outros ins-
trumentos jurídico-políticos de Direito Internacional e de Direitos Humanos.
39
Anote isso
É possível então sustentar que o Direito é hoje uma esfera da vida social 
com importância fundamental para compreensão da dinâmica de funciona-
mento das instituições e processos políticos, além de ser uma salvaguarda 
dos cidadãos ante a possibilidade de desmandos do Estado que possam 
ser praticados por seus órgãos e autoridades.
Título: Justiça, Estátua, Senhora, Mitologia Grega
Fonte: https://pixabay.com
Neste sentido, conforme Silva (2001, p. 123-124):
“O princípio da legalidade é também um princípio basilar do Estado Democrático de 
Direito. É da essência do seu conceito subordinar-se à Constituição e fundar-se na 
legalidade democrática. Sujeitando-se, como todo Estado de Direito, ao império da 
lei, mas da lei que realize o princípio da igualdade e da justiça não pela sua generali-
dade, mas pela busca da igualização das condições dos socialmente desiguais. Deve, 
pois, ser destacada a relevância da lei no Estado Democrático de Direito, não apenas 
quanto ao seu conceito formal de ato jurídico abstrato, geral, obrigatório e modifi-
cativo da ordem jurídica existente, mas também à sua função de regulamentação 
fundamental, produzida segundo um procedimento constitucional qualificado. A lei 
https://pixabay.com/pt/photos/justi%C3%A7a-est%C3%A1tua-senhora-justi%C3%A7a-2060093/
40
é efetivamente o ato oficial de maior realce na vida política. Ato de decisão política 
por excelência, é por meio dela, enquanto emanada da atuação da vontade popular, 
que o poder estatal propicia ao viver social modos predeterminados de conduta, 
de maneira que os membros da sociedade saibam, de antemão, como guiar-se na 
realização de seus interesses.” (SILVA, 2001, p. 125).
Ainda, sobre o vínculo Estado, Direito e Política, Dallari (2001, p. 128) diz que:
“Como se tem procurado evidenciar, inclusive com o objetivo de assegurar o respeito 
aos valores fundamentais da pessoa humana, o Estado deve procurar o máximo de 
juridicidade. Assim é que se acentua o caráter de ordem jurídica, na qual estão sin-
tetizados os elementos componentes do Estado. Além disso, ganham evidência as 
ideias da personalidade jurídica do Estado e da existência, nele, de um poder jurídico, 
tudo isso procurando reduzir a margem de arbítrio e discricionariedade e assegurar 
a existência de limites jurídicos à ação do Estado.” (DALLARI, 2001, p. 128).
Isto acontece 
na prática
Nos Estados Democráticos de Direito, a atuação de governos, órgãos e 
autoridades estatais estão sujeitos à legislações nacionais e internacio-
nais, podendo ser responsabilizados em casos de abuso de autoridade, 
violações de direitos humanos e outras condutas ilegais e arbitrárias. 
Sobre essa temática, recomendamos a leitura da seguinte reportagem 
disponível no sítio eletrônico da Anistia Internacional: https://anistia.org.
br/direitos-humanos/publicacoes/peru-estado-toxico-violacoes-de-direi-
to-saude-dos-povos-indigenas-em-cuninico-e-espinar/. Último acesso em: 
14.jul.2019.
Por outro lado, da perspectiva do direito contemporâneo, não é suficiente que 
Estados, governos, órgãos e autoridades estatais se limitem a obedecer à lei no 
sentido de não violar direitos dos cidadãos. Hoje, mais que isso, é tarefa dos es-
tados garantir a cidadania, ou seja, o Poder Público tem o dever legal de fornecer 
condições mínimas de existência que possam assegurar, efetivamente, uma vida 
digna para seus cidadãos e, desse modo, viabilizar, proteger e fazer existir, de 
fato, a condição de cidadão, a cidadania. É disso que trata e para isso que estão 
https://anistia.org.br/direitos-humanos/publicacoes/peru-estado-toxico-violacoes-de-direito-saude-dos-povos-indigenas-em-cuninico-e-espinar/
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previstos expressamente nas Constituições, por exemplo, os chamados direitos 
sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, 
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância 
e a assistência aos desamparados.
Segundo Bulos (2015, p. 809):
“Direitos sociais são as liberdades públicas que tutelam os menos favorecidos, pro-
porcionando-lhes condições de vida mais decentes e condignas com o primado da 
igualdade real. [...] Tais prestações qualificam-se como positivas porque revelam um 
fazer por parte dos órgãos do Estado, que têm a incumbência de realizar serviços 
para concretizar os direitos sociais.” (BULOS, 2015, p. 809).
No Brasil, por exemplo, a cidadania está prevista expressamente na Consti-
tuição Federal de 1988 na condição de fundamento do Estado, estando esse valor 
relacionado, portanto, com o próprio sentido de ser que a lei maior atribuiu à atual 
configuração do nosso país. É clara a exigência jurídica de que o Estado brasileiro 
garanta à população subsídios materiais e imateriais que realizem a cidadania.
Título: Brasil, Pavilhão, Impressão Digital, País, orgulho
Fonte: https://pixabay.com
https://pixabay.com/pt/illustrations/brasil-pavilh%C3%A3o-impress%C3%A3o-digital-652855/
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Assim, a ideia de cidadania não se restringe aos direitos políticos, mas assume 
sentido mais amplo, qualificando os participantes da “vida do estado”. Ser cidadão 
envolve reconhecimento dos indivíduos como pessoas integradas na sociedade 
estatal, restando também o Estado submetido à vontade popular (soberania po-
pular, direitos políticos e dignidade da pessoa humana) (SILVA, 2016).
6.3 Considerações finais
Portanto, a respeito da relação entre Política, Direito e Cidadania, pudemos 
observar que no mundo contemporâneo, na grande maioria dos países, o poder 
político aparece regulado pelo Direito, vinculado ao império de legislações nacio-
nais e internacionais em favor da proteção de indivíduos e grupos de indivíduos. 
Ademais, conforme esses mesmos instrumentos jurídicos, constitui obrigação 
dos Estados atuar positivamente no sentido de prover condições – bens jurídicos 
materiais e imateriais – para que suas populaçõespossam viver com dignidade e, 
somente desse modo, verem-se integradas política e socialmente, tal é a relação 
e o sentido da ideia de cidadania.
43
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
AULA 07
44
7.1 Considerações Iniciais
Abordaremos ao longo desta aula um conceito clássico e fundamental das 
Ciências Políticas: a participação política.
Desde já, é importante salientar que participação política é também um exer-
cício de cidadania, quer dizer, a possibilidade de participarmos ativamente das 
grandes questões do Estado como legítimos membros de uma comunidade po-
lítica organizada.
Para tanto, vamos investigar as ações, relações e manifestações que caracte-
rizam o exercício da participação política, sempre enfatizando seu papel funda-
mental de influenciar os rumos da atuação estatal.
7.2 Participação Política
Vimos na aula anterior que em sociedades modernas e contemporâneas a 
hegemonia do Estado Democrático de Direito implica uma série de deveres por 
parte do Estado em relação aos cidadãos, tal como não violar direitos fundamen-
tais constitucionalmente previstos ou fornecer meios para que todos alcancem o 
propósito de uma vida digna.
Em contrapartida, da parte de todos nós enquanto cidadãos – membros de 
uma comunidade política organizada - é preciso reconhecer e enfatizar que os 
Estados, manifestos na realidade em que vivemos por meio de suas funções – Po-
deres Legislativo, Executivo e Judiciário – além de órgãos e autoridades estatais 
da Administração Pública Direta e Indireta, não são eles figuras abstratas, fantas-
magóricas, mas sua estrutura, configuração e funcionamento num determinado 
sentido específico constituem produto de realizações coletivas e compartilhadas 
de nossas escolhas, das escolhas de outros cidadãos e das escolhas de nossos 
antepassados, ou seja, comportamentos em que podemos observar efetiva par-
ticipação política.
45
Anote isso
O exercício de investigação, posicionamento e participação política dos ci-
dadãos de um país acerca das grandes questões da vida do Estado, em suas 
diferentes esferas, desde a municipal até a federal, é sempre um exercício 
de cidadania, que é de fundamental importância não apenas para si, mas 
também para uma vida melhor para as futuras gerações.
Logo, conforme já discutimos em aula anterior sobre democracia representa-
tiva ou indireta, somos nós mesmos que, na condição de cidadãos de um Estado 
Democrático de Direito, temos não apenas o direito, mas também o dever de exer-
cer nossos direitos políticos com zelo e compromisso, participando das grandes 
questões da vida do Estado, tal como faziam os gregos antigos.
Segundo Dallari (1999, p. 22-23):
“Um fato inegável, fácil de verificar, é que ninguém pode viver sem tomar decisões. 
Apesar disso, muitas pessoas fazem o possível para não tomar decisões, o que pode ser 
motivado por comodismo ou pelo medo da responsabilidade de decidir. Quase sempre 
essas pessoas procuram esconder o verdadeiro motivo, simulando desprendimento, 
dizendo que acatarão de boa vontade o que os outros decidirem. Essa atitude de fuga à 
responsabilidade é, quase sempre, ligada à falta de consciência quanto à necessidade da 
vida social e quanto ao significado da omissão no momento de decidir. Com efeito, não é 
raro que as pessoas condenem certas decisões e suas consequências, esquecendo-se de 
que tiveram a oportunidade de participar dessas decisões e preferiram deixar que outros 
decidissem sozinhos. Os que procedem desse modo não percebem que, indiretamente, 
são também responsáveis pelas decisões, como também não chegam a perceber, ou 
só percebem tardiamente, que sua omissão traz prejuízos para eles próprios e, muitas 
vezes, para uma coletividade inteira.” (DALLARI, 1999, p. 22-23).
Tal reflexão indica um aspecto importante da negligência em relação ao direito e 
ao dever de participação política por mero desinteresse ou qualquer outro motivo 
fundado em negligência: mesmo quando deixamos de participar dos processos 
políticos importantes a que somos convocados, mesmo nessa situação, nós partici-
pamos da decisão e somos levados a concordar com resultados e decisões tomadas 
por outros. Ora, também se participa politicamente por negligência ou omissão.
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Título: Escolha, Eleições, As Obras, Eleição do Conselho
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/escolha-elei%C3%A7%C3%B5es-3296667/
Seja como for, retomando o foco de nossa discussão que é a participação políti-
ca e não o contrário dela, o referido conceito de participação política implica ações 
e relações organizadas e exercidas coletivamente em diferentes espaços públicos 
de variadas maneiras e com múltiplas finalidades, tais como: exercer o direito de 
votar ou de candidatar-se a cargo público; conhecer e discutir propostas de go-
verno e projetos de lei trazidos por representantes políticos democraticamente 
eleitos no âmbito de nossa cidade, estado ou país; estudar e examinar diferentes 
doutrinas políticas presentes em nosso cotidiano, filiando-se ou não aos partidos 
ligados a elas; organizar-se em associações de bairro, sindicatos, partidos políticos, 
grêmios estudantis e outras instâncias de compartilhamento de ideias, troca de 
argumentos e propostas e discussões; participar de instrumentos de democracia 
direta previstos em nosso ordenamento jurídico, como é o caso da convocação de 
plebiscitos, referendos, a iniciativa popular, etc.; promover reivindicações políticas, 
inclusive participando, quando necessário, de manifestações políticas, greves, 
movimentos e lutas sociais por garantia, efetivação e ampliação de direitos dos 
cidadãos; acompanhar os órgãos, entidades e autoridades responsáveis pela fis-
calização da atuação daqueles que ocupam cargos públicos, etc.
https://pixabay.com/pt/illustrations/escolha-elei%C3%A7%C3%B5es-3296667/
47
Isto está 
na rede
Para entender ainda mais sobre participação política e cidadania, reco-
menda-se a leitura do artigo Participação Política – Participação Política e 
Cidadania, de autoria de Renato Cancian. Disponível em: https://educa-
cao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao-
-politica-e-cidadania.htm. Último acesso em: 27.jul.2019. 
Assim, ante o exposto até o presente momento, temos que, no que tange à 
participação política em nosso país, precisamos entender que ela é tanto um 
direito fundamental – a chamada capacidade eleitoral ativa, que nada mais é que 
o direito de votar, tanto quanto a denominada capacidade eleitoral passiva, que 
consiste na prerrogativa de candidatar-se a cargo público, em ambos os casos 
atendidos determinados requisitos expressamente descritos na Constituição 
Federal de 1988 – quanto um dever cívico já que o voto é obrigatório relati-
vamente à grande maioria dos brasileiros. Ademais, sobre os requisitos para 
tornar-se eleitor (alistamento eleitoral) e votar, bem como de candidatar-se a 
cargo público no Brasil, eles estão expressos nos incisos e parágrafos do artigo 
14 da Constituição Federal de 1988.
Ainda a respeito do direito de participação política, entendemos muito impor-
tante o seguinte apontamento trazido por Dallari (1999, p. 29):
“É importante saber que, embora as Constituições estabeleçam que o sistema é de 
sufrágio universal, isso não quer dizer que, na realidade, esse direito já tenha sido 
estendido a todos ou que pode ser exercido por todos com a mesma liberdade. Em 
grande número de países a porcentagem de pessoas sem direito de participação 
política, ou que têm o direito afirmado na lei mas que de fato não têm o poder 
de participação, é ainda muito grande. [...] Os sistemas eleitorais e os sistemas de 
governo são organizados de tal modo que só os que têm muito dinheiro ou que 
pertencem à cúpula de um grupo político muito poderoso é que vão para os cargos 
mais importantes e podem tomar decisões políticas de grandes consequências.” 
(DALLARI, 1999, p. 29 e 32).
Por outro lado, sobre o deverde participação política, Dallari (1999, p. 36) sus-
tenta que:
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.htm
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.htm
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.htm
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“[...] a participação política é um dever moral de todos os indivíduos de uma neces-
sidade fundamental da natureza humana. A participação intensa e constante de 
muitos é necessária para impedir que alguns imponham uma ordem injusta, que 
sempre acaba sendo prejudicial para todos” (DALLARI, 1999, p. 36).
7.3 Considerações finais
Finalmente, em curta síntese de toda essa discussão em torno do conceito de 
participação política, entendemos que dever e direito de participação política são 
faces complementares de uma mesma moeda, ligadas que estão à natureza social 
e políticas dos seres humanos.
E justamente porque que não podemos olvidar que vivemos e compartilhamos 
em conjunto com nossos iguais, temos e devemos exercitar a prerrogativa de par-
ticipar dos processos e procedimentos decisórios de estabelecimentos das regras 
que afetam a todos, não sendo justo que apenas uns decidam e outros tenham 
a obrigação de adimplir regras que deveriam ser comuns a todos.
49
ECONOMIA, SOCIEDADE E 
POLÍTICA
AULA 08
50
8.1 Considerações Iniciais
Nesta oitava e última aula pertinente à temática das Ciências Políticas, consoan-
te o tema proposto, qual seja Economia, Sociedade e Política, pretendemos eviden-
ciar dois argumentos importantes que acreditamos que muito contribuirão para 
a segunda parte desse curso a respeito de assuntos ligados à área da Economia.
Em primeiro lugar, buscamos esclarecer que, embora possa ser teoricamente 
fragmentada em disciplinas especializadas ou campos de investigação específi-
cos – Ciências Políticas, Economia, Sociologia, Direito, Religião, etc., a realidade 
concreta é una e, por essa razão, todas essas esferas da vida social se tocam e se 
entrelaçam, ou seja, influenciam-se mutuamente de maneira inseparável.
Com base nesse primeiro argumento, nosso segundo propósito ao longo dessa 
aula é deixar clara a importância da Economia para a compreensão da nossa so-
ciedade, de aspectos essenciais da vida em nossa época, o que esperamos sirva 
como um convite para a segunda parte desse curso.
Desse modo, para alcançar nossa meta com a consecução desses dois objetivos 
centrais, retomamos aspectos econômicos, sociais e políticos da história europeia 
nos últimos séculos que se tornaram decisivos na construção do mundo moderno 
e contemporâneo, quer dizer, desse mundo que vivemos, tanto quanto do modo 
de vida que compartilhamos.
Sem mais demora, convidamos a todos para participar dessa viagem no 
tempo, procurando identificar conosco os links relacionados aos nossos argu-
mentos.
8.2 Economia, Sociedade e Política
Ao menos desde o século XV com a consolidação dos estados nacionais e o 
advento das grandes navegações, evidenciou-se, com a Revolução Francesa em fins 
do século XVIII, a tomada e a conquista do poder político por parte da burguesia 
europeia, classe social que já era economicamente hegemônica.
Disso resultaram transformações sociais, políticas e culturais profundas que, 
muito embora não tenham se restringindo às questões econômicas de ordem 
material de reorganização da vida, sofreram influência direta das mudanças no 
sistema econômico e se estenderam a todas as esferas da realidade social.
51
Segundo Engels e Marx (2003, p. 47-48, grifos nossos):
“Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu todas as relações 
feudais, patriarcais, idílicas. Dilacerou impiedosamente os variados laços feudais 
que ligavam o ser humano a seus superiores naturais, e não deixou subsistir de 
homem para homem outro vínculo que não fosse o interesse nu e cru, o insensível 
“pagamento em dinheiro”. Afogou nas águas gélidas do cálculo egoísta os sagrados 
frêmitos da exaltação religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo 
pequeno-burguês. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca e no lugar das 
inúmeras liberdades já reconhecidas e duramente conquistadas colocou a liberda-
de de comércio sem escrúpulos. Numa palavra, no lugar da exploração mascarada 
por ilusões políticas e religiosas colocou a exploração aberta, despudorada, direta e 
árida”. (ENGELS;MARX, 2003, p. 47-48).
Neste mesmo sentido, outra passagem relevante para entender o declínio do 
teocentrismo no advento da modernidade ocidental capitalista pode ser encon-
trada nos estudos de Berman (1986, p. 131-132) ao analisar o posicionamento de 
Marx em relação à modernidade:
“[...] a vida se torna inteiramente dessantificada. De vários modos, Marx sabe que 
isso é assustador: homens e mulheres modernos podem muito bem ser levados ao 
nada, carentes de qualquer sentimento de respeito que os detenha; livres de medos 
e temores, estão livres para atropelar qualquer um em seu caminho, se os interesses 
imediatos assim o determinarem. Contudo, Marx também divisa as virtudes de uma 
vida despida de halos: esta desperta a condição de igualdade espiritual. Com isso, a 
moderna burguesia pode deter amplos poderes materiais sobre os trabalhadores e 
quem quer que seja, mas jamais recuperará a ascendência espiritual que as antigas 
classes dominantes tinham como tácita. Pela primeira vez na história, todos con-
frontam a si mesmos e aos demais em um mesmo e único plano” (BERMAN, 1986, 
p. 131-132).
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Título: França, Revolução Francesa, Guerra Civil, Liberdade
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/fran%C3%A7a-revolu%C3%A7%C3%A3o-francesa-63022/
Assim, com a secularização do saber sem amarras mitológicas ou religiosas, 
podemos observar que passa a ser relativamente livre e abundante a produção 
de concepções e teorias políticas, religiosas, filosóficas, sociais, científicas, reco-
nhecendo-se na modernidade ocidental o signo da secularização e do contínuo 
incremento do conhecimento humano.
Anote isso
Com o triunfo da Revolução Francesa em fin de siècle a visão teocentrista 
fundamentada na tradição e na crença é substituída em diversos países 
pelos valores econômicos e políticos da burguesia vitoriosa.
https://pixabay.com/pt/photos/fran%C3%A7a-revolu%C3%A7%C3%A3o-francesa-63022/ 
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Por consequência dessas transformações econômicas, sociais, políticas e cul-
turais, a hegemonização da nova ordem social na Europa ocidental favoreceu a 
disseminação do humanismo moderno e do racionalismo por parte significativa 
do globo terrestre, utilizando-se, frequentemente, os acontecimentos e desdobra-
mentos desse período para assinalar o início do mundo contemporâneo.
Ainda segundo Cavalcante (1991, p. 9):
“[...] o processo revolucionário que abalou tão profundamente a sociedade francesa 
no final do século XVIII e que de forma diversa atingiu as demais sociedades europeias, 
influenciou outros movimentos revolucionários, atemorizou e entusiasmou diferentes 
segmentos sociais mesmo nas longínquas regiões coloniais, impôs-se à reflexão de 
políticos, pensadores, filósofos, romancistas e historiadores” (CAVALCANTE, 1991, p. 9).
A emancipação do conhecimento das amarras forjadas pelo sistema de valores 
religiosos do mundo pré-moderno permitiu que a modernidade ocidental viven-
ciasse uma nova situação de crescente autonomia e liberdade de pensamento, 
além de um poder de dominação tecnológica sem precedentes na história do 
gênero humano.
Título: Crianças, Vitória, Sucesso, Jogo de Vídeo, Jogar, Feliz
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-vit%C3%B3ria-sucesso-593313/
https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-vit%C3%B3ria-sucesso-593313/ 
54
A contradição insolúvel entre a visão mágica de mundo própria do período 
pré-moderno e esta racionalidade econômica ligada aos múltiplos racionalismos

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