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CIÊNCIA POLÍTICA E ECONOMIA PROF.ª DOUTOR GABRIEL CUNHA SALUM PROF.ª MS. ANA LÍVIA CAZANE SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 AULA 16 INTRODUÇÃO GERAL ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS 4 O QUE É POLÍTICA? 11 CIÊNCIAS SOCIAIS E CIÊNCIAS POLÍTICAS 18 CIÊNCIAS POLÍTICAS: HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO 24 SOCIEDADE, POLÍTICA E PODER 31 POLÍTICA, DIREITO E CIDADANIA 37 PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 43 ECONOMIA, SOCIEDADE E POLÍTICA 49 CONCEITOS ECONÔMICOS BÁSICOS 55 MACROECONOMIA X MICROECONOMIA 61 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO 68 ESTRUTURAS DE MERCADO 80 RENDA NACIONAL - PIB 89 MOEDA E INFLAÇÃO 96 POLÍTICA MONETÁRIA 104 POLÍTICA FISCAL 108 INTRODUÇÃO De acordo com os objetivos programáticos planejados pelos autores para esse livro, a pri- meira parte é toda dedicada ao estudo das Ciências Políticas. Para tanto, procuramos apresentar tal temática por meio de uma abordagem das Ciências Políticas em conjunto com outros temas e esferas do saber que entendemos interligados a elas e, por consequência, delas indissociá- veis. Ainda, a cada aula, procuramos trazer também um nível crescente de aprofundamento em termos de conteúdos conceituais, além de aspectos práticos dessa área do conhecimento humano que se fazem presentes em nossas vidas no dia a dia. Assim, na primeira aula, fizemos uma introdução geral às Ciências Sociais e Políticas com o propósito de contextualizar e enfatizar determinados sentidos, bem como a importância de conteúdos dessas áreas do conhecimento na atualidade. A segunda aula é toda voltada ao objeto central das Ciências Políticas: a própria política, isto é, fenômenos, organizações e processos que envolvam ações, decisões e relações da sua natureza. Procuramos salientar também dois significados possíveis e comuns na percepção e na vivência da política em nossos cotidianos: a política institucional e a política nos espaços de convivência social pela busca de certos objetivos para uma vida melhor. Na terceira aula examinamos a relação entre Ciências Sociais e Ciências Políticas, buscando evidenciar, a partir da autonomia e da consolidação das Ciências Sociais como campo de inves- tigação e reflexão, os caminhos de estruturação das Ciências Políticas enquanto disciplina, com objeto de pesquisa e dinâmicas de trabalho distintas de outras perspectivas de análise social ligadas à Sociologia e à Antropologia. Então, na quarta aula, reunimos conhecimentos abordados e discutidos nas aulas anteriores para estudar a história do pensamento político, levando em conta, justamente pela relevância indiscutível do tema, esforços de compreensão e interesses por esse aspecto da realidade social, anteriores ao surgimento do entendimento moderno que se tem da política e que orienta os estudos de Ciência Política na atualidade. As aulas seguintes tratam das relações de mútua dependência entre fenômenos políticos e outros aspectos da realidade social: o poder; o direito enquanto instrumento para a garantia, efetivação e ampliação da cidadania; a participação política e a economia, assunto esse que constitui o objeto central da segunda parte do livro. Portanto, ao final dessa primeira parte do nosso livro, esperamos que os estudos reali- zados acerca das Ciências Políticas possam efetivamente contribuir em termos de fornecer subsídios teóricos e conexões práticas com questões e dinâmicas profissionais, além do que é comum já retomar: uma antiga reflexão de que o estudo da política é sempre um exercício de liberdade. Desejamos, desde já, muito sucesso nessa caminhada que esperamos que possa trazer novos conhecimentos, enriquecendo as trajetórias pessoal e profissional de vida. Vamos em frente! INTRODUÇÃO GERAL ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS AULA 01 5 1.1 Considerações Iniciais Nesta primeira aula buscaremos contextualizar o lugar de pertencimento das Ciências Políticas enquanto área de investigação e pesquisa de ações, relações e instituições do comportamento humano, inserida no contexto mais geral das chamadas Ciências Sociais. Para isso, buscaremos inicialmente demonstrar, no contexto de acontecimen- tos que produziram um novo mundo e uma nova sociedade em constante movi- mento em termos econômicos, sociais, políticos e culturais – o mundo moderno e contemporâneo – como o pensamento científico passou a abranger, ao longo do tempo e de maneira contínua, diferentes esferas e assuntos da vida, ou seja, o contexto histórico-social de surgimento e consolidação das Ciências Sociais em geral e das Ciências Políticas em particular. Em seguida, apresentaremos as principais disciplinas que compõem as Ciências Sociais, com especial ênfase às Ciências Políticas, disciplina que constitui nosso objeto de estudo nesse curso. Por último, cabe salientar que nosso objetivo nessa primeira aula é tão so- mente contextualizar e ressaltar a relevância das Ciências Sociais e Políticas no mundo contemporâneo, sendo que um estudo mais detido das relações entre esses domínios será feito oportunamente na terceira aula. 1.2 A Sociedade Como Objeto De Estudo: O Surgimento E A Consolidação Das Ciências Sociais Ainda hoje, é interessante notar a existência de uma vasta gama de ideias, perguntas, conceitos e até mesmo definições, frequentemente não consensuais e até mesmo contraditórios, a respeito da vida dos indivíduos em sociedade, dis- cutindo-se questões como: 1. Os indivíduos sempre viveram em sociedade? 2. A sociedade antecede os indivíduos ou os indivíduos antecedem a so- ciedade? 3. Quais seriam os fatores determinantes para constituir comunidades ou sociedades e qual a diferença entre as noções de comunidade e sociedade? 6 4. Que forças atuariam no sentido de garantir a coesão ou, por outro lado, desagregar sociedades? 5. Diferentes modelos ou padrões de sociedade, aqui entendidos como certos modos historicamente verificáveis de organização da vida social, são constantes e imutáveis em seus elementos constitutivos essenciais ou possuem diferenças que variam entre si ao longo do tempo? 6. Uma mesma sociedade poderia ser constante por esforços de seus membros ou sofreria inevitáveis modificações ao longo do tempo? 7. Como se dão as correlações de força/poder numa dada sociedade? 8. Quais as possíveis relações entre seres humanos, sociedades e culturas, conjunto compartilhado de valores e preferências, dado a diversidade humana, passível de observação em incontáveis línguas, cores, usos, costumes, tradições, formas de comportamento social, preferências políticas, padrões artísticos e estéticos, modos de organização da eco- nomia, além de distintas normas morais, éticas e jurídicas, etc.? Todas essas questões, entre outras tantas que poderiam ser formuladas com pertinência à noção de sociedade, sejam elas mais gerais ou específicas, revelam para nós a riqueza de temas que fazem parte do objeto de estudo das Ciências Sociais. Título: Multidão Humanos Fonte: https://pixabay.com/pt/multid%C3%A3o-humanos-silhuetas-pessoal-2045498/ https://pixabay.com/pt/multid%C3%A3o-humanos-silhuetas-pessoal-2045498/ 7 Desse modo, na tentativa de uma espécie de síntese provisória, demasiada- mente parcial, fragmentada e incompleta, as Ciências Sociais têm tido como campo de estudo, interesse e investigação, a vida compartilhada de homens e mulheres em diferentes espaços e temporalidades, convivendo com suas escolhas, ações, regras, enfim, relações sociais que são inevitavelmente realizadas para fins de melhor satisfazer necessidades físicas e sociais essenciais de cada membro da sociedade e, assim, procurar garantir e ampliar formas e mecanismos de sobre- vivência, além de ampliar os horizontes da existência pela própria convivência em coletividade. Anote isso No seu mais importante sentido, entendemos por “sociedade” uma espéciede contextura formada entre todos os homens e na qual uns dependem dos outros, sem exceção; na qual o todo só pode subsistir em virtude da unidade das funções assumidas pelos co-participantes, a cada um dos quais se atribui, em princípio, uma tarefa funcional; e onde todos os indivíduos, por seu turno, estão condicionados, em grande parte, pela sua participação no contexto geral. Assim, o conceito de sociedade define mais as relações entre os elementos componentes e as leis subjacentes nessas relações do que, propriamente, os elementos e suas descrições comuns (HORKHEIMER; ADORNO, 1956, p. 25-26). Após essas considerações iniciais acerca do nível de profundidade que en- volve a ideia de sociedade, é preciso atentar também para a complexidade das relações sociais, isto é, considerar que a convivência comum de uma variedade de indivíduos e grupos de indivíduos – com diferentes necessidades, reivindica- ções e interesses de natureza social e política – pode tornar-se demasiadamente conflituosa, produzindo acontecimentos e eventos que de tempos em tempos afetam e colocam em questionamento, com maior ou menor intensidade, o pró- prio sentido da vida em sociedade, tanto quanto a dinâmica de funcionamento de um determinado padrão. Tudo isso sem contar a recorrente e conturbada interferência de instituições e realidades com dinâmicas de funcionamento que se revelam dificilmente compreensíveis para o homem comum, tal como é o caso da atuação do Estado e a lógica dos fenômenos econômicos. 8 Durante séculos, nos períodos históricos comumente designados mundo an- tigo e Idade Média, a força da religião e da tradição forneceu o “cimento” que garantia a coesão de grupos humanos e comunidades, explicando praticamente a totalidade dos fenômenos naturais e sociais. Durante essa época da história humana, a sociedade era entendida como algo natural, quer dizer, componentes importantes da realidade social como a distribuição da riqueza, que favorecia alguns em detrimentos de outros; a profissão desempenhada, que geralmente era a mesma dos ancestrais; os casamentos, arranjados conforme a origem social dos pretendentes; as práticas de trabalho e os fenômenos naturais, tal como a agricultura, a produção de bens de subsistência, secas, enchentes, etc.; tudo isso era compreendido, em grande medida, a partir da vontade dos deuses, da lógica dos costumes e da tradição e assim por diante. Então, as catástrofes naturais e os problemas sociais não eram entendidos como produzidos pelas próprias pessoas e, por essa razão, cabia a todos aceitarem a vida gestada dentro da ordem social como algo natural e não passível de questionamentos. A sociedade não era, ainda, algo que pudesse ser objeto de reflexão, questionamento e mudança (PIRENNE, 1963; LÉVY, 1973; COULANGES, 1996). Anote isso O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamen- to ocidental e para o surgimento da sociologia. As transformações econô- micas, políticas e culturais que se aceleram a partir dessa época colocarão problemas inéditos para os homens que experimentavam as mudanças que ocorriam no ocidente europeu (MARTINS, 1984, p. 11). Com o triunfo da Revolução Científica, da Reforma e da Revolução Francesa entre os séculos XVI e XVIII, a visão teocentrista de mundo fundamentada na re- ligião, na tradição e na crença é substituída em diversos países pelos valores da burguesia vitoriosa. A hegemonização da nova ordem social na Europa ocidental favoreceu a disseminação do humanismo moderno, do racionalismo por parte significativa do globo terrestre, das grandes navegações, em curta síntese, de uma vasta acumulação de conhecimento, poder e riqueza por parte da burguesia, so- bretudo europeia, que possibilitou mais um evento – a Revolução Industrial - que mudou a face do mundo por meio da modernização, do incremento da vida pelo 9 aumento de bens e tecnologia e, paradoxalmente, pela miséria, doenças, mortes e condições insuportáveis de trabalho. Temos, aqui, os principais elementos que caracterizaram o surgimento e o de- senvolvimento do mundo moderno, forjado por um conjunto de acontecimentos, práticas e valores tão diferentes de tudo que o antecedeu nas formas anteriores de organização da vida em sociedade, que trouxe consigo a necessidade de um novo campo de investigação e pesquisa da vida social, dos costumes e valores dos homens e da dimensão dos processos políticos, sendo as Ciências Sociais essa nova área de saberes. Todas essas mudanças econômicas, políticas e sociais, progressivamente ges- tadas ao longo dos séculos anteriores, culminaram, a partir do século XIX, na construção de um novo campo científico voltado à investigação de transforma- ções drásticas que resultaram no paradoxal incremento do desenvolvimento e melhoramento da vida humana e, ao mesmo tempo, da miséria e consequente contestação política e social da nova ordem vigente, cabendo às Ciências Sociais, por meio de seus ramos/disciplinas – Sociologia, Ciências Políticas e Antropologia – produzir interpretações, reflexões e críticas às formas de vida de indivíduos e grupos de indivíduos no mundo contemporâneo, tanto quanto procurar interferir nos rumos dessa nova realidade social dos tempos modernos, seja na tentativa inócua de restaurar estados anteriores das coisas, seja para aprofundar ainda mais as mudanças já em curso na “nova sociedade”. Nesse contexto, as Ciências Sociais surgem e se desenvolvem até os dias atuais como instrumento de avaliação e interferência consciente nesse “novo mundo”, cabendo à Sociologia investigar o moderno padrão de organização da sociedade ocidental capitalista a partir de fenômenos como modernização e modernidade, que ao menos desde o século XV afetam diretamente a vida de milhões de homens e mulheres no mundo todo. Por seu turno, a Antropologia se tornou um campo do saber que busca estudar a diversidade da vida humana em diferentes contex- tos sociais e culturais, em diferentes lugares e épocas, procurando compreender diferentes modos de vida. Por último, é objetivo das Ciências Políticas analisar, no mundo moderno e contemporâneo, os fenômenos relacionados à política e suas repercussões econômicas, sociais e jurídicas na vida de indivíduos, grupos de indivíduos, países, nações, etc. 10 1.3 Considerações Finais A partir de uma conceituação inicial, abstrata e elementar de sociedade, obser- vamos que a realidade social concreta é marcada por constantes transformações de ordem econômica, social, política, cultural, jurídica, entre outras. A realização histórica dessas mudanças no mundo ocidental desde o século XV produziram mudanças que destruíram os padrões mais ou menos estáticos de organização social do mundo antigo e da Idade Média, propiciando um rico contexto de reformulação dos modos de organização social, o que resultou em formas inéditas de vida mediadas por progressos e liberdades, acompanhadas de miséria e cerceamento de condições dignas de existência e de direitos. Tal estado de coisas, a constante produção e reformulação de diferentes aspec- tos da realidade social, levou a consideração da sociedade como objeto passível de pesquisas e investigações, cabendo às Ciências Sociais, com suas disciplinas específicas, entre elas as Ciências Políticas, a realização dessa tarefa. 11 O QUE É POLÍTICA? AULA 02 12 2.1 Considerações Iniciais Nesta aula damos início a um estudo mais aprofundado sobre as Ciências Po- líticas, isto é, dentre vários assuntos importantes que examinaremos ao longo do curso, é oportuno voltarmos nossa atenção para uma questão fundamental, que constitui o objeto da disciplina Ciências Políticas: O que é política? Neste sentido, considerando que temos por objetivo principal compreender as Ciências Políticas, procuraremos nesta aula apresentar um conjunto de conhe- cimentos relativos à Política que possa contribuir no sentidode facilitar nosso contato com o que podemos chamar de “mundo da política”. Vamos juntos percorrer esse instigante caminho que atraiu, fascinou e mobi- lizou homens e mulheres de diferentes épocas em todas as partes do mundo? Mãos à obra! 2.2 O que é Política? A partir de uma breve reflexão acerca de nossas experiências cotidianas em dife- rentes espaços ou círculos sociais de que fazemos parte (família, amigos, trabalho, igreja, etc.) é bem possível que já possamos formular certas impressões sobre política, estabelecendo, assim, algum tipo de noção teórica ou prática acerca dessa parte da vida em sociedade, ainda que tal nível de percepção e de vivências possa ser impreciso e/ou parcial pela própria diversidade de temas e questões relacionados à política. Ora, não é raro participarmos de conversas e discussões que envolvam assun- tos de teor nitidamente políticos, tais como: a) necessidades, interesses e conflitos de indivíduos, grupos de indivíduos, classes sociais e até mesmo as motivações que ensejam conflitos militares; b) a estrutura de organização e a lógica de funcionamento do nosso país - o Estado brasileiro - ou de outras nações - os Estados estrangeiros; c) determinados direitos fundamentais que todos nós temos para uma vida digna enquanto seres humanos que convivem em sociedade, de- vendo ser todos eles respeitados, garantidos e ampliados pelo Estado por meio de leis, políticas públicas, políticas sociais, etc.; d) preferências políticas em termos de partidos políticos, candidatos, pla- nos de governo, etc.; 13 e) eleições municipais, estaduais ou em nível nacional, que são realizadas pelo exercício do direito de votar e de candidatar-se à cargos públicos, conforme a lei; f) propostas, intervenções e debates sobre o que é importante para bair- ros, condomínios, empresas, instituições religiosas, clubes recreativos, sindicatos, etc.; g) conceitos políticos mais técnicos, como é o caso dos regimes políti- cos, formas de estado, formas de governo, doutrinas políticas, entre outros. Isto acontece na prática É comum na atualidade um alto grau de liberdade que permite às pes- soas reivindicarem seus direitos e manifestarem suas convicções políti- cas. Neste sentido, recomendamos a leitura de reportagem do periódico eletrônico BBC NEWS, veiculada em 19 de novembro de 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46249017. Último acesso em: 20.mai.2019. Assim que, considerando a proporção e a diversidade dessa lista de assuntos relacionados à ideia de política, que estão direta ou indiretamente presentes em nosso dia a dia, podemos dizer que todos nós, com base em nossas próprias vidas, sabemos de fato muitas coisas a respeito da política, mesmo que isso não nos apareça de forma clara quando pensamos essa temática. Então, a partir dessa visão mais ou menos clara sobre experiências de vida relacionadas a diferentes questões políticas, como poderíamos alcançar um con- ceito inicial sobre “O que é Política?”, que demonstre ser, ao mesmo tempo, objetivo, criterioso e abrangente para nosso entendimento e compreensão do assunto? Em primeiro lugar, a resposta para esse questionamento depende do exercício de reflexão que acabamos de fazer no sentido de que todos nós somos cidadãos que convivem em sociedade num Estado de Direito, o que significa dizer que a política não é algo distante de nossa realidade, mas uma parte essencial das nossas próprias vidas. De maneira que, num certo sentido, a política nada mais é que nossa participação direta ou indireta, consciente ou não, nas questões e decisões tidas como importantes para nós, nossa sociedade, nossa cidade, estado ou país. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46249017 14 É possível afirmar que a sociedade e o mundo em que vivemos hoje são re- sultados de reivindicações, lutas, decisões e contradições políticas daqueles que viveram antes de nós. Além disso, em segundo lugar, conhecer e participar da política são verdadeiros direitos fundamentais constitucionalmente garantidos a todos nós enquanto cidadãos, sendo que, por essa razão, não podem ser negados ou diminuídos por órgãos e autoridades estatais sem que firam nossa cidadania e o regime democrático em que vivemos, resultando, nesse caso, no cometimento de graves ilegalidades e/ou injustiças por parte do Estado. Anote isso TA política é uma referência permanente em todas as dimensões do nosso cotidiano na medida em que este se desenvolve como vida em sociedade. Embora o termo “política” seja muitas vezes utilizado de um modo bastante vago, é possível precisar seu significado a partir das experiências históricas em que aparece envolvido (MAAR, 1994, p. 7). É interessante observarmos que, ao apresentar a noção de política, Maar (1994, p. 9) distingue dois sentidos importantes atribuídos à política em nosso cotidiano: por um lado, a política institucional no sentido mais convencional ligada ao poder político, o funcionamento das instituições estatais e, por outro, um sentido mais genérico e talvez menos perceptível, o que poderíamos denominar de política em prol da consecução de certos objetivos para uma vida melhor. Desse modo, vamos analisar, lado a lado, os dois conceitos, tal como trazidos pelo referido autor, acrescentando em seguida a cada conceito, respectivamente, ilustrações sobre espaços públicos de discussões/decisões em nível de política ins- titucional e política em prol da consecução de certos objetivos para uma vida melhor. Sobre a política institucional, Maar (1994, p. 9-10) afirma que: Um deputado ou um órgão de administração pública são políticos para a totalidade das pessoas. Todas as atividades associadas de algum modo à esfera institucional política, e o espaço onde se realizam, também são políticas. Um comício é uma reu- nião política e um partido é uma associação política, um indivíduo que questiona a ordem institucional pode ser um preso político; as ações do governo, o discurso de um vereador, o voto de um eleitor são políticos (MAAR, 1994, p. 9-10). 15 Título: Congresso Conferência Fonte: https://pixabay.com/pt/congresso-confer%C3%AAncia-pol%C3%ADtica-74032/ Já a respeito do que podemos denominar política em prol da consecução de certos objetivos para uma vida melhor, Maar (1994, p. 10) diz que: Quando se fala da política da Igreja, isto não se refere apenas às relações entre a Igreja e as instituições políticas, mas à existência de uma política que se expressa na Igreja em relação a certas questões como a miséria, a violência, etc. Do mesmo modo, a política dos sindicatos não se refere unicamente à política sindical, desenvolvida pelo governo para os sindicatos, mas às questões que dizem respeito à própria ativi- dade do sindicato em relação aos seus filiados e ao restante da sociedade. A política feminista não se refere apenas ao Estado, mas aos homens e às mulheres em geral. As empresas têm políticas para realizarem determinadas metas no relacionamento com outras empresas, ou com os seus empregados. As pessoas, no seu relaciona- mento cotidiano, desenvolvem políticas para alcançar seus objetivos nas relações de trabalho, de amor ou de lazer; dizer “Você precisa ser mais político” é completamente distinto de dizer “Você precisa se politizar mais”, isto é, “precisa ocupar-se mais da esfera política institucional” (MAAR, 1994, p. 10). https://pixabay.com/pt/congresso-confer%C3%AAncia-pol%C3%ADtica-74032/ 16 Título: Conversa Pessoas Falando Duas Figuras Fonte: https://pixabay.com/illustrations/conversation-talk-talking-people-799448/ Ao passo que a política em sentido genérico em prol da consecução de certos objetivos para uma vida melhor é mais abrangente, estendendo-se por diferentes esferas da vida de pessoas físicas e instituições, visando atingir metas pessoais e finalidades organizativas entre outros, dentro de sua área de vida e ação, a política institucionalfaz referência a um significado stricto sensu mais próximo da acepção comum de política que conhecemos e estamos habituados, qual seja a dimensão política referente ao aspecto político-administrativo do Estado expresso em sua estrutura espacial – União, Estados, Distrito Federal e Municípios - tanto quanto na regulação do poder pela harmonia e independência de suas funções legislativa, executiva e jurisdicional. Dessa perspectiva, fica mais fácil entender o quanto somos políticos e fazemos parte da vida política do Estado. https://pixabay.com/illustrations/conversation-talk-talking-people-799448/ 17 2.3 Considerações Finais O fenômeno político está diretamente ligado ao nosso dia a dia e pode ser observado a partir de sentidos distintos, envolvendo a política no singular, no que tange à política institucional, assim como às políticas no plural, quando se pensa valores, objetivos programáticos, interesses e discussões relacionados à instituições e pessoas. Enquanto a política em prol da consecução de certos objetivos para uma vida melhor é mais abrangente porque se estende por diferentes esferas da vida pes- soal e institucional de pessoas físicas e jurídicas, visando atingir metas pessoais e finalidades organizativas, entre outros, dentro de sua área de vida e ação, a política institucional faz referência a um significado stricto sensu mais próximo do entendimento comum do termo política que conhecemos e estamos habituados a ler em jornais e assistir em noticiários/telejornais, qual seja aquela dimensão da política referente ao aspecto político-administrativo e às atividades desempe- nhadas pelo Estado para e pelo funcionamento de seus órgãos e autoridades nas funções legislativa, administrativa e jurisdicional. Portanto, a partir dos ângulos da política trazidos nessa aula, podemos agora identificar e entender manifestações políticas com maior facilidade, cumprindo o propósito de responder a indagação “O que é política?”. Também podemos notar o quanto somos políticos ao vivermos em comunidades e sociedades politicamente organizadas com mediação do chamado Estado de Direito no mundo contempo- râneo. Esse é o ponto de partida de nossa viagem pelos mares tempestuosos da Polí- tica e das Ciências Políticas. Continuamos na próxima aula, quando examinaremos a área do conhecimento denominada Ciências Políticas em sua relação com as chamadas Ciências Sociais na árvore do conhecimento humano. 18 CIÊNCIAS SOCIAIS E CIÊNCIAS POLÍTICAS AULA 03 19 3.1 Considerações Iniciais Na aula anterior abordamos a noção de Política, buscando melhor compreen- der conteúdos e significados relacionados a esse aspecto da vida social. Ao longo desta aula estudaremos a área e a disciplina do conhecimento humano que são responsáveis pela realização de investigações e análises dos fenômenos políticos, quais sejam as Ciências Sociais e as Ciências Políticas. Desta forma, enquanto a Política nos diferentes sentidos discutidos na aula anterior constitui parte da vida em sociedade, as Ciências Políticas podem ser en- tendidas como um amplo e diversificado conjunto de estudos científicos rigoro- samente sistematizados dos mais diferentes aspectos de fenômenos e processos políticos, buscando esclarecer o sentido de ações e relações políticas estabelecidas entre pessoas, grupos de pessoas, classes, países, etc. Logo, já examinados distintos sentidos dos fenômenos e processos políticos, chegamos à etapa de adentrar nos estudos relativos ao objeto de nossa discipli- na: vamos nos aventurar nos caminhos do surgimento e do desenvolvimento das Ciências Sociais e Políticas! Mãos à obra! 3.2 Ciências Sociais e Ciências Políticas A curiosidade e a busca dos seres humanos por investigar, conhecer e tentar explicar questões complexas da realidade, tais como o sentido da vida, o funciona- mento da natureza e a melhor forma de viver em sociedade, remontam a milênios e fazem parte da história dos mais diferentes povos. É comum encontrarmos nas civilizações do mundo antigo – como é o caso dos gregos, egípcios, romanos, povos da Mesopotâmia, da América do Sul, etc. – inú- meras tentativas de explicação dos fenômenos naturais e sociais, sobretudo por meio de narrativas mitológicas ou fundadas nas grandes religiões. 20 Título: Poseidon Marinho Mar Mitologia Grega do Mar Profundo Fonte: https://pixabay.com/photos/poseidon-marine-the-sea-deep-sea-1426660/ Ao longo do tempo, diferentes fatores influenciaram para o florescimento e o crescente desenvolvimento da Filosofia como forma de explicação racional do mundo e das relações humanas em nossa sociedade em detrimento de explica- ções mitológicas e religiosas da realidade, sendo possível traduzir o conteúdo da Filosofia como uma espécie de amor ao conhecimento baseado numa permanente busca de verdades racionais. Isto está na rede Para um exame mais aprofundado sobre o papel da Mitologia como ins- trumento de explicação da realidade em organizações sociais do mundo antigo, recomenda-se a leitura do artigo Mitologia – Uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo, de autoria de Antônio Carlos Olivieri. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/ historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-expli- car-o-mundo.htm. Último acesso em: 28.mai.2019. https://pixabay.com/photos/poseidon-marine-the-sea-deep-sea-1426660/ https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-explicar-o-mundo.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-explicar-o-mundo.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/mitologia-uma-das-formas-que-o-homem-encontrou-para-explicar-o-mundo.htm 21 A partir da produção de conhecimentos filosóficos relacionados às mais va- riadas áreas do mundo natural e social, particularmente no início do mundo mo- derno, homens e mulheres de diferentes partes do mundo produziram esforços incansáveis para fornecer explicações lógicas sobre a realidade em seus mais diferentes aspectos, construindo, paulatinamente, métodos de investigação cada vez mais sofisticados em termos de pesquisa. É o início da Era das Ciências que passariam a produzir, sem cessar até os dias de hoje, grandes descobertas que têm revolucionado continuamente nosso entendimen- to sobre as mais diferentes facetas da realidade: da grandeza supostamente inson- dável do universo até a dimensão aparentemente invisível das formas microscópicas de vida, passando por diversos estudos sobre o ser humano e a vida em sociedade. Isto acontece na prática Uma das contribuições do “espírito científico” que propiciou profundas transformações de caráter econômico, político, social e cultural na vida de milhões de seres humanos nas mais variadas partes do mundo foi o conhecimento, controle e possibilidade de manipulação da eletricidade. Neste sentido, recomenda-se assistir o documentário A História da Ele- tricidade, produzido pela BBC. Disponível na Plataforma YouTube em: https://www.youtube.com/wat- ch?v=rAqUvE97iCU&t=20s. Último acesso em: 28.mai.2019. Com o surgimento e aprimoramento das Ciências nos mundos moderno e contemporâneo, podemos observar uma lógica de crescente divisão e fragmen- tação dos conhecimentos científicos em áreas especializadas, ocupando posição de destaque nesse processo a ramificação de estudos relacionados à natureza e estudos voltados à sociedade, quer dizer, o “universo” das Ciências Naturais e o “mundo” das Ciências Humanas e Sociais. Constituem as Ciências Sociais uma área de investigação científica nascida na Europa do século XIX para tratar de causas e consequências de ações e relações sociais realizadas por indivíduos e grupos de indivíduos, promovendo pesquisas e reflexões críticas sobre problemas enfrentados por diferentes pessoas, grupos de pessoas e sociedades. Pretende ofereceralternativas de mediação ou resolu- https://www.youtube.com/watch?v=rAqUvE97iCU&t=20s https://www.youtube.com/watch?v=rAqUvE97iCU&t=20s 22 ção de conflitos sociais, além de prevenir ou denunciar práticas, comportamentos e realidades sociais que demonstraram ser historicamente inviáveis no sentido de prejudicar o meio ambiente e os seres humanos. Título: Lupa Cabeça Humana Enfrenta Fonte: https://pixabay.com/illustrations/magnifying-glass-human-head-faces-1607208/ Em divisão hoje clássica referente aos diferentes campos ou domínios das Ciências Sociais temos como subáreas de interesses específicos: a Antropologia, a Sociologia e as Ciências Políticas. Por consequência, as Ciências Políticas podem ser entendidas com um ramo especializado das Ciências Sociais. Anote isso Com base no que investigamos até o presente momento, é possível afirmar que consiste as Ciências Políticas na disciplina voltada ao estudo e análise da política ou, mais especificamente, dos fenômenos, organizações, siste- mas e processos políticos verificados em distintos padrões de sociedade no tempo e no espaço. Assim, os cientistas políticos investigam e analisam tendências e teorias ligadas aos sistemas políticos, ou seja, verificando fenômenos políticos em múltiplas esfe- ras, da política institucional às políticas públicas e sociais, tanto quanto processos que impliquem estrutura e mudanças dos regimes políticos com seus mecanismos contemporâneos de garantia de segurança e direitos aos cidadãos, etc. https://pixabay.com/illustrations/magnifying-glass-human-head-faces-1607208/ 23 3.3 Considerações Finais Para que possamos compreender satisfatoriamente a contextualização das Ciências Políticas em seu sentido moderno e contemporâneo de disciplina aca- dêmica e, ao mesmo tempo, área de pesquisa e investigação, é importante que voltemos no tempo, estabelecendo determinadas conexões de cunho não apenas teórico, mas também histórico-social. É em nosso padrão cultural atual de ciência e sociedade que as Ciências Políti- cas aparecem integradas às Ciências Sociais, que por seu turno seguiram outras linhas de ramificação do saber científico num histórico de empreendimentos hu- manos que abrem mão da racionalidade como referencial adequado para co- nhecer logicamente a natureza e a sociedade, alcançando nessa linha do tempo a Filosofia antiga, sucessora de explicações mitológicas e religiosas da realidade física e social. Na próxima aula investigaremos aspectos da relação entre Ciências Políticas e História, isto é, procuraremos entender a fundo a dinâmica de surgimento e de- senvolvimento do pensamento em torno das Ciências Políticas ao longo do tempo, mostrando que, para além do sentido moderno dessa disciplina em nosso tempo presente, a política sempre foi temática considerada objeto de grande relevância para estudiosos, governantes, estadistas e pessoas comuns, recordando, como já vimos anteriormente, o fato de que a política é parte de nossas próprias vidas na medida em que vivemos em sociedade. 24 CIÊNCIAS POLÍTICAS: HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO AULA 04 25 4.1 Considerações iniciais Depois de examinarmos diferentes sentidos dos processos políticos – a política institucional e políticas para a realização de certos objetivos – assim como a contextua- lização das Ciências Políticas como parte da árvore do saber das Ciências Sociais, vamos, nessa aula, aprofundar nosso conhecimento sobre percepções, vivências e aborda- gens acerca do fenômeno político em diferentes sociedades ao longo do tempo, ou seja, realizaremos uma imersão em busca de perspectivas históricas presentes no estudo do pensamento político para além do significado teórico-conceitual da política. Em outras palavras, buscaremos em conhecimentos já consolidados da própria disciplina Ciências Políticas maneiras como a política foi vivenciada e refletida, tanto por filósofos e estu- diosos, como também por pessoas comuns em distintas épocas e tipos de sociedade. Quanto à política, seria possível que o entendimento e as vivências dos gregos no mundo antigo possam ser similares ou iguais às nossas percepções e expe- riências concretas no mundo contemporâneo? A organização e o funcionamento do Império Romano teriam paralelos com a estrutura espacial e o sistema de divisão dos poderes típicos de um moderno Estado Democrático de Direito? Quem detinha o Poder na Idade Média e o que significou a doutrina política e religiosa do direito divino dos reis? Perguntas como essas nos ajudam a perceber que, enquanto objeto das Ciências Políticas, as organizações e os processos políticos são sempre históricos, logo sujeitos à ocorrência de constantes mudanças ao longo do tempo em diferentes sociedades. Nessa perspectiva, para facilitar nossa tarefa e garantir maior didática na apre- sentação dos conteúdos, optamos por seguir uma divisão usual entre cientistas políticos quando se trata de examinar historicamente organizações, processos e concepções ligados à política: começa-se com uma fase que remonta à fundamen- tação da política a partir de premissas de ordem frequentemente religiosas e/ou morais até uma segunda fase que se inicia com o fim da Idade Média, tendo como marco teórico a publicação da obra O Príncipe do florentino Nicolau Maquiavel, que trouxe uma nova visão sobre justificação da política que passaria a influen- ciar percepções, debates e comportamentos políticos típicos do que passaria a ser entendido como pensamento político moderno, quer dizer, uma ideia de que reflexões e práticas políticas devem ou estão sujeitas a um conjunto de preceitos racionais baseados em diferentes interesses e razões que nada têm a ver com argumentos morais ou religiosos. Mãos à obra! 26 4.2 História do pensamento político Já vimos que as Ciências Sociais, enquanto conjunto de disciplinas especializa- das em torno de diferentes aspectos da vida em sociedade – o que inclui a nomen- clatura Ciências Políticas com o delineamento de seu campo de investigação – elas constituem resultado de um projeto teórico nascido recentemente em termos históricos, que reporta suas origens na Europa do século XIX, quer dizer, algo em torno de duzentos anos atrás. Não obstante, o pensamento político é muito mais antigo em seu sentido histó- rico mais profundo e autêntico: reflexões acerca da melhor forma de organização da vida em comunidade, o que para os antigos era indissociável de participação ativa dos cidadãos em grandes decisões tomadas coletivamente em espaços e reuniões públicas, com é o caso da Ágora grega e dos fóruns romanos. Anote isso “A ciência política enquanto disciplina viria a surgir ainda mais tarde, não porque o respectivo conteúdo – o Estado contemporâneo e a sua compo- nente política – se prestasse menos à análise nomotética, mas antes de mais nada devido à resistência oferecida pelas faculdades de Direito quanto a ceder o monopólio que detinham nessa área. A resistência a esta matéria por parte das faculdades de Direito pode explicar a importância atribuída pelos cientistas políticos ao estudo da filosofia política – por vezes sob a designação de teoria política -, pelo menos até a revolução behaviorista do período posterior a 1945. A filosofia política permitiu que essa nova disciplina que era a ciência política reivindicasse como sua uma herança que já vinha dos gregos, detendo-se na leitura de autores desde há muito com lugar firmado nos currículos universitários” (COMISSÃO CALOUSTE GULBENKIAN, 1996, p. 37-38, grifos nossos). Ainda neste sentido, tanto quanto a dinâmica de participação política ativa, podemos mencionar outras temáticas que constituem o pensamento político dos antigos: habitualidade de intrigas, estratégias e guerras como formas privi- legiadas de conquista ou manutenção do poder político; crença e influência em valores religiosos e morais na tomada de decisões ou ações de cunhopolítico; 27 discussões em torno de instituições políticas; formas de governos; alianças entre famílias reais; vínculos sociais baseados em instituições hoje ilegais e ilegítimas como a escravidão, violência contra minorias (crianças, mulheres e escravos), as formas de servidão, etc. Título: Legião Romano Exército Antigos Militar Soldados Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/legi%C3%A3o-romano-ex%C3%A9rcito-antigos-444126/ Em curta síntese, muito embora as Ciências Políticas como disciplina acadêmi- ca especializada seja algo relativamente recente em termos históricos, assuntos, teorias e vivências relacionadas à política datam de milhares de anos. Nessa li- nha de raciocínio, é preciso recordar que até mesmo a palavra Política tem suas raízes linguísticas no grego antigo, proveniente das palavras Politeia e Pólis, asso- ciadas, por sua vez, às cidades-estado gregas, aos espaços em que ocorriam as assembleias públicas para deliberações políticas por parte daqueles que eram considerados cidadãos gregos, visto que, em geral, nos povos antigos, mesmo em regimes políticos democráticos, mulheres, estrangeiros, escravos e crianças não eram considerados cidadãos. Ainda, também são gregos e pertenceram ao período histórico do mundo antigo renomados filósofos que procuraram discutir teoricamente questões e dilemas políticos, particularmente Platão - autor da obra A República - e Aristóteles – autor do texto Política. https://pixabay.com/pt/photos/legi%C3%A3o-romano-ex%C3%A9rcito-antigos-444126/ 28 De acordo com (MAAR, 1994, p. 29): “Falar em Grécia é falar em democracia. Atenas, a Constituição de Sólon, os grandes debates na ágora – a época de Péricles, etc. De vez em quando, lembra-se Esparta, o seu espírito bélico e o ascetismo da sua vida cotidiana “espartana”. Esta seria uma espécie de “contraponto” da democracia ateniense. Por vezes se menciona também o fato de a sociedade grega basear-se no trabalho escravo, o que exigiria uma ordem autoritária. Há ainda quem fale de Platão, que teria postulado em sua República a cen- sura às artes em nome da saúde do Estado. Nada disso, porém, impede o prestígio dos gregos como “precursores” da democracia.” (MAAR, 1994, p. 29, grifos do autor). Ainda sobre reflexões, teorias e vivências acerca da política no pensamento filosófico do mundo antigo, muitos milênios antes do advento da disciplina Ciên- cias Políticas no quadro mais amplo das Ciências Sociais, Maar (1994, p. 29) diz que: “O termo “política” foi cunhado a partir da atividade social desenvolvida pelos ho- mens da pólis, a cidade-Estado grega. Em outros locais, como na Pérsia ou no Egito, a atividade política seria a do governante, que comandava autocraticamente o cole- tivo em direção a certos objetivos: as guerras, as edificações públicas, a pacificação interna. Na Grécia, ao lado destas atribuições do soberano, a atividade política de- senvolver-se-ia como cimento da própria vida social. O que a política grega acres- centa aos outros Estados é a referência à cidade, ao coletivo da pólis, ao discurso, à cidadania, à soberania, à lei. (politikós), significa tudo aquilo que se refere à cidade, e portanto ao cidadão, civil, público e também sociável e social, o termo “política” foi transmitido por influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada o primeiro tratado sobre a natureza, as funções, as divisões do Estado, e sobre várias formas de governo, predominantemente no significado de arte ou ciência do governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente descritivas ou também prescritivas, sobre as coisas da cidade.” (MAAR, 1994, p. 29, grifos do autor). Com o declínio dos modelos de organização social e política que caracterizaram os períodos históricos do Mundo Antigo e da Idade Média, cujo traço essencial nesse último caso é o poder da Igreja e as disputas dos papas por influência po- lítica e riquezas com reis e nobres, além da consolidação dos Estados modernos 29 fundados em monarquias absolutistas, vemos ocorrer uma mudança profunda nas concepções anteriormente vigentes em relação aos modos de pensar e fazer Política, sendo a obra O Príncipe (1513) do florentino Nicolau Maquiavel um marco dessa nova era de transição do pensamento político do mundo antigo para o pen- samento político do mundo moderno, tratando-se de um texto importante até os dias de hoje para todos aqueles que buscam entender e participar de governos, dado que essa obra discute justamente a maneira como os governantes devem agir para conseguir controlar e manter funcionando a ordem política. De acordo com Sadek (2001, p. 18): “Maquiavel provoca uma ruptura com o saber repetido pelos séculos. Trata-se de uma indagação radical e de uma nova articulação sobre o pensar e fazer política, que põe fim à ideia de uma ordem natural e eterna. A ordem, produto necessário da política, não é natural, nem a materialização de uma vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo de dados do acaso. Ao contrário, a ordem tem um impe- rativo: deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie, e, uma vez alcançada, ela não será definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em negativo, isto é, a ameaça de que seja desfeita.” (SADEK, 2001, p. 18, grifos do autor). Título: O Príncipe Rei Lear Stratford Upon Avon Estátua Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/o-pr%C3%ADncipe-hal-rei-lear-4085836/ https://pixabay.com/pt/photos/o-pr%C3%ADncipe-hal-rei-lear-4085836/ 30 Isto está na rede Para uma leitura sucinta e objetiva sobre dados biográficos e aponta- mentos sobre a obra de Nicolau Maquiavel, recomenda-se a leitura da matéria 550 anos do nascimento de Nicolau Maquiavel, mestre da política do renascimento, de autoria de André Nogueira, publicada em 03/05/2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reporta- gem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renasci- mento.phtml. Último acesso em: 08.jun.2019. Portanto, quanto ao cerne do pensamento político do mundo moderno no contexto mais geral da história do pensamento político, temos uma substitui- ção de seu sentido original no sentido de passar a indicar mais estritamente as atividades de governantes e Estados para alcançar e manter o poder político e a ordem social, tudo isso além da adoção de um rol especializado de termos como “filosofia política”, “ciências políticas” ou “do Estado”, etc., em lugar da simples arte dos antigos de pensar e viver a política como parte primordial do cotidiano de qualquer cidadão (BOBBIO, 2000). 4.3 Considerações finais Nas Ciências Políticas, a história do pensamento político é um assunto de fun- damental importância no sentido de demonstrar-nos que as concepções políticas, as instituições políticas, os regimes políticos, as formas de estados e de governo, as relações entre governantes e governados, etc. não devem ser entendidos como lógicas e dinâmicas imutáveis, mas, pelo contrário, tanto no plano teórico, como no plano prático, os conteúdos fundamentais inerentes à política estão sempre em constante tensão, disputa e reformulação. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renascimento.phtml https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renascimento.phtml https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia-nicolau-maquiavel-mestre-da-politica-do-renascimento.phtml 31 SOCIEDADE, POLÍTICA E PODER AULA 05 32 5.1 Considerações Iniciais Nessa aula, com base nos conhecimentos já adquiridos nas aulas anteriores sobre as Ciências Políticas, trataremos da relação entre Sociedade, Política e Poder. Tal temática, especificamente o fenômeno do poder, é fundamental nos estu- dos de Ciências Políticas já que, comovimos ao menos desde Maquiavel, é parte essencial da política a constante busca por conquista e manutenção do poder. 5.2 Sociedade, Política e Poder Inicialmente, é importante ressaltar a relação existente entre a questão do poder e o modo como se organizam os governos, isto é, como se deu historicamente a relação entre governantes e governados acerca do poder político em diferentes modelos de so- ciedade. Temos, assim, diferentes tipologias historicamente observáveis nessa relação. A ditadura se dá pelo governo autoritário de uma única pessoa, como é o caso das monarquias absolutistas fundadas na teoria do direito divino dos reis. É co- mum regimes ditatoriais criarem medidas políticas e legais para garantia e ma- nutenção do poder político exercido pelo mandatário, bem como de seus asseclas. Também é usual posturas, medidas e punições severas contra qualquer um que se oponha ao governante e suas ideologias, o que implica frequentemente a ne- gação de direitos fundamentais dos governados. Título: Xadrez, Penhor, Rei, Jogo, Torneio, Inteligência Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/xadrez-penhor-rei-jogo-torneio-1483735/ https://pixabay.com/pt/photos/xadrez-penhor-rei-jogo-torneio-1483735/ 33 Por sua vez, na aristocracia temos o exercício do governo por um grupo específico de pessoas que detém privilégios numa dada sociedade. Elementos que destacam supostas virtudes dessas pessoas são usualmente empregados para justificar sua posição de supremacia e poder em relação aos governados, variando seus conteú- dos no tempo e no espaço. Em geral, tais características das pessoas do grupo que governa estão associadas às ideias de força, inteligência, origem social, etc. O desvirtuamento dos ideais que procuram justificar a aristocracia transforma essa modalidade de relação em oligarquia ou despotismo, isto é, governos em que reinam injustiças, corrupção e favorecimento de interesses privados dos setores dominantes. Finalmente, observamos no caso da democracia a ideia de um governo de todos no sentido de que a coletividade participa direta ou indiretamente das grandes decisões do Estado. É preciso ressaltar, no entanto, diferença fundamental entre a democracia no mundo antigo e governos democráticos modernos, isto porque, nas comunidades menores do mundo antigo, todos aqueles considerados cidadãos podiam parti- cipar diretamente das deliberações públicas (democracia direta), enquanto que, pelo próprio fator demográfico com o aumento da população e o aumento da dimensão e complexidade das questões e debates estatais, a participação dos cidadãos passou a dar-se por via indireta, confiando em representantes legais por eles eleitos – mandatários – as tomadas de decisão nas questões importantes (democracia representativa). Título: Eleições, Democracia, Urna, Os boletins de Voto, Votos Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/elei%C3%A7%C3%B5es-democracia-urna-1496436/ https://pixabay.com/pt/vectors/elei%C3%A7%C3%B5es-democracia-urna-1496436/ 34 Anote isso Entre esses padrões de relacionamento entre governantes e governados acerca do exercício do poder, a democracia é o modelo que se tornou predominante no mundo contemporâneo, sendo pouco usual posiciona- mentos de governantes e países que se declarem abertamente antidemo- cráticos. Assim, a grande maioria dos Estados modernos e contemporâneos dos últimos séculos é comumente caracterizada pelo modelo do chamado Estado Democrá- tico de Direito, o que significa dizer que, embora eles continuem sendo os únicos detentores legais e legítimos do monopólio do poder e do uso da violência, eles também devem respeitar e garantir direitos fundamentais de todos os cidadãos, mesmo porque, nessa concepção de estado democrático, todo poder emana do povo e deve ser exercido em seu nome. De acordo com Silva (2001, p. 123-124): “A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de ser um processo de convivência social numa sociedade livre, justa e solidária, em que o poder emana do povo, e deve ser exercido em proveito do povo, diretamente ou por represen- tantes eleitos; participativa, porque envolve a participação crescente do povo no processo decisório e na formação dos atos do governo; pluralista, porque respeita a pluralidade de ideias, culturas e etnias e pressupõe assim o diálogo entre opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e interesses diferentes da sociedade; há de ser um processo de liberação da pessoa humana das formas de opressão que não depende apenas do reconhecimento for- mal de certos direitos individuais, políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições econômicas suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício.” (SILVA, 2001, p. 123-124). 35 Isto está na rede Para compreender de maneira didática e por meio de eventos históri- cos concretos a lógica de funcionamento de monarquias e nobreza, bem como a passagem desses padrões de relacionamento entre governantes e governados aos regimes democráticos modernos, recomenda-se assistir o documentário A Revolução Francesa, produzido pelo History Channel. Está disponível na Plataforma Youtube em: https://www.youtube.com/ watch?v=tHkcp0f2kwc. Último acesso em: 28.mai.2019. Um exemplo claro do exposto pode ser encontrado na Constituição da Repú- blica Federativa do Brasil de 1988 em vigor: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representan- tes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” (BRASIL, 1988, grifos nossos) Isto acontece na prática Nos Estados Democráticos de Direito são realizadas eleições periódicas para a escolha pela população de representantes para o exercício de mandatos políticos por meio do voto direto, secreto, universal e periódi- co. Nesse sentido, recomendamos a leitura da seguinte matéria no sítio eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral: http://www.tse.jus.br/imprensa/ noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno- -das-eleicoes-2018. Último acesso em: 10.jul.2019. https://www.youtube.com/watch?v=tHkcp0f2kwc https://www.youtube.com/watch?v=tHkcp0f2kwc http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-das-eleicoes-2018 http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-das-eleicoes-2018 http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-das-eleicoes-2018 36 5.3 Considerações finais Desse modo, no que se refere às relações entre governantes e governados mediadas pelo poder político, vimos diferentes tipos de manifestações do fenô- meno do poder na esfera política, analisando, especificamente, os conceitos de ditadura, aristocracia e democracia, evidenciando, ao final, a prevalência dos regi- mes democráticos baseados no modelo hegemônico na atualidade dos chamados Estados Democráticos de Direito. 37 POLÍTICA, DIREITO E CIDADANIA AULA 06 38 6.1 Considerações Iniciais Nesta aula, a partir do modelo Estado Democrático de Direito, tratado na aula anterior, estudaremos a relação da Política com a esfera do Direito, enfatizando a noção de cidadania. Veremos que, ao menos no caso específico dos Estados Democráticos de Direito, as conexões mútuas entre essas diferentes esferas que compõem a vida social são não apenas uma realidade, como também, num certo sentido, constituem vínculos essenciais para que indivíduos e grupos de indivíduos tenham garantidos certos direitos fundamentais pautadosem condições para uma vida digna, além de propiciarem segurança jurídica e um grau significativo de ordem social. 6.2 Política, Direito e Cidadania Inicialmente, importante recordar dos conteúdos das aulas anteriores - espe- cificamente das aulas referentes ao pensamento político do mundo antigo, bem como das relações entre sociedade, política e poder - o fato de que nem sempre a política foi ou é baseada no Direito em seu sentido mais recente, quer dizer, é notório que existiram em outros tempos e ainda existem no mundo atual certas formas de governo e regimes políticos cujo fundamento de legitimação da auto- ridade política não se encontra em prerrogativas legais, mas em outros fatores, como são as hipóteses da prevalência do mais forte, de justificativas de caráter religioso - argumentos recorrentes em teocracias, etc. Contudo, essa tendência se tornou minoritária no mundo moderno e contempo- râneo, sendo que, na maior parte dos países vigora o modelo do Estado Democrático de Direito, já examinado na aula anterior, o que significa dizer que o poder político de governantes e estados, outrora ilimitado, resta hoje submetido ao controle de mecanismos jurídicos, vale dizer, a vontade do governante é regulada pelo Direi- to, que a ela se sobrepõe, isso para coibir, evitar ou diminuir diferentes hipóteses de abusos, arbitrariedades e injustiças da parte do Estado para com os cidadãos, seja em âmbito doméstico – no interior de cada Estado em que o poder político é controlado pelas Constituições - seja em âmbito internacional pela mediação de instituições, organizações, tratados, convenções, protocolos, acordos e outros ins- trumentos jurídico-políticos de Direito Internacional e de Direitos Humanos. 39 Anote isso É possível então sustentar que o Direito é hoje uma esfera da vida social com importância fundamental para compreensão da dinâmica de funciona- mento das instituições e processos políticos, além de ser uma salvaguarda dos cidadãos ante a possibilidade de desmandos do Estado que possam ser praticados por seus órgãos e autoridades. Título: Justiça, Estátua, Senhora, Mitologia Grega Fonte: https://pixabay.com Neste sentido, conforme Silva (2001, p. 123-124): “O princípio da legalidade é também um princípio basilar do Estado Democrático de Direito. É da essência do seu conceito subordinar-se à Constituição e fundar-se na legalidade democrática. Sujeitando-se, como todo Estado de Direito, ao império da lei, mas da lei que realize o princípio da igualdade e da justiça não pela sua generali- dade, mas pela busca da igualização das condições dos socialmente desiguais. Deve, pois, ser destacada a relevância da lei no Estado Democrático de Direito, não apenas quanto ao seu conceito formal de ato jurídico abstrato, geral, obrigatório e modifi- cativo da ordem jurídica existente, mas também à sua função de regulamentação fundamental, produzida segundo um procedimento constitucional qualificado. A lei https://pixabay.com/pt/photos/justi%C3%A7a-est%C3%A1tua-senhora-justi%C3%A7a-2060093/ 40 é efetivamente o ato oficial de maior realce na vida política. Ato de decisão política por excelência, é por meio dela, enquanto emanada da atuação da vontade popular, que o poder estatal propicia ao viver social modos predeterminados de conduta, de maneira que os membros da sociedade saibam, de antemão, como guiar-se na realização de seus interesses.” (SILVA, 2001, p. 125). Ainda, sobre o vínculo Estado, Direito e Política, Dallari (2001, p. 128) diz que: “Como se tem procurado evidenciar, inclusive com o objetivo de assegurar o respeito aos valores fundamentais da pessoa humana, o Estado deve procurar o máximo de juridicidade. Assim é que se acentua o caráter de ordem jurídica, na qual estão sin- tetizados os elementos componentes do Estado. Além disso, ganham evidência as ideias da personalidade jurídica do Estado e da existência, nele, de um poder jurídico, tudo isso procurando reduzir a margem de arbítrio e discricionariedade e assegurar a existência de limites jurídicos à ação do Estado.” (DALLARI, 2001, p. 128). Isto acontece na prática Nos Estados Democráticos de Direito, a atuação de governos, órgãos e autoridades estatais estão sujeitos à legislações nacionais e internacio- nais, podendo ser responsabilizados em casos de abuso de autoridade, violações de direitos humanos e outras condutas ilegais e arbitrárias. Sobre essa temática, recomendamos a leitura da seguinte reportagem disponível no sítio eletrônico da Anistia Internacional: https://anistia.org. br/direitos-humanos/publicacoes/peru-estado-toxico-violacoes-de-direi- to-saude-dos-povos-indigenas-em-cuninico-e-espinar/. Último acesso em: 14.jul.2019. Por outro lado, da perspectiva do direito contemporâneo, não é suficiente que Estados, governos, órgãos e autoridades estatais se limitem a obedecer à lei no sentido de não violar direitos dos cidadãos. Hoje, mais que isso, é tarefa dos es- tados garantir a cidadania, ou seja, o Poder Público tem o dever legal de fornecer condições mínimas de existência que possam assegurar, efetivamente, uma vida digna para seus cidadãos e, desse modo, viabilizar, proteger e fazer existir, de fato, a condição de cidadão, a cidadania. É disso que trata e para isso que estão https://anistia.org.br/direitos-humanos/publicacoes/peru-estado-toxico-violacoes-de-direito-saude-dos-povos-indigenas-em-cuninico-e-espinar/ https://anistia.org.br/direitos-humanos/publicacoes/peru-estado-toxico-violacoes-de-direito-saude-dos-povos-indigenas-em-cuninico-e-espinar/ https://anistia.org.br/direitos-humanos/publicacoes/peru-estado-toxico-violacoes-de-direito-saude-dos-povos-indigenas-em-cuninico-e-espinar/ 41 previstos expressamente nas Constituições, por exemplo, os chamados direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. Segundo Bulos (2015, p. 809): “Direitos sociais são as liberdades públicas que tutelam os menos favorecidos, pro- porcionando-lhes condições de vida mais decentes e condignas com o primado da igualdade real. [...] Tais prestações qualificam-se como positivas porque revelam um fazer por parte dos órgãos do Estado, que têm a incumbência de realizar serviços para concretizar os direitos sociais.” (BULOS, 2015, p. 809). No Brasil, por exemplo, a cidadania está prevista expressamente na Consti- tuição Federal de 1988 na condição de fundamento do Estado, estando esse valor relacionado, portanto, com o próprio sentido de ser que a lei maior atribuiu à atual configuração do nosso país. É clara a exigência jurídica de que o Estado brasileiro garanta à população subsídios materiais e imateriais que realizem a cidadania. Título: Brasil, Pavilhão, Impressão Digital, País, orgulho Fonte: https://pixabay.com https://pixabay.com/pt/illustrations/brasil-pavilh%C3%A3o-impress%C3%A3o-digital-652855/ 42 Assim, a ideia de cidadania não se restringe aos direitos políticos, mas assume sentido mais amplo, qualificando os participantes da “vida do estado”. Ser cidadão envolve reconhecimento dos indivíduos como pessoas integradas na sociedade estatal, restando também o Estado submetido à vontade popular (soberania po- pular, direitos políticos e dignidade da pessoa humana) (SILVA, 2016). 6.3 Considerações finais Portanto, a respeito da relação entre Política, Direito e Cidadania, pudemos observar que no mundo contemporâneo, na grande maioria dos países, o poder político aparece regulado pelo Direito, vinculado ao império de legislações nacio- nais e internacionais em favor da proteção de indivíduos e grupos de indivíduos. Ademais, conforme esses mesmos instrumentos jurídicos, constitui obrigação dos Estados atuar positivamente no sentido de prover condições – bens jurídicos materiais e imateriais – para que suas populaçõespossam viver com dignidade e, somente desse modo, verem-se integradas política e socialmente, tal é a relação e o sentido da ideia de cidadania. 43 PARTICIPAÇÃO POLÍTICA AULA 07 44 7.1 Considerações Iniciais Abordaremos ao longo desta aula um conceito clássico e fundamental das Ciências Políticas: a participação política. Desde já, é importante salientar que participação política é também um exer- cício de cidadania, quer dizer, a possibilidade de participarmos ativamente das grandes questões do Estado como legítimos membros de uma comunidade po- lítica organizada. Para tanto, vamos investigar as ações, relações e manifestações que caracte- rizam o exercício da participação política, sempre enfatizando seu papel funda- mental de influenciar os rumos da atuação estatal. 7.2 Participação Política Vimos na aula anterior que em sociedades modernas e contemporâneas a hegemonia do Estado Democrático de Direito implica uma série de deveres por parte do Estado em relação aos cidadãos, tal como não violar direitos fundamen- tais constitucionalmente previstos ou fornecer meios para que todos alcancem o propósito de uma vida digna. Em contrapartida, da parte de todos nós enquanto cidadãos – membros de uma comunidade política organizada - é preciso reconhecer e enfatizar que os Estados, manifestos na realidade em que vivemos por meio de suas funções – Po- deres Legislativo, Executivo e Judiciário – além de órgãos e autoridades estatais da Administração Pública Direta e Indireta, não são eles figuras abstratas, fantas- magóricas, mas sua estrutura, configuração e funcionamento num determinado sentido específico constituem produto de realizações coletivas e compartilhadas de nossas escolhas, das escolhas de outros cidadãos e das escolhas de nossos antepassados, ou seja, comportamentos em que podemos observar efetiva par- ticipação política. 45 Anote isso O exercício de investigação, posicionamento e participação política dos ci- dadãos de um país acerca das grandes questões da vida do Estado, em suas diferentes esferas, desde a municipal até a federal, é sempre um exercício de cidadania, que é de fundamental importância não apenas para si, mas também para uma vida melhor para as futuras gerações. Logo, conforme já discutimos em aula anterior sobre democracia representa- tiva ou indireta, somos nós mesmos que, na condição de cidadãos de um Estado Democrático de Direito, temos não apenas o direito, mas também o dever de exer- cer nossos direitos políticos com zelo e compromisso, participando das grandes questões da vida do Estado, tal como faziam os gregos antigos. Segundo Dallari (1999, p. 22-23): “Um fato inegável, fácil de verificar, é que ninguém pode viver sem tomar decisões. Apesar disso, muitas pessoas fazem o possível para não tomar decisões, o que pode ser motivado por comodismo ou pelo medo da responsabilidade de decidir. Quase sempre essas pessoas procuram esconder o verdadeiro motivo, simulando desprendimento, dizendo que acatarão de boa vontade o que os outros decidirem. Essa atitude de fuga à responsabilidade é, quase sempre, ligada à falta de consciência quanto à necessidade da vida social e quanto ao significado da omissão no momento de decidir. Com efeito, não é raro que as pessoas condenem certas decisões e suas consequências, esquecendo-se de que tiveram a oportunidade de participar dessas decisões e preferiram deixar que outros decidissem sozinhos. Os que procedem desse modo não percebem que, indiretamente, são também responsáveis pelas decisões, como também não chegam a perceber, ou só percebem tardiamente, que sua omissão traz prejuízos para eles próprios e, muitas vezes, para uma coletividade inteira.” (DALLARI, 1999, p. 22-23). Tal reflexão indica um aspecto importante da negligência em relação ao direito e ao dever de participação política por mero desinteresse ou qualquer outro motivo fundado em negligência: mesmo quando deixamos de participar dos processos políticos importantes a que somos convocados, mesmo nessa situação, nós partici- pamos da decisão e somos levados a concordar com resultados e decisões tomadas por outros. Ora, também se participa politicamente por negligência ou omissão. 46 Título: Escolha, Eleições, As Obras, Eleição do Conselho Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/escolha-elei%C3%A7%C3%B5es-3296667/ Seja como for, retomando o foco de nossa discussão que é a participação políti- ca e não o contrário dela, o referido conceito de participação política implica ações e relações organizadas e exercidas coletivamente em diferentes espaços públicos de variadas maneiras e com múltiplas finalidades, tais como: exercer o direito de votar ou de candidatar-se a cargo público; conhecer e discutir propostas de go- verno e projetos de lei trazidos por representantes políticos democraticamente eleitos no âmbito de nossa cidade, estado ou país; estudar e examinar diferentes doutrinas políticas presentes em nosso cotidiano, filiando-se ou não aos partidos ligados a elas; organizar-se em associações de bairro, sindicatos, partidos políticos, grêmios estudantis e outras instâncias de compartilhamento de ideias, troca de argumentos e propostas e discussões; participar de instrumentos de democracia direta previstos em nosso ordenamento jurídico, como é o caso da convocação de plebiscitos, referendos, a iniciativa popular, etc.; promover reivindicações políticas, inclusive participando, quando necessário, de manifestações políticas, greves, movimentos e lutas sociais por garantia, efetivação e ampliação de direitos dos cidadãos; acompanhar os órgãos, entidades e autoridades responsáveis pela fis- calização da atuação daqueles que ocupam cargos públicos, etc. https://pixabay.com/pt/illustrations/escolha-elei%C3%A7%C3%B5es-3296667/ 47 Isto está na rede Para entender ainda mais sobre participação política e cidadania, reco- menda-se a leitura do artigo Participação Política – Participação Política e Cidadania, de autoria de Renato Cancian. Disponível em: https://educa- cao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao- -politica-e-cidadania.htm. Último acesso em: 27.jul.2019. Assim, ante o exposto até o presente momento, temos que, no que tange à participação política em nosso país, precisamos entender que ela é tanto um direito fundamental – a chamada capacidade eleitoral ativa, que nada mais é que o direito de votar, tanto quanto a denominada capacidade eleitoral passiva, que consiste na prerrogativa de candidatar-se a cargo público, em ambos os casos atendidos determinados requisitos expressamente descritos na Constituição Federal de 1988 – quanto um dever cívico já que o voto é obrigatório relati- vamente à grande maioria dos brasileiros. Ademais, sobre os requisitos para tornar-se eleitor (alistamento eleitoral) e votar, bem como de candidatar-se a cargo público no Brasil, eles estão expressos nos incisos e parágrafos do artigo 14 da Constituição Federal de 1988. Ainda a respeito do direito de participação política, entendemos muito impor- tante o seguinte apontamento trazido por Dallari (1999, p. 29): “É importante saber que, embora as Constituições estabeleçam que o sistema é de sufrágio universal, isso não quer dizer que, na realidade, esse direito já tenha sido estendido a todos ou que pode ser exercido por todos com a mesma liberdade. Em grande número de países a porcentagem de pessoas sem direito de participação política, ou que têm o direito afirmado na lei mas que de fato não têm o poder de participação, é ainda muito grande. [...] Os sistemas eleitorais e os sistemas de governo são organizados de tal modo que só os que têm muito dinheiro ou que pertencem à cúpula de um grupo político muito poderoso é que vão para os cargos mais importantes e podem tomar decisões políticas de grandes consequências.” (DALLARI, 1999, p. 29 e 32). Por outro lado, sobre o deverde participação política, Dallari (1999, p. 36) sus- tenta que: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.htm 48 “[...] a participação política é um dever moral de todos os indivíduos de uma neces- sidade fundamental da natureza humana. A participação intensa e constante de muitos é necessária para impedir que alguns imponham uma ordem injusta, que sempre acaba sendo prejudicial para todos” (DALLARI, 1999, p. 36). 7.3 Considerações finais Finalmente, em curta síntese de toda essa discussão em torno do conceito de participação política, entendemos que dever e direito de participação política são faces complementares de uma mesma moeda, ligadas que estão à natureza social e políticas dos seres humanos. E justamente porque que não podemos olvidar que vivemos e compartilhamos em conjunto com nossos iguais, temos e devemos exercitar a prerrogativa de par- ticipar dos processos e procedimentos decisórios de estabelecimentos das regras que afetam a todos, não sendo justo que apenas uns decidam e outros tenham a obrigação de adimplir regras que deveriam ser comuns a todos. 49 ECONOMIA, SOCIEDADE E POLÍTICA AULA 08 50 8.1 Considerações Iniciais Nesta oitava e última aula pertinente à temática das Ciências Políticas, consoan- te o tema proposto, qual seja Economia, Sociedade e Política, pretendemos eviden- ciar dois argumentos importantes que acreditamos que muito contribuirão para a segunda parte desse curso a respeito de assuntos ligados à área da Economia. Em primeiro lugar, buscamos esclarecer que, embora possa ser teoricamente fragmentada em disciplinas especializadas ou campos de investigação específi- cos – Ciências Políticas, Economia, Sociologia, Direito, Religião, etc., a realidade concreta é una e, por essa razão, todas essas esferas da vida social se tocam e se entrelaçam, ou seja, influenciam-se mutuamente de maneira inseparável. Com base nesse primeiro argumento, nosso segundo propósito ao longo dessa aula é deixar clara a importância da Economia para a compreensão da nossa so- ciedade, de aspectos essenciais da vida em nossa época, o que esperamos sirva como um convite para a segunda parte desse curso. Desse modo, para alcançar nossa meta com a consecução desses dois objetivos centrais, retomamos aspectos econômicos, sociais e políticos da história europeia nos últimos séculos que se tornaram decisivos na construção do mundo moderno e contemporâneo, quer dizer, desse mundo que vivemos, tanto quanto do modo de vida que compartilhamos. Sem mais demora, convidamos a todos para participar dessa viagem no tempo, procurando identificar conosco os links relacionados aos nossos argu- mentos. 8.2 Economia, Sociedade e Política Ao menos desde o século XV com a consolidação dos estados nacionais e o advento das grandes navegações, evidenciou-se, com a Revolução Francesa em fins do século XVIII, a tomada e a conquista do poder político por parte da burguesia europeia, classe social que já era economicamente hegemônica. Disso resultaram transformações sociais, políticas e culturais profundas que, muito embora não tenham se restringindo às questões econômicas de ordem material de reorganização da vida, sofreram influência direta das mudanças no sistema econômico e se estenderam a todas as esferas da realidade social. 51 Segundo Engels e Marx (2003, p. 47-48, grifos nossos): “Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Dilacerou impiedosamente os variados laços feudais que ligavam o ser humano a seus superiores naturais, e não deixou subsistir de homem para homem outro vínculo que não fosse o interesse nu e cru, o insensível “pagamento em dinheiro”. Afogou nas águas gélidas do cálculo egoísta os sagrados frêmitos da exaltação religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca e no lugar das inúmeras liberdades já reconhecidas e duramente conquistadas colocou a liberda- de de comércio sem escrúpulos. Numa palavra, no lugar da exploração mascarada por ilusões políticas e religiosas colocou a exploração aberta, despudorada, direta e árida”. (ENGELS;MARX, 2003, p. 47-48). Neste mesmo sentido, outra passagem relevante para entender o declínio do teocentrismo no advento da modernidade ocidental capitalista pode ser encon- trada nos estudos de Berman (1986, p. 131-132) ao analisar o posicionamento de Marx em relação à modernidade: “[...] a vida se torna inteiramente dessantificada. De vários modos, Marx sabe que isso é assustador: homens e mulheres modernos podem muito bem ser levados ao nada, carentes de qualquer sentimento de respeito que os detenha; livres de medos e temores, estão livres para atropelar qualquer um em seu caminho, se os interesses imediatos assim o determinarem. Contudo, Marx também divisa as virtudes de uma vida despida de halos: esta desperta a condição de igualdade espiritual. Com isso, a moderna burguesia pode deter amplos poderes materiais sobre os trabalhadores e quem quer que seja, mas jamais recuperará a ascendência espiritual que as antigas classes dominantes tinham como tácita. Pela primeira vez na história, todos con- frontam a si mesmos e aos demais em um mesmo e único plano” (BERMAN, 1986, p. 131-132). 52 Título: França, Revolução Francesa, Guerra Civil, Liberdade Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/fran%C3%A7a-revolu%C3%A7%C3%A3o-francesa-63022/ Assim, com a secularização do saber sem amarras mitológicas ou religiosas, podemos observar que passa a ser relativamente livre e abundante a produção de concepções e teorias políticas, religiosas, filosóficas, sociais, científicas, reco- nhecendo-se na modernidade ocidental o signo da secularização e do contínuo incremento do conhecimento humano. Anote isso Com o triunfo da Revolução Francesa em fin de siècle a visão teocentrista fundamentada na tradição e na crença é substituída em diversos países pelos valores econômicos e políticos da burguesia vitoriosa. https://pixabay.com/pt/photos/fran%C3%A7a-revolu%C3%A7%C3%A3o-francesa-63022/ 53 Por consequência dessas transformações econômicas, sociais, políticas e cul- turais, a hegemonização da nova ordem social na Europa ocidental favoreceu a disseminação do humanismo moderno e do racionalismo por parte significativa do globo terrestre, utilizando-se, frequentemente, os acontecimentos e desdobra- mentos desse período para assinalar o início do mundo contemporâneo. Ainda segundo Cavalcante (1991, p. 9): “[...] o processo revolucionário que abalou tão profundamente a sociedade francesa no final do século XVIII e que de forma diversa atingiu as demais sociedades europeias, influenciou outros movimentos revolucionários, atemorizou e entusiasmou diferentes segmentos sociais mesmo nas longínquas regiões coloniais, impôs-se à reflexão de políticos, pensadores, filósofos, romancistas e historiadores” (CAVALCANTE, 1991, p. 9). A emancipação do conhecimento das amarras forjadas pelo sistema de valores religiosos do mundo pré-moderno permitiu que a modernidade ocidental viven- ciasse uma nova situação de crescente autonomia e liberdade de pensamento, além de um poder de dominação tecnológica sem precedentes na história do gênero humano. Título: Crianças, Vitória, Sucesso, Jogo de Vídeo, Jogar, Feliz Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-vit%C3%B3ria-sucesso-593313/ https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-vit%C3%B3ria-sucesso-593313/ 54 A contradição insolúvel entre a visão mágica de mundo própria do período pré-moderno e esta racionalidade econômica ligada aos múltiplos racionalismos
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