Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PARTE VI CLASSIFICAÇÃO DO SOLO 1. INTRODUÇÃO A ciência do solo foi primeiramente desenvolvida na Russia e mais tarde nos Estados Unidos. Ambos países tem vastas áreas de depósitos plistocênicos de origem glacial e eólica, uniformes que formam uma paisagem com relevo suavemente ondulado. Naquelas áreas existe uma correlação bastante clara entre zonas climatológicas e tipos de solo. Portanto, não é de estranhar, que os primeiros sistemas de classificação de solos destes países foram desenvolvidos em base deste zoneamento (Dokuchaev and Sibiceff, citato por Glinka, 1914; Baldwin et alii, 1938). Solos que correspondem com as condições normais das suas zonas foram chamados solos zonais (Ing: zonal soils). Solos que eram diferentes das condições normais por causa da influência dominante de um factor de formação específica, sem ser o clima atmosférico (p.e. drenagem impedida ou material de origem distincta) eram chamados solos intrazonais (Ing: Intrazonal soils); enquanto solos que podem ocorrer em qualquer zona climática, por serem incipientes (nos primeiros estágios do seu desenvolvimento) eram chamados azonais (Ing: azonal soils). Subdivisões subsequentes, baseadas na gênese dos solos resultaram num sistema de classificação genética . No entanto, pedólogos podem discordar quanto à gênese dum solo, o que em muitos casos resulta em diferentes nomes para um mesmo solo. A falta de um sistema de nomenclatura mundialmente aceito ainda aumentou a confusão. Ficou claro que um sistema de classificação de solos deve ser baseado em propriedades mensuráveis (factos objectivos), e não na suposta gênese do solo (teorias subjectivas). Como resultado, foram desenvolvidos sistemas de classificação morfométricos , dos quais os mais importantes são: a legenda do mapa dos solos do mundo (FAO/Unesco/ISRIC, 1974, 1988), o sistema americano Soil Taxonomy (Soil survey staff, 1975, 1990), o sistema francês (CPCS, 1967) e, para solos tropicais, o sistema brasileiro (Camargo et al., 1987; Oliveira et al., 1992). Apesar de estes sistemas serem morfométricos, a filosofia por traz deles continua sendo principalmente baseada na suposta gênese dos solos. No entanto, critérios diagnósticos são baseados em características mensuráveis (dos horizontes) do solo. Estas características são considerados os sintomas de processos pedogenéticos passados. Nestes apontamentos será empregado o sistema revisado da FAO/Unesco/ISRIC (1988/1990) para ilustrar a classificação e nomenclatura. 2 2. O MAPA DOS SOLOS DO MUNDO DA FAO/UNESCO/ISRIC A FAO e Unesco, em cooperação com a ISSS (Sociedade Internacional de Ciência do Solo), começaram em 1961 com a preparação de um mapa dos solos do mundo na escala 1:5M, que foi compilado de material existente. Este trabalho envolveu a cooperação de mais de 300 scientistas de solo do mundo inteiro. A publicação foi feita em 19 folhas de mapa e 10 volumes de textos explanatórios (FAO, 1971-1981). O volume I, a Legenda discute o sistema de classificação de solos usado, bem como as regras e convenções para o uso de unidades taxonómicas na legenda dos mapas (a maioria das unidades de mapeamento são associações de unidades taxonómicas). Os outros nove volumes compreendem a avaliação geral para uso agrícola da maioria das unidades de solo, enquanto os apéndices contêm descrições de perfis e dados analíticos. Recentemente começou-se a sentir a necessidade de incorporar novas informações nos mapas existentes, e de revisar a legenda, levando em conta novos conceitos de classificação e uma melhor compreensão das condições dos solos. Isto resultou na revisão da legenda do mapa (FAO/Unesco/ISRIC, 1988), corrigida em 1990. Existe a intenção de actualizar os mapas continuamente pelo armazenamento digitalisado de novos dados num sistema de informação geográfica (GIS) do qual mapas ou dados estatísticos podem ser extraído sob encomenda. No entanto, é pouco provável que uma edição nova dos textos explanatórios (Volumes II-X; FAO, 1971-1981), será publicada. O sistema da FAO/Unesco/ISRIC (1988) tem uma estrutura hierárquica, com 28 Agrupamentos Principais de Solo (Ing: Major Soil Groupings) no nível de generalização mais elevado, subdivididos em 153 Unidades de Solo (Ing: Soil Units) no segundo nível. Também foi introduzido nesta edição revisada um terceiro nível de Subunidades de Solo (Ing: Soil Subunits), que foi considerado necessário, visto a utilização generalizada do sistema em escalas maiores que 1:5M. As Subunidades de Solo podem ser consideradas intergrades entre duas Unidades de Solo, ou têm alguma característica especial além das requeridas para a Unidade do Solo (extragrades). O sistema da FAO/Unesco/ISRIC (1988/1990) também reconhece unidades de mapeamento não-taxonómicas, chamadas fases . As fases marcam características especiais da terra que possam limitar o seu uso agrícola, como a ocorrência de inundações, a presença de rochas ou de um horizonte endurecido. Neste texto serão discutidos apenas os Agrupamentos Principais de Solo e Unidades de Solo. A maioria dos nomes dos Agrupamentos Principais de Solo foi emprestada de uma nomenclatura tradicional e amplamente reconhecida, como Andossolo, Vertissolo, Solonchak, Solonetz, Chernozém e Podzol. No entanto, estes nomes foram redefinidos, mantendo o sentido original, mas com requisitos mais objectivos. O uso de nomes tradicionais com sentido diferente em lugares diferentes foi evitado. Os nomes das Unidades de Solo são compostos do nome do Agrupmento Principal, juntos com um adjectivo, usualmente derivado do latim ou grego. 2.1 Horizontes e propriedades de diagnóstico Todos os taxões do sistema (Agrupamentos Principais de Solo, Unidades de Solo e Subunidades de Solo) foram definidos em termos de propriedades chaves mensuráveis e observáveis. Certas propriedades chaves foram juntadas em horizontes de diagnóstico (Ing: diagnostic horizons), que formam os identificadores básicos para a classificação do solo. Uma descrição genérica dos horizontes de diagnóstico usados neste sistema de classificação está na Tabela 1. Além disto o sistema usa propriedades de diagnóstico (Ing: diagnostic properties) para permitir uma diferenciação maior. Muitas destas propriedades chaves, apesar de terem forte conotação genética, têm implicações prácticas para o uso e maneio da terra, como pode ser verificada na Tabela 2. 3 Tabela 1 . Descrição sumária de horizontes de diagnóstico (diagnostic horizons) do sistema FAO/Unesco/ISRIC (1990). H hístico histic H horizonte superficial turfoso (C-orgânico > 12%) com espessura entre 20 e 40 cm; em alguns casos até 60 cm. A mólico mollic A horizonte superficial, escurecido pela presença de matéria orgânica (0.6% < C-org <12%); com espessura >25 cm; saturação por bases >50% e teor baixo de P2O5. A úmbrico umbric A Como A mólico, mas saturação por bases < 50% A fímico fimic A Como A mólico ou úmbrico, mas espessura > 50 cm, e teor de P2O5 elevado, devido à adubação prolongada com mixturas de terra, esterco e/ou resíduos orgânicos domésticos. A ócrico ochric A Horizonte superficial com coloração demasiadamente clara, espessura demasiadamente fina e/ou teor de C-orgânico ou P2O5 demasiadamente pequeno para ser qualificado como horizonte A mólico, úmbrico ou fímico. E álbico albic E Horizonte com evidências de perda de argila e óxidos de ferro livres por eluviação; dando origem a cores esbranquiçadas das partículas incobertas do solo B ferrálico ferralic B Horizonte subsuperficial com as seguintes evidências de forte intemperismo: poucos ou nenhum minerais meteorizáveis; argila dominada por caolinita e sesquióxidos; capacidade de troca de cátions ≤ 16 cmol(+).kg-1 de argila; relação limo/argila ≤ 0.2. B árgico argic B Horizonte subsuperficial com evidências de enriquecimento pedogênico de argila. Sem as propriedades do horizonteB ferrálico; com PST (porcentagem de sódio trocável) < 15%; geralmente com estrutura prismática. B nátrico natric B Como B árgico, mas com PST≥15% e geralmente com estrutura colunar. B espódico spodic B Horizonte subsuperficial apresentando evidências de iluviação de matéria orgânica com sesquióxidos. B câmbico cambic B Horizonte subsuperficial genéticamente demasiadamente incipiente, para satisfazer os critérios para um horizonte B árgico, nátrico, espódico ou ferrálico; mas apresentando evidências de alteração pedogênica, como diferenciação de cor, presença de estrutura ou remoção de carbonatos. cálcico calcic Horizonte com evidência distinta de enriquecimento de carbonato de cálcio. petrocálcico petrocalcic Horizonte cálcico continuamente cimentado ou endurecido. gípsico gypsic Horizonte com evidência distinta de enriquecimento de gesso petrogípsico petrogypsic Horizonte gípsico, endurecido de tal maneira que fragmentos do material não se desfazem em água e impenetrável para raízes. sulfúrico sulfuric Horizonte de espessura >15 cm , apresentando mosqueamento amarelo de jarosita e com pH (água, 1:1)<3.5. 4 Tabela 2. Descrição sumária das propriedades de diagnóstico da legenda da FAO (1990) calcárico (calcaric) solo com material calcário, pelo menos entre 20 e 50 cm. calcário (calcareous) material de solo com >2% de carbonato de cálcio, ou que apresenta forte efervescência com HCl (10%). calcário brando pulverulento soft powdery lime acumulações de carbonato de cálcio precipitado in situ e suficientemente brandas para serem riscadas à unha. camada permanentemente gelada (permafrost) camada com temperatura permanentemente ≤0oC consistência untuosa (smeary consistence) consistência que muda sob pressão do estado sólido-plástico para um estado líquido, e volta ao estágio original depois (tixotrópico). fortemente húmico (strongly humic) materiais de solo com > 1.4% de C-orgânico como média ponderada de 0 a 100 cm de profundidade. gipsífero (gypsiferous) material de solo com >5% de gesso (CaSO4.2H2O) materiais orgânicos do solo (organic soil materials) materiais de solo com elevado teor de C-orgâncio (saturados com água ou artificialmente drenado: C>12% se argila=0%; C>18% se argila>60%; não saturados: C>20%) materiais sulfídricos (sulfidic materials) material de solo saturado com água (reduzido) com S≥0.75% e S > 3*carbonatos (equivalência). (acidez potencial > poder neutralizante) minerais meteorizáveis (weatherable minerals) minerais que liberam nutrientes e ferro ou alumínio ao meteorizar. mudança abrupta de textura (abrupt textural change) forte aumento do teor de argila entre duas camadas ou horizontes, sobre distância <5 cm penetração em forma de dedos (interfingering) penetrações estreitas de um horizonte E álbico num horizonte B árgico ou B nátrico subjacente; principalmente ao longo das faces verticais dos agregados. penetração em forma de línguas (tonguing) penetrações relativamente largas de um horizonte A ou E num horizonte B subjacente. plintite (plinthite) uma mixtura rica em ferro, pobre em matéria orgânica, de argila e quartzo que endurece irreversivelmente sob ciclos de molhamento e secagem. propriedades ândicas (andic properties) material proveniente de erupções vulcânicas com poucas evidências de alteração pedogenética. propriedades ferrálicas (ferralic properties) solos com horizonte B fortemente meteorizado, evidenciado por CTC baixa (<24 cmol(+).kg-1 de argila). propriedades férricas (ferric properties) solo apresentando evidências de redistribuição de ferro, na forma de manchas ou nódulos grandes e vermelhos propriedades flúvicas (fluvic prop.) sedimentos aluviais recentes propriedades géricas (geric properties) material de solo extremamente meteorizado, evidenciado por soma de bases + Al trocáveis <1.5 cmol(+).kg-1 de argila, ou ∆pH>0.1. propriedades gleicas e estágnicas (gleyic + stagnic prop.) evidências de saturação prolongada com água devido a lençol freático elevado (prop. gleicas) ou estagnação de água (prop. estágnicas). propriedades níticas (nitic properties) estrutura forte anisoforme angular, composto por elementos anisoformes menores, com superfícies lustrosas. propriedades sálicas (salic properties) salino (ECe>15dS.m -1, ou >4dS.m-1 se pH(H2O, 1:1>8.5), dentro de 30 cm de profundidade. propriedades sódicas (sodic properties) complexo de troca de cations com elevada saturação por sódio (≥15%) ou por sódio + magnésio (≥50%). propriedades vérticas (vertic properties) presença de fendas, superfícies de deslizamento e/ou agregados em forma de paralelepípedos ou cunhas, mas insuficientemente expressiva para qualificar o solo como Vertissolo. rocha dura contínua (continuous hard rock) rocha contínua e dura de tal forma que não pode ser escavada à pá. superfícies de deslizamento (slickensides) superfícies polidos e estriadas produzidas pelo movimento sob pressão de uma massa de solo sobre outro. 5 Nota-se bem, que há uma distinção entre a designação de horizontes usada na descrição de perfis de solo e os horizontes de diagnóstico, usados na classificação do solo. A designação de horizontes faz parte duma nomenclatura na qual horizontes principais, indicados como H, O, A, E, B, C ou R, são relacionados com as camadas de solo descritas e interpretadas no campo. A escolha do código do horizonte é por julgamento pessoal baseada na suposta gênese do solo. No entanto, horizontes de diagnóstico são definidos mais quantitativamente e a sua presença ou ausência pode ser acertada na base de medições objectivas de campo e/ou laboratório. Também convém realizar-se que horizontes principais não devem necessariamente corresponder com horizontes de diagnóstico. Por exemplo o horizonte A dum perfil pode ser demasiadamente raso para poder ser qualificado de horizonte A mólico. Mesmo assim, o solo pode ter um horizonte A mólico se os horizontes A e AB forem considerados como conjunto que satisfaz todos os requisitos. Alguns dos horizontes de diagnóstico do sistema da FAO/Unesco/ISRIC são formas especiais de horizontes A ou B; p.e. A mólico; B ferrálico. Outros horizontes de diagnóstico nao coincidem com horizontes principais específicos; p.e. cálcico ou gípsico. Para a classificação de um solo segundo o sistema da FAO/Unesco/ISRIC segue-se o seguinte caminho: 1) Determine se algum horizonte ou conjunto de horizontes satisfaça os requisitos para um dos horizontes de diagnóstico. 2) Siga a tabela de determinação (keys ). Se cruzar com o nome de uma propriedade de diagnósticos requerida deve-se controlar se o solo ou parte do solo satisfaz este requisito. 3) A classificação termina ao encontrar um solo que satisfaz todos os requisitos. As definições da maioria dos critérios diagnósticos (horizontes e propriedades) coincidem com critérios usados para o sistema americano de classificação de solos: Soil Taxonomy (os sistemas foram desenvolvidos paralelamente com muitas interacções). De um lado isto facilita a correlação entre os dois sistemas. Do outro lado, a similaridade de alguns nomes pode causar confusão. O mesmo vale para a versão original do sistema da FAO/Unesco (1974), que ainda por cima sofreu muitas modificações por institutos nacionais de levantamento, para adaptar a legenda às condições específicas locais. Por isto convém sempre, ao examinar mapas ou documentos sobre a descrição e classificação de solos, checar a proveniência e o sistema de classificação (original ou adaptado) que foi usado. A Figura 1 apresenta uma relacão esquemática dos Agrupamentos Principais de Solo, abreviada da "Key". A Tabela 3 mostra a extensão dos Agrupamentos Principais de Solos no mundo e em Moçambique. A Figura 2 indica algumas das relações genéticas possíveis entre os diferentes Agrupamentos Principaisde solos. Os mais importantes processos de formação de solo envolvidos na Figura 2 estão listados na Tabela 4. Pontos fortes da Legenda da FAO como sistema de classificação são: (1) a possibilidade de sua aplicação global; (2) a base é razoavelmente sólida e sustentada por cientistas de muitos países que garantiram a inclusão dos principais solos do mundo ao primeiro nível; (3) em geral o sistema é relativamente simples e portanto assimilável por não cientistas de solo com formação superior. Pontos fracos da Legenda são: (1) os critérios para uso em nível detalhado (3o) nível não são muito objectivos, o que pode levar à aplicação incontrolada de adendos, ou à identificação de grupos demasiadamente gerais de solos; (2) os critérios para distinguir os Agrupamentos Principais não são muito lógicos; (3) algumas definições são bastante complicadas; (4) o sistema usa definições bastante rígidas, que podem implicar a "corte" de corpos naturais de solos. Estes pontos fracos tornam o sistema pouco acessível para pessoas sem formação superior, e pouco útil para uso em levantamentos detalhados. O próximo capítulo apresenta um sumário das características de todos os Agrupamentos Principais da Legenda. 6 Tabela 3. Extensão dos Agrupamentos Principais de Solos no mundo e em Moçambique. Fontes: World Soil Resources Report 66 Rev 1 (FAO,1993); INIA, 1995. Grupo de Solo No mundo (FAO, 1991) Em Moçambique (INIA, 1995) * 1000 ha % * 1000 ha % Acrissolos 5 961 8 Alissolos 996 600(1 8(1 - - Andossolos 107 045 1 - - Arenossolos 901 885 7 22 563 29 Cambissolos 1 573 402 13 2 985 4 Calcissolos 796 169 6 2 552 3 Chernozéns 229 218 2 97 <1 Ferralsolos 742 600 6 5 509 7 Fluvissolos 356 235 3 4 697 6 Gleissolos 718 830 6 1 075 1 Greizéns 33 883 <1 Gipsissolos 90 017 1 Histossolos 273 248 2 Castanozéns 467 757 4 Leptossolos 1 655 318 13 6 727 9 Lixissolos 436 520 4 17 639 22 Luvissolos 648 505 5 3 677 5 Nitissolos 205 518 2 1 235 2 Faeozéns 154 239 1 81 - Planossolos 129 896 1 - - Plintossolos 61 135 1 - - Podzóis 487 513 4 - - Podzoluvissolos 321 065 3 - - Regossolos 578 971 5 - - Solonchaks 187 325 2 2 246 3 Solonetz 135 267 1 - - Vertissolos 337 322 3 541 1 área total 12 625 483 100 77 584 100 (1 Acrissolos + Alissolos 7 ╚═══════>solo orgânico ───────────────────┬──────────────────────→sim ──→Histossolo não←────────────────────────────────────┘ └──────→modificado fortemente pela ação humana ──┬──────────────→sim ──→Antrossolo não←─────────────────────────────────────────────┘ └──────→profundidade do solum <30 cm ────┬──────────────────────→sim ──→Leptossolo não←─────────────────────────────────────┘ └──────→solo argiloso, com fendas largas e profundas ────┬──────→sim ──→Vertissolo não←─────────────────────────────────────────────────────┘ └──────→propriedades flúvicas ────┬─────────────────────────────→sim ──→Fluvissolo não←──────────────────────────────┘ └──────→propriedades sálicas ────┬──────────────────────────────→sim ──→Solonchak não←─────────────────────────────┘ └──────→propriedades gleicas a <50 cm ─────┬────────────────────→sim ──→Gleissolo não←───────────────────────────────────────┘ └──────→propriedades ândicas ────┬──────────────────────────────→sim ──→Andossolo não←─────────────────────────────┘ └──────→arenosa, sem hor. diag. além de A ócrico e E álbico ───┬→sim ──→Arenossolo não←───────────────────────────────────────────────────────────┘ └──────→sem hor. diag. além de A ócrico ou úmbrico ──────┬──────→sim ──→Regossolo não←─────────────────────────────────────────────────────┘ └──────→horizonte B espódico ───┬───────────────────────────────→sim ──→Podzol não←────────────────────────────┘ └──────→com plintite ───┬───────────────────────────────────────→sim ──→Plintossolo não←────────────────────┘ └──────→horizonte B ferrálico ────┬─────────────────────────────→sim ──→Ferralsolo não←──────────────────────────────┘ └──────→hor. E e propriedades estágnicas sobre hor. denso ─────┬→sim ──→Planossolo não←───────────────────────────────────────────────────────────┘ └──────→horizonte B nátrico ────┬───────────────────────────────→sim ──→Solonetz não←────────────────────────────┘ hor. B árgico+ └──────→hor.A ─┬→sim ──→croma ────┬─→sim ─→faces de agregados ──┬──→sim ──→Greizem mólico │ húmido<2 │ esbranquiçadas no A │ não←────────────┘ não não │ hor.(petro)cálcico ←─────┘ hor (petro)cálcico ←─┘ │ ou calcário brando pulv. ou calcário brando pulv →sim ──→Chernozem │ ou hor. (petro)gípsico ←─────não ←───────────────────────┘ │ └─────────────┬──────────────────────────────────→sim ──→Castanozem │ │ │ └──────────────────────────────────→não──→Faeozem └──────→hor B árgico com penetração em forma de dedos do hor E ou nódulos de Fe ────────────┬──→sim ──→Podzoluvissolo não←─────────────────────────────────────────────────────────┘ └──────→hor (petro)gípsico ──────┬──────────────────────────────→sim ──→Gipsissolo não←─────────────────────────────┘ └──────→hor (petro)cálcico ou calcário brando pulv. ┬───────────→sim ──→Calcissolo não←────────────────────────────────────────────────┘ └──────→B árgico ─┬→sim ─→prop. níticas + B árgico profundo ───┬──→sim ──→Nitissolo ┌─────┘ ┌────────────────────────────────────────┘ │ ↓ ┌─→sat. base>50% ────────→Luvissolo ↓ não ┌→CTC-argila > 24 ──────┤ não │ │ └─→sat. base<50% ────────→Alissolo │ └──┤ │ │ ┌─→sat. base<50% ────────→Acrissolo │ └→CTC-argila < 24 ──────┤ │ └─→sat. base>50% ────────→Lixissolo ↓ horizonte B câmbico ──────────────────────────────────→sim ──→Cambissolo Figura 1. Relacão esquemática dos Grupos Principais de Solos segundo FAO/Unesco/ISRIC (1990) 8 2.2 Caracterização sumária dos agrupamentos princip ais da legenda do mapa dos solos do mundo da FAO Acrissolos Solos com horizonte B árgico, CTC baixa e baixa saturação por bases Ocorrência: regiões (sub)tropicais húmidas. Comuns em Moçambique nas províncias de Manica, Zambeze, Nampula e Niassa. Processos de formação: diferenciação textural, lixiviação e dessilicação. Qualidades/limitações: reservas limitadas de nutrientes, toxicidade de Al ou Mn, compactação, erosão. Alissolos Solos com horizonte B árgico, CTC relativamente elevada e baixa saturação por bases Ocorrência: regiões de clima temperado húmido, ou em superfícies jovens nos trópicos húmidos. Não são comuns em Moçambique. Processos de formação: diferenciação textural, lixiviação. Qualidades/limitações: reservas limitadas de nutrientes, toxicidade de Al ou Mn, compactação, drenagem imperfeita, erosão. Andossolos Solos pouco desenvolvidos, formados em cinzas vulcânicas. Ocorrência: sob qualquer clima em regiões com vulcanismo activo. Não ocorrem em Moçambiqe. Processos de formação : os solos são demasiadamente jovens para mostrar indicações expressivas de intemperismo e/ou movimento de argila ou matéria orgânica. Qualidades/limitações: Fixação de fósforo e microelementos, tixotropia; como grupo são solos muito productivos. Antrossolos Solos fortemente modificadas por actividades humanas Ocorrência: assentos humanos (antigos); perto de centros urbanos. Processos de formação : interferências humanas.Qualidades/limitações : dependem muito do tipo de material adicionado ou removido e da duração destes processos. Arenossolos Solos de textura arenosa, com diferenciação vertical pouco expressiva. Ocorrência: sob qualquer clima em materiais arenosos. Processos de formação: os solos não mostram indicações expressivas de pedogênese, por serem demasiadamente jovens ou arenosos; ou eventuais horizontes iluvioniais (Bws) estão muito profundos. Qualidades/limitações: Baixa fertilidade natural, baixa capacidade de retenção de água, pouca estabilidade estrutural, alta capacidade de infiltração. 9 Calcissolos Solos caracterizados pela acumulação de carbonato de cálcio, com horizonte A pouco desenvolvido (ócrico) Ocorrência: sob clima (semi-)árido, em material de origem rico em calcário. Em Moçambique há algumas ocorrências maiores em Tete, ao longo do Rio Zambézi, e na norte da Província de Gaza, na fronteira com Zimbabwe. Processo de formação: acumulação secundária de calcário, enquanto as condições ambientais são adversas para actividade biológicas; Qualidades/limitações : ocorrência de períodos secos; deficiência de certas nutrientes devido ao pH elevado. Cambissolos Solos numa fase intermediária de desenvolvimento, com textura média ou argilosa, com horizonte B câmbico. Ocorrência: sob qualquer tipo de clima, geralmente em superfícies geomorfológicas relativamente jovens. Processos de formação: formação de estrutura pedogenética, formação de minerais secundários, diferenciação de cores, decalcificação. Qualidades/limitações: dependem muito do material de origem e relêvo; geralmente não apresentam limitações graves. Chernozéns/Castanozéns Solos com horizonte A mólico e horizonte cálcico ou gípsico ou calcário brando pulverulento dentro de 125 cm da superfície. Ocorrência: estepes (sub-)húmidos a semi-áridos. Há poucas ocorrências mapeadas em Moçambique, mas provavelmente são comuns em associação com Luvissolos. Processos: Acumulação de matéria orgânica no horizonte superficial e acumulação secundária de carbonato de cálcio ou gesso; elevada actividade biológica. Qualidades/limitações: Boa fertilidade química; pode haver desbalanços nutricioniais devido a pH elevado; boas características físicas; o clima pode propiciar ocorrências de secas na estação de crescimento. Ferralsolos Solos com horizonte B ferrálico: fortemente intemperizados practicamente sem minerais meteorizáveis; com CTC baixa; relativamente ricos em (hidr)óxidos de ferro e alumínio. Ocorrência : regiões tropicais húmidas, em superfícies geomorfológicas antigas. Processos de formação : meteorização, dessilicação, actividade biológica elevada. Qualidades/limitações: Alta capacidade de infiltração, transições verticais graduais/difusas; boa drenagem, facil de manuseiar, baixa fertilidade química, fixação de fósforo, toxicidade de alumínio. Faeozéns Solos com horizonte A mólico e elevada saturação por bases; sem acumulações de sais ou carbonato de cálcio; com ou sem horizonte B árgico. Há poucas ocorrências mapeadas em Moçambique, mas provavelmente são comuns em associação com Luvissolos. Ocorrência : regiões de clima temperado-húmido ou tropical de altitude; sob florestas e pradarias; geralmente em materiais inconsolidados. 10 Processos de formação: acumulação e incorporação de matéria orgânica no horizonte superficial; os solos mais antigos deste agrupamento apresenta evidências de eluviação e iluviação de argila. Qualidades/limitações: como grupo não apresentam problemas importantes. Fluvissolos Solos incipientes, desenvolvidos em sedimentos aluviais recentes, mostrando estratificação. Ocorrência: sob qualquer clima em planícies de rios, marinhos ou lacustrinos. Processos de formação: sedimentação; sem maiores evidências de processos pedogenéticos, a não ser oxidação/redução e acumulação/incorporação de matéria orgânica no horizonte superficial. Qualidades/limitações : dependem muito do tipo dos sedimentos e do ambiente de deposição. Gleissolos Solos com evidências de hidromorfismo dentro de 50 cm da superfície, devido à presença de lençol freático elevado durante grande parte do ano; sem estratificação; sem excesso de sais. Ocorrência: em qualquer região do mundo, em lugares com lençol freático elevado e drenagem suficiente para evitar salinidade. Processos de formação: redução evt. com alternância de períodos de oxidação. Qualidades/limitações : fertilidade química depende muito do material de origem; toxicidade de Fe, Mn e Mb; aeração deficiente, problemas de traficabilidade. Greizéns Solos com horizonte A mólico com croma ≤2; com grãos de limo e areia nas superfícies dos elementos estruturais; com horizonte B árgico. Ocorrência: regiões com clima continental temperado a frio, com vegetação natural de floresta e relevo plano a suavemente ondulado. Processos de formação: acumulação/incorporação de matéria orgânica no horizonte superficial; eluviação/iluviação de argila; pseudoglei ligeiro. Qualidades/limitações: boa fertilidade química; drenagem interna moderada; tendência de formação de crostas superficiais. Gipsissolos Solos com horizonte de concentração secundária de gesso dentro de 125 cm de profundidade, com horioznte A pouco desenvolvido. Ocorrência: clima (semi-)árido; não foram registados em Moçambique. Processo de formação: acumulação de CaSO4.2H2O. Qualidades/limitações: ocorrência de secas prolongadas; desbalanços nutricionais; na presença de camadas cimentadas por CaSO4.2H2O pode haver problemas de drenagem e do desenvolvimento radicular. Histossolos Solos orgânicos Ocorrência: em climas húmidos em áreas com lençol freático elevado. Em Moçambique há algumas ocorrências na Província de Gaza. 11 Processo de formação: acumulação de matéria orgânica. Qualidades/limitações: aeração deficiente, deficiência de sílica, baixa capacidade de suporte, subsidência de terrenos drenados. Leptossolos Solos com profundidade limitada por rocha dura contínua, ou por materiais altamente calcários ou por uma camada cimentada contínua dentro de 30 cm de profundidade e solos muito pedregosos. Ocorrência : principalmente em áreas montanhosas. São muito comuns em Moçambique. Processos: são muito pouco desenvolvidos, geralmente devido a rejuvenescimento contínuo por processos erosivos. Qualidades/limitações: profundidade efectiva reduzida; erosão; dificuldades de uso de máquinas agrícolas. Lixissolos Solos com horizonte B árgico, CTC baixa e elevada saturação por bases Ocorrência: regiões tropicais sub-húmidos, presumivelmente com paleo-clima tropical húmido; e em regiões tropicais húmidas com deposição contínua de poeiras. Em Moçambique são muito comuns em todas as províncias ao norte do rio Save; geralmente em associação com Acrissolos e Luvissolos. Processos de formação: diferenciação textural, meteorização, dessilicação; possivelmente posterior enriquecimento com sedimentos eólicos (p.e. poeiras desérticas ou vulcânicas). Qualidades/limitações: reservas de nutrientes limitadas, tendência para formação de crostas superficiais, sensíveis para erosão. Luvissolos Solos com horizonte B árgico, CTC elevada e elevada saturação por bases; com horizonte A fracamente desenvolvido. Ocorrência: regiões de clima temperado em superfícies do final do Plistocêno, e em superfícies mais jovens nos trópicos, em regiões com alternância de estações secas e húmidas. Em Moçambique, na região norte, ocorrem comumente em associação com Lixissolos e Acrissolos. A sul do rio Save estão maioritariamente relacionados com a formação Mananga. Processo de formação: eluviação/iluviação de argila. Qualidades/limitações: em geral boa fertilidade química; podem apresentar problemas de crostamento superficial e erosão. Nitissolos Solos com horizonte B árgico, com transiçõesgraduais entre os horizontes, e com estrutura forte anisoforme angular, composto por elementos anisoformes menores, com faces apresentando cerosidade (lustrosidade) no horizonte B. Ocorrência: regiões tropicais, geralmente sobre rochas básicas. Processo de formação: diferenciação textural, parcialmente compensada por actividade biológica. Qualidades/limitações: boas características hídricas, disponibilidade de nutrientes moderada (boa em comparação com Ferralsolos e Acrissolos), e moderadamente sensíveis à erosão. Estão entre os solos mais productivos das regiões tropicais húmidas. 12 Planossolos Solos com horizonte E apresentando propriedades estágnicas, e com transição abrupta para um horizonte pouco permeável. Ocorrência: solos geralmente desenvolvidos em planícies ou depressões, com alagamento sazonal. Não são comuns em Moçambique. Processos de formação: diferenciação textural, na maioria dos casos presumivelmente ligado à ferrólise. Qualidades/limitações: entre os inúmeros problemas destes solos destacam se: períodos alternados de excesso e carência de água, enraizamento limitado, pobreza de nutrientes no horizonte superficial. Podzóis Solos com horizonte B espódico. Ocorrência: Principalmente em regiões de clima húmido, frio/temperado, em substratos arenosos. Não foram registados em Moçambique. Processo de formação: queluviação. Qualidades/limitações: carência generalizada de nutrientes; baixa disponibilidade de água; drenagem e enraizamento podem ser impedidos pelo horizonte iluvial. Regossolos Solos em materiais inconsolidados, de textura média ou argilosa; muito pouco desenvolvidos. Ocorrência: em superfícies jovens sobre substrato inconsolidado e em regiões frias ou secas. Processos: são pedogenicamente muito pouco desenvolvidos; podem ter sofrido acentuada meteorização física, mas pouca intemperismo químico. Qualidades/limitações: dependem muito do material de origem e da declive. Solonchaks Solos salinos. Ocorrência: regiões com clima (semi-)árido e lençol freático elevado, ou em áreas costais. Processo: acumulação de sais solúveis. Qualidades/limitações: forte potencial osmótico (muito negativo); desbalanços nutricionais; toxicidade de sais. Solonetz Solos com horizonte B nátrico Ocorrência: regiões semi-áridas ou em áreas costais. Com ocorrências restritas no Sul de Moçambique. Processos de formação: eluviação/iluviação de argila sob influência de elevada saturação por sódio; formação de estrutura colunar. Qualidades/limitações: disponibilidade limitada de muitos elementos devido à alkalinidade; péssima estabilidade estrutural e drenagem interna e disponibilidade de água limitada. Vertissolos 13 Solos argilosos com fendas largas e profundas quando secos, e morfologia com evidências de pressão devido à expansão de argilas. Ocorrência: climas com estações secas e húmidas bem definidas, em material de origem químicamente rico. Em Moçambique há ocorrências maiores na Província de Tete, formados no complexo gabro-diorítico; e nos basaltos e grés calcáricos ao longo do Rio Búzi. Processos de formação: formação de minerais expansíveis (montmorilonita); expansão e encol- himento. Qualidades/limitações: fertilidade química relativamente boa; carência e excesso de água; maneio difícil devido à consistência muito dura/muito firme/plástica,pegajosa; problemas de danos mecânicos ao sistema radicular e a construções. BIBLIOGRAFIA FAO, 1982. Climatic resources inventory Mozambique, Scale 1: 2 000 000. Land and Water use planning project FAO/UNDP/MOZ/75/011. Assessment of land resources for rainfed crop production in Mozambique. Map sheet of field document 34, February 1982. FAO/UNESCO/ISRIC, 1990. Soil Map of the World, Revised Legend. World Soil Resources Report 60, FAO, Rome. Versão em português: Legenda revista do mapa dos solos do mundo (1996). FAO, 1993. World Soil Resources. An explanatory note on the FAO World Soil Resources Map at 1 : 25 000 000 scale. FAO, Rome World Soil Resources Report 66 Rev. 1 INIA, 1995. Carta Nacional de Solos (Escala 1:1.000.000); 8 folhas cartográficas, Legenda e Dados digitalizados. Compilada pelo Departamento de Terra e Água. Maputo. Série Terra e água Comunicação No. 73. Soil Classification Working Group, 1991. Soil Classification. A Taxonomic System for South Africa. Memoirs on the Agricultural Natural Resources of South Africa No. 15. Soil and Irrigation Research Institute, Dept. of Agricultural Development, Pretoria. 257 p. Soil Survey Staff, 1994. Keys to Soil Taxonomy, 6th edition. United States Department of Agriculture, Soil Conservation Service, Washington DC. iv+306 p.
Compartilhar