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1 Referência: aula do prof. José Gomes É caracterizada por anovulação. Então, é preciso transformar um ciclo anovulatório em ovulatório. Não esquecer que o ciclo anovulatório é monofásico e caracterizado pelo predomínio de estrogênio. O ciclo bifásico, que é o normal, tem uma fase que predomina estrogênio e outra que predomina a progesterona. Ciclo menstrual Vamos considerar um ciclo de 30 dias, com a ovulação ocorrendo no 16º dia. Vai crescendo o folículo e, lá para o 12º dia do ciclo, há um pico de estradiol que, por feedback positivo, leva a um pico de LH, o qual vai induzir a liberação de prostaglandinas e enzimas proteolíticas, que levam à ovulação. Assim, sai um líquido folicular (comparando com um ovo, seria como a clara, a gema seria o óvulo e a casca seria o corpo lúteo, que é o que produz progesterona). Para produzir progesterona, é preciso que haja ovulação. Na Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), há anovulação, ou seja, não haverá a segunda fase, apenas a primeira, com predomínio de estrogênio. O endométrio vai ser sempre proliferativo. A imagem abaixo mostra o processo da ovulação. Começamos a ver os folículos primordiais, que vão crescendo, na primeira fase do ciclo. Depois, há a ovulação e segunda fase do ciclo, em que o corpo amarelo produz a progesterona. O tratamento da SOP é, basicamente, transformar o ciclo anovulatório em ovulatório. Conceito É uma síndrome clínica caracterizada por disfunção menstrual (porque o ciclo será espaniomenorreico ou oligomenorreico – acima de 45 dias, hiperandrogenismo cutâneo, que é o hirsutismo, obesidade e infertilidade. Se é um ciclo anovulatório, a mulher é infértil. Isso se manifesta, em geral, por ocasião ou logo após a instalação da menarca. Caracteriza-se, clinicamente, por: • Disfunção ovulatória: ciclo anovulatório. • Irregularidade menstrual: o ciclo é do tipo espaniomenorreico. • Hiperandrogenismo cutâneo: 80% podem apresentar hirsutismo. Revisando, qual é a característica clínica do conceito da SOP? Disfunção ovulatória do tipo anovulação, irregularidade menstrual – oligoamenorreia podendo acontecer amenorreia, e hiperandrogenismo cutâneo. Histórico • 1844: descrição de ovários aumentados e policísticos. • 1897: hipertricose. • Início de 1900: sangramento disfuncional do endométrio associado a ovários policísticos. • 1935: síndrome dos ovários policísticos com hiperandrogenismo, obesidade, amenorreia e infertilidade (Stein-leventhal). Epidemiologia • É a endocrinopatia mais comum da mulher. A prevalência é de 5% a 10% • Ocorrência familiar é frequente, principalmente em parentesco de primeiro grau (20-60%) Etiologia Não está elucidada. • Hipóteses o Pulso gerador de GnRH: modifica a amplitude e a pulsatilidade e, através disso, altera a liberação de LH e FSH na hipófise. Teremos sempre LH maior e FSH igual ou diminuído. Isso modifica a esteroidogênese, então os folículos chegam a 10-12 mm e não ocorre ovulação (eles não conseguem chegar aos 18-20 mm, que seria o necessário). o Teoria do baixo peso – pubarca precoce: alterações genéticas no cromossoma 2 CP450c17 que se manifesta já na 20ª semana de gestação, no feto. Então, a população folicular já vai sofrer alteração. Isso se relaciona com criança de baixo peso. o Metabólica - resistência insulínica Fisiopatologia A ação irregular do LH no estroma ovariano aumenta a produção do androgênio, desenvolvendo irregularidade da esteroidogênese do folículo, o que gera a formação de cistos subcapsulares, pois os folículos só chegam até o tamanho de 10 a 12 mm, o que dá um aspecto polimicrocístico do ovário. Há também uma teoria multigênica, mas o que mais deve ser focado é a alteração do cromossomo. Na fisiopatologia, ocorre um descontrole da esteroidogênese ovariana, por um defeito intrínseco das células da TECA. Elas vão causar um aumento do LH. Além disso, há uma redução da sensibilidade da insulina, que é também devido aos defeitos em receptor nas vias de sinalização desse hormônio. Por fim, fala-se do excesso de estresse oxidativo e dos fatores genéticos e ambientais. A hiperplasia das células da teca secreta altas concentrações de androgênio. Também vai afetar as células da granulosa, que sintetizam uma maior concentração do hormônio anti-mülleriano (HAM). Este último é marcador de reserva ovariana, sendo capaz de predizer qual é a quantidade de óvulos que a mulher dispõe em seus ovários. Quando se está diante de uma paciente em fase de transição menopausal, pede-se a dosagem de FSH e estradiol, porque haverá aumento do primeiro e redução do segundo, devido à redução da reserva ovariana. • Diminuição da reserva ovariana: se dosar esse hormônio (HAM), vai ver que ele vai estar alterado. Na prática, usa mais a dosagem de FSH e estradiol. No alfabeto, temos F e G, então é fácil de gravar. G de granulosa e F de FSH, são coisas que estão próximas. Então, a diminuição do FSH não está relacionada com células da Teca, e o L está mais perto do T do que do F de FSH. • Diminuição de FSH com redução da aromatização dos androgênios nas células da granulosa. • Aumento do estímulo de LH nas células da teca interna com incremento da produção de androgênios. • Anomalias no metabolismo de androgênios e estrogênios Vários autores, entre eles, Yan, acreditam que a elevação de androgênios era desencadeada por vários eventos relacionados com esta síndrome. Assim, os androgênios atuariam no hipotálamo, alterando a liberação pulsátil do GnRH, o que teria efeito imediato na liberação anômala de gonadotrofinas pela hipófise, com elevação do LH e redução do FSH, o que determina alterações morfológicas e funcionais do ovário, com aumento da produção de androgênios. Estes seriam convertidos, na periferia, em estrogênios, os quais iriam atuar também na liberação de gonadotrofinas, levando ao ciclo vicioso desta síndrome. Como acontece a síntese de androgênios? Ele é regulado pela secreção do LH e do FSH. • LH: síntese androgênica pela célula da teca através do CP450c17. • FSH: regulação da atividade da aromatase – mas não diminui, apenas regula. A androstenediona, pela aromatase, se transforma em estrona. É por isso que mulheres obesas, em período de menopausa, não têm fogachos, porque elas têm estrona, que vem da androstenediona, por meio da aromatase. As mulheres magras, por outro lado, apresentam mais sintomatologia de fogachos. Na ausência de atividade da aromatase, a 17- beta-hidroxiesteroide chega para tomar o lugar dela, transformando androstenediona em testosterona, que é um androgênio. Nesse caso, temos uma diminuição ou ausência da atividade da aromatase, para poder ter a testosterona. • Hiperprolactinemia: toda vez que há aumento da prolactina, ela diminui o SHBG, e ele, por sua vez, aumenta androgênios – testosterona. → Lembrar: toda vez que houver uma situação em que há diminuição do SHBG, haverá um aumento de testosterona. 3 A resistência insulínica diminui a síntese de SHBG, portanto, há aumento da testosterona. Antes, eram necessários alguns consensos para conceituar essa patologia com etiologia ainda não elucidada. • Consenso NIH 1990: a SOP também se caracterizava por hiperandrogenismo clínico ou laboratorial, ciclos espaniomenorreicos (< 6 ciclos por ano) e era um diagnóstico de exclusão de outras alterações como Síndrome de Cushing, hiperprolactinemia, deficiência enzimática da suprarrenal e distúrbios da tireoide. • Consenso de Rotterdam da Holanda, em 2003: ciclos espanioamenorreicos ou amenorreia (anovulação crônica), sinais clínicos ou bioquímicos de hiperandrogenismo e ovários policísticos (excluindo hiperplasia congênita da suprarrenal, neoplasia secretora de androgênio e síndrome de Cushing). • Consenso 2006,da Sociedade Estudo Excesso de androgênio: exclusão de outras causas, disfunção ovariana – anovulação e/ou ovários policísticos, hiperandrogenismo – hirsutismo e/ou hiperandrogenemia. • Diretriz Internacional baseada em evidências para a avaliação e manejo da SOP – 2018 o Metformina parece segura a longo prazo. A única coisa que ela pode causar são os baixos níveis de vitamina B12. Resistência periférica à insulina • Fisiopatologia o Diminuição do número de receptores o Diminuição da atividade do receptor o Alteração pós-receptor A cascata do sinal intracelular está alterada. A insulina extracelular se acopla ao receptor, pega o GLUT4 e leva para a superfície, fazendo com que a glicose entre na célula. Na vigência de alterações do receptor, não há o sinal, fazendo com que muitos GLUT4 não consigam ir para a superfície, então a glicose não entra. A metformina e os sensibilizadores de insulina pegam o GLUT4 e levam para a superfície da célula, acabando com a resistência insulínica. A glicemia do professor está 81, a quem interessar saber. Insulina no músculo e adipócitos (papel do GLUT4 na membrana celular) A insulina se acopla ao receptor, pega o GLUT4 e leva para a membrana plasmática, então a glicose entra na célula via vesícula do GLUT4 – é o esperado. Quando a cascata está com defeito, isso não ocorre, e a glicose não entra na célula. • Evolução da doença: deficiência da secreção de insulina, fase de intolerância à glicose, hiperglicemia em jejum estabelece diagnóstico de diabetes. • A resistência insulínica ocorre por causas como: obesidade e sedentarismo. Gordura corporal O aumento da gordura visceral caracteriza a chamada “obesidade tipo maçã” e está relacionada a maior risco cardiovascular. O aumento da gordura subcutânea caracteriza a chamada “obesidade tipo pera” e está relacionada a problemas circulatórios e ortopédicos. Obesidade e SOP O excesso de androgênios intraútero, no período neonatal e na vida adulta, faz aumentar a expressão de genes envolvidos na lipogênese e acúmulo da massa gorda. Toda vez que se reduz peso, aumenta a proteína SHBG (proteína ligadora dos hormônios sexuais), levando 4 a uma diminuição do androgênio livre e aumento do IGFBP 1 e 3 (proteína ligadora dos fatores de crescimento semelhantes a insulina). Quadro clínico • Alterações do ciclo menstrual: espanio- amenorreicos • Hirsutismo • Obesidade: 80% dos casos. • Acne • Esterilidade/infertilidade Diagnóstico clínico • Anamnese • Exame físico o Avaliação do hirsutismo (índice de Ferriman-Gallowey) o Acantose nigricans: marca resistência insulínica. o Obesidade troncular o Estrias • Exame ginecológico Diagnóstico laboratorial • Dosagem da prolactina: tudo que diminui síntese de SHBG aumenta síntese de testosterona, por isso dosa PRL. • Insuficiência ovariana prematura: dosa FSH. • Determinações hormonais: afastar outras causas. o Hiperplasia suprarrenal: dosagem do 17 OH-progesterona, teste do estímulo com ACTH. o Síndrome Cushing: dosagem cortisol basal e teste depressão dexametasona. • Legro, 1998: se dividir glicose por insulina de jejum e dá ≤ 4,5, diz que tem resistência à insulina. • Curvas: glicêmica e insulínica. Diagnóstico por imagem • Ultrassonografia: faz pélvica/abdominal se a paciente for virgem, mas a melhor é a transvaginal, a qual consegue até verificar a quantidade de folículos (deve ser acima de 12). • Tomografia computadorizada • Ressonância magnética 5 • Laparoscopia: observar características do ovário e permite fazer biópsia. • Laparotomia A imagem acima mostra o ovário, que não é policístico, mas com processo metaplásico, com regeneração de uma ovulação. A superfície do ovário policístico é lisa. Tratamento • Objetivos: controle da obesidade, do hirsutismo, da fertilidade, prevenir carcinoma de endométrio e doenças metabólicas tardias. Por que prevenir câncer de endométrio? Porque a SOP leva a ciclos anovulatórios, com predomínio de estrogênio. O endométrio é proliferativo, pois não há progesterona para fazer ele entrar em fase secretora. Assim, ele pode proliferar, entrar em hiperplasia simples, hiperplasia atípica, in situ e câncer. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico, porém este último quase não é feito. • Obesidade: dieta, agentes anti-insulinêmicos, metformina, rosiglitazona. O objetivo é transformar o ciclo anovulatório em ovulatório. Há dois caminhos a seguir: • Não tem atividade sexual: progestagênios, acetato medroxiprogesterona 5-10 mg/dia (2ª fase do ciclo). Faz a indução do ciclo ovulatório, um ciclo bifásico. • Não deseja gravidez: associação estroprogestativa com contracepcionais orais. O ideal é que contenha progesterona sintética com menor efeito androgênico – acetato de ciproterona e derivados da drospirenona ou da clomatizona. A ciproterona age no folículo piloso, o qual tem um tempo de meia vida de 8 a 10 meses, por isso se deve fazer o medicamento por esse tempo, para diminuir o hirsutismo. Se a mulher não tem hirsutismo, faz uso dos derivados da drospirenona. Havendo resistência insulínica, associa com metformina. • Deseja engravidar: faz indução de ovulação. o Clomifeno: adequada produção estrogênica. Faz nas doses de 50 mg/dia, do 3º ao 7º dia, 6 a 9 ciclos até 200 mg/dia. No 12º ao 14º dia, faz USG transvaginal. • Drogas hipoinsulinemiantes o Metformina – classe B; faz 500 mg. o Troglitazona – lesão hepática, não usa mais. o Rosiglitazona – classe C o Pioglitazona – classe C Tratamento cirúrgico Faz ressecção em cunha do ovário. Isso causa redução do parênquima e estroma ovariano, o que leva à redução de andrógenos e inibina, com aumento do FSH. Como a fisiopatologia continua, há recidiva depois de um tempo. • Cauterização laparoscópica dos ovários = “drilling”. • Cauterização com eletrocirurgia em vários pontos do ovário. A superfície do ovário policístico é lisa, porque não há ovulação. Os folículos ficam subcapsulares.
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