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1 Caro aluno O Hexag Medicina é, desde 2010, referência na preparação pré-vestibular de candidatos às melhores universidades do Brasil. Ao elaborar o seu Sistema de Ensino, o Hexag Medicina considerou como principal diferen- cial em relação aos concorrentes sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. Você está recebendo o livro Estudo Orientado. Com o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados, este material apresenta nove categorias de exercícios: • Aprendizagem: exercícios introdutórios de múltipla escolha para iniciar o processo de fixa- ção da matéria dada em aula. • Fixação: exercícios de múltipla escolha que apresentam um grau de dificuldade médio, buscando a consolidação do aprendizado. • Complementar: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade. • Dissertativo: exercícios dissertativos seguindo a forma da segunda fase dos principais ves- tibulares do Brasil. • Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparando o aluno para esse tipo de exame. • Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios de múltipla escolha das universi- dades públicas de São Paulo. • Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios dissertativos da segunda fase das universidades públicas de São Paulo • Uerj (exame de qualificação): exercícios de múltipla escolha que possibilitam a consolida- ção do aprendizado para o vestibular da Uerj. • Uerj (exame discursivo): exercícios dissertativos que possibilitam a consolidação do apren- dizado para o vestibular da Uerj. Visando a um melhor planejamento dos seus estudos, os livros de Estudo Orientado rece- berão o encarte Guia de Códigos Hierárquicos, que mostra, com prático e rápido manuseio, a que conteúdo do livro teórico corresponde cada questão. Esse formato vai auxiliá-lo a diagnosticar em quais assuntos você encontra mais dificuldade. Essa é uma inovação do material didático 2020. Sempre moderno e completo, trata-se de um grande aliado para seu sucesso nos vestibulares. Bons estudos! Herlan Fellini 2 SUMÁRIO ENTRE LETRAS GRAMÁTICA LITERATURA Aulas 27 e 28: Colocação pronominal 4 Aulas 29 e 30: Período composto: orações coordenadas e subordinadas adjetivas 19 Aulas 31 e 32: Período composto: orações subordinadas substantivas 45 Aulas 33 e 34: Período composto: orações subordinadas adverbiais 58 Aulas 27 e 28: Realismo no Brasil 94 Aulas 29 e 30: Naturalismo no Brasil 107 Aulas 31 e 32: Parnasianismo 123 Aulas 33 e 34: Simbolismo 133 3 GRAMÁTICA 4 COLOCAÇÃO PRONOMINALAULAS 27 E 28 E.O. APRENDIZAGEM TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia a música de Marcelo Jeneci e responda à(s) questão(ões). Dar-te-ei [...] Não te darei papéis, não te darei, esses rasgam, esses borram Não te darei discos, não, eles repetem, eles arranham Não te darei casacos, não te darei, nem essas coisas que te resguardam e que se vão Dar-te-ei finalmente os beijos meus Deixarei que esses lábios sejam meus, sejam teus Esses embalam, esses secam, mas esses ficam. Não te darei bombons, não te darei, eles acabam, eles derretem Não te darei festas, não te darei, elas terminam, elas choram, elas se vão [...] <HTTPS://TINYURL.COM/YBF22RPL> ACESSO EM: 10.11.2017. 1. (G1 - cps 2018) Há, nessa música, uma construção gramatical chamada de mesóclise – “dar-te-ei” – de pouco uso na linguagem escrita e quase extinto o uso na falada. Essa construção, chamada de colocação pronominal, é uma das três posições possíveis – de acordo com a gramática normativa. Baseando-se no que foi apresentado, assinale a alternativa que apresenta uma relação correta – de acordo com a gramática normativa – entre colocação pronominal e o seu uso na frase. a) Próclise – “Faça-me o favor de não atrasar para nosso encontro!” b) Ênclise – “Não te darei discos, não, eles repetem.” c) Ênclise – “Importava-se com o sucesso da prova.” d) Mesóclise – “A música? Cantá-la-rei quando souber a letra.” e) Mesóclise – “Alguém me procurou?” 2. (G1 - ifsp 2017) De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e com a gramática normativa e tradicional, quanto à colocação pronominal, assinale a alternativa correta. COMPETÊNCIAS: 1 e 8 HABILIDADES: 1 e 27 5 a) Espero que Milton nunca esqueça-se de mim. b) Não me diga que Jorge faltou hoje. c) Tudo incomoda-me em você. d) Em tratando-se de informática, Lucas é o melhor. e) Foi Ronaldo quem ensinou-me matemática. 3. (G1 - col. naval 2017) Em que opção a colocação pro- nominal está de acordo com a modalidade padrão? a) Quando o casal chegou ao restaurante, se calou por motivos bem diferentes. b) Os pais distraí-lo-iam com novas tecnologias, em- bora o pediatra condenasse. c) Por que a mulher questionou-os sobre o silêncio que pairava no restaurante? d) Por favor, solicitamos que entreguem-nos os celu- lares antes da hora da prova. e) O homem usava a Internet, e o garçom não inter- rompeu-o para servir a comida. 4. (Eear 2017) Leia: Meteoro (SOROCABA) Te dei o Sol Te dei o Mar Pra ganhar seu coração Você é raio de saudade Meteoro da paixão Explosão de sentimentos que eu não pude acreditar Aaaahh... Como é bom poder te amar [...] O trecho da canção de autoria de Sorocaba, que ficou famosa na voz de Luan Santana, está escrito em lingua- gem coloquial. Quanto ao uso dos pronomes oblíquos, marque a alternativa correta. a) Se o autor tivesse optado pelo uso do pronome de acordo com a gramática normativa, e, desse modo, ti- vesse realizado a colocação do pronome oblíquo após as formas verbais com que se inicia os dois versos do início da canção, seria possível interpretações diferen- tes das apresentadas por conta de cacofonia (união sonora de sílabas que provoca estranheza auditiva). b) O fato de o texto trazer pronomes oblíquos em vez de retos acentua a ideia de precisão ao escrever de acordo com as normas estabelecidas pela gramática normativa, pois os oblíquos, de uso mais elaborado que os retos, garantem mais legibilidade ao texto escrito ou falado. c) A opção pelo uso de pronomes oblíquos é um in- dício das tentativas do autor de gerar duplo sentido em seus enunciados, uma vez que nos dois primeiros versos houve ajuste preciso ao que se determina nas gramáticas de língua portuguesa. d) Os pronomes oblíquos presentes no trecho da can- ção visam promover elegância e estilo, uma vez que estão estritamente de acordo com o que se preconiza nas gramáticas normativas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O dono do livro Li outro dia um fato real narrado pelo escritor mo- çambicano Mia Couto. Ele disse que certa vez chegou em casa no fim do dia, já havia anoitecido, quando um garoto humilde de 16 anos o esperava sentado no muro. O garoto estava com um dos braços para trás, o que perturbou o escritor, que imaginou que pudesse ser assaltado. Mas logo o menino mostrou o que tinha em mãos: um livro do próprio Mia Couto. Esse livro é seu? perguntou o menino. Sim, respondeu o escritor. Vim devolver. O ga- roto explicou que horas antes estava na rua quando viu uma moça com aquele livro nas mãos, cuja capa trazia a foto do autor. O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já ha- via visto em jornais. Então perguntou para a moça: Esse livro é do Mia Couto? Ela respondeu: É. E o garoto mais que ligeiro tirou o livro das mãos dela e correu para a casa do escritor para fazer a boa ação de devolver a obra ao verdadeiro dono. Uma história assim pode acontecer em qualquer país habitado por pessoas que ainda não estejam familiari- zadas com os livros – aqui no Brasil, inclusive. De quem é o livro? A resposta não é a mesma de quando se per- gunta: “Quem escreveu o livro?”. O autor é quem escreve, mas o livro é quem lê, e isso de uma forma muito mais abrangente do que o conceito de propriedade privada – comprei, é meu. O livro é de quem lê mesmo quando foi retirado de uma biblioteca,mesmo que seja emprestado, mesmo que tenha sido encontrado num banco de praça. O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através delas consegue imaginas os personagens, os cenários, a voz e o jeito com que se movimentam. São do leitor as sensações provocadas, a tristeza, a euforia, o medo, o espanto, tudo que é transmitido pelo autor, mas que reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. É do leitor o prazer. É do leitor a identificação. É do leitor o aprendizado. É o leitor o livro. Dias atrás gravei um comercial de rádio em prol do Ins- tituto Estadual do Livro em que falo aos leitores exata- mente isso: os meus livros são os seus livros. E são, de fato. Não existe livro sem leitor. Não existe. É um objeto fantasma que não serve para nada. Aquele garoto de Moçambique não vê assim. Para ele, o livro é de quem traz o nome estampado na capa, como se isso sinalizasse o direito de posse. Não tem ideia de como se dá o processo todo, possivelmente nunca en- trou numa livraria, nem sabe o que é tiragem. Mas, em seu desengano, teve a gentileza de tentar co- locar as coisas em seu devido lugar, mesmo que para isso tenha roubado o livro de uma garota sem perceber. Ela era a dona do livro. E deve ter ficado estupefata. Um fã do Mia Couto afanou seu exemplar. Não levou o celular, a carteira, só quis o livro. Um danado de uma 6 amante da literatura, deve ter pensado ela. Assim são as histórias escritas também pela vida, interpretadas a seu modo por cada dono. MARTHA MEDEIROS. JORNAL ZERO HORA – 06/11/11. REVISTA O GLOBO, 25 DE NOVEMBRO DE 2012. 5. (Esc. Naval 2017) No trecho “[...] um garoto humilde de 16 anos o esperava sentado no muro.” (1º parágra- fo), é também correta, de acordo com a norma-padrão brasileira, a colocação enclítica do pronome o. Assinale a opção em que também ocorre essa dupla possibilidade – próclise e ênclise – na colocação do pro- nome destacado. a) Ana me emprestou este livro. b) Não lhe emprestarei o livro de novo. c) Prefiro que me traga as publicações depois. d) Sempre o vê sozinho na frente da biblioteca. e) Em lhe chegando a vez, termino de contar a histó- ria de ontem. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Renúncia Chora de manso e no íntimo... Procura Curtir sem queixa o mal que te crucia: O mundo é sem piedade e até riria Da tua inconsolável amargura. Só a dor enobrece e é grande e é pura. Aprende a amá-la que a amarás um dia. Então ela será tua alegria, E será, ela só, tua ventura... A vida é vã como a sombra que passa... Sofre sereno e de alma sobranceira, Sem um grito sequer, tua desgraça. Encerra em ti tua tristeza inteira. E pede humildemente a Deus que a faça Tua doce e constante companheira... BANDEIRA, MANUEL. A CINZA DAS HORAS. IN: ESTRELA DA VIDA INTEIRA. RIO DE JANEIRO: NOVA FRONTEIRA, 1993, P. 75. 6. (G1 - ifal 2017) Nos excertos “o mal que te crucia”, “que a amarás um dia” e “pede humildemente a Deus que a faça”, os pronomes em negrito estão, adequada- mente, em posição proclítica, haja vista a força atrativa exercida pelo vocábulo “que”, presente nos referidos trechos. De acordo com a norma padrão, qual das sen- tenças abaixo também se compõe de maneira adequa- da quanto à colocação do pronome átono? a) Nada mantinha-se como antes. b) Se permita sempre amar os outros. c) Trataria-se de uma nova vitória do time. d) Quando falará-se em ética na política? e) Aqui também se fazem boas ações. 7. (G1 - ifce) A colocação pronominal está INCORRETA em a) Importava-se com o sucesso do projeto. b) Quem te convidou para sair? c) Em se tratando de negócios, você precisa falar com o gerente. d) Procurar-me-iam caso precisassem de ajuda. e) Nunca esqueça-se de mim. 8. (G1 - ifal) Escolha a frase que apresenta erro de colo- cação pronominal. a) Arremataram-nas, num leilão online, os que deram os maiores lances. b) Se pudesse, explicaria-lhe tudo. c) Meu filho tem-se interessado pelos negócios da família. d) Ele preparou-se para a entrevista de emprego. e) Sinto-me lisonjeado pelo elogio de tão ilustre pro- fessor. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Não lhe solto mais ANTÔNIO BARROS E CECÉU Moreno não faça isso Deixe desse rebuliço Não mexa comigo não, viu Quero respeito comigo Já cortaram meu umbigo Não sou mais menina não, viu Você é duro, bem maduro E também muito seguro Ainda pode dar no couro E eu vou gostar Vou me apaixonar Vou cair no choro Aí o couro come E pra mostrar que tu é home Como é que um home faz Dá uma rasteira Me castiga na esteira Não me solta mais Dou-lhe uma rasteira Lhe castigo na esteira Não lhe solto mais Depois não adianta Se eu gemer Se eu gemer Se eu chorar A gente bebe água Quando sente sede Cabelo se assanha Quando o vento dá Olha moreno esse teu cheiro Se juntar com meu tempero Vai ser bom demais Dou-lhe uma rasteira Lhe castigo na esteira Não lhe solto mais DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.LETRAS.COM.BR/#!ANTONIO-BARROS-ECECEU/ NAO-LHE-SOLTO-MAIS. ACESSO EM 03/05/2016. ADAPTADO. 7 9. (Acafe) Na letra da canção de Antônio de Barros e Cecéu, um dos versos que representa uma forma não aceita pela norma padrão é: a) “Lhe castigo na esteira” b) “Você é duro, bem maduro” c) “Já cortaram meu umbigo” d) “Se juntar com o meu tempero” 10. (G1 - ifsp) Com relação à colocação pronominal e ao emprego dos pronomes, observe a tirinha abaixo. I. No primeiro quadrinho, o pronome “mim” foi utiliza- do de forma incorreta, no que tange à norma padrão da Língua Portuguesa e de acordo com a gramática nor- mativa. II. No terceiro quadrinho, a frase: “Eu sei, estes momen- tos nos deixam sem palavras...”, para seguir a regra da colocação pronominal, deveria ter sido escrita da se- guinte maneira: “Eu sei, estes momentos deixam-nos sem palavras...”. III. A frase: “Beije-me como nunca beijou alguém an- tes!” pode ser reescrita da seguinte maneira, sem que haja prejuízo semântico: “Beije-me como nunca beijou ninguém antes!”. É correto o que se afirma em a) II, apenas. b) II e III, apenas. c) I e III, apenas. d) I, II e III. e) III, apenas. E.O. FIXAÇÃO TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: EMBARQUE IMEDIATO Não basta passar pelos dias. Viva a partir de agora, com emoção POR MÁRCIA DE LUCA Neste mundo de turbulências em que estamos vivendo, muitas vezes nos sentimos deprimidos. Em certos mo- mentos, parece que tudo está perdido, não é mesmo? Achamos que tudo está diferente, que as pessoas estão __________. Mas aqui e agora, tome uma atitude firme em sua vida. Mude seu jeito negativo de ser, evitando que sua vida seja insignificante. Perdoe erros que você considerava imperdoáveis, tro- que as pessoas insubstituíveis por gente mais leve e solta. O apego aos outros está obsoleto. Nada nem ninguém é insubstituível. Aceite a decepção que outros lhe causaram para que você também seja aceito. Sim, porque todos, inclusive nós, já decepcionamos alguém. Antes de reagir por impulso, pare, respire fundo. E, só então, aja, com equilíbrio. Ame profundamente, __________ risadas gostosas, abrace, proteja pessoas queridas, faça amigos. Pule de felicidade e não tenha medo de quebrar a cara – se isso acontecer, encare com leveza. Se perder alguém nesta vida, sofra comedida- mente – e vá em frente, pois tudo passa. Mas, sobretudo, não seja alguém que simplesmente passa pela vida. Viva intensamente. Abrace o mundo com a devida paixão que ele merece. Se perder, faça-o com classe, se vencer, que delícia! O mundo pertence a quem se atreve a ser feliz. Aproveite cada instante dessa grande aventura. Agora mesmo, neste __________, sente-se confortavel- mente na poltrona, com a coluna ereta e de olhos fecha- dos. Faça vários ciclos de respiração profunda e sinta o ar entrando e saindo. Quando sentir seu corpo relaxado e sua mente mais calma, pense em sua nova vida, mais leve. Desta maneira você viverá mais facilmente. FONTE: REVISTA GOL – LINHAS ÁREAS INTELIGENTES 1. (G1 - ifsul) A colocação pronominal em“Se perder, faça-o com classe...” justifica-se por a) questão de estilo. b) ausência de mesóclise. c) necessidade de próclise. d) obrigatoriedade de ênclise. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Laivos de memória “... e quando tiverem chegado, vitoriosamente, ao fim dessa primeira etapa, mais ainda se convencerão de que abraçaram uma carreira difícil, árdua, cheia de sacrifícios, mas útil, nobre e, sobretudo bela.” (NOSSA VOGA, ESCOLA NAVAL, ILHA DE VILLEGAGNON, 1964) Há quase 50 anos, experimentei um misto de angústia, tristeza e ansiedade que meu jovem coração de adoles- cente soube suportar com bravura. Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da família e deixava para trás bucólica cidadezinha da região serrana fluminense. A motivação que me levava a abandonar gentes e coisas tão caras era, naquele mo- mento, suficientemente forte para respaldar a decisão tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu mundo de então se tornara pequeno demais para as minhas aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam horizon- tes que iam muito além das montanhas que circundam minha terra natal. 8 Como resistir à sedução e ao fascínio que a vida no mar desperta nos corações dos jovens? Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas, ainda que dolorosas – e despedidas são sempre doloro- sas – não seriam certamente em vão. Não tinha dúvidas de que os sonhos que acalentavam meu coração pouco a pouco iriam se converter em realidade. Em março de 1962, desembarcávamos do Aviso Rio das Contas na ponte de atracação do Colégio Naval, como integrantes de mais uma Turma desse tradicional esta- belecimento de ensino da Marinha do Brasil. Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo o peito dos novos e orgulhosos Alunos do Colégio Naval, não posso negar que a tristeza, que antes havia ocupado espaço em nossos corações, era naquele momento substituída pelo contentamento peculiar dos vitoriosos. E o sentimento de perda, experimentado por ocasião das despedidas, provara-se equivocado: às nossas ca- ras famílias de origem agregava-se uma nova, a Família Naval, composta pelos recém-chegados companheiros; e às respectivas cidades de nascimento, como a minha bucólica Bom Jardim, juntava-se, naquele instante, a bela e graciosa enseada Batista das Neves em Angra dos Reis, como mais tarde se agregaria à histórica Ville- gagnon em meio à sublime baía de Guanabara. Ao todo foram seis anos de companheirismo e feliz convivência, tanto no Colégio como na Escola Naval. Seis anos de aprendizagem científica, humanística e, sobretudo, militar-naval. Seis anos entremeados de au- las, festivais de provas, práticas esportivas, remo, vela, cabo de guerra, navegação, marinharia, ordem-unida, atividades extraclasses, recreativas, culturais e sociais, que deixaram marcas indeléveis. Estes e tantos outros símbolos, objetos e acontecimen- tos passados desfilam hoje, deliciosa e inexoravelmen- te distantes, em meio a saudosos devaneios. Ainda como alunos do Colégio Naval, os contatos preli- minares com a vida de bordo e as primeiras idas para o mar – a razão de ser da carreira naval. Como Aspirantes, derrotas mais longas e as primeiras descobertas: Santos, Salvador, Recife e Fortaleza! Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o tão sonha- do embarque no Navio-Escola. Viagem maravilhosa! Nós, da Turma Míguens, Guardas-Marinha de 1967, ti- vemos a oportunidade ímpar e rara de participar de um cruzeiro ao redor do mundo em 1968: a Quinta Circum- -navegação da Marinha Brasileira. Após o regresso, as platinas de Segundo-Tenente, o pri- meiro embarque efetivo e o verdadeiro início da vida profissional – no meu caso, a bordo do cruzador Taman- daré, o inesquecível C-12. Era a inevitável separação da Turma do CN-62/63 e da EM-64/67. Novamente um misto de satisfação e ansiedade tomou conta do coração, agora do jovem Tenente, ao se apre- sentar para servir a bordo de um navio de nossa Esqua- dra. Após proveitosos, mas descontraídos estágios de instrução como Aspirante e Guarda-Marinha, quando as responsabilidades eram restritas a compromissos curri- culares, as platinas de Oficial começariam, finalmente, a pesar forte em nossos ombros. Sobre essa transição do status de Guarda-Marinha para Tenente, o notável es- critor-marinheiro Gastão Penalva escrevera com muita propriedade: “... é a fase inesquecível de nosso ofício. Coincide exatamente com a adolescência, primavera da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois começam a despontar as responsabilidades, as agruras de novos cargos, o acúmulo de deveres novos”. E esses novos cargos e deveres novos, que foram se multiplicando a bordo de velhos e saudosos navios, dei- xariam agradáveis e duradouras lembranças em nossa memória. Com o passar dos tempos, inúmeros Conveses e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se incorporando ao acervo profissional-afetivo de cada um dos integran- tes daquela Turma de Guardas-Marinha de 1967. Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, repas- sar tantas lembranças, tantos termos expressivos, tanta gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos tão in- tensamente vividos a bordo de inesquecíveis e saudo- sos navios... E as viagens foram se multiplicando ao longo de bem aproveitados anos de embarque, de centenas de dias de mar e de milhares de milhas navegadas em alto mar, singrando as extensas massas líquidas que formam os grandes oceanos, ou ao longo das águas costeiras que banham os recortados litorais, com passagens, visitas e arribadas em um sem-número de enseadas, baías, bar- ras, angras, estreitos, furos e canais espalhados pelos quatro cantos do mundo, percorridos nem sempre com mares bonançosos e ventos tranquilos e favoráveis. Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas, não só no Brasil como no exterior, o que sempre nos proporciona inestimáveis e valiosos conhecimentos, principalmente graças ao contato com povos diferentes e até mesmo de culturas exóticas e hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como os ribeirinhos amazonenses ou os criadores de serpentes da antiga Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka. Como foi fascinante e delicioso navegar por todos es- ses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova ense- ada, estreito ou porto visitado tinha sempre um gosto especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão cordial do descobrimento”. (CÉSAR, CMG (RM1) WILLIAM CARMO. LAIVOS DE MEMÓRIA. IN: REVISTA DE VILLEGAGNON, ANO IV, Nº 4, 2009. P. 42-50. TEXTO ADAPTADO) 2. (Esc. Naval) Assinale a opção em que o uso da ênclise se dá pelo mesmo motivo observado em: “Naquela oca- sião, despedia-me dos amigos de infância e da família (...)” (2º parágrafo) a) Os Aspirantes sentiam-se orgulhosos de suas con- quistas acadêmicas. b) Aqui, instalaram-se comodamente os atletas brasi- leiros, durante os Jogos Olímpicos. c) A mãe da jovem Aspirante tinha-lhe observado a importância da escolha profissional. d) Relatou-nos, com detalhes, as aventuras e desven- turas de sua última viagem de barco. 9 e) Os alunos não estavam gostando do livro, mas con- tinuavam a lê-lo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 27Aumenta o número de adultos que não consegue fo- car sua atenção em uma única coisa por muito tempo. 37São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente desvendado que apren- demos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo. 34Nós nos tornamos, à semelhança dos computadores, pessoas multitarefa, não é verdade? 41Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. 4Ela precisa estar atenta aos veículos que vêm atrás, ao lado e à frente, à velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, 6às informações de 29alguma emissora de rádio que comenta o trânsito, ao planejamento mental feito e refeito 9várias vezes do trajeto 20que devefazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc. 35Quando me vejo em tal situação, 19eu me lembro que 14dirigir, 45após um dia de intenso trabalho no retorno para casa, já foi uma atividade prazerosa e desestres- sante. 18O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira de olhar para o mundo. Não 23mais observamos os deta- lhes, 1por causa de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações. Quantas vezes sentei em frente ao computador 44para buscar textos sobre um tema 38e, de repente, 24me dei conta de que estava em 39temas 15que em nada se relacionavam com meu tema primeiro. Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nos- so costume de ler na internet. 16Sofremos de uma ten- tação permanente de 43pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto. O problema é que 22alguns textos exigem a leitura atenta de palavra por palavra, de frase por frase, para que faça sentido. 5Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido e beleza a um texto? 3Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine, caro leitor, para as crianças. 2Elas já nasceram neste mundo de 8profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde o início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo; elas são esti- muladas com diferentes objetos, sons, imagens etc. 46Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir de então, querem que as crianças pres- tem atenção em uma única coisa por muito tempo. 36E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam portadoras de síndromes que exigem tratamento etc. 42A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sabem usar programas complexos em seus apa- relhos eletrônicos, 10brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos detalhes e, se deixarmos, 21passam horas em uma única atividade de que gostam. 17Mas, nos estudos, queremos que elas prestem 26aten- ção no que é preciso, e não no que gostam. 28E isso, caro leitor, exige a árdua aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar. 32As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a aprender isso. Aliás, 31boa parte desse traba- lho é nosso, e não delas. 12Não basta mandarmos que elas prestem atenção: 33isso de nada as ajuda. 13O que pode ajudar, por exem- plo, é 40analisarmos o contexto em que estão 7quando precisam focar a atenção 25e organizá-lo para que seja favorável a tal exigência. 11E é preciso lembrar que não se pode esperar toda a atenção delas por muito tempo: 30o ensino desse quesito no mundo de hoje é um pro- cesso lento e gradual. SAYÃO, ROSELY. “PROFUSÃO DE ESTÍMULOS”. FOLHA DE SÃO PAULO, 11 FEV. 2014 – ADAPTADO. 3. (G1 - col. naval) Em qual opção ocorre um desvio da nor- ma padrão da língua na colocação do pronome destacado? a) “Quando me vejo em tal situação, [...].” (ref. 35) b) “Nós nos tornamos, à semelhança dos computado- res, [...].” (ref. 34) c) “[...] e, de repente, me dei conta de que estava [...].” (ref. 38) d) “[...] temas que em nada se relacionavam [...].” (ref. 39) e) “[...] analisarmos o contexto [...] e organizá-lo [...].” (ref. 40) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre nas coisas que acontecem a primeira vez e, sobretudo, as comparar com a primeira vez que você viu o mar? Me lembro dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar ao outro lado do mundo, amanhã te ofereço a Lua. Amanhã você já não será o mesmo homem. E a cena continuou: resguardado pelo irmão mais velho, que se assentou no banco do calçadão, o adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para o primeiro encontro com o mar. Ele não pisava na areia. Era um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas, mas andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a pri- meira vez não é um rito que deixe um homem impune. Algo nele vai-se aprofundar. E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, o sacerdote que deixa o iniciante no limiar do sagrado, sabendo que dali para a frente o outro terá que, sozinho, enfrentar o dragão. E o dragão lá vinha soltando pelas narinas as on- das verdes de verão. E o pequeno cavaleiro, destemido e intimidado, tomou de uma espada ou pedaço de pau qualquer para enfrentar a hidra que ondeava mil cabe- ças, e convertendo a arma em caneta ou lápis começou a escrever na areia um texto que não terminará jamais. Que é assim o ato de escrever: mais que um modo de se postar diante do mar, é uma forma de domar as vagas do presente convertendo-o num cristal passado. 10 Não, não enchi a garrafinha de água salgada para mos- trar aos vizinhos tímidos retidos nas montanhas, e fiz mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o mar que eu lhes trazia. Mas levei as conchas, é verdade, que na mesa interior marulhavam lembranças de um lu- minoso encontro de amor com o mar. Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li urna crônica onde um leitor de Goiás pedia à cronista que lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo. Não sabia que o mar fosse algo que se explicasse. Nem me lembro da descrição. Me lembro apenas da pergun- ta. Evidentemente eu não estava pronto para a respos- ta. A resposta era o mar. E o mar eu conheci, quando pela primeira vez aprendi que a vida não é a arte de responder, mas a possibilidade de perguntar. Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes re- velar: o carioca, com esse modo natural de ir à praia, desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem-cerimônia que o mineiro vai ao quintal. E o mar é mais que horta e quintal. É quando atrás do verde-azul do instante o de- sejo se alucina num cardume de flores no jardim. O mar é isso: é quando os vagalhões da noite se arrebentam na aurora do sim. Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando Guima- rães Rosa pela vez primeira, por nós, viu o sertão. Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro consultó- rio, fazer a primeira operação. Ver o mar a primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas montanhas: que surpresas ondearão entre a lareira e a mesa de vinhos e queijos! O mar é o mestre da primeira vez e não para de ondear suas lições. Nenhuma onda é a mesma onda. Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma tarde. O mar é um morrer sucessivo e um viver permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de brotar. A contem- plá-lo ao mesmo tempo sou jovem e envelheço. O mar é recomeço. (SANT’ANNA, AFFONSO ROMANO DE. O MAR, A PRIMEIRA VEZ. IN:_____. FIZEMOS BEM EM RESISTIR: CRÔNICAS SELECIONADAS. RIO DE JANEIRO: ROCCO,1994, P.50-52. TEXTO ADAPTADO.) 4. (Esc. Naval) Em que opção o verbo destacado per- mite apenas o uso da próclise, de acordo com a norma padrão? a) “Me lembro dessa cena: um adolescente [...].” (1º parágrafo) b) “[...], que se assentou no banco do calçadão, [...].” (2º parágrafo) c) “[...], mas eu devo lhes revelar: [...].” (6º parágrafo) d) “Ver o mar a primeira vez, lhes digo, [...].” (7º pa- rágrafo) e) “Ele se desfolha em ondas e não para de brotar.” (8º parágrafo) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Queria evitar, mas me vejo obrigado a falar na literatura da Bruzundanga. É um capítulo dos mais delicados, para tratar do qual não me sinto completamente habilitado. Dissertar sobre uma literatura estrangeira supõe, entre muitas, o conhecimento de duas cousas primordiais: ideias gerais sobre literatura e compreensão fácil do idioma desse povo estrangeiro. Eu cheguei a entender perfeitamente a língua da Bruzundanga, isto é, a língua falada pela gente instruída e a escrita por muitos es- critores que julguei excelentes; mas aquela em que es- creviam os literatos importantes, solenes, respeitados, nunca consegui entender, porque redigem eles as suas obras, ou antes, os seus livros, em outra muito diferente dausual, outra essa que consideram como sendo a ver- dadeira, a lídima, justificando isso por ter feição antiga de dous séculos ou três. Quanto mais incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que não lhe entende- ram o escrito. Lembrei-me, porém, de que as minhas no- tícias daquela distante república não seriam completas, se não desse algumas informações sobre as suas letras e resolvi vencer a hesitação imediatamente, como agora venço. A Bruzundanga não podia deixar de tê-las, pois todo o povo, tribo, clã, todo o agregado humano, enfim, tem a sua literatura, e o estudo dessas literaturas muito tem contribuído para nós nos conhecermos a nós mes- mos, melhor nos compreendermos e mais perfeitamente nos ligarmos em sociedade, em humanidade, afinal. Continuemos, porém, na Bruzundanga. Nela, há a litera- tura oral e popular de cânticos, hinos, modinhas, fábulas, etc.; mas todo esse folk-lore não tem sido coligido e es- crito, de modo que, dele, pouco lhes posso comunicar. Po- rém, um canto popular que me foi narrado com todo o sa- bor da ingenuidade e dos modismos peculiares ao povo, posso reproduzir aqui, embora a reprodução não guarde mais aquele encanto de frase simples e imagens familia- res das anônimas narrações das coletividades humanas. (LIMA BARRETO. OS BRUZUNDANGAS.) 5. (Fatec) Assinale a alternativa em que a nova colo- cação do pronome destacado na frase é aceita pela norma culta. a) É um capítulo dos mais delicados, para tratar do qual não sinto-me completamente habilitado. b) Quanto mais incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que escreve-a. c) Mas todo esse folk-lore não tem sido coligido e es- crito, de modo que, dele, pouco posso comunicar-lhes. d) Porém, um canto popular que foi narrado-me. e) Me lembrei, porém, de que as minhas notícias da- quela distante república não seriam completas. 6. (G1 - cps) Leia as orientações que uma empresa, pre- ocupada com o meio ambiente, passou aos seus fun- cionários. • Avalie se é mesmo necessário imprimir algo que já está gravado em seu computador. • Utilize melhor as folhas, NÃO JOGUE AS FOLHAS FORA e aproveite o verso para fazer anotações e rascunhos. • Retire seu nome do ‘mailing’ de empresas que não interessam. 11 • Leve os papéis já aproveitados para nosso posto de coleta seletiva. Assinale a alternativa em que o trecho, em destaque, está reescrito de acordo com a norma padrão da língua portuguesa. a) ... não jogue-as fora... b) ... não as jogue fora... c) ... não jogue elas fora... d) ... não jogue-lhes fora... e) ... não lhes jogue fora... TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Enquanto um misto de tragédia e pantomima se de- senrola aos nossos olhos atônitos, escrevo esta coluna meio ressabiada: como estará o Brasil quando ela for publicada, isto é, em dois dias? Estamos no meio de um vendaval desconcertante: numa mistura entre público e privado como nunca se viu, correntes inimagináveis de dinheiro sem origem ou destino declarados jorram sobre nós levando embora confiança, ética e ilusões. O drama é que não somos arrastados por “forças ocul- tas” ou ventos inesperados. Devíamos ter sabido. Mui- tos sabiam e vários participaram - embora apontem o dedo uns para os outros feito meninos de colégio: “Foi ele, foi ele, eu não fiz nada, eu nem sabia de nada, ele fez muito pior”. Espetáculo deprimente, que desaloja de seu acomodamento até os mais crédulos. Se mais bem informados, poderíamos ter optado di- ferentemente em várias eleições - mas nos entrega- mos a miragens sedutoras e ideias sem fundamento. Agimos como cidadãos assim como fazemos na vida: omissos por covardia ou fragilidade, por fugir da reali- dade que assume tantos disfarces. Deixamos de pegar nas mãos as rédeas da nossa condição de indivíduos ou de brasileiros, e isso pode não ter volta. Fica ali feito um fantasma pérfido: anos depois, salta da fres- ta, mostra a língua, faz careta, ri da nossa impotência. Não dá para voltar, nem sempre há como corrigir o que se fez de errado, ou que deixou de ser feito e cau- sou graves mazelas. (LYA LUFT, É HORA DE AGIR. VEJA, 27 DE JULHO DE 2005.) 7. (Fatec) Assinale a alternativa em que o trecho do tex- to, reescrito, apresenta-se de acordo com os princípios de concordância e colocação pronominal da norma culta. a) O drama é que “forças ocultas” ou ventos inespe- rados não o arrasta. b) Sobre nós jorra dinheiro sem origem ou destino, em correntes que não se imaginam. c) Escrevo essa coluna mais ressabiada, enquanto nossos olhos atônitos vê se desenrolar um misto de tragédia e pantomima. d) Se desaloja até os mais crédulos de seu acomoda- mento, graças a esse espetáculo deprimente. e) Poderia-se ter optado diferentemente, em vá- rias eleições, se a população toda estivesse mais bem informado. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha 1 Muitos deles ou quase a maior parte dos que anda- vam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E al- guns, que andavam sem eles, tinham os beiços furados e nos buracos uns espelhos de pau, que pareciam es- pelhos de borracha; outros traziam três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a saber, metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, a modos de azulada; e outros quartejados de escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gen- tis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espádu- as, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. 2 Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até a outra ponta que contra o nor- te vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas par- tes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. 3 Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. 4 Águas são muitas: infindas. E em tal maneira é gracio- sa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. (Carta de Pero Vaz de Caminha In: PEREIRA, Paulo Rober- to (org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, p. 39-40.) Vocabulário: 1. “espelhos de pau, que pareciam espelhos de borra- cha”: associação de imagem, com a tampa de um va- silhame de couro, para transportar água ou vinho, que recebia o nome de “espelho” por ser feita de madeira polida. 2. “tintura preta, a modos de azulada”: é uma tintura feita com o sumo do fruto jenipapo. 3. “escaques”: quadrados de cores alternadas como os do tabuleiro de xadrez. 4. “parma”: lisa como a palma da mão. 5. “chã”: terreno plano, planície. 8. (Uff) Assinale a opção em que a reformulação da fra- se a seguir apresenta um emprego de pronome NÃO COMPATÍVEL com o uso formal da língua: 12 “E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. (par. 4) a) E em tal maneira é graciosa que, se a quisermos apro- veitar, dar-se-á nela tudo por causa das águas que tem. b) E em tal maneira é graciosa que , querendo-a apro- veitá-la, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. c) E em tal maneira é graciosa que, querendo-a apro- veitar, tudo nela se dará, por causa das águas que tem. d) E em tal maneira é graciosa que, ao querer-se apro- veitá-la, tudo dar-se-ánela, por bem da águas que tem. e) E em tal maneira é graciosa que, querendo apro- veitar ela, tudo dar-se-á por bem das águas que tem. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O desaparecimento dos livros na vida cotidiana e a diminuição da leitura é preocupante quando sabemos que os livros são dispositivos fundamentais na forma- ção subjetiva das pessoas. Nos perguntamos sobre o que os meios de comunicação fazem conosco: da televi- são ao computador, dos brinquedos ao telefone celular, somos formados por objetos e aparelhos. Se em nossa época a leitura diminui vertiginosamente, ao mesmo tempo, cresce o elogio da ignorância, nossa velha conhecida. Há, nesse contexto, dois tipos de ig- norância. Uma é a ignorância filosófica, aquela que em Sócrates se expunha na ironia do “sei-que-nada-sei”. Aquele que não sabe e quer saber pode procurar os livros, esses objetos que guardam tantas informações, tantos conteúdos, que podemos esperar deles muita coisa: perguntas e, até mesmo, respostas. A outra é a ignorância prepotente, à qual alguns filósofos deram o nome de “burrice”. Pela burrice, essa forma cognitiva impotente e, contudo, muito prepotente, alguém trans- forma o não saber em suposto saber, a resposta pronta é transformada em verdade. Nesse caso, os livros são esquecidos. Eles são desnecessários como “meios para o saber”. Cancelada a curiosidade, como sinal de um desejo de conhecimento, os livros tornam-se inúteis. Assim, a ignorância que nos permite saber se opõe à que nos deforma por estagnação. A primeira gosta dos livros, a segunda os detesta. [...] Para aprender a perguntar, precisamos aprender a ler. Não porque o pensamento dependa da gramática ou da língua formal, mas porque ler é um tipo de experiência que nos ensina a desenvolver raciocínios, nos ensina a entender, a ouvir e a falar para compreender. Nos ensina a interpretar. Nos ajuda, portanto, a elaborar questões, a fazer perguntas. Perguntas que nos ajudam a dialogar, ou seja, a entrar em contato com o outro. Nem que este outro seja, em um primeiro momento, apenas cada um de nós mesmos. Pensar, esse ato que está faltando entre nós, começa aí, muitas vezes em silêncio, quando nos dedicamos a esse gesto simples e ao mesmo tempo complexo que é ler um livro. É lamentável que as pessoas sucum- bam ao clima programado da cultura em que ler é proibido. Os meios tecnológicos de comunicação são insidiosos nesse momento, pois prometem uma com- pletude que o ato de ler um livro nunca prometeu. É que o ato da leitura nunca nos engana. Por isso, também, muitos afastam-se dele. Muitos que foram educados para não pensar, passam a não gostar do que não conhecem. Mas há quem tenha descoberto esse prazer que é o prazer de pensar a partir da expe- riência da linguagem – compreensão e diálogo – que sempre está ofertado em um livro. Certamente para essas pessoas, o mundo todo – e ela mesma – é algo bem diferente. (TIBURI, MÁRCIA. POTÊNCIA DO PENSAMENTO: POR UMA FILOSOFIA POLÍTICA DA LEITURA. DISPONÍVEL EM HTTP://REVISTACULT. UOL.COM.BR – 31 JAN. 2016 – COM ADAPTAÇÕES) 9. (G1 - col. naval 2016) Em “Nos ajuda, portanto, a elaborar questões [...].” há um desvio da modalidade padrão da língua na colocação do pronome destacado. Em que opção isso também ocorre? a) “[...] aquela em que Sócrates se expunha [...].” b) “[...] os livros tornam-se inúteis.” c) “[...] também, muitos afastam-se dele.” d) “[...] é um tipo de experiência que nos ensina [...].” e) “[...] o ato da leitura nunca nos engana.” 10. (G1 - col. naval 2015) Em “Dos presentes que ainda vou te dar”, a modalidade padrão da língua permite que o pronome oblíquo desta- cado também apareça em posição enclítica: Ainda vou dar-te. Em que opção tal fato também pode ocorrer? a) Para muitos, sucesso está atrelado a bens materiais, mas isso não me interessa. Aspiro à felicidade plena. b) Nossos pais sempre nos disseram que o melhor presente é a amizade sincera. c) Muitos amigos me ajudaram a resolver os proble- mas estruturais da casa que aluguei. d) Quem me dará as informações necessárias sobre o congresso que ocorrerá mês que vem? e) Eu tenho lhe falado sobre a minha trajetória de vida e os meus gostos pessoais. 13 E.O. COMPLEMENTAR TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A internet e a morte da imaginação JACQUES GRUMAN “Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em fotografias. Deve ser um conluio com os dentistas.” (NORA TAUSZ RÓNAI) Reza uma antiga lenda que dois reinos estavam em guerra. Os perdedores acabaram condenados ao con- finamento do outro lado dos espelhos, um primitivo mundo virtual em que eram obrigados a reproduzir tudo o que os vencedores faziam. A luta dos derrotados passava a ser como escapar daquela prisão. O genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa para criar, na dé- cada de 1940, O mundo do espelho, para mim uma das mais aterrorizantes histórias do Mandrake. Espelhos foram, aliás, protagonistas de algumas sequências ci- nematográficas assustadoras. Bóris Karloff, um clássico do gênero, aproveitou muito bem o medo que, desde crianças carregamos, de que nossos reflexos nos es- pelhos ganhem autonomia. Ui! Já imaginaram se isso virasse realidade? Teríamos de conviver com nossos opostos, um estranhamento no mínimo desconfortável. Os quadrinhos exploraram o assunto também na série do Mundo bizarro, do Super-Homem. Era um nonsense pouco habitual no universo previsível dos super-heróis. Estava pensando nos estranhamentos do mundo moder- no quando me deparei com uma pequena nota de jornal. Encenava-se a ópera Carmen, de Bizet, no Theatro Mu- nicipal do Rio. Suponho que a plateia, que pagou caro, estava mergulhada na história e na interpretação da or- questra e dos solistas. Não é que um cidadão saca seu iPad e passa um tempão checando os e-mails, dedinhos nervosos para cima e para baixo, com a tela iluminando a penumbra indispensável para a fruição plena do es- petáculo? Como esse tipo de desrespeito está entrando na “normalidade”, apenas uma pessoa esboçou reação. Uma espécie de angústia semelhante à incontinência urinária se espalha como praga nas relações pessoais e no uso dos espaços público e privado. Tudo passou a ser urgente. Todos os torpedos, e-mails e chamadas no celular viraram prioridade, casos de vida ou morte. Inter- rompem-se conversas para olhar telinhas e telonas, des- respeitando interlocutores. Como este tipo de patologia tende a se diversificar, já há gente que conversa e olha o computador ao mesmo tempo, como aqueles lagartos esquisitos cujos olhos se movimentam sem aparente co- ordenação. Outros participam de reuniões sem desligar sua tralha eletrônica (na verdade, não estão nas reuni- ões). Especialistas em informática previram que, num futuro não muito distante, chips serão implantados no corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem a máquinas. A vida é controlada a distância e por outros. Outro estranhamento vem da inundação de imagens, aflição que chamo de galeria dos sem imaginação. En- xurradas de fotos invadem o espaço virtual, a enorme maioria delas sem o menor significado e perfeitamente descartáveis. O Instagram recebe 60 milhões de fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por segundo! Fico pensando no sorriso irônico ou, quem sabe, no horror em estado bruto, que Cartier-Bresson1 esboçaria se esbarrasse nis- so. Ele, que procurava a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se desdobrava em surpresas, nos reflexos impensados, jamais empilharia a coleção de sorrisinhos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics. Essa história dos sorrisos foi muito bem notada pela Nora Rónai, que citei logo no início. Vivemos a era das apa- rências. Com a multiplicação das imagens, vem a obriga- ção de “estar bem”. Afinal de contas, quem vai querer se exibir no Facebook ou nas trocas de mensagens com uma ponta de melancolia ou, pelo menos, um suspiro de realidade? O mundinho virtual exige estado de êxtase permanente.Uma persona que não passa de ilusão. Cria- tividade não quer dizer tristeza, claro, mas certamente precisa incorporá-la como tijolo construtor da nossa per- sonalidade. O resto é fofoca. Eric Nepomuceno, tradutor e escritor, fez o seguinte comentário sobre seu amigo Gabriel Garcia Márquez, que acabara de morrer: “Tudo o que ele escreveu é revelador da infinita capacidade de poesia contida na vida humana. O eixo, porém, foi sem- pre o mesmo, ao redor do qual giramos todos: a solidão e a esperança perene de encontrar antídotos contra essa condenação”. Nada que essas maquininhas onipresen- tes possam registrar, elas que jamais entenderiam a fina ironia de Fernando Pessoa no Poema em linha reta, que começa assim: “Nunca conheci quem tivesse levado por- rada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. Mais adiante: “Arre, estou farto de semideuses. Onde é que há gente nesse mundo ?”. A praga narcísica desembarcou nas camas. Leio que nova moda é fazer selfies2 depois do sexo. O casal tran- sa, mas isso não basta. É urgente compartilhar! Tira-se uma foto da aparência de ambos, coloca-se no Insta- gram e ... pronto. O mundo inteiro será testemunha de um momento íntimo, talvez o mais íntimo de todos. Meu estranhamento vai ao paroxismo. É a esse mundo que pertenço? Antigamente, era costume dizer que o que não aparecia na televisão não existia. Atualizando a frase: pelo visto, o que não está na rede não existe. É a universalização do movimento apenas muscular, sem sentido, leviano, rapidamente perecível. Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gelman passou um bom tempo sem conseguir escrever. A inspiração não vinha. Disse ele: “A poesia é uma senhora que nos visita ou não. Convocá-la é uma impertinência inútil. Durante uns bons quatro anos, o choque do exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. Quando, finalmente, a senhora chega, tudo muda, como narra o poeta: “A vi- sita é como uma obsessão. Uma espécie de ruído junto ao ouvido. Escrevo para entender o que está acontecen- do”. Não consigo imaginar uma serenidade como essa no mundo virtual. Tudo nasce e morre antes de ser com- pletamente absorvido. Cada novidade passa a ser vital, filas se formam nas madrugadas nas portas de lojas que começam a vender modelos mais avançados de produ- tos eletrônicos. Não dá pra esperar um dia, muito menos uma hora. O silêncio e a introspecção são guerrilheiros 14 no habitat plugado. Estou me alistando neste exército de Brancaleone.3 1. Henri Cartier-Bresson: (França 1908- 2004), fotógrafo do século XX, considerado por muitos como o pai do fotojornalismo. 2. fazer selfies: selfie é uma palavra em inglês, um neo- logismo com origem no termo self-portrait, que signifi- ca autorretrato, e é uma foto tirada e compartilhada na internet. Normalmente uma selfie é tirada pela própria pessoa que aparece na foto, com um celular que pos- sui uma câmera incorporada, com um smartphone, por exemplo. 3. O Incrível Exército de Brancaleone (em italiano: L’ar- mata Brancaleone): é um filme italiano de 1966, do gê- nero comédia. Foi dirigido por Mario Monicelli. O Exér- cito de Brancaleone é considerado um clássico italiano, que retrata os costumes da cavalaria medieval através da comédia satírica. É um filme inspirado em Dom Qui- xote, do espanhol Miguel de Cervantes. DISPONÍVEL EM: <HTTP://WWW.CARTAMAIOR.COM.BR/?/OPINIAO/A-MORTE- DA-IMAGINACAO/30783>. ACESSO EM: 16 AGO. 2014. (ADAPTADO). 1. (Cefet MG) Considerando-se o que preconiza a norma padrão, o pronome oblíquo destacado pode ser usado depois do verbo apenas na passagem transcrita em: a) “A poesia é uma senhora que nos visita ou não.” b) “Durante uns bons quatro anos, o choque do exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. c) “Estava pensando nos estranhamentos do mundo moderno quando me deparei com uma pequena nota de jornal.” d) “Uma espécie de angústia semelhante à inconti- nência urinária se espalha como praga nas relações pessoais e no uso dos espaços público e privado.” e) “Ele, que procurava a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se desdobrava em surpresas, nos reflexos impensados, jamais empilharia a coleção de sorrisinhos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics.” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Es- tado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Go- verno haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma in- crível atualidade. “(...) De uma coisa sabemos, que o homem branco 1tal- vez venha a um dia descobrir: 2o nosso Deus é o mesmo Deus. 3Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma ma- neira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar des- prezo pelo Criador. O homem branco também vai desa- parecer, 4talvez mais depressa do que as outras raças. 5Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cava- los selvagens, 6quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; 7o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência. (...) 8Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lem- brança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, 9porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. 10Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, 11conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.” WWW.CULTURABRASIL.PRO.BR/SEATTLE1.HTM. ACESSO EM 16/04/2016. 2. (G1 - epcar (Cpcar) 2017) Assinale a alternativa cuja análise está correta. a) O acento utilizado em “compreendêssemos” justi- fica-se por se tratar de uma palavra proparoxítona; já o utilizado em “protegíamos” justifica-se pela regra do hiato tônico. b) Os acentos graves utilizados em “causar dano à terra” e “federem à gente” justificam-se por se tratar de complementos verbais intransitivos. c) Justifica-se o uso da ênclise em “Protege-a” (ref. 10), por iniciar período; e, em “conserva-a” (ref. 11), por iniciar uma oração antecedida de vírgula. d) Em “o nosso Deus é o mesmo Deus” (ref. 2) o ad- jetivo “mesmo” foi utilizado no sentido de “próprio”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Quando a rede vira um vício Com o titulo “Preciso de ajuda”, fez-se um desabafo aos integrantes da comunidade Viciados em Internet Anônimos: “Estou muito dependente da web, Não con- sigo mais viver normalmente. Isso é muito sério”. Logo obteve resposta de um colega de rede. “Estou na mes- ma situação. Hoje, praticamente vivo em frente ao com- putador. Preciso de ajuda.” Odiálogo dá a dimensão do tormento provocado pela dependência emInternet, um mal que começa a ganhar relevo estatístico, à medida 15 que o uso da própria rede se dissemina. Segundo pes- quisas recém-conduzidas pelo Centro de Recuperação para Dependência de Internet, nos Estados Unidos, a parcela de viciados representa, nos vários países estu- dados, de 5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — com concentração na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvolve uma tole- rância que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma eter- nidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises de abstinência quando está desco- nectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza in- telectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia. Conclui uma psicólo- ga americana: “O viciado em internet vai, aos poucos, perdendo os elos com o mundo real até desembocar num universo paralelo — e completamente virtual”. Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da rede para esta- belecer com ela uma relação doentia, como a que se revela nas histórias relatadas ao longo desta reporta- gem. Em todos os casos, a internet era apenas “útil” ou “divertida” e foi ganhando um espaço central, a ponto de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido. Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem para a gravidade do que ocorria. “Como a internet faz parte do dia a dia dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa fase da vida, a família raramente detecta o problema antes de ele ter fugido ao controle”, diz um psiquiatra. A ciência, por sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sinto- mas da doença. De saída, o tempo na internet aumen- ta — até culminar, pasme-se, numa rotina de catorze horas diárias, de acordo com o estudo americano. As situações vividas na rede passam, então, a habitar mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda um ganho de peso relevante, resul- tado da frequente troca de refeições por sanduíches — que prescindem de talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Gradativamente, a vida social vai se ex- tinguindo. Alerta outra psicóloga: “Se a pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas não vão bem”. Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar o uso da internet. Há uma razão estatística para isso — eles respondem por até 90% dos que navegam na rede, a maior fatia —, mas pesa também uma explicação de fundo mais psicológico, à qual uma recente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos entrevistados (viciados ou não) chegam a atribuir à internet uma maneira de “aliviar os sentimentos negativos”, tão típicos de uma etapa em que afloram tantas angústias e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem-se ainda mais à vontade para expor suas ideias. Diz um outro psiquiatra: “Num momento em que a própria personalidade está por se definir, a internet proporciona um ambiente favorável para que eles se expressem livremente”. No perfil da- quela minoria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em geral, uma combinação de baixa autoestima com intolerância à frustração. Cerca de 50% deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia social ou algum transtorno de ansiedade. É nesse cenário que os múltiplos usos da rede ganham um valor distorcido. Entre os que já têm o vicio, a maior adoração é pelas redes de relacionamen- to e pelos jogos on-line, sobretudo por aqueles em que não existe noção de começo, meio ou fim. Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de relevo sobre o tema, nos Estados Unidos, a de- pendência em internet é reconhecida — e tratada — como uma doença. Surgiram grupos especializa- dos por toda parte. “Muita gente que procura aju- da ainda resiste à ideia de que essa é uma doença”, conta um psicólogo. O prognóstico é bom: em dezoi- to semanas de sessões individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de uso da internet. Não seria factível, tampouco desejável, que se mantives- sem totalmente distantes dela, como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida. Com a rede, afinal, descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades moder- nas, não faz sentido se privar. Toda a questão gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um consen- so acerca do razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e adolescentes. Quanto antes a ideia do limite for sedimentada, melhor. Na avaliação de uma das psicólogas, “Os pais não devem temer o compu- tador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá- -lo de forma útil e saudável”. Desse modo, reduz-se drasticamente a possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje pelos jovens viciados. SILVIA ROGAR E JOÃO FIGUEIREDO, VEJA, 24 DE MARÇO DE 2010. ADAPTADO. 3. (G1 - col. naval) Assinale a opção em que, segundo a variedade padrão, pode ocorrer ênclise. a) “[...] como a que se revela nas histórias relatadas [...] (2°parágrafo) b) “Gradativamente, a vida social vai se extinguindo.” (2° parágrafo) c) “Desde 1996, quando se consolidou o primeiro es- tudo de relevo sobre o tema [...]” (4° parágrafo) d) “Não seria factível, tampouco desejável, que se mantivessem totalmente [...]” (4° parágrafo) e) [...] como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida.” (4° parágrafo) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: SONETO DE SEPARAÇÃO De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. 16 De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. (VINÍCIUS DE MORAIS) 4. (Faap) “De repente do riso fez-se o pranto”. À colocação do pronome “se” depois do verbo fazer (fez-se) dá-se o nome de: a) próclise b) ênclise c) mesóclise d) tmese e) mesóclise imprópria TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A QUESTÃO É COMEÇAR Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever tam- bém. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre con- versação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civili- zação apressada, o “bom dia”, “o boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer as- sunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol. No es- crever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar; uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escrever bo- nito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvol- vimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escre- ver um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo. Não me deixe falando sozinho.” Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com in- terlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempreativa- mente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assun- tos. Termina-se sabe Deus onde. (MARQUES, M. O. ESCREVER É PRECISO, IJUÍ, ED. UNIJUÍ, 1997, P. 13). 5. (Pucsp) Observe a seguinte passagem do texto: “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!” lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar você por perto, espiando o que escrevo.” Nela, o autor, utilizando o discurso direto, apresenta um diálogo imaginário entre o autor e seu leitor, introdu- zindo a linguagem oral no texto escrito. Por essa razão, a) os pronomes oblíquos átonos foram colocados de- pois do verbo. b) os pronomes oblíquos átonos são enclíticos. c) os pronomes oblíquos átonos não foram utilizados no diálogo. d) os pronomes oblíquos átonos são proclíticos. e) os pronomes oblíquos átonos são mesoclíticos. E.O. OBJETIVAS (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNIFESP) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), pu- blicada originalmente em setembro de 1953. Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infân- cia porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flane- linha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do 1vernáculo e aplicador de suti- lezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ôni- bus, minha mãe ficou ligeiramente 2ressabiada quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular: – Onde vais assim tão elegante? Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à 3lide caseira, queixou-se do fatigante 4ramerrão do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse: – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um mé- dico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão. De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acoco- rado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: che- gou-se a ela e perguntou-lhe: – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: – É, canto às vezes, de brincadeira... 17 Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador: – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, che- gou-se a ela com ar disfarçado e falou: – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa meni- na, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em progra- ma de calouro! E, a seguir, ponderou: – Agora, piano é diferente. Pianista ela é! E acrescentou: – Eximinista pianista! PARA UMA MENINA COM UMA FLOR, 2009. 1. vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional. 2. ressabiado: desconfiado. 3. lide: trabalho penoso, labuta. 4. ramerrão: rotina. 1. (Unesp 2017) Observa-se no texto um desvio quanto às normas gramaticais referentes à colocação pronominal em: a) “Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma fla- nelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.” (1º parágrafo) b) “Seu Afredo [...] tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador.” (1º parágrafo) c) “Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeita- dor, mas em quem a preocupação linguística perturba- va às vezes a colocação pronominal.” (2º parágrafo) d) “[...] seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na se- gunda do singular [...].” (2º parágrafo) e) “Seu Afredo virou-se para ela e disse: [...].” (4º parágrafo) 2. (Unifesp) Analise a capa de um folder de uma campa- nha de trânsito. Explicitando-se os complementos dos verbos em “Eu cuido, eu respeito.”, obtém-se, em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa: a) Eu a cuido, eu respeito-lhe. b) Eu cuido dela, eu lhe respeito. c) Eu cuido dela, eu a respeito. d) Eu lhe cuido e respeito. e) Eu cuido e respeito-a. 3. (Unifesp) Se a personagem fosse enfática e dissesse: “... eu não reconheço o documento, eu não reconheço o documen- to...”, a oração repetida, de acordo com a norma pa- drão, assumiria a seguinte forma: a) eu não o reconheço. b) eu não reconheço-lhe. c) eu não reconheço ele. d) eu não lhe reconheço. e) eu não reconheço-lo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe: - E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a pas- sear? - Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia. - E, se me permite, qual é mesmo a sua graça? - Macabéa. Maca - o quê? - Bea, foi ela obrigada a completar. - Me desculpe mas até parece doença, doença de pele. - Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vin- gasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser cha- mada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo - parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor - pois como o senhor vê eu vinguei... pois é... - Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra. Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chu- va grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de 18 ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao lançado recém-lançado-namorado: - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor? Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo. (CLARICE LISPECTOR, A HORA DA ESTRELA.) 4. (Fuvest) No trecho “mas minha mãe botou ele por promessa”, o pronome pessoal foi empregado em re- gistro coloquial. É o que também se verifica em: a) “ - E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?” b) “ - E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?” c) “ - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?” d) “ - Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.” e) “ - (...) pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Existe, hoje, uma percepção disseminada pela inte- lectualidade e por boa parte da opinião pública mun- dial de uma grande e acelerada mudança operando em várias dimensões da sociedade moderno-con- temporânea. Não há, certamente, consenso sobre esse fenômeno, variando definições, terminologia e, sobretudo, avaliações positivas, negativas ou mati- zadas. De qualquer modo, há uma tendência maciça para reconhecer o caráter ampliado das mudanças econômicas e tecnológicas que afetariam, com maior ou menor impacto, todas as sociedades do planeta, justificando o termo globalização mesmo quando se critica a sua possível banalização como instrumento de conhecimento. (GILBERTO VELHO, REVISTA DE CULTURA BRASILEIRA, 03/98, Nº 1) 5. (Fuvest) Substituindo por pronome pessoal oblíquo o complemento de AFETARIAM, na mesma frase em que ocorre, obtém-se: a) afetá-las-iam. b) afetariam-nas. c) asafetariam. d) lhes afetariam. e) afetar-lhes-iam. GABARITO E.O. Aprendizagem 1. C 2. B 3. B 4. A 5. A 6. E 7. E 8. B 9. A 10. B E.O. Fixação 1. D 2. B 3. C 4. B 5. C 6. B 7. B 8. E 9. C 10. C E.O. Complementar 1. D 2. C 3. B 4. B 5. D E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) 1. B 2. C 3. A 4. D 5. C 19 PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS ADJETIVAS AULAS 29 E 30 E.O. APRENDIZAGEM 1. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa que apresenta ideia equivalente à da oração a seguir: “O professor não proíbe, antes estimula as perguntas em aula.” a) As abelhas não apenas produzem mel e cera, mas ainda polinizam as flores. b) Os livros ensinam e divertem. c) Vestia-se bem, embora fosse pobre. d) Não aprovo nem permitirei essas coisas. e) Quis dizer mais alguma coisa e não pôde. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO POESIA AINDA VIAJA PELAS ÁGUAS DO MUNDO 1 Acordei pensando em rios – que dão sempre um toque feminino a qualquer cidade – e me dizendo que o único possível defeito do Rio de Janeiro é não ter um rio. Pior ainda, é de ter sufocado o seu rio, exatamente o rio cha- mado Carioca, do vale das Laranjeiras. 2 Esse rio, hoje secreto, que corre como um malfeitor de- baixo de ruas, ninguém, nenhum poeta o cantou melhor e mais ternamente do que Alceu Amoroso Lima. 3 Nascido à beira do Carioca quando o Carioca ainda se fazia ver e ouvir na maior parte do seu breve curso, Alceu parece ter guardado a vida inteira o rumor do rio no ouvido. Ele nasceu ali, na Chácara da Casa Azul. 4 Quando o Rio completou 400 anos, em 1965, Alceu escreveu para Aparência do Rio de Janeiro, de Gastão Cruls, então reeditado pelo José Olympio, um artigo que é um verdadeiro poema em prosa, chamado “O Nosso Carioca”. 5 Começa assim: “Muito antes de existir o Rio de Janei- ro, hoje quatrocentão, existia o rio Carioca. Aquele ficou sendo rio por engano. O Carioca, esse já o era, havia séculos. Talvez por isso a contradança das coisas huma- nas fez do que não era rio um Rio para sempre, e do que o era de fato, ao nascer o outro, uma reles galeria de águas pluviais, quando o falso rio completa o seu quar- to centenário. ‘Das Caboclas’ era também seu nome”. 6 “ ‘Carioca’, que nos dizem significar casa de branco, e outros, com mais probabilidade, casa de pedra, foi o nome dado em virtude do depósito de pipas de água fresca (...) para a aguada das caravelas e dos bergan- tins. ‘Das Caboclas’ por outros motivos, menos aquáti- cos que afrodíticos. O rio acompanhava, descoberto, o COMPETÊNCIAS: 1, 6, e 8 HABILIDADES: 1, 18, e 27 vale das Laranjeiras, desde a encosta do Corcovado até o Flamengo”. 7 No meio de sua deliciosa evocação, em que diz que cada casa do vale, como a sua, tinha sua ponte sobre o rio, e que cada ponte parecia estar sempre sendo atra- vessada por meninas em flor, Alceu, numa breve e cer- teira observação do grande crítico literário que era, põe o humilde Carioca a fluir entre os grandes rios clássicos e eternos. 8 Pessoalmente, só vi o Carioca à luz do sol uma vez, por ocasião das terríveis chuvaradas do ano de 1967. 9 A tromba d’água que descia do Corcovado foi tão per- sistente e se infiltrou pelo solo tão caudalosa que co- meçou de repente a fraturar o próprio leito da rua das Laranjeiras, que afinal se rachou em duas partes. Acho que foi esta a única vez que o rejeitado Carioca teve fúria de grande rio. 10 Eu não conheço o assunto mas arriscaria o palpite de que nenhum país do mundo contém mais água doce do que o Brasil. Temos rios descomunais. Só que em geral vadios, desocupados. 11 Ao contrário do que fizeram a Europa, os Estados Unidos, a antiga União Soviética, que comunicaram e intercomunicaram seus rios, montando um tapete ro- lante de gente e de riquezas, aqui deixamos os rios na vagabundagem. 12 Em termos de literatura, quem quiser sentir o que a operosidade dos europeus tem feito para pôr os rios a trabalhar para os homens, basta ler Simenon. Os canais, diques e eclusas estão tão presentes em seus livros quan- to os desesperados e os criminosos. São romances em que a humanidade sofre e envereda pelos caminhos er- rados, mas as barcaças e navios não se enganam nunca. 13 Os rios têm leito, rumo, juízo. Os homens que conti- nuem cometendo seus desvarios que eles, ainda que su- bindo e descendo de nível quando necessário, deslizam no maior sossego pelas águas ensinadas. 14 Enquanto isso nós, no Brasil, olhamos com tédio as correias de transmissão de poderosos rios a rola- rem vazias entre estradas esburacadas e arquejantes de caminhões. 15 Só no Brasil o transporte mais caro, o de caminhões, é muito maior que o de vias férreas e fluviais. Com exceção do rio Tietê, que é praticamente do tamanho do Reno e que pelo jeito acaba ficando tão navegável e próspero quanto o Reno. Obcecado com o interior de São Paulo, o Tietê corre de costas para o mar, para percorrer todo o Estado e acabar no Paraná, na bacia do rio da Prata. 20 16 O Paraná e o Tietê já estão quase prontos para entrar num romance de Simenon, com seus canais artificiais e suas eclusas, e os navios abarrotados de calcário, de soja, de milho, álcool de cana. 17 De qualquer forma ainda estamos, no Brasil, longe dos meus sonhos, que são de um país ativíssimo mas silencioso. Desde que li, já faz muito tempo, uma mono- grafia sobre hidrovias e a interligação de nossas bacias hidrográficas, fiquei escravo da miragem. 18 A ideia da monografia, escrita por gente do ramo, do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, era nada mais nada menos que a ligação pelas águas de Belém do Pará a Buenos Aires. Um mapa todo aquo- so mostrava uma grande hidrovia artificial na altura de Cáceres, em Mato Grosso, no rio Paraguai, e mais umas barragens e eclusas nas bacias do Prata e do Amazonas. 19 Pronto! Estava completa a ligação de Belém com Buenos Aires, à bagatela de uns nove mil quilômetros de imponderável mas indestrutível estrada. Se o Brasil, do tempo em que eu li a monografia para cá, tivesse gasto menos dinheiro em quarteladas, Transamazônicas e Angras, teríamos atado para sempre esse nó de águas amazônicas e platinas. 20 Para um romance nesse cenário, Simenon não dava mais. Seria preciso convocar o Rosa. (ANTONIO CALLADO - IN FOLHA DE SÃO PAULO. 09/04/1994.) 2. (Unirio) Em todas as opções a seguir há uma oração subordinada adjetiva, EXCETO em: a) esse rio, hoje secreto, que corre como um malfeitor debaixo de ruas. (parágrafo 2.) b) ...então reeditado pela josé olympio, um artigo que é um verdadeiro poema em prosa. (parágrafo 4.) c) ...diz que cada casa do vale, como a sua, tinha sua ponte sobre o rio... (parágrafo 7.) d) a tromba d’água que descia do corcovado... (pa- rágrafo 9.) e) com exceção do rio tietê, que é praticamente do tamanho do reno... (parágrafo 15.) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: BUSCANDO A EXCELÊNCIA LYA LUFT Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistentemente. Autorida- des, altos cargos, líderes, em boa parte desinforma- dos, desinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às públi- cas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual. As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem magnifica- mente para alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do ensino superior. Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem ler nem escre- ver direito e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. [...] E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito [...] Meu con- ceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu
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