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@ bre ndaaburqueti A partir de um anúncio feito no jornal local, Zimbardo selecionou 24 voluntários homens que não tinham antecedentes criminais e histórico de comportamento violento. Eles foram divididos de forma aleatória em dois grupos com base no lançamento de uma moeda ao ar. Metade dos indivíduos foi integrado no grupo dos guardas e os restantes no grupo de reclusos. Todos foram colocados no porão do departamento, metade em celas com uniforme de prisioneiros e a outra metade do lado de fora com uniforme de guardas. Cada recluso era revistado e despido. Primeiro, foi utilizado um spray em cada um para transmitir a convicção de que eles poderiam ter germes ou piolhos. Somente depois eles recebiam o uniforme. Nele, na parte da frente e de trás, encontrava-se o seu número de identificação prisional. Também foi colocado uma corrente pesada no tornozelo direito de cada recluso, que precisavam usar em todas as circunstâncias. O calçado consistia em sandálias de borracha e cada recluso cobria o cabelo com um gorro feito de uma meia de nylon. A utilização de números de identificação foi uma forma de fazer com que cada recluso se sentisse anônimo. Eles eram chamados apenas pelo seu respectivo número de identificação e só podiam referir-se a si próprio e aos outros reclusos pelo número. O gorro feito de meia de nylon enfiado na cabeça funcionava como uma substituição do cabelo rapado do recluso. O procedimento que consiste em rapar o cabelo é concebido, em parte, para diminuir a individualidade, uma vez que algumas pessoas expressam a sua individualidade através do penteado que usam ou do comprimento do seu cabelo. Não foi dada informação específica aos guardas para desempenharem o seu papel. Eles tinham liberdade, dentro de certos limites, para fazer o que pensassem que fosse necessário para manter a lei e a ordem na prisão e para assegurar o respeito dos reclusos. Contudo, foram avisados da potencial seriedade da sua missão e dos possíveis riscos da situação que estavam prestes a enfrentar. "No primeiro dia não aconteceu quase nada, foi um pouco entediante. Então decidi interpretar o papel de um carcereiro bastante cruel", contou um dos participantes. No segundo dia ocorreu uma rebelião. Os reclusos removeram os seus gorros, arrancaram os seus números de identificação e se trancaram dentro das celas colocando as suas camas contra as portas. Os guardas ficaram irados e frustrados porque os reclusos começaram a insultá-los e a amaldiçoá-los. Quando os guardas do turno da manhã entraram ao serviço, mostraram-se irritados com os colegas do turno da noite que, segundo eles, tinham sido extremamente frouxos com os reclusos. Depois de um tempo, a rebelião foi temporariamente esmagada, mas agora os guardas enfrentavam um novo problema. Nove guardas com bastões podiam dominar uma rebelião com nove reclusos, mas não era possível ter nove guardas de serviço o tempo todo. Um dos guardas sugeriu uma solução: usar táticas psicológicas em vez de físicas. As táticas psicológicas consistiram basicamente na criação de uma cela de privilegiados. Foram concedidos privilégios especiais aos três reclusos menos envolvidos na rebelião. Estes receberam de novo os seus uniformes, as suas camas e era-lhes permitido tomar banho e escovar os dentes. Aos outros não. Os reclusos privilegiados obtinham também comida especial na presença de outros reclusos que tinham perdido temporariamente a permissão para comer. O objetivo era quebrar a solidariedade entre os reclusos. Após meio dia deste tratamento os guardas levaram alguns destes “bons” reclusos e colocaram-nos nas “más” celas e levaram alguns dos “maus” reclusos e colocaram-nos em “boas” celas, confundindo completamente todos os reclusos. Alguns dos que eram os líderes pensavam agora que os reclusos das celas privilegiadas passaram algumas informações para conseguir o privilégio e subitamente todos os reclusos tornaram-se desconfiados uns dos outros. Através desta estratégia de dividir para reinar, os guardas promovem a agressão entre os detidos, rechaçando a agressividade dirigida contra eles. A rebelião dos reclusos também desempenhou um papel importante no desenvolvimento de uma maior solidariedade entre os guardas. Agora, subitamente, já não era apenas uma experiência ou uma simples simulação. Pelo contrário, os guardas viam os reclusos como perturbadores que estavam à espera de os apanhar e que poderiam mesmo fazer-lhes mal. Como resposta a esta ameaça os guardas aumentaram o controle, a vigilância e a agressividade. Os guardas começaram então a reforçar de forma visível o seu nível de maus-tratos, aumentando a humilhação que faziam os reclusos sofrer, forçando-os a realizar tarefas servis e repetitivas, como limpar a tampa do vaso sanitário com as próprias mãos. Os guardas forçavam os reclusos a fazer flexões e dar saltos, aumentando a duração das contagens até que cada uma durasse várias horas. Mesmo com a rebelião de um dos prisioneiros e a sua saída após um descontrole, os outros continuaram. Foram seis dias com diversas atividades e dificuldades criadas pelos envolvidos que levaram a um pedido de finalização do estudo pelo estado emocional degradado dos participantes do experimento. "No dia em que chegaram, aquilo era uma pequena prisão instalada em um sótão com celas falsas. No segundo dia, era um presídio de verdade, criado na mente de cada prisioneiro, de cada guarda e das outras pessoas envolvidas", contou Zimbardo. Zimbardo concluiu que o entorno tem influência sobre a conduta humana e que colocar pessoas "boas" em lugares ruins pode fazer com que elas ajam como pessoas ruins ou que se resignem a ser maltratadas. "O experimento nos mostra que a natureza humana não está totalmente sujeita ao livre arbítrio, como gostamos de pensar, mas que a maioria de nós pode ser seduzida a se comportar de maneira totalmente atípica em relação ao que acreditamos que somos". Entretanto, vale ressaltar que o experimento contém falhas importantes de metodologia. Tentativas de replicação do experimento por outros pesquisadores não encontraram o mesmos resultados.