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1 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 2 Sumário CONCEITOS, PRINCÍPIOS E NORMAS BÁSICAS ......................................... 4 O Estado e o Poder de tributar ......................................................................... 4 A Atividade Financeira do Estado ..................................................................... 4 Legislação Tributária......................................................................................... 5 Conceito de Legislação Tributária ............................................................................... 5 Sistema Tributário Nacional .............................................................................. 6 Conceito de Sistema Tributário Nacional .................................................................... 6 Conceito de tributos .......................................................................................... 6 A CONTABILIDADE E SEU OBJETIVO PRINCIPAL ............................................. 7 CONTABILIDADE: QUANDO NASCEU, COMO SE DESENVOLVEU E TÉCNICAS PARA ENTENDÊ-LA DE FORMA SIMPLES ............................................................................. 7 RESULTADO DENTRO DO BALANÇO PATRIMONIAL ......................................... 8 CONTABILIDADE: COLETA, TRATAMENTO E DISTRIBUIÇÃO ...................................... 9 ESTRUTURA BÁSICA DA CONTABILIDADE (E OS PRINCÍPIOS?) ................................. 9 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO .................................................................... 12 Impactos da Carga Tributária .................................................................................... 12 Conceito de Planejamento Tributário ........................................................................ 13 OS PRONUNCIAMENTOS DO CPC E OS IMPACTOS TRIBUTÁRIOS ......................... 16 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................... 16 PRONUNCIAMENTOS REFERENTES AOS BENS DO ATIVO FIXO .............................. 17 PROVISÃO PARA IMPAIRMENT ................................................................................. 17 TESTE DE IMPAIRMENT: O EXEMPLO DA AVENIDA BRASIL...................................... 18 OUTRO EXEMPLO NUMÉRICO .................................................................................. 19 TRATAMENTO FISCAL DO IMPAIRMENT TEST .......................................................... 20 REGISTRO DOS BENS DO IMOBILIZADO .................................................................. 21 ATIVO INTANGÍVEL (CPC 02) E ATIVO DIFERIDO ....................................................... 26 AJUSTE A VALOR PRESENTE ................................................................................... 28 EFEITOS NAS MUDANÇAS NAS TAXAS DE CÂMBIO E CONVERSÃO DE DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: CPC 02 .................................................................... 29 REFLEXOS FISCAIS DO CPC 02 ........................................................................ 31 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 CONCEITOS, PRINCÍPIOS E NORMAS BÁSICAS O Estado e o Poder de tributar A Atividade Financeira do Estado No exercício de seu poder, o Estado necessita de meios materiais e pessoais para cumprir seus objetivos institucionais, garantindo a ordem jurídica, a segurança, a defesa, a saúde pública e o bem estar social de todos. Para cumprir essas tarefas, que têm valor econômico e social, o Estado, por sua atividade financeira, precisa obter, gerir e aplicar os recursos indispensáveis ao cumprimento de seus objetivos. A atividade financeira do Estado é, então, o conjunto de atos que o Estado pratica no processo de obtenção, gestão e aplicação dos recursos financeiros de que necessita para atingir seus fins. Tal atividade desenvolve-se em três fases distintas: Receita (Arrecadação): a receita pública divide-se em duas espécies: Originárias: são as receitas provenientes da exploração econômica do patrimônio do Estado. São, portanto, as receitas oriundas dos bens e empresas comerciais e industriais que pertencem ao Estado. Ex.: lucros provenientes de investimentos no Banco do Brasil, Banrisul, Correios, etc.; venda de bens (alienação de imóveis); prestação de serviços (tarifas públicas); Derivadas: são as receitas decorrentes da exploração de fontes externas ao próprio Estado, sendo exigidas de maneira compulsória, exercendo seu poder de soberania. Correspondem aos tributos e às penalidades pecuniárias decorrentes de atos ilícitos. Ex.: taxas, impostos, contribuições de melhoria, etc. Gestão (Orçamento): o Orçamento demonstra de que forma os recursos arrecadados em forma de receitas ordinárias e derivadas serão aplicados. Despesas (Aplicação): diz respeito à aplicação dos recursos financeiros arrecadados. 5 Ao Direito Tributário interessam as “receitas derivadas”, que correspondem ao conceito de tributo. Legislação Tributária CONCEITO DE LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA “Legislação Tributária” pode ser entendida como o conjunto de normas que envolvem assuntos tributários. Segundo o art. 96 do CTN, “a expressão “Legislação Tributária” compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e as relações jurídicas a eles pertinentes”. Vigência da Legislação Tributária: Os artigos 101 a 104 do CTN versam sobre a vigência da Legislação Tributária, definindo que: A vigência da Legislação Tributária rege-se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral. O que significa que, salvo disposição em contrário (expressão “esta lei entra em vigor...”), a lei deve entrar em vigor 45 dias após ser publicada; A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora, no país, fora de seus respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam extraterritoriedade ou convênios de que participem, ou de que disponham as leis expedidas pela União; Salvo disposição em contrário, entram em vigor: Atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas: na data de sua publicação; Decisões de órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa: 30 dias após a data de sua publicação; Os convênios que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios celebram entre si: na data prevista no próprio convênio. 6 Impostos sobre o patrimônio ou renda que criem ou majorem tais impostos, que definem novas hipóteses de incidência e que extingam ou reduzam isenções: no 1o dia do exercício subsequente àquele em que a lei foi publicada. Sistema Tributário NacionalCONCEITO DE SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL O Sistema Tributário é um conjunto de princípios constitucionais, que regula o poder de tributar, as limitações deste poder e a repartição de suas receitas O ideal é que o Sistema Tributário seja barato (o contribuinte deve suportar o pagamento, o que não significa necessariamente a menor alíquota); simples (deve ser entendido pelo contribuinte) e estável. Conceito de tributos De acordo com art. 3o do CTN, tributo é “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. • Prestação pecuniária: são as prestações que asseguram ao Estado os meios financeiros de que necessita para a consecução de seus objetivos; • Compulsória: há a ausência do elemento “vontade”, ou seja, o dever de pagar o tributo nasce independentemente da vontade do contribuinte; • Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: não existe a figura do tributo in natura ou in labore, uma vez que a prestação é pecuniária. Ex.: a um exportador de trigo não é permitido pagar seus impostos com uma quantidade X de trigo. • Que não constitua sanção de ato ilícito: a incidência do tributo é um ato lícito (difere-se de “penalidade”). As penalidades pecuniárias ou multas não se incluem no 7 conceito de tributo; assim, o pagamento de tributo não decorre de infração de determinada norma ou descumprimento da lei; • Instituída por lei: só a lei pode instituir o tributo, o que significa que nenhum tributo será exigido sem que a lei o estabeleça, conforme assegura o art. 150, inciso I, da CF; • Cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada: a cobrança é administrativa e privativa, não pode ser realizada por outra pessoa e deve ser vinculada (a administração pública deve agir conforme a lei e não segundo seus critérios de conveniência e oportunidade). A CONTABILIDADE E SEU OBJETIVO PRINCIPAL A contabilidade pode ser entendida como uma ciência que tem como objetivo principal fornecer informações de qualidade a seus usuários internos e externos. É para isso que a contabilidade existe: PARA INFORMAR. Todas as suas demais funções assumem caráter secundário diante do seu objetivo principal. CONTABILIDADE: QUANDO NASCEU, COMO SE DESENVOLVEU E TÉCNICAS PARA ENTENDÊ-LA DE FORMA SIMPLES A ciência contábil assusta muitas pessoas, que a acham complicada, cheia de regras e com utilidade limitada. Talvez a forma como ela seja apresentada justifique o motivo de tanta resistência. Mas, a contabilidade é algo simples, regido por partidas dobradas, ou seja, ela precisa sempre “FECHAR” débito com crédito, origens com aplicações, receitas com despesas, ativo com passivo e por aí vai. As mudanças profundas que vêm sendo implantadas pelos órgãos reguladores desde 2008 para integrar a contabilidade brasileira com as normas internacionais de contabilidade podem e devem ser entendidas como um refinamento, não sendo necessário abandonar os conceitos anteriormente absorvidos, principalmente a essência, a lógica contábil. A contabilidade pode ser comparada, guardadas as devidas proporções e sem 8 qualquer tentativa de misturar estudo e religião, à criação do mundo. Quando Deus criou o mundo, primeiro criou o homem, à sua imagem e semelhança, denominando-o ADÃO. Teoricamente, o raciocínio é que a contabilidade, quando foi criada, era retratada, sintetizada, na demonstração chamada BALANÇO PATRIMONIAL, na qual seriam apresentados itens que, ordenados de forma adequada, produziriam informação qualificada para os usuários da informação contábil. O BALANÇO, então, seria dividido em duas partes: uma parte POSITIVA (ativo) e outra NEGATIVA (passivo). Positivo para a empresa é o conjunto de BENS e DIREITOS. Negativo, o conjunto de OBRIGAÇÕES. RESULTADO DENTRO DO BALANÇO PATRIMONIAL Portanto, dentro do Patrimônio Líquido temos o RESULTADO da empresa, ou seja, a cada registro em receita ou despesa, há modificação no patrimônio líquido da entidade empresarial. Por exemplo, pagamento de salários no próprio mês de trabalho é um débito em despesas e crédito na conta caixa. Pois bem, no caso, diminui-se o ATIVO, pela redução no caixa, e diminui-se, simultaneamente, o PL da empresa. Mas, assim como o Criador verificou que ADÃO precisava de companhia, se não o mundo ficaria sem sentido, os estudiosos da contabilidade verificaram que o BALANÇO PATRIMONIAL, embora tivesse informações relevantes, não poderia ser apresentado isoladamente, como única fonte de informações. E mais, apresentar o resultado dentro do PL iria trazer um dado desprezível, que seria o resultado da empresa (positivo ou negativo) desde o início de suas atividades, sem saber se atualmente ela é lucrativa ou deficitária. 9 CONTABILIDADE: COLETA, TRATAMENTO E DISTRIBUIÇÃO A contabilidade também pode ser comparada com uma empresa que fornece água tratada para a população, tipo a CEDAE no Rio de Janeiro, a SABESP no estado de São Paulo, a COPASA em Minas Gerais, a EMBASA na Bahia e as demais companhias de abastecimento de água espalhadas pelo Brasil. A CEDAE tem três etapas em relação a seu principal produto, que é a água: 1. COLETA 2. TRATAMENTO 3. DISTRIBUIÇÃO A CONTABILIDADE também segue as mesmas etapas que a CEDAE: 1. COLETA informações, quando analisa fatos administrativos mensuráveis em R$, que é a moeda em vigor no Brasil. Somente fatos administrativos passíveis de avaliação em moeda são coletados pela contabilidade. 2. TRATA, quando os transforma em fatos contábeis, debitando e creditando contas nas operações coletadas. Assim como a água recebe tratamento, fundamental para sua distribuição, os fatos administrativos são tratados em contas de ativo, passivo ou resultado. 3. DISTRIBUI estas informações (contas ordenadas) em demonstrativos financeiros, principalmente balanço patrimonial e DRE, para apresentar aos seus usuários internos e externos. ESTRUTURA BÁSICA DA CONTABILIDADE (E OS PRINCÍPIOS?) A contabilidade brasileira durante muitos anos teve normativos interpretativos de órgãos diferentes como o Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes (IBRACON) e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) para os postulados, princípios e convenções que nortearam o registro contábil das nossas empresas. Com a adoção legal da convergência de normas internacionais de contabilidade por meio da publicação da Lei no 11.638/07, o Comitê de Pronunciamentos 10 Contábeis (CPC) emitiu seu PRONUNCIAMENTO CONTÁBIL BÁSICO – ESTRUTURA CONCEITUAL PARA A ELABORAÇÃO E APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES contábeis, também conhecido como “CPC Zero”. Este passou a ser considerado o documento base da contabilidade brasileira. Ele não utiliza a antiga denominação de princípios fundamentais de contabilidade, mas trata das CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL, com lógica similar a dos princípios. O CPC Zero define como características qualitativas fundamentais a RELEVÂNCIA e a REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA. E esta representação, para que possa ser considerada fidedigna, precisa ter três atributos: deve ser completa, neutra e livre de erro. Na prática, é a famosa lógica da ESSÊNCIA SOBRE A FORMA com outras palavras. O pronunciamento traz, ainda, o que chama de características qualitativas, citando quatro: comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade. Estes itens são características qualitativas que melhoram a utilidade da informação que é relevante e que é representada com fidedignidade. As características qualitativas de melhoria podem também auxiliar a determinar qual de duas alternativas que sejam consideradas equivalentes em termos de relevância e fidedignidade de representação deve serusada para retratar um fenômeno. Sinceramente, acho o texto confuso demais e pouco explicativo do ponto de vista prático. Preferia o texto anterior, antes da revisão. Os elementos das demonstrações contábeis são apresentados no pronunciamento, sempre com o pressuposto básico que a empresa seguirá em CONTINUIDADE por um longo tempo. Pela importância, reproduzimos a definição dada pelo CPC zero para os itens básicos do balanço patrimonial e da demonstração do resultado: »ATIVO é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade. »PASSIVO é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da 11 entidade capazes de gerar benefícios econômicos. »PATRIMÔNIO LÍQUIDO é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos. » RECEITAS são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais. » DESPESAS são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais. Ao estudante ou profissional interessado em proceder a um estudo mais detalhado sobre o pronunciamento básico denominado CPC Zero, a sugestão é a leitura do excelente livro Manual de contabilidade societária da Fipecafi, de autoria dos brilhantes professores Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins, Ariovaldo dos Santos e Ernesto Gelbcke. Outro livro sempre recomendado, quando se fala em contabilidade, é o Contabilidade geral, da família Szuster, liderada pelo nosso cientista contábil, Professor Dr. Natan Szuster, um dos mais brilhantes representantes da contabilidade brasileira. Os dois livros do GEN | Atlas. 12 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO IMPACTOS DA CARGA TRIBUTÁRIA A carga tributária no Brasil é extremamente elevada. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) estima que a carga tributária em nosso país, representa, na média dos últimos cinco anos, mais de 32% do produto interno bruto (PIB). Além da elevada carga tributária, o Sistema Tributário brasileiro é um dos mais complexos do mundo. Estima-se a existência de aproximadamente 60 tributos vigentes, com diversas Leis, Regulamentos e Normas, constantemente alteradas. A carga tributária elevada e a complexidade do STN impactam nas organizações da seguinte forma: • Do ponto de vista financeiro, os tributos representam uma drenagem de caixa forçada que, ao incidirem: • Sobre as mercadorias, aumentam os custos; • Sobre as vendas, restringem as margens de rentabilidade dos produtos; e • Sobre os resultados, reduzem o retorno sobre o investimento dos acionistas/proprietários e não estimulam novos investimentos de expansão e geração de empregos; • Os gastos administrativos com o gerenciamento e controle das atividades tributárias são elevados, uma vez que são necessários funcionários administrativos, sistemas de informática, espaço físico, etc., para atender as obrigações acessórias impostas pelas diversas legislações tributárias. A problemática envolvida na questão tributária no Brasil vai além dos custos causados às empresas, pois a carga tributária também afeta a vida das pessoas físicas, que acabam por suportar toda a carga tributária, pelo pagamento de tributos direta ou indiretamente embutidos nas mercadorias e serviços adquiridos no processo final da cadeia de produção – para consumo final. Para eliminar ou minimizar os impactos da elevada carga tributária as empresas podem adotar dois caminhos distintos: 13 o Via legal – realização do planejamento tributário; o Via ilegal – sonegação fiscal (ex.: venda sem nota fiscal, utilização de “notas frias”, etc.), que envolve: o Possibilidade de denúncia; o Falhas no controle das atividades da empresa (“por dentro”, “por fora”); • Autuação fiscal, multas, juros. CONCEITO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO O Planejamento Tributário é a atividade empresarial que, desenvolvendo-se de forma estritamente preventiva, projeta os atos e fatos administrativos com o objetivo de informar quais são os ônus tributários em cada uma das opções legais disponíveis. A empresa escolhe, entre duas ou mais opções, de ação ou omissão lícita, aquela que impede ou retarda o fato gerador de forma não simulada, anterior à ocorrência fato gerador, que vise direta ou indiretamente a economia de tributos. Objetivo do Planejamento Tributário: O objetivo do Planejamento é, em última análise, a economia tributária. Comparando as ações legais à sua disposição, o gestor deve optar por aquela que seja menos onerosa do ponto de vista fiscal, obtendo ganho tributário ou ganho financeiro. Ganho Tributário: • Evita-se a incidência do tributo: adotam-se procedimentos com a finalidade de evitar a ocorrência do fato gerador; Ex.: a empresa, tendo a oportunidade de vender seus estoques de produtos industrializados no mercado interno e para o mercado externo, por preços aparentemente equivalentes, opta por exportar. Com isso, impede a ocorrência do fato gerador de IPI e ICMS, visto que estes impostos não incidem sobre produtos exportados, mas incidem sobre vendas para o mercado interno. • Reduz-se o montante do tributo devido: as medidas procuram reduzir a base de cálculo ou alíquota do tributo. 14 Ex.: o contribuinte tem a opção de apurar o Imposto de Renda (IRPJ) pelo Lucro Presumido, pelo Lucro Real ou enquadrar-se no SIMPLES, analisa detalhadamente a situação e depois decide pela sistemática que representa menor desembolso. Ganho Financeiro: • Retardar o pagamento do tributo: medidas que visam postergar (adiar) o pagamento do tributo, sem juros. Ex.: o fornecedor recebe um pedido no final do mês e ao invés de emitir a nota fiscal imediatamente deixa para emiti-la no mês seguinte, postergando o recolhimento dos impostos sobre vendas. Aspectos importantes do Planejamento Tributário Caráter preventivo: é preciso prever e agir no tempo correto. Como o Planejamento Tributário visa evitar ou retardar a ocorrência do fato gerador (depois deste, o imposto é devido e o não pagamento se caracteriza como sonegação), o contribuinte deve estar atento ao período anterior à ocorrência do fato gerador. Legalidade: é preciso utilizar os meios permitidos pela lei, pois a economia do imposto só é legítima se estiver enquadrada na legislação. O procedimento adotado pelo contribuinte, além de ser preventivo, deve ser lícito, pois, do contrário, mesmo agindo preventivamente, o contribuinte pode cometer (a) fraude (falsidade ideológica ou material); (b) ato simulado ou (c) abuso de forma jurídica (Ex.: nota fiscal subfaturada). Limites do Planejamento Tributário: Elisão Fiscal: ação preventiva tendendo a, por meios lícitos, eliminar, reduzir ou retardar a ocorrência do fato gerador. Evasão Fiscal: ação consciente, voluntária e intencional, tendendo a, por meios ilícitos, eliminar ou reduzir o pagamento dos impostos devidos, realizado após a ocorrência do fato gerador. Ex.: omissão de registros em livros fiscais próprios; utilização de documentos inidôneos na escrituração contábil, falta de recolhimento dos tributos apurados. Abrangência do Planejamento Tributário: 15 Empresa: a empresa pode tomar medidas gerenciais que possibilitem a não ocorrência do fato gerador do tributo, que diminuam o montante devido ouque adiem o seu vencimento. Por exemplo, para possibilitar o adiamento do tributo na prestação de serviços, o contrato deve estabelecer o momento da realização da receita. Administrativo: é o processo de implementação de alternativas lícitas (elisão fiscal) para a economia total ou parcial dos tributos, sem a adoção de processos judiciais prévios, ou seja, mediante consultas ao fisco, opções de classificação contábil e aproveitamento das vantagens e benefícios da própria legislação fiscal, nem sempre usufruídos pela empresa. Por exemplo, para possibilitar o enquadramento de um produto em uma alíquota de menor IPI, a empresa deve adequá-lo tecnicamente e requerer a nova classificação na Receita Fiscal. Judicial: é o processo de obtenção de economias tributárias por meio de processos judiciais, através de mandados de segurança, ações cautelares, ações declaratórias de inconstitucionalidade, ações anulatórias, etc. Por exemplo, o contribuinte pode procurar identificar as possíveis contradições entre as normas tributárias. Tipos de Planejamento Tributário: Do ponto de vista empresarial, ou seja, analisando seus efeitos na estrutura gerencial e contábil/financeira, o planejamento tributário pode ser: o Operacional: refere-se aos procedimentos formais prescritos pela norma ou pelo costume, ou seja, na forma específica de contabilizar 32 determinadas operações e transações, sem alterar suas características básicas; o Estratégico: implica mudanças em algumas características estratégicas da empresa, tais como: estrutura de capital, localização, tipos de empréstimos, contratação de mão-de-obra, etc. Na visão jurídica, em que se consideram apenas os efeitos fiscais no tempo, existem três tipos de planejamento tributário: 16 o Preventivo: desenvolve-se continuamente por intermédio de orientações, manuais de procedimentos e reuniões e abrange, sobretudo, as atividades de cumprimento da legislação tributária nas obrigações principais e acessórias; o Corretivo: detectada determinada anormalidade, procede-se ao estudo, e alternativas de correção da anomalia são indicadas; normalmente, não deve existir o tipo corretivo em uma empresa que adote o tipo preventivo; e o Especial: surge em função de determinado fato como, por exemplo, abertura de filiais, lançamento de novos produtos, aquisição ou alienação da empresa e processos societários de reestruturação. OS PRONUNCIAMENTOS DO CPC E OS IMPACTOS TRIBUTÁRIOS CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Contabilidade mudou. Disso ninguém duvida. Tudo o que aprendemos antes NÃO será perdido, principalmente para aquelas pessoas que estudaram a essência da ciência contábil, não se preocupando apenas com regras. Contudo, é inegável o tamanho do avanço normativo que tivemos de 2008 para cá. E isso torna nossa ciência contábil ainda mais interessante para se estudar. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu dezenas de normativos desde 2008, com objetivo de disciplinar a aplicação das regras internacionais na contabilidade das empresas brasileiras. E vem revisando estes pronunciamentos nos últimos anos. Será apresentado um resumo de alguns pronunciamentos, integrando, quando possível, as determinações impostas pela legislação contábil com as regras vigentes na legislação fiscal. Importante lembrar, de imediato, que o cálculo de tributos federais (IR, CSLL, PIS e COFINS) foi realizado com base na legislação contábil vigente em DEZ/07, enquanto esteve em vigência o Regime Tributário de Transição (RTT), que foi 17 instituído na Lei no 11.941/09 e vigorou de 2008 até 2014, sendo que nos dois primeiros anos (2008 e 2009) foi opcional, assim como em 2014. Portanto, sempre que possível, iremos integrar o tratamento contábil com o RTT (que estava em vigor para muitas empresas em 2014) e com a Lei no 12.973/14. PRONUNCIAMENTOS REFERENTES AOS BENS DO ATIVO FIXO Os bens do ativo fixo compreendem os itens adquiridos por uma entidade empresarial, mas não para industrialização ou comercialização, e sim com outros objetivos. São os chamados bens de investimentos ou de uso e que são apresentados no balanço patrimonial no Ativo Não Circulante, nos seguintes grupos: ativo realizável de longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. A seguir, um resumo das principais mudanças na contabilidade e a integração com os aspectos fiscais. PROVISÃO PARA IMPAIRMENT O Pronunciamento CPC no 01, que foi confirmado pela Deliberação CVM no 527/07, trata da necessidade de acompanhamento (no mínimo) anual dos ativos para verificar se eles estão apresentados na contabilidade por um valor acima da sua possibilidade de recuperação, seja pelo uso ou por uma eventual venda. Apesar de a referência ser para o conjunto de ativos, a preocupação principal repousa nos bens dos ativos fixos, sejam eles classificados no imobilizado, investimentos ou intangível. Esse pronunciamento diz, na sua essência, o seguinte: um bem possui três valores: 1. Um contábil, representado pelo custo de aquisição, incrementos e reduções por depreciação, amortização ou exaustão. 2. Outro pela sua perspectiva de uso, sintetizada pela projeção de entrada de caixa associada direta ou indiretamente ao bem. Essa entrada de caixa é futura, mas trazida a valor presente. 3. Um terceiro pela possibilidade de sua liquidação, que pode trazer um montante em dinheiro para a empresa referente ao valor líquido de venda, já deduzidas as despesas necessárias para isso. 18 TESTE DE IMPAIRMENT: O EXEMPLO DA AVENIDA BRASIL Apresentamos a seguir um exemplo didático, lúdico, com objetivo de compreender a aplicação do teste de impairment. Em uma rodovia (Avenida Brasil, por exemplo), há quatro faixas de rolamento. O valor contábil de um ativo segue sempre pela pista da direita e o valor de mercado ou de uso, dos dois o maior, segue pela pista seletiva, a da esquerda. O veículo que segue pela pista da direita (valor contábil) tem que andar sempre ao lado ou atrás do veículo da pista seletiva (valor de mercado ou de uso). Isso, por característica natural das faixas de rolamento, é o que acontece. Mas, se por acaso em algum momento o veículo da direita ficar à frente do veículo da esquerda, será necessário um AJUSTE, levando o veículo da direita de volta ao mesmo local onde se encontra o veículo da esquerda. Em resumo: o valor contábil poderá ser menor que o valor de mercado ou de uso, poderá ser maior que um dos dois valores, mas jamais poderá ultrapassar os dois valores ao mesmo tempo. Veja a seguir quatro situações para análise da aplicação do teste de impairment. FAIXAS DE ROLAMENTO VALOR CONSEQUÊNCIAS FAIXA DA DIREITA VALOR CONTÁBIL 100 NÃO será feito ajuste, pois o valor contábil é inferior ao valor de uso. O carro da faixa da direita vê o carro de uma das faixas seletivas à sua frente. FAIXA SELETIVA no 1 VALOR JUSTO 90 FAIXA SELETIVA no 2 VALOR DE USO 110 FAIXAS DE ROLAMENTO VALOR CONSEQUÊNCIAS FAIXA DA DIREITA VALOR CONTÁBIL 100 NÃO será feito ajuste, pois o valor contábil é inferior ao valor justo. O carro da faixa da direita vê o carro de uma das faixas seletivas à sua frente. FAIXA SELETIVA no 1 VALOR JUSTO 110 FAIXA SELETIVA no 2 VALOR DE USO 90 FAIXAS DE ROLAMENTO VALOR CONSEQUÊNCIAS FAIXA DA DIREITA VALOR CONTÁBIL 100 NÃO será feito ajuste, pois o valor contábil é inferior aos dois valores: de uso e justo. O carro da faixa da direita vê o carro das duas faixas seletivas à sua frente. FAIXA SELETIVA no 1 VALOR JUSTO 110 FAIXA SELETIVA no 2 VALOR DE USO 120 19 FAIXAS DE ROLAMENTO VALOR CONSEQUÊNCIAS FAIXA DA DIREITA VALOR CONTÁBIL 100 SERÁ CONSTITUÍDA UMA PROVISÃO PARA PERDAS POR IMPAIRMENT (R$ 10), pois o valor contábil é superior aos dois valores, de uso e o valor justo. O carro da faixa da direita NÃO vê o carro das duas faixas seletivas à sua frente ouao lado. FAIXA SELETIVA no 1 VALOR JUSTO 90 FAIXA SELETIVA no 2 VALOR DE USO 80 O Impairment dos bens do imobilizado só irá ocorrer, na maioria das vezes, quando a depreciação falhar. Por isso, na apresentação da DRE, a provisão para perdas por recuperabilidade de ativos será apresentada nos mesmos itens onde são apresentadas as despesas de depreciação. OUTRO EXEMPLO NUMÉRICO A Cia. Alfa é uma empresa do setor de transportes interestaduais e possui em DEZ/13 um bem (ônibus) registrado por R$ 80 mil na contabilidade, já com dois anos de uso. O veículo faz a linha Rio-Vitória, com duas viagens diárias, saindo regularmente do Rio de Janeiro às 7h e chegando a Vitória em torno de 15h, retornando desta cidade às 17h e chegando à cidade maravilhosa por volta de 24h. Os laudos técnicos apontam para uma perspectiva de utilização do ônibus pelo período de seis anos, quando ele será doado. Portanto, há quatro anos para que o veículo contribua para a geração de receitas. Com base na média de passageiros/dia, nos custos de manutenção e nas demais despesas vinculadas, o valor recuperável do bem monta a R$ 75 mil. No caso, o valor de contribuição efetiva do bem para a geração de receitas será R$ 5 mil a menor do que seu valor atual registrado no ativo. Tal fato isolado dos demais representaria a necessidade da baixa por impairment de R$ 5 mil no ativo, com a contrapartida em conta de despesa. Vamos admitir, contudo, que há um mercado livre, onde o ônibus tem um preço de mercado de R$ 100 mil em DEZ/13, com uma comissão de corretagem de 10%. Com isso, não haveria necessidade de baixa do bem, pois: » Valor Contábil R$ 80 mil » Valor Recuperável pelo Uso R$ 75 mil 20 » Valor Recuperável pela Venda R$ 90 mil O valor contábil é o segundo maior e, conforme explicado no início do tópico, só há necessidade de constituir a provisão para perdas por impairment se o valor contábil for o maior dos três. No caso, o bem é recuperável por venda, não existindo indício de perda provável. TRATAMENTO FISCAL DO IMPAIRMENT TEST A Lei no 12.973/14 regulamentou o tema no art. 32, que manteve a regra que era aplicada no Regime Tributário de Transição (RTT), ou seja, o valor será considerado dedutível nas bases de IR e CSLL somente por ocasião da alienação ou baixa do bem correspondente. Com isso, a provisão para perda por recuperabilidade de ativos deverá ser adicionada nas bases de IR e CSLL e controlada na parte B do LALUR, sendo excluída quando o bem for extraído do imobilizado por alienação ou baixa. Por exemplo, suponha um terreno adquirido por R$ 1.000 em JAN/16. Suponha que, em FEV/16, o maior valor recuperável montou a R$ 920, gerando uma provisão para impairment de R$ 80. Esta despesa será adicionada nas bases de IR e CSLL. Admita que, em ABR/16, o valor recuperável aumentou para R$ 950. Neste caso, seria feita uma reversão da provisão de R$ 30, sendo esta receita excluída da base e seu valor deduzido da adição anteriormente registrada na parte B do LALUR. Veja os registros contábeis: CRÉDITO: Caixa 1.000 PROVISÃO FEITA EM FEV/16: DÉBITO: Despesa com Impairment CRÉDITO: Provisão para Perdas por Impairment 80 REVERSÃO PARCIAL FEITA EM ABR/16: DÉBITO: Provisão para Perdas por Impairment CRÉDITO: Receita de Reversão de Provisão 30 Considerando que o bem seja vendido em JUN/16 por R$ 940, o registro contábil seria o seguinte: DÉBITO: Caixa 940 DÉBITO: Perda na Venda de Imobilizado 60 21 CRÉDITO: Terrenos 1.000 DÉBITO: Provisão para Perdas por Impairment CRÉDITO: Receita de Reversão de Provisão 50 Neste caso, em JUN/16, a receita de reversão deve ser excluída. Já a perda na venda de imobilizado é dedutível. Se você fizer dois registros separados, como sugerido, a exclusão fica mais fácil. Contudo, a empresa pode fazer um registro único, reconhecendo apenas o valor de R$ 10 como perda na venda de bens do imobilizado. Neste caso, a dedução fiscal de R$ 60 incluiria também a provisão líquida feita anteriormente, com exclusão de R$ 50 associada com a despesa de R$ 10. A recomendação seria fazer os registros detalhados, aplicando o critério da rastreabilidade, que será trabalhado mais adiante. REGISTRO DOS BENS DO IMOBILIZADO O Ativo Imobilizado consiste em um dos componentes patrimoniais mais importantes das Entidades, especialmente aquelas do segmento industrial e de algumas atividades de prestação de serviços. Dessa forma, o tratamento contábil a ser dispensado a estes ativos se reveste de particular importância. No Brasil, existiam diferentes entendimentos e doutrinas acerca de temas ligados a estes ativos, tais como depreciação, vida útil, vida residual, entre tantos outros. O Pronunciamento no 27 emitido pelo CPC consolidou o entendimento conceitual em um único documento, além de atender ao objetivo maior do atual processo de atualização contábil de alinhar as práticas contábeis àquelas praticadas na Contabilidade Internacional. Existem outros pronunciamentos emitidos pelo CPC que tratam de registro dos bens no ativo imobilizado e também serão tratados aqui, em seus aspectos mais relevantes. São os pronunciamentos sobre arrendamento mercantil (no 6) e ativos biológicos (no 29). Diz o CPC no 27 que o imobilizado deve ser reconhecido pelo custo de todos os fatores necessários a colocá-lo em condições de utilização, mensurados sem 22 a inclusão dos encargos financeiros inerentes a transações financiadas, com exceção dos encargos financeiros durante a construção, que devem integrar o imobilizado, conforme determinado no CPC no 20. O ITBI, por exemplo, deve integrar o imóvel, preferencialmente separado em terrenos e edificações. No Brasil não é admitida hoje a reavaliação, mas podem ser mantidos os valores reavaliados se efetuados enquanto era permitida A Interpretação Técnica no 10 do CPC permitiu o Custo Atribuído ou a “ÚLTIMA REAVALIAÇÃO”, em 2010, para trazer os bens do ativo imobilizado a valor de mercado. A CVM confirmou o ICPC na Deliberação no 619/09, tornando o Custo Atribuído obrigatório para as companhias abertas a partir de 2010. A empresa aberta que não fizer a avaliação dos bens do imobilizado a valor de mercado em 2010 deverá justificar a razão da não adoção. A ideia é que COMEÇOU O NOVO JOGO CONTÁBIL E TODAS AS EMPRESAS DEVEM COMEÇAR NAS MESMAS CONDIÇÕES. Mais detalhes podem ser obtidos no capítulo de Reserva de Reavaliação, específico sobre esse relevante tema, na parte final do livro. O CPC explica que a depreciação é obrigatória quando todo ou parte do valor contábil de um ativo não for recuperável por venda após a utilização, e precisa ser calculada com base na vida útil estimada do bem para a entidade, considerando seu valor residual. Não é obrigatória a distribuição linear da depreciação, se outro critério reflete melhor o padrão de consumo dos benefícios do ativo. É obrigatória a revisão pelo menos anual dos parâmetros que levaram à definição do valor periódico da depreciação. Cada ativo com custo relevante precisa ser segregado para depreciação própria. Por exemplo, uma aeronave pode ser segregada entre o casco e o motor, e cada componente ser depreciado em conformidade com a vida útil para a entidade. Importante relembrar que, além da depreciação, é obrigatório considerar os indicadores de impairment pelo menos uma vez por ano, conforme o CPC no 01. Portanto, os bens do ativo imobilizado devem ser depreciados pelo prazo efetivo de vida útil, descontando-se o valor residual, que é o valor provável de venda quando o bem deixar de ser utilizado pela empresa. A depreciação contábil pode ser realizada pelo método linear ou outro método, como o das 23 unidades produzidas, se este refletir a vinculação do uso do bem com as receitas geradas pela atividade empresarial. O método da soma dos dígitostambém pode ser aplicado como depreciação. Tal método consiste em depreciar o bem de forma mais intensa no início, diminuindo a despesa de depreciação ao longo do prazo de vida útil. Por outro lado, a legislação fiscal vigente em DEZ/07 (art. 57 da Lei no 4.506/64), e que valia para fins de RTT, determinava o registro da depreciação seguindo o método linear, aplicando as taxas descritas na IN SRF no 162/98, sendo as mais conhecidas: máquinas – 10% ao ano; veículos e computadores – 20% ao ano; e edificações de imóveis – 4% ao ano. Essa diferença entre CONTABILIDADE e FISCO no trato da depreciação deverá ser tratada no Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR). O que você, leitor, deve entender nesse momento é o seguinte: FISCO e CONTABILIDADE irão deduzir o MESMO VALOR de despesa para os bens adquiridos para uso em seu ativo imobilizado. A diferença será o MOMENTO do registro, que será diferente para o FISCO e a CONTABILIDADE. Por exemplo, suponha um veículo adquirido em JAN/15 por R$ 900, em três parcelas anuais de R$ 300, com valor presente de R$ 750, prazo de vida útil de sete anos e valor residual de R$ 50, referente à estimativa de venda que será feita em JAN/22. Veja no quadro a seguir o registro do resultado na CONTABILIDADE e pelo FISCO. AN O CONTABILI DADE FISCO LALUR 2015 100 – Depreciação e 50 – Juros 180 – Depreciação Exclusão de 30 2016 100 – Depreciação e 50 – Juros 180 – Depreciação Exclusão de 30 2017 100 – Depreciação e 50 – Juros 180 – Depreciação Exclusão de 30 2018 100 – Depreciação 180 – Depreciação Exclusão de 80 2019 100 – Depreciação 180 – Depreciação Exclusão de 80 2020 100 – Depreciação Nada Adição de 100 2021 100 – Depreciação Nada Adição de 100 2022 Nada R$ 50 ref. a ganho de capital Adição de 50 TOTA L 700 ref. despesa de depreciação 150 ref. 900 ref. despesa de depreciação 50 ref. receita Exclusões de 250 Adições de 250 24 despesas financeiras TOTAL de R$ 850 de despesas (ganho de capital) TOTAL de R$ 850 de despesa, líquida da receita com ganho de capital. A venda de imobilizado usado, regra geral, não faz parte das receitas da entidade, sendo reconhecida no resultado diretamente como ganho ou a perda com essa alienação. Contudo, quando essas receitas são relevantes e integrarem o negócio (locadoras de veículos, por exemplo), devem ser apresentadas como receita de venda, com o valor contábil líquido baixado registrado no custo do item vendido. O art. 40 da Lei no 12.973/14 modificou levemente o art. 57 da Lei no 4.506/64, permitindo a exclusão da diferença entre as taxas permitidas pelo Fisco e aquelas reconhecidas pela contabilidade. Em síntese: o artigo citado referendou o modelo adotado no RTT e explicado aqui. Existem outros detalhes específicos e relevantes no CPC 27 e que são apresentados a seguir. Há possibilidade de depreciação de ferramentas e bens com duração inferior a um ano, principalmente para Cia. Aberta, que divulga resultados trimestrais. Por exemplo, nas demonstrações da empresa Lojas Americanas publicadas na CVM, há a informação sobre a depreciação em nove meses dos DVDs que são utilizados para locação. Como a empresa divulga demonstrações a cada três meses, no balanço publicado em MAR/14, um título adquirido por R$ 90 em fevereiro do mesmo ano terá saldo de R$ 70, com depreciação de R$ 20 nos dois primeiros meses de uso (fevereiro e março). O Fisco não considera esse bem objeto de depreciação, pois tem prazo de vida útil inferior a um ano. Assim, na aquisição seria feita uma exclusão nas bases de IR e CSLL, enquanto as despesas de depreciação seriam adicionadas posteriormente. Já a dedução como crédito nas bases de PIS e COFINS seria feita pela depreciação. Haja controle! A classificação contábil deve ser dividida em dois grupos: imobilizado em operação e em andamento e os bens devem ser separados por área geográfica, segmento econômico ou função. 25 Foi incluído o conceito de unidade de propriedade, o que traz a possibilidade de realizar a depreciação por partes. Por exemplo, um conjunto de veículos pode ser depreciado por peça, como chassi, pneu, bateria, dentre outros. Integram o custo do imobilizado: preço de aquisição mais os impostos não recuperáveis; custos para colocar o ativo no local e condição necessários para funcionar; e estimativa inicial dos custos de desmontagem e remoção do item e restauração do local no qual este está localizado. A Lei no 12.973/14 define em seu art. 45 que os gastos citados referentes a desmontagem, retirada do item ou restauração só serão dedutíveis quando efetivamente realizados. A aquisição deve ser registrada a valor presente, com os juros da operação sendo tratados como despesa financeira, durante o período do financiamento. Por exemplo, suponha aquisição de um terreno em JAN/17 por R$ 200 mil com pagamento em quatro parcelas semestrais de R$ 50 mil. Admitindo a utilização de uma taxa de juros semestrais de 6%, o bem seria registrado no imobilizado por R$ 173.255,28. O valor de R$ 26.744,72 seria registrado como despesa financeira entre a aquisição do imobilizado (JAN/17) e o pagamento da última das quatro parcelas (DEZ/18). Note que há uma significativa mudança de procedimento em relação ao que se adotava no Brasil até a edição das Leis no 11.638/07 e no 11.941/09. As despesas oriundas de ajuste a valor presente não serão dedutíveis, sendo permitidas somente por ocasião da depreciação ou baixa dos bens citados. O CPC no 06 diz que a aquisição via arrendamento mercantil financeiro deve seguir os mesmos procedimentos da aquisição do terreno citada no parágrafo anterior, ou seja, a antiga despesa de arrendamento mercantil deixa de existir, sendo substituída pela despesa de depreciação (dos bens depreciáveis, o que não é o caso do terreno) e a despesa financeira. Os bens recebidos por doação devem ser registrados no imobilizado em contrapartida com receita ou passivo, caso existam obrigações para que a propriedade definitiva passe para a empresa donatária. Nos casos de obrigações por retirada de serviço de ativo de longo prazo, deve-se contabilizar no imobilizado o custo estimado para desativação, desmantelamento, demolição e todos demais gastos associados à retirada. O 26 caso é utilizado na exploração de recursos minerais, como jazidas de petróleo e gás, metais, carvão, etc. O CPC 27 determina que as empresas façam divulgações detalhadas em notas explicativas quanto à movimentação do imobilizado durante o período, critérios de contabilização e depreciação, garantias e ônus que pesem sobre ele, mudanças de expectativas quanto à vida útil ou ao valor residual. ATIVO INTANGÍVEL (CPC 02) E ATIVO DIFERIDO Conforme o item 21 do Pronunciamento CPC no 04 (Deliberação CVM no 553/08), um ativo intangível é um ativo incorpóreo que deve ser reconhecido somente quando for provável que os benefícios econômicos futuros esperados atribuíveis ao ativo serão gerados em favor da entidade e o custo do ativo possa ser mensurado com segurança. Ativos intangíveis gerados internamente não são geralmente passíveis de reconhecimento, especialmente o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), cujo reconhecimento, quando gerado internamente, é totalmente proibido. Os ativos intangíveis são inicialmente reconhecidos ao custo e podem ter vida útil definida ou indefinida. O item 111 do CPC 04 requer ainda que os conceitos do CPC 01 (impairment) sejam aplicados aos ativos intangíveis para se mensurar eventuais problemas de recuperação de seus valores, e há um procedimento todo especial para o goodwill. Gastos com pesquisas de produto, processo e mercado não podem ser ativados. Gastos com desenvolvimento são ativados em circunstâncias muito especiais. Despesas pré-operacionais não podem mais ser ativadas. Não mais existe Ativo Diferido (a nãoser nos casos de saldos remanescentes, conforme autorização legal). Contudo, o art. 11 da Lei no 12.973/14 diz que os gastos pré-operacionais ou pré-industriais não serão dedutíveis no período em que forem reconhecidos em despesa. Neste caso, a empresa deve fazer uma adição. Posteriormente, a exclusão poderá ser feita em cinco anos, a partir do início das operações ou da plena utilização das instalações no caso dos gastos pré-operacionais ou do início das atividades das novas instalações, no caso dos gastos pré-industriais. 27 Ativo intangível de vida útil indefinida não é mais amortizado (como no caso do goodwill), ficando somente sujeito ao teste de perda de recuperabilidade de valor (impairment). Suponha que a Cia. Taquara seja uma empresa industrial, que produz doces em lata: goiabada, pessegada e marmelada. A empresa tem terras no mesmo espaço onde está instalada a indústria, onde planta as frutas e as utiliza no processo industrial. A Cia. Taquara tinha um espaço ocioso, onde existia um campo de futebol, que era utilizado pelos empregados nos finais de semana e folgas. Supondo que a empresa resolva desativar o campo, passando a plantar bananas, que serão utilizadas para fabricar um quarto produto: a bananada em lata. Admitindo que dure um ano o período entre o cultivo e o produto ser posto no mercado consumidor, todos os gastos não específicos (ativo biológico e bens do imobilizado) relacionados à produção da bananada poderiam ser registrados como ativo intangível. Trata-se de um produto já conhecido, com mercado certo e que representa uma nova atividade produtiva, não fazendo sentido registrar os gastos em despesa enquanto o novo produto não chega ao mercado consumidor. A despesa de amortização de bens do ativo intangível será dedutível, conforme previsto no art. 41 da Lei no 12.973/14. A lei não cita um período específico, aceitando, a princípio, a amortização registrada na contabilidade. O art. 42 da mesma lei diz que poderão ser excluídos, nas bases de IR e CSLL, os gastos com desenvolvimento de inovação tecnológica referidos no inciso I do caput e no § 2o do art. 17 da Lei no 11.196/05, quando registrados no ativo não circulante intangível, no período de apuração em que forem incorridos. Fica claro, contudo, que o contribuinte que utilizar o benefício citado deverá adicionar ao lucro líquido, para fins de apuração de IR e CSLL, o valor da realização do ativo intangível, inclusive por amortização, alienação ou baixa. 28 AJUSTE A VALOR PRESENTE Este Pronunciamento trata da exigência legal de registrar a valor presente os ativos e passivos de longo prazo e, quando relevante, de curto prazo. O pronunciamento fala, ainda, dos cuidados com a escolha da taxa de desconto e do registro das contrapartidas dos ajustes. Os ajustes a valor presente provocam o aparecimento de receitas e despesas financeiras no decorrer do tempo, até a realização final do recebível ou liquidação do exigível. Impostos diferidos ativos e passivos não podem ser ajustados a valor presente. Como regra geral, o ajuste deve ser realizado apenas nas contabilizações iniciais de ativos e passivos, com uso de contas retificadoras apenas nos registros patrimoniais e não de resultado. Registros posteriores a aplicação inicial do conceito se constituem em exceções. Geralmente, o valor presente e o justo somente são iguais no registro inicial. Veja outros detalhes interessantes do ajuste a valor presente: - Como diretriz geral, deve-se fazer ajuste a valor presente quando existem transações a prazo a serem liquidadas em dinheiro, que possuem descontos financeiros embutidos ou fluxo de caixa associado a um ativo ou passivo – compra a prazo de um imobilizado. - Adiantamentos de clientes e fornecedores não devem ter ajustes a valor presente. - IR diferido também não deve ser ajustado a valor presente. - Operações com financiamentos obtidos no BNDES, de longo prazo, não devem ser ajustados a valor presente. 29 EFEITOS NAS MUDANÇAS NAS TAXAS DE CÂMBIO E CONVERSÃO DE DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: CPC 02 As participações em empresas controladas e coligadas no Brasil são registradas no ativo não circulante, no subgrupo Investimentos, com avaliação pelo método de equivalência patrimonial. Tal método pressupõe o seguinte: o investimento deve ser reconhecido na empresa controladora simultaneamente aos movimentos realizados no patrimônio líquido da empresa controlada. Por exemplo, admita que a Cia. A adquira, em JAN/16, 90% das ações da Cia. B, cujo PL monta R$ 1.000. Os outros 10% são adquiridos pela Cia. C. No ano de 2016, a Cia. B aufere um lucro de R$ 200 e propõe a distribuição de dividendos no valor de R$ 60, que será pago em 2017. Vamos aos registros das Cias. A e C: REGISTRO CONTÁBIL NA CIA. A (MÉTODO DE EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL) REGISTRO CONTÁBIL NA CIA. C (MÉTODO DO CUSTO DE AQUISIÇÃO) MÊS/ANO PL da Cia. B INVESTIMENTO DA Cia. C na Cia. B MOVIMENTO SALDO REGISTRO CONTÁBIL na Cia. C SALDO JAN/2016 Saldo de R$ 1.000 Aquisição de 10% pela Cia. C 1.000 DÉB: Participação na Cia. B 100 CRÉD: CAIXA 100 DEZ/2016 Lucro Apurado no ano de R$ 200 1.200 NÃO HÁ REGISTRO DEZ/2016 Dividendos Propostos de R$ 60 1.140 DÉB: Dividendos a Receber 6 100 MÊS/ANO PL da Cia. B INVESTIMENTO DA Cia. A na Cia. B MOVIMENTO SALDO REGISTRO CONTÁBIL na Cia. A SALDO JAN/2016 Saldo de R$ 1.000 Aquisição de 90% pela Cia. A 1.000 DÉB: Participação na Cia. B 900 CRÉD: CAIXA 900 DEZ/2016 Lucro Apurado no ano de R$ 200 1.200 DÉB: Participação na Cia. B 180 CRÉD: Resultado Positivo de MEP 1.080 DEZ/2016 Dividendos Propostos de R$ 60 1.140 DÉB: Dividendos a Receber 54 CRÉD: Participação na Cia. B 1.026 30 Caso a Cia. B fosse domiciliada no exterior, a análise levaria em consideração, também, a variação cambial. Contudo, entraria em ação um importante detalhe: a moeda funcional, fundamental na decisão de como registrar a contrapartida da variação cambial. Moeda funcional é a moeda do ambiente econômico principal no qual a entidade opera. Essa moeda pode, em determinadas circunstâncias (previstas no Pronunciamento), ser diferente da moeda do país onde está sediada a controladora ou qualquer controlada. Por exemplo, uma empresa de manufatura brasileira concluiu que sua moeda funcional é o dólar. Assim, suas demonstrações contábeis são preparadas como se os registros contábeis fossem feitos em dólar e depois as demonstrações serão convertidas para o real, para fins de divulgação no Brasil. Com isso, os balanços, os resultados e os fluxos de caixa podem ser muito diferentes, em cada exercício, do que seriam se a moeda funcional fosse o real. A conversão de demonstrações feitas numa moeda funcional para outra moeda de reporte (como na conversão de uma controlada no exterior em euro para real) é feita, a não ser no caso de inflação alta, com os ativos e passivos convertidos à taxa de câmbio da data do balanço, e as receitas, despesas, ingressos e aplicações de caixa convertidos quando de sua incorrência. As diferenças cambiais sobre os patrimônios líquidos e os resultados líquidos são reconhecidas em “outros resultados abrangentes” no patrimônio líquido para transferência ao resultado apenas quando da baixa do investimento. Portanto, quando a moeda funcional da filial for a mesma da matriz, a variação cambial do investimento líquido em controladas dependentes no exterior deverá ser registrada como receita ou despesa financeira do período, ou seja, como resultados integrados à contabilidade da matriz no Brasil como qualquer outra filial, agência, sucursal ou dependência mantida no próprio país, por força da norma internacional. Um grande impacto do CPC 02 é quanto à forma de registro das variações cambiais de investimento líquido em controlada independente no exterior,cuja moeda funcional é diferente da matriz, que deve ser em conta específica do patrimônio líquido na investidora e no balanço consolidado, para serem reconhecidas, como receita ou despesa, apenas quando da venda ou baixa do 31 investimento líquido. Instrumentos de hedge desse investimento têm igual contabilização. REFLEXOS FISCAIS DO CPC 02 Existe impacto fiscal em toda e qualquer movimentação no PL, por ocasião do registro da variação cambial de investimentos no exterior. Se a moeda funcional é igual, as receitas e despesas financeiras compõem as bases de IR e CSLL. Em relação à tributação das contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, não há tributação de receitas financeiras de passivos oriundos de moeda estrangeira por uma exclusão permitida pela legislação brasileira (Decreto no 8.451/15). Já se a moeda for diferente e o registro da variação cambial se der na conta ajuste de avaliação patrimonial, este deverá ser feito pelo líquido, com a parcela relativa aos tributos sobre o lucro, normalmente 34%, sendo destacada como ativo ou passivo fiscal diferido. Ou seja, se uma participação no exterior em moeda funcional diferente da moeda da matriz tem uma variação cambial positiva (ativa) de R$ 100, o registro seria o seguinte: DÉB: Investimentos – Participações em Controladas no Exterior 100 CRED: PL – Ajuste de Avaliação Patrimonial 66 CRED: Passivo Não Circulante – Imposto de Renda Diferido 34
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