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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Crimes contra a Pessoa – Parte II Livro Eletrônico 2 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Sumário Crimes contra a Pessoa – Parte II................................................................................................ 4 1. Atualização Legislativa – 2020/2021 ..................................................................................... 4 1.1. Lei n. 13.964/2019 ..................................................................................................................... 4 1.2. Lei n. 14.132/2021 ..................................................................................................................... 4 1.3. Lei n. 14.155/2021 ..................................................................................................................... 5 2. Legislação Comentada .............................................................................................................. 6 2.1. Crimes de Periclitação da Vida e da Saúde ......................................................................... 6 2.2. Crime de Rixa ...........................................................................................................................15 2.3. Crimes contra a Honra ...........................................................................................................16 2.4. Crimes contra a Liberdade Individual ............................................................................... 26 3. Sinopse ........................................................................................................................................49 3.1. Perigo de Contágio Venéreo (CP, Art. 130) .........................................................................49 3.2. Perigo de Moléstia Grave (CP, Art. 131) ..............................................................................51 3.3. Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem (CP, Art. 132) ................................................... 53 3.4. Abandono de Incapaz (CP, Art. 133) ................................................................................... 54 3.5. Exposição ou Abandono de Recém-Nascido (CP, Art. 134) ............................................ 56 3.6. Omissão de Socorro (CP, Art. 135) ...................................................................................... 58 3.7. Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar Emergencial (CP, Art. 135-A) ............................................................................................................................................... 59 3.8. Rixa (CP, Art. 137) ................................................................................................................... 62 3.9. Crimes contra a Honra .......................................................................................................... 63 3.10. Difamação (CP, Art. 139) ......................................................................................................68 3.11. Injúria (CP, Art. 140) .............................................................................................................. 69 3.12. Constrangimento Ilegal (CP, Art. 146) ...............................................................................71 3.13. Ameaça (CP, Art. 147) ........................................................................................................... 73 3.14. Perseguição (CP, Art. 147-A) .............................................................................................. 74 3.15. Sequestro e Cárcere Privado (CP, Art. 148) ..................................................................... 75 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 3.16. Redução a Condição Análoga à de Escravo (CP, Art. 149) ............................................ 78 3.17. Tráfico de Pessoas (CP, Art. 149-A) ................................................................................... 79 3.18. Violação de Domicílio (CP, Art. 150) .................................................................................. 81 3.19. Violação de Correspondência (CP, Art. 151) .....................................................................83 3.20. Correspondência Comercial (CP, Art. 152) ......................................................................84 3.21. Divulgação de Segredo (CP, Art. 153) ............................................................................... 85 3.22. Violação de Segredo Profissional (CP, Art. 154) ............................................................86 3.23. Violação de Dispositivo Informático (CP, Art. 154-A) ................................................... 87 4. Informativos ..............................................................................................................................89 Questões de Concurso ..................................................................................................................91 Gabarito .......................................................................................................................................... 118 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro CRIMES CONTRA A PESSOA – PARTE II 1. AtuAlizAção legislAtivA – 2020/2021 1.1. lei n. 13.964/2019 Crimes contra a Honra COMO ERA COMO FICOU Sem correspondente. Art. 141, § 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. A Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime) adicionou nova causa de aumento aos crimes con- tra o patrimônio, quando praticada a conduta em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, hipótese em que a pena será aplicada em triplo. Em um primeiro momento, o dispositivo havia sido vetado pelo Presidente da República, decisão não mantida pelo Congresso Nacional, que decidiu pela derrubada do veto. 1.2. lei n. 14.132/2021 Perseguição COMO ERA COMO FICOU Sem correspondente. Perseguição Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. § 1º. A pena é aumentada de metade se o crime é cometido: I – contra criança, adolescente ou idoso; II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. § 2º. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. § 3º. Somente se procede mediante representação. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra aPessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro A Lei n. 14.132/21 tipificou o stalking, palavra inglesa utilizada em referência à conduta de perseguir alguém. A ocorrência do delito depende da reiteração da perseguição (crime habitu- al). Portanto, é atípica a conduta quando o ato de perseguir se dá de forma isolada, em evento único. O dispositivo tutela a liberdade individual, atingida pelo temor provocado à vítima, que não se sente mais segura para livremente locomover-se. Ademais, preocupou-se o legislador em garantir o direito à privacidade, comumente afetado pela conduta do perseguidor. A pena é de reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, fazendo com que o delito seja de menor potencial ofensivo. 1.3. lei n. 14.155/2021 Invasão de Dispositivo Informático COMO ERA COMO FICOU Invasão de dispositivo informático Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. § 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. § 3º (...) Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. Invasão de dispositivo informático Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à rede de computadores, com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão resulta prejuízo econômico. § 3º (...) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. A Lei n. 14.155/21 tem por objetivo punir com maior rigor a prática de crimes virtuais. Foram promovidas alterações nos artigos 154-A, 155 e 171 do CP e no artigo 70 do CP. No dispositivo em estudo, adicionado pela Lei n. 12.737/12 – Lei Carolina Dieckmann -, a nova re- dação do caput afastou algumas amarras que dificultavam a ocorrência do crime. Antes, para que a conduta fosse considerada típica, o invasor tinha de violar indevidamente mecanismo de segurança. A lei não amparava quem decidia por não utilizar senha, firewall ou outro meio de proteção do dispositivo. A nova redação deu fim à exigência, bastando a conduta de invadir para que se faça presente a tipicidade formal. A pena foi aumentada de forma considerável: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro antes, crime de menor potencial ofensivo, punido com detenção, passou a ser punido com re- clusão, de um a quatro anos. 2. legislAção ComentAdA 2.1. Crimes de PeriClitAção dA vidA e dA sAúde CAPÍTULO III DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 2.1.1. Perigo de Contágio Venéreo Perigo de contágio venéreo Art. 130. Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea1-2, de que sabe ou deve saber3 que está contaminado4: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.5 § 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia:6 Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.7 § 2º Somente se procede mediante representação.8 Obs.: � 1. Crime de perigo, a conduta consiste em oferecer risco de contaminação a moléstia venérea. Naturalmente, a execução deve se dar por meio de relações sexuais ou qual- quer ato libidinoso (forma vinculada). � 2. Na figura do caput, o delito é compatível tanto com o dolo direto quanto com o dolo eventual (sabe ou deve saber). Há quem sustente que deve saber faz referência à prá- tica do delito na modalidade culposa, mas não é a melhor posição para se adotar em concursos públicos. Fique com o dolo eventual. � 3. O crime se consuma com a prática da relação sexual ou do ato libidinoso. Portanto, prescinde da efetiva contaminação. � 4. Caso não esteja contaminado, deve ser reconhecido o crime impossível. � 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. Admite transação penal e suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 61, 74, 76 e 89). � 6. Na forma qualificada, o agente tem por objetivo transmitir a moléstia. Caso ocorra, de fato, a contaminação, ele será responsabilizado pelo resultado produzido – lesão corporal leve, grave, gravíssima, seguida de morte ou, até mesmo, por homicídio. � 7. Forma qualificada, é crime de médio potencial ofensivo – ou seja, não é de menor potencial ofensivo (Lei n. 9.099/95, art. 61), mas admite suspensão condicional do processo (idem, art. 89). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro � 8. Crime de ação penal pública condicionada à representação, tanto na forma simples quanto na qualificada. 2.1.2. Perigo de Contágio de Moléstia Grave Perigo de contágio de moléstia grave Art. 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contamina- do, ato capaz de produzir o contágio:1-2-3-4 Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.5 Obs.: � 1. O crime do artigo 131 não se confunde com o do artigo 130, o perigo de contá- gio venéreo. No delito visto no artigo anterior, por meio de relação sexual ou qualquer ato libidinoso, o agente expõe a vítima à contaminação de doença sexualmente trans- missível. A execução do delito se dá por relação sexual ou qualquer ato libidinoso. No crime do artigo 131, a lei fala em moléstia grave, enfermidade que provoque séria perturbação à saúde. A execução pode se dar de qualquer forma, desde que, é claro, capaz de transmitir a doença. � 2. O elemento subjetivo é o dolo direto (com o fim de transmitir). Portanto, não é admi- tido o dolo eventual. � 3. A consumação independe da efetiva transmissão (crime formal). Caso a vítima seja contaminada, o agente será responsabilizado pelo mal causado – lesão corporal leve, grave, gravíssima, seguida de morte ou, até mesmo, por homicídio. � 4. É possível o concurso de crimes entre o perigo de moléstia grave e a epidemia (CP, art. 267), desde que a conduta dê causa à epidemia. � 5. Crime de médio potencial ofensivo, admite suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, art. 89). 2.1.3. Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem Perigo para a vida ou saúde de outrem Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:1-2-3 Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.4-5 Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.6 Obs.: � 1. No artigo 132, o perigo não decorre de transmissão de enfermidades, como nos dois artigos anteriores, mas de qualquer conduta que coloque em risco a vida ou a saúde de alguém, desde que o fato não constitua crime mais grave – delito expressamente subsidiário, como se constata da leitura do preceitosecundário. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro � 2. O perigo deve ser direto, direcionado a pessoas determinadas – se o perigo expu- ser um número indeterminado de possíveis vítimas, o delito será de perigo comum (CP, arts. 250 a 259). Além disso, o perigo deve ser iminente. Não pode ser um perigo futuro, mas algo que ocorrerá em momento imediato seguinte. � 3. O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. O dispositivo não prevê a modali- dade culposa. � 4. Crime de menor potencial ofensivo, compete ao Juizado Especial Criminal, sob o rito sumaríssimo, o processo e julgamento. É compatível com os institutos de não aplica- ção de pena da Lei n. 9.099/95 – a composição civil dos danos, a transação penal e a suspensão condicional do processo. � 5. Crime expressamente subsidiário, o delito deve ser reconhecido quando não for meio de execução para a prática de crime mais grave (ex.: homicídio). � 6. A pena é aumentada de um sexto a um terço o perigo decorre do transporte de pes- soas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, desde que em desacordo com as normas legais – norma penal em branco, cujo complemen- to pode ser extraído da Lei n. 9.503/97, o Código de Trânsito Brasileiro. 2.1.4. Abandono de Incapaz Abandono de incapaz Art. 133. Abandonar1-2 pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade3, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono4: Pena – detenção, de seis meses a três anos.5 § 1º Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:6 Pena – reclusão, de um a cinco anos. § 2º Se resulta a morte:7 Pena – reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena § 3º As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:8 I – se o abandono ocorre em lugar ermo; II – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima; III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. Obs.: � 1. Abandonar significa desamparar, deixar à própria sorte. Não precisa ser, necessa- riamente, em local diverso do imóvel onde a vítima mora. Exemplo: deixar sozinho em casa alguém que, por qualquer motivo, não tenha capacidade de se defender dos riscos decorrentes do desamparo. � 2. É crime instantâneo, embora de efeitos permanentes. Portanto, a consumação não se prolonga no tempo, enquanto persistir a situação de abandono. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro � 3. O abandono de incapaz é crime próprio. A redação do dispositivo exige a relação de cuidado, guarda, vigilância ou autoridade entre o sujeito ativo e o sujeito passivo. � 4. O conceito de incapacidade não é aquele do artigo 4º do Código Civil. A vítima do delito é a pessoa que, em determinado contexto, depende de quem a tem sob cuida- do, guarda, vigilância ou autoridade. Se desamparada, não tem como se defender, por conta própria, dos riscos decorrentes da situação de abandono. Exemplo: pessoa gra- vemente enferma que demanda atenção constante, não sendo possível deixá-la sozi- nha. � 5. Crime de médio potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, art. 89). � 6. Forma qualificada do delito, também admite suspensão condicional do processo. Crime preterdoloso, a lesão corporal grave ou gravíssima deve decorrer de culpa (CP, art. 129, § 1º ou § 2º), embora o abandono seja doloso. � 7. Qualificadora do delito, deve ser reconhecida quando, por culpa, a vítima morrer, apesar de presente o dolo na conduta antecedente, no abandono. A pena não é com- patível com institutos de não aplicação de pena. � 8. A pena do crime de abandono de incapaz é aumentada, de um terço, em três hipóte- ses: (1ª) se o abandono ocorre em lugar ermo; (2ª) se o agente é ascendente, descen- dente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima; (3ª) se a vítima é maior de sessenta anos. 2.1.5. Exposição ou Abandono de Recém-Nascido Exposição ou abandono de recém-nascido Art. 134. Expor ou abandonar1-2-3 recém-nascido4, para ocultar desonra própria5: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.6 § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:7 Pena – detenção, de um a três anos. § 2º Se resulta a morte:8 Pena – detenção, de dois a seis anos. Obs.: � 1. O dispositivo traz dois verbos: expor, no sentido de deixar desprotegido, e abando- nar, quando o recém-nascido fica desassistido. � 2. O crime é instantâneo de efeitos permanentes. Portanto, a consumação não se pro- longa enquanto perdurar a exposição ou abandono. � 3. Crime de perigo concreto, a consumação ocorre no instante em que o recém-nasci- do é submetido a efetivo risco. � 4. A qualidade de recém-nascido existe logo após o parto. Não há um limite temporal, devendo ser aferida a condição no caso concreto. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro � 5. Elemento normativo do tipo, a ocultação de honra própria deve ser avaliada pelo magistrado ao decidir o caso concreto. Exemplo comumente trazido é o do recém-nas- cido gerado a partir de relação extraconjugal. � 6. Crime de menor ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. Admite transação penal e suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 61, 74, 76 e 89). � 7. Forma qualificada do delito, aplicável quando, por culpa (crime preterdoloso), o recém-nascido sofre lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º). A pena máxima de três anos afasta a competência do Juizado Especial Cri- minal, mas permanece possível a suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, art. 89). � 8. Também forma qualificada do crime, presente na hipótese em que a vítima, por culpa (crime preterdoloso), morre. Não admite suspensão condicional do processo (crime de alto potencial ofensivo). 2.1.6. Omissão de Socorro Omissão de socorro Art. 135. Deixar de prestar assistência1, quando possível fazê-lo sem risco pessoal2, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo3; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública4: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.5 Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.6 Obs.: � 1. Crime omissivo próprio, quando a conduta de deixar de fazer é descrita no tipo penal. Não admite tentativa, afinal, não há meio-termo: se oferecido a assistência, a conduta é atípica; se, todavia, oferecida, consuma-se. � 2. Pratica o crime quem, podendo prestar assistência, nada faz. Entretanto, não comete o crime quem se omite por existir risco pessoal – por exemplo, deixar de prestar assis- tência em região perigosa. � 3. O dispositivo estabelece quem pode ser sujeito passivo do delito: (a) criança aban- donada ou extraviada; (b) pessoainválida e ao desamparo; (c) pessoa ferida e ao desamparo; (d) pessoa em grave e iminente perigo. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro OMISSÃO DE SOCORRO – SUJEITO PASSIVO Criança abandonada: é a pessoa com menos de doze anos de idade deixada, intencionalmente, ao desamparo. A pessoa que a abandonou pode ser responsabilizada por abandono de incapaz (CP, art. 133). Criança extraviada: é a pessoa com menos de doze anos perdida, que não sabe como retornar ao local onde estaria segura. Pessoa inválida e ao desamparo: o inválido é aquele que precisa de assistência nas atividades ordinárias do cotidiano. A invalidez, por si só, não é suficiente para que fique caracterizado o delito. A pessoa inválida deve estar desamparada, sem ter quem a assista em situação em que o auxílio é imprescindível para afastar o perigo. Pessoa ferida e ao desamparo: é aquela que sofreu lesão corporal que a impossibilita de se afastar da situação de perigo por conta própria, sem assistência. Pessoa em grave e iminente perigo: a pessoa não precisa ser inválida ou estar ferida. Basta que esteja em situação de perigo grave (ex.: alguém em afogamento). Obs.: � 4. Quem não pode prestar assistência deve, ao menos, pedir socorro da autorida- de pública (ex.: ligar para a polícia), sob pena de responder pelo crime de omissão de socorro. � 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, cujo processo deve correr pelo rito sumaríssimo (Lei n. 9099/95, art. 61, e CPP, art. 394, § 1º, III). É compatível com os institutos de não aplicação de pena da transação penal e da suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 74, 76 e 89). � 6. O parágrafo único descreve duas causas de aumento de pena: (a) se a vítima sofrer lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º), a pena deve ser aumentada de metade; (b) se morrer, a pena é triplicada. 2.1.7. Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar Emergencial Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial Art. 135-A. Exigir1 cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos2, como condição para o atendimento mé- dico-hospitalar emergencial:3 Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.4 Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.5 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Obs.: � 1. Quando o Código Penal fala em exigir, significa que a vítima não tem opção. Caso não se submeta ao que o criminoso quer, algum mal grave será por ela suportado. No crime do artigo 135, não atender a exigência tem por consequência o não atendimento médico a alguém que necessita de atendimento médico emergencial. � 2. O sujeito ativo é o funcionário de hospital particular ou médico que exige, como garantia de que os gastos com o atendimento serão pagos, cheque-caução, nota pro- missória ou qualquer garantia equivalente, bem como o preenchimento de formulário administrativo. CHEQUE-CAUÇÃO É o cheque entregue em garantia de pagamento de uma dívida – caso o crédito não seja honrado, basta que o portador do título efetue o saque. NOTA PROMISSÓRIA Também título de crédito, tem a mesma função do cheque-caução: garantir o adimplemento de dívida em hipótese de não pagamento. QUALQUER GARANTIA De forma genérica, o dispositivo fala em qualquer garantia, dando azo à interpretação analógica. FORMULÁRIO ADMINISTRATIVO Pode ser qualquer documento exigido pelo hospital que demande o fornecimento de dados como condição de atendimento. Obs.: � 3. Crime formal, consuma-se com a exigência da garantia ou do preenchimento do for- mulário, independentemente da produção de resultado naturalístico. Por ser crime de perigo concreto, demanda a comprovação da situação de risco. � 4. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. É compatível com os institutos de não aplicação de pena da Lei n 9.099/95, arts. 74, 76 e 89. � 5. O parágrafo único traz duas causas de aumento de pena: (a) se a vítima, em decor- rência da conduta, sofrer lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º), a pena deve ser aumentada até o dobro; (b) se morrer, até o triplo. Note que o dispositivo fala em até o dobro ou triplo, dando margem à variação. Como não foi estabelecida a fração mínima, devemos considerar a menor existente em nosso Código Penal: um sexto. 3.1.8. Maus-Tratos Maus-tratos Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde1 de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigi- lância2, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia3, quer privando-a de alimentação O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abu- sando de meios de correção ou disciplina4: Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.5 § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:6 Pena – reclusão, de um a quatro anos. § 2º Se resulta a morte:7 Pena – reclusão, de quatro a doze anos. § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.8 Obs.: � 1. O verbo nuclear é expor, no sentido de deixar desprotegido, sem barreiras que impe- çam o perigo. A situação de perigo deve ser comprovada (perigo concreto). � 2. Crime próprio, o dispositivo exige relação de autoridade, guarda ou vigilância entre o sujeito ativo e o sujeito passivo. AUTORIDADE GUARDA VIGILÂNCIA Decorre de relação de poder de uma pessoa sobre outra, presente nas relações de direito privado ou público. É a relação duradoura de vigilância de uma pessoa que necessita dos cuidados de outra. É a relação entre uma pessoa que precisa de assistência e outra que a oferece, mas sem o rigor da guarda. Obs.: � 3. A autoridade, guarda ou vigilância deve decorrer de uma das finalidades descritas no dispositivo: (a) educação; (b) ensino; (c) tratamento; (d) custódia. EDUCAÇÃO ENSINO TRATAMENTO CUSTÓDIA Diz respeito ao processo de formação do indivíduo. Não se confunde com o ensino, que consiste na transmissão de conhecimento. Exemplo: curador e interdito. Como mencionado, é o processo de transmissão de conhecimento. Ex.: professor e aluno. É o meio para pelo qual se busca a cura de enfermidade, física ou mental. É o que se verifica na relação entre médico e paciente. É a relação de cuidado entre uma pessoa legalmente impedida de locomover-se e quem tem o dever de preservá-la. Ex.: o policial penal e o preso. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução,cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Obs.: � 4. Crime de forma vinculada, o dispositivo estabelece a forma como deve se dar a exe- cução: (a) pela privação de alimentos ou cuidados indispensáveis; (b) pela sujeição a trabalho excessivo ou inadequado; (c) pelo abuso dos meios de correção ou disciplina. MAUS TRATOS – MODOS DE EXECUÇÃO Privação de alimentos: consiste em não fornecer alimentação, o que pode ocorrer de forma relativa ou absoluta – se relativa, deve ser demonstrado o efetivo risco (perigo concreto). Cuidados indispensáveis: além da alimentação, as pessoas demandam adequado vestuário, tratamento médico e demais cuidados essenciais à preservação da saúde e da vida. A execução se dá pela omissão no oferecimento desses cuidados. Trabalho excessivo: é o volume de trabalho demasiado a ponto de pôr em risco a saúde ou a vida. Não há um conceito objetivo, cabendo ao juiz a análise concreta em cada caso. Trabalho inadequado: é o trabalho impróprio para determinada pessoa, capaz de colocar em perigo concreto sua vida ou saúde. Abuso dos meios de correção ou disciplina: a correção é utilizada como sanção; a disciplina tem caráter preventivo. Importante destacar que, desde a entrada em vigor da Lei n. 13.010/14 (Lei da Palmada ou Lei Menino Bernardo), passou a ser direito da criança e do adolescente a educação sem o uso de castigo físico (ECA, art. 18-A). Obs.: � 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Crimi- nal. São admitidos os institutos de não aplicação de pena da Lei n. 9.099/95 (arts. 74, 76 e 89). � 6. Forma qualificada do delito, deve ser reconhecida quando, por culpa, a vítima sofre lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º ou § 2º). A pena mínima de um ano faz com que seja possível a suspensão condicional do processo (crime de médio potencial ofensivo). � 7. Forma qualificada do crime, aplicável quando a vítima morrer (crime preterdoloso). A pena de quatro a doze anos inviabiliza a incidência de institutos da composição civil dos danos, da transação, da suspensão condicional do processo ou do acordo de não persecução penal (Lei n. 9.099/95, arts. 74, 76 e 89 e CPP, art. 28-A). � 8. Causa de aumento de pena, o parágrafo único faz com que a pena seja aumentada de um terço se o crime for praticado contra pessoa menor de catorze anos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 2.2. Crime de rixA CAPÍTULO IV DA RIXA 2.2.1. Rixa Rixa Art. 137. Participar de rixa1-2-3, salvo para separar os contendores4: Pena – detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.5 Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.6 Obs.: � 1. A rixa é o confronto desorganizado, em que não se consegue identificar lados opos- tos. Os envolvidos são, ao mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo. Difere, por exemplo, de briga entre duas torcidas rivais, quando fica caracterizado o denominado crime de multidão, onde, apesar da multiplicidade de envolvidos, é facilmente identifi- cável a posição no confronto de cada um dos envolvidos. � 2. Embora a lei não estabeleça um número mínimo de envolvidos, não é possível a rixa com menos de três indivíduos, afinal, se houver apenas dois, podemos identificar quem agride quem. Portanto, o artigo 137 do CP é crime plurissubjetivo, que depende da presença demais de uma pessoa para que fique caracterizado. � 3. A rixa se consuma no instante em que tem início as agressões. A tentativa é possível quando existir premeditação (rixa preordenada). � 4. Não pratica o delito quem se envolve no confronto com o objetivo de separar os envolvidos. � 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. Todos os institutos de não aplicação de pena da Lei n. 9.099/95 são compatíveis com o delito. � 6. Forma qualificada da rixa, deve ser aplicado o disposto no parágrafo único quando o confronto resulte em lesão corporal de natureza grave ou gravíssima ou a morte de alguém. Dispositivo de constitucionalidade questionável, pois atribui resultado agra- vador a todos os envolvidos na rixa, em aparente hipótese de responsabilidade penal objetiva. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 2.3. Crimes ContrA A HonrA CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA A HONRA OBJETIVA Diz respeito à forma como o indivíduo é visto pela sociedade. É o bem jurídico atingido pela calúnia e pela difamação. HONRA SUBJETIVA É a percepção que o indivíduo tem sobre ele próprio. É o bem jurídico atingido pela injúria. A calúnia e a difamação envolvem fato. Na calúnia, o fato deve ser, necessariamente, falso. Na difamação, não importa a veracidade para que fique caracterizado o crime. Não é dado a ninguém o direito de falar da vida alheia. Exceção: quando o ofendido for funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. FATO É o evento certo, em determinado espaço temporal. Perguntas como quando e onde podem ser respondidas. A injúria não envolve fato. É mera ofensa. Pouco importa que a ofensa decorra de fato verdadeiro (ex.: chamar de corno quem sofreu traição conjugal). Na calúnia, como tese de defesa, quem fez a acusação pode afastar a tipicidade ao provar que não mentiu, que o fato é verdadeiro. Na difamação, em regra, não importa a veracidade dos fatos, exceto na hipótese anteriormente mencionada, quando o fato envolve funcionário público. EXCEÇÃO DA VERDADE Não é possível, em hipótese alguma, exceção da verdade. Como dito anteriormente, ainda que a ofensa decorra de fato verdadeiro, quem a proferiu deve ser punido criminalmente pela injúria. Não é dado a ninguém o direito de xingar outra pessoa. 2.3.1. Calúnia Calúnia Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: 1-2-3-4 Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.5-6 § 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.7 § 2º É punível a calúnia contra os mortos.8 Exceção da verdade § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo:9 I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no n. I do art. 141; III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Obs.: � 1. A calúnia tem por conduta a falsa imputação a alguém de fato definidocomo crime. Portanto, o sujeito ativo sabe que está mentindo em relação ao fato, quando inventa crime que não existiu, ou à autoria, se o crime existiu, mas o acusado não teve envol- vimento. Não ocorre o delito quando quem acusa não sabe que está mentindo – caso contrário, ninguém teria coragem de registrar ocorrência policial, pois eventual senten- ça absolutória faria com que ficasse caracterizada a calúnia. � 2. Se o agente leva a falsa imputação à autoridade pública, dando causa à instauração de inquérito policial ou de alguns outros procedimentos (veja o art. 339 do CP), o crime será o de denunciação caluniosa, e não o de calúnia. � 3. A falsa imputação deve consistir em prática de crime (ou delito). Se a acusação con- figurar contravenção penal, o crime será o de difamação (CP, art. 139). INFRAÇÃO PENAL (Gênero) Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. CRIME (Espécie) É sinônimo de delito. A definição pode ser extraída da primeira parte do artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (DL n. 3.914/41), acima transcrito. CONTRAVENÇÃO PENAL (Espécie) Ao lado do crime, é espécie de infração penal. A definição está na segunda parte do dispositivo acima transcrito. Não se confunde com os crimes de menor potencial ofensivo, delitos cuja pena máxima não excede dois anos (Lei n. 9.099/95, art. 61). Quando a lei fala em infração penal, devemos considerar crimes (ou delitos) e contravenções. Exemplo: no crime de lavagem de dinheiro, a artigo 1º da Lei n. 9.613/98 usa a expressão infração penal, o que nos faz concluir pela possibilidade de lavagem de dinheiro de crimes e de contravenções. No artigo 138 do CP, no entanto, o texto legal menciona apenas crime, não sendo possível a ampliação a contravenções penais, afinal, é vedada a analogia in malam partem. Obs.: � 4. Por ter por bem jurídico tutelado a honra objetiva, a calúnia se consuma no instan- te em que terceiro toma ciência da falsa imputação. A tentativa é possível quando o crime é praticado por meio escrito. Exemplo: enviado um e-mail com a falsa imputa- ção, o servidor de destino bloqueia a mensagem, que não alcança seus destinatários. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro � 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, desde que não esteja presente causa de aumento de pena do artigo 141 do CP, quando a pena passa a ser potencialmente superior a dois anos (Lei n. 9.099/95, art. 89). � 6. Em regra, crime de ação penal privada. � 7. Também é punido pelo crime de calúnia quem, sabendo ser falsa a imputação (dolo direto), a propala, transmitindo-a verbalmente, ou a divulga, quando a repassa por outros meios (ex.: por gestos). Como se constata da leitura do dispositivo, não é com- patível com o dolo eventual. � 8. A calúnia é o único crime contra a honra que pode ser praticado em relação a pes- soas mortas. � 9. A exceção da verdade é a possibilidade dada ao querelado de provar que a imputa- ção por ele feita é verdadeira. Ou seja, que o querelante praticou, de fato, um crime. Na calúnia, a exceção da verdade é regra, afastada somente nas hipóteses descritas no § 3º do artigo 138 do CP. § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo: I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; Nos crimes de ação penal privada, a lei confere à vítima o direito de decidir por dar ou não início à persecução penal. Sabendo disso, imagine a seguinte situação: João foi vítima de crime de ação penal privada, mas decidiu não oferecer queixa-crime contra o ofensor, Ricardo. Antônio, ao tomar ciência do ocorrido, divulgou o fato criminoso praticado por Ricardo contra João. Ricardo, então, ajuizou queixa-crime contra Antônio. No exemplo, pode Antônio se defender por meio de exceção da verdade? Não, afinal, isso forçaria a apuração dos fatos, algo rejeitado por João, a vítima, quem detém legitimidade para dar início à ação penal contra Ricardo. Pensar de forma diversa resultaria em desrespeito à decisão do ofendido. II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no n. I do art. 141; Não é admitida exceção da verdade quando o fato for imputado contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro. Em relação ao Presidente, a exceção da verdade para provar crime por ele praticado violaria o disposto na Constituição Federal, que atribui ao STF o processo e julgamento após admissão da acusação por dois terços da Câmara dos Deputados (CF, art. 102, I, “b”, e 86, caput). Quanto ao chefe de governo estrangeiro, a exceção da verdade iria de encontro às imunidades diplomáticas. III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Seja o crime de ação penal pública ou privada – embora o dispositivo mencione apenas a pública -, aceitar a exceção da verdade quando existente sentença absolutória faria com que os fatos voltassem a ser discutidos, em inegável afronta à coisa julgada. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 2.3.2. Difamação Difamação Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:1-2 Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.3 Exceção da verdade Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.4 Obs.: � 1. Na difamação, também há atribuição de fato, como ocorre na calúnia (CP, art. 138), mas é irrelevante a veracidade do relato – exceto na hipótese do parágrafo único. Ade- mais, o fato não pode caracterizar crime, quando o delito será o do artigo 138 do CP. No entanto, se a acusação consistir em contravenção penal, o agente deverá ser respon- sabilizado pela difamação, afinal, é inegável o teor ofensivo do fato imputado. � 2. Como tem por bem jurídico tutelado a honra objetiva, a consumação da difamação ocorre no instante em que terceiro toma ciência do fato ofensivo. A tentativa é possível quando executado o delito por meio escrito (ex.: carta, e-mail etc.). � 3. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, devendo ser processado sob o rito sumaríssimo. É compatível com os institutos de não imposição de pena da Lei n. 9.099/95 – composição civil dos danos, transação penal e suspensão condicional do processo. Em regra, crime de ação penal privada. � 4. Em regra, a difamação não admite exceção da verdade. É irrelevante discutir sobre a veracidade do fato ofensivo à reputação imputado. Contudo, há uma exceção: quando o fato for atribuído a funcionário público e a ofensa for relativa ao exercício de suas funções, hipótese em que há interesse público em apurar a veracidade do relato. Exem- plo: afirmar que o funcionário público utiliza veículo pertencente à administração públi- ca, em horário de expediente, para seus encontros amorosos em motéis. 2.3.3. Injúria Injúria Art. 140. Injuriar alguém,ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:1-2 Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.3 § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:4 I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:5 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:6 Pena – reclusão de um a três anos e multa. Obs.: � 1. Na injúria, não há fato, mas ofensa à dignidade ou ao decoro. Por essa razão, não é admitida, em hipótese alguma, exceção da verdade, ainda que a ofensa decorra de fato verdadeiro. Entenda: � a) Se digo que alguém é ladrão, não atribuo fato. � b) Para explicar o porquê afirmei que alguém é ladrão, tenho, necessariamente, de fazer incursão em algum fato. Exemplo: afirmei que fulano é ladrão porque, no dia 21 de março, ele praticou um roubo na lotérica do bairro. � c) Portanto, veja que o termo ofensivo ladrão não comporta questionamentos que podem ser feitos em relação ao fato (quando, como, onde). � 2. Por atentar contra a honra subjetiva, a injúria se consuma no instante em que a vítima toma ciência da ofensa. A tentativa é possível quando praticado o delito por escrito (carta, e-mail etc.). INJÚRIA IMEDIATA INJÚRIA MEDIATA A ofensa é proferida na presença da vítima. No crime de desacato (CP, art. 331), a ofensa deve se dar na presença do funcionário público. A vítima não está presente quando a ofensa é proferida, mas toma ciência do ocorrido por intermédio de terceiro. Fica caracterizado o delito de injúria. Obs.: � 3. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, compatível com a composição civil dos danos, a transação penal e a suspensão con- dicional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 61, 74, 76 e 89). Em regra, crime de ação penal privada. � 4. O § 1º descreve duas hipóteses de perdão judicial, quando a punibilidade será decla- rada extinta (CP, art. 107, IX): (1ª) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; (2ª) no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. INJÚRIA APÓS PROVOCAÇÃO RETORSÃO IMEDIATA O legislador decidiu não punir a injúria decorrente de provocação reprovável por parte da vítima. Note que o dispositivo fala em diretamente, o que faz com que se conclua que a provocação deve ser na presença de quem profere a ofensa. A retorsão imediata é a injúria respondida com outra injúria. O perdão judicial alcança apenas quem se defende, e não quem primeiro ofendeu. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Obs.: � 5. É possível a prática do crime de injúria pelo emprego de violência ou vias de fato que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes, humilhan- tes. Basta imaginar o exemplo em que, com o objetivo de ridicularizar a vítima, e não de lesioná-la, o agente desfere leve tapa em seu rosto. A injúria real, expressão adota- da em referência ao § 2º, consiste em forma qualificada do delito, punida com pena máxima de um ano. Portanto, o delito permanece de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal (Lei n. 9.099/95, art. 61). Além da pena pelo crime de injúria, o agente também responde pela pena correspondente à violência (lesão corporal, homicídio etc.). � 6. Forma qualificada do delito, faz da injúria crime de médio potencial ofensivo – a competência deixa de ser do Juizado Especial Criminal, mas admite suspensão condi- cional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 61 e 89). O dispositivo é aplicável quando a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. INJÚRIA RACIAL (CP, ART. 140, § 3º) RACISMO (LEI N. 7.716/89) Forma qualificada do crime de injúria, deve ser reconhecida quando a ofensa tem por elemento formador característica relacionada a raça ou cor. Foi o que aconteceu com o jogador de futebol Aranha, em 2014, quando torcedores do time rival o chamaram de macaco. A ofensa deve ser dirigida a pessoa ou pessoas determinadas, o que não acontece no crime de racismo. No crime de racismo, não se trata de mera ofensa, mas de negativa de acesso a determinado direito ou oportunidade em razão de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Exemplo: recusar acesso a estabelecimento comercial, negando- se a servir, atender ou receber o cliente por ser natural de um determinado país. 2.3.4. Disposições Comuns – Crimes contra a Honra Disposições comuns Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:1 I – contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; II – contra funcionário público, em razão de suas funções; III – na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. § 1º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.2 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro § 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena.3 Obs.: � 1. O artigo 141 prevê causas de aumento aplicáveis a todos os crimes contra a honra – a calúnia, a difamação e a injúria. A pena é aumentada um terço, sem variação, quando presente hipótese listada no dispositivo. Crime contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro. Condutas criminosas praticadas contra o Chefe do Poder Executivo Federal ou contra chefe de governo estrangeiro transcendem a pessoa que ocupa o cargo. É a razão para o aumento de pena. Em relação ao Presidente da República, atenção ao disposto nos artigos 1º, 2º e 26 da Lei n. 7.170/83, a Lei de Segurança Nacional, quando a imputação por crime do Código Penal deverá ser afastada, prevalecendo a norma especial. Art. 1º. Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão: I – a integridade territorial e a soberania nacional; II – o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito; III – a pessoa dos chefes dos Poderes da União. Art. 2º Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta Lei: I – a motivação e os objetivos do agente;II – a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior. Art. 26. Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação. Pena – reclusão, de 1 a 4 anos. Contra o funcionário público, em razão de suas funções. A causa de aumento é aplicável somente quando houver relação de causalidade entre a ofensa e o exercício da função pública. Se relacionada à vida particular do ofendido, a pena não deve ser aumentada. A respeito do tema, atenção à Súmula 714 do STF, que trata sobre a ação penal quando praticado crime contra a honra de funcionário público: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. Na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. A pena é aumentada quando o crime contra a honra for praticado na presença de várias pessoas, ampliando o potencial lesivo da conduta. A pena também será aumentada quando utilizado meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. Contra pessoa maior de sessenta anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. A pena é aumentada quando praticado crime contra a honra contra pessoa maior de sessenta anos (leia-se, a partir de sessenta) ou portadora de deficiência, salvo no caso de injúria. O porquê da ressalva: o artigo 140, § 3º, que qualifica o delito nessas duas situações. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Obs.: � 2. A pena da calúnia, da difamação ou da injúria é aumentada em dobro quando prati- cado o delito mediante paga (recebimento anterior à conduta) ou promessa de recom- pensa (recebimento posterior). Em observância ao teor da redação do dispositivo, a causa de aumento é aplicável a quem pratica o delito, mas não a quem pagou ou pro- meteu a recompensa. � 3. Essa nova causa de aumento foi adicionada ao Código Penal pela Lei n. 13.964/19, o Pacote Anticrime. Inicialmente, o dispositivo havia sido vetado pelo Presidente da República. No entanto, houve a derrubada do veto pelo Congresso Nacional. Atualmen- te, o § 2º do artigo 141 do CP está em vigor, fazendo com que a pena seja aplicada em triplo quando o crime contra a honra for cometido ou divulgado em quais modalida- des das redes sociais da rede mundial de computadores (ex.: Instagram, Twitter etc.). Essa majorante é modalidade especial daquela prevista no inciso III (meio que facilite a divulgação). Exclusão do crime Art. 142. Não constituem injúria ou difamação punível:1 I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II – a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívo- ca a intenção de injuriar ou difamar; III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.2 Obs.: � 1. O dispositivo traz hipóteses de exclusão do delito na injúria e na difamação, não apli- cáveis à calúnia. A decisão do legislador em trazer a exceção se deu, provavelmente, em razão do interesse público em apurar a prática de crimes. A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador. O inciso I busca assegurar a imunidade judiciária das partes em suas alegações em juízo. Na discussão de uma causa, é aceitável que, ao sustentar alguma tese, as partes imputem fato desonroso ou se ofendam mutuamente. Todavia, para que seja reconhecida a excludente da ilicitude, tem de existir relação de causalidade entre a ofensa e o exercício da defesa. A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar Não se pode tolher o direito de criticar produção literária, artística ou científica de forma desfavorável, desde que, é claro, não sirva como meio para quem busca injuriar ou difamar alguém. O dispositivo preserva a liberdade de expressão quando empregada de forma honesta. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Em algumas atribuições, o funcionário público pode se ver obrigado, no exercício das funções, a difamar ou injuriar alguém. Basta imaginar o exemplo do oficial de justiça que, em sua certidão, relata que o destinatário de um mandado estava, no momento da diligência, embriagado, ou o membro do Ministério Público que, ao oferecer denúncia, afirma que o réu é ladrão. É obvio, a exclusão da ilicitude é aplicável somente quando a conduta for praticada no contexto do exercício da função pública. Obs.: � 2. A excludente da ilicitude não se estende a terceiros. Portanto, responde pela difama- ção ou injúria quem, ao tomar ciência da certidão do oficial de justiça (último exemplo), dá publicidade ao fato ou à ofensa. Retratação Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difa- mação, fica isento de pena.1 Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.2 Obs.: � 1. Ocorre a retratação quando, antes da sentença, o agente admite estar equivocado a respeito do fato imputado ao querelante (vítima). Não é possível na injúria, afinal, não há como se retratar de mera ofensa, quando já atingida a honra subjetiva. Trata-se de causa de extinção da punibilidade, nos termos do artigo 107, VI, do CP. RENÚNCIA RETRATAÇÃO Ambas são causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, V e VI). A renúncia é unilateral e extraprocessual. Antes de recebida a queixa-crime, o querelante pode renunciar, expressa ou tacitamente, ao direito de propor ação penal contra o sujeito ativo (querelado). Na calúnia e na difamação, oferecida a queixa- crime, mas antes de proferida sentença, o querelado pode se retratar do fato atribuído ao querelante. Nos crimes de competência originária dos tribunais, a retratação deve ser anterior ao acórdão. Obs.: � 2. Se assim desejar o ofendido (querelante), a retratação deve se dar no mesmo meio utilizado para a prática do crime, quando cometido por meio de comunicação (jornal, televisão etc.). Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo1-2-3. Aquele que se recusa a dá-las ou, a cri- tério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa4. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.brhttps://www.grancursosonline.com.br 25 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Obs.: � 1. É possível exigir, em juízo, que alguém explique declaração feita, caso exista dúvida sobre a ocorrência de crime contra a honra. O requerimento também é possível quando não se sabe ao certo quem foi a vítima. Exemplo: afirmar que uma determinada empre- sa não tem sucesso porque há um sócio passando a mão nos lucros, mas sem definir a qual deles a imputação faz referência. � 2. O procedimento não é condição de procedibilidade para o oferecimento de queixa- -crime pela prática de crime contra a honra. Portanto, é facultativo. Evidentemente, o requerimento deve ser feito antes do oferecimento da queixa-crime, afinal, não faria sentido sua propositura quando existe ação penal em trâmite para aferir o que, de fato, aconteceu. � 3. O juiz não julga as explicações. Não há tentativa de conciliação ou produção de provas, afinal, não se trata de ação penal pela prática de delito contra a honra, mas de simples pedido de explicação. � 4. O juiz não profere sentença de mérito ao final do procedimento, que tem por único objetivo oportunizar a manifestação do possível autor de crime contra a honra. No entanto, na hipótese de recusa em explicar, o dispositivo afirma que o requerido res- ponde pela ofensa. Isso não significa, contudo, que haverá a condenação, se ajuizada queixa-crime. Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código.1 Obs.: � 1. Em regra, os crimes contra a honra são de ação penal privada. As exceções estão dispostas no artigo 145, caput e parágrafo único. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA REGRA Ação penal privada na calúnia, na difamação e na injúria. Portanto, depende do oferecimento de queixa-crime, pela vítima ou por quem a represente (CPP, art. 30), para que tenha início a persecução penal contra o ofensor. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA EXCEÇÕES 1. Ação penal pública incondicionada Na injúria real, se da violência resulta lesão corporal (CP, art. 129). Se tiver por resultado apenas vias de fato (LCP, art. 21), a ação penal será privada. 2. Ação penal pública condicionada à representação Na injúria qualificada do artigo 140, § 3º – se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Se praticado crime contra a honra contra do Presidente da República ou de chefe de governo estrangeiro, a ação penal será pública e dependerá de representação do Ministro da Justiça. O parágrafo único do artigo 145 fala em requisição (ordem, determinação), mas a expressão deve ser interpretada como representação, afinal, não existe relação de hierarquia entre o Ministro da Justiça (e Segurança Pública) e o Ministério Público. 3. Ação penal privada e ação penal pública condicionada à representação Hipótese sui generis, é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. É o teor da Súmula 714 do STF. 2.4. Crimes ContrA A liberdAde individuAl 2.4.1. Crimes contra a Liberdade Pessoal CAPÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL SEÇÃO I DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL CAPÍTULO VI CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL SEÇÃO I CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL SEÇÃO II CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO SEÇÃO III CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA SEÇÃO IV CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Constrangimento Ilegal Constrangimento ilegal Art. 146. Constranger1 alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe ha- ver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência2, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda3-4: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.5 Aumento de pena § 1º As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.6 § 2º Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.7 § 3º Não se compreendem na disposição deste artigo:8 I – a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu repre- sentante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II – a coação exercida para impedir suicídio. Obs.: � 1. No artigo 146 do CP, o verbo constranger é utilizado no sentido de coagir, obrigar, forçar alguém a algo. CONSTRANGER COMO VERBO NUCLEAR Há delitos do Código Penal em que o constrangimento funciona como elemento constitutivo do tipo penal. Para tais hipóteses, o crime em estudo é afastado (art. 146), devendo o agente ser responsabilizado apenas pelo delito mais grave. Extorsão (CP, art. 158); Atentado contra a liberdade do trabalho (CP, art. 197); Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta (CP, art. 198); Atentado contra a liberdade de associação (CP, art. 199); Estupro (CP, art. 213); Assédio sexual (CP, art. 216-A). Obs.: � 2. São meios de execução do delito: (a) a violência; (b) a grave ameaça; (c) qualquer meio que reduza a capacidade de resistência da vítima (violência imprópria). VIOLÊNCIA Própria: é o emprego de força física contra o corpo da vítima (vias de fato ou lesão corporal). Imprópria: consiste em meio que inviabilize resistência da vítima. Exemplo: drogá-la. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Obs.: � 3. O criminoso constrange a vítima: (a) a não fazer o que a lei permite (ex.: transitar em determinada via); (b) a fazer o que a lei não manda (ex.: membro de facção crimi- nosa que exige dos moradores apresentação de identidade). O constrangimento ilegal afronta diretamente o artigo 5º, II, da CF: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. � 4. Crime material, consuma-se quando a vítima faz ou deixa de fazer algo em virtu- de da coação empregada pelo agente. A tentativa é possível: basta que a vítima não cumpra a imposição do criminoso. � 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. A pena deve ser aplicada caso não fique caracterizado crime mais grave (subsidiarieda- de tácita).A multa é pena alternativa, não cumulativa (ou), exceto na hipótese do § 1º. � 6. Causa de aumento de pena aplicável para a execução do delito: (a) se reúnem mais de três pessoas; (b) há emprego de arma. CONSTRANGIMENTO ILEGAL – Aumento de Pena Concurso de mais de três pessoas A majorante é aplicável quando o crime for cometido por, no mínimo, quatro pessoas. O número coincide com aquele exigido, no passado, para a existência de uma quadrilha (CP, art. 288). Emprego de arma O dispositivo não especifica se a arma é de fogo ou branca, própria ou imprópria. Portanto, a causa de aumento de pena deve ser aplicável em todas as hipóteses, seja qual for a arma (faca, bastão, arma de fogo etc.). A incidência da causa de aumento tem duas consequências: 1. A multa é aplicada cumulativamente à pena privativa de liberdade; 2. A pena privativa de liberdade é aplicada em dobro. Obs.: � 7. O § 2º estabelece situação de concurso material obrigatório, quando o agente res- ponderá tanto pelo constrangimento ilegal quanto pela lesão corporal (CP, art. 129). � 8. Há divergência quanto à natureza jurídica do § 3º. Uns entendem que a tipicidade é excluída. Outros, contudo, sustentam ser causa especial de exclusão da ilicitude. Em concursos públicos, as bancas não podem exigir uma ou outra como correta. CONSTRANGIMENTO ILEGAL – EXCLUSÃO DO CRIME Intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida. A excludente envolve o clássico exemplo da testemunha de jeová que se recusa à transfusão de sangue, quando o médico, mesmo contra a vontade do paciente, realiza o procedimento para salvar-lhe a vida. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro CONSTRANGIMENTO ILEGAL – EXCLUSÃO DO CRIME Coação exercida para impedir suicídio. Naturalmente, não pratica o delito de constrangimento ilegal quem intervém para evitar que alguém tire a própria vida, ainda que o suicídio não seja crime – não confunda com o delito do artigo 122 do CP, que tipifica a participação em suicídio. Ameaça Ameaça Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:1-2-3 Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.4-5 Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.6 Obs.: � 1. O delito consiste em atemorizar a vítima, fazendo-a acreditar que sofrerá mal injusto e grave. O mal injusto não precisa ser, necessariamente, ilícito. Basta que não exista um justo motivo para que a vítima o suporte. O mal prometido deve ser grave, capaz de provocar sérios danos. Evidentemente, deve ser algo verossímil, que o agente real- mente possa cumprir. � 2. Crime de forma livre, admite qualquer meio de execução, inclusive gestos – por exemplo, simular arma de fogo com a mão, dando a entender que efetuará disparos contra a vítima. � 3. Crime formal, a consumação independe de efetiva intimidação. Basta que a vítima tome conhecimento. A tentativa é possível, desde que a ameaça não seja verbal. � 4. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal. É compatível com os institutos de não aplicação de pena da Lei n. 9.099/95 (arts. 74, 76 e 89). � 5. Delito de subsidiariedade tácita, a pena é aplicável quando a ameaça não for empre- gada para a prática de crime mais grave (roubo, extorsão, estupro etc.). � 6. Crime de ação penal pública condicionada à representação, ainda que praticado contra mulher em contexto de violência doméstica e familiar (Lei n. 11.340/06). A Súmula 542 do STJ é aplicada apenas na hipótese de lesão corporal leve ou lesão cor- poral culposa (CP, art. 129, caput e § 6º). Perseguição Perseguição1-2 Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a in- tegridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.3-4 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.5 § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:6 I – contra criança, adolescente ou idoso; II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.7 § 3º Somente se procede mediante representação.8 Obs.: � 1. Artigo adicionado ao Código Penal por meio da Lei n. 14.132, em vigor desde o dia 1º de abril de 2021. Por se tratar de novatio legis incriminadora, não retroage a fatos anteriores. A nova lei revogou a contravenção de molestamento (LCP, art. 65). � 2. A conduta é conhecida em inglês por stalking, expressão também popular em nosso país. O legislador optou por palavra do vernáculo. � 3. O crime consiste em perseguir alguém, de forma habitual (reiteradamente). Pode ser praticado por qualquer meio (forma livre), até mesmo pela internet. A perseguição deve se dar no contexto de, pelo menos, uma das seguintes condutas: (a) ameaçando a integridade física ou psicológica da vítima; (b) restringindo a capacidade de locomo- ção da vítima; ou (c) invadindo ou perturbando, de qualquer forma, a esfera de liberda- de ou privacidade da vítima. � 4. Por se tratar de crime habitual, cuja existência depende da reiteração da conduta, não admite tentativa. � 5. Crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, salvo se presente causa de aumento de pena do § 1º. � 6. A pena do crime de perseguição é aumentada de metade quando: (a) praticado contra criança, adolescente ou idoso; (b) praticado contra mulher por razões da condi- ção de sexo feminino, nos termos do artigo 121, § 2º-A, do CP, que trata do feminicídio; (c) mediante o concurso de duas ou mais pessoas; ou (d) com o emprego de arma (própria, imprópria, de fogo ou branca). � 7. O § 2º impõe o concurso material obrigatório de crimes quando houver emprego de violência (lesão corporal, homicídio etc.). � 8. Crime de ação penal pública condicionada à representação, ainda que praticado em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei n. 11.340/06). Sequestro e Cárcere Privado Sequestro e cárcere privado Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: 1-2-3 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Romenia - 00894469410, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 119www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa – Parte II DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Pena – reclusão, de um a três anos.4 § 1º A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:5 I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; II – se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III – se a privação da liberdade dura
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