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Técnicas Retrospectivas - EAD (1)

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TÉCNICAS RETROSPECTIVAS
PROF.A MA. LAÍS HANSON ALBERTO LIMA
Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica:
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD:
Prof.a Dra. Gisele Caroline 
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Camila Adão barbosa
Camila Cristiane Moreschi
Fernando Sachetti Bomfim
Patrícia Garcia Costa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Cristiane Alves
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não 
vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, 
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica 
e profissional, refletindo diretamente em nossa 
vida pessoal e em nossas relações com a socie-
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente 
e busca por tecnologia, informação e conheci-
mento advindos de profissionais que possuam 
novas habilidades para liderança e sobrevivên-
cia no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino 
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de 
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes 
atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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UNIDADE
01
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................4
1. O QUE É PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL ..................................................................................................5
1.1 CONCEITOS DO PATRIMÔNIO: BENS CULTURAIS MATERIAIS E IMATERIAIS ..............................................5
1.2 LEGISLAÇÃO PATRIMONIAL: FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL ...............................................................6
1.3 O TOMBAMENTO DE BENS CULTURAIS ............................................................................................................8
1.4 O INVENTÁRIO DE BENS COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO ........................................................... 11
1.4.1 AS ETAPAS DO INVENTÁRIO: LEVANTAMENTOS CADASTRAL, HISTÓRICO, FÍSICO, FOTOGRÁFICO E 
ENTREVISTA ..............................................................................................................................................................13
1.5 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E PROGRAMAS DE INCENTIVO À PRESERVAÇÃO.............................................13
1.6 COMO PRESERVAR O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO ..................................................................................14
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................15
PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL
PROF.A MA. LAÍS HANSON ALBERTO LIMA
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
TÉCNICAS RETROSPECTIVAS 
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INTRODUÇÃO
O patrimônio arquitetônico abrange a produção do espaço em duas dimensões, no 
passado e no presente. Enquanto testemunho histórico, é capaz de transmitir a con� guração 
espacial, em diferentes escalas, que existiu em determinada época, contribuindo para o estudo da 
história das cidades.
Atualmente, devido às transformações que ocorrem na malha urbana, preservar 
monumentos antigos contribui para a diversidade de estilos, para quebrar a hegemonia da 
inovação estética buscada pela arquitetura contemporânea. O papel do patrimônio edi� cado 
é transmitir a história de um passado materializada nessas construções. Para entender nossas 
cidades e nelas construir novos edifícios, redesenhar espaços e, principalmente, intervir em 
edifícios antigos, precisamos aprender sobre o nosso patrimônio histórico-cultural arquitetônico. 
Quando pensamos no signi� cado da palavra patrimônio, sem as demais colocações, 
associando patrimônio ao que é nosso, é comum nos referirmos aos bens que nos pertencem 
e que deixaremos como herança para nossas famílias. O patrimônio histórico-cultural não está 
longe desta de� nição do que nos pertence e do que deixaremos de legado. O patrimônio que 
associamos aos bens históricos e culturais tem como função preservar a memória identi� cada 
como coletiva do passado e do presente para o futuro. 
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1. O QUE É PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL
Antes de revisarmos historicamente a ampliação do que foi sendo considerado como 
patrimônio, é preciso re� etir sobre três aspectos intrinsecamente ligados a esse conceito: cultura, 
tempo e memória. É a cultura que dita o que será entendido como patrimônio e quais valores lhe 
serão atribuídos. Quando preservamos o patrimônio, ainda que remeta a um tempo passado, é no 
tempo presente em que o reconhecemos. É para o tempo futuro que preservamos. Preservamos 
para não perder, para manter algo lembrado. Lembrar é ativar a memória individual. O patrimônio, 
enquanto bem cultural (material ou imaterial), é uma representação de uma memória coletiva. 
[...] as construções humanas também têm a tarefa de preservar o passado e nos 
permitir experimentar e compreender o continuum da cultura e da tradição. [...] 
além de nos inserir no espaço e no lugar, as paisagens e edi� cações articulam 
nossas experiências de duração do tempo entre as polaridades do passado e do 
futuro (PALLASMAA, 2018, p. 14).
Segundo Pallasmaa (2018), a arquitetura é responsável por ativar nossas relações com 
o tempo e as manifestações culturais de diferentes origens. Ainda que o campo do patrimônio 
cultural seja abrangente, focaremos nos bens materiais imóveis arquitetônicos, para entender os 
métodos e teorias que formularam as políticas e práticas de preservação patrimonial. 
1.1 Conceitos do Patrimônio: Bens Culturais Materiais e Imateriais
Ao longo da história ocidental, o conceito de patrimônio foi sendo ampliado no decorrer 
dos séculos, na medida em que os debates sobre o que preservar passaram a englobar a recuperação 
de edifícios e conjuntos históricos considerando as destruições causadas por revoluções no século 
XIX, as guerras e catástrofes, a construção da identidade nacional de países que buscavam de� nir 
sua cultura e, mais ao � nal do século XX, a necessidade de abranger tradições e costumes dos 
mais diversos grupos sociais, a � m de preservar a memória coletiva. 
Lemos (1985) de� niu uma categorização do patrimônio dividida entre recursos naturais 
(paisagens), o saber-fazer (bens imateriais) e os artefatos (bens materiais). Estudaremos, ao 
longo desta unidade, a inserção de todas as categorias no campo do patrimônio, começando 
pelos artefatos (bens materiais), em especial, os de arquitetura, havendo a necessidade de, 
posteriormente, englobar conjuntos urbanos e as paisagens naturais, para, por � m, considerar 
aspectos imateriais da cultura também dignos de preservação.
Na história da preservação do patrimônio, como veremos, os bens materiais foram os 
primeiros a serem valorizados, começando com os estudos sobre as ruínas greco-romanas, 
artefatos antigos, como esculturas, pinturas, além dos monumentos referentes às classes sociais 
dominantes, como os castelos das monarquias absolutistas, as igrejas e palácios civis. É sobre esse 
patrimônio, o arquitetônico, que iremos nos debruçar mais adiante.A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e a UNESCO, 
elaboraram, em diversas reuniões, os documentos sobre patrimônio dos diversos países do 
mundo. Após o reconhecimento das obras de arte de valor, os conjuntos de edi� cações e as 
paisagens naturais, como os sítios históricos, também passaram a incorporar a lista dos bens que 
deveriam ser protegidos pelas nações. 
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Por � m, mais recentemente, os bens de natureza imaterial foram reconhecidos como 
parte da cultura dos lugares. No Brasil, por exemplo, as festas tradicionais, como a Festa da 
Tainha em diversas cidades litorâneas, receitas de pratos típicos de determinadas regiões, modos 
de fazer, conhecidos como os “saberes”, como as panelas de barro e seu processo de produção em 
Vitória, no Espírito Santo; o jongo, a capoeira etc., passaram a fazer parte do patrimônio cultural. 
Preservar o patrimônio imaterial é tão desa� ador quanto o material. O que é intangível só pode 
ser preservado com o esforço de rememorar, de valorizar as tradições, passá-las de geração para 
geração por meio de uma educação patrimonial.
A última categoria estabelecida pela UNESCO foi a da Paisagem Cultural, um bem que 
envolve o patrimônio material e imaterial, pois abrange características físicas de determinado 
local e também as relações que se estabelecem entre o lugar e a comunidade. A paisagem cultural 
pode ser um bem que representa a história na arquitetura e na natureza, nas atividades do ser 
humano e em seu legado, reunindo valores de diferentes campos. No Brasil, o Rio de Janeiro foi 
a primeira cidade a obter o título de paisagem cultural, em 2012.
Para todas as categorias do patrimônio incidem diretrizes de preservação. As legislações 
se baseiam nessas diretrizes e deliberam sobre como devemos proteger os bens culturais.
1.2 Legislação Patrimonial: Federal, Estadual e Municipal 
Historicamente, a França foi o país pioneiro na normatização da proteção do patrimônio, 
ainda no século XVIII, quando, após a Revolução Francesa (1789), os bens da Igreja e da 
monarquia, até então absoluta, passaram a ser de domínio público, cabendo à sociedade o registro 
e a proteção desse patrimônio (CHOAY, 2006). 
Outras nações, como a Itália, também foram palco de discussões sobre a preservação de 
seus monumentos, de� nindo legislações que serviriam de base para a construção dos aspectos 
normativos e institucionais de diversos países ao longo do século XX. 
No Brasil, a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o 
IPHAN, órgão responsável por categorizar os bens e de� nir diretrizes de proteção e restauro dos 
monumentos, ocorreu no � nal da década de 1930. 
Antes de sua instituição, em 1933, a cidade de Ouro Preto (Figura 1) já fora elevada à 
categoria de monumento nacional, por sua relevância na história do Brasil, tendo sido palco da 
criação de um estilo próprio na arte, conhecido como Barroco Mineiro, e de revoluções sociais, 
como a Incon� dência Mineira, no século XVIII, que abriria caminho para a Independência do 
país. 
Figura 1 - Vista de Ouro Preto. Fonte: Bury (2007).
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A paisagem de Ouro Preto, coroada por morros e pelas torres das dezenas de igrejas 
barrocas, também foi considerada na preservação da cidade, ainda que não houvesse aparatos 
legais para a proteção de paisagens no Brasil. 
A movimentação para a instituição da legislação para a proteção do patrimônio no Brasil 
havia começado na Semana de Arte Moderna de 1922, quando artistas e literatos escreveram 
manifestos sobre a cultura brasileira. A necessidade de construir a identidade nacional culminou 
na proteção dos mais diversos bens tombados ao longo do tempo. Mário de Andrade foi um dos 
principais nomes do grupo da Semana de 22, tendo defendido a criação de um órgão de proteção, 
destacando a importância do patrimônio para a história e para a cultura moderna do Brasil. 
Em 1937, foi criado o chamado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
(SPHAN), sob direção de Rodrigo Mello Franco de Andrade, o atual IPHAN, responsável por 
identi� car, catalogar e proteger os bens da nação, por meio do Decreto-Lei nº 25, de 30 de 
novembro de 1937. Neste decreto, � cou estabelecido que patrimônio seria: 
[...] o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação 
seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da 
história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográ� co, 
bibliográ� co ou artístico (BRASIL, 1937). 
Na década de 1970, o Serviço adquiriu a nomenclatura de Diretoria de Proteção ao 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN). Como veremos mais adiante, nesse 
momento, a necessidade de delegar funções de proteção do patrimônio para os estados e 
municípios iria conferir maior desempenho na salvaguarda dos monumentos do país como um 
todo.
Posteriormente, a Constituição Federal de 1988 apresentou, no artigo 216, uma nova 
de� nição, passando a incorporar aspectos imateriais da cultura como bens a serem preservados: 
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza 
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de 
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores 
da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os 
modos de criar, fazer e viver; III - as criações cientí� cas, artísticas e tecnológicas; 
IV - as obras, objetos, documentos, edi� cações e demais espaços destinados 
às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor 
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e 
cientí� co (BRASIL, 1988).
No ano de 2003, o IPHAN passou a incorporar os bens intangíveis, conhecidos como 
imateriais, como uma categoria do patrimônio cultural. Em 2009, o IPHAN estabeleceu a 
Chancela da Paisagem Cultural, reconhecendo a importância de preservar a ambiência dos 
lugares, as relações existentes, a identidade local, entre outros valores simbólicos reconhecidos 
no patrimônio cultural. 
Para saber mais sobre a criação do SPHAN, pode-se consultar Rubino, As Fachadas da 
História: os antecedentes, a criação e os trabalhos do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional, 1937 – 1968. Campinas, SP: Instituto de Filoso� a e Ciências Humanas - UNICAMP, 
1991. Dissertação de Mestrado.
Atualmente, o IPHAN conta com um acervo abrangente de bens registrados e tombados 
como patrimônio cultural: preservamos construções do passado colonial, as tradições dos mais 
diversos povos, como os indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas, artefatos religiosos, esculturas 
e pinturas, festas etc., além das construções mais recentes, as modernas, o patrimônio ferroviário, 
industrial etc. 
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Assim como o IPHAN é responsável pela salvaguarda do nosso patrimônio nacional, 
também contamos com órgãos de proteção ao patrimônio nas esferas estaduais e municipais. 
Existem bens culturais que fazem parte de uma memória local, que não têm relevância no contexto 
nacional, mas são importantes para preservar a identidade de determinada cultura, assim como 
existem bens registrados nas três esferas, por apresentarem relevância para todos os contextos.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, encontramos bens protegidos pelo IPHAN, em 
esfera nacional, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e 
Turístico (CONDEPHAAT), na esfera estadual, e pelo Conselho Municipal de Preservação do 
Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), na esfera 
municipal.
Além dos níveis de proteção nas diferentes esferas de atuação, os procedimentos legais 
também são diversos.Existem instrumentos instituídos por leis federais que são atribuídos às 
políticas de preservação do patrimônio local, mas cada legislação tem as suas particularidades na 
forma com a qual registra e protege os bens culturais.
1.3 O Tombamento de Bens Culturais
A Revolução Francesa, no � nal do século XVIII, resultou em signi� cativas perdas de 
monumentos arquitetônicos, que representavam os poderes absolutos da nação e foram destruídos 
pelos revolucionários, por exemplo, a Catedral de Notre-Dame de Paris. Primeiramente, a 
preocupação era a de proteger os bens nacionais contra esse “vandalismo ideológico” e, para isso, 
foi criada uma comissão para estabelecer as categorias e realizar o tombamento e o inventário dos 
determinados monumentos históricos (CHOAY, 2006).
Neste momento, o olhar para a preservação dos bens arquitetônicos começaria a ser 
ampliado: 
[...] na arrancada de 1789, todos os elementos necessários a uma autêntica 
política de conservação do patrimônio monumental da França pareciam 
reunidos: criação do termo ‘monumento histórico’, cujo conceito é mais amplo, 
comparado ao de “antiguidade” [...] (CHOAY, 2006, p. 120).
Já não se tratava de preservar somente os monumentos antigos, como as igrejas 
românicas e góticas do passado francês, mas também os monumentos tidos como históricos, que 
representavam a identidade da nação moderna. Assim, deu-se início à proteção de edifícios mais 
modernos, como a Igreja La Madeleine e a Biblioteca Nacional, localizadas em Paris, construções 
do século XVIII. 
Para além da escala nacional, temos os bens reconhecidos em 
escala mundial. São bens relevantes para representar a cultura 
de uma nação. A UNESCO é responsável pela lista de patrimônios 
mundiais. No Brasil, temos uma variedade de bens culturais. 
Que tal conhecermos as riquezas que são valorizadas no nosso país? 
Recomendamos: Lista de patrimônios mundiais no Brasil - UNESCO. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=CZAlJPzK6Pw>. Acesso em: mar. 2021.
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Essa ampliação na proteção do patrimônio histórico-cultural também ocorreu quando 
surgiram as primeiras políticas de preservação no Brasil, dois séculos mais tarde. Juntamente 
com a criação do IPHAN, o instrumento legal do tombamento começou a ser utilizado após ter 
sido instituído no Decreto-Lei de 1937. O tombamento, no âmbito prático, passou a de� nir “[...] 
o momento em que um bem sai do contínuo indiferenciado em que se encontrava para fazer 
parte de uma coleção” (RUBINO, 2002, p. 8). A partir desse momento, qualquer intervenção em 
um bem arquitetônico deveria passar por análise do órgão de proteção, responsável por aprovar 
ou revogar o projeto submetido. 
No começo da atuação do IPHAN, os primeiros edifícios tombados faziam parte do 
passado colonial, como as igrejas jesuítas e os fortes construídos para proteger o território, 
denominado “patrimônio de pedra e cal”. 
Após inventariar os monumentos e determinar quais seriam tombados como patrimônio, 
os mesmos eram inscritos nos chamados Livros do Tombo.
Em 1938 foram escritos nos quatro Livros de Tombo da instituição – História, 
Belas-Artes, Artes Aplicadas, Arqueológico, Etnográ� co e Paisagístico (10) 
– 10 conjuntos, 24 edi� cações urbanas, 117 igrejas e 17 monumentos ligados à 
defesa militar. O Rio de Janeiro foi o estado onde a prática do Sphan principiou 
com maior impacto: 78 bens tombados no primeiro ano. Seguem-se a Bahia com 
50 inscrições e Minas Gerais com 22. Os 215 bens inscritos nesse primeiro ano 
distribuíram-se por Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, 
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (RUBINO, 2002, 
p. 10, grifo da autora).
Segundo Rubino (2002), o arquiteto Lúcio Costa foi uma das � guras mais atuantes desde 
a fundação do IPHAN, deixando o órgão somente no ano de 1967. O primeiro trabalho de Costa 
foi nas ruínas de São Miguel Arcanjo (Figura 2), em São Miguel das Missões, RS. O arquiteto 
� cou responsável pelo inventário do monumento, assim como pelo projeto de restauro. As ruínas 
de São Miguel estão entre os primeiros bens tombados, inscritas no Livro do Tombo de Belas 
Artes.
Figura 2 - Ig reja de São Miguel das Missões, RS. Fonte: Iphan (2014). 
Ainda em meados do século XX, também surgiu o interesse em proteger edifícios 
modernos e muitos que acabaram de ser construídos foram tombados na mesma época. O intuito 
da política de preservação do patrimônio brasileiro era a construção de uma identidade nacional 
a partir da memória coletiva. Uma das construções modernas tombada logo após sua construção 
foi a Igreja São Francisco de Assis, em Belo Horizonte, MG (Figura 3). 
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Figura 3 - Igr eja da Pampulha. Fonte: Iphan (2014).
A Igreja, projetada no começo da década de 1940, foi tombada pelo IPHAN em 1947. Isso 
porque, logo após a sua construção, o edifício já se encontrava ameaçado por falta de manutenção, 
entrando em um estado de ruína (RUBINO, 2002). O projeto de Oscar Niemeyer faz parte de 
um conjunto arquitetônico tombado também pelo IPHAN. Em 2016, o Conjunto Moderno da 
Pampulha foi reconhecido pela UNESCO como Paisagem Cultural do Patrimônio Moderno.
O tombamento, instituído como lei, ocorre por meio de processo e registro do bem 
cultural, reconhecendo seus valores patrimoniais e colocando-os sob diretrizes de preservação, 
� scalização e controle de intervenções, havendo necessidade de análise para aprovação de projetos 
de consolidação e restauração. Podem ser atribuídos níveis diferentes de tombamento, como o 
exemplo do tombamento de apenas um elemento ou mais elementos de um edifício.
A visibilidade do bem tombado deve ser garantida para que o monumento se destaque. 
Por se tratar de uma obra importante de determinado período da história, é preciso certi� car-se 
de que as novas construções não impeçam a contemplação do patrimônio cultural. Guiando-se 
nos aspectos de visibilidade e ambiência, visando à proteção da paisagem que envolve o bem 
tombado, foi determinado o conceito de área envoltória do bem tombado:
[...] sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que 
lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob 
pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto [...] (BRASIL, 1937).
A visibilidade do bem patrimonial deve ser garantida para que o monumento se destaque. 
É preciso certi� car-se de que as novas construções não impeçam a visão e a contemplação do 
patrimônio.
A discussão acerca do espaço, da paisagem que compõe e é composta por elementos, 
caracterizando a ambiência dos bens culturais, são primordiais quando são questionadas as 
formas de atuação sobre o patrimônio. As deliberações acerca desse debate são encontradas 
em diversos documentos e Cartas Patrimoniais internacionais e nacionais, como veremos na 
Unidade 3.
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1.4 O Inventário de Bens como Instrumento de Preservação
Os inventários começaram a ser utilizados também na Europa, ainda no século XVIII, e 
foram incorporados às políticas de preservação do patrimônio ao longo dos séculos seguintes. 
Devido ao contexto de transformações e destruições decorrentes de revoluções, foram criadas 
as chamadas Comissões de Artes, responsáveis por proteger os bens considerados como 
representantes da cultura europeia. 
Em 1793, na França, em meio às discussões sobre como proteger os bens nacionais, 
foi redigida a Instrução sobre a maneira de inventariar, um texto elaborado com o intuito de 
estabelecer os meios para a prática da preservação através dos registros. Na seção XI, sobre 
arquitetura, � cou determinado no artigo 1º que nos inventários:
1º [...] Indicar-se-ãoa antiguidade desses monumentos, sua situação, sua 
exposição, seu tipo de construção e de decoração. Informar-se-á se a construção 
é de pedra de cantaria, de alvenaria, ou de tijolos, se o edifício é sólido; se está 
precisando de reparos e que destinações poderia ter [...] (Instruction…, Seção 
XI, 1793 apud CHOAY, 2006, p.115).
O desafi o de consolidar as leis de proteção ao patrimônio em conjunto ao 
crescimento dinâmico e, muitas vezes, descontrolado das cidades é constante. 
Observamos em diversas cidades brasileiras casos de desvalorização do 
patrimônio em detrimento das demandas do mercado imobiliário nas disputas por 
espaços, além de outras dinâmicas que ocorrem nos usos e na ocupação, como o 
exemplo dos casos de degradação dos centros históricos. 
Ações radicais podem ocorrer por meio de processos de destombamento de 
bens isolados ou descongelamento de áreas, derrubando limites de proteção 
preestabelecidos nas diretrizes de preservação do patrimônio.
O destombamento da Catedral Matriz São Sebastião, na cidade de Presidente 
Prudente, SP, tombada em 1985 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, 
Artístico, Arqueológico e Turístico de Presidente Prudente, o CONDEPHAAT, 
ocorreu apoiado pelo Bispo diocesano, Dom Antônio Marochi em 1993, pois, 
dentre os interesses imobiliários no entorno do bem tombado, havia o interesse 
de transformar a praça onde fi ca a Catedral em um estacionamento, o que de fato 
ocorreu.
Atualmente, a partir de 2010, devido às confusões geradas pela semelhança da 
sigla com o órgão de proteção do estado de São Paulo - CONDEPHAAT -, o órgão 
municipal de Presidente Prudente passou a se chamar COMUDEPHAAT reativado 
em 2014.
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Nesse texto pioneiro sobre como inventariar os monumentos de arquitetura, foi descrita 
a importância de registrar os bens em relação às principais características, como a época à qual a 
edi� cação pertence, qual é o contexto em que ela está inserida, qual é seu estilo arquitetônico, quais 
são os elementos mais signi� cativos na sua construção, quais materiais foram utilizados, como 
se encontra o seu atual estado de conservação etc. Tais descrições, feitas a partir de inspeções, 
estudos e desenhos, eram catalogadas para criar o acervo do patrimônio nacional.
Assim como ocorrera na França, os métodos de inventário e tombamento dos bens 
culturais foram instituídos de forma conjunta no processo de preservação do patrimônio 
brasileiro. 
O inventário passou a ser um instrumento de catalogação de bens arquitetônicos, ainda 
que os arquitetos do IPHAN tivessem encontrado di� culdades em registrar as obras devido 
à extensão territorial do país. Porém, foi possível reconhecer a diversidade de bens culturais, 
da qual Mário de Andrade já falava desde a Semana de 22. Lúcio Costa também ressaltou a 
necessidade de registrar a arquitetura popular do período colonial, como veremos mais adiante, 
defendendo um:
[...] inventariamento cuidadoso e exaustivo da arquitetura civil brasileira, pouco 
conhecida até então, que deveria cobrir os mais diferentes tipos de edi� cações, 
da casa urbana à rural, examinando também as técnicas utilizadas e o próprio 
mobiliário (CASTRIOTA, 2009, p. 190).
O arquiteto, além de descrever a arquitetura colonial, desenhou muitas edi� cações para 
registrar suas principais características. Essa documentação, que Lúcio Costa denominou como 
necessária, fortaleceu a imagem do patrimônio cultural brasileiro. 
Como veremos na unidade sobre as Cartas Patrimoniais, no contexto mundial, 
principalmente a partir da década de 1960, pós-guerras, foram realizadas reuniões e estabelecidos 
documentos sobre a preservação do patrimônio das nações. Nesta época, na Europa, palco de 
muitas dessas reuniões, foi instituído o Inventário de Proteção do Patrimônio Cultural Europeu. 
A importância dos inventários foi evidenciada nas Cartas Patrimoniais, desde a Carta de 
Atenas (1931), mas também em outros documentos, como a Declaração de Amsterdã, de 1975, 
na qual o inventário foi recomendado como ação necessária para a preservação do patrimônio 
europeu.
Adotados pelo IPHAN e pelos órgãos de proteção do patrimônio nas demais esferas, os 
inventários passaram a registrar os bens culturais das mais diversas cidades. A exemplo da esfera 
estadual, o Inventário de Proteção do Acervo Cultural de Minas Gerais (IPAC-MG) foi uma 
importante documentação para a preservação do patrimônio colonial do Brasil. 
Ainda que seja uma etapa fundamental no reconhecimento e na valorização do patrimônio, 
os inventários são considerados políticas mais brandas de preservação, uma vez que fazem parte do 
diagnóstico de determinado bem, constituído de levantamentos e análises, que � cam registradas 
para pesquisas históricas, para a formulação de programas de educação patrimonial e para a 
elaboração de projetos de restauração, quando necessário. A seguir, discutiremos brevemente a 
constituição desses inventários.
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1.4.1 As etapas do inventário: levantamentos cadastral, histórico, físico, fotográfico e 
entrevista
No ano de 2000, o IPHAN instituiu o Inventário Nacional de Referência Cultural (INRC), 
a � m de dar suporte para ações de preservação, como o ato de registrar e/ou tombar os bens 
patrimoniais. O documento estabeleceu uma metodologia baseada nos estudos e na participação 
da comunidade no reconhecimento de tais bens, tanto de natureza material quanto imaterial. 
Destacamos duas categorias de inventários: de identi� cação e de proteção. Em ambas, 
é preciso registrar a localização do bem, começando pelo levantamento cadastral, auxiliado 
por ferramentas de Sistema de Informação Geográ� ca (SIG), além do levantamento histórico, 
por meio de análise de mapas e documentos antigos e do levantamento físico, que conta com 
medição, registros fotográ� cos e produção de croquis e outros esquemas de identi� cação das 
principais características. 
Além disso, a participação da comunidade nos inventários, por meio de entrevistas, 
auxilia no resgate da memória e na construção da imagem do bem cultural que se pretende 
registrar. A gravação e a transcrição dos relatos de pessoas que, eventualmente, frequentaram 
ou guardam recordações do local às vezes preenchem lacunas das informações que obtemos nos 
levantamentos. 
1.5 Educação Patrimonial e Programas de Incentivo à Preservação
De acordo com Lemos (1985, p. 26): “É dever de patriotismo preservar os recursos materiais 
e as condições ambientais em sua integridade, sendo exigidos métodos de intervenção capazes de 
respeitar o elenco de elementos componentes do Patrimônio Cultural.” O autor justi� cou que é 
preciso preservar para possibilitar o entendimento de nossas tradições, registrando e protegendo 
todos os bens considerados como patrimônio.
Dentre as primeiras ações de educação patrimonial no Brasil, destacamos a criação dos 
museus (o Museu Nacional foi criado em 1818), a realização de exposições e publicações sobre o 
patrimônio, por exemplo a Revista do Patrimônio, que começou a circular em 1938. 
Na década de 1970, foi criado o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), cujo 
objetivo era centralizar políticas de preservação e educação patrimonial no Brasil. A partir de 
então, discussões sobre propostas pedagógicas seriam avaliadas para se tornarem mais e� cazes. 
Porém, somente na década de 1980, seguindo a experiência de países como a Inglaterra, foi 
instituído o conceito de Educação Patrimonial (EP), que, segundo o IPHAN:
A negligência, reconhecida no campo da preservação de bens culturais como 
incúria, é notada desde a falta de manutenção dos bens, seu abandono e/ou em 
ações capazes de denegrir a imagem do patrimônio. Segundo Ângela R. Rodrigues 
(2017), as chamadas “ruínas da incúria” são bens tombados que, mesmo diante da 
proteção legal, faltaram medidas desalvaguarda do patrimônio, como o exemplo 
do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que foi parcialmente destruído por um 
incêndio em 2018. O incidente foi causado por falta de manutenção no edifício. 
Em casos como este, o inventário e o processo de tombamento são instrumentos 
indispensáveis para auxiliar na elaboração de um projeto de restauro do edifício. 
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[...] constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que 
têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado socialmente como recurso 
para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas 
manifestações, a � m de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e 
preservação. Considera ainda que os processos educativos devem primar pela 
construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio do diálogo 
permanente entre os agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das 
comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem 
diversas noções de Patrimônio Cultural (IPHAN, 2014, p. 19).
O principal objetivo das propostas de educação patrimonial deve ser a aproximação da 
comunidade com o patrimônio. É a partir do reconhecimento dos nossos bens culturais, que 
somos capazes de atribuir valores e nos identi� carmos, criando uma relação de pertencimento e, 
a partir de então, de cuidado com o que é nosso, a � m de preservar a memória coletiva.
O conceito de EP surgiu na reunião realizada em Petrópolis, RJ, no 1º Seminário sobre o 
Uso Educacional de Museus e Monumentos.
Já pudemos observar que os registros e o reconhecimento são passos importantes para 
a identi� cação e para a disseminação do acervo do patrimônio cultural. Já observamos que os 
órgãos de proteção contam com instrumentos legislativos, como o tombamento, para preservar o 
patrimônio arquitetônico. Mas e quanto ao restauro? Como elaborar um projeto de intervenção 
em um monumento histórico sem dani� cá-lo? Por onde começar?
1.6 Como Preservar o Patrimônio Arquitetônico
Diante de toda essa discussão sobre o patrimônio, a pergunta que cabe a nós, arquitetas 
e arquitetos restauradores, é: como preservar nossos monumentos? Sabemos que a história de 
um monumento arquitetônico envolve diversas camadas temporais e que ações de manutenção 
de um edifício ocasionam transformações em busca da conservação de sua integridade ou de 
acordo com as necessidades de adaptação para determinado uso, mas também podem modi� car 
características, adicionar e/ou suprimir elementos. 
Como veremos nas teorias do patrimônio na unidade a seguir, existem fases indispensáveis 
para fornecer as bases da investigação e dar diretrizes para um projeto de restauro que exalte 
os valores patrimoniais do monumento, em vez de prejudicar sua fruição. O primeiro passo é 
conhecer a história do lugar. Investigar os documentos referentes ao patrimônio, conhecer seu 
processo de tombamento - nele estarão especi� cados os valores do bem cultural que devem ser 
preservados; estudar sua arquitetura, seus elementos, identi� car as camadas do tempo e todas as 
patologias: danos estruturais, rachaduras, ferrugem, presença de colônia biológica, como musgos, 
líquens, presença de vegetação, umidade, alterações cromáticas, entre outras intervenções de 
origem espúria, como nos referimos à pichação, por exemplo, que é algo que não faz parte do 
patrimônio.
Em relação à história do edifício, é importante investigar para quais � ns ele foi construído 
e o que foi alterado desde então. Cada fase dessa história suprimiu e adicionou elementos de 
acordo com as necessidades e com o gosto da época. Para cada geração que acompanhou uma 
fase, a memória coletiva foi construída de uma forma. Quando optamos por restaurar um edifício, 
estamos de� nindo uma das fases e sua imagem a ser resgatada. Se optamos, então, por suprimir 
ou evidenciar parte de toda a história do edifício no projeto de restauro, precisamos investigá-la. 
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Portanto, a primeira fase para elaborar um projeto de restauro deve ser o levantamento 
documental e físico do edifício, que abrange a pesquisa histórica (bibliográ� ca, iconográ� ca, 
dentre outros tipos de fontes), as medições, os registros fotográ� cos, a representação grá� ca e, a 
partir disso, a análise da situação atual do edifício: o diagnóstico dos elementos estruturais, das 
patologias existentes, das supressões e adições e, em paralelo, a investigação teórica e legislativa 
para auxiliar no projeto de intervenção que será realizado, para, por � m, elaborar o projeto. 
A investigação das transformações ao longo da história pode trazer respostas a perguntas 
como: o que ou como restaurar? Alterações cromáticas são comuns em edifícios históricos, 
especialmente aqueles que são utilizados e seguem sendo restaurados. Porém, a cor é uma 
característica que, se bastante modi� cada, causa impactos signi� cativos na leitura de um edifício 
histórico. Para tal análise, além de documentos descritivos e registros iconográ� cos, como 
gravuras e fotogra� as, os arquitetos realizam a chamada prospecção pictórica, que consiste na 
raspagem das camadas de tinta para descobrir todas as colorações que já foram aplicadas em 
determinada superfície do edifício. 
É muito comum encontrarmos descaracterizações em relação ao projeto original, o 
importante é saber o que podemos e como devemos preservar a história e a memória do lugar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe a cada geração manter o patrimônio que nos foi passado e o que identi� camos no 
presente para o futuro. Cabe aos órgãos de proteção deliberar sobre seus valores e determinar as 
diretrizes de preservação. 
Cabe a nós, arquitetas e arquitetos restauradores, entendermos como lidar com esse 
patrimônio. Como surgiram os debates acerca da restauração do patrimônio? Quais são os 
debates atuais? Como estudar o nosso patrimônio arquitetônico brasileiro?
Nas próximas unidades, veremos todas essas questões. 
Nosso papel enquanto arquitetas e arquitetos e urbanistas, que 
se especializam na restauração do patrimônio, abrange uma 
complexidade de estudos referentes ao monumento. O artigo 
intitulado Patrimônio Arquitetônico: a importância da formação do 
profi ssional arquiteto, de Liliany Schramm da Silva Gattermann, 
Revista de Arquitetura da IMED, em 2012, discute as relações entre a 
arquitetura, a memória e os valores que precisam ser preservados. Disponível em: 
<https://seer.imed.edu.br/index.php/arqimed/article/view/378/309>. Acesso em: 
abr, 2021.
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UNIDADE
02
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 17
1. AS DIFERENTES VERTENTES DAS TEORIAS DE RESTAURO ............................................................................18
1.1 A HISTÓRIA DA CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ...........................................................................................18
1.2 AS TEORIAS DO RESTAURO ...............................................................................................................................19
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................25
TEORIAS DE RESTAURO
PROF.A MA. LAÍS HANSON ALBERTO LIMA
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
TÉCNICAS RETROSPECTIVAS 
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INTRODUÇÃO
O patrimônio arquitetônico é capaz de transmitir características do passado e nos levar a 
outros tempos. Dependendo do grau de conservação do monumento e de sua ambiência (onde 
está inserido e como se caracteriza seu entorno), pode nos transportar para outro século, como 
é o caso de algumas cidades históricasde Minas Gerais, entre outros núcleos urbanos onde 
observamos que a preservação do patrimônio não permitiu a descaracterização dos lugares de 
memória. 
Em outros casos, como os centros históricos de grandes cidades, como São Paulo, Rio 
de Janeiro, Salvador, Recife etc., construções de diferentes épocas convivem em harmonia e 
contraste, onde o antigo e o novo convivem e permitem que vejamos diferentes épocas da história 
das cidades. 
Como lidar com o patrimônio edi� cado em cada situação? Essa pergunta não tem resposta 
de� nida, mas é preciso ter embasamento nas tomadas de decisões para embasar os projetos de 
conservação e na restauração dos monumentos. 
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1. AS DIFERENTES VERTENTES DAS TEORIAS DE RESTAURO
Como veremos a seguir, as teorias do restauro surgiram na Europa, principalmente a 
partir do século XIX, com um embate entre a mínima intervenção - respeitando a passagem do 
tempo nas edi� cações, as marcas e alterações ao longo da história do edifício, - e a restauração 
dos monumentos - que buscava recuperar a integridade e a imagem de uma determinada época 
pela qual o edifício passou. 
Tais teorias acabaram por convergir em diversas outras e, a partir do século XX, 
contribuíram para debates que foram tomando proporções cada vez maiores, culminando nas 
Cartas Patrimoniais e nas legislações especí� cas de cada localidade. 
Atualmente, arquitetos e restauradores contam com várias vertentes para subsidiar suas 
intervenções nos monumentos. No patrimônio, cada caso tem suas variantes e condicionantes 
que determinam quais ações são necessárias para a preservação dos valores atribuídos ao bem 
cultural. Portanto, é nosso dever conhecer as teorias para saber com quais trabalhar nos projetos 
de intervenção nos bens tombados.
1.1 A História da Conservação do Patrimônio
No contexto europeu, primeiramente, foram valorizados os monumentos da Antiguidade 
Clássica e, posteriormente, edifícios medievais e barrocos, mais especi� camente de arquitetura 
militar e religiosa (KÜHL, 1998). A necessidade de preservar edifícios e conjuntos históricos 
começaria apenas após destruições causadas por revoluções e guerras, alterando a abrangência do 
que era considerado patrimônio, fazendo parte da construção da identidade das diversas nações. 
A história da conservação dos monumentos antigos no Ocidente se originou no 
Renascimento Cultural, na Itália, no século XV. Foi no período denominado Quattrocento que 
começaram os estudos das ruínas da Antiguidade Clássica, em Roma, quando arquitetos, como 
Leon Battista Alberti (1404-1472), discorreram sobre a arquitetura antiga e a importância de 
observá-la e explorá-la por meio de suas ruínas. 
Séculos mais tarde, o Iluminismo despertou maior interesse na conservação dos 
monumentos antigos. 
Por que estudamos as teorias? Em entrevista à Universidade 
Estadual Paulista - UNESP, a Profa. Dra. Beatriz M. Kühl (docente da 
Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo - FAU USP) 
destaca a importância em relacionar teoria e prática para conservar 
e restaurar o patrimônio arquitetônico. No vídeo Unesp em Pauta - A 
restauração de bens culturais arquitetônicos, Kühl comenta como 
as teorias serviram de base para a formulação de diretrizes e leis e continuam 
infl uenciando as vertentes do restauro. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=GSGP7wD83f8>. Acesso em: abr. 2021. 
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Com o avanço das ciências, a partir do século XVIII, além da História, surgiu a Arqueologia para 
estudar os vestígios das culturas antigas e, no decorrer deste século, foram descobertas as cidades 
de Pompéia e Herculano, na Itália, ambas pertencentes à Antiguidade Clássica, encobertas pelas 
cinzas da erupção do vulcão Vesúvio, no século I, que conservaram grande parte da forma urbana, 
da arte e das construções da época. 
Todo esse contexto de estudos dos monumentos antigos e a necessidade de reconstruir 
edifícios que estavam se arruinando � caram mais evidentes com a Revolução Francesa. Segundo 
Choay (2006, p.96), foi nesse momento em que surgiu o conceito de “monumento histórico”, 
englobando todos os edifícios relacionados a tempos passados, capazes de evocar a memória 
coletiva, que deveriam ser preservados pelos órgãos de proteção como patrimônio da nação 
francesa, que tinha o Gótico como tradição - assim como os italianos tiveram o estilo clássico da 
Antiguidade e do Renascimento e o Barroco, como artes tradicionais. 
Para além das questões de identidade nacional, que impulsionaram a seleção do 
patrimônio histórico, a Revolução Francesa e as revoluções sociais do século seguinte - a exemplo 
da chamada Primavera dos Povos, em 1848 - causaram grandes destruições. “Igrejas incendiadas, 
estátuas derrubadas ou decapitadas, castelos saqueados [...]” (CHOAY, 2006, p.95), foram alvos 
dos que lutaram contra o absolutismo da Monarquia e da Igreja e, posteriormente, contra os 
problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial, evento que também mudaria os rumos 
da conservação dos monumentos na Europa. 
As primeiras teorias do restauro e as questões sobre quando e como intervir nos edifícios 
antigos tiveram origem em meados do século XIX. 
1.2 As Teorias do Restauro
As discussões sobre a restauração dos monumentos têm como ponto de partida a 
França do século XIX e o arquiteto de destaque foi Viollet-le-Duc (1814-1879), que de� niu seu 
vocabulário de arquitetura no Dictionnaire raisonnée de l’architecture française du XI au XVI
siècle, de 1854. Na publicação, Viollet-le-Duc de� niu restauro como o ato de intervir em uma 
edi� cação histórica baseado em estudos estéticos e formais a � m de completá-la. “Restaurar um 
edifício não é somente o manter, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo a um estado completo 
que pode jamais ter existido em um dado momento” (VIOLLET-LE-DUC, 2019, p. 29). 
Todo ato de restauro insere algo novo no edifício, novos materiais, novas técnicas 
construtivas, ainda que exista o gosto de conservar a imagem de uma determinada fase da história. 
Mas Viollet-le-Duc (2019), embora tido como um arquiteto restaurador que buscava o estado 
“original” da obra a todo custo, defendia intervenções por meio de acréscimos necessários ao 
completamento da obra e, por vezes, a inserção de elementos do seu tempo presente, consciente 
de que qualquer ato de restauro não seria capaz de refazer o estado inicial da obra, tido como 
“original”.
É possível notar a visão consciente de Viollet-le-Duc no discurso sobre o projeto 
de restauro de um dos edifícios mais emblemáticos da história ocidental da 
arquitetura, a Catedral de Notre-Dame (Figura 1). Localizada em Paris, sua 
história começou na Idade Média, entre os séculos X e XIII. A Catedral passou 
por transformações ao longo dos séculos seguintes e destruições causadas pelo 
tempo e pela Revolução Francesa (1789), chegando ao século XIX necessitando 
de um restauro. 
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O termo “restauro estilístico” foi cunhado para exaltar intervenções fundamentadas na 
estética, no resgate de um estilo, como foi tachado Viollet-le-Duc, porém, o arquiteto também se 
fundamentava em estudos documentais e cientí� cos: 
[...] ele acreditava na ciência, na racionalidade e no emprego de métodos 
cientí� cos, [...] documentava os edifícios antes da intervenção e detalhava 
todos os procedimentos empregados na obra, através de relatórios e desenhos. 
Preconizava, igualmente, a técnica da nascente fotogra� a como auxiliar poderoso 
da restauração, [...] assim como o emprego de materiais modernos e� cientes, 
para evitar que os testemunhos da nossa memória desaparecessem (OLIVEIRA, 
2014, p. 29).
Figura 1 - Catedral de Notre-Dame. Fonte: Janson e Janson (2009).
Além de Viollet-le-Duc, o arquiteto Jean BaptisteAntoine Lassus também foi um 
dos responsáveis pelo projeto de restauro da Catedral. No Relatório de 1843 para 
o projeto, Lauss e Viollet-le-Duc relataram o perigo das intervenções em edifícios 
antigos que poderiam descaracterizá-los: “[...] seríamos os primeiros a dizer-lhe 
que uma restauração pode ser mais desastrosa para um monumento do que as 
destruições dos séculos e as fúrias populares” (OLIVEIRA, 2014, p. 53), o que 
demonstra que os arquitetos tinham a consciência das consequências do restauro 
que buscasse refazer o estilo “original” (KÜHL, 1998). 
O que Viollet-le-Duc propôs para o caso da Catedral foi reconstruir um dos 
elementos mais marcantes do edifício: a fl echa que fi cava na cobertura, mesmo 
sem ter documentos ou registros iconográfi cos sufi cientes para que tal ação se 
embasasse.
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Enquanto na França a discussão girava em torno dos restauros, na Inglaterra, também 
em meados do século XIX, surgiu uma � gura importante, que travou embates na preservação 
do patrimônio no início do século XX. John Ruskin (1819-1900), crítico de arte, escreveu o 
livro As Sete Lâmpadas da Arquitetura, publicado em 1849, no qual defendeu a conservação dos 
monumentos e paisagens.
O contexto histórico era de efeitos da primeira Revolução Industrial em cidades inglesas 
como Londres, Manchester e Liverpool: grandes transformações na paisagem, decorrente das 
novas técnicas construtivas, dos novos materiais e das novas necessidades da cidade industrial e 
o inchaço populacional somado à falta ou à má qualidade de infraestrutura e moradia nos centros 
urbanos. 
A Lâmpada da Memória é o sexto capítulo traduzido por Beatriz M. Kühl (2008), no qual 
John Ruskin discutiu a importância da preservação da arquitetura para a memória:
[...] a Arquitetura deve ser considerada por nós com a maior seriedade. Nós 
podemos viver sem ela, e orar sem ela, mas não podemos rememorar sem ela. 
Como é fria toda a história, como é sem vida toda fantasia, comparada àquilo 
que a nação viva escreve, e o mármore incorruptível ostenta! (RUSKIN, 2008, 
p. 54).
Ruskin destacou o valor de antiguidade de um edifício como mais caro aos olhos do que 
os valores estéticos - apontados como dignos de restauração por Viollet-le-Duc. Logo, as marcas 
do tempo, como o dourado das manchas nas superfícies, a chamada “pátina”, também seriam 
aspectos dignos de preservação. A defesa de Ruskin era pela mínima intervenção nos edifícios 
antigos, pois estes não eram nossos e não cabia a nós alterá-los, somente o tempo. Restaurar um 
edifício apagando as marcas do tempo era um atentado ao seu valor de antiguidade. A visão 
conservativa de Ruskin foi ainda mais enfática com relação às ruínas. 
Ainda no � nal do século XIX, na Itália, Boito (1836-1914) foi o responsável por 
condensar os dois pontos de visão tidos como con� itantes: o do restaurador, de Viollet-le-Duc, 
e o conservador, de Ruskin. Boito defendeu o valor documental dos edifícios antigos ao realizar 
um discurso em uma conferência em Turim, na Itália, no ano de 1884, que foi transformado em 
livro. Nele o autor chamou atenção para o grupo dos restauradores:
[...] mas uma coisa é conservar, outra é restaurar, ou melhor, com muita 
frequência uma é o contrário da outra; e o meu discurso é dirigido não aos 
conservadores, homens necessários e beneméritos, mas sim, aos restauradores, 
homens quase sempre supér� uos e perigosos (BOITO, 2003, p. 37).
Boito (2003) referiu-se aos restauradores como homens “perigosos”, porque acreditava 
que as restaurações (consideradas “em estilo”) eram danosas ao monumento. O arquiteto discutiu 
veemente o que chamou de “falso histórico”: apagar as marcas do tempo, como a pátina, retirar 
acréscimos de estilos diferentes do que era tido como o “original”, seria como negar a história do 
edifício e as fases pelas quais ele passou. 
Quando houvesse a necessidade de restaurar, Boito (2003) recomendou que as intervenções 
fossem feitas utilizando materiais distintos dos originais, para que pudessem ser reconhecidos 
como adições contemporâneas: “é necessário que os completamentos, se indispensáveis, e 
as adições, se não podem ser evitadas, demonstrem não ser obras antigas, mas obras de hoje” 
(BOITO, 2003, p. 60). A vertente de Boito se baseou na preservação do valor documental das 
obras, denominado como restauro “� lológico”. 
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O início do século XX � cou marcado por um dos nomes mais importantes no campo 
do patrimônio, o austríaco Alöis Riegl (1858-1905), historiador e presidente da Comissão de 
Monumentos Históricos no ano de 1902. Mais precisamente em 1903, foi publicado O Culto 
Moderno dos Monumentos, no qual Riegl discorreu sobre os valores atribuídos aos monumentos 
antigos, sendo estes divididos em duas categorias: os valores de memória e os valores de atualidade. 
Na primeira categoria, dos valores de memória, Riegl apresentou os valores de antiguidade, 
histórico e o que ele denomina como “volível de memória”, ou seja, monumentos que representam 
e ativam a memória, ainda que não sejam antigos ou de valor histórico (RIGEL, 2014). 
Trazendo a valoração dos monumentos para o patrimônio arquitetônico, temos que o 
valor de antiguidade é reconhecido pelo tempo no edifício, sobre o qual Ruskin discorreu. É o 
valor presente nas ruínas e carrega traços e características de “vetustez”, que de� nem sua imagem 
de antigo. O valor histórico é aquele em que o monumento representa um evento, está associado a 
alguma � gura importante, foi palco de algum acontecimento e/ou representa determinada época, 
sendo passível de restauração, pois deve conservar a história através da imagem do edifício. Por 
� m, o próprio valor de memória como aquele pelo qual o monumento deveria ser encarado 
como algo que deve estar presente e conservado para despertar a memória, sendo necessário, 
assim como no valor histórico, realizar restauros. 
Já na segunda categoria, dentro dos valores de atualidade estão contidos os valores de 
uso e o valor de arte, sendo este último subdividido em valor de novidade e valor de arte relativo. 
O valor de uso dos edifícios é passível de restauros e adaptações, para que exerçam suas 
determinadas funções. O valor de arte está ligado à imagem: o de novidade diz respeito ao gosto 
pelo novo, que Riegl disse ser mais apreciado (em relação ao valor de antiguidade, seu oposto) e 
o de arte relativo, que diz respeito à estética, ao resgate do estilo (e tendia a resultar nos restauros 
estilísticos, bastante comuns na Europa no começo do século XX).
É preciso dar destaque, também, à � gura do engenheiro e arquiteto Gustavo Giovannoni 
(1873-1947) que, na Itália, chamou a atenção para a preservação não somente de monumentos 
isolados, mas de conjuntos arquitetônicos, visto a importância da construção da paisagem urbana 
para a memória coletiva, diante das transformações ocorridas nas cidades nas últimas décadas.
O contexto de Giovannoni era a Itália em meio à Primeira Guerra Mundial e no período 
entreguerras, que provocou uma rápida transformação nas cidades. Sobre essas transformações 
diante dos monumentos antigos, Gustavo Giovannoni foi adepto de intervenções pautadas nas 
teorias de Boito (2003), fundando o chamado restauro “cientí� co”. 
O artigo intitulado Camillo Boito, o teórico moderado do restauro, 
de Pedro Silveira Camara, Gabriela dos Santos Paiva e Sofi a 
Carderelli Rosa e Silva, de 2020, publicado na Resenha Online 
da revista eletrônica Vitruvius, apresenta um breve texto em 
que situa o contexto anterior - do embate entre as teorias de 
Ruskin e Viollet-le-Duc - e traz pontos importantes do livro Os 
Restauradores. Disponível em: <https://vitruvius.com.br/revistas/
read/resenhasonline/19.218/7636>. Acesso em: abr. 2021.
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Como forma de conservação da ambiência dos monumentos e dos centros antigos, 
de acordo com Kühl (1998, p. 137), Giovannoni desenvolveu a teoria do “desbastamento” 
(diradamento, em italiano): havendo a necessidade de abrir espaço nas cidades para dar lugar 
a novas construções ou novos desenhos urbanos, era preciso fazer um estudo das condições do 
conjunto em questão, para viabilizar a demolição de edi� cações que não tenham valor histórico 
e/ou estético, em relação a outros monumentos relevantes, visando à liberação do espaço em 
busca de melhores condições de salubridade, conforto e circulação nos centros. 
Choay (2006) a� rma, que a “[...] teoria de Giovannoni antecipa, de forma simultaneamente 
mais simples e mais complexa, as diversas políticas das ‘áreas protegidas’ que foram desenvolvidas 
e aplicadas na Europa a partir de 1960” (CHOAY, 2006, p. 203, aspas da autora). O cenário de 
destruição após a Segunda Guerra Mundial contribuiu para os questionamentos quanto às ações 
preservativas, além de apresentar um quadro muito extenso de áreas afetadas pelos con� itos, que 
impulsionou o reconhecimento do patrimônio urbano. 
Após a metade do século XX, outro italiano, Brandi (1906-1988), contribuiu para o debate 
sobre o patrimônio, tendo participado da redação da Carta de Veneza (1964), como veremos 
mais adiante. Brandi (2014, p. 30) de� niu que: “a restauração constitui o momento metodológico 
do reconhecimento da obra de arte, na sua consciência física e na sua dúplice polaridade estética 
e histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro.” 
O autor da Teoria da Restauração, publicada em 1963, a� rmou a importância dos estudos 
da documentação histórica e das análises baseadas nos valores estético e histórico, para, então, 
de� nir as intervenções nas obras de arte:
[...] a restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra 
de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso 
histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo 
(BRANDI, 2014, p. 33).
Brandi defendeu o restauro dos monumentos sem apagar as camadas do tempo e a� rmou 
que a restauração da matéria não deveria ser entendida como uma busca pela imagem da obra 
no momento de sua criação, denominado “estado original”, e sim considerar a originalidade do 
patrimônio formada por todas as transformações pelas quais o monumento passou. O arquiteto 
italiano se aprofundou na fenomenologia e se debruçou sobre valores subjetivos inerentes ao 
patrimônio. 
Sua teoria se consagrou como a vertente do restauro crítico. Brandi tratou de vários 
princípios, aplicados em relação à integridade da unidade potencial da obra. Sobre os 
completamentos das lacunas, a� rmou que “[...] o mais grave, em relação à obra de arte, nem é tanto 
aquilo que falta, quanto o que se insere de modo indevido” (BRANDI, 2014, p. 49). Demonstrou 
preocupação em relação à ambiência dos monumentos e em reconhecer as diferentes camadas 
adicionadas pelo tempo, tanto do ponto de vista histórico quanto estético. 
Brandi redigiu a Carta de Restauração em 1972, publicada em seu livro. Embora não 
tenha se tornado lei, integra o escopo de documentos com diretrizes de preservação utilizados 
nas políticas patrimoniais. Nas Instruções para a Condução das Restaurações Arquitetônicas, 
alertou: “[...] recorda-se, ainda, a necessidade de considerar todas as operações de restauro sob 
um per� l substancialmente conservativo, respeitando os elementos acrescidos e evitando, de 
qualquer modo, intervenções inovadoras ou de repristinação” (BRANDI, 2014, p. 242).
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Nas discussões do � nal do século XX, Choay (2006) apresentou o valor nacional, que 
surgiu com grande força principalmente por meio da busca de identidade das nações em 
meio às revoluções e reformulações políticas e socioeconômicas, despertando o sentimento de 
pertencimento em relação ao patrimônio – a exemplo do Brasil, na década de 1930, com a criação 
do IPHAN, como já vimos na unidade anterior – e o valor econômico, ao relacionar patrimônio 
às atividades do turismo, que despertam o interesse do público no patrimônio. 
Em relação aos valores de atualidade, acrescentado o valor econômico ou turístico 
(CHOAY, 2006) ao valor de uso e de arte (RIEGL, 2014), as ações de restauro do patrimônio 
tendem a ser direcionadas para a recuperação de determinada imagem do monumento, 
apagando traços do tempo, sujeitas a cair no perigo do falso histórico (BOITO, 2003), além das 
necessárias adaptações, inserindo elementos contemporâneos para facilitar a leitura e a utilização 
do patrimônio.
Na discussão mais atual sobre patrimônio, Viñas escreveu em Teoría Contemporánea de 
la Restauración (2003, p. 117): “um objeto de Restauração é um palimpsesto” e a� rmou que, 
dentre as diferentes camadas adicionadas ao longo do tempo, nas ações de restauro se elege uma 
delas em detrimento de outras para tomar como a imagem a ser recuperada. 
Viñas (2003) traz uma re� exão pautada na revisão dos conceitos explorados pelos 
teóricos do patrimônio entre os séculos XIX e XX, destacando a importância de encararmos um 
monumento no tempo presente, pois é nele que reconhecemos os valores que lhes são atribuídos, 
quais elementos devemos preservar e de que forma. 
Atualmente, a inserção de novos elementos de estilos contemporâneos é veemente 
discutida, como forma de preservação do patrimônio, em que interlocuções entre passado 
e presente são trabalhadas em relações de harmonia e contraste. Tal questão ganhou mais 
espaço a partir do reconhecimento do patrimônio industrial. Ao longo do século XX, muitas 
transformações, especialmente com a era tecnológica, resultaram no abandono de pequenas 
fábricas e grandes estruturas industriais e de infraestruturas, como as linhas férreas, gerando 
espaços degradados, sem função e com grande potencial para exploração como parte da história 
das atividades humanas. 
Dentre as possíveis ações de preservação do patrimônio, quando falamos dos 
monumentos do passado (seja este antigo ou recente), precisamos optar por 
manter como está, restaurar como era em determinado momento e/ou propor 
novas adições. Intervenções baseadas em relacionar o antigo e o novo são 
comuns em práticas de preservação do patrimônio, como vemos em projetos 
emblemáticos de restauro: a Pinacoteca de São Paulo, SP, de Paulo Mendes da 
Rocha, o SESC Pompéia, de Lina Bo Bardi, também na capital paulista, ou o Museu 
Rodin, em Salvador, BA, de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. 
Atualmente, temos como patrimônio mais recente o industrial. Podemos observar 
o projeto de Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta ítalo-brasileira, para o SESC 
Fábrica Pompéia, em São Paulo (Figura 2), na década de 1980, que trouxe questões 
voltadas à preservação do patrimônio e da identidade local, além das necessidades 
contemporâneas para o uso da antiga Fábrica Nacional de Tambores Ltda, que 
funcionou até o ano de 1939. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos observar vertentes de conservação e restauração dos monumentos arquitetônicos 
dos mais diversos pensamentos: não intervir, intervir minimamente apenas para consolidar, 
restaurar “como era”, restaurar destacando que as adições são contemporâneas, construir novos 
elementos etc. 
Ao longo da história do patrimônio, as teorias passaram a abranger o escopo cada vez 
maior dos bens culturais, como o exemplo da proteção da ambiência dos lugares, deixando 
de considerar o bem de forma isolada. Como veremos na próxima unidade, essa abrangência 
aconteceu nos debates sobre o patrimônio entre as mais diversas nações.
Figura 2 - SESC Pompéia. Fonte: Revista Projeto (2020).
Lina, enquanto esteve na Itália, foi aluna de Gustavo Giovannoni na Universidade 
de Roma. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1947, a arquiteta mudou-separa o 
Brasil. Depois de já ter projetado o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e projetos 
de restauro, como o Solar do Unhão, em Salvador, BA, Lina foi convidada para 
assumir o projeto de restauro dos galpões da fábrica, que já era utilizado pelo 
SESC. Além de recuperar o patrimônio industrial ao restaurar os galpões no estilo 
inglês, de tijolos, ferro e vidro, a arquiteta projetou uma nova edifi cação, com dois 
blocos de concreto em estilo moderno. Esse projeto foi considerado um dos mais 
assertivos na recuperação da memória industrial e na consolidação de um novo 
espaço que proporcionou valores econômicos ao local.
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UNIDADE
03
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................27
1. O CONTEXTO DAS CARTAS PATRIMONIAIS .......................................................................................................28
1.1 AS CARTAS PATRIMONIAIS INTERNACIONAIS ................................................................................................28
1.2 AS CARTAS PATRIMONIAIS NACIONAIS ..........................................................................................................35
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................37
CARTAS PATRIMONIAIS
PROF.A MA. LAÍS HANSON ALBERTO LIMA
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
TÉCNICAS RETROSPECTIVAS 
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INTRODUÇÃO
Como vimos, os debates sobre o patrimônio percorreram séculos e diferentes visões foram 
estabelecidas ao longo do tempo, complementando teorias e criando as bases para a valorização 
e a preservação dos bens culturais de origem cada vez mais ampla. Os documentos redigidos 
desde o século XX, nas reuniões da UNESCO e de outros órgãos de preservação, demonstraram 
a diversidade cultural existente. 
Dentre as dezenas de documentos disponibilizados pelo site do IPHAN, vamos conhecer 
as principais Cartas Patrimoniais que determinaram conceitos, valores e diretrizes para a proteção 
do patrimônio no âmbito mundial e no contexto brasileiro. Os textos foram sendo divulgados 
como material de consulta para a criação de políticas patrimoniais, destacando sempre a 
importância de seguir o debate relacionando as recomendações gerais das Cartas para a realidade 
de cada local. Assim, as Cartas têm servido de base para a construção da legislação de proteção 
ao patrimônio em todas as regiões do Brasil e do mundo.
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1. O CONTEXTO DAS CARTAS PATRIMONIAIS
As Cartas Patrimoniais internacionais foram redigidas por diferentes órgãos e proteção 
ao patrimônio e, como iremos observar, foram aumentando cada vez mais seu raio de discussão 
sobre os bens culturais de diferentes naturezas. Embora as questões patrimoniais já estivessem 
sendo formuladas por teóricos e contestadas na prática dos órgãos de proteção, somente na 
década de 1930 foi realizada a primeira reunião para formular diretrizes de cunho deliberativo. 
Como vimos, desde o Renascimento cultural e a valorização das ruínas da Antiguidade 
Clássica, a história da preservação dos monumentos passou a tomar forma, principalmente a 
partir das teorias formuladas acerca do patrimônio histórico. Iniciada na Europa, tomou maior 
abrangência por meio das Cartas Patrimoniais, divulgadas pela Organização das Nações Unidas 
para Educação, Ciência e Cultura e a UNESCO, sendo a Carta de Atenas, de 1931, a primeira.
1.1 As Cartas Patrimoniais Internacionais
O debate começou o� cialmente em uma reunião da Sociedade das Nações (órgão que 
antecedeu a UNESCO), na Grécia, berço da arte da Antiguidade Clássica, no ano de 1931. A 
Conferência Internacional de Atenas sobre o restauro dos monumentos resultou na elaboração 
da Carta de Atenas, documento responsável por alertar as nações para a preservação dos seus 
monumentos de caráter histórico, artístico ou cientí� co (Escritório Internacional dos Museus 
Sociedade das Nações, 1931).
Na Carta, dentre os princípios gerais, estava o de evitar “refazimentos”, ou seja, no lugar 
de reconstituir o monumento buscando seu “estado original”, que fossem respeitados os valores 
históricos e artísticos considerando as camadas do tempo no patrimônio - como já havia alertado 
Boito no � nal do século anterior, temendo que os restauros resultassem em “falsos históricos” 
(BOITO, 2003). A Carta também recomendou a manutenção e a utilização dos monumentos 
como forma de conservá-los. 
O documento apresentou a discussão realizada entre os membros da conferência em uma 
das sessões, na qual o arquiteto grego Balanos (1860-1942) explicou as diretrizes dos trabalhos 
que estavam sendo � nalizados nas ruínas da Antiguidade Clássica de Atenas.
Foram aprovados os trabalhos de anastilose - um método de reconstrução do monumento 
em que as partes destruídas são recompostas, remontando a obra com as suas partes faltantes - 
nas ruínas do Propileus (a “porta de entrada” da Acrópole) e no Parthenon (Figura 1), entre 
outras intervenções nos demais monumentos, como a utilização de materiais distintos havendo 
a necessidade de reconstruções, caso não pudesse ser feita a anastilose.
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Figura 1 - Anasti lose: recomposição das colunas do Parthenon. Fonte: Donantoni (2016). 
O cimento foi utilizado para completar partes faltantes e o ferro para amarrar os 
elementos estruturais, ressaltando os devidos cuidados no caso da inserção dos novos materiais e 
suas propriedades distintas dos materiais da Antiguidade, em especial o ferro, pela possibilidade 
de corrosão. Embora aprovados na conferência, tais trabalhos de reconstrução foram contestados 
posteriormente.
A anastilose é como um jogo de quebra-cabeça em que as peças encontradas ao 
redor do monumento são demarcadas e realocadas em seu local de origem. No 
projeto para a restauração das ruínas de São Miguel das Missões, no RS, Lúcio 
Costa, juntamente com o arquiteto Lucas Mayerhofer, realizaram o trabalho de 
anastilose para reconstruir partes do monumento jesuítico (Figura 2). 
Figura 2 - Anastilose nas ruínas de São Miguel Arcanjo. Fonte: Stello (2005).
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A Carta de Atenas teve a contribuição de Gustavo Giovannoni, que fazia parte do Conselho 
Superior para as Antiguidades e Belas-Artes, e discursou sobre a preservação dos monumentos e 
de seus entornos, dos conjuntos históricos e paisagens. A noção de “vizinhança do monumento” 
foi apresentada com o intuito de se respeitar a história e a estética dos lugares em relação a novas 
construções ou reconstruções nas cidades ou centros antigos:
A conferência recomenda respeitar, na construção dos edifícios, o caráter 
e a � sionomia das cidades, sobretudo na vizinhança dos monumentos 
antigos, cuja proximidade deve ser objeto de cuidados especiais.
Em certos conjuntos, algumas perspectivas particularmente pitorescas
devem ser preservadas. [...]
Recomenda-se, sobretudo, a supressão de toda publicidade, de toda presença 
abusiva de postes ou � os telegrá� cos, de toda indústria ruidosa, mesmo de 
altas chaminés, na vizinhança ou proximidade dos monumentos, de arte ou de 
história (ESCRITÓRIO INTERNACIONAL DOS MUSEUS SOCIEDADE DAS 
NAÇÕES, 1931, p.2, grifo da autora).
A questão da educação patrimonial - embora não houvesse menção ao termo - foi 
apresentada como a melhor forma de conservar os monumentos, já que, a partir do reconhecimento 
e da identi� cação cultural, nasce o respeito pelo que é nosso, aproximação que garante uma 
relação entre o indivíduo e o patrimônio e a vontade de preservá-lo.
O inventáriotambém aparece na Carta, como método de documentação: 
A conferência emite o voto de que:
1º - Cada Estado, ou as instituições criadas ou reconhecidamente competentes 
para esse trabalho, publique um inventário dos monumentos históricos nacionais, 
acompanhado de fotogra� a e informações (ESCRITÓRIO INTERNACIONAL 
DOS MUSEUS SOCIEDADE DAS NAÇÕES, 1931, p.4).
O texto recomendou a necessidade de cada nação criar um arquivo nacional para reunir 
tais inventários e também de publicar o material formulado sobre seus monumentos. 
É importante entender que o documento não era legislativo e sim propositivo, ou seja, 
não estabeleceu regras gerais a serem seguidas por todas as nações, mas apontou diretrizes para 
a conservação do patrimônio no âmbito mundial.
Dois anos após a Conferência dos Museus, também em Atenas, foi realizada a assembleia 
do 4º Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), que resultou na Carta de 
Atenas de 1933. O texto fez uma análise das transformações nos âmbitos sociais, econômicos e 
políticos e discutiu os impactos da Revolução Industrial, destacando os problemas de higiene e 
de conforto ambiental nas cidades em que houve maior inchaço populacional, como os grandes 
centros urbanos.
Sobre o “patrimônio histórico das cidades”, a Carta fez recomendações para a conservação 
dos monumentos isolados e dos conjuntos urbanos (CIAM, 1933, p. 25). No caso desses últimos, 
é possível notarmos o emprego do método do desbastamento de Gustavo Giovannoni:
[...] nos casos em que se esteja diante de construções repetidas em numerosos 
exemplares, algumas serão conservadas a título de documentário, as outras 
demolidas; em outros casos poderá ser isolada a única parte que constitua uma 
lembrança ou valor real [...] (CIAM, 1933, p. 26).
Por � m, a Carta de Atenas de 33, como é conhecida, fez um alerta aos perigos de restauro 
que busca reconstituir o passado:
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Nunca foi constatado um retrocesso, nunca o homem voltou sobre seus passos. 
As obras-primas do passado nos mostram que cada geração teve sua maneira 
de pensar, suas concepções, sua estética [...]. Copiar servilmente o passado é 
condenar-se à mentira, é erigir o ‘falso’ como princípio, pois antigas condições 
de trabalho não poderiam ser reconstituídas e a aplicação da técnica moderna 
a um ideal ultrapassado sempre leva a um simulacro desprovido de qualquer 
vida. Misturando o ‘falso’ ao ‘verdadeiro’, longe de se alcançar uma impressão 
de conjunto e dar a sensação de pureza de estilo, chega-se somente a uma 
reconstituição � ctícia, capaz apenas de desacreditar os testemunhos autênticos, 
que mais se tinha empenho em preservar (CIAM, 1933, p. 27). 
É preciso ter atenção ao fazer referência às Cartas de Atenas de 1931 e de 1933. A Carta 
de Atenas de 1931 trata especi� camente da preservação dos monumentos. Já a Carta de Atenas de 
1933 delibera sobre as cidades modernas, os conjuntos antigos e as novas construções.
No � nal da década de 1930, começou a Segunda Guerra Mundial, que foi responsável 
pela destruição de monumentos e cidades inteiras (Figura 3). Nesse momento, os diálogos entre 
as nações � caram suspensos em decorrência dos con� itos, embora a proteção do patrimônio 
estivesse constantemente ameaçada, cabendo a cada nação tentar fazê-lo para tentar preservar ao 
máximo a memória e a identidade.
Figura 3 - A destru ição em Colônia, em 1945, na Alemanha. Fonte: World Wa r Photos (2013). 
Com a criação da UNESCO, em 1945, o raio de abrangência dos assuntos culturais 
entre as mais diversas nações se expandiu. Diante do efeito destruidor das Guerras Mundiais, 
diversas nações passaram a se preocupar mais intensamente com a preservação da natureza e das 
cidades e suas obras de arte. Como já discutimos, esse cenário pós-guerra somou-se aos efeitos 
da acelerada industrialização e modernização dos países que, além de se preocuparem com suas 
cidades destruídas pelos con� itos, precisavam lidar com a má gestão dos recursos naturais. 
No ano de 1956, foi realizada a Conferência Geral da UNESCO, em Nova Delhi, na Índia, 
para discutir a preservação do patrimônio arqueológico, destacando a necessidade das nações 
de estabelecer legislação protetiva, realizar investigações por meio de escavações e registrar os 
seus bens culturais. A Recomendação de Nova Delhi também chamou atenção para a educação 
patrimonial e para a pesquisa cientí� ca, além de discutir relações internacionais.
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Na França, em 1962, foi redigida a Recomendação de Paris para a proteção de paisagens 
e sítios, também na Conferência Geral realizada pela UNESCO. O documento discutiu a 
preservação da beleza e do caráter, ou seja, de seus valores estéticos e de memória. E, mais uma 
vez, mencionou a preservação da paisagem urbana - defendida por Gustavo Giovannoni.
A salvaguarda não deveria limitar-se às paisagens e aos sítios naturais, mas 
estender-se também às paisagens e sítios cuja formação se deve, no todo ou em 
parte, à obra do homem. Assim, disposições especiais deveriam ser tomadas 
para assegurar a salvaguarda de algumas paisagens e de determinados sítios, tais 
como as paisagens e sítios urbanos, que são, geralmente, os mais ameaçados, 
especialmente pelas obras de construção e pela especulação imobiliária. Uma 
proteção especial deveria ser assegurada às proximidades dos monumentos 
(ESCRITÓRIO INTERNACIONAL DOS MUSEUS, 1962, p. 3).
A Recomendação de Paris (1962) também a� rmou a noção de ambiência (ou de 
vizinhança de Giovannoni), ressaltando a necessidade de preservar o entorno dos monumentos. 
E seguiu alertando sobre as atividades que impactavam as paisagens e sítios naturais e urbanos, 
tais como a construção de edifícios e de infraestrutura sem o cuidado com a estética do conjunto 
urbano ou o desmatamento e outras formas de exploração dos recursos naturais de sítios naturais 
protegidos. 
Apresentou medidas de preservação relacionadas às ações do planejamento urbano, que 
deve ser um aliado ao patrimônio, como o zoneamento, que estabelece zonas protegidas e com 
restrições de atividades, uso etc. E, novamente, o documento da UNESCO � nalizou seu texto 
fazendo menção à educação patrimonial. 
Passados mais de 30 anos da redação da Carta de Atenas de 1931, em 1964 foi realizado 
o II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, na Itália - 
que, como a Grécia, também é considerada como o berço da arte da Antiguidade Clássica. Esse 
segundo congresso, realizado juntamente com o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios 
(ICOMOS - International Council of Monuments and Sites), revisou a discussão do primeiro 
congresso em Atenas e redigiu a Carta de Veneza. Essa é, até os dias atuais, a Carta de maior 
in� uência para os órgãos de proteção do mundo, também chamada de Carta Internacional para 
a Conservação e Restauro de Monumentos. 
O documento apresentou o conceito de bem cultural e a� rmou ser necessário haver uma 
interdisciplinaridade no campo da preservação dos bens, sendo estes de diferentes categorias 
e apresentando seus mais variados desa� os para a preservação. Em relação à utilização dos 
monumentos históricos, a Carta de Veneza reiterou que o uso e a manutenção auxiliam na 
conservação, mas alertou:
Artigo 5º - A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua 
destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, 
mas não pode nem deve alterar à disposição ou a decoração dos edifícios. É 
somente dentro destes limites que se deve conceber e se pode autorizar as 
modi� cações exigidas pela evolução dos usos e costumes (ICOMOS, 1964, p. 2).
A Carta chamou a atenção para a ambiência dos monumentos.
Artigo 7º - O monumento é inseparável da história de que é testemunho e do 
meio em que se situa. Por isso, o deslocamento de todo o monumento ou de

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